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São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.
Conselho Acadêmico
Carlos Roberto Pagani Junior
Camila Braga de Oliveira Higa
Camila Turchetti Bacan Gabiatti
Giani Vendramel de Oliveira
Gislaine Denisale Ferreira
Henrique Salustiano Silva
Mariana Gerardi Mello
Nirse Ruscheinsky Breternitz
Priscila Pereira Silva
Tayra Carolina Nascimento Aleixo
Coordenador
Gislaine Denisale Ferreira
Revisor
Juliana Giovanetti Pereira da Silva
Editorial
Alessandra Cristina Fahl
Beatriz Meloni Montefusco
Carolina Yaly
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal
ISBN 978-65-89881-08-7
CDD 347
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O
2021
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PARTE GERAL II E PROCESSO DE CONHECIMENTO I
SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 05
Por fim, haverá o estudo da tutela provisória, que passou por considerá-
vel mudança no CPC/2015. Além de ter havido uma tentativa de unifica-
ção entre a tutela antecipada e a tutela cautelar, houve a criação de um
procedimento antecedente de tutela antecipada, bem como uma regula-
mentação mais detida sobre a tutela da evidência.
5
TEMA 01
MEDIAÇÃO, CONCILIAÇÃO
E A LEI Nº 13.140/2015
Autoria: Ravi Peixoto e Tamyres Tavares de Lucena
Leitura crítica: Juliana Giovanetti Pereira da Silva
Objetivos
6
Introdução
7
A Alemanha, por exemplo, também tem apostado nos meios alternativos e
pacíficos de resolução de conflitos, editando, desde 2000, algumas legisla-
ções, incentivando-as, inclusive, permitindo que os Estados da Federação
imponham, em algumas causas, um procedimento de conciliação obri-
gatório prévio.5 A Itália, também, foi outro país em que a legislação foi
reformada para incentivar a utilização dos meios alternativos e pacíficos
de solução de conflitos6 e há uma efetiva tendência de valorização da te-
mática na Europa.7 Esses métodos de resolução alternativa de conflitos
fazem parte de um projeto de acesso à justiça,8 mas o seu objetivo não é
servir como armas a serem utilizadas para efetivar a duração razoável do
processo, embora indiretamente possam ter esse efeito.9
A presente unidade tem como foco o estudo das implicações dos referi-
dos diplomas normativos na resolução consensual de conflitos pelo po-
der público, especialmente no âmbito administrativo, que foi objeto de
tratamento específico de diversos artigos na Lei nº 13.140/2015.
5
Idem, ibidem, p. 366-368, 371-373. De forma mais detida, sobre a mediação na Alemanha: PEREZ, Adriana Han. A nova lei
alemã de mediação. Revista de Processo. São Paulo: RT, v. 243, mai.-2015.
6
Sobre essas reformas, cf.: GRADI, Marco. La mediazione e la conciliazione delle controversie civili. PUNZI, C.. Il processo
civile. Sistema e problematiche, Le riforme del quinquennio 2010-2014. Torino: Giappichelli, 2015.
7
Para um breve panorama do tema na Europa: CAPONI, Remo. La mediazione nelle legislazioni straniere. Quaderni – La
“mediazione” finalizzata alla conciliazione, v. 29, 2012.
8
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. de Ellen Gracie Northfleet. Porto Alegre: Safe, 1988, p. 81-87.
9
Nesse sentido: WATANABE, Kazuo. Política judiciária de tratamento adequado dos conflitos de interesse – utilização dos
meios alternativos de resolução de controvérsias. MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim
(coords.). O processo em perspectiva: jornadas brasileiras de direito processual. São Paulo: RT, 2013, p. 243.
8
A criação de um regime administrativo não teve por objetivo diminuir os
poderes estatais, mas sim de preservá-los mediante a criação de um regi-
me jurídico específico e detentor de vários privilégios em favor dos entes
públicos.10
Ocorre que o próprio olhar do direito administrativo tem recebido novos
aportes teóricos que demandam uma revisão da situação de desigualda-
de entre o poder público e os particulares com os quais se relacionam. O
modelo de administração pública consensual impõe um maior diálogo e
participação dos cidadãos na tomada de decisões.11
A bipolaridade de interesses (Estado-cidadão) perde espaço em detrimen-
to de uma multipolaridade de interesses e a coincidência entre o inte-
resse público e o privado.12 Como destaca a doutrina, “a ambiência de
reciprocidade comunicativa exige o sucumbir da reserva, do silêncio da
indiferença e da autossuficiência decisória por parte da administração pú-
blica”.13 Trata-se de uma evolução do modelo gerencial, que impunha um
enfoque na efetividade dos serviços públicos, mediante, por exemplo, a
descentralização dos serviços, a criação de metas etc.
Esse novo modelo traz em si o aumento da participação dos cidadãos e
o incentivo ao diálogo, ao invés de posições unilaterais e conflituosas. A
realização de audiências públicas, consultas públicas, o foco no proces-
so administrativo participativo, o acordo de leniência e o compromisso
de cessação de condutas são alguns dos exemplos desse modelo de boa
administração.
10
Com mais vagar, sobre esse paradoxo do direito administrativo e a sua evolução em favor das garantias, cf. o primeiro
capítulo da tese de doutorado de Gustavo Binenbojm, intitulado de “A crise dos paradigmas do direito administrativo”:
BINENBOJM, Gustavo. Uma teoria do direito administrativo: direitos fundamentais, democracia e constitucionalização. 3ª
ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2014, p. 9-45.
Com conclusão semelhante: OLIVEIRA, Gustavo Justino de. A administração consensual como a nova face da administração
pública no século XXI: fundamentos dogmáticos, formas de expressão e instrumentos de ação. Boletim de Direito
Administrativo. São Paulo: NDJ, no 4, abr.-2009, p. 420-421.
11
“Sem autêntica liberdade pessoal não há participação, e sim sujeição; sem participação não há autêntica democracia,
e sim meras formalidades sem significado” (MUÑOZ, Jaime Rodríguez-Arana, Direito fundamental à boa administração
pública. Trad. de Daniel Wuncher Hachem. Belo Horizonte: Fórum, 2012, p. 35).
12
OLIVEIRA, Gustavo Justino de. A administração consensual como a nova face da administração pública no século XXI:
fundamentos dogmáticos, formas de expressão e instrumentos de ação... cit., p. 422.
13
LIMA, Raimundo Márcio Ribeiro. Administração pública dialógica. Curitiba: Juruá, 2013, p. 100.
9
O clássico modelo, de uma administração pública de caráter autoritá-
rio e unilateral, não pode mais ser admitido sob o prisma de um Estado
Democrático de Direito.14 O direito administrativo constitucionalizado não
pode mais tratar o indivíduo perante uma situação de sujeição, mas de pa-
ridade, uma vez que tanto o ente público, quanto a outra parte da relação
jurídica de direito público estão sujeitos a um mesmo estatuto jurídico.15
É inegável que uma maior abertura para a consensualidade também deve
estar relacionada aos meios alternativos de solução de conflitos. Em es-
pecial, para este texto, têm-se os casos da mediação e da conciliação. Se
a administração pública sempre ficou marcada por um excesso de rigidez
no seu relacionamento para com os cidadãos, é o momento de ultrapas-
sar barreiras.
14
ALMEIDA, Natália Silva Mazzutti; MELO, Luiz Carlos Figueira de. A consensualidade como elemento do processo
administrativo federal brasileiro. Interesse Público. Belo Horizonte: Fórum, no 75, 2012, p. 159.
15
ABBOUD, Georges. Discricionariedade administrativa e judicial: o ato administrativo e a decisão judicial. São Paulo: RT,
2014, p. 158-159.
16
Também com essa constatação, embora com foco para o caso do controle das políticas públicas: CAMBI, Eduardo;
VASCONCELOS, João Paulo A. Desjudicialização de políticas públicas e o Novo Código de Processo Civil – contributo do
Ministério Público e da Advocacia Pública à solução extrajudicial de conflitos. CUNHA, Leonardo Carneiro da; ARAÚJO, José
Henrique Mouta. Coleção Repercussões do Novo CPC - Advocacia pública. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 3, p. 97.
17
SCHWIND, Rafael Wallbach; KUKIELA, Marina. Câmaras de conciliação e mediação da Administração Pública: comentários
ao art. 174 do novo Código de Processo Civil. TALAMINI, Eduardo (coord.). Processo e administração pública. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 332
10
que é muito mais eficiente a resolução de um conflito por meio da auto-
composição do que a demora natural que ocorre pela utilização do pro-
cesso judicial. E, mais ainda, nos casos em que eventualmente se admita
um equívoco administrativo, tem-se uma restauração da legalidade mais
eficiente, reforçando tanto o princípio da legalidade quanto o da eficiên-
cia (ambos constantes do art. 37, caput, da CF).
Ainda se faz referência ao acesso à justiça (art. 5º, inciso XXXV, CF), pos-
to que esta norma jurídica impõe ao Estado a disponibilização de meios
adequados à resolução de conflitos, dentre eles, a autocomposição, e ao
princípio democrático (art. 1º, CF), que requer que o poder público, a se
ver envolvido em conflitos, disponha-se a dialogar para buscar a solução
adequada para o problema.18
Além disso, é uma forma de solução de conflitos, que, em geral, tem uma
taxa de cumprimento espontâneo maior do que a decorrente de decisões
impostas por terceiros.19 Assim, é uma situação vantajosa para as partes,
que tem não só a solução do conflito mais célere, como também a sua
própria efetivação.
18
SOUZA, Luciane Moessa de. Mediação de conflitos e administração pública. HALE, Durval; PINHO, Humberto Dalla
Bernardina de; CABRAL, Trícia Navarro Xavier. O marco legal da mediação no Brasil. São Paulo: Atlas, 2016, p. 209.
19
MARCUS, Richard L.; REDISCH, Martin H.; SHERMAN, Edward F.; PFANDER, James E. Civil procedure: a modern approach. 5ª
ed. St. Paul: West Publishing Co., 2009, p. 105.
20
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. 17ª ed. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 1, p. 625; SOUZA, Luciane
Moessa de. Meios consensuais de solução de conflitos envolvendo entes públicos e a mediação de conflitos coletivos.
Tese de Doutorado. Florianópolis: UFSC, 2010, p. 130-131. Especificamente sobre o tema: VENTURI, Elton. Transação de
direitos indisponíveis. Revista de Processo. São Paulo: RT, v. 251, jan.-2016. Por um estudo específico acerca da renúncia em
direitos fundamentais (que são indisponíveis e, ainda assim, transacionáveis em certos aspectos): ADAMY, Pedro Augustin.
Renúncia a direito fundamental. São Paulo: Malheiros, 2011.
11
Veja-se, como exemplo, que o art. 334, § 4º, do CPC/2015, ao tratar das
hipóteses em que não será realizada a audiência de mediação ou concilia-
ção, refere-se, no inciso II, aos casos em que não se admite autocomposi-
ção. Não há menção à indisponibilidade dos direitos porque ela não pode
ser confundida com a vedação à transação.
21
Para um panorama legislativo da autocomposição no poder público, cf.: SOUZA, Luciane Moessa de. Mediação de conflitos
e administração pública... cit., p. 210-213.
22
MIRANDA NETTO, Fernando Gama de; MEIRELLES, Delton R. S. Meios alternativos de resolução de conflitos envolvendo a
administração pública. XVIII Encontro Nacional do CONPEDI – Maringá. Fundação Boiteux, 2009, p. 6396.
12
genéricas, tais como o parágrafo único do art. 10, da Lei nº 10.259/2001 e
o art. 8º, da Lei nº 12.153/2009.
A questão é que mesmo essas autorizações são genéricas e dependem de ato
normativo por cada ente federativo, em face da autonomia federativa detida
por cada um deles.23 A AGU, por exemplo, editou a Portaria AGU nº 109/07,
permitindo a realização de transação por procurador nos casos em que
houvesse erro administrativo reconhecido pela autoridade competente
ou, quando verificável pela simples análise das provas e dos documentos
que instruem a ação, pelo advogado ou procurador que atua no feito,
mediante motivação adequada e nos casos em que inexista controvérsia
quanto ao fato e ao direito aplicado (art. 3º, incisos I e II).24 Os artigos 1º
e 2º, da Lei nº 9.469/1997, com a redação dada pela Lei nº 13.140/2015,
autorizam que o AGU, o Procurador-Geral da União, o Procurador-Geral
Federal, o Procurador-Geral do Banco Central do Brasil e os dirigentes
máximos das empresas públicas, em conjunto com o dirigente estatutá-
rio da área afeta ao assunto possam autorizar a realização de acordos ou
transações para prevenir ou terminar litígios, inclusive os judiciais.
