Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
A ORAÇÃO
QUE MUDOU A
HISTÓRIA DE
ISRAEL
© 1999 Editora Árvore da Vida
Todos os direitos reservados à Editora Árvore da Vida Proibida a reprodução total ou parcial deste
livro sem autorização escrita dos editores.
As citações bíblicas são da Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida, 2a Edição,
salvo quando indicado pelas abreviações: lit. - tradução literal do original grego ou hebraico IBB -
Rev. - Imprensa Bíblica Brasileira, versão Revisada VRC - Versão Revista e Corrigida de Almeida
BJ - Bíblia de Jerusalém
PREFÁCIO
A ANGÚSTIA DE ANA
Ana era esposa de Elcana, um levita que morava nas regiões montanhosas
de Efraim. Ela não podia gerar filhos, pois Deus a deixara estéril. Então
Elcana tomou por esposa outra mulher, cujo nome era Penina (1 Sm 1:1 -2).
Cremos que ele tenha feito isto não porque lhe faltasse amor por Ana, sua
primeira esposa; pelo contrário, Elcana a amava muito, ainda que ela não
lhe pudesse dar filhos. Foi-lhe necessário tomar outra esposa porque, entre
o povo de Israel, ter uma descendência era crucial para manter e guardar a
herança que cada família de cada tribo havia recebido ao chegar à terra de
Canaã. Não havendo filhos, perdia-se a herança.
Os levitas faziam parte da tribo que dentre as doze tribos de Israel fora
especialmente escolhida por Deus para servi-Lo. E Deus havia ordenado
aos filhos de Israel que dessem cidades aos levitas, em que habitassem (Nm
35:2). Elcana e família moravam nas regiões montanhosas de Efraim, e de
ano em ano subiam a Silo a fim de adorar e oferecer sacrifícios a Deus. Por
um lado ofereciam sacrifícios, e, por outro, desfrutavam de tudo aquilo que
Deus lhes havia preparado.
Penina, provavelmente se orgulhava pelo fato de ter gerado filhos para
Elcana, e talvez provocasse Ana dizendo: “Eu posso gerar filhos para meu
marido, mas você não”. Por outro lado, é possível que Penina se sentisse
enciumada ao ver a maneira como Elcana tratava Ana. Todas as vezes que
iam a Silo, do sacrifício que ali oferecia, Elcana lhe dava porção simples ao
passo que para Ana dava porção dupla, pois a amava (1 Sm 1:5).
Inconformada com isso, Penina a provocava excessivamente para irritá-la
(v. 6).
Essa situação afligia o coração de Ana, que chorava e não comia. Ana se
encontrava numa situação difícil, pois embora seu marido a amasse, Deus
lhe havia cerrado a madre, e sua rival a desprezava ao máximo. Elcana, por
sua vez, tentava consolá-la, dizendo: “Não te sou eu melhor do que dez
filhos?”. Mas Ana ainda continuava triste; não comia e só pranteava (v. 7).
Vários versículos mostram a angústia que Ana sentia: sua alma estava
amargurada (v. 10); em seu espírito, ela estava atribulada (v. 15); por isso se
encontrava excessivamente ansiosa e aflita (v. 16). Seu sofrimento atingiu
um ponto de tal maneira insuportável que ela não teve outra saída a não ser
ir à presença de Deus. Por causa de toda essa situação dolorosa, Ana orou.
ANA ORA
Por causa dos próprios problemas
“Levantou-se Ana e, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou
abundantemente. E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos, se
benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e
da tua serva te não esqueceres, e lhe deres um filho varão, ao Senhor o
darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará
navalha” (1 Sm 1:10-11). Podemos separar a oração de Ana em três partes.
A primeira mostra sua aflição e amargura, que resultaram numa oração não
tão “espiritual”. Seu desejo era ter um filho, pois sendo estéril sentia-se
aflita e amargurada; e se tivesse um filho não mais sofreria o desprezo e a
provocação de Penina, sua rival. Portanto sua oração no princípio procurava
resolver um problema pessoal. Não sabendo como resolver esse problema
nem como ser libertada de sua aflição e angústia, Ana orou.
Apesar de estar orando por sua situação pessoal, a oração de Ana abriu
caminho para que Deus agisse. Ana não se preocupou em saber se sua
oração estava certa ou errada, mas simplesmente orou. Isso mostra que
muitas vezes temos certos conceitos, principalmente quanto ao que é uma
“oração espiritual”.
Certa vez fui a uma reunião onde os irmãos ficaram invocando o nome do
Senhor uma, duas, três... vinte vezes e nenhuma outra palavra foi dita.
