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AS
Disciplinas
da vida . ^
crista
cl a u d io nor de Andrade

AS
Disciplinas
da vida . ^
crista
c o m o vie o n <; a r
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1' Ediçâo

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Rio de Janeiro
2008
Todos os direitos reservados. Copyright © 2008 para a língua portuguesa da Casa Publi-
cadora das Assembléias de Deus. Aprovado pelo Conselho de Doutrina.
Capa e projeto gráfico: Marlon Soares
Editoração: Suzane Barboza
CDD: 240 -Vida Cristã
ISBN: 978-85-263-0927-2
As citações bíblicas foram extraídas da versão Almeida Revista e Corrigida, edição de
1995 da Sociedade Bíblica do Brasil, salvo indicação em contrário.
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Casa Publicadora das Assembléias de Deus
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20001-970, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Ia edição: 2008
prefácio

Foi numa reunião de trabalho, que o irmão Ronaldo


propôs-me um tema para as Lições Bíblicas. Até aquele mo­
mento, nenhum livro devocional intentara eu escrever. De
início, deparei-me com uma impossibilidade; depois, um de­
safio; mais adiante, um prazer. Orei. Pedi graças ao Senhor. E
comecei as Disciplinas da Vida Cristã. Lembrei-me, então, de
um verso do poeta Fernando Pessoa: “Deus quer; o homem
sonha; e a obra nasce”. Além do mais, como não aceitar um
desafio do diretor executivo da CPAD? O irmão Ronaldo
Rodrigues de Souza vem destacando-se, no cenário interna­
cional, como um dos mais bem-sucedidos editores evangéli­
cos desta geração.
Terminado o comentário bíblico-dominical, pus-me de
imediato a trabalhar este livro. Mas, que título dar-lhe?
Embora não seja uma teologia sistemática, não deixa de
ser uma obra teológica. Os que se entregam à literatura devo­
cional, jamais abandonam a teologia. A devoção cristã tem de
ser teológica; a teologia não haverá de abdicar da devoção do
Novo Testamento. Haja vista o Comentário Bíblico de Mathew
Hewry. Em sua alta teologia, encontramos uma profunda de­
voção que se quadra perfeitamente à alma cristã.
as Disciplinas dn vida cristã

Os primeiros grandes teólogos da Igreja Cristã,


aliás, destacaram-se por escritos enlevadamente devocionais.
Ambrósio e Agostinho, por exemplo, lançaram as bases de
nossas dogmáticas e credos. Entretanto, quem não se deli­
cia com os hinos daquele? Ou com as Confissões deste. O
norte-americano Jonathan Edwards, por seu turno, viria es­
crever devoções que esparzem pleníssima luz sobre as raízes
do Movimento Pentecostal.
Apesar de nossas origens literárias, os brasileiros não éra­
mos muito afeitos aos devocionais; optávamos pelos testemu­
nhos e pelas teologias sistemáticas. Nosso idioma, entretanto,
possui uma literatura devocional mui rica e variada. Haja vista
Frey Luiz de Souza, Bernardes e Vieira. Destacaram-se eles,
também, pela mestria com que iam, artisticamente, trabalhan­
do o idioma lusíada. Se desejamos realmente dominar a ex­
pressão e o estilo com que escrevemos, temos de nos voltar a
esses mestres. Grandes no engenho e arte, fizeram-se gigantes
nos devocionais.
Desde a década de oitenta, porém, vimos descobrindo
as belezas teológicas nos devocionais através de Max Lucado
e de Charles Swyndow. Com eles, aprendemos a fazer a mais
pura teologia a partir dos sentimentos espirituais. Todavia, te­
mos de nos agarrar à literatura devocional. Através desta, po­
deremos mostrar quão belas são as afeições que nos colocou o
Espírito Santo na alma.
Por conseguinte, minha sincera oração é que nós, até
mesmo em virtude de nossas raízes pentecostais, voltemos às
belezas de uma alma que realmente ame a Deus, entregue-se
ao Senhor Jesus Cristo e tenha os amorosos afeiçoamentos
prefácio

que nos derrama o Espírito Santo em cada um de nossos


corações. E que, doravante, ponhamo-nos a produzir obras
devocionais, mostrando as belezas de uma alma lidimamente
cristã e genuinamente amante das coisas divinas.
Sempre a serviço do Reino de Deus,
Pr. Claudionor de Andrade
Rio de Janeiro, janeiro de 2008.

vii
sumario

Prefácio...........................................................................v
1. As Disciplinas da Vida Cristã........................................11
2. A Comunhão com D eu s............................................. 21
3. Oração —O Diálogo da Alma com Deus.................31
4. A Leitura Devocional da Bíblia.................................. 43
5. A Sublimidade do Culto D ivino................................57
6. O Serviço C ristão..........................................................69
7. Tentado, não cedas, ceder é pecar...............................77
8. A Beleza do Testemunho C ristão...............................87
9. O Louvor que Chega ao Trono da G raça................97
10. Dízimos e Ofertas —
Uma Disciplina A bençoadora...................................105
11. A Beleza da União
entre os Filhos de D eu s............................................ 115
12. Confiando Firmemente em D eus............................125
13. Somente uma Igreja Avivada pode mudar
a História do Brasil.......................................................137
1

AS.
Disciplinas
da vida • ^
crista
IN T R O D U Ç Ã O
Sem o exercício da piedade,jamais alcançaremos o alvo
que nos propôs Deus. Alvo este, aliás, que nos impulsiona a
ter a estatura de um ser humano perfeito, como perfeito era
Adão antes de haver caído da graça. Inatingível esse alvo?
Tendo por fiança os méritos do Calvário, é-nos possível re­
vestirmo-nos desse novo homem, plenificando-nos em san­
tidade apesar de o nosso corpo ainda recender imperfeições.
Afinal, é justamente neste tabernáculo que temos de agradar
a Deus, externando-lhe todo o nosso amor. Isso somente é
factível quando nos aplicamos às disciplinas da vida cristã.
Em que reside, porém, o mérito de cada uma destas? Em sua
doutrina? Ou em sua devoção?
as Disciplinas da vida cristã

A resposta é mais do que óbvia. Que doutrina não é de-


vocional e que devoção não é doutrinal? Os santos do Antigo
e do Novo Testamento, em sua peregrinação rumo à Jerusalém
Celeste, disciplinavam-se de tal forma que, ousada e brava­
mente, venceram um mundo comprometido com o maligno.
Numa vida de irretocável devoção ao Mestre, demonstravam
eles a teologia de sua crença.
Tem você externado a Cristo todo o seu amor e devo­
ção? Não se esqueça das disciplinas espirituais. Ande como
Jesus andou; torne-se, em tudo, parecido com o seu Senhor.
I. O QUE SÃO AS
DISCIPLINAS DA VIDA CRISTÃ
John Wesley cultivava a piedade de tal maneira, que os
seus colegas, na universidade, apelidaram-no de o metodista.
No orar e no estudar a Bíblia, metódico. Erguendo-se ele
como um perfeito exemplo de vida cristã, não lhe foi penoso
avivar a Inglaterra do século 18. Wesley sabia o quanto são
importantes, para o crente, as disciplinas espirituais (Tt 1.8).
1. Definição. Disciplinas da vida cristã são os exercícios
espirituais ordenados na Bíblia Sagrada, cujo objetivo é pro­
porcionar ao crente uma intimidade singular e aprofundada
com o Pai Celeste, constrangendo-nos a levar os que nos cer­
cam a glorificar-lhe o nome (Hb 12.8).
As disciplinas da vida cristã são conhecidas, também,
como Teologia Espiritual e Teologia da Devoção Cristã. O
seu alvo primacial é eternizar o relacionamento entre a alma
humana e o Espírito de Deus. Aliás, os primeiros escritos
12
as Disciplinas da vida cristã

teológicos cristãos ostentavam um caráter fortemente de-


vocional. Haja vista os pais da igreja. Embora gigantes na
teologia, humilhavam-se todas as vezes que se punham a
descrever a beleza da comunhão cristã.
2. Elem entos das disciplinas da vida cristã. l)e
conformidade com as Sagradas Escrituras, estas são as discipli­
nas a que deve submeter-se o crente: adoração a Deus, leitura
diária e sistemática da Bíblia, oração, serviço, mordomia do
corpo e dos bens etc. Tem você se dedicado a essas obser­
vâncias? Outros elementos, igualmente valiosos, poderiam ser
aqui arrolados; estes, porém, já são mais do que suficientes,
para mostrar a sublimidade da carreira cristã.
Os heróis de 1)eus sempre destacaram-se, galhardamen­
te, nas disciplinas da vida cristã. Martinho Lutero reformou a
Igreja; gigante na oração, era ele titã no agir em amor. Calvino
desdobrava-se em serviços diante do Senhor; teólogo, fez-se
homem de evangelical ação. Justino, o Mártir, além de seus
haveres, entregou o próprio corpo ao carrasco, sublimando
o testemunho cristão. Alguns chegaram aos confins da terra.
Outros embrenharam-se pelas selvas, e transformaram os mais
exóticos tribais em adoradores de Deus. Ante tais exemplos,
como atuaremos nós? Tímidos e amedrontados? Ou estimu­
lados pela fé que, uma vez concedida aos santos, leva-nos a
operar no campo do impossível?
II. SÍM BOLOS DAS
DISCIPLINAS DA VIDA CRISTÃ
Há pelo menos três perfeitos emblemas que salientam
as disciplinas da vida cristã: o soldado, o atleta e o agricultor.
13
as Disciplinas da vida cristã

Sem exercício, perseverança e sacrifício pessoal, jamais sere­


mos bem-sucedidos quer no campo de batalha, quer nas com­
petições públicas ou no amanho da terra (Pv 23.23).
1. A disciplina do soldado. Como soldados de Cristo,
ajamos de modo disciplinado e perseverante, a fim de agradar
ao que nos arregimentou para a guerra. Exorta-nos Paulo,
dirigindo-se a Timóteo: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como
bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se emba­
raça com negócio desta vida, a fim de agradar àquele que o
alistou para a guerra” (2 Tm 2.3-5).
Tinha o apóstolo, em mente, o antigo soldado grego
que, no campo de batalha, preferia o sacrifício da própria vida
a existir sem honra. Quem não se lembra dos trezentos de
Esparta? Enfrentaram estes um exército que, ideado na Pérsia,
parecia composto de homens invulneráveis. A ala dos imortais,
por exemplo, forçava o inimigo a esconder-se entre as penhas
das Termópolis.
A medida que os imortais caíam, eram logo substituí­
dos, dando assim a impressão de que nada os podia ferir. Os
trezentos de Esparta, porém, não se deixaram impressionar.
Enfrentaram o exército persa como se este fora um bando de
garotos cheios de bravatas e truques. Desta maneira, entraram
eles para a história por sua incomum bravura. Os esparta­
nos caíram mortalmente feridos. No entanto, os persas foram
obrigados a reconhecer que um novo poder alevantava-se no
Ocidente, que haveria de mudar radicalmente a história dos
grandes impérios mundiais. Heródoto, o pai da História, en-
carregar-se-ia de registrar outros lances da guerra entre gregos
e persas.
14
as Disciplinas da vida cristã

À semelhança dos espartanos, assim agem os soldados


do Rei dos reis e Senhor dos senhores. Não somos mui
numerosos. Todavia, quando nos pomos a brandir a espada
do Espírito, caem as fortalezas do mal; em retirada, põe-se o
adversário.
2. A disciplina do atleta. No tempo de Paulo, eram
os atletas mais do que disciplinados. Na conquista de uma co­
roa de louro, empenhavam-se além de suas forças; perseguiam
o impossível. Descreve-os o apóstolo Paulo: “E, se alguém
também milita, não é coroado se não militar legitimamente”
(2 Tm 2.5).
Muitos foram os atletas que, por falta de disciplina, caí­
ram em opróbrio e tudo perderam. Outros, porém, até mes­
mo de coisas simples e lícitas se abstiveram, porque tinham
em mente o estabelecimento de um novo recorde e a con­
quista de mais uma medalha. Os atletas gregos treinavam até
à exaustão; agonizavam-se durante os jogos olímpicos. Pois
sabiam eles que aquela oportunidade era-lhes única; não ha­
veria uma segunda chance. E se não se exercitassem devida­
mente? Se faltassem com a disciplina? Se não empenhassem
devidamente, como haveriam de chegar à sua cidade sem os
troféus?
Se naqueles estádios, punham-se os competidores a lutar
por uma vitória corruptível e efêmera, nós avançamos em
busca de eternos galardões. Por isto temos de, à semelhança
daqueles atletas, portar-nos de maneira viril e disciplinada: “E
todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para al­
cançar uma coroa corruptível, nós, porém, uma incorruptível”
(1 Co 9.25).
15
as Disciplinas da vida cristã

3. A disciplina do agricultor. A agricultura é a mais


antiga das ciências; foi o primeiro trabalho de Adão e Eva (Gn
1.26-30). O amanho da terra, principalmente depois da queda
de nossos primeiros pais, tornou-se árduo e estressante. Eis
porque o agricultor tanto carece de disciplina e paciência:“0
lavrador que trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos”
(2 Tm 2.6).
De início, lança o agricultor a semente no campo. Com
o passar das semanas, busca o resultado de seu primeiro tra­
balho. Paciente que é, rega a terra; perseverante que sempre
foi, vai espantando as aves que, menoscabando-lhe o labor,
quer arrebatar-lhe a semente solitária. Mas transforma-se
esta num arbusto; enflora e, não demora muito, já quer fru­
tificar.
No cultivo do fruto do Espírito também não devemos
prescindir de disciplina e paciência. Afinal, temos de melhorar
a cada dia, refletindo em tudo a imagem de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Disciplinados, haveremos de perseguir a perfei­
ção da vida cristã. De um início que, não raro, se mostra in­
significante, logo expomos as flores de nosso caráter transfor­
mado pelo Espírito Santo. Não demora muito, já é possível
sentir o aroma do primeiro fruto. Portanto, sejamos pacientes
e firmes para que, em todas as coisas, seja o Cristo glorificado
em nosso cotidiano.
Tem você agido com disciplina? Porta-se com a bra­
vura e o desprendimento do soldado? Abstém-se dos entre­
tenimentos mundanos na conquista da coroa incorruptível?
E o fruto do Espírito? Vem você cultivando-o pacientemente
como aquele que lavra a terra?
16
as Disciplinas da vida cristã

III. A EFICÁCIA DAS


DISCIPLINAS DA VIDA CRISTÃ
Na História das Assembléias de Deus no Brasil, o irmão
Emílio Conde narra como o Movimento Pentecostal chegou
aos longes mais desconhecidos de nosso país. Diante daqueles
relatos, é-nos impossível conter a pergunta: “Como Daniel
Berg e Gunnar Vingren lograram tal façanha?” Disciplinados
na piedade, foram eles capazes de suportar o insuportável e,
assim, alargar as fronteiras do Reino de Deus. No capítulo
11 de Hebreus, deparamo-nos com homens e mulheres que,
estimulados por uma fé sobrenatural, venceram dificuldades
e operaram no terreno das coisas que se não viam, mas que
eram ardentemente esperadas. Dessa forma, puderam eles tor-
nar-se um exemplo nas disciplinas espirituais. Eles venceram
o pecado; trabalharam para o Senhor e encheram a terra do
conhecimento divino.
1. As disciplinas da vida cristã são eficazes contra
o pecado. Exilado em Babilônia, Daniel jamais deixou-se
atrair por aqueles deuses belicosos e sensuais. Afinal, quando
ainda adolescente, propusera no coração não se contaminar
com os manjares e vinhos do rei (Dn 1.8). E, assim, foi capaz
de alcançar uma produtiva longevidade na presença de Deus.
Tinha o profeta suficiente disciplina, a fim de recusar as ofer­
tas da mais luxuriante metrópole do século VI a.C.
A situação não mudou. Vivemos numa sociedade per­
missiva e iníqua. Invertem-se os valores. O que é mal é tido
como bem. No entanto, Deus em nada mudou; continua o
mesmo. Apesar da visão de mundo distorcida do presente sé­
culo, temos ainda sete mil que não se curvaram ante Baal.
17
as Disciplinas da vida cristã

Você é suficiente forte para dizer não ao pecado? Tem


a necessária disciplina para viver na presença de Deus num
mundo que jaz no maligno?
2. As disciplinas da vida cristã são eficazes no
serviço cristão. Foi Paulo, certamente, o mais aplicado
missionário do Cristianismo. Em pouco tempo, quer acom­
panhado por Barnabé, quer auxiliado por Silas, logrou o
apóstolo espalhar a mensagem cristã de Antioquia a Roma.
Disciplinadíssimo, possuía um senso de abnegação tão grande
que, mesmo às vésperas de sua execução pelas autoridades
romanas, não deixou de anunciar as Boas Novas de Salvação
(2 Tm cap. 4).
F. F. Bruce, um dos maiores especialistas do Novo
Testamento do século passado, afirma que, no Cristianismo, o
Senhor Jesus é o único. Já o apóstolo Paulo, a principal perso­
nalidade. Após a sua conversão, o homem de Tarso deu seqü-
ência a última e mais importante etapa da Grande Comissão
que nos confiou o Nazareno: levar o Evangelho até aos con­
fins da terra. E foi o que aconteceu.
Em menos de trinta anos o Evangelho de Cristo havia
atingido os extremos do Império Romano. Qual o segredo
de Paulo? Além do seu chamamento, era ele um cristão dis­
ciplinadíssimo. Ele esmurrava-se, submetendo-se incondicio­
nalmente à vontade de Deus. O serviço cristão para ele não
era uma simples alternativa de vida; era toda a razão de seu
viver.
Deseja você alcançar a excelência no serviço cristão?
Aja como um soldado, porte-se como um atleta e cultive a
18
as Disciplinas da vida cristã

perseverança do agricultor. Porte-se com disciplina e deter­


minação, jamais deixando-se cie exercitar-se na piedade. Assim
agem os que são convocados pelo Rei dos reis; de tudo se
abstém para agradar ao que o alistou para a santa peleja.
CO NCLUSÃO
Sem disciplina, não poderemos jamais agradar ao que
nos arregimentou para o seu exército. Adoremos, pois, a Deus.
Leiamos a Bíblia. Oremos. E exerçamos a mordomia de nos­
sos corpos, haveres e tempo. Somente assim haveremos de
exaltar a Cristo em nosso ser.
Os heróis da fé não fruíram logo os seus troféus, con­
forme cantamos em nossos cultos de oração. Antes, lutaram
de forma denodada e fidelíssima, até que o Senhor fosse ple­
namente glorificado em seus corpos. Quando lemos o capí­
tulo 11 de Hebreus, fascinamo-nos, de imediato, por aqueles
homens e mulheres que, na marcha para os céus, operaram o
impossível. O segredo? A disciplina da piedade.
Sejamos disciplinados em tudo; dominemo-nos em to­
das as coisas.

19
?

A
com
com
unhão
Deus
IN T R O D U Ç Ã O
O evangelista Billy Graham visitava, certa vez, uma
universidade norte-americana, quando perguntou ao reitor:
“Qual o maior problema que o senhor enfrenta com os seus
alunos”. O educador respondeu-lhe: “Vazio. Há um vazio
muito grande em seus corações”. Buscando preencher este
vazio, andeja o homem pelo álcool, transita pelas drogas e erra
pelos devaneios da carne. Depois de toda essa busca, conclui:
“Não tenho neles prazer” (Ec 12.1).
E, assim, sufoca o anseio de sua alma que, peregrina e
nômade, está condenada ao vazio. O que mais lhe resta se
já recusou, conscientemente, o próprio convite da graça? As
as Disciplinas da vida cristã

mais espessas trevas, conforme diria Lamartine: “Suprime a


Deus, e terás a noite dentro da alma”. O poeta francês sabia
muito bem que, sem o Deus da Bíblia, viverá o homem toda
uma madrugada de suplícios, ainda que, à sua volta, resplenda
o sol. Mas o que aceita a Cristo, experimenta a plenitude de
uma vida iluminada pelo Sol da Justiça, numa dulcíssima co­
munhão com o Pai Celeste.
I. O QUE É A C O M U N H Ã O COM DEUS
Na época bizantina, havia um epigrama que ornava vá­
rios edifícios cristãos: “Tu, que estás para além das palavras,
por que palavras te louvarei?” O autor desta breve, mas pro­
funda poesia, não sabia que expressões usar para descrever a
sua comunhão com Deus. Por isso, vê-se na contingência de
apelar a um verso que, conquanto sucinto, tinha mais signifi­
cado que toda a obra de Homero. E que termos utilizaríamos
nós para definir a comunhão com o Pai Celeste?
1. Definição. A comunhão com Deus é a intimidade
que o crente, mediante a obra redentora de Cristo e por in­
termédio do Espírito Santo, desfruta com o Eterno, e que o
leva a usufruir de uma vida espiritual plena e abundante (Rm
5.1; 2 Co 13.13).
Andar com Deus é o mais perfeito sinônimo de co­
munhão com o Pai Celeste. Diz a Bíblia que andou Enoque
com Deus. E tão profunda era a intimidade que fruía com o
Senhor, que o próprio Senhor, um dia, o tomou para si (Gn
5.24).Vivendo ele numa das eras mais ímpias da história da
humanidade, não somente andou com Deus como também
testemunhou, publicamente, acerca da justiça divina. Sua co­
22
a comunhão com Deus

munhão com o Senhor, portanto, não era apenas particular;


era notória e aberta. Profeta do Altíssimo, condenou toda a
sua geração que, irremediavelmente ímpia, recusava o ofereci­
mento da graça divina.
Andar com Deus significa, ainda, ter uma vida como a
de Eliseu que, por onde quer que fosse, era de imediato reco­
nhecido como homem de Deus (2 Rs 4.9). E Abraão? Pelo
próprio Deus foi chamado de amigo (ls 41.8).
2. A comunhão com Deus é prática, não m e­
ramente teórica. O ensaísta francês Joseph Joubert es­
creveu: “Pensar em Deus é um ato”. Aquele que mantém
uma profunda comunhão com o Senhor, age até mesmo
em profundo recolhimento e atitude de oração. Haja vista
Ezequias. O bom rei de Judá, quando ameaçado pelos as­
sírios, não saiu a preparar os seus exércitos para enfrentar
Senaqueribe; entrou no templo a falar com o Senhor dos
exércitos, e desfiou-lhe ali, em seus átrios, todas as aflições
que lhe iam na alma. Enquanto orava, o Todo-Poderoso
operava em favor dos judeus.
Os santos do Antigo e do Novo Testamento não co­
nheciam a Deus apenas teoricamente; conheciam-no em seu
seu cotidiano. Era um conhecimento prático e experimental.
Confessa Jó: “Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus
olhos te vêem” (Jó 42.5). O patriarca, apesar de toda a sua
piedade, não havia tido ainda uma experiência pessoal com o
Senhor. Eis porque lhe foi necessária toda aquela tribulação e
angústia e aparentes perdas. Mas foi justamente nesta desespe­
ração que veio ele a aprender o que significa amar a Deus e
com Ele manter um relacionamento aprofundado.
2J
as Disciplinas da vida cristã

3.A comunhão com Deus é uma disciplina con­


soladora. Os santos das eras bíblicas vieram a constatar, tam­
bém, que a comunhão com o Senhor não é mera recreação;
é uma disciplina amorosa e consoladora. Não fora essa con­
soladora e amorosa recreação, um homem como Jó não teria
resistido todo aquele vendaval que se abatera sobre a frágil
embarcação de sua existência. Apesar de seus grandes e lan­
cinantes sofrimentos, refugiava-se ele na comunhão com o
seu Deus (Jó 19.25). Suas perdas eram grandes; aos olhos hu­
manos, irreparáveis.Todavia, confiava nas providências de um
Deus de quem era íntimo. Até parece que Willard Cantelon,
autor de imortais devoções, inspirou-se na experiência de Jó:
“Posso suportar a perda de todas as coisas, exceto do toque de
Deus na minha vida”.
Para se cultivar a comunhão com Deus, é mister que
saibamos andar com Ele e como agradá-lo em todas as coi­
sas. Somente assim haveremos de nos aconchegar em seus
átrios.
II. A ALMA H U M A N A ANSEIA
PELOS ÁTRIO S DE DEUS
O ser humano não é o resultado de um processo evo­
lutivo; é a plenitude de um ato criativo de Deus (Gn 1.26).
Se fomos criados por Deus, nossa alma, logicamente, afli-
ge-se por Deus; anseia por seus pavilhões. E só haveremos
de descansar quando nEle repousarmos (SI 42.11). E se nos
alongarmos do Criador? Afinal, todos ansiamos pelos átrios
do Senhor se nEles não entrarmos, onde repousaremos nos­
sa alma que, viajora e exausta, desfalece pelo Deus da nossa
redenção?
24
a comunhão com Deus

1. Os átrios do Senhor. O salmista confessa quão


ansioso achava-se ele pelo Deus de Israel: “A minha alma sus­
pira e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a
minha carne exultam pelo Deus vivo!” (SI 84.2). Se o espírito
doutros homens estava em permanente guerra com a carne,
tudo em Davi pendia às coisas divinas. Sua alma e corpo vol­
tavam para Deus; por seus átrios desfaleciam e, com sofregui­
dão, suspiravam por neles adentrar.
Embora amasse o Santo Templo, não desejava o salmista
propriamente entrar na Casa de Deus em Jerusalém. Os átrios
pelos quais desmaiava era a presença divina; aquela comunhão
capaz de levar o crente ao céu dos céus mesmo estando ainda
na terra. Se avistar os átrios da Casa de Deus em Jerusalém já
se constituía numa singular experiência, o que dizer daquele
alto e sublime trono no qual acha-se assentado o Senhor?
Nesse pátio interno, repleto de serafins e santos anjos, é o
Altíssimo ininterruptamente louvado: “Santo, Santo, Santo é
o Senhor dos Exércitos”.
2. A plenitude da com unhão divina. Sabia o sal­
mista que somente em Deus encontramos a razão de nossa
existência e a satisfação plena de nossa alma. Eis por que deixa
evolar de seus lábios este lamento: “Por que estás abatida, ó
minha alma? E por que te perturbas dentro de mim? Espera
em Deus, pois ainda o louvarei. Ele é a salvação da minha tace
e Deus meu” (SI 43.5).
Em suas Confissões, demonstra Agostinho um profun­
do e incontido anseio por Deus. Abrindo o coração, suspira:
“Quem me dera descansar em ti! Quem me dera viesses ao
meu coração e que o embriagasses, para que eu me esqueça
25
as Disciplinas du vida cristã

dc minhas maldades e me abrace contigo, meu único bem”.