23
GOMES JÚNIOR, Luiz Manoel. Comentários ao art. 8º. GOMES JÚNIOR, Luiz Manoel; GAJARDONI, Fernando da Fonseca
FIGUEIREDO CRUZ, Luana Pedrosa; CRUZ, Luana Pedrosa de Figueiredo; CERQUEIRA, Luís Otávio Sequeira de. Comentários
à lei dos juizados especiais da fazenda pública. 2ª ed. São Paulo: RT, 2011, p. 125; RODRIGUES, Marco Antonio. A fazenda
pública no processo civil. São Paulo: Atlas, 2016, p. 384.
24
Para um breve panorama da experiência da AGU na conciliação, cf.: FACCI, Lucio Picanço. Administração pública e
segurança jurídica: a tutela da confiança nas relações jurídico-administrativas. Porto Alegre: Safe, 2015, p. 110-112.
13
obedeçam aos princípios da publicidade e, especialmente, da impesso-
alidade (art. 37, caput, CF). É preciso que existam elementos de controle
para a análise dos acordos realizados pelos entes públicos.25 Inclusive,
até como forma de permitir um controle adequado, tanto do ponto de vis-
ta interno como externo, os acordos realizados pelo poder público devem
necessariamente ser fundamentados.26
25
Destacando esses aspectos, cf.: SILVA NETO, Francisco de Barros e. A conciliação em causas repetitivas e a garantia de
tratamento isonômico na aplicação de normas. Revista de Processo. São Paulo: RT, v. 240, fev.-2015, versão digital.
26
SOUZA, Luciane Moessa de. Mediação de conflitos e administração pública... cit., p. 214.
27
CIANCI, Mirna; MEGNA, Bruno Lopes. Fazenda pública e negócios jurídicos processuais no Novo CPC: pontos de partida
para o futuro. CABRAL, Antonio do Passo; NOGUEIRA, Pedro Henrique. Negócios processuais. Salvador: Juspodivm,
2015, p. 493.
28
TALAMINI, Eduardo. A (in)disponibilidade do interesse público: consequências processuais (composições em juízo, prerrogativas
processuais, arbitragem e ação monitória), p. 11. Disponível em: <https://bit.ly/2fbqY6H>. Acesso em:16 abr. 2016.
14
2.1. Um desafio: a confidencialidade e o princípio da
publicidade na resolução consensual de conflitos
pelo poder público
Também denominado princípio do sigilo, a exigência de confidencialidade
é essencial para a garantia de que as sessões de mediação ou conciliação
possam ter maior chance de sucesso.29 Isso porque, garantindo que as
informações utilizadas nessas sessões não possam ser utilizadas no re-
ferido processo judicial e em outros, permite que as partes sintam-se à
vontade para estabelecer um diálogo mais aberto. Do contrário, sempre
haveria o receio de uma determinada informação desfavorável, a exem-
plo de uma parte que aborda o problema envolvido, reconhecendo que
sua culpa pode ser utilizada no litígio judicial. A esse princípio, o CPC/2015
faz menção no caput do art. 166 e a Lei nº 13.140/2015 o detalha nos ar-
tigos 30 e 31.
Ocorre que há na doutrina certa preocupação em como conciliar o dever de
confidencialidade e o princípio da publicidade da Administração Pública,
em especial a partir da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011),
que passa a inserir o sigilo como exceção. Além disso, a Administração
Pública é regida, em termos gerais, pelo princípio da publicidade (art. 37,
caput, da CF), havendo ainda menção à publicidade no poder Judiciário
(art. 93, inciso IX, da CF), reforçado e densificado pelo art. 8º, do CPC/2015.
De fato, é possível que a exigência de publicidade na mediação desencora-
je algumas partes à realização de acordos com o poder público, justamen-
te porque o seu interesse seria o sigilo. No entanto, haveria prevalência
do interesse público na publicidade das informações em detrimento do
interesse no acordo sobre o litígio que envolva o poder público.30 Por
conta desta característica, a doutrina chega a defender que, nos casos
que envolvam o poder público, que não seja necessária a separação en-
tre o mediador e o terceiro julgador, sendo possível que o juiz, caso ca-
pacitado para tanto, possa conduzir esse processo de autocomposição.31
29
Para maiores detalhes acerca do princípio da confidencialidade, cf.: PEIXOTO, Ravi. Primeiras impressões sobre os
princípios que regem a mediação e a conciliação. Revista Dialética de Direito Processual. São Paulo: Dialética, nov.-2015.
30
Nesse sentido, citando precedentes de Cortes norte-americanas: LEATHERBURY, Thomas S.; COVER, Mark. Mediation
public: exploring the conflict between confidential mediation and open government. SMU Law Review, no 46, 1993, p. 2.229.
31
SOUZA, Luciane Moessa de. Mediação de conflitos e administração pública... cit., p. 215.
15
A mesma lógica foi seguida na autorização dos entes públicos na realiza-
ção da arbitragem. É provável imaginar que, por diversas vezes, a arbitra-
gem tenha um caráter confidencial, justamente para evitar os problemas
inerentes à existência de um litígio, tais como a desconfiança do mercado
em relação a uma empresa, a divulgação de informações desfavoráveis
aos participantes etc. No entanto, o art. 1º, § 3º, da Lei nº 9.307/1996, com
a redação dada pela Lei nº 13.129/2015 afirma expressamente que “A ar-
bitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e
respeitará o princípio da publicidade”. Assim, por mais que seja possível
que isso afaste a realização de alguns procedimentos arbitrais com o po-
der público, mais uma vez prevaleceu o interesse público na transparência
e na publicidade dos procedimentos que envolvam entes públicos. Essa
mesma lógica deve ser aplicada à realização da mediação e da conciliação
pelo poder público.
Por conta desses fatores, a mediação e a conciliação da qual faça parte
o poder público não seriam abrangidas pelo dever de confidencialidade,
com a exceção dos casos em que a própria Lei nº 12.527/2011 preserva o
sigilo das informações.32 Como exemplo, seria possível mencionar infor-
mações que violem o respeito à intimidade, vida privada, honra e imagem
das pessoas (art. 31, caput, Lei no 12.527/2011), que traga riscos à sobera-
nia nacional (art. 23, inciso I, Lei no 12.527/2011), que envolvam segredos
industriais (art. 22, Lei no 12.527/2011) etc.
16
mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20
(vinte) dias de antecedência. Ao contrário do CPC/1973, o réu não será
citado para contestar, mas para comparecer à audiência. Em relação ao
autor, será intimado na pessoa de seu advogado (art. 334, § 3º, CPC).
Esta audiência, salvo alguns casos excepcionais, só não ocorrerá se ambas
as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consen-
sual (art. 334, § 4º, inciso I, CPC). O autor deverá indicar seu desinteresse na
petição inicial e o réu deverá o fazer por petição apresentada com 10 (dez)
dias de antecedência, contados da data da audiência (art. 334, § 5º, CPC).
O não comparecimento injustificado (e, ao que parece, o mero desinteres-
se em comparecer à audiência não é justificativa razoável) é considerado
ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até
dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa,
revertida em favor da União ou do Estado (art. 334, § 8º, CPC/2015).
Com base nessas disposições normativas, boa parte dos processos inicia-
dos sob a vigência do CPC/2015 terá a realização da referida audiência, o
que envolveria, em tese, também o poder público. Afirmou-se, no tópico
anterior, que a indisponibilidade do direito não significa impossibilidade
de autocomposição.
Isso tudo significa que, em tese, o poder público deveria ter os processos
em que esteja envolvido e inserido na regra geral, qual seja, a realização
da audiência, com exceção das hipóteses em que haja desinteresse de
ambas as partes. No entanto, como também foi afirmado no tópico ante-
rior, para que o procurador que atue no caso concreto possa vir a realizar
a autocomposição, é imprescindível autorização normativa para tanto, o
que, infelizmente, não é comum no direito brasileiro. Em outras palavras,
na grande maioria dos casos, o direito do ente público é, em tese, apto a
ser alvo de autocomposição, mas inexiste autorização legal, o que implica,
na realidade dos fatos, a sua inadmissão.
Portanto, o posicionamento mais adequado é o de que, inexistindo auto-
rização no referido ente para a realização da autocomposição, a audiência
17
de conciliação ou de mediação não seja marcada. Não pelo desinteresse
das partes, mas pela inadmissão da autocomposição (art. 334, § 4º, inciso
II, CPC/2015), do contrário, seriam marcadas um sem número de audi-
ências que não teriam qualquer utilidade, pois o procurador não teria
autorização para realizar qualquer proposta de acordo. Seria uma inter-
pretação que estaria de acordo com a duração razoável do processo (art.
6º, CPC/2015).
18
de realização da autocomposição podem ser vislumbradas.
O advogado público, com base no dever de boa-fé (art. 5º, CPC/2015), deve
informar ao juízo a ausência de qualquer espécie de autorização norma-
tiva para a autocomposição já na petição inicial, quando autor, ou até 10
dias antes da audiência, quando réu.33
De toda forma, essa ainda não é uma boa solução, especialmente porque
ainda dependeria de uma decisão do magistrado reconhecendo a impos-
sibilidade de autocomposição. Especialmente quando o ente público seja
réu, isso poderia acabar acarretando a realização de uma audiência inútil,
não sendo difícil de imaginar que não haja tempo hábil para uma decisão
sobre esse tema entre a petição e a ocorrência da audiência. Aqui, ao
contrário dos casos em que a audiência não é realizada pela manifestação
de vontade de ambas as partes, caso em que o seu cancelamento é au-
tomático e o prazo da contestação já começa do protocolo do pedido de
cancelamento do réu, há expressa necessidade de decisão. Não parece
possível aplicar o art. 335, inciso II, do CPC/2015 para os casos em que a
audiência não é realizada por requerimento do réu alegando que o direito
não pode ser alvo de autocomposição. O juiz deve avaliar se é possível ou
não a autocomposição do direito para que a audiência seja desmarcada
e o prazo da contestação possa iniciar. Portanto, apenas após a decisão
33
RODRIGUES, Marco Antonio. A fazenda pública no processo civil... cit., p. 385
19
A melhor solução, no entanto, é a realização, entre os entes públicos e o
Poder Judiciário, de protocolos institucionais. Por meio deles, de forma
prévia à instauração dos conflitos, o próprio ente público já poderia infor-
mar ao Poder Judiciário em quais casos é ou não possível a autocompo-
sição. Dessa forma, já na instauração do processo, não haveria necessi-
dade de qualquer discussão sobre o cabimento ou não da audiência, ao
menos do ponto de vista do art. 334, § 4º, inciso II, pois já se teria conhe-
cimento dos casos em que o direito do ente público poderia ser alvo de
autocomposição.
Mesmo que não haja nenhum protocolo institucional, parece possível uti-
lizar-se do conceito de fato notório judicial, que seria o fato que, embora
desconhecido na vida social, é conhecido pelos magistrados, em geral, em
razão do seu ofício, a exemplo de processos anteriores34 para que o juiz,
mesmo quando o ente público seja réu, já realize o despacho da petição
inicial com a indicação da citação para contestar e não para comparecer
à audiência.
Afinal, se o ente público, por exemplo, em diversos processos que tra-
tem de responsabilidade civil alega que não possui autorização normativa
para autocompor, torna-se um fato notório para o juiz que, nessas espé-
cies de casos concretos, isso não é possível e que aquele direito não pode
ser alvo de autocomposição pelos entes públicos. Portanto, baseando-se
na própria informação dos entes públicos em outros processos, poderia o
juiz, no despacho inicial, fundamentando nessa constatação, sequer inti-
mar o ente público para participar da audiência e já citá-lo para contestar.
Afinal, já seria uma espécie de fato notório judicial que, naqueles casos, o
ente público não tem qualquer autorização para conciliar ou mediar.
20
enunciado n. 573, do FPPC, segundo o qual “As Fazendas Públicas devem
dar publicidade às hipóteses em que seus órgãos de Advocacia Pública
estão autorizados a aceitar autocomposição”.