Então eu lhes disse: “Irmãos, invocar o nome do Senhor é muito bom, pois
ao invocá-Lo entramos no espírito (1 Co 12:3); porém, se depois de
invocarmos várias vezes, nenhuma outra palavra for proferida, deixamos de
desfrutar aquilo que o Senhor nos quer dar naquela reunião. É como quando
vamos a um restaurante: primeiro desfrutamos o prato de entrada, e em
seguida, os pratos principais. Se quando nos reunimos apenas invocamos o
nome do Senhor, é como ir ao restaurante e ficar comendo o prato de
entrada uma, duas, três vezes... e não se importar com os pratos principais.
Não fiquemos pensando sobre o que orar, tampouco fiquemos ensaiando
como orar, mas oremos. Vejam o exemplo de Ana: sua oração no início foi
bastante simples: ‘Senhor, olha para a aflição da Tua serva, lembra-Te de
mim’. Foi assim que Ana começou sua oração”.
A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO
O TABERNÁCULO
O tabernáculo, conforme o registro do Antigo Testamento, era composto
de três partes: o átrio, o Santo Lugar e o Santo dos Santos. No deserto, o
átrio exterior era como um muro feito de cortinas de linho sustentadas por
colunas, que servia para fazer separação entre o que era comum e o que era
santo. No interior do átrio havia o tabernáculo propriamente dito, algo
parecido com uma cabana retangular, que possuía dois compartimentos: o
Santo Lugar, e mais interiormente o Santo dos Santos. Na entrada do Santo
Lugar, à frente do tabernáculo, havia um véu que era chamado de primeiro
véu. Depois, entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos havia uma
separação, o segundo véu. Êxodo 26 nos diz que o tabernáculo era fechado
por tábuas nas laterais e no fundo, num total de quarenta e oito tábuas
sustentadas por bases feitas de prata e unidas umas às outras por travessas
de ouro, que mantinham em pé as tábuas. Por cima, ele era coberto por
quatro camadas de cortinas; a mais interna era de linho fino retorcido e a
mais externa era de peles de animais marinhos. No interior do Santo Lugar,
na parte voltada para o norte, foi colocada a mesa dos pães da proposição
(Êx 40:22-23); o candelabro foi colocado ao sul (v. 24); e o altar de ouro de
incenso ficava diante do segundo véu, diante do Santo dos Santos (vs. 26-
27). No Santo dos Santos estava a arca, e dentro dela estavam as duas
tábuas da aliança. Sobre a arca foi colocado o propiciatório, uma espécie de
tampa feita de ouro, sobre a qual havia dois querubins (vs. 20-21). No Santo
Lugar somente os sacerdotes podiam entrar, e no Santo dos Santos somente
o sumo sacerdote.
Nós, que estamos no Novo Testamento, possuímos a realidade do lugar de
habitação de Deus, pois hoje somos a realidade do templo de Deus. Que é a
arca? A arca representa Cristo. E onde Cristo está hoje? Ele está em nosso
espírito (Rm 8:9-10; 2 Tm 4:22). Portanto, nosso espírito é hoje o Santo dos
Santos. O Santo Lugar representa nossa alma, e o átrio exterior representa
nosso corpo. Além disso todos nós fomos feitos um reino de sacerdotes por
meio de Jesus (1 Pe 2:9; Ap 5:9-10); portanto, agora podemos orar
diretamente a Deus, sem nenhum intermediário.
É importante termos uma compreensão adequada dos tipos do Antigo
Testamento, pois eles nos ajudam a ver os detalhes das experiências
espirituais. Aparentemente, hoje é muito fácil orar, porque não mais temos
as complicações do testamento antigo. Porém, para que isso fosse possível
algo teve de acontecer. Muitas vezes, não damos valor às coisas espirituais
por não vermos tudo o que nelas está implícito. Para que possamos
valorizar mais essa questão de irmos à presença de Deus por meio da
oração, o escritor do livro de Hebreus fez uma comparação entre o que era
praticado no Antigo Testamento e o que experimentamos hoje no Novo
Testamento.
Vejamos como foi descrito o tabernáculo em Hebreus 9. O versículo 2
diz: “Com efeito, foi preparado o tabernáculo, cuja parte anterior, onde
estavam o candeeiro, e a mesa, e a exposição dos pães, se chama o Santo
Lugar”. De acordo com o descrito acima, no tabernáculo, cuja parte anterior
é o Santo Lugar, vemos a mesa dos pães da proposição e o candelabro.