O que evidencia esse anelo? Fomos criados por Deus, e por
Deus ansiamos.
Sua alma tem sede de Deus? Se não o amarmos de todo
o coração, jamais poderemos ser contados entre os seus filhos.
Amar a Deus é a essência de nossa vida devocional.
III. O DEUS DE N O SSA DEVOÇÃO
Afinal, por qual Deus anseia a nossa alma? Feio Deus te­
ologicamente correto que se acomoda a todas as religiões e
credos? Ou pelo Deus único e verdadeiro que se revelou a si
mesmo por intermédio de Nosso Senhor? Esta pergunta é vital
àqueles que suspiram por conhecer o Criador de quanto existe.
Somente assim a nossa alma será guiada neste mundo de trevas.
Descrevendo a Deus como o Sol da Justiça, teologiza Tomás de
Aquino: “Assim como o sol exterior e visível ilumina o mun­
do tísico, Deus, que é sol inteligível, ilumina o nosso interior”.
Vejamos, pois, como é o Deus de nossa devoção.
1. O Deus onipotente. O Deus pelo qual suspira a
nossa alma pode todas as coisas; para Ele inexiste o impossível
(Gn 17.1; Lc 1.37). Entretanto, há um grupo de teólogos que,
menosprezando as Sagradas Escrituras, ensinam: Deus na ver­
dade é poderoso, mas não pode ser considerado todo-pode-
roso. Argumentam eles:“Fosse Ele realmente poderoso e tudo
soubesse, certamente evitaria as tragédias que tanto infelicitam
a humanidade”. Será que esses falsos doutores desconhecem a
soberania de Deus? Se Ele permite determinados males, não
nos cabe questionar-lhe as razões. Todos os seus atos são mo­
vidos pelo mais puro, elevado e sublime amor.
26
a com unhão com Deus

Ainda que não entendamos plenaniente a Deus, de uma


coisa estamos mais do que cientes: impossível existir sem o
Todo-Poderoso. Sustentando todas as coisas, dá-nos Ele a ne­
cessária provisão, a fim de que continuemos na terra dos vi­
ventes. O escritor russo Leon Tostoi que, além de romancista,
avultou-se corno um dos maiores pensadores de sua época, é
taxativo: “E verdadeira a máxima que afirma: Podemos viver
sem pai e sem mãe, mas não podemos viver sem Deus”. Quem
se atreve a contestar Tolstoi? A vida é impossível sem a vida de
Deus insuflando vida em nossa vida. E com esse Deus que bus­
camos estabelecer um profundo e amoroso relacionamento.
2. O Deus onisciente. O Deus, a quem tanto amamos,
sabe todas as coisas; tudo lhe é patente. No Salmo 139, o sal­
mista canta-lhe a onisciência, declarando que Ele nos conhece
profundamente; esquadrinha nossos mais íntimos pensamen­
tos, e não se surpreende com nenhuma de nossas ações.
O que é a onisciência? E um dos atributos absolutos de
Deus, que lhe possibilita conhecer todas as coisas sem recorrer
a quaisquer operações intelectuais. Ele conhece tão bem o
passado como o presente; o futuro não lhe é misterioso. Dele
nada podemos esconder; tudo lhe é patente; dEle ninguém se
oculta.
Lecionam, porém, alguns dos sectários do Teísmo
Aberto: Deus, às vezes, é incapaz de penetrar nos recônditos
de nosso livre-arbítrio, por ser-lhe este um mistério. Ora, se
por um lado aceitamos o livre-arbítrio; por outro, cremos na
soberania divina; esta é inquestionável. E não será nenhuma
“liberdade libertária” que haverá de impedir o nosso Deus de
nos sondar as mentes e corações (Ap 2.23).
21
as Disciplinas da vida cristã

3. O Deus de amor. Se Deus é amor, por que nos so­


brevém aflições, dores e perdas? Ainda que não tivéssemos res­
posta a essa pergunta, de uma coisa teríamos convicção plena:
Ele é amor; somente um Deus que é o mesmo amor, poderia
enviar o seu Unigénito para redimir-nos de nossos pecados (Jo
3.16; 1Jo 4.8). E por esse Deus que almejamos.
Quando aceitamos a Cristo, cientifica-nos Ele: a jornada
ser-nos-á pontilhada de lutas e aflições, mas conosco estará até
à consumação dos séculos (Jo 16.33). O Filho de Deus é bem
claro quanto às aflições que nos aguardam: “Se alguém quer vir
após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e
siga-me” (Lc 9.23). Se Ele nos amou com um amor eterno e
sacrifical, por que deixaríamos nós de amá-lo? “Cristo, tu sabes
que, apesar de nossas imperfeições e falhas, nós te amamos.” Leia
o Salmo 34, e repouse em cada promessa que você encontrar.
4. O Deus soberano. No epílogo de suas provações,
confessa Jó: “Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus
pensamentos pode ser impedido” (Jó 42.2). Implicitamente,
estava ele almejando aprofundar a sua comunhão com um
Deus, cuja soberania é inquestionável. Este é o nosso Deus;
por Ele nos desfalece a alma.
Por conseguinte, não podemos aceitar os teólogos que,
torcendo as Escrituras Sagradas, emprestam a Satanás uma
soberania que pertence exclusivamente a Deus. Refiro-me
àqueles que dizem, por exemplo, que, para Cristo salvar um
pecador, é-lhe necessária a permissão do Diabo. Ora, Cristo
jamais foi constrangido a negociar com Satanás; sua missão é
clara. Veio Ele para destruir as obras do Maligno, e foi exata­
mente isso que fez na cruz do Calvário (IJo 3.8). Nada de­
28
a comunhão corn neus

vemos ao Adversário. Adoremos, pois a Cristo. Mantenhamos


com Ele a mais doce e meiga das comunhões. Por esse Deus
maravilhoso, anseia a nossa alma.
Assim o pastor John Stott entende a soberania divina:
“Talvez o tema dominante em toda a Bíblia seja a atividade
soberana, incessante e com propósito do Deus todo-pocieroso.
Em contraste com os ídolos, que têm olhos, ouvidos, boca e
mãos, mas não podem ver, falar e agir, nosso Deus é um Deus
muito ocupado. De forma dramática e figurativa, a Bíblia não
deixe a menor sombra de dúvida sobre isso. A respiração de
todas as criaturas está em suas mãos”.
CO NCLUSÃO
Comentando o Salmo 42, realça Norman Snaith quão
inefável é a comunhão que podemos desfrutar com o Senhor:
“O homem que já experimentou a alegria da comunhão com
Deus, não estará apático quanto às oportunidades de renovar,
com Ele, a sua intimidade, quer em suas devoções particulares,
quer nas adorações públicas. Esse homem simplesmente não
consegue ficar longe de Deus. Sua alma sedenta haverá de o
impelir sempre à presença do Pai Celeste”.
Ante a declaração de Snaith, a pergunta é inevitável:
Você ama realmente a Deus? Almeja estabelecer com
Ele inefável comunhão? Declara-lhe o seu amor cotidiana-
mente? Ou supõe ser o Eterno um espectro que se limitou
a criar os céus, a terra e o ser humano. Depois, ausentou-se
do mundo, deixando-nos com os nossos problemas e mágoas.
Deus jamais agiria dessa forma. Ele amou-nos com um amor
29
as Disciplinas du vida cristã

eterno e, eternamente, garantiu-nos a salvação em Cristo Jesus.


Se Ele nos ama de tal maneira, por que lhe faltaríamos com
o nosso amor? Amar a Deus é aprofundar com Ele a nossa
comunhão. William Bates, escritor puritano do século XVII,
discorre sobre a intimidade entre a nossa alma e o Eterno: “A
comunhão com Deus é o princípio do céu”.

30
3

oração -
o Diálogo da Alma
comDGUS
IN T R O D U Ç Ã O
“Dar a oração o segundo lugar é tornar Deus secundá­
rio nos negócios da vida”. A declaração é do teólogo metodis­
ta norte-americano, E. M. Bounds (1835-1913). Conhecido
por suas constantes e persistentes vigílias em favor da obra
missionária, sabia ele muito bem que, na vida do crente, a
oração não pode ser um mero acessório; é uma das partes es­
senciais de sua estrutura espiritual.
Não desprezemos jamais o legado que nos deixaram
esses homens. Premidos pelas urgências do Reino de Deus,
prostravam-se de contínuo diante daquEle que nos atende os
clamores, as súplicas e as intercessões.
as Disciplinas da vida cristã

Como está a nossa vida de oração? Cultivamo-la dia­


riamente? Ou já nos conformamos com o presente século? O
pai da Reforma Protestante, Martinho Lutero, declarou certa
vez que, quanto mais ocupado, mais se dedicava a falar com o
Salvador.
I. O QUE É A ORAÇÃO
A oração distingue os discípulos do Nazareno como a
mais singular e excelente comunidade de clamor da história
(At 1.14). E impossível não divisar, nas Sagradas Escrituras e
na prática da Igreja, uma teologia da oração. O que vem a ser,
porém, esse exercício que nos introduz nos pavilhões do amor
divino? Rosalee Apleby, de um modo simples, mas ternamen­
te poético, define a oração: “A oração é o silêncio que vem
quando é tarde e o dia já declinou”.
1. Definição. Oração é o ato pelo qual o crente, atra­
vés da fé em Cristo Jesus e mediante a ação intercessora do
Espírito Santo, aproxima-se de Deus com o objetivo de ado-
rá-lo, render-lhe ações de graça, interceder pelos salvos e pelos
não-salvos, e apresentar-lhe as petições de acordo com a sua
suprema e inquestionável vontade (Jo 15.16; Rm 8.26; 1 Ts
5.18; 1 Sm 12.23; 1 Jo 5.14).
Phillips Brooks (1835-1893), pastor e poeta norte-
americano, assim define a oração: “Em sua definição mais
simples, é meramente um desejo expresso aos ouvidos de
Deus”. Como seus filhos, é-nos facultada a liberdade de
murmurar-lhe, aos ouvidos, todos os nossos anseios e alme-
jos, conforme lemos na oração que nos ensinou o Senhor
Jesus Cristo.
32
oração — o DÍálo<?o da Alma com Deus

O evangelista inglês John Wesley dava tanta importância


à oração que veio a considerá-la como a parte mais importan­
te de seu ministério. Aliás, ele a definia como um ministério
em si: “Deus não faz nada, a não ser em resposta à oração”.
2. A Oração de Jesus. Dessa forma é nomeada a Oração
do Pai Nosso que o Senhor Jesus ensinou aos seus discípu­
los. Ela também é conhecida ainda como Oração Dominical.
Acerca desta, escreve Hank Hanegraaff, o Senhor Jesus não se
limitou a repassar aos discípulos um modelo de oração, mas os
princípios da oração que fazem desta a mais eficaz das armas
que o crente tem â sua disposição na luta contra o adversário.
Aduz Hanegraaff: “Jesus não nos deu um mantra; deu-
nos um padrão de oração, e os discípulos aprenderam perfei­
tamente. Na verdade, até mesmo uma leitura superficial das
epístolas nos revela o quanto assimilaram bem aquela lição.
Em poucos anos, eles viraram o Império Romano de cabeça
para baixo! Assim como a oração de Jesus revolucionou a vida
dos apóstolos, pode transformar a sua também”.
Tertuliano ensina que “na oração dominical acha-se
compendiado todo o evangelho”. Quem haverá de contes­
tar esta verdade? O mesmo poderia dizer Martinho Lutero
ao comentar a oração que, embora sucinta, encerra grandes
verdades teológicas: “Tudo quanto o homem necessita neste
mundo e no outro, em favor do seu corpo e sua alma: indul­
gências, proveito, bênçãos, todo o necessário, enfim, já está
contido na oração do Pai Nosso”.
A Oração do Senhor não pode ser considerada uma
reza; é uma oração completa que apenas os que nasceram de
33
as Disciplinas da vida cristã

novo deveriam fazê-la conforme realça F. Davidson:“Somente


um filho de Deus, uma pessoa que nasceu de novo, pode fazer
corretamente uso da oração dominical”.
Se a estudarmos com paciente devoção, verificaremos
que a Oração do Senhor, além de achar-se firmemente
alicerçada nas Sagradas Escrituras, pode ser perfeitamente
dividida em duas partes. Georgc A. Buttrick, o teólogo e
erudito presbiteriano, contempla a ambas: as três primeiras
súplicas estão centralizadas na adoração que todos devemos
endereçar a Deus; as outras quatro, em nossas carências e
necessidade.
3. A O ração no Espírito. Denomina-se, dessa ma­
neira, a oração feita nos domínios do Espírito Santo. Neste
tipo de oração, o crente é dirigido a sentir, a demandar e a
operar em profundas súplicas sob o impulso do Consolador.
E uma oração infalível, porquanto orientada e dirigida pelo
Espírito.
Assim o apóstolo Paulo recomenda-nos a orar:“...todo
tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Ef6.18). Quem
se põe a fazer esta oração, deve estar preparado: a) a orar de
acordo com a vontade de Deus, tendo-o como soberano em
todas as coisas; b) a estar disposto a submeter-se de acordo
com o querer divino. Quando assim oramos, o Espírito Santo
não somente atua como nosso intercessor, como também en­
carrega-se pela eficácia de nossas petições.
Determinados comentaristas ensinam que a oração no
Espírito faz parte da armadura do cristão.Todavia, a armadura
encerra-se não com a oração e, sim, com a espada do Espírito.
14
oração — o DÍálo<jo da Alma com Deus

De uma forma ou de doutra, escreve Willard H. Taylor do


Comentário Bíblico Beacon:“0 soldado cristão consegue se
manter fiel, sendo bem-sucedido na resistência aos inimigos
espirituais, somente quando permanece em espírito de ora­
ção, sempre pronto a pôr suas necessidades diante do Senhor.
A palavra mais geral para referir-se a oração é prosseuche, en­
quanto que súplica provém da palavra deesis, que transmite o
significado de solicitação ou petição”.
4. Fundamentos bíblico-teológico da oração. A
oração não é apenas uma prática; tem firmes e provados ali­
cerces bíblicos e teológicos. Não é uma invenção humana; é
uma necessidade que Deus nos colocou no coração e plan-
tou-nos na alma.
Quando lemos a Bíblia, deparamo-nos com notáveis
exemplos de homens e mulheres que, movidos pela fé, logra­
ram realizar o impossível através da oração. Noé escapou do
dilúvio juntamente com a sua família. Abraão, Isaque e Jacó,
apesar de peregrinos em terra nada amistosa e idólatra, vie­
ram a possuir toda aquela área como intransferível promessa.
Moisés arrancou, com poderoso braço, os hlhos de Israel do
Egito. E o que dizer das súplicas de Davi? Corno não enterne­
cer-se ante as intercessões de Samuel, Isaías c Jeremias.
5. A oração na História da Igreja. “Senhor, ensina-
nos a orar”. Eis uma das mais notórias orações das Sagradas
Escrituras. Naquele momento, poderiam os discípulos, se o
quisessem, rogar um outro bem ao Senhor. Mas não o fizeram.
Como buscassem antes de tudo o Reino de Deus e a sua jus­
tiça, obtiveram, como modelo, uma oração que, pronunciada
com fé, supre-nos todas as carências.
35
as Disciplinas da vida cristã

A oração jamais se ausentou da Igreja; sem aquela, ine-


xistiria esta. Se Jesus foi um exemplo de oração, por que, di­
ferentemente, agiriam seus discípulos e apóstolos? Veja, por
exemplo, Paulo. Seja nos Atos dos Apóstolos, seja em suas
epístolas, deparamo-nos com o doutor dos gentios endere­
çando a Deus as mais ferventes orações.
Depois da era apostólica, os pais da igreja, além de suas
lides teológicas, consagravam-se à oração. lgnácio,Tertuliano,
Ambrósio e Agostinho. O bispo de Hipona escreveu acerca de
seu ministério de oração e intercessão: “Eis que dizeis:‘Venha
a nós o vosso reino. E Deus grita: Já vou’ Não tendes medo?”
E os reformadores? Martinho Lutero foi um grande
paradigma na intercessão em favor da Igreja de Cristo na­
queles períodos da Reforma Protestante. Mais tarde chega­
ram os avivalistas. John Wesley levantava-se de madrugada
para falar com o Pai Celeste. E o irmão Finney? Era um
gigante na oração. Com o Movimento Pentecostal a Igreja
de Cristo desfez-se em orações e súplicas por aqueles que,
sem ter esperança de ver Deus, caminhavam para o inferno.
Em suas anotações pessoais, Daniel Berg e Gunnar Vingren
descrevem suas ricas experiências oriundas de uma vida de
profunda oração.
II. OBJETIVOS DA ORAÇÃO
O pastor e erudito inglês, Mathew Henry, discorre sobre
um dos mais urgentes objetivos da oração: “Quando Deus
pretende dispensar grandes misericórdias a seu povo, a pri­
meira coisa que faz é inspirá-lo a orar”. Como discordar do
irmão Henry? Todos já nos sentimos impulsionados a orar
36
oração — o Diálogo da Alma com Deus

com mais intensidade nos momentos de decisão e de angús­


tias; não podemos viver distanciados da presença divina.
1. Buscar a presença de Deus. “Quando tu disseste:
Buscai o meu rosto, o meu coração te disse a ti: O teu rosto,
Senhor, buscarei” (SI 27.8). Seja nos primeiros alvores do dia,
seja nas últimas trevas da noite, o salmista jamais deixava de
ouvir o chamado de Deus para contemplar-lhe a face. Tem
você suspirado pelo Senhor? Ou já não consegue ouvi-lo?
Diante da sede pelo Eterno, que ia na alma de Davi, exorta-
nos o pastor norte-americano Warren W. Wiersbe: “Não se
limite a buscar a ajuda de Deus. Almeje a sua face. O sorriso
de Deus é tudo o que você precisa para vencer as insídias
humanas”.
2. Agradecê-lo pelos imerecidos favores. Se nos
limitarmos às petições, nossa oração jamais nos enlevará ao
coração do Pai. Mas se, em tudo, lhe dermos graças, até mes­
mo pelas tribulações que nos sitiam a alma, haveremos de
ser, a cada manhã, surpreendidos pelos cuidados divinos. J.
Blanchard é mui categórico:“Nenhum homem pode orar bi­
blicamente, se orar egoisticamente”.
Egoísta não era o coração do salmista. Num dos mais
belos cânticos da Bíblia, manifesta ele toda a sua gratidão ao
Senhor: “Que darei eu ao Senhor por todos os benefícios que
me tem feito? Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome
do Senhor. Pagarei os meus votos ao Senhor, agora, na presen­
ça de todo o seu povo” (SI 116.12-14).
Em seu livro Um Salmo em seu Coração, o pastor George
O Wood, um dos mais importantes líderes das Assembléias de
37
as Disciplinas da vida cristã

Deus nos Estados Unidos, faz estas considerações: “De que for­
ma agradecemos a Deus depois que Ele nos livra de uma si­
tuação difícil? O salmista cumpre os votos que fez ao Senhor
quando passava pela provação. Assim, vai ao templo e apresenta
suas ofertas de ação de graças. Como seguidores de Jesus, apre­
sentamos um tipo diferente de sacrifício: a oferta contínua de
nossa vida e louvor ao Senhor e de fazer o hem ao próximo”.
Tem você agradecido a Deus? Ou cada vez que se põe a
orar apresenta-lhe uma lista de vaidosas e tolas reivindicações?
Atente a esta exortação de Tiago (Tg 4.3).
3. Interceder pelo avanço do Reino de Deus. Na
Oração Dominical, insta-nos o Senhor Jesus a orar: “Venha o
teu Reino” (Mt 6.10). No Antigo Testamento, os judeus roga­
vam a Deus jamais permitisse que suas possessões viessem a cair
em mãos gentias. Basta ler o Salmo 136 para se enternecer com
o cuidado dos israelitas por sua herança espiritual e territorial.
Já no Testamento Novo, os apóstolos, mesmo às voltas
com as perseguições, quer dos gentios, quer dos judeus re­
beldes, oravam a fim de que, em momento algum, a Igreja de
Cristo acabasse por ser detida em seu avanço rumo aos con­
fins da terra. Os Atos dos Apóstolos podem ser considerados
uma oração, constante e fervorosa, pela expansão do Reino de
Deus sem impedimento algum (At 28.30).
Se orássemos como John Knox, todo o nosso país já
estaria aos pés do Salvador. Diante da miséria de sua gen­
te, rogou: “Cristo, dá-me a Escócia se não morrerei”. Como
resultado de seu clamor, um avivamento varreu aquele país,
levando milhares de impenitentes aos pés da cruz.
38
oração — o Diálogo da Alma com Deus

Uni dos maiores exemplos de intercessão de que temos


foi-nos deixado por John Hyde. Orou ele de tal forma em
favor dos indianos, que abandou o conforto de seu lar, na
Inglaterra, e viajou para a índia. Naquele território, barbari­
zado por tantos adversários, sentiu a dor e a angústia da gen­
te índia. Decidido a alcançar aquele povo, aprendeu o urdu,
fez-se como um natural da terra, e saiu a falar de Cristo a um
povo que, se no passado, era glorioso, naquela época, estava ca­
tivo. Mas ele não desistiu. Como resultado de suas intercessões
e proclamação do Evangelho, multidões vieram a curvar-se
ante os pés de Cristo. No livro O Homem que Orava, podemos
viver, com intensidade, suas experiências através de seus cla­
mores e intercessões.
4. Apresentar a Deus nossas necessidades. Não te­
mos de preocupar-nos com a nossas carências; em glória, o
Pai Celeste no-las supre (Fp 4.19). Aleluia! Além disso, Ele “é
poderoso para fazer (...) além daquilo que pedimos ou pensa­
mos, segundo o poder que em nós opera” (Ef 3.20).
Ao invés de nos fixarmos em nossas necessidades, inter­
cedamos. Enquanto estivermos rogando por nossos amigos
e irmãos, estará Ele suprindo cada uma de nossas privações.
Não foi exatamente isto o que se deu com o patriarca Jó?
“E o Senhor virou o cativeiro de Jó, quando orava pelos seus
amigos; e o Senhor acrescentou a Jó outro tanto em dobro a
tudo quanto dantes possuía” (Jó 42.10).
5. Confessar a Deus nossos pecados e faltas. Não
se limitava Daniel a confessar os pecados de seu povo; nessa
confissão, sentida e repassada por um pranto incontido, tam­
bém se incluía. Se lermos o capítulo nove do livro que lhe leva
as Disciplinas da vida cristã

o nome, ver-nos-emos constrangidos a confessar cada uma de


nossas iniqüidades. Alguém disse, certa vez, que Daniel não
confessava os pecados de seu povo por atacado; especificava
cada um deles.
Tem você confessado seus pecados a Deus? Saiba que
Ele, em seu Filho Jesus, é fiel e justo para não somente para
perdoar-nos as faltas, como também para nos restaurar a co­
munhão consigo (1 Jo 1.7).
III. CULTIVANDO O H ÁBITO DA ORAÇÃO
John Bunyan, autor de O Peregrino, um dos maiores clássi­
cos da literatura evangélica, faz-nos uma séria observação:“Jamais
serás um cristão, se não fores uma pessoa de oração’’.Todavia, de
que forma poderemos nós cultivar a prática da oração?
1. O rar cotidianam ente. Quantas vezes devemos nós
orar por dia? Fizéssemos a pergunta a Bunyan, responder-
nos-ia: “Ore continuamente”. Aliás, esta é a recomendação
das Sagradas Escrituras aos que desejam vencer o mundo, e
chegar ao regaço do Salvador amado (1 Ts 5.17). Daniel orava
três vezes ao dia (Dn 6.10).
John Hyde, como vimos, é conhecido como o homem
que orava. Acerca da vida deste valoroso missionário, teste­
munha Orlando Boyer: “João Hyde não pregou muito sobre
a sua própria experiência de santificação, mas a sua vida era
santa. Sua vida era um sermão. Não falou muito acerca da
oração. Mas ele orava. Pouco antes de falecer, escreveu à sua
irmã: Estou ainda acamado, mas descansando e passando mui­
to tempo em intercessão”.
40
oração — o Diálogo da Alma com Deus

Tem você intercedido pela Obra Missionária? Pelos que


se desviaram dos caminhos do Senhor? E pelos que se deixa­
ram levar pelas drogas?
2. Sem interferências. Procurava Daniel falar com o
Senhor livremente, longe do atribulado cotidiano de Babilônia:
“Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, en­
trou em sua casa (ora, havia no seu quarto janelas abertas da
banda de Jerusalém), e três vezes no dia se punha de joelhos, e
orava, e dava graças, diante do seu Deus, como também antes
costumava fazer” (Dn 6.10).
Aliás, esta é a recomendação que nos faz o Senhor Jesus:
“Mas tu, quando orares, entra no teu aposento e, fechando a
tua porta, ora a teu Pai, que vê o que está oculto; e teu Pai, que
vê o que está oculto, te recompensará” (Mt 6.6).Tem você um
lugar e uma hora para a oração? Quando estiver falando com
o Pai Celeste, não admita interferências: desligue o telefone, o
celular, o computador; enfim, desligue o mundo à sua volta.
Nada é mais importante do que a audiência que você marcou
com o Pai Celeste.
CO NCLUSÃO
Afirma Tiago: “A oração feita por um justo pode
muito em seus efeitos. Elias era homem sujeito às mesmas
paixões que nós e, orando, pediu que não chovesse, e, por
três anos e seis meses, não choveu sobre a terra. E orou ou­
tra vez, e o céu deu chuva, e a terra produziu o seu fruto”
(Tg 5.16-18). Estivéssemos nós conscientes desta verdade,
cultivaríamos ainda mais esta doce e amorosa disciplina da
vida cristã.
41
as Disciplinas da vida cn stà

Sem oração, jamais haveremos de mover a mão de Deus


para que aja sobrenaturalmente, no mundo, por intermédio de
seu povo.Tem você cultivado a oração? E chegado o momen­
to de buscarmos, ainda mais, a presença de Deus.
“Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto” (Is 55.6).