Por outro lado, nos casos de litisconsórcio unitário, em que, pela natureza
da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o mérito de modo uniforme para
todos os litisconsortes (art. 116, CPC/2015), o entendimento deve ser di-
ferente. Caso um deles não possa conciliar ou mediar, como ocorre com
o ente público na maioria dos casos, a audiência será necessariamente
infrutífera. Portanto, nos casos de litisconsórcio unitário, basta que uma
das partes não possa autocompor para que a audiência seja necessaria-
mente cancelada.35
35
RODRIGUES, Marco Antonio. A fazenda pública no processo civil... cit., p. 385.
21
4. O incentivo à criação de câmaras de mediação e
conciliação pelos entes públicos
Mesmo antes da publicação do CPC/2015, a advocacia pública federal já in-
vestia na realização de transações no âmbito administrativo, por meio da
regulamentação da Câmara de Conciliação e Arbitragem da Administração
Federal (art. 18, do Decreto n. 7.392/2010 – já revogado) e, ainda através
do art. 2º, da Portaria n. 1.281/2007, que dispõe sobre o deslinde em sede
administrativa, de controvérsias de natureza jurídica entre órgãos e enti-
dades da Administração Federal, no âmbito da Advocacia-Geral da União.
Consoante informa a doutrina, “a Câmara de Conciliação e Arbitragem
da Administração Federal realizou o total de 161 arbitragens/conciliações
homologadas até outubro de 2013, o que representa 54% de êxito entre
os processos admitidos entre 2007 e 2013, tendo sido realizadas 1.059
reuniões formais desde a criação da Câmara”.36
22
da jurisprudência dos tribunais superiores para avaliar as possibilidades
de sucesso em uma demanda judicial e o interesse público na realização
de acordos em cada caso concreto.
O CPC/2015 veio apenas incentivar que essa prática fosse utilizada pelos
demais entes federativos. Assim, o art. 174 impulsiona a criação de câma-
ras de mediação e conciliação nos três níveis da federação (Municípios,
Estados, DF e União). Tais câmaras terão atribuições relacionadas à solu-
ção consensual de conflitos em três casos: a) resolução de conflitos que
envolvam órgão e entidades da administração pública; b) avaliação da
admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, entre particular
e pessoa jurídica de direito público e c) promoção, quando cabível, da
celebração de termo de ajustamento de conduta. Previsão praticamente
idêntica consta do art. 32, incisos I a III, da Lei nº 13.140/2015.
Essas permissões, no entanto, não podem ser vistas como tendo caráter
exaustivo, mas, sim, exemplificativo. Não há qualquer impedimento a que
essas câmaras de mediação e conciliação possam atuar em outros as-
suntos de interesse da administração, tais como conflitos pessoais entre
servidores públicos no ambiente de trabalho.38
Por fim, ainda como observação geral, ainda há a abertura, por meio des-
sas câmaras, para a instauração de ofício ou mediante provocação, pela
advocacia pública, de instauração de procedimento de mediação coletiva
de conflitos relacionados à prestação de serviços públicos (art. 33, pará-
grafo único, da Lei nº 13.140/2015).
23
câmara de mediação com competência para dirimir os conflitos que ve-
nham a surgir com outros entes federativos, por exemplo, um litígio entre
dois estados, ou de um estado com a União.
24
que permite certa liberdade para conformar as respectivas câmaras da
forma que lhes pareça mais adequada. É possível, por exemplo, que o res-
pectivo ente amplie as hipóteses de utilização das câmaras mencionadas
no art. 174, do CPC/2015 e no art. 32, da Lei nº 13.140/2015.
A submissão dos conflitos a elas será facultativa e cabível apenas nos ca-
sos previstos nos regulamentos de cada ente federado (§2º, do art. 32, Lei
no 13.140/2015), dentre elas, a prevenção e a resolução de conflitos que
envolvam equilíbrio econômico-financeiro de contratos celebrados com
particulares (§5º, do art. 32, Lei no 13.140/2015).
25
é regulado pelos artigos 14 a 20 da referida legislação.
26
Lei no 13.140/2015). Houve uma alteração para as ações punitivas e exe-
cutórias, pois os artigos 2º, inciso IV e 2º-A, inciso V, da Lei no 9.873/1999
previam a interrupção da prescrição no caso de “qualquer ato inequívoco
que importe em manifestação expressa de tentativa de solução concilia-
tória no âmbito interno da administração pública federal”. Agora, também
nesses casos, haverá tão somente a suspensão da prescrição.
A previsão da suspensão da prescrição é uma forma de impedir que as
partes se utilizem do Poder Judiciário antes da tentativa de resolução con-
sensual do conflito tão somente para impedir a prescrição da eficácia da
pretensão.
O problema aparece nas hipóteses em que ocorra o juízo negativo de
admissibilidade que, em princípio, não teria aptidão para suspender a
prescrição entre a data do pedido de resolução consensual e o momento
em que não seja sequer admitido. Melhor seria se a legislação houvesse
previsto que a suspensão também ocorreria desde o pedido de resolução
consensual até o momento do juízo negativo, pois, da forma com a qual
foi redigida, poderá afastar algumas partes a tentarem a solução admi-
nistrativa pelo simples receio de serem atingidas pelo prazo prescricional.
Nos casos que envolvam matéria tributária, a referida suspensão não se
aplica, devendo ser observadas as hipóteses do CTN (art. 34, §2º, Lei no
13.140/2015). Isso ocorre porque a suspensão da prescrição do crédito
tributário é matéria a ser regida por Lei Complementar (art. 146, III, “b”,
da CF).41
27
AGU, aprovado pelo Presidente da República (art. 35, incisos I e II, Lei no
13.140/2015). É provável imaginar que esta espécie de transação deve ser
bastante utilizada para as hipóteses que envolvam questões repetitivas, a
exemplo de temas relativos ao direito previdenciário.
Trata-se de uma forma de densificar o princípio da impessoalidade, que
rege a atuação da administração pública (art. 37, CF) e, ainda, do princípio
da igualdade, em seu sentido formal (art. 5º, caput, CF). Afinal, não seria
lícito que o ente público admitisse a realização de transação em um caso
e, em outro semelhante, não o fizesse.42 Se realizasse essa prática, incor-
reria em um comportamento contraditório, vedado pelas normas que de-
limitam a atuação da administração pública.43
28
a) evita disparidade de resposta dos órgãos da estrutura administrativa a
demandas equivalentes; b) reduz o risco de litígios acerca da aplicação da lei,
em face de suspeita de decisão caprichosa ou discriminatória; c) acelera a
capacidade de resposta da máquina pública a demandas repetitivas; d) ante-
cipa decisões futuras em matérias de alta incerteza, facilitando a mobilização
de capitais privados em tempo útil para a oferta de bens e serviços para a
própria Administração, ou a adesão de terceiros a políticas públicas.45
29
Essa resolução administrativa não tem aptidão para implicar na renúncia
tácita à prescrição da eficácia da pretensão material, nem à sua interrup-
ção ou suspensão (art. 35, § 6º, Lei no 13.140/2015). Assim, a mera edição
da referida resolução em nada interfere em processos que estejam trami-
tando no Poder Judiciário. Trata-se de um ato normativo abstrato e que
dependerá da atuação da parte – e do juízo de admissibilidade positivo da
câmara (art. 34, § 1º, da Lei 13.140/2015) - para que possa se beneficiar da
suspensão da prescrição (art. 34, da Lei no 13.140/2015).
30
o atendimento aos requisitos e condições estabelecidos na resolução ad-
ministrativa (art. 35, §2º). A essa submissão aplica-se o art. 34 e a possibi-
lidade de suspensão do prazo prescricional.
31
orçamentária para quitação das dívidas reconhecidas como legítimas (art.
36, § 2º, Lei no 13.140/2015).
Destaque-se que essa composição extrajudicial não impede a apuração
da responsabilidade civil do agente que tenha dado causa à dívida, sem-
pre que verificado que a sua ação ou omissão constitui, em tese, infração
disciplinar a ser apurada de acordo com a legislação aplicável (art. 36, §3º,
Lei no 13.140/2015).
Parece possível entender que o termo “dívida” utilizado no texto norma-
tivo deve ser interpretado de forma ampliativa, uma vez que pode haver
controvérsias jurídicas que não gerem o pagamento de valores, mas que
constituam, em tese, infração disciplinar. Basta pensar nas diversas hipó-
teses de atos de improbidade administrativa que não envolvem, necessa-
riamente, o enriquecimento ilícito (art. 9º, da Lei no 8.429/1992) ou prejuí-
zo ao erário (art. 10, da Lei no 8.429/1992), mas que apenas atentem con-
tra os princípios da administração pública (art. 11, da Lei no 8.429/1992).
O conflito pode, por exemplo, envolver a retardação culposa da prática
de um ato de ofício (art. 11, inciso II, da Lei no 8.429/1992) que acabe ge-
rando conflito entre dois entes. Sendo ele resolvido administrativamente,
mesmo que não haja nenhum valor monetário envolvido, é por demais
óbvio que não impedirá a devida investigação da infração disciplinar.
32
mais demorado do que uma resolução administrativa.
33
Isso porque o art. 38, inciso I, Lei no 13.140/2015 aponta a inaplicabilidade
dos incisos II e II, do caput do art. 32, do mesmo diploma legal (art. 174,
inciso II e II, CPC), que mencionam a competência dessas câmaras para a
avaliação da admissibilidade dos pedidos de resolução de conflitos, entre
particular e pessoa jurídica de direito público e a promoção, quando cabí-
vel, da celebração de termo de ajustamento de conduta. Portanto, haveria
a exclusão da possibilidade de conciliação ou mediação no âmbito adminis-
trativo nessas hipóteses. De toda forma, como a celebração de termo de
ajustamento de conduta é relacionado a processos coletivos e há veda-
ção à sua utilização para demandas tributárias (art. 1º, parágrafo único
da Lei nº 7.347/1985), ao menos nesses casos o inciso II, do art. 32, Lei no
13.140/2015 já seria inaplicável.
34
conflitos, a exemplo dos Correios.
Nas hipóteses em que seja cabível a solução consensual e dele forem par-
tes órgãos ou entidades de Direito Público que integram a Administração
Pública Federal, a submissão do conflito à composição extrajudicial
pela Advocacia-Geral da União implica renúncia do direito de recorrer
ao Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (art. 38, inciso III, alínea
a, Lei no 13.140/2015). Além disso, para que haja a redução ou o can-
celamento do crédito será necessária a manifestação conjunta da AGU
e do Ministro de Estado da Fazenda (art. 38, inciso III, alínea b, Lei no
13.140/2015). Destaque-se que as alíneas a e b, do inciso III, do art. 38,
da Lei no 13.140/2015 não são aplicáveis a outros entes que possam se
utilizar dessa forma de composição extrajudicial, tais como os Estados,
o Distrito Federal, os Municípios, suas autarquias e fundações públicas
e ainda as empresas públicas e sociedades de economia mista federais.
Isso porque, como visto, o art. 38, III aponta sua aplicabilidade apenas
a órgãos ou entidades de Direito Público que integrem a Administração
Pública Federal.
35
6. Responsabilidade dos servidores e empregados
públicos
36
da atuação dos agentes que participem do processo de composição ex-
trajudicial de conflitos, na ação específica contra o ente público, descabe
a discussão sobre culpa ou dolo, bastando a comprovação de que ato re-
alizado por este agente lhe causou danos. A teor do disposto no art. 37, §
6º, da Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público
deve ser ajuizada contra o Estado ou a pessoa jurídica de direito privado
prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor
do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos
de dolo ou culpa.47 Nessas hipóteses, tem-se abertura para a discussão da
eventual culpa ou dolo, muito embora ela só seja relevante para configu-
rar a responsabilidade civil do servidor, não do Estado.
7. Conclusão
37
autocomposição. Por isso, foram propostas maneiras de conciliar a mar-
cação ou não desta audiência e a eventual impossibilidade de realização
da autocomposição.
Pontuando
38
Glossário
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Em relação ao princípio da confidencialidade, assinale a al-
ternativa correta:
a) Trata-se de princípio que abrange informações relati-
vas à ocorrência de crime de ação civil pública.
b) A Advocacia-Geral da União deverá realizar composição
extrajudicial do conflito, observados os procedimentos
previstos em ato do Procurador-Geral da União.
c) O dever de confidencialidade não se aplica ao mediador.
d) Pode o mediador revelar informação obtida em sessão
privada, caso expressamente autorizado.