Prosseguindo: “Por trás do segundo véu se encontrava o tabernáculo que se
chama o Santo dos Santos, ao qual pertencia um altar de ouro para o
incenso e a arca da aliança” (vs. 3-4a). Atrás do segundo véu, no Santo dos
Santos, estavam o altar de incenso e a arca da aliança. O registro aqui está
diferente de Êxodo 40. No Antigo Testamento o altar de incenso ficava no
Santo Lugar, diante do véu. Mas em Hebreus está escrito que o altar de
incenso estava além do véu, dentro do Santo dos Santos. Por que esses dois
registros são diferentes? Será que o altar de incenso mudou de lugar ao
longo dos tempos? Ou será que um dos escritores se equivocou? É muito
provável que o escritor desse livro tenha sido Paulo; mesmo que não fosse
ele, o escritor não se equivocaria, pois aqui há um significado espiritual
muito profundo. Para não fugirmos do contexto central da mensagem, que é
a oração de Ana, não vamos falar sobre a mesa dos pães, nem sobre o
candelabro, nem sobre a arca; vamos apenas falar sobre o altar de ouro para
incenso.
O APÓSTOLO
Se Moisés não era sumo sacerdote, por que ele tinha esse privilégio? Qual
era a sua posição no Antigo Testamento? Moisés podia servir a Deus porque
era um levita, mas não era sacerdote nem sumo sacerdote. Então, qual era a
posição de Moisés? Hebreus 3:1-2 nos explica: “Por isso, santos irmãos,
que participais da vocação celestial, considerai atentamente o Apóstolo e
Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus, o qual é fiel àquele que o
constituiu, como também o era Moisés em toda a casa de Deus”. De acordo
com estes versículos, Jesus é o Apóstolo. De acordo com o texto, Moisés
também era um apóstolo. Ser um apóstolo é ser enviado por Deus para fazer
o que Ele quer. Ser apóstolo é ser como Moisés, um servo fiel que foi
estabelecido por Deus como Sua testemunha, tendo sido por isso
comparado a uma das quatro colunas que havia entre o Santo dos Santos e o
Santo Lugar. No livro de Gaiatas vemos que Pedro, João e Tiago eram
considerados colunas da igreja. Eram colunas que ficavam voltadas para o
lado de dentro do Santo dos Santos, diante da arca do testemunho. Isso nos
mostra que ser uma coluna na igreja é ser alguém que sempre está diante de
Deus.
Hoje, graças ao Senhor, todos podemos entrar nos Santo dos Santos.
Todos podemos ter comunhão com Deus; podemos estar diante Dele, assim
como Moisés. Todos nós estamos incluídos no ministério da nova aliança (2
Co 3:4-18). Na comunhão com Deus, o rosto de Moisés tornava-se
resplandecente, porém, a glória que brilhava em seu rosto, pouco a pouco se
desvanecia; por isso ele tinha de usar um véu sobre o rosto para que o povo
não visse a terminação da glória do seu rosto. Nós, porém, podemos, com o
rosto desvendado, contemplar e refletir a glória do Senhor. Portanto,
apóstolo é antes de tudo alguém que vive em íntima comunhão com Deus, e
por isso pode ser enviado por Ele para ser Sua testemunha.
Ser um apóstolo também implica ser enviado por Deus para fora do
arraial, isto é, ser enviado para pregar o evangelho aos gentios, para
anunciar as boas novas aos que estão fora do arraial. Jesus, como apóstolo,
saiu fora do arraial, ao ser rejeitado pelos judeus religiosos. E nós, por
desfrutarmos da Sua presença no Santo dos Santos, que é o nosso espírito,
somos energizados e encorajados a tomar o estreito caminho da cruz na
terra, carregando seu vitupério (Hb 13:12-13).
Por exemplo, ao ir para determinada cidade e após pregar o evangelho e
as pessoas serem salvas, você pode estabelecer uma reunião de casa ali.
Além disso, Deus também levará você a cuidar dos irmãos que foram
salvos, suprindo-os com Sua Palavra. Por meio do suprimento da Palavra, a
vida de Deus crescerá neles, e assim pouco a pouco a igreja ali será
edificada. Neste sentido cada um de nós pode ser um apóstolo, alguém
enviado por Deus. No entanto, não se autodenomine apóstolo para sua
própria vangloria. O que nos importa é a função de apóstolo, não o título
nem a posição de apóstolo. É o desempenho da função de apóstolo que leva
as pessoas à salvação, cuidando delas a fim de crescerem espiritualmente
para a edificação da igreja.
