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Ana, A Mulher que Acreditava na Oração 1

ANA, A MULHER QUE ACREDITAVA NA ORAÇÃO

"As pessoas importantes da terra, hoje em dia, são as que


oram. Não me refiro às que falam sobre a oração; nem às que
podem explicar algo sobre a oração; refiro-me, sim, às pessoas
que dão tempo à oração. Não têm tempo de sobra. É
necessário tirá-lo a qualquer outra coisa. Essa qualquer coisa é
importante, muito importante, e urgente, mas, mesmo assim,
menos importante e menos urgente que a oração''.
S. D. Gordon *

1 Samuel 1:9-28

Seriam as dificuldades do seu casamento em parte causadas por ela?


Teria ela, como Sara, insistido com o marido para tomar uma concubina
quando ele descobriu que não teriam filhos? (Gênesis 16:1,2) Ou teria
ela sido incapaz de resistir ao amor de Elcana, tomando-se sua segunda
esposa depois de ele ter casado já com Penina?
Em qualquer caso, Ana não tinha certamente previsto o alcance dos
seus atos. O segundo casamento havia resultado em terrível mal-estar
para cada um dos três membros envolvidos.
Talvez Ana não tivesse culpa. Teria Elcana, aliás um homem
temente a Deus, chegado a ser bígamo por sua própria iniciativa?
Qualquer que fosse a causa, as experiências dela não eram por isso
menos dolorosas.
O Espírito Santo não achou que fosse necessário registrar todos
esses detalhes. Mas a Bíblia diz que Ana era uma mulher que tinha livre
acesso a Deus. O caminho para Ele estava-lhe aberto na base do perdão
dos pecados por meio dos sacrifícios que o marido, como cabeça da
família, fazia regularmente ao Senhor.