39
e) O juiz pode utilizar como prova informação obtida em
sessão de mediação.
2. Sobre a autocomposição e os direitos indisponíveis, assi-
nale a alternativa correta:
a) Direitos indisponíveis não podem ser alvo de
autocomposição
b) Não há necessidade de ato normativo para que haja a
autocomposição pelo poder público.
c) É possível a autocomposição do valor e forma de paga-
mento em ação de alimentos.
d) Apenas se admite autocomposição envolvendo entes
públicos realizada no âmbito administrativo.
e) Não se deve realizar audiência de mediação ou de con-
ciliação nos casos de direitos indisponíveis.
40
da União, a conciliação de que trata o caput dependerá
da anuência expressa do juiz da causa ou do Ministro
Relator.
e) Na hipótese dessa espécie de conflito, se não hou-
ver acordo quanto à controvérsia jurídica, caberá ao
Presidente da República dirimi-la, com fundamento na
legislação afeta.
41
da União implica renúncia do direito de recorrer ao
Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.
5. Sobre a autocomposição da qual faça parte ente público,
assinale a alternativa correta:
a) Apenas se admite a autocomposição caso haja autori-
zação específica do chefe do poder executivo.
b) As câmaras de mediação criadas pelos entes públicos
poderão ser reguladas por cada ente federado.
c) Apenas se admite a autocomposição com autorização
do Procurador Geral da respectiva pessoa jurídica.
d) Havendo uma câmara de mediação, é obrigatória a
submissão dos conflitos que envolvam aquele ente.
e) Enquanto não forem criadas as câmaras de mediação,
os conflitos não podem ser resolvidos por meio da
mediação.
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44
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dade_do_interesse_p%C3%BAblico_consequ%C3%AAncias_processuais>. Acesso
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Processo. São Paulo: RT, v. 251, jan.-2016.
Gabarito
Questão 01 - Resposta: D
Questão 02 - Resposta: C
Questão 03 - Resposta: D
45
Contas da União, a conciliação de que trata o caput dependerá da
anuência expressa do juiz da causa ou do Ministro Relator”.
Questão 04 - Resposta: E
De acordo com o art. 38, inciso III, alínea a, a, da Lei 13.140/2015: “III
- quando forem partes as pessoas a que alude o caput do art. 36: a)
a submissão do conflito à composição extrajudicial pela Advocacia-
Geral da União implica renúncia do direito de recorrer ao Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais”. O art. 36 faz menção às seguin-
tes pessoas: “No caso de conflitos que envolvam controvérsia jurí-
dica entre órgãos ou entidades de direito público que integram a
administração pública federal, a Advocacia-Geral da União deverá
realizar composição extrajudicial do conflito, observados os procedi-
mentos previstos em ato do Advogado-Geral da União”.
Questão 05 - Resposta: B
46
TEMA 02
Objetivos
47
1. Registro e distribuição do processo
48
Além disso, deve a distribuição ser pública e, como forma de garanti-la e
permitir o controle público da distribuição, exige-se que a lista de distri-
buição seja publicada no Diário de Justiça (art. 285, parágrafo único, CPC).
Essa divulgação da lista é também uma forma de dar maior efetividade ao
art. 288, CPC, segundo o qual o juiz, seja de ofício ou mediante requeri-
mento do interessado, deverá corrigir o erro ou compensar a falta de dis-
tribuição que venha a ocorrer. O art. 289, CPC, garante que as partes, os
seus procuradores, o Ministério Público ou a Defensoria Pública possam
fiscalizá-la. No entanto, com a distribuição essa atuação torna-se pratica-
mente impossível.
49
Essa regra incide também nos casos em que haja modificação do remédio
jurídico processual, a exemplo da parte que ingressa com mandado de
segurança, desiste e ajuíza uma ação ordinária.5 Trata-se de uma forma
de evitar a burla à sistemática da distribuição aleatória, preservando-se
o juiz natural. Caso isso não fosse previsto na legislação à parte, tendo a
sua demanda distribuída para um juízo que tem entendimento contrário
à sua tese, poderia, de imediato, pedir desistência e ajuizar novamente a
sua ação, apostando que teria sua demanda distribuída para algum juízo
favorável à sua tese.
50
transformada no CPC/2015 em um procedimento especial. Tem-se a obri-
gatoriedade de o distribuidor realizar a anotação para garantir a vincu-
lação do processo distribuído por dependência, mas que não impede o
controle pelas partes ou pelo magistrado.
51
a litispendência só é iniciada depois que ele for validamente citado (art.
312, CPC/2015).
A demanda pode ser entendida como o ato por meio do qual um sujeito
com capacidade processual veicula pretensão à tutela jurídica do Estado,
impondo a sua atuação, e requer uma determinada providência em face
de outro sujeito.7 A relação que existe entre a demanda e a petição inicial
é a de continente e conteúdo. A petição inicial é a forma com a qual a parte
apresenta a sua demanda ao Poder Judiciário, sendo-lhe o seu conteúdo.
7
ASSIS, Araken. De. Processo civil brasileiro. São Paulo: RT, 2015, v. III, p. 65-66.
8
Também mencionando essa utilidade do requerimento da citação do réu pelo autor: ASSIS, Araken. De. Processo civil
brasileiro... cit., p. 83.
52
3.1. Forma
Não há muitas exigências formais para a apresentação da petição inicial,
bastando que seja apresentada de forma escrita, datada e assinada. A sua
redação deve utilizar o idioma nacional, em face da exigência constante
do art. 192, caput, do CPC.
3.3. Competência
Cabe à parte autora indicar, na inicial, o juízo perante o qual exercerá a sua
ação material processualizada (art. 319, I, CPC). Nesse momento é feito o
endereçamento da demanda, sendo o parágrafo denominado exortação.
53
tribunal, a comarca, no caso da justiça estadual, ou subseções judiciárias,
no caso da justiça federal, e, caso exista, devem ser indicadas as compe-
tências estabelecidas na legislação local, que, por vezes, criam varas des-
tinadas à fazenda pública, às execuções fiscais, aos processos que envol-
vam direito de família etc. Em qualquer hipótese, mesmo que a comarca
seja de vara única, o endereçamento há de ser impessoal, não se fazendo
menção ao ocupante do cargo de magistrado.10
O art. 319, inciso II, do CPC exige a qualificação das partes por meio da
inserção na petição inicial das seguintes informações: os nomes, os pre-
nomes, o estado civil, inclusive a existência de união estável, a profissão,
o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a resi-
dência do autor e do réu. Outro conteúdo exigido é a indicação dos ende-
reços do advogado, eletrônico e não eletrônico, que devem estar presen-
tes na procuração a ela anexa.
Os nomes e os prenomes, tal qual o número de inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, são essenciais
para que se possam identificar quais os sujeitos passivo(s) e ativo(s) do
processo em questão.
O domicílio e a residência do autor e do réu são dados essenciais para
a correta comunicação das partes, nos casos em que não seja possível a
intimação por meio de publicação no diário de justiça. Para a citação, por
exemplo, com a exceção dos casos em que ela possa ser feita por meio
eletrônico, sempre será imprescindível a informação do endereço do réu.
Exige-se, ainda, o endereço eletrônico do autor e do réu, que não deve ser
entendido como um requisito essencial, até porque a própria comunica-
ção no processo eletrônico não é realizada dessa forma.
A profissão, em geral, não guarda qualquer relevância para a atuação pro-
cessual, exceto, por exemplo, em eventual remédio jurídico processual no
10
ASSIS, Araken. De. Processo civil brasileiro... cit., p. 70.
54
qual ela seja relevante para a fixação de competência, como o é no caso
do mandado de segurança.
55
3.5. Fatos e fundamentos jurídicos – as teorias sobre a
causa de pedir
Um dos elementos que devem constar da petição é a causa de pedir, que
é, em termos gerais, a razão de demandar, a razão objetiva em face da
Na teoria da substanciação, como ela tem por base os fatos jurídicos, a sua
pluralidade implica, por consequência, também na existência de diversas
causae petendi. Essa situação pode ser observada na ação rescisória, em
que cada um dos incisos do art. 966, ou seja, cada um dos fatos jurídicos,
implica em uma causa de pedir diferente. Nada impede que a parte auto-
ra venha a cumular diversas causas de pedir para a realização de um só
12
CUNHA, Leonardo Carneiro da. A atendibilidade dos fatos supervenientes no processo civil: uma análise comparativa
entre o sistema português e o brasileiro. Coimbra: Almedina, 2012, p. 36-37.
56
pedido, como pode ocorrer de a rescisória ter apenas o requerimento de
rescisão da decisão atacada.
Cabe ainda o destaque de que cada fato jurídico pode ter o seu suporte
fáctico formado por vários fatos.13 Por exemplo, o fato jurídico da usuca-
pião extraordinária tem como suporte fáctico três elementos: a) posse
própria; b) sem oposição (mansa e pacífica); e c) ininterrupta, por 15 anos
(art. 1.238, CC). Isso quer dizer que pode haver cumulação de causas de
pedir com a existência de fatos jurídicos diversos, mas também que cada
fato jurídico pode ser, ele próprio, constituído de diversos fatos.
57
possam se manifestar, como forma de obedecer ao dever de consulta
previsto no art. 10 do CPC/2015.
Imagine-se uma hipótese para facilitar o exemplo: A entra com uma de-
manda requerendo de B danos morais por ter realizado um erro médico.
A causa de pedir remota será identificada pelo fato jurídico que agrega os
elementos conduta, culpa, nexo de causalidade e dano; a causa de pedir
próxima seria a relação jurídica, a responsabilidade civil. Esta é uma espé-
cie de relação obrigacional decorrente de um fato jurídico danoso no qual
o sujeito A, prejudicado, tem o direito ao ressarcimento e o sujeito B tem
o dever de reparar o dano.16 O fundamento legal, na hipótese, seriam os
art. 186 e 927, do Código Civil.
3.6. Pedido
Outro dos requisitos da petição inicial é a presença de, ao menos, um pe-
dido (art. 319, IV). É efetivamente o pedido que requer a atuação do Poder
Judiciário, demonstrando qual o bem da vida pretendido pela parte.
58
influenciam na fixação do valor da causa, que independe das eventuais
discordâncias do réu quanto aos seus pedidos.17
No art. 292, o CPC elenca qual deverá ser considerado o valor da causa
tanto na petição inicial quanto na reconvenção, de acordo com a seguinte
organização, valendo frisar que o rol mencionado nesse artigo tem cará-
ter apenas exemplificativo:
a. Cobrança de dívida (art. 292, I, CPC): o valor da causa soma monetariamente
corrigida do principal, dos juros de mora vencidos e de outras penalidades,
tais como os juros moratórios e compensatórios, e da cláusula penal que
incidam até a data de propositura da ação. Uma vez que o texto normativo
apenas faz menção aos juros vencidos, não se pode exigir a inclusão, no valor
da causa, dos eventuais juros vincendos.
b. Ato jurídico (art. 292, II): o valor da causa da ação que objetive discutir a exis-
tência, a validade, o cumprimento, a modificação, a resolução, a resilição ou
a rescisão de ato jurídico será o valor do ato ou o de sua parte controvertida
(art. 292, II), para os casos em que apenas parte do ato jurídico tenha sido
posto em discussão em juízo.
c. Alimentos (art. 292, III): nas ações que versem sobre alimentos, o valor da
causa terá por base a soma de um ano da respectiva prestação alimentar (art.
292, III). Este inciso abrange tanto as demandas em que haja postulação, re-
visão e mesmo exoneração de prestação alimentar. Caso, por algum motivo,
a prestação alimentar tenha duração menor do que um ano, o valor da causa
terá por base a soma das prestações exigidas.
e. Indenização (art. 292, V): esta hipótese inclui qualquer espécie de indeniza-
ção, seja esta baseada em danos materiais, morais, perda de uma chance
etc. Tem-se a tentativa de alteração de uma prática comum na advocacia, que
17
STJ, 4ª T., AgRg no Ag 1.360.288/RS, Rel. Min. Raul Araújo, j. 26/11/2013, DJe 19/12/2013.