O PROFETA
Moisés também foi chamado de o profeta. Ele foi um profeta especial,
alguém que falava face a face com Deus. Com outros profetas Deus falava
por meio de visões e de sonhos, mas com Moisés Ele falava face a face, no
Santo dos Santos. Por isso ele era chamado de o profeta, pois não era um
profeta comum. O Senhor Jesus também foi chamado de o Profeta, mas Ele
é o Profeta superior, diante do qual todos os outros se calam, e a quem hoje
devemos ouvir (Mc 9:7).
No Novo Testamento, Deus fala conosco e, por isso, nós podemos falar
por Ele. No Novo Testamento, profetizar é diferente de predizer, prática
comum em muitas religiões. Ser um profeta, no sentido bíblico original,
significa ser alguém que fala por Deus (1 Co 14:3, 19, 24-25).
Em pequenas reuniões de casa todos têm oportunidade de falar por Deus,
já que numa reunião assim o número de pessoas é pequeno. É como a figura
da mesa da proposição que ficava no Santo Lugar. Na mesa havia doze pães
que representam o alimento espiritual que cada um pode compartilhar com
os outros. Caso nas reuniões de casa haja doze pessoas, cada uma pode
“comer um pão”. Se porém houver vinte ou mais pessoas, cada uma terá
apenas um pequeno “pedaço de pão”, isto é, a oportunidade para falar terá
de ser dividida com mais pessoas, e, assim, cada uma irá profetizar menos
pelo Senhor. Portanto, quando o número excede a doze, é melhor
multiplicar-se em dois grupos; mas se o número é menor podemos “comer
mais de um pão”, porque há mais oportunidade de profetizar pelo Senhor.
Nas reuniões de casa, somos treinados a falar por Deus. Mesmo quem
nunca falou por Deus, nas reuniões de casa pode aprender a falar; não é tão
difícil assim. Em 1 Coríntios 12:2-3 diz-se: “Sabeis que, outrora, quando
éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis
guiados. Por isso vos faço compreender que ninguém que fala pelo Espírito
de Deus afirma: Anátema, Jesus! por outro lado, ninguém pode dizer:
Senhor Jesus! senão pelo Espírito Santo”. No passado, pelo fato de
adorarmos ídolos mudos, nos tomamos “mudos” para falar as coisas de
Deus. Deus é vivo e fala, e todos nós podemos falar, o que não significa
que, necessariamente, todos tenham o ministério de profeta. Isso mostra que
espiritual não é o que tem boa eloquência ou que ora bem. Se é alguém que
declara que Jesus é o Senhor, ou que invoca: Senhor Jesus, então você é
espiritual e poderá vir a ser um profeta. Sempre que proclamar que Jesus é o
Senhor, você estará profetizando.
Nas reuniões de casa, onde há oito ou doze irmãos, todos podem falar, ler
a Bíblia, compartilhar experiências, cantar e orar. Que desfrute é! Numa
reunião pequena assim também há tempo suficiente para orar. Não
precisamos de um “orador” profissional que ore em nosso lugar; tampouco
precisamos preocupar-nos com a maneira como iremos orar. Por temer que
suas orações não sejam adequadas, isto é, não tenham palavras bonitas nem
sejam gramaticalmente corretas, muitos irmãos não oram. Mas a reunião de
casa tem ambiente familiar, por isso, pouco a pouco, todos ficam à vontade
para pronunciar algumas sentenças, e, com certeza, em pouco tempo
também poderão orar como Ana.
Todos podemos ser pessoas de oração, como Ana. Ana conseguiu orar
segundo a vontade de Deus focando no Seu propósito para com o povo. Sua
oração foi levada diante do altar de incenso e o incenso foi acrescentado. A
oração de Ana foi realmente muito boa. Tudo isso foi revelado para nos
mostrar que, ao orar, não precisamos fazer uma redação, com início, meio e
fim. Se oramos bem ou mal, isso não importa. O importante é orar. O
Senhor mesmo é quem acrescenta incenso; Ele intercede por nós; Ele é
nosso sumo sacerdote que já penetrou o véu. Não se esqueça: A oração de
Ana simplesmente nos mostra que devemos e podemos orar. Já nos foi
aberto um novo e vivo caminho até à presença de Deus. Todos podemos
profetizar e também ser enviados por Deus para introduzir outras pessoas
no Santo dos Santos. Quando oramos em Deus, o incenso é acrescentado à
oração. Deus fala conosco e somos motivados a falar por Ele, introduzindo
outros na mesma experiência. Não podemos parar de orar, pois somente os
que oram conhecem de fato a vontade de Deus.
Sumário
PREFÁCIO
Capítulo Um
A ORAÇÃO QUE MUDOU A HISTÓRIA DE ISRAEL
Capítulo Dois
A IMPORTÂNCIA DA ORAÇÃO