42
4

Leitura
Devocional
a

da BÍblia
IN T R O D U Ç Ã O
A virtude salvadora das Escrituras Sagradas, negada pelos
céticos e desprezada pelos teólogos liberais, é ressalvada subli­
memente por John Stott:“Não há poder salvífico nas palavras
dos homens. O demônio não afrouxa suas garras que estão
sobre seus prisioneiros se simples mortais assim ordenarem.
Nenhuma palavra tem autoridade para ele, exceto a Palavra
de Deus”. Como discordar do teólogo britânico? A Bíblia
é-nos mais imprescindível e mais vital do que o ar que respi­
ramos e do que o pão que nos sustém (Dt 8.3).
O imperador Dom Pedro II conhecia, pelo menos in­
telectualmente, a existência dessa virtude emanada da Bíblia.
as Disciplinas da vida cristã

Embora possuísse ele um dos maiores acervos do século XIX,


sua preferência achava-se focada na Bíblia. Sua majestade a
estudava e nela meditava diariamente. Quanto mais a lia, mais
amor lhe devotava; era o seu pão cotidiano.
Chegado o momento de abandonar o Império do Brasil,
que já se fazia república, não opôs qualquer resistência aos
adversários. Transferiu-se, pacificamente, para a Europa, im­
pedindo, assim, que o solo brasílico viesse a colher o sangue
de seus rebelados e inconformados súditos. A influência das
Sagradas Escrituras levou-o a aceitar, resignadamente, o fim
do reinado da Casa de Bragança. Dom Pedro sabia que a ver­
dadeira salvação não se acha na força das armas; encontra-se
na Palavra de Deus.
Tem você a necessária disciplina para ler e estudar
a Bíblia? Faz a Palavra de Deus parte de seu cotidiano? (SI
119.97). Ou ela já se perdeu entre os livros de sua estante?
Somente ela tem as palavras de vida eterna. O que é, porém, a
Bíblia, esse livro capaz de dominar reis e imperadores?
I. O QUE É A BÍBLIA
Intentou Thomas Watson (1620-1686), certa vez, definir
a Bíblia. Depois de várias tentativas, veio a concluir o teólogo
britânico: “Ainda que eu conhecesse a língua dos anjos, não
poderia jamais expressar a excelência da Bíblia Sagrada”. Se
uma definição exata é impossível, busquemos uma que se en­
quadre às nossas necessidades mais imediatas (SI 119.96).
No encalço por uma definição, asseverou Agostinho se­
rem as Sagradas Escrituras a carta de nosso lar celeste. A Bíblia
44
a Leitura Devocionul da Bíblia

pode ser descrita ainda como a lei magna de nossas liberdades,


a espada do Espírito Santo e a Palavra de Deus.
1. Definição. A definição mais simples, e genuinamente or­
todoxa, que encontramos das Escrituras Sagradas é esta: A Bíblia é
a inspirada, a inerrante, a infalível, a soberana e a completa Palavra
de Deus. Infelizmente, nem todos os teólogos aceitam a pureza
doutrinal deste conceito; há os que alegam haver nele um descon­
certante simplismo. Todavia, encontra-se este enunciado isento do
erro dos liberais e livre das sutilezas dos neo-ortodoxos.
Tal definição, posto que simplista, enfatiza ser a Bíblia a
resposta às nossas mais profundas e complexas indagações. Sem
ela, como diria Wiley Culbertson, o mundo seria um enigma.
Como entender o mundo sem o Gênesis? Ou interpretar a
história judaica sem o Exodo? Seria possível acompanhar a tra­
jetória da humanidade não fossem os profetas? Erram, pois, os
liberais por não honrarem a Bíblia como a Palavra de Deus.
2. A posição liberal. Sustentam os liberais que a Bíblia
contém mas não é a Palavra de Deus. Outros vão mais longe:
asseveram que a Bíblia não é nem contém a palavra de Deus;
pois nenhum valor absoluto ela possui quer no campo da re­
ligião quer no terreno da ética.
Identificando-se como herdeiros do Iluminismo e filhos
da razão, rebelaram-se abertamente contra a Bíblia. E já não a
considerando a inspirada Palavra de Deus, passaram a tê-la em
conta de um livro como outro qualquer. Mas acabaram por se
envolver em densas trevas; arrogando-se por sábios, fizeram-se
loucos; pois somente os destituídos de juízo ousariam declarar
ser a Bíblia um livro comum e descartável.
45
as Disciplinas da vida crista

No entanto, alguns filósofos, mostrando-se mais lúcidos


do que os teólogos liberais, viram-se constrangidos a reco­
nhecer a Bíblia como a maior dádiva já recebida pela hu­
manidade. Immanuel Kant, um dos mais insignes pensadores
da inquiridora Alemanha, presta à Bíblia uma singela, porém
elevada homenagem: “A Bíblia é uma fonte inesgotável de
todas as verdades. A existência da Bíblia é a maior bênção que
a humanidade jamais experimentou”.
3. A posição neo-ortodoxa. Os neo-ortodoxos ensi­
nam que a Bíblia torna-se a Palavra de Deus à medida que al­
guém, ao lê-la, tem um encontro experimental com o Senhor
Jesus. Ora, quer o homem se curve, quer se revolte contra as
Sagradas Escrituras, estas jamais deixarão de ser a Palavra de
Deus. Erram, portanto, aqueles que, em sua inocência e sim­
plicidade, afirmam: “A Bíblia fechada não passa de um livro
como qualquer outro; mas, aberta, é a boca de Deus falando
ao homem”.Todavia, conforme reivindica a própria Bíblia, ela
sempre será a Palavra de Deus.
A neo-ortodoxia, segundo podemos concluir, não nega
explicitamente a inspiração da Bíblia. Sutilmente, porém, co­
loca o Santo Livro no mesmo nível de outros recursos espiri­
tuais que, embora úteis, não possuem a mesma autoridade das
Escrituras. E se a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus, por que
prescindir-se da Bíblia?
Alguns neo-ortodoxos, ostentando falsa piedade e
contrariando até a própria lógica, colocam o Espírito Santo
acima da Bíblia Sagrada e em velada oposição a ela, a fim de
abstrair desta toda a autoridade doutrinária, espiritual e éti­
ca. No entanto, se a Bíblia foi inspirada pelo Espírito Santo e
46
a i.eitura Devocional da Bíblia

se do Santo Espírito é a Palavra, como pode estar o Espírito


de Deus em contradição com a Palavra que Ele mesmo ins­
pirou? O Espírito Santo, aliás, zela pela Palavra de Deus para
que esta se cumpra plenamente. Portanto, nenhuma ginás­
tica intelectual é-nos necessária para declarar ser a Bíblia a
Palavra de Deus.
Karl Barth, pai da neo-ortodoxia, embora haja se levan­
tado contra o liberalismo teológico, não se alinhou completa­
mente à doutrina dos santos profetas e dos apóstolos de nosso
Senhor jesus Cristo. Ao defender a Bíblia, como já vimos,
fê-lo de maneira relativa. Se ele assim agiu, como pode ser
considerado o maior teólogo do século XX?
Quanto a mim, prefiro aqueles que defendem a ortodo­
xia da Bíblia como a inspirada, inerrante e infalível Palavra de
Deus aos que, do alto de suas cátedras, menosprezam-na.
4. A posição ortodoxa. Os ortodoxos, com base nas
Sagradas Escrituras, asseveramos que a Bíblia é, de fato, a
Palavra de Deus. Ela não se limita a conter a Palavra de Deus;
ela é a Palavra de 1)eus. Ela também não se torna a Palavra de
Deus; ela é e sempre será a Palavra de Deus (2 Tm 3.16).
A posição ortodoxa é simples, clara e suficiente: A Bíblia
é a inspirada, a inerrante, a infalível, a soberana e a completa
Palavra de Deus.
Desde o início do Movimento Pentecostal, jamais deixa­
mos de primar por um credo biblicamente ortodoxo. E o que
destaca Stanley Horton em sua Teologia Sistemática. Venerando
pastor e teólogo da Assembléia de Deus norte-americana, o ir­
47
as Disciplinas da vidu cristã

mão Horton deita por terra os argumentos dos que, movidos


por um orgulho histórico e denominacional, asseveram que
somos um movimento sem teologia. Gostaria que eles estudas­
sem mais atentamente nossos livros e declarações de fé. Haverão
eles de se convencerem que nossa teologia é, de fato, ortodoxa
e genuinamente bíblica. Eis por que sempre fizemos questão cie
atentar às reivindicações da Bíblia Sagrada.
II. AS G R A N D ES
R EIVINDICAÇÕ ES DA BÍBLIA
E de fundamental importância tenhamos, no coração,
as reivindicações da Bíblia Sagrada: sua inspiração, inerrância,
infalibilidade, soberania e completude.
1. A inspiração da Bíblia. Já que a Bíblia é a Palavra
de Deus, sua inspiração não é comum nem vulgar; é singular e
única, porquanto contou com a supervisão direta do Espírito
Santo. As Escrituras mesmas reconhecem sua divina inspira­
ção (2 Tm 3.16; 2 Pe 1.21).
2. A inerrância da Bíblia. Inspirada divinamente,
há que se concluir: a Bíblia acha-se, em termos absolutos e
infinitos, isenta de erros. Nela, não encontramos a mínima
inexatidão quer histórica, quer geográfica, seja teológica, seja
doutrinária (SI 19.7; 119.140).
3. A infalibilidade da Bíblia. A Bíblia não é apenas
inerrante; é também infalível. Tudo o que o Senhor prome-
teu-nos, em sua palavra, cumpre-se absolutamente. Entretanto,
há teólogos que alegam defender a infalibilidade da Bíblia,
mas lhe rejeitam a inerrância. Ora, como podemos considerar
4H
a Leitura Deuocional da B í b l i a

algo infalível se é errante? Sua errância, por acaso, não virá a


contraditar-lhe, inevitavelmente, a infalibilidade?
Quanto a nós, reafirmamos: tanto a inerrância quanto
a infalibilidade da Bíblia são incontestáveis (Dt 18.22; 1 Sm
3.19; At 1.3: Mc 13.31).
4. A soberania da Bíblia. Evangélicos e herdeiros da
Reforma Protestante, confessamos ser a Bíblia a autorida­
de suprema em matéria de fé e prática (Is 8.20; 30.21; 1 Co
14.37). Isto significa que a Bíblia encontra-se acima das tra­
dições e primados humanos; ela é a inquestionável e absoluta
Palavra de Deus.
5. C om pletude da Bíblia. O Apocalipse encerrou,
definitiva e irrecorrivelmente, o cânon da Bíblia Sagrada; ne­
nhuma subtração, ou adição, está autorizada à Palavra de Deus
(Ap 22.18-21). Portanto, não se admite quaisquer escrituras,
profecias, sonhos ou visões que, arrogando-se palavra de Deus,
reivindique autoridade semelhante ou superior a da Bíblia.
Como encara você a Bíblia? Como a Palavra de Deus?
Ou como um livro qualquer? Se você quer realmente disci-
plmar-se na leitura e no estudo das Sagradas Escrituras, tem
de considerá-las como a inspirada, a inerrante, a infalível, a
soberana e a completa Palavra de Deus. Menos do que isto, é
inaceitável.
III. CO M O LER A BÍBLIA
Afirmou com muita precisão o teólogo Martin Anstey:
“A qualificação mais importante exigida do leitor da Bíblia
49
as Disciplinas da vida cristã

não é a erudição, mas sim a rendição; não a perícia, mas a


disposição de ser guiado pelo Espírito de Deus”. Estudemos,
pois, a Palavra de Deus, conscientes de que o Senhor con­
tinua a falar-nos hoje como outrora falara a Israel e à Igreja
Primitiva. Devemos, por conseguinte:
1. Amar a Bíblia. Nossa primeira atitude em relação à
Bíblia é amá-la como a inspirada Palavra de Deus. Declara o
salmista todo o seu amor às Escrituras:“Oh quanto amo a tua
lei; é a minha meditação todo dia” (SI 119.
Se realmente amamos a Palavra de Deus, ser-nos-á in­
suportável ficar um dia sequer sem que a estudemos; sua lei­
tura é-nos essencial à vida moral e à espiritual. Aliás, declarou
Moisés aos israelitas que nem só de pão vive o homem, mas
de toda a palavra suscitada da boca de Deus. Não são poucos
os crentes que já leram a Bíblia 50 vezes. Por outro lado, quem
teria a necessária paciência de repassar, com o mesmo ímpeto,
as obras de Homero?
Por que a Bíblia é-nos tão imprescindível? Como to­
dos ansiamos ouvir a voz de Deus, voltamos ao seu Livro,
pois neste, acha-se Ele a consolar, de seu alto e sublime tro­
no, aos quebrantados corações. Ouçamos o testemunho de
John William Burgon: “A Bíblia não é mais do que a voz
daquele que se assenta no trono. Cada livro, cada capítulo,
cada sílaba, cada letra da Bíblia é um pronunciamento direto
do Altíssimo”.
Tem você lido cotidianamente a Bíblia? Tem-na guar­
dada na mente e no coração? Ou não passa ela de um livro
esquecido e empoeirado em sua estante? E chegado o mo­
50
a Leitura Devocional da BÍblia

mento de nos voltarmos aos profetas e apóstolos; sem os seus


ensinamentos, como nos haveremos num mundo que jaz as­
fixiado pelo maligno?
2. Ter fom e da Bíblia. Se tivermos fome pela Bíblia,
tê-la-emos cotidianamente às mãos. Como privar-nos do ali­
mento que nos vem diretamente do Espírito de Deus? O pro­
feta Ezequiel, tão logo encontra a Ealavra de Deus, come-a
(Ez 3.3). Tal mantimento acha-se à nossa disposição, manhã
após manhã, na sala do banquete. Lá está o Mestre a esperar-
nos para a primeira refeição do dia.
John Wesley amava tanto a Bíblia que não podia ficar
um dia sequer privado de sua leitura. Aliás, considerava-se ele
um ardoroso amante da Palavra de Deus: “Sou fanático pela
Bíblia. Eu a sigo em todas as coisas, tanto pequenas como
grandes”. E você? Ama verdadeiramente a Bíblia? Sem ela
nada seremos; nenhuma orientação poderemos ter em nosso
dia-a-dia se a prescindirmos.
3. Guardar a Bíblia no coração. Ao cantar as belezas
da Palavra de Deus, o salmista confessa ternamente: “Escondi
a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti” (SI
119.11). Os leitores periféricos da Bíblia lêem-na, mas dela
logo se esquecem. Não assim o suave cantor de Israel; mesmo
fechando-a, abria-a cm seu coração.
Guardar a Bíblia no coração implica numa prática cons­
tante e persistente de seus ensinamentos. Thomas Watson as­
segura mui firmemente: “Os praticantes da Palavra são os me­
lhores ouvintes”. Como é lamentável o viver daqueles que,
embora conheçam intelectualmente a Bíblia, não a vêern de
5/
as Disciplinas da vida cristã

forma devocional. Não a guardam no coração, pois este se


acha inflado com os cuidados desta vida. Como está o seu co­
ração? Cheio da Palavra? Então, não cesse de falar deste Livro
onde quer que você esteja.
4. Falar continuam ente das grandezas singu­
lares da Bíblia. Eis o que Moisés prescreve aos filhos
de Israel, a fim de que estes jamais venham a se esquecer
dos mandamentos do Senhor: “Estas palavras que, hoje, te
ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus fi­
lhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás
como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos.
E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”
(Dt 6.7-9).
Você tem verbalizado a Bíblia em seu cotidiano? Aliás,
em que se acham baseadas suas conversas? Se você a cita
em casa, seu lar terá concórdia e paz; se na rua, estará você
em plena segurança; se no serviço e ante as autoridades,
todos haverão de saber que você é um cidadão dos céus.
Os israelitas fiéis constantemente mencionavam a Bíblia e
constantemente evocavam seus ensinos; sabiam que, apesar
de seus projetos, a resposta certa vinha sempre dos lábios
do Senhor.
IV. OS EFEITOS DA BÍBLIA EM N O SSA VIDA
Quanto mais lermos a Bíblia, mais sábios nos tornare­
mos. Ela orienta-nos em todos os nossos caminhos; consola-
nos quando nenhum consolo humano é possível; mostra-nos
a estrada do Calvário e leva-nos ao lar celestial.
52
a Leitura Devocionul da Bíblia

1. A Bíblia dá-nos sabedoria. “Os teus mandamen­


tos me fazem mais sábio que os meus inimigos; porque, aque­
les, eu os tenho sempre comigo” (SI 119.98). Sutilmente, fa­
zia o salmista uma comparação entre a Palavra de Deus e as
palavras dos homens que, apesar de sábios, não reconheciam
o Altíssimo, em quem se acham ocultos os tesouros de todo
saber e de toda ciência; Ele é a própria sabedoria.
Gênios peregrinos compuseram obras que se tornaram
primas e clássicas. Apesar de haverem sobrevivido, tais livros
não mais enlevam-nos como o fizeram à sua geração. São mais
estudados pelas finuras de estilo e pelos donaires literários do
que pelos ensinos éticos e morais que intentaram deixar-nos
como herança. Alguns deles, aliás, nem morais nem éticos
eram. Com o passar dos séculos, ei-los obsoletos.
A Bíblia, entretanto, é o único livro contemporâneo de
todas as épocas; jamais envelhece nem caduca. Foi a conclusão
a que chegou o príncipe dos pregadores:
“Muitos livros em minha biblioteca estão agora desa­
tualizados. Foram bons enquanto eram novos, ã semelhança
das roupas que usei quando tinha dez anos de idade; mas eu
cresci e as deixei para trás. Ninguém jamais deixa para trás as
Escrituras por ter crescido; esse livro se amplia e é mais co­
nhecido à medida que passam nossos anos”.
Somos constrangidos a concordar com Charles H.
Spurgeon; a Bíblia, têmo-la continuamente à cabeceira; quan­
to mais a lemos, mais a amamos. Somente ela pode dar-nos
a necessária sabedoria num mundo confuso e que marcha,
loucamente, para a destruição.
53
as Disciplinas da vida cristã

2. A Bíblia dá-nos a orientação segura. “Tu és a


minha rocha e a minha fortaleza; guia-me e orienta-me como
prometeste” (SI 31.3).
Todas as vezes que o presidente Abraham Lincoln de­
batia-se com a insegurança que a Guerra de Secessão gerara
nos Estados Unidos, refugiava-se ele com a Bíblia. E ali, no
aconchego de seu gabinete, rogava a Deus que lhe propor­
cionasse a necessária segurança. Depois de suas reais experi­
ências com o Senhor, escreveu: “Quanto a esse grande livro,
preciso dizer que ele é a melhor dádiva de Deus ao homem.
Tudo o que o bom Salvador deu ao mundo foi comunicado
por meio desse livro”.
Quer você desfrutar de segura orientação? Volte-se à
Bíblia; leia-a cotidianamente. Somente assim, você haverá de
sentir a mão do Eterno, orientando-o no caminho que atra­
vessa o vale da sombra e morte.
3. A Bíblia dá-nos o necessário consolo. “O que
me consola na minha angústia é isto: que a tua palavra me
vivifica. (SI 119.50).
Somente a Bíblia pode administrar-nos os consolos,
quando todos os consolos humanos já não são possíveis. Ela
mostra-nos Deus como o Deus de todas as consolações. Onde
o mundo vê tragédia, vemos nós a mão divina; onde infor­
túnios e dores, sentimos aquele bálsamo que, procedente de
Deus, pensa-nos todas as feridas; onde o luto, deparamo-nos
com a ressurreição. Console-se, pois, em Deus. Suas palavras,
registradas na Bíblia, faz-nos descansar em seu regaço onde há
um lenitivo pleno e singular.
54
a Leitura Devocionul da BÍblia

4. A Bíblia dá-nos a provisão de salvação. “Desfalece-


me a alma, aguardando a tua salvação; porém espero na tua pa­
lavra” (SI 119.81).
A salvação vem pela fé. No entanto, como a fé é admi­
nistrada aos que buscam o Salvador? Através da Palavra de
Deus. E o que deixa bem claro o apóstolo Paulo aos irmãos
de Roma. Richard Baxter, ao comentar o poder da pregação,
é mui incisivo: “Se conseguirmos pregar somente Cristo para
nosso povo, teremos pregado tudo a eles”.
Já sentiu você a provisão da obra salvadora em Cristo
Jesus? Ouça e leia a Palavra de Deus. E a única forma de nos
encontrarmos com o Pai Celeste.
5. A Bíblia leva-nos ao lar celeste. No encerra­
mento do cânon sagrado, somos revigorados com a viva es­
perança de, um dia, virmos a tomar posse da Cidade Santa
(Ap 22.18-20).
Acredita você na existência no céu? Não é uma figura
de linguagem nem uma alegoria. O ser humano sonha com
uma terra ideal, onde todos os puros tenham condições de
expressar o seu amor a Deus.
Mesmo sem o saberem, até os próprios incrédulos, ad­
mitiam a existência do paraíso. Platão idealizava a República.
Segundo ensinava o pensador grego, este país, governado por
filósofos, proporcionaria real felicidade a todos. O mesmo
delineava Campanella com a Cidade do Sol. E a Utopia de
Thornas More? Entretanto, somente o céu é real, como real o
seu artífice e arquiteto: o Pai Celeste.
as Disciplinas cJa vida cristã

Se lermos com atenção o Apocalipse, teremos um vis­


lumbre cia Nova Jerusalém. Eis o nosso consolo. Ainda que
soframos neste mundo, aguarda-nos a Nova Jerusalém.
CO NCLUSÃO
Tem você lido regularmente a Bíblia? Ela é o seu con­
solo? Ou não passa a Palavra de Deus de um simples acessório
em sua estante? E hora de nos voltarmos, com mais empenho
e amorosa dedicação, ao Livro de Deus. Os que diariamente
lêem a Bíblia são mais sábios e acham-se melhor preparados,
a fim de enfrentar as lutas e dificuldades que nos juncam o
cotidiano. Leia a Bíblia; guarde-a no coração; faça dela o seu
lenitivo.