59
consiste na realização de um pedido genérico para a fixação dos danos mo-
rais, de forma a diminuir o valor da causa e também de impedir a sucumbên-
cia caso o valor total não fosse concedido. Essa postura, em regra, não é mais
permitida pelo CPC/2015, que obriga a fixação de um valor específico para a
indenização pretendida, com especial destaque para os casos de indeniza-
ção por danos morais. Esse valor, caso não concedido de forma integral, im-
plicará na sucumbência recíproca e a consequente divisão proporcional das
despesas entre as partes (art. 86, CPC). A nova configuração proposta pelo
CPC/2015 implicaria, portanto, na revogação da súmula no 316 do STJ, segun-
do a qual “Na ação de indenização por dano moral, a condenação em mon-
tante inferior ao postulado na inicial não implica sucumbência recíproca”.18
Naturalmente, em casos excepcionais, em que o autor ainda não
tem dimensão das consequências do fato jurídico danoso, desde
que devidamente motivado, ainda será possível o pedido genérico
de indenização. Mas, de toda forma, essa não deve ser a regra, que
deve depender de demonstração do autor da incapacidade de fixa-
ção de um valor específico.
f. Cumulação de pedidos: 1) na cumulação simples ou sucessiva de pedidos, o
valor da causa será a quantia correspondente à soma dos valores de todos
eles (art. 292, VI, CPC); 2) havendo cumulação alternativa, o valor da causa
será baseado naquele que detenha o maior valor (art. 292, VII, CPC); 3) no
caso do pedido subsidiário, por sua vez, o valor da causa terá por base o pe-
dido principal (art. 292, VIII, CPC).
g. Caso a ação exija o pagamento de prestações, como em relações de tratos
sucessivos, caso o autor exija tanto as prestações vencidas como as vincen-
das, o valor da causa levará ambas em conta (art. 292, §1º, CPC). No entanto,
o valor das prestações vincendas terá por base a prestação anual, caso a obri-
gação seja por tempo indeterminado ou por tempo superior a um ano; sendo
por tempo inferior, será igual à soma das prestações (art. 292, §2º, CPC).
60
de prova (art. 319, VI, CPC). No entanto, há certa divergência doutriná-
ria quanto ao conteúdo e mesmo à utilidade dessa indicação dos meios
de prova.
61
das hipóteses em que o exercício da função de facilitador seja exercida
por funcionários concursados, atuação por meio de trabalho voluntário
20
As espécies a, b, c e d são mencionadas por: MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; ARENHART, Sergio Cruz. Novo
curso de processo civil. São Paulo: RT, 2015, v. 2, p. 380-381. Para Araken de Assis, estes seriam os mencionados no ponto a,
além de mencionar os relacionados aos pressupostos processuais objetivos extrínsecos. (ASSIS, Araken de. Processo civil
brasileiro... cit., p. 95).
62
Ainda nesse caso, inclui-se a prova do mandato judicial, que deve ser juntado
à petição inicial (art. 104, caput, do CPC e art. 5º, Lei nº 8.906/1994), documen-
to relacionado à regularidade da representação técnica.
21
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; ARENHART, Sergio Cruz. Novo curso de processo civil... cit., p. 381.
63
4. Pedido
64
trado se ater aos pedidos realizados pelo autor, como forma de garan-
tia contra o arbítrio judicial, pois, como bem afirma Álvaro de Oliveira,
“não há juiz mais arbitrário do que o juiz parcial, abuso que se tornaria
insuportável se lhe fosse facultado decidir acerca de seu próprio inte-
resse”27, de forma a aplicar, em sua integralidade, o princípio dispositivo.
27
Do formalismo no processo civil: proposta de um formalismo-valorativo. 3. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 94-95.
28
MACHADO, Marcelo Pacheco. A correlação no processo civil. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 71
65
4.2. Requisitos dos pedidos
Para o adequado processamento dos pedidos, o CPC exige que ele seja
certo (art. 322), determinado (art. 324), claro (art. 330, §1º, II) e coerente
(art. 330, §1º, I).
A certeza significa que o pedido mediato deve ser indicado pela parte. Ela
deverá indicar qual o bem da vida pretendido por meio do processo. Deve
indicar que, por exemplo, deseja uma quantia monetária por decorrência
de uma lesão injusta ao seu direito de imagem, que requer a anulação de
um contrato etc.
A determinação, por sua vez, seria uma espécie de continuação da deli-
mitação do pedido para além da certeza. Aqui, a exigência dirige-se para,
quando for o caso, que seja delimitada tanto a qualidade quanto a quan-
tidade do pedido mediato. Em algumas hipóteses, o pedido pode ser par-
cialmente indeterminado, hipótese em que será considerado genérico,
hipótese analisada adiante.
A clareza do pedido é uma exigência relacionada com a aptidão de permi-
tir que tanto a parte possa se contrapor adequadamente a ele, como que
permita ao juiz compreender exatamente o que requer a parte. A coerên-
cia do pedido seria a sua adequação para com a causa de pedir. Sendo
o pedido incoerente, tem-se verdadeira hipótese de inépcia da petição
inicial.
29
ABRANTE GERALDES, António Santos. Temas da reforma do processo civil. 2ª ed. Coimbra: Almedina, 2006, v. 1., p. 134
66
Os pedidos cumulados podem ou não ter fundamentos distintos, portan-
to a mesma causa de pedir pode servir a vários pedidos, como cada um
deles pode ter uma pluralidade própria de causae petendi.30 Portanto, não
se pode confundir cumulação de pedidos com cumulação de causas de
pedir.
4.4.1. Própria
67
os pedidos, haverá uma relação de dependência entre o pedido sucessi-
vo e o inicial, condicionante, ou seja, o segundo pedido só será analisado
caso o primeiro seja procedente. Há um vínculo de precedência lógica
entre os pedidos realizados.
4.4.2. Imprópria
68
obrigatória e inafastável”31.
Haverá uma ordem de preferência entre os pedidos, embora esta não
tenha natureza material, sendo apenas decorrente da manifestação de
vontade do autor32, que possa estar inseguro acerca do seu direito.
É importante ressaltar que, havendo a cumulação e sendo estabelecida
uma ordem de preferência entre os pedidos, o juiz a ela estará vinculando,
não podendo, em nenhuma hipótese, desobedecê-la e analisar o pedido
subsidiário anteriormente à análise do principal,33 caso em que incorrerá
em error in procedendo. Ele só pode ser apreciado caso o pedido principal
seja examinado e rejeitado ou simplesmente haja algum óbice ao seu co-
nhecimento pelo magistrado (E. 287, do FPPC).34
No caso de o pedido principal ser julgado apenas parcialmente proce-
dente, alguns doutrinadores afirmam que o magistrado poderia passar à
análise do segundo35, pois seria possível presumir que o interesse do au-
tor seria melhor tutelado com a procedência total do pedido subsidiário
do que com a procedência parcial do principal36. No entanto, parece-nos
que, caso entenda o magistrado que seja possível apenas acolher parcial-
mente a ambos, deverá dar prevalência à ordem de preferência efetuada
pelo autor37.
Um dos seus diferenciais em relação à cumulação simples é o fato de
ser desnecessária a existência de compatibilidade entre eles, havendo,
na verdade, até uma relação de prejudicialidade, pois a análise de um de-
pende da improcedência do outro.38 Por exemplo, quando o autor pede a
anulação do negócio e, sendo improcedente, a sua rescisão por infração
de alguma cláusula. No entanto, deve haver algum nexo jurídico entre
os pedidos, decorrendo ambos do mesmo ato ou fato jurídico, pois tal
31
TJÄDER, Ricardo Luiz da Costa. Cumulação eventual de pedidos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p. 36-37.
32
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Reflexões sobre a cumulação subsidiária de pedidos. CRUZ E TUCCI, José Rogério; BEDAQUE,
José Roberto dos Santos (Coords.). Causa de pedir e pedido no processo civil. São Paulo: RT, 2002, p. 283.
33
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Reflexões sobre a cumulação subsidiária de pedidos... cit., p. 286.
34
E. 287, do FPPC: O pedido subsidiário somente pode ser apreciado se o juiz não puder examinar ou expressamente
rejeitar o principal.
35
CRUZ E TUCCI, José Rogério. Reflexões sobre a cumulação subsidiária de pedidos... cit., p. 287.
36
TJÄDER, Ricardo Luiz da Costa. Cumulação eventual de pedidos... cit., p. 83.
37
Ricardo Luiz da Costa Tjäder, por sua vez, entende que deveria o magistrado fazer uma ponderação de interesses para
que possa analisar qual pedido seria capaz de melhor satisfazer os interesses do autor. Idem, p. 84. Não coadunamos com
tal posição, pois deve o magistrado, no caso de procedência parcial de ambos, obedecer à ordem preestabelecida pelo
autor, sob pena de violação da necessária congruência entre o pedido e a decisão.
38
SILVA, Ovídio Araújo Baptista da; GOMES, Luiz Fábio. Teoria Geral do processo civil. 5ª ed. São Paulo: RT, 2009, p. 223.
69
cumulação justifica-se por uma eventual insegurança do autor quanto ao
acolhimento do pedido principal, vindo a formular um subsidiário.
4.4.3. Alternativa
A cumulação alternativa consiste no cúmulo de pedidos, sem ordem de
preferência, para que apenas um deles possa ser julgado procedente (art.
326, parágrafo único). Um exemplo seria o decorrente da pretensão do
depositário, que pode pedir a restituição do bem ou o abatimento do pre-
ço. Não se confunde com o pedido alternativo,42 pois, neste caso, há ape-
nas um único pedido, originário de uma obrigação alternativa, “na qual
39
“O pedido subsidiário (art. 326) não apreciado pelo juiz – que acolheu o pedido principal – é devolvido ao tribunal com a
apelação interposta pelo réu”.
40
No mesmo sentido o enunciado no 288, do FPPC: Quando acolhido o pedido subsidiário, o autor tem interesse de
recorrer em relação ao principal.
41
STJ, Corte Especial, EREsp 616.918/MG, Rel. Min. Castro Meira, j. 02/08/2010, DJe 23/08/2010.
42
No mesmo sentido: CARVALHO, Milton de Paulo. Do pedido no processo civil. Porto Alegre: Safe, 1992, p. 107.
70
o vínculo abrange um conjunto de objetos, dos quais um só tem de ser
prestado”.43
43
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 21ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2007, v. 1, p. 121.
44
Em sentido contrário, como sendo um tipo de cumulação subsidiária: ASSIS, Araken. Cumulação de ações, 3ª ed. São
Paulo: RT, 1998, p. 254; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel; ARENHART, Sergio Cruz. Novo curso de processo
civil. São Paulo: RT, 2015, v. 2, p. 163.
71
4.4.5. Requisitos para a cumulação de pedidos
4.4.5.1. Compatibilidade
72
nas cumulações impróprias (subsidiária e alternativa), de acordo com o
§3º, do art. 327, na qual haverá, por óbvio, até uma relação de prejudicia-
lidade entre os pedidos, como no caso da cumulação subsidiária.
4.4.5.2. Competência
Para que o juiz possa conhecer dos pedidos cumulados, dever ser compe-
tente para conhecer de ambos (art. 327, §1º, II). No entanto, a constatação
de que há incompetência em relação a um dos pedidos não implicará no
indeferimento da inicial, mas apenas no não conhecimento daquele para
o qual o magistrado seja incompetente. Um exemplo dessa situação é
visualizado no enunciado n. 170 da jurisprudência dominante do STJ, que
afirma competir ao juízo onde for intentada a ação de acumulação de
pedidos, trabalhistas e estatutário, decidi-la nos limites da sua jurisdição,
sem prejuízo do ajuizamento de nova causa, com pedido remanescente,
no juízo próprio. O próprio CPC/2015 traz outro exemplo, pois no art. 45,
que trata do deslocamento da competência pela intervenção de ente fe-
deral, caso que não deverá ocorrer caso haja cumulação de pedido e um
deles seja de competência do juízo em que foi proposta a ação.
Para as hipóteses mencionadas, caberá à parte ajuizar nova ação para
poder veicular o pedido para o qual o juízo do primeiro processo era
incompetente.
73
incompetência pelo réu (Enunciado n. 289 do FPPC).