*
Design for Discipleship (Modelo para Discipulado), Livro 2 "O Cristão cheio do Espírito": 1973,
The Navigators, Colorado Springs, Colorado.
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Por vezes, uma pessoa é provada até ao âmago do seu ser, e dá a
impressão de que algum poder invisível está em operação para extinguir
a sua vida. Ana deve-se ter sentido assim. Tinha derramado lágrimas sem
fim, porque se sentia abandonada por Deus, uma vez que não possuía
filhos. A outra esposa do seu marido nunca deixava passar uma
oportunidade sem lhe recordar a sua esterilidade.
Elcana, desejando confortar Ana, havia-lhe dito que a amava mais
do que tudo. Não era o seu amor para ela mais do que dez filhos? Ela
sentira-se feliz com esta expressão do seu amor, mas essas palavras
tinham-lhe dado também motivo para reflexão, e ainda a fizeram sentir
mais solitária. Teria Elcana perdido a esperança de alguma vez vir a ter
um filho dela?
Abraão, recordava ela, havia contendido com Deus acerca dum
filho (Gênesis 15:2-6). Isaque, numa situação semelhante, orou a Deus
pela esposa (Gênesis 25:21). E as esposas deles tinham dado à luz,
mesmo tardiamente, filhos que tanto vieram a significar para o seu povo.
Esses filhos constituíam parte do plano de Deus para Israel.
Deus! Ele é o Único que me compreende, o Único que pode ajudar-
me, pensou ela. Voltou ao tabernáculo, só. Lá, derramou a sua alma
perante Deus. Com o coração despedaçado, sem palavras. Ao princípio,
ela nem era capaz de pronunciar alto os seus pensamentos. Então,
quando o seu coração se tinha, de algum modo, aliviado, os seus lábios
proferiram uma oração, embora continuasse silenciosa. "Ó Senhor dos
Exércitos...", começou ela. A maneira como se Lhe dirigia revelava a
visão que dEle tinha. Ele era o Senhor dos Exércitos do céu e da terra, de
todas as coisas que havia criado (Gênesis 2:1). Um imenso exército de
anjos estava à Sua disposição. Ele era o Senhor que tinha realizado
muitos milagres a favor de Israel como nação.
Estas quatro palavras, "Ó Senhor dos Exércitos'', expressavam a fé
que ela tinha na Sua grandeza e poder. (O comentarista Matthew Henry
diz que esta foi a primeira vez que uma pessoa se dirigiu a Deus dessa
maneira). À luz da Sua majestade eu não sou nada, pensou ela. Apenas
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uma serva, uma criada. Repetiu este pensamento três vezes. As palavras
eram escolhidas cuidadosamente. Considerava-se uma insignificante
criatura à luz dum Deus Santo, todavia desejava servi-Lo. Esta era uma
ordem correta de valores, pois ela – embora um humilde ser humano –
podia servir a Deus.
Reconhecendo isto, Ana apresentou-se a Deus com um grande
pedido. Não O ofendeu pedindo-Lhe um pequeno favor. Não se pedem
algumas moedas a um milionário. De um Deus tão grande não podia
esperar menos que um milagre – um autêntico milagre.
Ana não orou duma maneira vaga. Fez um pedido específico. "Ó
Deus, eu quero ter um filho". A sua oração foi seguida por uma
promessa, "Então, ao Senhor o darei por todos os dias da sua vida, e
sobre a sua cabeça não passará navalha". O seu filho, se Deus lho
concedesse, seria um nazireu, um homem dedicado a Ele, que não
beberia vinho e que nunca cortaria o cabelo (Juí 12:3-5).
Estaria Ana realmente a dizer, "Ó Deus, Tu sabes que eu desejo ter
um filho, mas ainda mais do que pedi-lo para mim, eu peço isto para Ti"?
É possível.
A religião do seu povo, isto é, a religião dos sacerdotes, tinha
perdido o seu significado. Tinha-se corrompido. Todavia, Ana havia
preservado a fé, e conservou-a pura. Contudo, a sua influência era
limitada. O que o país necessitava era dum homem que pudesse tornar-se
um elo de ligação entre Deus e o Seu povo, que preenchesse a lacuna e
introduzisse um novo futuro.
Teria o coração de Ana chorado sói por si mesma, ou estaria ela
chorando também por Deus e pelo Seu povo? Seria por isso que a sua
oração teve um impacto tão grande'? Teria ela imaginado que parte podia
desempenhar numa solução espiritual para tal problema nacional? É
possível, embora o relato da Escritura seja demasiado breve para se
determinar isso.
A decaída do povo e do sacerdócio revelava-se também na maneira
como Eli a tratou. Ele mostrou pouca compreensão humana, pouca
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compaixão. "Até quando estará embriagada?'', censurou-a ele. ''Aparta de
ti o teu vinho''. O sacerdote que não ousara tratar com rigor os seus
próprios filhos, não sentiu escrúpulos em tratar Ana desta maneira. O
velho homem revelou uma falta de discernimento e pouco autocontrole.
As suas palavras revelaram também que, naqueles tempos, bêbados
e prostitutas não eram invulgares na casa de Deus. Mesmo os próprios
filhos de Eli dormiam com mulheres que se juntavam à porta do
tabernáculo (1 Sam. 2:22).
Ana, porém, estava na presença de Deus e por isso não sentiu
qualquer desejo de se defender ou justificar. Não expressou qualquer
vergonha ou indignação, mas explicou a situação em poucas palavras.
Eli, tornou-se de repente o que deveria ter sido – o sacerdote de Deus.
Como representante de Deus, disse: "Vai em paz. O Deus de Israel
conceder-te-á a tua petição". Ele não sabia a natureza do pedido dela,