56
5
a sublim idade
do culto

D iv in o

IN TR O D U Ç Ã O
“Quantas lágrimas verti, de profunda comoção, ao ma­
vioso ressoar de teus hinos e cânticos em tua igreja! Aquelas
vozes penetravam nos meus ouvidos e destilavam a verdade
em meu coração, inflamando-o de doce piedade, enquanto
corria meu pranto e eu sentia um grande bem-estar”.
Estas palavras de Agostinho, o maior teólogo da cris­
tandade ocidental, constrangem-nos a entrar, humilde e
amorosamente, nos átrios do culto divino. Já na intimidade
do trono da graça, é-nos impossível conter as lágrimas ao
som da Harpa Cristã. E as intervenções celestes? E a expo­
sição da Palavra?
as Disciplinas da vida cristã

Estaremos nós preparados para cultuar a Deus como Ele


o demanda em sua Palavra? Se não retomarmos a prática do
culto divino, jamais alcançaremos a estatura de perfeitos va­
rões. O que significa, porém, o culto cristão?
I. O QUE É O CULTO CRISTÃO
Diante do profundo significado da páscoa hebraica, as
crianças israelitas indagavam de seus pais: “Que quereis di­
zer com este culto?” (Ex 12.26). E os pais, adornados com a
paciência tão própria dos filhos de Abraão, narravam-lhes os
acontecimentos que deram origem à páscoa. E, assim, celebra-
va-se a passagem de Israel sobre o Mar Vermelho, lembrando
milenarmente aos israelitas a intervenção do Altíssimo para
resgatar o seu povo da casa da servidão.
Estaremos nós também aparelhados a explicar aos nossos
filhos a importância do culto cristão?
1. Definição etimológica e antropológica. A pala­
vra culto é originária do vocábulo latino “culto”, e significa
adoração ou homenagem que se presta ao Supremo Ser. No
grego, temos duas palavras para culto: “latréia”, significando
adoração; e:“proskuneo”, reverenciar, prestar obediência, ren­
der homenagem.
Tanto os gregos quanto os romanos davam muita im­
portância às coisas cia religião. Venerando deuses e heróis,
mostravam-se eles acentuadamente religiosos, conforme res­
salta o apóstolo Paulo em seu discurso no Areópago. O que
eram, contudo, os seus ídolos? Extensão de si mesmos; vaida­
des dimanadas de suas loucuras e concupiscências.
58
a sublimidade do culto D i v i n o

O termo “ídolo” é procedente do vocábulo grego ei-


dolon, e ostenta as seguintes referências: imagem, espectro,
objeto de adoração. Com a chegada do Cristianismo no
mundo greco-romano, são os incrédulos conscientizados de
que a única e verdadeira religião é a endereçada ao Deus
Verdadeiro e Único. Consequentemente, a palavra “ídolo”
adquire uma outra conotação: falsa divindade.
No primeiro capítulo de sua Epístola aos Romanos,
expõe o apóstolo Paulo os malefícios advindos do culto aos
ídolos: inversão de valores, violência, prostituição, adultério,
homossexualismo, etc. Adorando mais à criatura do que ao
Criador e, arrogando-se como sábios, fizeram-se loucos.
2. Definição teológica. O culto é o momento
da adoração que tributamos a Deus; marca o encontro do
Supremo Ser com os seus adoradores. Eis porque, durante o
seu transcurso, cada membro da congregação deve sentir-se
e agir como integrante dessa comunidade de adoração —a
Igreja de Cristo.
Se o culto aos ídolos induz o ser humano às mais abjetas
práticas, a adoração cristã enleva-nos ao coração do Criador. O
teólogo Karl Barth via o culto cristão como “o ato mais im­
portante, mais relevante e mais glorioso na vida do homem”.
Assim considerado em virtude de seus singulares objetivos.
II. OBJETIVOS D O CULTO
PUBLICO CRISTÃO
Afirmou o reformador francês João Calvino: “O pri­
meiro fundamento da justiça é, sem dúvida, a adoração a
59
as Disciplinas d a v id a cristã

Deus”.Justificados pela fé em Nosso Senhor Jesus Cristo, não


podemos fugir à nossa responsabilidade; devemos reunir-nos,
periodicamente, a fim de cultuá-lo, em espírito e verdade,
porque o nosso culto possui como principais metas:
1. Levar-nos a reconhecer a Deus como o nosso
Criador e Mantenedor de tudo quanto existe. Atentemos
à convocação do salmista: “Celebrai com júbilo ao Senhor,
todos os moradores da terra. Servi ao Senhor com alegria e
apresentai-vos a ele com canto. Sabei que o Senhor é Deus; foi
ele, e não nós, que nos fez povo seu e ovelhas do seu pasto” (SI
100. 1- 3 ).

Quando cultuamos a Deus, reconhecemos de imediato


ser Ele o criador e o mantenedor de quanto existe. O Senhor
não se limitou a criar o mundo; continua a sustentar-lhe as
leis naturais e morais, a fim de que tudo funcione perfeita­
mente. O cientista francês Michel E. Chevreu demonstra ter
compreendido perfeitamente a ação criativa de Deus: “Creio
na existência dum Criador que governa o mundo orgânico.
Não posso compreender que a harmonia na natureza, bem
como o pensamento humano, possam ser o produto duma
casualidade”.
E necessário que, em nossos cultos, reconheçamos a
Deus como o Criador e Mantenedor de todas coisas. A Ele,
pois, toda a glória e majestade.
2. Instigar-nos a agradecer a Deus com o o nosso
salvador através de Cristo. Assim reconhece o profeta a
sua dependência do Redentor: “Eu darei graças ao Senhor e
louvarei a Deus, o meu Salvador” (Hc 3.18).
60
a sublimidade do culto D i v i n o

Os israelitas não louvavam a Deus apenas como o


Criador e Mantenedor de todas as coisas; adoravam-no tam­
bém como o seu Salvador, pois com mão forte e poderosa
arrancara-os do Egito, conduzindo-os à Canaã.
Através da morte e ressurreição de Cristo, entramos a
desfrutar de uma perfeita salvação. Hoje não mais necessi­
tamos do sangue de animais nem da intervenção de um sa­
cerdotal mortal e falível como Aarão. Mas, sendo Cristo da
ordem de Melquisedeque, apresentou-se Ele, diante de Deus,
como o oficiante e a vítima; com o próprio sangue, garantiu-
nos redenção eterna.
Por isto, adoramos a Deus, através de Cristo. O culto
cristão, por conseguinte, faz-nos lembrar daquela salvação
que, sendo anunciada no Éden, foi plenamente consumada
no Calvário.
3. Constranger-nos a nos humilhar diante de
Deus com o aquEle que, sempre presto, perdoa-nos
as iniqüidades. Deixa-nos o salmista este belo exemplo de
ações de graças: “É ele que perdoa todas as tuas iniqüidades”
(SI 103).
Nas Sagradas Escrituras, o orgulho é mostrado como
a transgressão que mais caracteriza a atuação do Diabo.
Pois ao ensoberbecer-se, rebelou-se abertamente contra o
Senhor (Ez 28.3). Tendo em vista tal exemplo, o apóstolo
Paulo, ao agrupar as virtudes requeridas do candidato ao
ministério, é peremptoriamente claro: “Não seja neófito, a
fim de que, ensoberbecendo-se, não venha a cair na tenta­
ção do Diabo”.
61
as Disciplinas da vida cristã

James Howell asseverou:“0 orgulho é uma flor que cres­


ce no jardim de Satanás”. Permitindo-se embair pelo orgulho,
Adão e.Eva comeram do fruto proibido. Buscando exaltar-se
acima do trono divino, viram-se rebaixados como o estrado
de seus pés. E a soberba de Nabucodonosor? E as pretensões
de Herodes? Enquanto Cristo esvaziava-se de sua glória, am­
bos os potentados inflavam-se com uma glória efêmera e vil.
4. Estimular-nos a nos alegrarmos diante de Deus
com o aquEle que nos cura todas as enfermidades e
que nos enche de benignidades. Intima-nos o salmista
a celebrarmos alegremente ao Senhor: “Quem redime a tua
vida da perdição c te coroa de benignidade e de misericórdia;
quem enche a tua boca de bens, de sorte que a tua mocidade
se renova como a águia” (SI 103.4,5).
Oliver W. Holmes exorta-nos a viver jubilosamente na
presença de Deus: “A alegria é o remédio de Deus. Todos
deveríamos usá-lo. Os cuidados, as ansiedades, o mau humor,
toda a ferrugem da vida deveria ser lubrificada com o óleo da
alegria”. Se a alegria faz tão bem ao coração, por que iríamos
nós prescindir de um tão precioso dom? Cultuemos, pois, a
Deus. Quem o faz experimenta abundantes exultações; quem
se recusa a fazê-lo, torna-se prisioneiro de um vazio cheio de
contradições e mágoas.
Neste verso, relaciona o salmista tudo quanto é neces­
sário para tornar a vida do homem realmente feliz: reden­
ção, graça salvadora, provisão diária e um estado de bem-estar
mental. Por conseguinte, aqui está tudo quanto deseja o ho­
mem.

62
a sublimidade do culto uivino

III. O CULTO PARTICULAR E


D O M ÉSTIC O A DEUS
Se o culto público é importante, o particular é impres­
cindível. Se não podemos estar no templo todos os dias, sem­
pre é possível estar aos pés de Cristo, onde quer que nos en­
contremos. O teólogo e pastor inglês Mathew Henry enfatiza
o valor do culto pessoal a Deus: “A adoração pública não nos
isenta da adoração secreta”.
1. O que é o culto particular a Deus. E o meio de
que dispomos para manter não somente a nossa comunhão
com o Salvador, mas para vivermos uma existência repleta de
regozijo espiritual.
Em nossas devoções particulares, dediquemo-nos às ora­
ções e intercessões; leiamos a Palavra de Deus e louvemos ao
Todo-Poderoso. E o mais precioso momento que podemos
consagrar à adoração do Eterno. Lembra-se de Jó? Foi em
solidão e recolhimento que o patriarca apresentou ao Senhor
as mais ardentes adorações.
2. O culto doméstico. O culto doméstico é uma de­
voção particular que consagramos ao Pai Celeste. A família
que, unida, cultua a Deus, permanecerá unida seja na bonan­
ça, seja nos temporais que nos ameaçam o frágil barquinho.
Se menosprezarmos a afeição religiosa no lar, fracassaremos
como indivíduos. Adoremos a Deus em todo lugar, pois Ele
é digno de receber a nossa adoração em todo o tempo. Tem
você realizado o culto doméstico com regularidade e cons­
tância? Leia, neste momento, o Salmo 128, e veja o retrato de
uma família que celebra o nome do Senhor.
6.i
as Disciplinas da vida cristã

Os cultos, na Igreja Primitiva, eram realizados em ca­


sas particulares; pois os irmãos, sob a atmosfera do Dia de
Pentecostes, não consideravam imprescindível um templo
como o tinham os judeus. Entretanto, não demorou muito
para que surgissem as primeiras edificações destinadas ao cul­
to cristão. A partir daí, edificaram-se suntuosos prédios dedi­
cados às reuniões da igreja.
Nos lares cristãos, os cultos domésticos jamais deixaram
de ser realizados. E uma prática que subsiste apesar do estresse
dos tempos modernos.
Embora não haja uma liturgia prescrita, recomenda-se
a observância dos seguintes elementos em nossas devoções
familiares: oração, jejum, cânticos e leitura da Palavra de Deus
com rápidos comentários.
IV. C O M PO N E N TE S D O CULTO CRISTÃO
A liturgia da Igreja Primitiva, ao contrário do culto leví-
tico, era simples e pentecostal. Os dons espirituais faziam parte
dos serviços, e não se estranhava quando alguém manifestava-
se noutras línguas; eram estas interpretadas, exortando, con­
solando e edificando os fiéis, e descobrindo os corações aos
incrédulos.Todas as coisas, porém, eram feitas com decência e
ordem. Leia 1 Coríntios cap. 14.
Em pelo menos três ocasiões, o apóstolo Paulo refere-se
aos elementos que acompanhavam o culto da Igreja Primitiva.
1. Aos coríntios. Deixa Paulo bem patente, aos irmãos
de Corinto, que os atos litúrgicos devem ser usados para a edi­
64
a sublim idade do culto Divino

ficação:“Que fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem


salmo, outro, doutrina, este traz revelação, aquele, outra língua,
e ainda outro, interpretação. Seja tudo feito para edificação”
(1 Co 14.26).
2. Aos colossenses. Já aos colossenses, realça ele os cân­
ticos de adoração cristã: “Habite, ricamente, em vós a palavra
de Cristo; instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda
a sabedoria, louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos
espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Cl 3.16).
3. Aos efésios. Finalmente aos efésios, mostra o após­
tolo que a liturgia é um eficiente meio da graça para enle­
var a espiritualidade: “E não vos embriagueis com vinho, no
qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito, falando entre
vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor
com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por
tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus
Cristo, sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo”
(Ef 5.1 8-21).
4. Elementos do culto cristão. Embora não siga ne­
cessariamente esta ordem, aqui estão os elementos do culto
cristão: doutrina, revelação, línguas estranhas e interpretação,
salmos, hinos, cânticos espirituais e ações de graças.
V. ATITUDES N O CULTO CRISTÃO
Com que me apresentarei diante do Senhor? Pergunta
o escritor sacro ao Todo-Poderoso. Vejamos algumas coisas
a serem observadas quando entrarmos na casa de Deus para
cultuá-lo:
65
as Disciplinas dn vida cristã

1. Reverência e profundo temor. “Guarda o teu pé,


quando entrares na Casa de Deus; chegar-se para ouvir é me­
lhor do que oferecer sacrifícios de tolos, pois não sabem que
fazem mal” (Ec 5.1).
Quando entrarmos na Casa do Senhor, que o nosso
espírito seja imbuído de um profundo espírito de reve­
rência e santo temor. Goethe, poeta alemão, fala da im­
portância da reverência: “A alma da religião cristã é a
reverência”.
2. Alegria e regozijo. “Alegrei-me quando me disse­
ram: Vamos à Casa do Senhor!” (SI 122.1).
Quando os filhos de Israel dirigiam-se ao Santo Templo,
em Jerusalém, para celebrar as festas sagradas, eles o faziam com
o espírito de regozijo. Estar no santuário divino era o seu maior
prazer, pois ali todos os israelitas reuniam-se para enaltecer o
Senhor.
3. Predisposição e discernimento espirituais.
“Acordado, pois,Jacó do seu sono, disse: Na verdade o Senhor
está neste lugar, e eu não o sabia. E temeu e disse: Quão terrí­
vel é este lugar! Este não é outro lugar senão a Casa de Deus;
e esta é a porta dos céus” (Gn 28.16,17).
Não se encontrava o patriarca num suntuoso templo;
achava-se ele ao relento. Mas ali, tendo por cobertura os
céus, viu Jacó os anjos de Deus subirem e descerem por
uma escada que ligava os céus à terra. Em simplicidade con­
templou Jacó o Eterno. Tem você igual predisposição para
enaltecer a Deus?
66
a sublimidade do culto Divino

4. Espírito de oração e súplicas. Aflita, a mãe do


profeta Samuel entrou na casa do Senhor e, ali, derramou a
sua alma: “Ela (Ana), pois, com amargura de alma, orou ao
Senhor e chorou abundantemente” (1 Sm 1.10).
Você está aflito? Entre na Casa de I )eus. Derrame ali a
sua alma aos pés de Jesus. Eis a solução para todos os nossos
problemas.
5. Espírito de louvor e cânticos. “Entrai por suas
portas com ações de graças e nos seus átrios, com hinos de
louvor; rendei-lhe graças e bendizei-lhe o nome” (SI 100.4).
Amamos o Senhor? Então é chegado o momento de
o louvarmos na beleza de sua santidade. Se não o fizermos,
como haveremos de ser contado entre os seus filhos.
CO NCLUSÃO
Tem você cultuado a Deus na beleza de sua santida­
de, como a Bíblia o recomenda? Cultuá-lo não significa, me-
ramente, ir à igreja; denota entrar no santuário divino com
ações de graças como o fazia Davi.
Não importa onde você esteja; adore a Deus. Sirva-o
com ações de graças e altos louvores.
“Quando aqui nos reunimos,/ O irmãos, em santo
amor,/ Certamente nós fruímos,/ Bênçãos do Consolador!/
Sempre pode Sua presença,/ De Jesus testificar;/ Com pa­
lavras e sentenças/ A quem quer o escutar”. (Harpa Cristã
426)
67
6

.0
serviço
cristão
IN T R O D U Ç Ã O
Trabalhar para Cristo, como a Bíblia o requer, significa
tributar-lhe, em obras sacrificais, toda a nossa afeição e amor.
Ao discorrer sobre a importância do serviço cristão, o pastor
inglês, Mathew Henry, mostra-se mais do que claro; faz-se
categórico e firme: “Se o trabalho é feito em nome de Cristo,
a honra é devida ao nome dele”.
O Serviço Cristão é imprescindível para o nosso cres­
cimento espiritual; sem ele, pode haver até Cristianismo; se­
guidores do Nazareno, não. Se nos voltarmos aos Atos dos
Apóstolos, constataremos: os primeiros cristãos avultaram-se,
já nos primeiros ardores do Dia de Pentecostes, como a mais
as Disciplinas da vida cristã

autêntica comunidade de serviços ao Senhor. Que jamais nos


esqueçamos desta característica do Cristianismo Primitivo.
Tem você se esforçado pelo Reino de Deus? Quantas al­
mas já ganhou este ano para Jesus? Você contribui para a Obra
Missionária e para o Serviço de Assistência Social? Lembre-
se destas palavras de Agostinho: “Deus não se torna maior se
você o reverencia, mas você se torna maior se o serve”. Mas,
afinal, o que é o Serviço Cristão?
I. O QUE É O SERVIÇO CRISTÃO
Alguém afirmou, certa feita, que nada há sem importân­
cia no serviço de Deus. Aos olhos do Rei, tanto é importante
aquele que leva o Evangelho aos tribais das selvas amazônicas,
como aquele que se põe a falar da mensagem da cruz ao vizi­
nho; acham-se ambos comprometidos com o serviço cristão
(At 10.21-48; 13.1-3).
1. Definição. Serviço Cristão é o trabalho que, amorosa
e voluntariamente, consagramos a Deus, visando a expansão
de seu Reino até aos confins da terra, no poder e na unção
do Espírito Santo, sem jamais descurar de nossas obrigações
assistenciais (At 1.8; G1 2.10).
A palavra “serviço” vem do vocábulo latino servitiu que,
entre outras coisas, significa escravidão. Refere-se este termo
ao trabalho executado por alguém, de modo servil e cativo, ao
que o contratou para um dado mister.
Num determinado sentido, o Serviço Cristo é conhe­
cido, igualmente, como Serviço Divino. Nome este adotado
70
o serviço cristão

pelas Igrejas Reformadas para designar as celebrações realiza­


das durante o culto em adoração a Deus.
Diaconia é outra designação que emprestamos ao Serviço
Cristão. Ela envolve não apenas o clero, mas a todos os cris­
tãos; pois todos nos achamos obrigados a prestar, como servos
de Cristo, nossos mais solícitos préstimos a socorrer, primei­
ramente, aos domésticos na fé; e, depois, aos que se acham
ao nosso alcance. Neste sentido, a diaconia parece referir-se
especificamente à assistência social. Todavia, a diaconia, em
seu sentido mais lato, constrange-nos tanto a assistir material-
mente nossos semelhantes, corno também a proclamar-lhes a
Palavra de Deus.
Seja evangelizando, seja adorando ao Deus Único
e Verdadeiro, o crente sempre estará, espiritual e fisica­
mente, envolvido com o Serviço Cristão. Tem você se
dedicado à Obra de Deus? Aliás, esta é uma outra deno­
minação que damos aos préstimos com que enaltecemos
ao Senhor.
2. Conceito teológico. O Serviço Cristão não é ape­
nas prática; é doutrina e teologia; encontra-se fundamentado
nas Escrituras Sagradas e na experiência histórica da Igreja.
Por conseguinte, é-nos permitido afirmar: o Serviço Cristão
é a teologia em ação.
Por que dedicar-nos ao Serviço Cristão? Em primeiro
lugar, porque do Senhor é a terra e a sua plenitude. Se a terra
é do Senhor, não passamos nós de súditos, cuja missão é ex­
pandir o seu Reino, através do Evangelho, até aos confins da
terra.
71
as Disciplinas da vida cristã

II. AS BASES D O U T R IN Á R IA S D O
SERVIÇO CRISTÃO
Se o ser humano nasceu para o trabalho, como diz Jó,
como fugiremos nós do serviço cristão? Conheçamos, pois, as
suas bases.
1. No Antigo Testamento. O Senhor Deus não criou
o ser humano para a ociosidade (Gn 1.26). O trabalho, por
conseguinte, não há de ser visto como punição; é uma dádiva
dos céus; enobrece-nos, fazendo-nos cooperadores de Deus
(1 Co 3.9). Martinho Lutero, referindo-se à sua importân­
cia, é convincentemente claro: “O simples ordenhar de vacas
pode ser feito para a glória de Deus”. Mas, se nos lançarmos
ao Serviço Cristão como reles mercenários, que recompensa
teremos nós no Tribunal de Cristo? Em tudo e, por tudo, deve
o amor pautar a nossa atuação como servidores de Cristo.
Afeiçoados amorosamente às lidas divinas, os homens
de Deus sempre operaram no campo do impossível.
Chamado para ser o pai dos que crêem, deixou Abraão
a sua terra natal, e partiu em busca da formosa herança (Gn
12.1-3). Moisés, já intimado por Deus para libertar Israel do
Egito, não vacilou; enfrentou a ira do Faraó e transpôs o Mar
Vermelho com as tribos do Senhor (Ex 3.1-10). E Josué?
Sentindo o peso de sua vocação, apossou-se da terra de Canaã
onde ainda manava o leite e não faltava o mel (Js 1.1-9).
De igual modo, convocou Deus os juizes, invitou os reis,
despertou os justos e ungiu os profetas; todos eles arregimen­
tados com a missão de alargar as fronteiras do seu Reino. Leia
72
o serviço cristão