Na hipótese de o juiz ser absolutamente incompetente para conhecer um
dos pedidos, a exemplo de pedido de divórcio, que deveria tramitar na
vara de família, cumulado com reintegração de posse de algum imóvel,
embora possa o réu alegá-la na contestação (art. 64, caput, c/c art. 337,
II, CPC), nada impede que seja conhecida de ofício ou alegada posterior-
mente (art. 64, §1º, CPC). Não há, aqui, hipótese de prorrogação ou de
conexão, impedindo o conhecimento pelo juiz do pedido para o qual seja
absolutamente incompetente.
74
procedimento em comum. Para Fredie Didier Jr., pode haver conversão
quando o procedimento especial é apenas uma alternativa das partes,
uma escolha, a exemplo do mandado de segurança e da monitória. Não
haverá essa possibilidade se ele tiver sido criado para tutelar interesse
público, pois serão obrigatórios. Ex.: ações do controle concentrado, in-
terdição, desapropriação etc.
75
O seu equivalente, o inciso II, do art. 329, do CPC/2015, não mais traz ter-
mos tão proibitivos. Por conta disso, passaria a ser possível, por meio de
negócio jurídico processual, a alteração da demanda por acordo entre
as partes mesmo após o saneamento.50
76
Não se nega, com isso, a importância da estabilidade processual, relacio-
nada à sua divisão de fases, densificando, assim, o princípio da segurança
jurídica. No entanto, a nova lógica do CPC, valorizando a autonomia da
vontade e até a economia processual, de um ponto de vista macro, sem
que se exija à parte que se utilize de outro processo para discutir uma
alteração com a qual o réu concorde, devem prevalecer sobre a estabili-
dade do processo. Se, de um ponto de vista, ele será dilatado no tempo,
de outro, resolverá mais um pedido sem que haja necessidade de outro
processo autônomo.
77
sua quantidade ou qualidade. No entanto, ele jamais pode ser completa-
mente indeterminado, sendo, sempre, determinável.56 Por isso há quem o
classifique como pedido certo, mas com determinação diferida.57 Se a parte
requer uma universalidade, deverá, ao menos, individualizá-la, indicando
qual é a que deseja, qual o quinhão que alega ter direito etc. Por exemplo,
78
ambiental que ainda não findou. Outra situação deriva da cobrança dos
direitos autorais pela retransmissão radiofônica de músicas em estabele-
cimentos hoteleiros que deve ser feita conforme a taxa média de utiliza-
ção do equipamento, apurada em liquidação (S. 261, STJ).
79
autor não indique na inicial tratar-se de pedido alternativo, o direito de
escolha deve ser devidamente assegurado ao réu (art. 325, parágrafo úni-
co, CPC). A eventual de ocorrência de revelia por parte do réu não deve
ser considerada renúncia do exercício do direito de escolha. Um fator que
reforça essa conclusão deriva do fato de que a revelia é considerada um
ato-fato, ou seja, uma omissão avolitiva. Esse direito de escolha deve ser
respeitado pelo magistrado no momento da decisão que acolha o pedido.
80
4.6.4. Pedido implícito
A primeira hipótese são as verbas de sucumbência (art. 322, §1º, CPC), que
abrangem as despesas processuais63 (art. 82, §2º) e os honorários advoca-
tícios (art. 85, caput). O segundo seriam os juros legais (art. 322, §1º). Os
juros legais são originários da própria lei, mesmo não tendo sido conven
cionados, sendo, em geral, decorrentes do inadimplemento da obrigação.
O STJ também tem considerado como pedido implícito o de juros sobre o
capital próprio.64 No entanto, os juros convencionais e os compensatórios
situam-se fora do âmbito do art. 322, §1º, do CPC, devendo ser alvo de
pedido expresso.
Será desnecessário também o pedido expresso acerca da correção mo-
netária (art. 322, §1º), de modo a manter o equilíbrio das prestações mo-
netárias, bem como o requerimento da condenação referente às pres-
tações sucessivas nas ações que tenham por objeto o cumprimento de
62
MACHADO, Marcelo Pacheco. A correlação no processo civil: relações entre a demanda e a tutela jurisdicional. Salvador:
Juspodivm, 2015, p. 141-142.
63
O termo despesa é gênero, dos qual decorrem três espécies: a) custas, que seriam a remuneração da atividade jurisdicional;
b) emolumentos, destinados à remuneração dos serviços realizados pelos cartórios ou serventias não oficiais e c) despesas
em sentido estrito, que seriam a remuneração de terceiros envolvidos na prestação jurisdicional, como o pagamento de
honorários do perito. (CUNHA, Leonardo José Carneiro. A fazenda pública em juízo. 8ª ed. São Paulo: Dialética, 2010, p. 123).
64
STJ, 2ª Seção, REsp 1373438/RS, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 11/06/2014,
DJe 17/06/2014.
81
obrigações de trato sucessivo (art. 323, do CPC).
82
a exceção dos implícitos; b) a identificação dos pedidos decorre da inter-
pretação da demanda como declaração de vontade; c) a interpretação
deve levar em conta o texto da petição inicial; d) a defesa também pode
auxiliar na compreensão dos pedidos; e) a interpretação do pedido deve
observar o princípio da boa-fé e os usos do lugar da postulação.66
83
igualmente competentes em abstratos tenham uma igualdade aritmética
(art. 285, caput, primeira parte, CPC/2015), impedindo que um deles aca-
be sobrecarregado numericamente em número de feitos.
De forma expressa, o art. 286, I a III, afirma que a atribuição por depen-
dência deve ocorrer nos seguintes casos: a) conexão ou continência; b)
quando, tendo sido extinto o processo sem resolução de mérito, for rei-
terado o pedido, ainda que em litisconsórcio com outros autores ou que
sejam parcialmente alterados os réus da demanda; c) quando houver o
risco de prolação de decisões conflitantes ou contraditórias caso sejam
decididas separadamente, mesmo que não haja conexão entre elas. O pa-
rágrafo único do mencionado texto normativo ainda menciona a hipótese
de intervenção de terceiro, reconvenção ou outra hipótese de ampliação
69
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro... cit., p. 97-98.
70
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro... cit., p. 98.
71
MARCATO, Antonio Carlos. Breves considerações sobre jurisdição e competência. Revista de Processo. São Paulo: RT, v.
66, abr./jun.-1992, p. 42, nota de rodapé no 23; MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado... cit.,
comentários ao art. 286, no I, versão digital.
84
objetiva do processo, a exemplo do incidente de desconsideração da per-
sonalidade jurídica (arts. 133-137, CPC). De forma implícita, ainda se pode
mencionar o caso das ações acessórias, que exigem a atribuição por de-
pendência (art. 61, CPC).
85
relação processual, não será mais caso de indeferimento liminar da petição
inicial, enquadrando-se essa situação em alguma das hipóteses de extin-
ção sem resolução de mérito, do art. 485, I, do CPC/2015.
Essa distinção é importante, pois, sendo indeferida a inicial após a citação
do réu, caberá a condenação do autor em honorários advocatícios, além
das custas.
Caso sentença determine o total indeferimento liminar da petição inicial,
antes da citação do réu, o CPC/2015 estabelece um regime especial de
impugnação desta decisão, em seu art. 331.
Se a sentença for reformada para afirmar que não era hipótese de indefe-
rimento da petição inicial, o prazo para a contestação começará a correr
da intimação do retorno dos autos, observado o disposto no art. 334, nos
termos do art. 331, §2º, CPC.
86
uma vez verificada a ocorrência de alguma das situações descritas em
seu art. 330 do CPC/2015, tais como inépcia, manifesta ilegitimidade da
parte, ausência de interesse processual e não atendimento às prescrições
dos arts. 106 e 321.
87
que, em razão da cobrança indevida, o réu seja condenado a lhe prestar
alimentos até o fim da vida, ou que seja o réu condenado a fazer uma
doação a instituição de caridade, ou ainda que se abstenha de explorar
comercialmente seu negócio, pois nenhuma dessas medidas pode
ser considerada consequência lógica cabível, a partir dos fatos narrados
pelo autor.
88
6.4. Não atendimento às prescrições dos arts. 106 e 321
do CPC/2015
O art. 106, do CPC traz a exigência de que o advogado, mesmo quando
postulando em causa própria, indique o endereço, número de inscrição
na Ordem dos Advogados do Brasil e o nome da sociedade de advogados
da qual participa, para o recebimento de intimações.
O art. 321, do CPC, por sua vez, é a regra que permite a emenda da inicial,
uma vez verificados vícios sanáveis. Não cumprida a diligência determinada
pelo juiz no prazo determinado, será caso de indeferimento liminar da inicial.
89
mula de tribunal de justiça sobre direito local (art. 332, inciso IV, do CPC)
e ainda nas hipóteses de prescrição ou decadência (art. 332, § 1º, do CPC),
sempre havendo a desnecessidade de dilação probatória constatada pelo
juízo.
90
Essa é uma interpretação sistemática necessária para dar maior racionali-
dade à tentativa do CPC/2015 de organizar uma sistemática de preceden-
tes obrigatórios, do contrário, haveria um nítido descompasso entre os
enunciados jurisprudenciais obrigatórios (art. 927, do CPC) e as hipóteses
de improcedência liminar do pedido ao tratarem do mesmo tema – as sú-
mulas do STJ e do STF.
Quanto ao procedimento desse julgamento pela improcedência liminar,
tem-se que, interposta a apelação, o juiz poderá se retratar em cinco dias
(art. 332, §3º, CPC), caso em que determinará o prosseguimento do pro-
cesso, com a citação do réu (art. 332, §4º, CPC). Não havendo retratação,
determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de
15 (quinze) dias (art. 332, §4º, CPC).
91
CPC,78 eis que, em outras situações, deveria haver a prévia intimação das
partes para se manifestarem sobre essas hipóteses de improcedência
caso não tivesse sido discutida entre as partes.
O que se faz no art. 332, do CPC como forma de mitigar a redução do
contraditório, é garantir que, por meio do efeito regressivo, haja algum
diálogo entre o apelante e o magistrado, pois, no recurso, o recorrente
poderá demonstrar que: a) o processo requer dilação probatória e/ou b)
que o pedido não contraria nenhum dos precedentes ou enunciados nos
incisos do caput ou que não ocorreu a prescrição ou a decadência. E, em
tendo sucesso nessa argumentação, deve haver a retratação e o prosse-
guimento do processo, com a citação do réu (art. 332, §4º, do CPC).
Além disso, é preciso pensar ainda no fato de que, na maioria dos casos,
o julgamento pela improcedência liminar está relacionado a um processo
repetitivo no qual um advogado minimamente diligente terá conhecimen-
to do precedente obrigatório aplicável ao seu caso. Na grande maioria
dos casos, todas as peças nos processos repetitivos são modelos que sim-
plesmente se repetem. Exigir a aplicação do art. 10, do CPC nas hipóteses
de processos repetitivos é incentivar um diálogo de surdos que provavel-
mente não terá significativo reflexo na qualidade da decisão. Mesmo nas
outras hipóteses de aplicação de precedentes, a legislação parte do pres-
suposto de que um advogado diligente deve ter conhecimento de tais jul-
gados a ponto de levá-los em consideração na sua petição inicial. A única
hipótese em que pode ser criticada a escolha legislativa é a da prescrição
e decadência em que existem diversos fatores que podem impedir a sua
incidência no caso concreto e que poderiam ser esclarecidas pela parte.
No entanto, a escolha legislativa parece clara em ter dado maior valor à
duração razoável do processo do que ao contraditório, permitindo, ao
menos, a possibilidade da retratação.
78
FREIRE, Alexandre; RAMOS NETO, Newton Pereira. Comentários ao art. 332. FREIRE, Alexandre; STRECK, Lenio; CUNHA,
Leonardo Carneiro da; NUNES, Dierle (coords). Comentários ao código de processo civil. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 482. Em
sentido contrário, defendendo que deve haver a incidência do art. 10 também nesses casos: ROQUE, Andre. Contraditório
participativo: evolução, impactos no processo civil e restrições. Revista de Processo. São Paulo: RT, v. 279, mai.-2018, versão
digital, tópico 6.