mas como instruído por Deus disse-lhe que fora ouvida.
Com estas palavras, a paz de Deus que acompanha toda a oração
fiel, entrou no seu coração (Filip. 4:6,7). Ela havia levado os seus
cuidados a Deus e deixou-os nas Suas mãos.
''Ora a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova
das coisas que não se vêem" (Heb. 11:1), escreveu, muitos séculos mais
tarde, o autor da Epístola aos Hebreus. Foi isso o que Ana experimentou.
A certeza de que a sua oração fora ouvida penetrou no seu coração.
Exteriormente a mudança foi notável – voltou-lhe o apetite, e o seu rosto
já não tinha qualquer traço de tristeza. Ela vivia a sua fé, confiando de tal
maneira em Deus, que as outras pessoas podiam notá-lo.
Samuel. que significa "ouvido de Deus", nasceu um ano mais tarde.
Então, o significado do próprio nome de Ana – "graciosa" ou "favor" –
começou a ter sentido. Em vez de se mostrar uma mulher negligente,
tornara-se extraordinariamente privilegiada, pois a sua oração havia
marcado um ponto decisivo na história.
Não demorou muito que a Palavra de Deus voltasse a ser ouvida em
todo o Israel (1 Sam. 4:1). O Senhor revelou-Se através de Samuel,
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mesmo quando Samuel ainda era rapaz. De Dan, no extremo norte, a
Berseba, no extremo sul, as pessoas reconheciam que Samuel era um
profeta eleito pelo Senhor.
O povo voltou-se dos ídolos para servir a Deus. A arca do Senhor,
que fora tomada como despojo e desonrada pelos filisteus, voltou (1Sm.
6,7). Os filisteus fizeram a paz com Israel, pois a mão do Senhor esteve
contra eles todos os dias de Samuel. Foram reconquistadas cidades que
haviam sido perdidas em combate.
A fé de Ana viveu no seu filho. Séculos mais tarde, o nome dele
seria mencionado entre os heróis da fé (Heb. 11:32-33), pois ele foi um
dos homens que, através da fé, dominara reinos.
Samuel, que tinha nascido como resposta à oração, e cujo nome
constantemente lhe recordava isso, tornou-se, ele próprio, um homem de
oração. Achava que o fato de o povo não orar era pecado (1 Sm 12:23).
Esta atitude pode ter sido a chave para as muitas respostas que ele
recebeu.
Só a eternidade revelará o que é que Israel, a quem ele serviu como
profeta, sacerdote e juiz, e os muitos milhões que, desde então, têm
estudado a sua vida, devem à vida e ao ministério de Samuel.
Oh, Ana, não foste tu favorecida quando viste os resultados da
resposta à tua oração? E não foste tão privilegiada como Sara e Rebeca
ao veres o teu filho a desempenhar tal papel na história?
Maria, a mãe de Cristo, deve ter sido influenciada pela oração de
Ana e pelo seu comovente cântico de louvor, quando proferiu o
Magnificat (Luc. 1:46-55). Ana sentiu-se muito feliz durante o período
em que o seu filho se desenvolveu até ao ponto de andar. Todavia, isso
passou depressa. E, logo que Samuel foi desmamado, ela cumpriu a sua
promessa e devolveu-o a Deus, de quem o tinha recebido. Desde então,
só o via uma vez por ano, quando ela e seu marido ofereciam sacrifícios
em Silo (1 Sm. 2:19-21). A sua oração fora de natureza radical. Assim foi
a sua dedicação. Ela tinha de oferecer Samuel a Deus, diariamente,
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confiando em que Ele protegeria a fé dele, no meio da corrupção que
presenciava em Eli e nos seus filhos.
Oração, fé e dedicação continuaram a caracterizar a vida dela, pois
Ana sabia que uma pessoa que desse tudo a Deus receberia mais em
troca. Deus nunca será o devedor de alguém. Ele deu-lhe mais cinco
filhos.
Por que é que Ana podia confiar na resposta à oração? Porque soube
preencher os pré-requisitos de Deus. Estes pré-requisitos não estavam
claramente coligidos numa única passagem da Escritura, mas eram
princípios que, no seu andar com Deus, ela sentia e conhecia. Eles
incluíam:
1. Oração na base do pecado perdoado (Sal. 66:13-19).
2. Súplica no nome de Deus, reconhecendo a Sua grandeza (João
16:24).
3. Convicção profunda de que a pessoa nada vale (2 Sam 7:18-29).
4. Formulação duma petição clara e bem definida (Mat. 7:7-11).
5. Desejo de que a vontade de Deus seja feita e de que o Seu Reino
seja estendido (1 João 5:14,15).
6. Oração de fé (Heb. 11:6; Mat. 21:22).

Ana, uma mulher que acreditava na oração


(1 Samuel 1:9-28. Ver também os versículos sobre Penina).

Perguntas:
1. Leia Juízes 21:25 e 1 Samuel 2:11-36. Qual era a situação do
povo, sob o ponto de vista nacional e espiritual?
2. Compare cuidadosamente a oração de Ana com o "Pai Nosso"
(Mateus 6:9-13). Que semelhanças nota?
3. Em que base é que pode concluir que Ana confiava na resposta à
oração?
4. O que é que mais o impressionou no que toca à dedicação de Ana
a Deus?
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5. O cântico de louvor de Ana (1 Samuel 2:1-10) revela os seus
pensamentos mais profundos. O que é que ela pensa de Deus?
6. O que é que Ana recebeu em troca do seu filho que dedicou a
Deus? ( l Samuel 2:21). O que é que isso prova'?
7. Que mudanças observa em Israel no ponto de vista nacional e
espiritual, depois do aparecimento de Samuel? (l Sam. 3:19-4:1; cap. 6, 7).
8. Em que sentido é que o exemplo de Ana poderá influenciar a sua
vida de oração?

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