Hebreus 11, onde se acham narrados os grandes feitos dos


heróis que, ousada e devocionalmente, acreditaram nas pro­
messas divinas. Agindo como sejá vissem o invisível, preparou
o caminho do Messias de Israel e Salvador do mundo.
2. No Novo Testamento. Foi o Senhor Jesus o pri­
meiro servo de Deus no Novo Testamento; sua encarnação
representou o serviço dos serviços ao Pai Celeste. Tomando
nossa forma, fez-se servo de todos, embora de tudo Senhor
(Fp 2.1-18). Aliás, em Isaías é tratado como o Servo de Jeová
(Is 53.1 1). No Evangelho, é o laborioso obreiro (Jó 5.17).
Mais tarde, convoca os discípulos (Jo 1.35-51). Com o
avanço da obra evangelística, o Senhor constrange Paulo a que
ingresse nesta peleja. E, assim, o apóstolo, deixando Antioquia,
chega ao ponto mais extremo do mundo de então, anuncian­
do intrepidamente o Evangelho de Cristo sem impedimento
algum (At 28.31). A partir daí, vem o Senhor compelindo os
obreiros à sua Seara. Sempre denodados, prosseguem eles no
Serviço Cristão até que o Rei dos reis e Senhor dos senhores
venha nos buscar (Jó 9.4).
Abramos as páginas da História da Igreja Cristã. Aqui
evangeliza Ambrósio; ali, Agostinho de Hipona. Mais além,
o eloqüente e corajoso João Crisóstomo faz ecoar a sua voz
como profeta de Deus. Se nos detivermos na Europa do
Século XVI, deparar-nos-emos com Martinho Lutero que,
com a resolução de um titã, apõe suas Noventa e Cinco Teses
nas portas da Igreja de Wittemberg.
Todos estes, entregues incondicionalmente ao Serviço
Cristão, avivaram a igreja como Wesley, fizeram missões
73
as Disciplinas da vida cristã

como William Carey, exploraram continentes como David


Livingstone e levaram a chama pentecostal, como Daniel Berg
e GunnarVingren, aos lugares mais escondidos do mundo.
III. OS OBJETIVOS D O SERVIÇO CRISTÃO
Mostrando sempre um invulgar zelo pelo Serviço
Cristão, afirmou J. H.Jowett:“0 ministério que nada custa,
nada realiza”. Como discordar do irmão Jowett? Os objeti­
vos do Serviço Cristão, na difusão universal do Evangelho de
Cristo, são mui amorosos e abrangentes. Aliás, é impossível o
Serviço Cristão sem o amor de Deus. Quem realmente ama
a Deus, adora-o em espírito e em verdade; e quem ama real­
mente ao próximo, faz-se tutor de seu irmão.
1. Adorar a Deus. O autor do Apocalipse registra esta
convocação, a fim de que todos adoremos a Deus na beleza de
sua santidade: “Temei a Deus e dai-lhe glória, porque vinda é
a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra, e
o mar, e as fontes das águas” (Ap 14.7).
Não há trabalho tão sublime como adorar a Deus. Na
língua inglesa, aliás, a palavra culto traz representada, em si, o
sentido de adoração divina. Service significa tanto o culto que
enlevamos a Deus, quanto o préstimo, obséquio, ou ocupação,
que nos introduz no serviço divino. O verdadeiro cristão cul­
tua a Deus, consagrando-lhe todos os préstimos e obséquios,
ocupando-se integralmente na Seara do Senhor.
Matthew Henry jamais deixou de priorizar o culto divi-
no:“A adoração liberta a personalidade, conferindo uma nova
prspectiva à vida, integrando-a às diversas maneiras de viver.
74
o serviço cristão

Ela ainda traz à vida as virtudes da humildade, lealdade, devo­


ção e retidão de atitude, renovando e reavivando o espírito”.
2. Pregar o Evangelho. Antes de ascender aos céus, o
Senhor Jesus comissiona os discípulos a pregarem o Evangelho
até aos confins da terra:“E-me dado todo o poder no céu e na
terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a
guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que
eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos sécu­
los. Amém!” (Mt 28.18,19).
A igreja que não evangeliza não experimentou ainda a
beleza do Serviço Cristão. Portanto, somos constrangidos a de­
monstrar o amor de Deus, proclamando Cristo a todas as nações.
No desempenho de nossa tarefa evangelizadora, lembremo-nos
da recomendação de J. Blanchard:“Não podemos levar o mundo
todo a Cristo, mas podemos levar Cristo a todo o mundo”.
3. Exercer o magistério eclesiástico. O Serviço
Cristão envolve, de igual modo, a Educação Cristã. Atentemos
a esta recomendação do apóstolo:“Toda Escritura divinamen-
te inspirada é proveitosa para ensinar, para redargüir, para cor­
rigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra” (2 Tm
3.17). Por conseguinte, temos de nos dedicar ardentemente ao
ensino sistemático e ordenado da Palavra de Deus.
A Igreja de Cristo é uma comunidade de ensino e de
instrução.Já na Grande Comissão, somos instados pelo Senhor
a evangelizar e a fazer discípulos de todas as nações. Os pri­
meiros teólogos da igreja destacaram-se, singularmente, pelo
75
as Disciplinas da vida cristã

magistério. Haja vista Orígenes, Ambrósio e Agostinho. Por


que iríamos nós descurar esta tarefa? Tem você se dedicado ao
ensino das Escrituras?
4. Visitar os santos em suas necessidades. É o que
nos recomenda o enérgico Tiago: “A religião pura e imaculada
para com Deus, o Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas
tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (Tg 1.27).
Tem você se dedicado ao serviço de assistência social?
Se você realmente adora a Deus, haverá de socorrer os irmãos
em suas tribulações. Não podemos esquecer-nos de nossas
responsabilidades sociais. O mesmo Deus que nos conclama a
evangelizar, requer ajudemos nós os domésticos na fé.
Afirmou um teólogo que não podemos falar ao fa­
minto do pão que desce do céu, se não lhe dermos do pão
que brota da terra.Você tem socorrido os mais carentes? Tem-
nos ajudado em suas carências básicas?
CO NCLUSÃO
Se não nos dedicarmos integral, sacrifical e amorosamen­
te ao Serviço Cristão, como nos haveremos ante o Tribunal de
Cristo? De cada um de seus filhos, exige Ele que não somen­
te se envolva, mas que se comprometa com a divulgação do
Evangelho até aos confins da terra.
O Senhor Jesus foi, em todas as coisas, um singular
exemplo de serviço. Por que, então, como seus discípulos, não
nos dedicamos também ao Serviço Cristão?

76
7
Tentado,
não cedas,
ceder é pecar

IN T R O D U Ç Ã O
Declarou, certa feita, um cristão anônimo: “As tentações
estão por toda parte”. Como negar a sabedoria deste provérbio
que, embora evidente, encerra uma seriíssima advertência? As
vezes somos de tal forma tentados que, no auge da angústia,
chegamos a almejar venha o Senhor e leve-nos de imediato
para os céus, onde livres estaremos de pecar. Se Ele, porém, o fi­
zer, como haverá de solfejar as vozes súplices, piedosas e já redi­
midas que protestam contra a iniquidade do presente século?
O mesmo pensador, no entanto, acrescenta: “As tenta­
ções estão por toda parte —assim também a graça de Deus”.
Isto implica em se porfiar por uma vida santa e irrepreensível.
as Disciplinas da vida cristã

Aliás, é o que reza o Credo das Assembléias de Deus no Brasil:


“Cremos na possibilidade e necessidade de termos uma vida
santa e piedosa diante de Deus e dos homens”.
Vencer as tentações é uma das mais importantes discipli­
nas da vida cristã. Thomas à Kempis mostra ser possível não
apenas debelá-las como imitar a Cristo em nosso cotidiano.
Acrescenta ele ainda que, se por um lado as tentações podem
causar-nos sérios prejuízos espirituais; por outro, “desvendam
o que somos”.
I. O QUE É A TENTAÇÃO
Mattew Henry mostra quão perigosa é a tentação na
vida de um servo de Deus: “O melhor dos santos pode ser
tentado pelo pior dos pecados”. Como não reconhecer essa
dura e triste realidade na vida de homens e mulheres pie­
dosos? O Senhor, porém, reveste-nos de graça, a fim de que
possamos subjugar as tentações. Afinal, que praga é esta? Que
doença vem a ser a tentação que, desde o Éden, vem infelici­
tando os seres humanos?
1. Definição. Oriunda do vocábulo latino tentatione, a
palavra “tentação” significa indução ã prática de coisas con­
denáveis.
A tentação, que ora consideramos, refere-se aos impul­
sos que, instigados pelo Diabo, buscam induzir-nos a uma re­
belião aberta e frontal contra o Todo-Poderoso.
NaVulgata Latina,Jerônimo utiliza-se da mesma palavra
para descrever as provações que sobre nós advêm. Neste con­
78
Tentado, não cedas, ceder é pecar

texto, prova Deus cada um de seus filhos, não para induzi-los


ao pecado, mas a fim de aperfeiçoá-los na prática da piedade.
Na Bíblia Corrigida de Almeida, adotou-se o mesmo critério
(G1 4 .14 ;T g 1.12).
2. Definição teológica. Tentação é o estímulo capaz
de levar à prática do pecado. Embora não constitua pecado,
o atender às suas reivindicações caracteriza a transgressão das
leis divinas. Eis porque, na Oração Dominical, ensina-nos o
Senhor a clamar ao Pai: “E não nos induzas à tentação, mas
livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória,
para sempre. Amém” (Mt 6.13).
Em seu comentário sobre a Oração Dominical, Wiersbe
é didático e devocional:“Com essas palavras, estamos pedindo
a Deus para guiar-nos de modo a que não nos envolvamos em
tentação (1 Jo 5.18), ou em situações que nos leve a tentá-lo
(Mt 4.5-7)”.
Quem é o autor da tentação? Qual o seu agente? O que
a Bíblia diz a seu respeito?
II. O AG ENTE DA TENTAÇÃO
Sentindo-se premido pelas dificuldades espirituais que,
constantemente, entristecem os seguidores do Nazareno,
Thomas De Witt Talmage endereça-lhe esta oração: “Cá
Senhor, ajuda-nos a ouvir o guizo da serpente antes de sentir
suas presas”. Que Satanás é o agente da tentação, não há o
que se discutir; a própria Bíblia assim no-lo aponta: “Quem
comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o
princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfa-
79
as Disciplinas da vida cristã

zer as obras do diabo” (1 Jo 3.8).Vejamos, pois, como a Bíblia


retrata o tentador.
1. O tentador. O tentador, arquiinimigo de Deus e do
homem, tem por ofício induzir o ser humano a práticas que
contrariam as leis divinas. Nas Sagradas Escrituras, é Satanás o
tentador por natureza; outra coisa não faz senão instigar-nos a
nos revoltar contra o Senhor (Mt 4.3; 1 Ts 3.5).
Há teólogos que, desprezando a realidade do peca­
do, acabam por negar, conseqüentemente, a existência do
Agente do Pecado. Ora, se o Diabo não existe, alguém está
fazendo o seu trabalho. Aliás, faz parte de sua estratégia ne­
gar a própria existência; pois, assim, é-lhe possível enganar
mais facilmente os incautos. Aos que lhe contestam a exis­
tência, fica esta advertência de Charles G. Finney: “Se você
não crê na existência do Diabo, experimente resistir a ele
por algum tempo”.
2. Os nom es do tentador. Além de tentador, rece­
be o agente da tentação as seguintes alcunhas nas Sagradas
Escrituras: Satanás que, em hebraico, significa adversário (1 Cr
21.21; 2 Co 2.11); Diabo que, em grego, quer dizer: calunia­
dor (Mt 4.1; At 13.10); homicida, pai da mentira e acusador
(Jo 8.44; Ap 12.10). Ele é conhecido também como o dragão
e a antiga serpente (Ap 12.9).
O tentador é alcunhado de Satanás por causa de sua siste­
mática oposição às obras divinas e à felicidade do ser humano.
Quando não consegue induzir o crente a pecar contra Deus,
diverte-se em caluniá-lo diante do Senhor; por isso a Bíblia
chama-o de Diabo. Se Cristo é o nosso advogado, o maligno
HO
Tentado, não cedas, ceder é pecar

apresenta-se ante o Tribunal de Deus como o nosso acusador.


Ao levar Caim a matar Abel, ganhou o rótulo de primeiro
homicida; ao engendrar inverdades acerca do Criador, passou
a ser alcunhado de o pai da mentira. Devido a essas caracterís­
ticas todas, é visto como o dragão e a antiga serpente.
3. O principal trabalho do tentador. Conforme já
o dissemos, o trabalho que mais agrada ao inimigo de nos­
sas almas é desviar-nos da disciplina da vida crista. Ele sabe
que temos “uma carreira para correr“; por isto, busca, de to­
das as formas, colocar-nos obstáculos no caminho para o céu
(G1 5.7). Não foi o que ocorreu com os irmãos da Galácia?
Embora progredissem eles na carreira cristã, caíram no fascí­
nio do adversário e, neste fascínio, acabaram por cair da graça
(G1 5.4).
Tenta o Diabo até os maiores campeões de Deus. Haja
vista Davi. O rei de Israel, seduzido pela beleza de um instan­
te, viu-se constrangido a amargar horas de pena e de expiação.
O Tentador nos acena com a vaidade humana, pois almeja
roubar-nos a eternidade divina. Por isso, empenhemo-nos em
guardar bem a nossa coroa para que ele não a roube.Tem você
se precavido contra os ataques do adversário?
III. P O R QUE O SER H U M A N O É T E N T A D O
Em nosso jornadear espiritual, vemo-nos constrangidos
a inquirir de nós mesmos: “Se eu aceitei a Gristo, por que
sou, ainda, tentado?” Martinho Lutero parece ter encontra­
do a resposta: “Minhas tentações têm sido minhas mestras de
teologia”. Não vêm elas, porém, atrapalhar-me nas disciplinas
espirituais? Sem as tentações, convenhamos, não existiria dis­
81
as Disciplinas da vida cristã

ciplina alguma. Por isso, esforça-se o adversário, a fim de nos


desviar das disciplinas espirituais; somente assim, haverá de
seduzir-nos com os seus enleios.
1. O ser humano é tentado por causa da trans­
gressão de nossos primeiros pais. Se você ler reflexiva­
mente o capítulo três de Gênesis, entenderá a teologia do
pecado original. A semelhança de Adão, todos pecamos (SI
51.5); veio, entretanto, o Senhor Jesus, como o segundo Adão,
redimir-nos da morte espiritual, proporcionando-nos um
novo nascimento (Jo 3.8). Estando nós, agora, em Cristo, tudo
se nos fez novo (2 co 5.17). Apesar das tentações, o Espírito
fortalece-nos a que sigamos, rigorosamente, as disciplinas de
uma autêntica vida cristã.
Apesar dos efeitos universais do pecado, temos condições
de vencê-lo por meio da morte e ressurreição de Cristo Jesus.
Adão deixou-se arrastar pela serpente no Jardim do Éden;
Cristo, porém, venceu o dragão em pleno deserto, demons­
trando que podemos (e devemos) ter uma vida reta diante de
Deus e dos homens. Portanto, o pecado original já nenhum
poder tem sobre os que recebem a Cristo; a graça que dimana
da cruz é tanto curativa quanto preservativa. Se por um lado
cura-nos do pecado; por outro, preserva-nos das ações dani­
nhas deste.
2. O ser humano é tentado por suas próprias con­
cupiscências. Leia Tiago 1.14. Eis porque devemos vencer
cada uma de nossas concupiscências: do mundo procedem e
para o mundo convergem, causando a destruição de preciosas
vidas (1 Jo 2.16). O consolo é que podemos destruí-las pelo
sangue do Cordeiro (G1 5.16).
82
Tentado, não cedas, ceder é pecar

Ainda que cercados de fraquezas, é-nos possível vencê-


las se confiarmos na graça divina. Fragilizados como Adão
e Eva? Eliminemos a concupiscência dos olhos. Assediados
pela luxúria como Davi? Não há por que ciar tréguas à con­
cupiscência da carne. Tentados pelo orgulho ou pelo hu­
mano poder, como o foi Salomão? Deitemos por terra a
soherha da vida.
Crucificando-nos, a cada dia, na cruz de nosso Senhor,
jamais seremos derrotados pelo vil tentador com todas as suas
astúcias.
3. Positivamente considerada, a tentação pode
(e deve) impulsionar o santo a ser ainda mais santo.
Afirmou mui oportunamente Frederick P. Wood: “Tentação
não é pecado; é o chamado para a batalha”. O Senhor Jesus,
embora Deus, foi tentado, como homem, dando-nos o exem­
plo de que é possível destruir a tentação (Mt 4.1; hb 2.18).
Por conseguinte, não deve a tentação ser considerada uma
oportunidade para pecar; é uma ocasião para que nos torne­
mos ainda mais santos. Quem é santo, santifique-se ainda. (Ap
2 2 . 11 ).

IV. CO M O V EN C ER A TENTAÇÃO
Ponderou alguém, certa feita: “São necessárias duas pes­
soas para fazer da tentação um sucesso; você é uma delas”. A
outra, como todos o sabemos, é o adversário de nossas almas.
De nada adianta, entretanto, pôr-lhe a culpa por nossas trans­
gressões; por estas, apenas nós seremos responsabilizados (2
Co 5.10).Todavia, é possível vencer as tentações; os exemplos
bíblicos não são poucos.
S3
as Disciplinas da vida cristã

1. Orando e vigiado. A advertência é do próprio


Cristo: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na
verdade,o espírito está pronto,mas a carne é fraca” (Mt 26.41).
O piedoso F. B. Meyer é enfático: “Cristo não irá guardar-nos
se nos colocarmos descuidada e temerariamente no caminho
da tentação”.Tem você vigiado? Tem orado constantemente?
Lembre-se: Não se pode brincar com o pecado; ele não é um
brinquedo: é uma serpente prestes a dar o bote contra os in­
cautos (Gn 4.1).
Se orarmos e vigiarmos, jamais seremos vítimas das ten­
tações. A oração aproxima-nos de Deus e passamos a contem­
plá-lo não como um criador distanciado de sua obra; come­
çamos a adorá-lo como aquele que exige, de cada um de nós,
uma vida santa e irrepreensível.
2. Não dando lugar ao diabo. Em sua epístola aos
efésios, admoesta o apóstolo: “Não deis lugar ao Diabo” (Ef
4.27). O que vem a significar esta admoestação? WillardTaylor,
do Comentário Bíblico Beacon, é conclusivo: dar lugar ao
Diabo é permitir que ele tenha liberdade para “semear atitu­
des erradas no espírito”.
3. Andando em Espírito e não cumprindo as
concupiscências da carne. Aos irmãos da Galácia, escreveu
Paulo: “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a
concupiscência da carne” (G1 5.16). Quem anda no Espírito
Santo, não cumpre as concupiscências da carne; e não as cum­
prindo, como haverá de ceder às tentações?
Enoque andou com Deus por mais de três séculos.
Apesar de coevo de uma sociedade ímpia e sem regras, per­
84
rentado, não cedas, ceder é pecar

missiva e iníqua, o patriarca manteve-se incorruptível e santo.


Sendo ele um exemplo tão puro de vida, soube como instruir
e conduzir a sua família de conformidade com os preceitos
divinos. Enoque andava em Espírito e não cumpria as concu­
piscências da carne.
4. Guardando a Palavra de Deus no coração. O
salmista, demonstrando quão temente era ao Senhor, profes­
sou-lhe: “Guardo no coração as tuas palavras, para não pecar
contra ti” (SI 119.11). Em seu comentário do saltério hebraico,
Charles Spurgeon assim interpreta este versículo: “A Palavra
de Deus deve ser compreendida e retida no coração; ela tem
de ocupar nossas afeições e entendimento. Nossa mente de­
manda ser impregnada pela Palavra de Deus. Somente assim
não haveremos de pecar contra Ele”.
Você tem guardado a Palavra de Deus no coração? Tem
perseverado nos caminhos do Senhor?
C O N C L U SÃ O
Se as tentações são fortes, temos abundante promessas que
nos asseguram: podemos resisti-las com a Palavra de Deus.
Veja quão consoladoras são estas palavras do autor da
Epístola aos hebreus: “Porque, naquilo que ele mesmo, sendo
tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados” (Hb
2.18). Escreve Pedro:“Assim, sabe o Senhor livrar da tentação
os piedosos’ (2 Pe 2.9).
Por conseguinte, mantenhamos sempre a disciplina da
vida cristã, evitando o pecado que tão de perto nos rodeia.
85
8
a Beleza
do T e ste m u n h o

cristão
IN T R O D U Ç Ã O
“A vida do cristão deve ser simplesmente uma repre­
sentação visível de Cristo”. A afirmação é de um dos mais
lúcidos teólogos evangélicos ingleses do século XVII. Foi tão
feliz o irmão Thomas Brooks ao definir o testemunho do sal­
vo, que somos todos obrigados a concordar com ele.
Neste capítulo, veremos as implicações do testemu­
nho cristão no viver diário de quem professa seguir o
Senhor Jesus. Não estamos lidando com teorias ou espe­
culações; ocupamo-nos com algo prático que nos leva a
proclamar o Evangelho não com meras palavras, mas com
ações efetivas.
as Disciplinas da vida cristã

Tem você vivido como Cristão? Como está o seu


testemunho como salvo? Pode o mundo ver Cristo em
seu dia-a-dia? Sadu Sundar Sing era conhecido, em virtu­
de cie seu eloqüente testemunho diário, como o homem
que, em todas as coisas, se parecia com Jesus. Quando o
missionário indiano esteve na Inglaterra, alguém chegou
a comentar: “Está entre nós o homem que se parece com
Jesus”.
I. O QUE É O T EST EM U N H O CRISTÃO
Bruno Skolimowsky, que muito se esforçou pela evan­
gelização de nossa pátria, compôs um hino que, lindamente,
sintetiza o testemunho do salvo: “O povo de Deus, aqui na
terra, tem um sinal/ Povo que vive em santa guerra contra
o mal”. (Harpa Cristã, 455) Que sinal é este? O testemunho
cristão.
1. Definição etimológica. A palavra testemunho é
oriunda do vocábulo latino testimoniu e significa entre outras
coisas: prova, vestígio, indício.
De acordo com o vocabulário evangélico, testemunhar
não é apenas contar o que nos fez Deus, pois o Evangelho não
é uma peça de marketing. Testemunhar implica em se pregar,
através do exemplo pessoal, que realmente somos, em tudo,
imitadores de Cristo.
2. Definição teológica. Testemunho cristão é a pos­
tura ética, que a Bíblia reivindica de cada um que professa o
nome de Cristo, numa demonstração clara e inequívoca de
que, realmente, somos seus discípulos (Mt 5.20).
H8
a Beleza do Testemunho cristão

Conta-se que um missionário, na Europa Medieval, con­


vocou seus discípulos e enviou-os a pregar o Evangelho. Depois
de fazer-lhes várias recomendações, exortou-os: “Agora, pre­
guem a mensagem do Cristo. Se for preciso, usem as palavras”.
Isto significa que, em nosso ministério, o testemunho de vida
tem de ser mais eloqüente e sublime do que as palavras. Como
aceitar um sermão desprovido de exemplos? Sua vida cristã é
convincente? Ou não passa de meras palavras?
3. O testem unho cristão na Bíblia. O testemunho
cristão recebe diversas designações em o Novo Testamento:
luz resplandecente (Mt 5.16); santidade (1 Pe 1.15); zelo pelo
bem (1 Pe 3.13); maneira de viver (Hb 13.7); exemplo de boas
obras (1 Ts 1.7).
Há, ainda, outros nomes pelos quais o testemunho cris­
tão é destacado no Testamento Novo. Recomendo-lhe que
o releia com toda a devoção, assinalando cada passagem que
o incentiva a um viver santo e irrepreensível. Se não formos
conhecidos pelo nosso testemunho, jamais seremos reconhe­
cidos pelo Pai Celeste como seus filhos.
II. OBJETIVOS D O T EST EM U N H O CRISTÃO
O teólogo inglês, John Stott, ao discorrer sobre o se­
gredo de uma vida santa, afirmou: “O maior segredo da vida
santa está na mente”. Não há como dissociar o testemunho
cristão de como encaramos a doutrina da santidade. Os obje­
tivos daquele dependem, fundamentalmente, desta.
1. Glorificar o nom e de Deus. No Sermão da
Montanha, ensina o Senhor Jesus aos seus discípulos que,
as Disciplinas da vida cristã

através cie um bom testemunho, levarão os homens a glori­


ficar a Deus: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos ho­
mens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o
vosso Pai, que está nos céus” (Mt 5.16). Lemos no Comentário
Bíblico Beacon: “A luz dos discípulos deveria ser as suas boas
obras. Se eles brilhassem de forma coerente com aquilo que
professavam, ela iria glorificar a Deus. Louvar ao Senhor
com a nossa vida é mais importante do que louvá-lo com os
nossos lábios”.
Glorificar a Deus não significa, necessariamente, sal-
modiar suas perfeições nem entoar-lhe seus grandes feitos.
Glorificar a Deus requer transformemos a nossa existên­
cia num ininterrupto louvor ás reivindicações que ucas faz
Ele em sua Palavra. Que as nossas ações, por conseguin­
te, sejam mais dúlcidas do cpie os cânticos de Asafe; que
tenham melodias mais sublimes do que os mais sublimes
hinos de Jeduntum; e que ostentem a suavidade dos salmos
de Davi.
2. Protestar contra as más obras. Por que eram os
primeiros cristãos perseguidos? Os irmãos apostólicos possu­
íam um testemunho mais do que eloqüente; era algo que con­
vencia mudamente. Haja vista a morte de Estevão (At 7.55-
60). Não eram fiéis somente entre os fiéis. O cristianismo não
lhes terminava com a doxologia do culto; continuava com o
prelúdio. No interlúdio, achavam-se a protestar contra as más
obras de um mundo que jaz no maligno.
Nossos protestos contra as injustiças não têm de ser co­
nhecidos pelo ativismo político; hão de ser reconhecidos pelo
mudo protesto de um coração que, bem alto e compassada-
90
a Beleza do Testemunho cristão

mente, bate em puríssimo amor pelo Eterno e por uma con­


duta que, mesmo silenciada pelos ímpios, clama pela interven­
ção do Juiz de toda terra.
O pastor norte-americano Martin Luther King, apesar
do ímpeto de suas campanhas em prol da igualdade dos di­
reitos civis, viu-se baldado em seus esforços. Enquanto isso, a
oração de milhões de crentes, por todos os Estados Unidos,
lograram sensibilizar o país a que pusesse término a um estado
informalmente racista. Cumpria-se o que prefetizara Zacarias:
“Nem por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz
o Senhor dos exércitos”. A ação da Igreja de Cristo, no entan­
to, não tem de limitar-se a protestar contra o mal; pois exige o
Cristo ajamos nós como a luz do mundo e sal da terra.
3. Agir com o luz do mundo e sal da terra. O
pensador francês Montesquieu escreveu que, em Roma, ma­
tavam-se os corruptos, mas a corrupção sempre acabava por
ressuscitar. E justamente aí que entra a Igreja de Cristo —uma
sociedade incorruptível por excelência.
Sal da terra e luz do mundo, urge seja o cristão íntegro
e que jamais venha a corromper-se com o ouro que envilece
e com a prata que, rapidamente, perde o seu brilho. Em seus
livros e artigos, o pensador norte-americano Charles Colson
mostra por que deve o crente ser incorruptível. Depois de
envolver-se com o escândalo Watergate, viu-se obrigado a
amargar boa parte de sua vida numa penitenciária federal. Foi
justamente ali que veio ele a entender o valor da integridade.
Hoje, dedica todo o seu tempo a visitar presídios e outros
órgãos correcionais, evangelizando os que pouca importância
davam a uma conduta moralmente correta.
91
as Disciplinas da vida c r is t ã