92
Pontuando
Glossário
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Sobre a improcedência liminar do pedido, assinale a alter-
nativa correta:
a) Nas hipóteses de improcedência liminar do pedido, a
93
apelação dessa decisão terá o prazo de dez dias.
b) Havendo interposição de apelação de decisão de im-
procedência liminar do pedido, o juiz poderá se retra-
tar em dez dias.
c) Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, in-
dependentemente da citação do réu, julgará liminar-
mente improcedente o pedido que contrariar enun-
ciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça.
d) Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, in-
dependentemente da citação do réu, julgará liminar-
mente improcedente o pedido que contrariar súmula
de tribunal regional federal.
e) Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, in-
dependentemente da citação do réu, julgará liminar-
mente improcedente o pedido que contrariar súmula
de tribunal local sobre direito nacional.
2. Sobre a petição inicial, assinale a alternativa correta:
a) É requisito da petição inicial a requisição da citação do
réu.
b) b) A petição inicial não precisa indicar o endereço ele-
trônico do réu.
c) Havendo vício na petição inicial, não cabe ao juiz deter-
minar a sua emenda.
d) O juiz, ao verificar que a petição inicial apresenta defei-
tos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento
de mérito, determinará que o autor, no prazo de quinze
dias, a emende ou a complete, indicando com precisão
o que deve ser corrigido ou completado.
e) O juiz, ao verificar que a petição inicial apresenta defei-
tos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento
de mérito, determinará que o autor, no prazo de vinte
dias, a emende ou a complete, indicando com precisão
94
o que deve ser corrigido ou completado.
3. Sobre o pedido, assinale a alternativa correta:
a) Compreendem-se no principal apenas os juros legais e
a correção monetária.
b) Caso a parte não requeira a condenação da parte ad-
versa em honorários advocatícios, o juiz não poderá fa-
zê-lo de ofício.
c) Na ação que tiver por objeto cumprimento de obrigação
em prestações sucessivas, essas serão consideradas in-
cluídas no pedido, independentemente de declaração
expressa do autor, e serão incluídas na condenação,
enquanto durar a obrigação, se o devedor, no curso do
processo, deixar de pagá-las ou de consigná-las.
d) O pedido deve ser certo ou determinado.
e) O pedido será ilícito quando o devedor puder cumprir
a prestação de mais de um modo.
4. Sobre o indeferimento da petição inicial, assinale a alterna-
tiva correta:
a) Não é causa de inépcia a ilegitimidade da parte.
b) Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, faculta-
do ao juiz, no prazo de três dias, retratar-se.
c) Haverá improcedência liminar do pedido quando a peti-
ção inicial for inepta.
d) Nas ações que tenham por objeto a revisão de obrigação
decorrente de empréstimo, de financiamento ou de alie-
nação de bens, o autor terá de discriminar, sob pena de
inépcia, na petição inicial, dentre as obrigações contratu-
ais, aquelas que pretende controverter, além de quantifi-
car o valor incontroverso do débito.
e) O recurso cabível da decisão que indefere a petição inicial
é o agravo de instrumento.
5. Sobre a petição inicial, assinale a alternativa correta:
a) Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz,
95
independentemente da citação do réu, julgará liminar-
mente improcedente o pedido que contrariar decisão do
pleno do STF.
b) Considera-se inepta a petição inicial quando falta a indica-
ção do valor da causa.
c) Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, faculta-
do ao juiz, no prazo de dez dias, retratar-se.
d) O pedido será alternativo quando, pela natureza da obri-
gação, o devedor puder cumprir a prestação de mais de
um modo.
e) É ilícita a cumulação, em um único processo, contra o mes-
mo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não haja
conexão.
Referências Bibliográficas
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BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O novo processo civil brasileiro. 23ª ed. Rio de
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96
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CRUZ E TUCCI, José Rogério. A causa petendi no processo civil. 2ª ed. São Paulo: RT,
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97
MARQUES, José Frederico. Manual de direito processual civil. 9ª ed. Campinas;
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MEDINA, José Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado. São Paulo:
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MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico: plano da existência. 16ª ed.
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NERY JR. Nelson; NERY JR, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comen-
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PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 21ª ed. Rio de Janeiro:
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SILVA, Ovídio Araújo Baptista da; GOMES, Luiz Fábio. Teoria Geral do processo civil.
5ª ed. São Paulo: RT, 2009.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 57ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2015, v. 1.
98
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Estabilização da demanda no novo Código de
Processo Civil. Revista de Processo. São Paulo: RT, jun.-2015
Gabarito
Questão 01 - Resposta: C
Questão 02 - Resposta: D
Questão 03 - Resposta: C
De acordo com o art. 323 do CPC, “Na ação que tiver por objeto cum-
primento de obrigação em prestações sucessivas, essas serão con-
sideradas incluídas no pedido, independentemente de declaração
expressa do autor, e serão incluídas na condenação, enquanto durar
a obrigação, se o devedor, no curso do processo, deixar de pagá-las
ou de consigná-las”.
Questão 04 - Resposta: D
De acordo com o art. 330, §2º, do CPC, “Nas ações que tenham por
99
objeto a revisão de obrigação decorrente de empréstimo, de finan-
ciamento ou de alienação de bens, o autor terá de, sob pena de inép-
cia, discriminar na petição inicial, dentre as obrigações contratuais,
aquelas que pretende controverter, além de quantificar o valor in-
controverso do débito”.
Questão 05 - Resposta: D
100
TEMA 03
Objetivos
1 WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo civil. 16ª Ed. São Paulo: RT, 2016. p. 252.
Dinamarco ainda frisa que, tal qual a ação, a defesa é igualmente um poder
de atuar de caráter atípico, podendo ser exercido com ou sem tipificação
legal específica, asseverando que “sempre que não ocorra alguma pon-
derável razão de ordem pública prevalece a garantia constitucional, e o
sistema judiciário estára aberto a pretensões de toda ordem e defesas de
toda espécie, segundo as normas de direitos substancial ou processual”.3
2
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 7ª Ed. São Paulo: Malheiros, 2017. Vol. II. p. 377-379.
3
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições... p. 381-382.
4 BURIL, Lucas; CARVALHO, Maurício Schibuola. Retomando a polêmica em torno da ação: apontamentos compreensivos
a uma disputa terminológica. Revista Eletrônica de Direito Processual – REDP. Rio de Janeiro. Ano 12. Volume 19. Número 1.
Janeiro a Abril de 2018. www.redp.uerj.br.
A essa lição clássica, que atribui ao direito de defesa um caráter mais li-
mitado e essencialmente passivo, opõe-se frontalmente Fredie Didier Jr.,
que vislumbra diversas possibilidades lícitas em que o réu, em sede de
contestação, poderá, de fato, demandar, embora com pedidos bastante
peculiares, citando como exemplos os pleitos por: a) extinção do proces-
so sem exame do mérito; b) remessa dos autos ao juízo competente ou
ao juízo prevento; c) devolução do prazo de defesa; d) improcedência do
pedido do autor; e) condenação do autor às verbas de sucumbência; f)
condenação do autor por litigância de má-fé; e) pretensão dúplice nos
casos de ação dúplice. 6
Além disso, tal interpretação que simplifica o exercício da defesa vai ao en-
contro de uma tendência atualmente sufragada no próprio regime implanta-
do pelo CPC em vigor, que extinguiu exceções instrumentais para concentrar
ainda mais as alegações das matérias de defesa na própria contestação, con-
forme será detalhado em tópico específico deste trabalho. Trata-se de nítida
facilitação do direito de defesa propiciada pela própria lei processual.
7
RE 70.951/GB, Rel. Ministro Aliomar Baleeiro, Primeira Turma, julgado em 06.10.1970, DJ 13.11.1970; REsp 1.507.887/RS,
Rel. Ministro João Otávio de Noronha, publicada em 15.05.2015; AREsp 465.758/RS, Rel. Ministra Isabel Gallotti, publicada
em 30.04.2014; e REsp 549.587/PE, Rel. Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, julgado em 23.03.2004, DJ 10.05.2004.
O art. 346 do CPC/2015, por sua vez, prevvê que: “os prazos contra o revel
que não tenha patrono nos autos fluirão da data de publicação do ato de-
cisório no órgão oficial”. Trata-se do chamado efeito processual da revelia
9 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito... p. 749.
3.1. Contestação
Por força dessa regra, é certo também que o réu deve arguir em sua contes-
tação, de forma concentrada, tanto questões processuais, quanto de mérito.
Exige-se, todavia, que as defesas processuais sejam expostas de forma preli-
minar na contestação, antes de se exporem as questões de ordem material,
conforme determinado no art. 337, o qual lista como questões processuais
que devem ser arguidas previamente às de mérito as seguintes:
I - inexistência ou nulidade da citação; II - incompetência absoluta e relativa;
III - incorreção do valor da causa; IV - inépcia da petição inicial; V - peremp-
ção; VI - litispendência; VII - coisa julgada; VIII - conexão; IX - incapacidade
da parte, defeito de representação ou falta de autorização; X - convenção
de arbitragem; XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual; XII
- falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar; XIII
- indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça.
Das matérias expostas no rol do art. 337, do CPC apenas convenção de ar-
bitragem e incompetência relativa não podem ser reconhecidas de ofício
pelo juiz. Todas as outras, mesmo que o réu não as alegue em sua con-
testação, poderão ser examinadas pelo julgador, mas sempre de forma
11
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIEIRO, Daniel; ARENHART, Sérgio Cruz. Novo curso de processo civil. São Paulo: RT,
2017. V. 2 (versão eletrônica), Tópico 4.2.
Propõe, então, que o art. 337 do CPC/2015 não seja interpretado literal-
mente, porquanto deduz a existência em nosso sistema do princípio da
primazia do exame de mérito (art. 4º, CPC/2015), o qual determina que uma
decisão que resolva o mérito é sempre preferencial àquela que invalide
o procedimento, lógica que persiste inclusive quando se considera a si-
tuação do réu, para quem entende ser mais interessante um julgamento
de improcedência do pedido que resolva definitivamente o litígio, do que
uma extinção do processo sem resolução do mérito, eis que este último
tipo de decisão não impede a repropositura da demanda, caso o autor
sane o defeito que determinou a extinção prematura do feito.13
Na sequência, o art. 339, do CPC ainda tratou de criar para o réu a obri-
gação de indicar o sujeito passivo da relação jurídica discutida, sempre
que tiver conhecimento, quando alegue a sua ilegitimidade, sob pena de
arcar com as despesas processuais e de indenizar o autor pelos prejuí-
zos decorrentes da falta de indicação.
14
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições... p. 380.
Por fim, o CPC/2015 ainda apresenta outra curiosa solução quando hou-
ver impasse acerca da legitimidade passiva. Ao invés de “corrigir” o polo
passivo, pedindo a exclusão de um réu para o ingresso de outro, o autor
poderá ainda optar por formar um litisconsórcio passivo entre aquele pri-
meiramente demandado e o sujeito apontado pelo réu como legitimado
(art. 339, §2º, CPC/2015).
Obviamente essa regra não deverá ser aplicada de maneira inflexível, es-
tabelecendo o próprio CPC/2015, nos incisos do art. 341, quais as situa-
ções em que se excepciona o rigor da impugnação especificada. Assim,
não deve ser reconhecida a veracidade de determinada alegação exposta
na petição inicial, mesmo quando não impugnada especificadamente pelo
réu, se pelo conjunto dos dados constantes nos autos (alegações das par-
tes, documentos, etc.) não se mostrar plausível. Da mesma forma, caso
o autor não apresente documento imprescindível para demonstração da
veracidade do alegado (ex. título de propriedade sobre o bem litigioso),
não poderá ser presumida a sua veracidade, mesmo se o réu não impug-
nar a questão de forma específica. Enfim, também não incide a regra da
impugnação especificada quando do fato não impugnado não se admitir
confissão.
3.2. Reconvenção
Pontuando
1. Reflexões iniciais acerca do direito de defesa (exceção).
2. Atitudes do réu e revelia.
3. Espécies de respostas do réu: contestação e reconvenção.
4. Arguição de suspeição e impedimento
Glossário
19
DIDIER JR., Fredie. Curso de... p. 755.
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. A respeito das respostas do réu é incorreto afirmar-se o
seguinte:
a) A contestação deve concentrar todas as matérias de
defesa, de mérito e processuais, por força da regra da
eventualidade.
b) Excetuadas a convenção de arbitragem e a incompe-
tência absoluta, o juiz conhecerá de ofício das matérias
de defesa listadas no art. 337, do CPC/2015.
c) A desistência da ação ou a ocorrência de causa extin-
tiva que impeça o exame de seu mérito não obsta ao
prosseguimento do processo quanto à reconvenção.
d) O réu poderá propor reconvenção mesmo que não
apresente contestação.
e) Reconvenção e contestação podem ser propostas con-
juntamente, na mesma peça processual.