Se agirmos, de fato, como a luz do mundo e sal da


terra, estaremos ajudando a Igreja de Cristo a propagar o
Evangelho.
4. Ajudar na propagação do Evangelho. Pedro re­
comendou aos seus leitores:“Tendo uma boa consciência, para
que, naquilo em que filam mal de vós, como de malfeitores,
fiquem confundidos os que blasfemam do vosso bom proce­
dimento em Cristo” (1 Pe 3.16).
Se mostrarmos um bom testemunho diário, estaremos
propagando, com eficácia eterna, o Evangelho do Remo.
Afinal, o que é a pregação sem testemunho? Pode ter elo-
qüência; resultados não. Thomas Brooks assevera: “A vida do
cristão deve ser simplesmente uma representação visível de
Cristo”. Caso contrário, nenhum efeito terá o nosso testemu­
nho; não passará de uma peça estéril de marketing.
III. EM QUE CO N SISTE O
T EST EM U N H O CRISTÃO
Agostinho um dos maiores teólogos da Igreja Cristã,
professou: “Aquilo por que vivo, comunico”. Isto significa
que, no Cristianismo, as palavras somente tem real eficácia se
estiverem acompanhadas de obras. Já imaginou um testemu­
nho sem ação?
1. O bom procedimento no lar. O apóstolo Paulo,
visando o fortalecimento do lar cristão, faz-nos diversas ad­
moestações. Em primeiro lugar, que os esposos amem, terna e
meigamente, a esposa. E que os pais não induzam seus filhos
à ira, sendo-lhes injustos e arbitrários. Quanto aos filhos, que
92
a Beleza do Testemunho cristão

honrem aos seus pais, tributando-lhes obediência e respeito;


isso é grato ao Senhor.
Se o testemunho no lar for cristão, a casa será um santu­
ário. E se não o for? Há de ser um inferno. Como é desditosa a
família que, por laços, tem apenas o sangue. Sua árvore genea­
lógica não passa de gravetos que, ao fogo, são logo consumidos.
Na verdade, nada tem de família; limita-se a um ajuntamento
que, de imediato, é dissolvido na divisão da herança.
Leia Efésios cap. 5. E veja se você tem falhado nalguns
desses itens.
2. O bom procedimento na sociedade. No livro E
agora, como Viveremos?, o pensador norte-americano Charles
Colson exorta-nos a primar por um testemunho digno de
Cristo. Isto significa ser conhecido tanto pelo agir como por
uma ética realmente evangélica. Há crentes que, apesar da
postura social, não mantém uma ética cristalinamente bíblica;
limitam-se ao politicamente correto. Buscam estar de acordo
com a maioria, ainda que isso represente uma flagrante inimi­
zade com Deus.
Qual a sua conduta? Que ética lhe rege a vida?
Pode a sociedade reconhecer que você é, de fato, um
discípulo do Nazareno? Como sal da terra e luz do mundo,
não há como dissociar a vida espiritual da social: o que so­
mos na Igreja temos de o ser fora dela. De forma reflexiva,
leia o capítulo 13 da Epístola de Paulo aos Romanos. As
reivindicações apresentadas pelo apóstolo são atendidas em
seu dia-a-dia?
95
as Disciplinas du vida cristã

3. O bom procedim ento no Estado. Como deve


ser o nosso procedimento diante das autoridades constituídas?
Exorta-nos Pedro a que honremos o Rei e cumpramos nos­
sos deveres como membros de uma sociedade politicamente
organizadas. Afinal, não somos apenas cidadãos da pátria ce­
leste; também o somos da terrenal. Como tais, temos direitos
e obrigações a serem cumpridos. Eis porque não devemos
levantar-nos contra as autoridades constituídas, mas por estas
interceder, a fim de que tenhamos uma vida tranqüila e sos­
segada.
Finis política est urbanum bonum. Leciona Tomás de aqui-
no:“0 fim da política é o bem comum”. Cabe aos mandatá­
rios e legisladores cumprirem com zelo os seus mandatos que
lhes confiamos, a fim de que seja a sociedade governada com
base na justiça. No entanto, como exercerão tais mandatos?
Oremos para que eles sejam íntegros no poder e incorruptí­
veis no trato com a coisa pública. Neste sentido, têm eles de
observar o nosso testemunho, e conscientizar-se: é possível
primar pela ética.
CO NCLUSÃO
Como vai o seu testemunho? E realmente cristão? Ou
não passa de discursos e palavras soltas? Horace Busnell é ca­
tegórico: “A Bíblia chama de luz a vida do homem bom; faz
parte da natureza da luz fluir espontaneamente em todas as
direções e encher o mundo com seus raios”.
Não afirmou o Senhor Jesus sermos a luz do mundo e
o sal da terra? Como luz do mundo e sal da terra, haveremos
de impedir a degenerescência social enquanto aqui vivermos.
94
a Beleza do Testemunho cristão

Como é triste uma igreja sem testemunho! Os cristãos primi­


tivos só conseguiram chegar aos confins da terra, porque o seu
testemunho precedia-os de cidade em cidade. Doutra forma,
não haveríamos hoje o Cristianismo.

95
9

o Lou vor
que chega
ao Trono da qraça

IN T R O D U Ç Ã O
Além de teólogo, destacou-se Martinho Lutero como
um dos maiores compositores da História da Igreja Cristã.
Referindo-se à música, afirmou considerá-la a maravilhosa
obra de Deus. Hoje, quando lhe ouvimos “Castelo Forte”,
somos constrangidos a louvar ao Senhor por havê-lo ins­
pirado a escrever uma das peças mais aclamadas da hinódia
evangélica.
Entoar louvores a Deus também faz parte das disciplinas
da vida cristã. Aliás, o maior livro das Sagradas Escrituras é o
de Salmos. Seus autores enaltecem sublime e altissonantemen­
te o Deus que criou inclusive a música. Quer lhe cantando os
as Disciplinas da vida cristã

atributos, quer lhe entoando as grandezas, deixam mui claro


que não há Deus como o de Israel.
Nós também possuímos um saltério. A Harpa Cristã,
com os seus 640 hinos, como ressaltou certa feita o diretor
executivo da CPAD, Ronaldo Rodrigues de Souza, canta as
nossas doutrinas e declama o nosso credo.
I. O QUE É O C Â N TIC O CO NG REG AC IO NAL
“O dom do homem é cantar”. Afiançou o reformador
francês João Calvino. Como homem de igreja, sabia ele mui­
to bem que, sem o cântico congregacional, o povo de Deus
tende a definhar-se. Aliás, a boa música sacra sempre se fez
notória nos avivamentos autenticamente espirituais. Neste tó­
pico, entraremos a ver duas coisas: a música sacra e o cântico
congregacional.
O cântico congregacional integra a grade curricular
das disciplinas da vida cristã. Se não exaltarmos santamente
o Senhor, como haveremos de reconhecê-lo como o Senhor
que, de fato, merece nossos mais exaltados louvores? O te­
ólogo inglês Matthew Henry manifesta o amor que lhe ia
na alma que, peregrina e ansiosa pela pátria celeste, buscava,
continuamente, ao Todo-Poderoso: “Não tenha medo de re­
petir em demasia os louvores a Deus; todo o perigo está em
expressá-lo insuficientemente”.
1. A música sacra. E a arte que, dispondo das ciências
musicais e acústicas, das cordas vocais e de instrumentos mú­
sicos, tem por objetivo primacial enaltecer a Deus através da
harmonia, melodia e ritmo (1 Cr 16.23; SI 96.1).
98
o Louvor que che<ja ao Trono da çraça

Jubal foi o primeiro ser humano a interessar-se pela arte


musical. Seguncio filho de Lameque, tornou-se ele conhecido
como o pai de todos os que tocam harpa e flauta (Gn 4.21). A
arte musical, porém, não foi criada por Jubal; ele apenas a de­
senvolveu. Por conseguinte, a arte musical, como todas as de­
mais ciências e fazeres humanos, é um dom divino. Martinho
Lutero escreveu acerca desta dádiva celeste: “Aquele que não
encontra (a grande e perfeita sabedoria de Deus), na maravi­
lhosa obra da música, é realmente um tolo e não é digno de
ser considerado homem”.
2. O cântico congregacional. E a participação de
toda a congregação dos fiéis nos hinos em louvor ao Eterno
Deus. O cântico congregacional teve início com o rei Davi,
conforme podemos depreender da história do Filho de Jessé;
atinge, porém, o auge no reinado de Salomão. O primeiro
organizou os músicos e cantores em turnos e corais (1 Cr
23.1-26.32); o segundo sustentou-os, a fim de que o culto
a Jeová fosse coroado de glória e divino resplendor (2 Cr
5.12-14).
3. A beleza da poesia evangélica. Um dos maio­
res poetas brasileiros pertence à Assembléia de Deus.
Joannyr de Oliveira tornou-se referência obrigatória, no
campo das letras, por mostrar a singular beleza de nossa
poesia que, quando musicada, transforma-se em hinos de
preciosa melodia. Sempre zeloso pela santidade e perfei­
ção de nossa hinódia, Joannyr muito combateu aos que,
enamorados do mundo, buscavam contaminar “os mais
belos hinos e poesias”.
Quem pode negar a célica harmonia da poesia cristã?
99
as Disciplinas da vida crista

O escritor português Camilo Castelo Branco enaltece


os cânticos que tiveram por inspiração o Evangelho de Cristo:
“Se algum poeta irreligioso pudesse conciliar os desatinos da
sua vida com as poesias cristãs, tal poeta, só enriquecer-se de
estro, só por brilhar aos olhos da sociedade, só por engrinal­
dar-se das flores do gênio, deveria pedir ao Cristianismo todas
as suas feições”.
II. OS FU N D A M EN TO S DA M ÚSICA SACRA
Amo a Harpa Cristã. Através dela, posso cantar as dou­
trinas das Sagradas Escrituras. Recito, por exemplo, ser a Bíblia
o Livro do Senhor (hino 259). Aprendo que todos devemos
adorar o Rei do Universo (hino 124). Conscientizo-me de
que foi na cruz que me garantiu o Senhor tão grande sal­
vação (hino 15). Alegro-me, proclamando as boas novas do
Pentecostes (hino 437). E consolo-me por saber que Jesus
vem (hino 300). Conclui-se, pois, que a verdadeira música
sacra tem, como fundamento, a inspirada, infalível, inerrante,
soberana e completa Palavra de Deus.
Os grandes músicos e poetas de Israel eram profetas. Há
de se mencionar também Paulo e o próprio Cristo.
1. O preparo teológico dos músicos e com posito­
res bíblicos. Autor do Salmo 90, foi Moisés o legislador dos
hebreus e o maior profeta do Antigo Testamento (Dt 34.10).
Quanto a Davi, considerado profeta do Senhor, compôs a
maioria dos salmos (At 2.30). Já Salomão, seu filho, honrado
pelo mesmo Deus como o mais sábio dos homens, além de
compor os cantares, os provérbios e o Eclesiastes, deixou-nos
um belíssimo salmo (SI 127; Pv 1.1).
100
o Louvor que che<ja qo rrono da qraça

Os cantores de Israel, teologicamente reflexivos, trata­


ram dos ternas mais complexos da existência humana e de
nosso relacionamento com Deus.
No Salmo 73, Asafe louva ao Senhor tratando de um
dificílimo problema existencial: “Por que sofrem os justos?”
Jeremias, por seu turno, inspirado pelo Espírito Santo, can­
tou as tristezas e desditas da Cidade Santa. E os poemas de
Isaías e de Habacuque? O primeiro cantou os sofrimentos do
Messias, retratando-lhe o ministério com vivas cores. Como
não chorar ante o capítulo 53 de seu livro? Já o segundo mos­
tra a alegria que deve acompanhar o servo de Deus nas adver­
sidades e tribulações.
2. Q ualificações de um m úsico verdadeira­
m ente cristão. De um músico sacro exige-se não so­
mente a arte, mas principalmente a correção doutriná­
ria; ele é o teólogo que verseja o conhecimento bíblico.
Com singular habilidade, harmoniza e ritma a verdadeira
teologia. Aliás, parte da hinódia cristã foi composta por
doutores nas Escrituras como Ambrósio, M artinho Lutero
e Charles Wesley.
Infelizmente, com o esfriamento do amor à Palavra de
Deus, a música sacra é logo substituída por arremedos que
enaltecem as heresias e exaltam sutilmente um século que jaz
no maligno.
Como pode haver música sacra sem o amor que con­
sagramos ao Senhor Jesus? Neste ponto tão importante das
disciplinas cristãs, que é o amor, João Calvino é grave e
enérgico:
101
as Disciplinas da vida cristã

“O falar e o cantar, se acompanham a oração, de nada va­


lem diante de Deus e não lhe são de nenhum proveito, se não
são fruto do amor e se não vêm do fundo do coração. Muito
ao contrário, porém, causam ao Senhor grande indignação
e provocam fortemente a sua ira, se só procedem da boca e
dela saem, porque isso é abusar do seu sacratíssimo nome e
zombar da sua majestade, como Ele o declara por intermédio
do seu profeta, dizendo:‘Visto que este povo se aproxima de
mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o
seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo
consiste só em mandamentos de homens, que maquinalmente
aprendeu, continuarei a fazer obra maravilhosa no meio deste
povo; sim, obra maravilhosa e um portento; de maneira que
a sabedoria dos seus sábios perecerá, e a prudência cios seus
prudentes se esconderá”’.
III. A M ÚSICA N A H ISTÓ R IA DA IGREJA
Se a música é um dom de Deus, por que não tributar-
lhe essa dádiva para exaltar-lhe o nome e a grandeza infini­
ta? A Igreja de Cristo, desde o seu nascedouro, compreendeu
perfeitamente a função da música em sua liturgia. No cul­
to, verdadeiramente cristão, duas coisas são imprescindíveis: a
música e a exposição da Palavra de Deus.
1. O exemplo do próprio Cristo. Na noite de sua
paixão, o Senhor Jesus cantou um hino, mostrando que, mes­
mo nos momentos mais difíceis e lutuosos, é possível entoar
louvores ao Pai Celeste. Que hino era aquele? Provavelmente
um dos salmos messiânicos de Davi. O Salmo 22? Embora
não o saibamos, de uma coisa temos absoluta certeza. Jesus
ensina-nos que a música, autenticamente sacra, faz parte de
102
o Louuor que che^a uo Trono da çraça

nossas disciplinas espirituais; por intermédio destas, edifica­


mos o nosso caráter e fortalecemos a fé que nos foi confiada
pelo Espírito Santo.
2. A doutrina litúrgica de Paulo. Algumas vezes,
confundimos liturgia com formalismo. Entre ambos, con­
tudo, há abismais diferenças. Liturgia é o culto público que
prestamos a Deus; formalismo, o culto que, embora belo, é
destituído de seu real valor. Voltemos ao Novo Testamento.
Sua liturgia era mui singela; entretanto, carregada de signi­
ficados.
Quando nos reunimos, um tem salmo, outro apresenta
cânticos espirituais e ainda outro, a doutrina cristã. E os dons
espirituais? Este manifesta-se em línguas estranhas; aquele as
interpreta. Este traz a revelação; aquele a palavra da ciência.
Este a cura divina; aquele as maravilhas. Eis uma reunião ver­
dadeiramente pentecostal.
Aliás, o apóstolo Paulo, à semelhança do Senhor Jesus,
utilizava-se também, em suas devoções, da música sacra.
Quando encarcerado em Filipos, de tal forma cantou jun­
tamente com Silas, que o seu louvor a Deus veio a abalar os
alicerces da prisão (At 16.20-31).
Tem você cantado ao Senhor?
CO NCLUSÃO
E urgente voltarmos à música sacra. A Harpa Cristã
possui 640 hinos. No entanto, quantos destes são cantados
em nossos cultos? Dez? Vinte? Por outro lado, requer-se in­
103
as Disciplinas da vida cristã

vestimentos, a fim de que novos músicos sejam formados


e passem a dedicar-se à hinódia crista. Onde estão nossos
instrumentos? Quebrados? Abandonados? Ou simplesmente
nos salgueiros?
Deus merece (e reivindica) uma música de excelência
em nossos cultos. Excelente e bela. Como produzi-la? O po­
eta sagrado verseja: “Os mais belos hinos e poesias,/ Foram
escritos em tribulação,/ E do céu, as lindas melodias,/ Se ou­
viram, na escuridão. (Harpa Cristã, 126)

104
D Ízim os
e ofertas -
urna Disciplina
Abençoadora

IN T R O D U Ç Ã O
Ao descrever as bênçãos decorrentes do dízimo, afirmou
J. Blanchard:“O dízimo não deve ser um teto em que paramos
de contribuir, mas um piso a partir do qual começamos”. Não
há como discordar do irmão Blanchard. Infelizmente, muitos
são os que, menosprezando esta tão rica disciplina espiritual,
longe estão de experimentar a bênção da mordomia cristã.
Afinal, por que devo eu contribuir, financeiramente, com a
Obra de Deus? Que benefícios espirituais obterei com os meus
dízimos e ofertas? Em primeiro lugar, conscientize-se: as ofertas
e os dízimos não lhe pertencem; a Deus pertencem. Não é Ele o
dono da prata e do ouro? Então, daí a Deus o que é de Deus.
as Disciplinas da vida cristã

Quando depositamos nossos dízimos e ofertas na casa do


tesouro, implicitamente estamos demonstramos que reconhe­
çamos o senhorio de Deus sobre toda a terra, principalmente,
sobre os nossos ganhos e haveres. Afinal, como salmodia o
cantor sacro,“do Senhor é a terra e a sua plenitude”. Nada do
que temos é realmente nosso; nem o nosso próprio corpo nos
pertence; é o templo do Espírito Santo.
I. O QUE SÃO OS D ÍZIM O S E OFERTAS
Dar um décimo a Deus daquilo que, gratuitamente, ele
nos concede, não é motivo de vanglória. Nestas palavras de
Samuel Chardwickjá podemos lavrar uma definição da mor­
domia cristã. Na verdade, não damos o dízimo; consagramo-
lo ao Senhor como uma forma de adoração; é um culto que
se traduz numa prática e num amoroso desprendimento.
1. Definição. Os dízimos e ofertas, entregues a Deus com
ações de graças, são um dos maiores atos da devoção cristã: teste­
munham que, como seus filhos, confiamos inteiramente em sua
providência. O que lhe santificamos evidenciam: sempre tere­
mos o suficiente para viver, pois o pão nosso de cada dia dá-nos
Ele liberalmente. Além disso, precisamos aceitar o império de sua
vontade sobre todas as coisas que possuímos (1 Co 10.16).
Em nosso Dicionário Teológico, definimos assim o dízimo:
“Oferta entregue voluntariamente à Obra de Deus, consti-
tuindo-se da décima parte da renda do adorador (Ml 3.10). O
dízimo não tem valor mercantilista, nem pode ser visto como
um investimento. E um ato de amor e de adoração que de­
votamos àquele que tudo nos concede. E uma aliança prática
entre Deus e o homem. O que é fiel no dízimo, haverá de
106
Dízimos e ofertas — uma Disciplina Abençoadora

usufruir de todas as bênçãos que o Senhor reservou-nos em


sua suficiência”.
2. M ordom ia cristã. A entrega amorosa e voluntária
do que possuímos a Deus é conhecida, também, como mor­
domia cristã. Como seus mordomos, cabe-nos administrar,
devocional e amorosamente, o que nos entregou Ele, visando
o serviço de adoração, a expansão de seu Remo e o sustento
dos mais necessitados.
Quando Abraão foi ao encontro de Melquisedeque,
após a guerra dos reis orientais, entregou-lhe o dízimo de
tudo. Pois como bom administrador que era, sabia muito bem:
todos os seus haveres, de fato, não lhe pertenciam; tinham por
dono o próprio Deus. Se Deus era o proprietário de tudo,
deveria o patriarca consagrar-lhe uma parte de sua imensa
riqueza, a fim de que o sumo sacerdote pudesse sustentar o
culto ao Todo-Poderoso.
Foi na entrega do dízimo a Melquisedeque que teve
Abraão uma nova revelação do caráter de Deus. Naquele mo­
mento, conscientiza-se ele: tanto ele quanto a sua progénie
estavam ordenados por Deus a ser uma nação santa, profética
e sacerdotal. Não foi simplesmente urn ato de doação; foi um
encontro experimental do patriarca com o Senhor.
A mordomia exercida por Abraão é um perfeito modelo
para os seus filhos na fé.Todas as vezes que entregamos o nos­
so dízimo à casa do tesouro, aprofundamos a nossa crença na
providência de Deus. Não é Ele quem mantém todas as coi­
sas? Mantendo-as e controlando-as, demonstra ser um Deus
bem presente em nosso cotidiano.
107
as Disciplinas da vida cristã

A mordomia cristã, por conseguinte, é a administração


de quanto recebemos do Senhor. For isso requer-se cie cada
mordomo, ou despenseiro, que se mantenha fiel ao que Deus
lhe confiou (1 Co 4.2).
II. A D O R A N D O A DEUS COM
N O SSO S HAVERES
A verdadeira adoração reclama nosso ser por inteiro:
corpo, alma, espírito e haveres. Eis o que escreve Kenneth F.
W. Prior: “A contribuição cristã só começa quando damos
mais do que um décimo do que ganhamos”.Vejamos por que
os dízimos e ofertas são importantes:
1. Através das contribuições financeiras, honra­
mos a Deus. “Honra ao Senhor com a tua fazenda e com as
primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros
abundantemente, e trasbordarão de mosto os teus lagares” (Fv
3.9,10).
Houve um tempo emjudá, logo após o cativeiro babiló­
nico que, por faltar-lhes o sustento diário, os levitas viram-se
obrigados a abandonar o oficio sagrado e voltar aos seus cam­
pos para proverem o seu sustento diário. Neemias, tomando
conhecimento do fato, muito sofreu, e tudo fez para corrigir
aquele menosprezo pelas coisas divinas:
“Também soube que os quinhões dos levitas não se
lhes davam, de maneira que os levitas e os cantores, que fa­
ziam o serviço, tinham fugido cada um para o seu campo.
Ajuntei os levitas e os cantores e os restituí a seus postos.
Então, todo ojudá trouxe os dízimos dos cereais, do vinho
108
DÍzirnos ti ofertas uma Disciplina Abençoadora

e do azeite aos depósitos. Por tesoureiros dos depósitos pus


Selemias, o sacerdote, Zadoque, o escrivão, e, dentre os levi­
tas, Pedaías; conto assistente deles, Hanã, filho de Zacur, filho
de Matanias; porque foram achados fiéis, e se lhes encarre­
gou que repartissem as porções para seus irmãos Por isto,
Deus meu, lembra-te de mim e não apagues as beneficências
que eu fiz à casa de meu Deus e para o seu serviço” (Ne
10.10-14).
2. Por meio das ofertas e dízimos, mostramos a
Deus nossa alegria. “Cada um contribua segundo propôs
no seu coração, não com tristeza ou por necessidade; porque
Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7).
Dizimar para a manutenção da obra de Deus não tem
de ser um encargo pesado; é algo razoável que deveria ser
acompanhado de alegrias e ações de graças. O que o Senhor
requer de seus filhos? Apenas dez por cento de tudo o que
proporciona Ele em sua ilimitada providência. Afinal, criou
Deus os céus e a terra e, depois de tudo formado, confiou-nos
a obra de suas mãos.
Não podemos entregar nossos dízimos como se fôsse­
mos saldar uma dívida. Que os entreguemos, por conseguinte,
com profundas ações de graça; Ele tudo merece, pois lhe per­
tence a terra e a sua plenitude.
3. Por intermédio do dar, expomos a Deus um
coração voluntário: “Então, falou o Senhor a Moisés, di­
zendo: Fala aos filhos de Israel que me tragam uma oferta
alçada; de todo homem cujo coração se mover voluntaria­
mente, dele tomareis a minha oferta alçada” (Ex 25.1,2).
109
as Disciplinas da vida cristã

Nessa passagem, demonstra Israel quão liberal era o seu


coração. Além dos dízimos, entregava ao Senhor, de forma
alçada, ofertas e oferendas; o seu coração se movia, liberal-
mente, para contribuir para a Obra de Deus. Escreve o pastor
Matthew Henry:
“O povo deveria fornecer o material necessário, volun­
tariamente. A melhor utilização que podemos dar à nossa ri­
queza material neste mundo é honrarmos a Deus com ela em
obras de piedade e caridade. Devemos perguntar não apenas:
‘O que devemos fazer’, mas:‘O que podemos fazer para Deus’
Aqueles que ofertaram o material deveriam fazê-lo alegre­
mente, não de má vontade, porque Deus ama aquele que con­
tribui com alegria (2 Co 9.7). Aquilo que se coloca a serviço
de Deus pode considerar-se bem empregado, e tudo o que
for realizado para o serviço divino deve ser feito conforme as
suas ordens”.
4. Através do ofertar, revelamos o nosso despren­
dimento. “Porém o rei disse a Araúna: Não, porém por certo
preço to comprarei, porque não oferecerei ao Senhor, meu
Deus, holocaustos que me não custem nada. Assim, Davi
comprou a eira e os bois por cinqüenta siclos de prata” (2 Sm
24.24).
O coração desprendido não tem o dízimo como o teto
de sua contribuição; é-lhe tão-somente o piso, a partir do
qual, começa a exercer a sua mordomia. Era o coração de
Davi tão desprendido e liberal que jamais aceitaria ofere­
cer um holocausto ao Senhor que nada lhe haja custado.
Por isso, gentilmente, recusou a prontidão de Araúna. O rei
ofereceria um sacrifício ao Deus de Israel naquela hora de
110
Dízimos e ofertas — uma Disciplina Abençoadora

agonia; o sacrifício, porém, teria de sair de suas expensas


pessoais. Temos nós também agido com desprendimento e
coração generoso?
III. A C O N TR IBU IÇ Ã O N A BÍBLIA
A mordomia cristã, como devoção e adoração a Deus,
não surgiu com o Cristianismo; é um ato que nasceu com o
homem, e vem perpetuando-se ao longo da História da Igreja
Cristã. Quer no Antigo, quer noTestamento Novo, deparamo-
nos com homens e mulheres que, afetuosamente, tudo entre­
gavam ao Senhor, pois do Senhor tudo haviam recebido.
1. Antigo Testamento. Embora a Bíblia não o registre,
certamente ofereceu Adão ao Senhor não poucos sacrifícios,
pois os seus descendentes imediatos o fizeram, certamente,
imitando-lhe o gesto:
a) Abel. Um dos mais perfeitos tipos de Nosso Senhor
Jesus Cristo, ofereceu Abel um sacrifício a Deus: “Abel, por
sua vez, trouxe das primícias do seu rebanho e da gordura des­
te. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta” (Gn 4.4).
A perfeição da oferenda de Abel não se deve ao seu
caráter cruento; era uma oferta perfeita porque o coração do
ofertante era ainda mais perfeito. Se Caim houvesse agido da
mesma forma, a sua oferta também encontraria amplas guari­
das no coração de Deus.
b) Abraão. Abraão foi o primeiro herói da fé, segundo o
registro bíblico, a trazer os dízimos ao Senhor que, naquela
oportunidade, era representado por Melquisedeque: “... que
111
as Disciplinas da vida cristã

era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele aAbrão e disse:


Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e
a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus
adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo”
(Gn 14.18-20).
Laboram em grave erro, portanto, os que dizem ser o
dízimo um produto da Lei de Moisés. Consideremos este fato:
antes de haver sido decretado o Decálogo e as demais leis,
quer civis, quer cerimoniais, homens como Abraão e Jacó já
adoravam a Deus com os seus dízimos e ofertas. Não perten­
cem estes, logicamente, apenas ao tempo da Lei; à época da
graça também pertencem.
Ora, se Melquisedeque, como o tipo perfeito de Cristo,
foi honrado com os dízimos de Abraão, por que Cristo Jesus,
o antítipo, não receberia iguais deferências? Por conseguinte,
o dízimo é também do tempo da graça; somente os que a pos­
suem, têm suficiente fé para trazer os seus dízimos e ofertas ã
casa do tesouro.
c) Israel. Os filhos de Israel tinham por obrigação trazer
os dízimos aos levitas, a fim de manter em perfeito funciona­
mento o serviço do santuário: “Aos filhos de Levi dei todos
os dízimos em Israel por herança, pelo serviço que prestam,
serviço da tenda da congregação” (Nm 18.21).
Todas as vezes que os israelitas descuravam-se quanto
a esta obrigação, sofria o culto divino e muito padeciam os
que tinham por obrigação mantê-lo. Temos nós preservado o
culto ao Único e Verdadeiro Deus com os nossos dízimos e
ofertas?
112
Dízimos e ofertas — uma Disciplina Abençoadora

2. Novo Testamento. Tendo começado no Antigo


Testamento, a prática doutrinal do dízimo teve prosseguimen­
to no Testamento Novo; e, voluntariamente, foi adotado pela
Igreja de Cristo.Vejamos, pois, como os fiéis nos dias apostó­
licos comportavam-se diante da mordomia que nos entregou
ao Senhor.
a) Jesus não foi contra os dízimos, mas contra a hipocri­
sia dos que os traziam: “Mas ai de vós, fariseus, que dizimais
a hortelã, e a arruda, e toda hortaliça e desprezais o Juízo e
o amor de Deus! Importava fazer essas coisas e não deixar as
outras” (Lc 11.42).
b) Tipologicamente, Abraão entregou os dízimos a Cristo,
já que Melquisedeque era da mesma ordem sacerdotal do
Nazareno: “Porque este Melquisedeque, rei de Salem, sa­
cerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão,
quando voltava da matança dos reis, e o abençoou, para o qual
também Abraão separou o dízimo de tudo (Hb 7.1).
c) A Igreja Primitiva contribuía regularmente no primei­
ro dia da semana: “No primeiro dia da semana, cada um de
vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e
vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for” (1
Co 16.2).
d) Na Igreja Primitiva o dízimo era o referencial mínimo.
Eis o exemplo de Barnabé: “José, a quem os apóstolos deram
o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação,
levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, venden­
do-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos” (At
4.36,37).
as Disciplinas da vida cristã

CO NCLUSÃO
Os dízimos e as ofertas, por conseguinte, devem ser tra­
zidos a Deus não como uma penosa obrigação; devem ser
entregues como um ato de ações de graças. Não agiam assim
os santos do Antigo c do Novo Testamento? Mostremos, pois,
ao Pai toda a nossa gratidão; ofertemos não para sermos aben­
çoados, mas porque já o fomos. O ofertar faz parte tanto do
nosso culto público como indivíduo.

114
11

a Beleza
da união
Entre os
filh o s de Deus

IN T R O D U Ç Ã O
Ronald J. Sider descreve, com vivas cores, a comunhão
dos santos: “Para os primeiros cristãos, koinonia não era a ‘co­
munhão’ enfeitada de passeios quinzenais patrocinados pela
igreja. Não era chá, biscoitos e conversas sofisticadas no salão
social depois do sermão. Era um compartilhar incondicional
de suas vidas com os outros membros do corpo de Cristo”.
Não há como discordar do teólogo norte-americano.
Infelizmente, conseguimos transformar a comunhão dos san­
tos num clube seleto, cujo acesso só está disponível àqueles
que se encontram em nosso substrato social. Quantos aos ou­
tros, alijamo-los de nosso meio. Na Igreja Primitiva, todavia,
as Disciplinas da vida cristã

os meios da graça achavam-se disponíveis a todos os santos


sem quaisquer distinções.
A Igreja Primitiva era constituída de ovelhas proceden­
tes dos mais variados e longínquos apriscos. Lá estavam os
judeus; ali, os altivos romanos e os orgulhosos gregos. Mais
além, os desprezados samaritanos. Aqui, os bárbaros e africa­
nos que, apesar de suas heranças multicoloridas e ricas, não
falavam ainda o heleno. Sob o estandarte do Cristo, porém,
constituíam-se todos num único povo. Assim, ia a Igreja de
Deus universalizando-se até alcançar os confins da terra sem
impedimento algum.
I. O QUE É A C O M U N H Ã O D O S SANTO S
Antes de definirmos a comunhão dos santos, atentemos
a esta declaração do pastor e teólogo inglês Mathew Henry:
“Não devemos impor nenhuma condição para a aceitação
de nossos irmãos, a não ser as que Deus impôs para aceitá-
los”. Depreende-se, pois, que a comunhão dos santos implica,
primacialmente, na plena acolhida daqueles por quem Cristo
morreu.
1. Definição. A comunhão dos santos é o “vínculo es­
piritual e social estabelecido pelo Espírito Santo entre os que
recebem a Cristo como o seu Único e Suficiente Salvador.
Tendo como base o amor, esse vínculo faz com que os crentes
sintam-se ligados num só corpo, do qual Cristo é a cabeça (Ef
4.1-16)”. Dicionário Teológico da CPAD.
A comunhão dos santos é conhecida, ainda, por estas
designações: comunhão dos fiéis e congregação dos santos.
116
a Beleza da união entre os filhos de oeus

Richard A. Muller assim a define: “Comunidade cristã.


E a Igreja vista como o corpo dos crentes.Visto serem santos
os membros da Igreja, pode esta ser cognominada de comu­
nhão dos santos”.
2. A origem da nomenclatura teológica. “Embora
tal expressão não se encontre nas páginas do Novo Testamento,
sua idéia acha-se permeada em toda a Bíblia Sagrada. Ela foi
usada, oficialmente, pela primeira vez, num sermão pregado
por Nicéias de Remesiana por volta de 400”.
A definição de Nicéias foi prontamente aceita pela co­
munidade teológica. Passados mais de mil e duzentos anos,
fazendo uso dela, Matthew Henry descreve a comunhão dos
santos como a mais perfeita das sociedades, por ter como base
o amor de Deus que o Espírito Santo nos derramou no co-
ração:“0 homem é feito para a sociedade, e os cristãos, para
a comunhão dos santos”. Que sociólogo teria condições de
chegar a uma conclusão tão cristalina como essa? A comu­
nhão dos santos, por conseguinte, é a mais perfeita das socie­
dades conhecidas entre os filhos de Adão e Eva.
II. A C O M U N H Ã O D O S SA N TO S N A BÍBLIA
A comunhão dos santos é uma expressão teológica e his­
toricamente forte. Quer na comunidade de Israel, quer na Igreja
Primitiva, seu conceito não é um mero casuísmo; é uma prática
que leva o povo de Deus a sentir-se como um só corpo.
1. A comunhão dos santos em Israel. Nos momen­
tos de emergência nacional, levantavam-se os hebreus como
um só homem. Isto mostra que, se um israelita sofria, os demais
117
as Disciplinas da vida cristã

padeciam; se urna tribo via-se em perigo, as outras sentiam-se


ameaçadas. A fim de manter o seu povo unido, suscitava-lhe o
Senhor líderes carismáticos como Gideão e Davi.
O amor entre os israelitas era realçado na Lei e nos
Profetas. Os hebreus, por exemplo, não podiam emprestar com
usura para seus irmãos. Quando cia colheita, eram obrigados
a deixar, aos mais pobres, as respigas. Foi o que aconteceu à
moabita Rute.
Quando a comunhão dos santos em Israel era quebran­
tada, instalava-se a injustiça social, a opressão e a violência. Para
conter todas essas misérias, erguia Deus os seus profetas que,
madrugando, repreendiam os injustos, buscando reconduzi-
los aos princípios da Lei de Moisés. No tempo de Neemias, a
tensão social a tal ponto chegou, que os israelitas mais pobres
vendiam-se aos seus credores, a fim de resgatar suas dívidas.
Alguns, viam suas filhas serem oferecidas como escravas a po­
vos estrangeiros.
2. A comunhão dos santos em o Novo Testamento.
Ao retratar a comunhão entre os santos, escreve o português
Camilo Castelo Branco: “O amor de Deus é inseparável do
amor do próximo. É impossível no coração humano o incên­
dio suavíssimo do amor de Deus, quando o grito da miséria
não desperta no coração a mágoa das aflições do próximo”.
Mais adiante, acrescenta Camilo: “Vede como eles se amam’
diziam os pagãos, quando a sociedade cristã repartia seus ha­
veres em comunas, onde o grande despojado de suas galas,
vinha sentar-se ao lado do pobre, vestido de uma mesma tú­
nica, e nutrido por um semelhante quinhão nos ágapes da
caridade”.
11H
a Beleza d a união entre os filhos d e Deus

Sem a comunhão dos santos não pode haver cristianis­


mo. Aliás, protestou alguém certa vez: "O amor é a única for­
ma de nos sentirmos realmente cristãos”. Todos os escritores
do Novo Testamento, a exemplo do Salvador, realçaram a co­
munhão dos santos.
No Sermão do Monte, ensinou Jesus os seus discípulos a
se amarem uns aos outros; doutra forma: não seriam contados
entre os seus seguidores. Lucas ilustra, com vivas cores, como
era o cotidiano da comunidade cristã (At 2.42-26). Aliás, um
casal morreu fulminado pelo Senhor por haver infligido o
princípio básico da comunhão dos fiéis. Saulo descreve a uni­
dade dos discípulos como o vínculo da paz. Já o apóstolo
Tiago critica os crentes que, apesar de se apresentarem como
tais, eram movidos pelo desamor e por um preconceito social
em nada justificado diante de Deus.
III. A C O M U N ID A D E D O S BENS
O que acontecia na Igreja Primitiva? Não era uma
experiência comunista como querem os sectários de Marx
e Lênin. A única coisa que o comunismo logrou produ­
zir foi uma legião de excluídos e miseráveis. A Igreja de
Cristo, porém, já em seu nascedouro, mostrou o que pode
fazer o amor de Deus com o qual o Espírito Santo nos
unge o coração. Um amor que se traduz em prática e não
em meros conceitos. O que dizer, por exemplo, da comu­
nidade de bens?
1. Com unidade de bens. Prática observada nos pri­
meiros dias da Igreja, quando os crentes, premidos pelas cir­
cunstâncias e urgências da época, “vendiam suas propriedades
119
as Disciplinas da vida cristã

e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha


necessidade” (At 2.45).
A Igreja em Jerusalém experimentava uma verdadei­
ra koinonia. Stott elucida-nos este interessante aspecto da
união cristã: “Assim, koinonia é uma experiência trinitária;
é a parte que temos em comum com Deus Pai, Filho e
Espírito Santo. Mas koinonia também expressa o que par­
tilhamos uns com os outros, tanto o que damos como o
que recebemos. Koinonia é a palavra que Paulo usou para a
oferta que recolheu entre as igrejas gregas, e kennonikos é a
palavra grega para generoso”.
2. A história da com unidade de bens. Segundo
alguns historiadores, a comunidade de bens nasceu entre
os essênios —seita judaica que floresceu durante o perío­
do interbíblico. Todavia, não levaram eles o projeto adiante,
por causa de seu legalismo e desamor. Já entre os primeiros
cristãos, a prática floresceu, traduzindo-se hoje em hospitais,
asilos, creches, leprosários etc. Nenhuma outra religião, em
toda a história, mantém laços tão firmes de amor como o
Cristianismo.
O Cristianismo, portanto, nada tem a ver com a expe­
riência comunista que, a partir de 1917, causou a morte de
milhões de pessoas e levou a miséria a várias nações. Os ca­
maradas da Rússia e os companheiros de Cuba, em que pese
sua propaganda, jamais lograram levar o bem-estar aos seus
povos através da foice e do martelo. Uma foice, aliás, que não
ceitou as colheitas prometidas. E o martelo que não trouxe os
empregos anunciados?

120
a B e le za da união entre os filhos de D e u s

Tão cruel é o comunismo que nenhuma importância


dá à vida humana, conforme afirmou Lênin:“Que importa se
noventa por cento da população da Rússia morrer, se os dez
por cento sobreviventes se converterem à fé comunista?”Além
de ser contrário à verdadeira koinonia cristã, ele é visceral­
mente adversário de Deus: “Todos precisam ser ateus. Nunca
alcançaremos nosso alvo enquanto o mito de Deus não for
removido dos pensamentos do homem”. Pobre e miserável
Lênin; morreu e foi logo esquecido. Deus, todavia, continua a
ser honrado inclusive nos países dantes comunistas.
IV. CO M O VIVER A C O M U N H Ã O
D O S SANTO S
Afirmou o reformador francês, João Calvino, que os salvos
não devemos jamais descurar de nossa comunhão em Cristo Jesus:
“E indubitável que a nós compete cultivar a unidade da forma a
mais séria, porque Satanás está bem alerta, seja para arrancar-nos
da Igreja, ou para desacostumar-nos dela de maneira furtiva”.
Eis corno poderemos viver, em sua plenitude, a comu­
nhão dos santos.
1. Amando-nos uns aos outros. “Tendo em vista o
amor fraternal não fingido, amai-vos, de coração, uns aos ou­
tros ardentemente” (1 Pe 1.22).
O amor entre os cristãos não pode ser um mero aparato
social; é algo que parte de nosso interior até que venha a tor­
nar real a koinonia exercida pelos irmãos da era apostólica. E
justamente este amor que adorna a união cristã que, intensa­
mente praticada, faz-se na forte e substanciosa doutrina.
121
as Disciplinas d a v id a cristã

2. Simpatizando-nos uns com os outros. Simpatizar-


se significa participar, sincera e amorosamente, com os senti­
mentos de nossos irmãos, conforme enfatiza o apóstolo Paulo:
“Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que
choram” (Rm 12.15).
A verdadeira comunhão não se manifesta apenas nos
festins; torna-se real nos momentos de luto e de dor. Por isto,
choramos com os que choram; com os que se alegram, tam­
bém nos alegramos. Em todas as instâncias da koinonia, somos
senhores de nossos sentimentos conforme realça John Stott:
“O amor cristão não é vítima de nossas emoções, mas servo
de nossa vontade”.
3. Socorrendo os domésticos na fé. Quem são os
domésticos na fé? Se bem atentarmos à epístola que enviou
Paulo aos gálatas, verificaremos que são aqueles que fazem
parte da família de Deus. Por conseguinte, devem eles ter a
primazia dos santos em suas necessidades: “Então, enquanto
temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos
domésticos da fé” (G1 6.10).
Socorramos os santos em suas necessidades e carências.
Se um irmão tem fome, tenho eu a obrigação moral e espi­
ritual de repartir com ele o trigo que do Senhor recebi. E,
assim, com alguns peixinhos e pães, vai o Senhor Jesus nos
multiplicando o alimento e saciando a fome dos que, ainda,
não receberam o pão de cada dia.
4. Orando uns pelos outros. “Confessai, pois, os vossos
pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes cura­
dos. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 1.16).
Í22
a Beleza du união entre os filhos de D e u s

A comunhão dos santos traduz-se, ainda, num eficiente


ministério de oração e intercessão. Se oro somente por mim
e por minha família, que koinonia exerço eu? Mas se oro por
todos e não mais me lembro de mim, que benefício posso
usufruir? Quando oro por todos e não faço mais menção de
minhas carências, é sinal que estas não existem mais; há sem­
pre alguém orando por mim.
CO NCLUSÃO
Não pode haver cristianismo sem a comunhão dos san­
tos; esta, além de ser o vínculo da perfeição, torna visível a
unidade da fé. Levemos em conta, também, ser a comunhão
dos santos a recomendação que nos faz o Senhor Jesus: “Um
novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros;
como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis” (Jo 13.34).
Tem você mantido comunhão com os santos? Cultive-a,
a fim de tornar-se, verdadeiramente, cristão. “Irmão amados -
Santificados/Vivei unidos —Pois sois remidos,/ Não mais te­
mendo - O bem fazendo,/ No nome santo de Jesus!” (Harpa
Cristã, 175)
12

co n fian d o
firm em en te
em Deus
IN T R O D U Ç Ã O
O teólogo porto-riquenho, Samuel Eagán, discorre, mui
sábia e devocionalmente, sobre alguns trechos do capítulo 37
dos Salmos: “A frase ‘confia no Senhor’ é como um antídoto
contra a inveja e o ressentimento. E ‘deleita-te no Senhor’
compunge-nos a permitir, confiadamente, que Deus cuide e
proteja seus filhos”.
O que inferimos de sua exegese?
Logo, se confiarmos no Senhor, não viveremos angus­
tiados nem abatidos emocionalmente. Assemelhar-nos-emos
aos rochedos que, apesar dos abalos e tremores, permanecem
as D iscip lin as d a v id a cristã

firmes e inabaláveis. Consideremos, pois, a petição que, certa


feita, o erudito e teólogo, Walter Kaschel, endereçou a Deus:
“Ajude-me, Senhor, a confiar em ti de tal maneira que eu não
carregue comigo aqueles problemas que já entreguei aos teus
cuidados”.
Estejamos tranqüilos; tudo está em suas mãos. No
Senhor, sempre haveremos de encontrar o necessário refúgio
para todas as nossas angústias. Ele é o nosso castelo forte. O
que vem a ser, porém, essa confiança? I)e que maneira, pode­
mos cultivá-la?
I. O QUE É A C O N FIA N Ç A EM DEUS
Confiar irrestritamente em Deus também faz parte das
disciplinas da vida cristã. Se nEle confiarmos de todo o co­
ração, andaremos como os heróis da fé: resolutos e firmes.
Confia você em Deus? Tem você a necessária disciplina para
entregar-lhe todas as coisas? O salmista, porquanto confia­
va em Deus, tudo lhe entregou; tinha ele certeza de que o
Senhor tudo faria.
1. Definição. A confiança em Deus é a disposição es­
piritual e emocional de render-se, incondicionalmente, aos seus
cuidados, sabendo que Ele trabalha em favor de seus filhos, a fim
de que, em nossa vida, seja a sua glória plenamente exaltada.
Confiar em Deus é uma exposição prática de fé. Implica
em reconhecer-lhe as bondades e as grandezas; aceitar sua
providência; depositar-se aos seus desvelos; e acreditar, firme­
mente, em sua intervenção sempre oportuna. For conseguinte,
nossa confiança em Deus tem de estar em conformidade ab-
126
confiando firmemente em Deus

soluta com o credo que professamos. Afirma E. C. McKenzie:


“Não pode haver felicidade se as coisas em que cremos são
diferentes das coisas que fazemos”.
2. A confiança em Deus com o disciplina teoló­
gica. A confiança em Deus não é apenas uma prática a ser
cultivada; é também uma doutrina a ser frutificada. Coluna
da teologia espiritual, faz que, de nosso interior, ainda que
em angústias, fluam rios de águas vivas. Não era justamente
isso que experimentava o salmista? Sua lira, além de teológica,
era inesquecivelmente devocional. Basta ler, por exemplo, o
Salmo 37 que serve de base para este capítulo.
O que dizer de um teólogo que, apesar da erudição,
só conhece a Deus intelectualmente? Nesse caso, não temos
propriamente um teólogo; temos um pensador que se pôs a
especular acerca de Deus. Stanley Jones, porém, não ficou na
superfície deste conhecimento; aprofundando suas experiên­
cias com o Senhor, escreveu: “Entrego tudo a Deus, tendo a
consciência de ter feito o que estava ao meu alcance”.
II. A BASE DA C O N FIA N Ç A EM DEUS
Asseverou Dave Brown:“Muitas vezes não sabemos por­
que nos acontecem certas coisas em determinada situação ou
circunstância. Mas sabemos perfeitamente por que confiamos
em Deus que sabe a razão de todas as coisas”. Logo, há sufi­
cientes bases para confiarmos perfeitamente em Deus.
1. A soberania de Deus. Nada ocorre sem a expres­
sa permissão de Deus (Dn 4.34-37). Este é o princípio da
soberania divina, que pode ser assim definida: “Autoridade
127
as Disciplinas da vida cristã

absoluta e inquestionável que Deus exerce sobre todas as coi­


sas criadas, quer na terra, quer nos céus, dispondo de tudo de
acordo com os seus conselhos e desígnios”. Leia o capítulo 42
do Livro dejó.
Quem descansa na soberania de Deus, não se estressa
nem se desespera; sabe que todas as coisas ocorrem de acordo
com o divino querer (SI 4.8). Além do mais, tudo passa a con­
tribuir, juntamente, para o bem daqueles que amam a Deus
(Rm 8.28).
Como é bom confiar no Deus soberano e no seu Cristo.
John Oxenham, ao expressar sua fé no Filho de Deus, é meigo
e incisivo: “E mui doce confiar em Jesus”. Pode você dizer
o mesmo? Você confia, de fato, nos recursos que Cristo nos
providenciou no Calvário? O Pai Celeste tudo lhe confiou;
inclusive a soberania do Universo.
2. A sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus é o atri­
buto por intermédio do qual o Ser Supremo dirige todas as
coisas, executando-as de acordo com os seus planos, decretos e
desígnios (Ef 3.10). Somente Ele é capaz de operar de tal ma­
neira na vida de seus filhos, de modo que tudo venha a contri­
buir para a nossa maior comunhão consigo (1 Rs 3.28).
Se Deus assim age, devemos estar tranqüilos e confian­
tes. Se você estiver atravessando alguma dificuldade, não se
desespere. O Pai Celeste fará com que as lutas de hoje sejam,
amanhã, nossos maiores triunfos.
3. O poder de Deus. O poder de Deus é a sua ilimi­
tada capacidade para agir, de acordo com a sua soberania e de
128
confiando firmemente em Deus

conformidade com a sua justiça, quer nos céus, quer na terra,


seja no Universo, seja no microcosmo de nosso ser.
Por isso, confiamos em Deus. Ele pode todas as coisas;
nada lhe é impossível (Mt 19.26). Segundo a sua vontade,
opera Ele em nossa vida, cumprindo todos os seus planos
(Jó 42.2).
Deus também opera eficazmente na História da
Humanidade, dirigindo-a consoante aos seus eternos desíg­
nios. Haja vista o nascimento de Cristo. O inferno todo ar­
vorou-se para que o Messias não viesse ao mundo. Todavia,
o Senhor interveio, eficaz e poderosamente, para que o seu
Filho viesse na plenitude dos tempos (G1 4.4).
Por conseguinte, sendo Deus o Ser Supremo por ex­
celência, estejamos despreocupados quanto aos percalços
desta vida. Afinal, Ele é o Todo-Poderoso; tudo lhe é pos­
sível até o próprio impossível. Então, por que vivermos em
tormentos?
4. A provisão de Deus. Deus tudo aprovisiona, obje­
tivando a execução de seus planos em nossa vida. O que dire­
mos da história de José? O que parecia uma tragédia pessoal
para o jovem hebreu, transformou-se num plano de salvação
nacional para Israel (Gn 45.7). Se num primeiro momento
José é vendido como escravo para o Egito, no segundo, Deus
o levanta como o senhor de todo o Egito. E, assim, pôde ele
sustentar os israelitas, dos quais adviria o Cristo. Da mesma
forma ocorre em nossa vida; o que se afigura como tragédia,
transforma-se, de acordo com o seu querer, num triunfo para
maior glória do seu nome.
129
as nisciplinas da vida cristã

A providência divina é uma das mais importantes dou­


trinas das Sagradas Escrituras. Ela pode ser definida como a
amorosa disposição de Deus que, sendo a mesma sabedoria,
dispõe de todas as coisas, a fim de que os seus filhos de nada
venham a ressentir-se, proporcionando-lhes sempre o neces­
sário, levando-nos a resplender-lhe a majestade.
No estudo da providência divina, precisamos enfocar três
importantes elementos das atividades de Deus no Universo.
Em primeiro lugar, Deus mantém tudo quanto criou, visando
o bem-estar de cada uma de suas criaturas. Ele não é um Deus
ausente; Ele é um Deus bem presente e atuante. Além cia ma­
nutenção de quanto existe, há também a sua cooperação; tudo
Ele faz, a fim de que todas as coisas concorram para o bem
daqueles que o amam. Em último lugar, está o seu governo.
Como o Deus que está no controle de tudo, vai Ele dirigindo
cada aspecto de sua maravilhosa providência. Afinal, Deus não
é um ser apenas transcendente; é também imanente. Embora
transcenda a criação, acha-se bem junto a esta.
Portanto, não se desespere; Deus jamais o abandonará.
Discipline-se a confiar no amoroso Deus.
5. O am or de Deus. O amor é o atributo moral de
Deus, que o leva a manter um permanente relacionamento
com o ser humano, buscando-lhe sempre o bem e proporcio­
nando-lhe os meios mais eficazes, a fim de que a nossa feli­
cidade seja espiritual, emocional e fisicamente plena. Embora
ajamos sido alijados de seu Reino, em conseqüência da trans­
gressão de nossos primeiros genitores, continua Ele a amar-
nos com um amor eterno. Por isto, entregou o Unigénito para
resgatar-nos do pecado, através de sua morte e ressurreição.
130
confiando firmemente em Deus

Por conseguinte, todos os atos de Deus são amorosos


(Rm 5.5). Mesmo que nos sejam dolorosos no presente, tra­
zem-nos inefáveis consolos no porvir. Confiemos, pois, em
Deus até mesmo onde o consolo é impossível. Se os homens
vêem apenas lágrimas, enxergamos nós o lenitivo que ema­
na do coração de Deus diretamente para o nosso coração (Is
49.13). Nos momentos mais lutuosos, ouvimos-lhe a voz:
“Não temas”. Como viver sem este amor?
III. EXEM PLOS DE C O N FIA N Ç A EM DEUS
No Salmo 37, como vimos, Davi demonstra quão grande
era a sua confiança nas provisões do Todo-Poderoso. Embora
tivesse os motivos todos para viver angustiosamente, sabia ele
que Deus estava cuidando de si. Logo: não havia motivos para
temer.Vejamos, pois, outros exemplos nas Sagradas Escrituras.
1. Abraão. Era o crente Abraão tão confiante no Senhor
que, mesmo diante da desesperança, cultivava a esperança em
Deus (Rm 4.18). Eis o testemunho que lhe dá o autor da
Epístola aos Hebreus:
“Pela fé, também, a própria Sara recebeu poder para ser
mãe, não obstante o avançado de sua idade, pois teve por fiel
aquele que lhe havia feito a promessa. Por isso, também de
um, aliás já amortecido, saiu uma posteridade tão numerosa
como as estrelas do céu e inumerável como a areia que está na
praia do mar” (Hb 11.11,12).
Todas as circunstâncias contra Abraão; todavia, nosso pai
na fé sabia perfeitamente: aquEle que lhe fizera as promessas
jamais seria pego de surpresa por aquilo que os homens consi­
as Disciplinas da vida cristã

deram impossível. Aliás, a especialidade de Deus é, justamente,


trabalhar as coisas, tidas por nós, como impossíveis.
2. JÓ. No auge de suas provações, demonstra o patriar­
ca Jó que a sua confiança em Deus continuava inabalável:
“Porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levan­
tará sobre a terra” (Jó 19.25).
Tudo na vida de Jó fora destruído: família, bens, saúde
e reputação. Aos olhos humanos, era o patriarca uma ruína.
Sob o olhar do Altíssimo, contudo, era um vaso que, na forna­
lha, estava depurando-se até que chegasse à máxima perfeição.
Hoje, quando lemos o livro de Jó, aprendemos: No ardor da
prova, Deus nos reconstrói até que nos transformamos em
vasos úteis para o seu Reino.
3. Paulo. Apesar de enfrentar tantas dificuldades em seu
ministério, Paulo possuía uma confiança singular naquele que
tudo realiza e opera: “Porque eu sei em quem tenho crido e
estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito
até àquele Dia” (2 Tm 1.12).
Quando lemos o capítulo 12 da Segunda Epístola de
Paulo aos Coríntios, deparamo-nos com um homem que, à
semelhança do Senhor, sofria e sabia o que era sofrer. No
entanto, jamais se deixava amargurar; porque sabia em quem
tinha crido. Oferecido já como libação pela Igreja de Deus,
sua confiança no Senhor era incomum.
Você realmente confia em Deus? Tem absoluta con­
fiança em sua providência? Então viva placidamente. Temos
de saber em quem temos crido.
132
confiando firmemente em Deus

IV. CO M O E X ER C ER A N O SSA
C O N FIA N Ç A EM DEUS
De que maneira cultivaremos a nossa confiança em
Deus? A Bíblia ensina-nos a andar de valor em valor sem ja­
mais desfalecer. Observemos, pois, como cultivar a nossa con­
fiança em Deus.
1. Vivendo pela fé. Habacuque, num momento de
aparente crise espiritual, ouviu do Senhor esta maravilhosa
expressão que, séculos mais tarde, seria citada pelo apóstolo:
“Mas o justo viverá pela sua fé” (Hc 2.4).
A fé não significa apenas acreditar na existência de Deus;
significa ter absoluta confiança na intervenção divina em todas
as instâncias da vida. Crer que Deus existe é fácil; é urgente, po­
rém, que nos depositemos incondicionalmente em suas mãos.
Viver pela fé faz do homem um justo tanto diante de
Deus como perante seus semelhantes. Afinal, como realça
Paulo, os que recebemos a Cristo, somos justificados pela fé
e pela mesma fé somos salvos. Então, viva pela fé; é o melhor
caminho para a nossa felicidade.
2. Vivendo sem ansiedade. A falta de confiança em
Deus gera ansiedade, e a ansiedade acaba por dar à luz a de­
pressão. Por isto, o conselho de Paulo tem de ser aplicado por
aqueles que anseiam um viver brando e pacífico, conscientes
de que Deus está no comando de tudo: “Não andeis ansiosos
de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de
Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações
de graças” (Fp 4.6).
133
as Disciplinas da vida cristã

O que nos representam as ansiedades? Não passam, às


vezes, de temores infundados. Há os que tanto medo têm de
um possível terremoto que acabam por morrer de um ataque
cardíaco. Então, de que nos adiantam as ansiedades? Poderão
estas proporcionar-nos longevidade? Aliás, elas sempre termi­
nam por nos roubar a brevidade da existência. O que confia
no Senhor, porém, mantém-se forte e inabalável diante das
intempéries que se abatem sobre a nossa vida.
3. Vivendo em oração. Aos irmãos cie Tessalônica, re­
comenda Paulo:“Orai sem cessar”. O que isto significa? Antes
de mais nada, temos de apresentar ao Senhor todas as nossas
petições, na certeza de que Ele é poderoso para no-las suprir.
(?) crente que vive em oração desenvolve uma profunda
dependência de Deus e uma conseqüente independência em
relação ao mundo. Quanto mais dependente de Deus mais in­
dependente de um mundo cruel e pecador. Nada o abala. Ainda
que os montes transportem-se para o meio dos mares, o seu co­
ração firme permanece; ele confia singularmente em Deus.
4. Vivendo a Bíblia Sagrada. O general Josué rece­
beu do Senhor esta recomendação: “Não cesses de falar cieste
Livro da Lei; antes, medita nele dia c noite, para que tenhas
cuidado de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então,
farás prosperar o teu caminho e serás bem-sucedido” (Js 1.8).
Sempre que formos assaltados por alguma dúvida, ou
surpreendidos por alguma tormenta, lembremo-nos do Santo
Livro e das promessas que se acham aí consignadas. Agindo
assim, aprenderemos a viver de modo vitorioso; nenhum mal
nos atingirá.
134
confiando firmemente ern Deus

CO NCLUSÃO
Confia você inteiramente em Deus? Ele se acha ao
nosso redor, levando-nos a viver triunfantemente em Cristo
Jesus. Basta confiar em Deus e crer em suas promessas que
“são mui ricas para nos valer”. E por isto que, em nossos cul­
tos, louvamos a Deus, proclamando: “firmes nas promessas do
meu Salvador”.
Não se deixe abalar pelas circunstâncias; firme-se no
Deus eterno; somente Ele far-nos-á habitar nas regiões celes­
tiais em Cristo Jesus.

135
13

som ente
urna ivreja Avivada
pode m udar
a H istó ria do B rasil

IN TR O D U Ç Ã O
Vivia a Inglaterra um dos períodos mais críticos de sua
história. A corrupção já havia tomado conta de todos os escalões
do governo; a justiça estava enferma; a moral debruavase pelas en­
lameadas saijetas de Londres. A prostituição e a jogatina armavam
suas tendas em cada logradouro. Nesta época crivada de frustrações
e desesperanças, o consumo de bebidas alcoólicas aumentara as­
sustadoramente. Os ingleses enrbriagavam.se tanto, que não conse­
guiam voltar para casa. Muitos caíam pelas ruas e lá ficavam até se
enregelarem; morriam como se fossem cães sarnentos.
O século XVIII apressavase em sepultar a brava nação
saxônica.
as Disciplinas da vida cristã

Os ministros anglicanos não diferiam muito dos re­


presentantes de Roma. Estavam mais preocupados com o seu
bemestar do que com a saúde espiritual dos paroquianos. Os
requisitos da Grande Comissão não eram observados, nem
levados em consideração os reclamos de uma vida piedosa e
santa. Para a igreja oficial britânica, religião era sinônimo de
prestígio, poder e riqueza.
Foi por esta época que o filósofo Voltaire visitou a
Inglaterra. Ao retornar a Paris, optou por ficar com o seu ce­
ticismo; parecialhe este melhor que a emproada religiosidade
de Cantuária.
Deus, porém, não havia abandonado as ilhas britânicas.
Estava prestes a enviar-lhes alguém com uma mensagem tão
poderosa, que as abalaria do Canal da Mancha ao Mar do
Norte. Centrada na plenitude do Evangelho de Cristo, esta
mensagem haveria também de sacudir a América e as mais
distantes possessões de Sua Majestade.
Este alguém seria John Wesley, um dos maiores evan­
gelistas de todos os tempos. Deus o usaria de maneira singular
para anunciar o Evangelho aos ingleses, e educar a Igreja de
Cristo nas ilhas britânicas.
Após anos de intenso preparo espiritual, o intrépido
evangelista dá início a um trabalho que, na opinião de abali­
zados historiadores, livraria o povo inglês de uma revolução
semelhante àquela que tantos transtornos trouxe à França. A
partir de Wesley, começa a Inglaterra a experimentar um gran­
de progresso. Os ingleses compreendem finalmente a eficácia
deste textoáureo:“Feliz é a nação cujo Deus é o Senhor”. Em
138
somente uma igreja Avivada pode mudar a História do Brasil

pouco tempo, ingressa o estado britânico numa nova e decisiva


fase de sua história.Juntamente com a prosperidade espiritual,
aportam naquelas terras a fartura e a segurança. Confirmaria
mais tarde a rainha Vitória ser a obediência à Palavra de Deus
a razão da grandeza e singularidade da Inglaterra.
E de um despertamento assim que necessita o Brasil.
Sem este sopro do Espírito, não conseguiremos sair do maras­
mo em que nos encontramos. Nosso país há de ser sacudido
pelo poder de Deus; doutra forma: não resistiremos as prova­
ções que se avizinham de nossas crônicas. Necessitamos deste
mover do Espírito para que venhamos a ter, brevemente, a
colheita da década.
Como os educadores cristãos fugiremos a esta respon­
sabilidade? O avivamento começa justamente pelo ensino
persistente, sistemático e amoroso das Sagradas Escrituras. A
história se cala a respeito dos avivamentos deflagrados sem o
imediato retorno à Palavra de Deus. Queremos, de fato, um
avivamento?Voltemos urgentemente ao magistério da Bíblia?
Ensinemos ao povo de Deus ser este o único caminho para a
Igreja de Cristo reviver os dias de refrigérios.
I. O M O M ENTO MAIS DECISIVO DE
N O SSA H ISTÓ RIA
Nesta altura tão dolorosa de nossa história, urgenos ar­
vorar como a voz profética da Igreja de Cristo. Somente assim
a pátria há de sobreviver moral e espiritualmente. As medidas
tomadas, até agora, pelas autoridades, visando sanear nossas
instituições, têmse revelado inócuas e ineficazes.Vivemos uma
situação semelhante á de Roma. Lá, segundo o filósofo fran-
139
as Disciplinas da vida cristã

cês, Montesquieu, morriam os corruptos, mas ficava a cor­


rupção. Exibiase esta como se fora uma hidra; morria nunca.
Outras vezes, renascia como o phoenix; embora cinzas, cobria
o capitólio.
Não é o que vem acontecendo ao nosso país? Com a
abertura política da década de 1980, fomos induzidos a pen­
sar que o Brasil se reergueria moralmente. Passada a primei­
ra euforia, reparamos que a corrupção continuava a desafiar
a Nova República e a afrontar nossas mais caras heranças.
Davam à corrupção, agora, outros nomes; não deixava, porém,
de ser corrupção. Apesar dos métodos novos, corrupção. Já se
conclui, pois, que o problema de nosso país não é moral: é
espiritual. Não é uma luta que se trava no campo da ética, ou
no terreno do direito. É uma batalha que se rompe nas regiões
celestiais, onde Satanás busca deturpar as nações para fortale­
cer o seu reino. Aliás, este é um conflito tão antigo, quanto a
própria história do homem. E só ler o capítulo 10 de Daniel
para se inteirar das astutas e inescrupulosas intervenções do
adversário no governo dos Estados.
Se a luta é espiritual, as armas hão de ser espirituais. Se
as leis que regem esta guerra são também espirituais, por que
lançar mão de recursos tão humanos? De forças tão débeis?
De aparências tão aparentes? Esta guerra mal combatida, le­
vou o nosso país a enfermarse gravemente. Para a desventura
desta geração, não há mais centros de tratamento intensivo. O
atendimento já é feito nos corredores do poder, nas macas do
oportunismo e com os garrotes que nos deixaram os coloni­
zadores. Tendo em vista o gravíssimo estado clínico de nossa
pátria, afirmou, certa feita, Miguel Pereira: “O Brasil é um
vasto hospital”.
140
somente um a igreja avivada pode m udar a História do Brasil

Como diagnosticar a doença que definha o Brasil? Rui


Barbosa, diagnosticoua desta forma: “Todas as crises, portanto,
que pelo Brasil estão passando, e que diaadia sentimos crescer
aceleradamente, a crise política, a crise econômica, a crise fi­
nanceira, não vêm a ser mais do que sintomas, exteriorizações
parciais, manifestações reveladoras de um estado mais profun­
do, uma suprema crise; crise moral”.
O grande tribuno baiano estava certo. Acredito, toda­
via, não ter ele descoberto a verdadeira gravidade da doença
que, desde o seu tempo, vem debilitando o organismo deste
grande pais. Neste particular, Paulo Mendes Campos foi mais
feliz: “Imaginemos um ser humano monstruoso que tivesse a
metade da cabeça tomada por um tumor, mas o cérebro fun­
cionando bem; um pulmão sadio, o outro comido pela tísica;
um braço ressequido, o outro vigoroso; uma orelha lesada, e
outra perfeita; o estômago em ótimas condições, o intestino
carcomido de vermes... Esse monstro é o Brasil”.
Ora, nenhum exercício de lógica é necessário para se
descobrir que há um tumor carcomendo o vigor de nossa pá­
tria. Por mais que intervenham os médicos, este tumor cresce,
alastrase e deita raízes nos tecidos ainda sãos. Como deter esta
metástase? Por mais que se abra este organismo,já desfigurado
por tantas cirurgias, o velho câncer não cede. Lá está ele ata­
cando os anticorpos e aumentando seu raio de ação. Será que
as fibras deste corpo corromperseão todas? Como povo de
Deus, não podemos nos conformar com esta intumescência
maligna.
Se a Igreja no Brasil cumprir cabalmente a sua missão
profética e sacerdotal, o castelo da corrupção, que se ergue
141
as Disciplinas Ha vida cristã

em todos os rincões da pátria, há de ser abalado. Sim, há de


ser abalado este maldito castelo e as suas portas não hão de
resistir ao ímpeto do povo de Deus. No entanto, como agi­
remos como modelo, se deixarmos de ser paradigma? Como
nos conduziremos como voz, se já nos calamos nos como­
dismos de uma denominação que deveria continuar movi­
mento? Como haveremos de modificar a política de nosso
país se as armas que agora contamos são apenas os liames
partidários?
Que as nossas armas, doravante, sejam as mesmas de
John Knox. Este campeão de Deus conseguiu alterar pro­
fundamente, não apenas a política, como também a mesma
história de seu país. Que segredo detinha Knox? Oração e
confiança irrestrita na intervenção divina no curso da histó­
ria. Nas caladas de sua aflição, orava: “Senhor, dáme a Escócia
senão morrerei! Dáme a Escócia, senão morrerei!” Que inter­
cessão dolorida e sacrificial!
Espero que ainda haja homens como John Knox
em nosso país. Embora lhes acenem os favores seculares,
mantenham reservas morais necessárias para se conduzi­
rem como profetas e sacerdotes. Nunca o mundo careceu
tanto de ambos os ministérios como hodiernamente. Que
os ministros do Senhor se ergam para condenar o peca­
do; não se esqueçam, todavia, de interceder por aqueles
que caminham para o inferno. Que tenham voz e lágri­
mas, exemplos e conselhos! Ao invés de se curvarem ante
os poderosos, demonstrem suficiente fibra para interpretar
a escritura na parede, e desvendar as alucinações dos que
detém o mando. Ajamos assim e haveremos de alterar nossa
história.
142
somente uma ivreja A v i v a d a pode mudar a História do B r a s i l

II. É H O R A DE ALTERAR
N O SSA H ISTÓ RIA
O que a Igreja de Cristo, no Brasil, poderá fazer para
alterar nossas feições histórias? Em primeiro lugar, há de se
portar como a agência educadora do Reino de Deus. Que ela
cumpra todos os ditames da Grande Comissão.
Não nos esqueçamos de que foi exatamente assim que
João Calvino deu novos rumos à Suiça cio século XVI. E mu­
dando o caráter dos homens que se muda a sociedade; é mu­
dando os indivíduos que se muda o Estado e o itinerário de
uma história já caótica e já viciada. De nada nos adianta, agora,
propugnar por uma mudança mais radical em nossa sociedade,
se não lutarmos para mudar o ser humano.
Como Igreja de Cristo, não podemos esquecer-nos de
nossa tríplice missão. Fomos chamados para ser uma nação real,
sacerdotal e profética. Como nação real, fomos chamados para
reinar na vida através de Cristo Jesus. Como nação sacerdotal,
jamais haveremos de nos esquecer de rogar para que o Senhor
abençoe nossos patrícios e conduzaos à vida eterna. E, como na­
ção profética, cumprenos proclamar a Palavra de Deus. Quando
desempenharmos plenamente nossa missão, arrancaremos o
Brasil deste atoleiro. A solução para os nossos problemas não está
numa mera mudança de cenário político, e, sim, numa mudança
de rumos em nossa história. E isto será feito, sim, porque havere­
mos de buscar o avivamento de que tanto necessitamos.
Socorramos, pois, o Brasil enquanto é tempo. A seme­
lhança de John Wesley, podemos alterar os destinos de nossa
pátria, através da anunciação da Palavra de Deus.
143
as Disciplinas da vida cristã

CO NCLUSÃO
Esta c a nossa sublime e intransferível missão. Como
educadores a serviço do Reino de Deus, haveremos de im­
plementar o estudo persistente, regular, sistemático e intensivo
das Sagradas Escrituras. Somente assim, o Senhor Jesus enviará
o avivamento de que tanto necessitamos.
Você quer este avivamento? Ensine a Palavra. Deseja
este mover do Espírito? Ministre a Palavra? Almeja por es­
tes tempos de espiritual refrigério? Divulgue a Palavra. Sonha
com esta poderosa visitação dos céus? Cumpre o seu ministé­
rio; exerça o seu mister como educador cristão.

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