2. É efeito material da revelia o seguinte:
a) Prazos contra o réu revel fluirão da data de publicação
do ato decisório no órgão oficial.
b) Julgamento antecipado pela procedência da ação.
c) Presunção de veracidade dos fatos alegados pela parte
autora.
Referências Bibliográficas
Questão 2 – Resposta: C
O denominado efeito material da revelia é aquele descrito no art. 344 do
CPC/2015, o qual dispõe que: “Se o réu não contestar a ação, será consi-
derado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de fato formula-
das pelo autor”.
Questão 3 – Resposta: A
Trata-se de uma defesa indireta de mérito, pois João Francisco reconhece
a existência da dívida, mas agrega um fato novo de ordem extintiva, qual
seja: pagamento.
Questão 4 – Resposta: B
“Promover ação contra a parte ou seu advogado” é caso de impedimento
previsto no inc. IX, art. 144 do CPC/2015. Todas as demais situações lista-
das são casos de suspeição.
Questão 5 – Resposta: C
TUTELA PROVISÓRIA
Autoria: Ravi Peixoto e Tamyres Tavares de Lucena
Leitura crítica: Juliana Giovanetti Pereira da Silva
Objetivos
• Nesta aula, haverá o estudo do tema da tutela pro-
visória que passou por consideráveis mudanças no
CPC/2015, ora tentando simplificar, “unificando” a
tutela cautelar e a antecipada, ora criando novos pro-
cedimentos, como a tutela antecipada antecedente e
regulamentando a tutela da evidência.
• A tentativa de unificação da tutela antecipada e a
tutela cautelar é uma situação até curiosa, eis que,
ao mesmo tempo, houve a criação de procedimentos
autônomos para cada uma dessas espécies de tutela
provisória. Nesta aula, poderemos verificar as dife-
renças entre eles.
• Além de analisar os elementos gerais da tutela provi-
sória, será possível o estudo dos requisitos específicos
da tutela de urgência, bem como o tratamento e as
polêmicas existentes em relação à tutela da evidência.
O art. 294, caput, do CPC, aponta que a tutela provisória poderá ser re-
querida tanto com base na urgência quanto na evidência. Enquanto nas
tutelas de urgência, além da probabilidade do direito, impõe-se à parte a
demonstração do perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo
(art. 300, caput, CPC), na tutela de evidência esse perigo de dano é dispen-
sado. Exige-se apenas a demonstração da evidência do direito.
Nos termos do art. 294, parágrafo único, do CPC, a tutela provisória de ur-
gência, seja ela cautelar ou antecipatória, poderá ser requerida incidental-
mente a um processo ou de forma antecedente. Destaque-se que a tutela
de evidência apenas pode ser requerida de forma incidental.
3.4. Competência
A tutela provisória incidental deve ser requerida ao juízo da causa (art.
299, caput, CPC) que é fundamentada pela prevenção, pois é sempre pre-
vento para quaisquer demandas incidentais.10 Se o processo estiver no
tribunal, em grau de recurso, caberá ao respectivo órgão colegiado co-
nhecer do pedido.
A tutela provisória antecedente, formulada por meio de petição inicial au-
tônoma, será requerida ao juízo competente para conhecer do pedido
principal. Essa constatação é facilitada – inclusive para efeitos de controle
pelo juiz e réu – devido à exigência de que tanto na tutela antecipada an-
tecedente (art. 303, CPC) quanto na tutela cautelar antecedente (art. 305,
CPC) haja a indicação do pedido final.
Se a competência para o pedido principal for de competência do juiz sin-
gular, caberá a ele conhecer o pedido antecedente; se for de competência
de tribunal, caberá à turma ou câmara, por sorteio, conhecer do pedido
antecedente.
10
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 7ª ed. São Paulo: Malheiros, 2017, t. III, p. 859.
11
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. 7ª ed. São Paulo: Malheiros, 2017, t. III, p. 862.
Essa mesma caução, por outro lado, não pode ser exigida nas situações
em que a parte economicamente não disponha de meios para oferecê-la
(art. 300, § 1º, CPC). Basta voltar ao exemplo do benefício previdenciário
para vislumbrar que a exigência de caução simplesmente tornaria impos-
sível a concessão da tutela provisória.
3.7. Recurso
13
STJ, 2ª T., REsp 1.706.944/SP, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 12/12/2017, DJe 19/12/2017.
14
STJ, 4ª T., AgRg no AREsp 849.649/ES, Rel. Min. Marco Buzzi, j. 19/10/2017, DJe 25/10/2017; STJ, 1ª T., AgRg no AREsp
273.744/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 19/09/2017, DJe 28/09/2017.
15
COSTA, Eduardo José da Fonseca. Comentários ao art. 300. CUNHA, Leonardo Carneiro da; NUNES, Dierle; STRECK, Lenio;
FREIRE, Alexandre. Comentários ao código de processo civil. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 425
16
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência. São Paulo: RT, 2017, p. 218; DIDIER JR., Fredie;
BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil. 12ª ed. Salvador: Juspodivm, 2017, v. 1, p. 665.
17
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro. São Paulo: RT, 2015, v. 2, t. II, p. 467.
18
Com o mesmo raciocínio: ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro. São Paulo: RT, 2015, v. 2, t. II, p. 468.
19
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro. São Paulo: RT, 2015, v. 2, t. II, p. 482.
20
STJ, 4ª T., AgInt no REsp 1.630.716/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/2016, DJe 02/02/2017; STJ, 2ª Seção, REsp
1.548.749/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 13/04/2016, DJe 06/06/2016.
21
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência. São Paulo: RT, 2017, p. 222; STJ, 4ª T., AgInt no REsp
1.630.716/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, j. 15/12/2016, DJe 02/02/2017; STJ, 2ª Seção, REsp 1.548.749/RS, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, j. 13/04/2016, DJe 06/06/2016.
22
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro. São Paulo: RT, 2015, v. 2, t. II, p. 480.
23
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência. São Paulo: RT, 2017, p. 222.
Tudo isso significa que, caso o juiz verifique que há requerimento de tutela
provisória, mas seja caso de tutela da evidência ou o contrário, não deve
25
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual civil. 12ª ed. Salvador: Juspodivm,
2017, v. 2, p. 699.
26
COSTA, Eduardo José da Fonseca. O direito vivo das liminares. São Paulo: Saraiva, 2011.
4. Tutela de urgência
Note-se que essa estabilização inicial possui o prazo de dois anos, que
é justamente o prazo para o ajuizamento da ação de revisão. Um dos
aspectos mais polêmicos acerca da tutela antecipada antecedente é jus-
tamente aquele relativo ao fenômeno que passa a caracterizar a decisão
após esses dois anos. Não há aqui nada próximo de uma unanimidade
doutrinária, sendo perceptível a existência de diversos posicionamentos
divergentes.
Há doutrina defendendo que, após esse prazo de dois anos, tem-se coisa
julgada material sobre a decisão provisória estabilizada35. Por conta dis-
so, seria cabível ação rescisória após esses dois anos36. Assim,
35
Apenas tratando da existência de coisa julgada: GRECO, Leonardo. A tutela da urgência e a tutela da evidência no código
de processo civil de 2015. MACÊDO, Lucas Buril de; PEIXOTO, Ravi; FREIRE, Alexandre. Doutrina Selecionada: Procedimentos
Especiais, Tutela Provisória e Direito Transitório. Salvador: Juspodivm, 2015, v. 4, p. 206; GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira.
Apontamentos para a tutela provisória (urgência e evidência) no Novo Código de Processo Civil. Revista de Processo. São
Paulo: RT, v. 254, abr.-2016, p. 206; THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. 56ª Rio de Janeiro:
Forense, 2015, v. 1, versão eletrônica, tópico 494; ARAÚJO, Fábio Caldas. Curso de processo civil. São Paulo: Malheiros, 2016,
v. 1, p. 1.002.
36
Fazendo menção à coisa julgada e à ação rescisória: GAJARDONI, Fernando da Fonseca; DELLORE, Luiz; ROQUE, André
Vasconcelos; OLIVEIRA JR., Zulmar Duarte de. Teoria geral do processo – comentários ao CPC de 2015 – parte geral. São
Paulo: Método, 2015, p. 903; REDONDO, Bruno Garcia. Estabilização, modificação e negociação da tutela de urgência
antecipada antecedente: principais controvérsias. Revista de Processo. São Paulo: RT, v. 244, jun.-2015, p. 187-188; ASSIS,
Araken de. Processo civil brasileiro. São Paulo: RT, 2015, v. II, t, II, p. 491.
Por mais que seja possível interpretar que o autor tenha tido o objetivo de
fazer referência à ausência de coisa julgada material, não parece adequada
a admissão da rescisória contra tais decisões. Há de se perceber que qual-
quer das partes já possui o prazo de dois anos para entrar com outra ação
visando discutir amplamente a tutela antecipada anteriormente concedi-
da. Simplesmente parece injustificável admitir que essa tutela antecipada
40
Como destaca Marcelo Barbi, “Não há nada, absolutamente nada, no ordenamento jurídico que impeça a atribuição
definitiva de um bem da vida com base em uma cognição sumária”. (GONÇALVES, Marcelo Barbi. Estabilidade soberana da
tutela provisória e coisa julgada: uma proposta de sistematização. Texto inédito, gentilmente cedido pelo autor).
41
A lacuna axiológica consiste em uma regulação de um determinado suporte fático de forma não satisfatória para o
intérprete. Não há propriamente lacuna, mas uma discordância na valoração da forma com a qual foi tratada normativamente
o tema. (GUASTINI, Riccardo. Problemas de conocimiento del derecho vigente. MORATONES, Carles Cruz; BLANCO, Carolina
Fernández; BELTRÁN, Jordi Ferrer (ed.). Seguridad jurídica y democracia em Iberoamérica. Madrid: Marcial Pons, 2015, p. 24).
42
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil – Lei 13.105/2015. São Paulo: Método, 2015, p. 211-212.
Concedida a tutela cautelar, o autor terá o prazo de trinta dias para diligen-
ciar para a sua efetivação, sob pena de que seja cessada a sua eficácia (art.
309, II, CPC). Uma vez efetivada, o autor terá o dever de formular o pedido
principal nos mesmo autos, no prazo de trinta dias (art. 308, caput, CPC).
Pelo fato de o pedido ser formulado nos mesmo autos, não se exige o
adiantamento de novas custas processuais (art. 308, caput, CPC). Na mes-
ma oportunidade em que formular o pedido principal, o autor poderá
aditar a causa de pedir, que agora se dirigirá ao pedido satisfativo, não
estando mais limitado ao direito a cautelar (art. 308, §2º, CPC).
47
MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência. São Paulo: RT, 2017, p. 257.
48
De forma semelhante: MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela de urgência e tutela da evidência. São Paulo: RT, 2017, p. 259;
COSTA, Eduardo José da Fonseca. Comentários ao art. 300. CUNHA, Leonardo Carneiro da; NUNES, Dierle; STRECK, Lenio;
FREIRE, Alexandre. Comentários ao código de processo civil. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 457.
A terceira hipótese legal ocorre nos casos em que o juiz julgue impro-
cedente o pedido principal formulado pelo autor ou venha a extinguir o
processo sem resolução do mérito (art. 309, inciso III, do CPC). Ainda há
perda da eficácia da tutela cautelar nos casos em que a sentença seja pela
procedência do pedido e ele venha a ser efetivado e satisfeito, situação
em que a referida tutela simplesmente deixa de ser necessária.53 Afinal,
não há mais nada a ser acautelado.
Essa mesma lógica ocorre nos casos em que a tutela cautelar perca sua
eficácia. Mesmo nas hipóteses do art. 309, I e II, do CPC, o autor poderá
ainda formular o pedido principal. O risco que passa a se sujeitar o autor
é o de ser responsabilizado objetivamente por eventuais danos sofridos
pelo réu.
A única hipótese em que o pedido principal não poderá mais ser formu-
lado é caso haja o reconhecimento da prescrição ou da decadência da
tutela definitiva ainda no processo cautelar (art. 310, CPC).
5. Tutela da evidência
54
BODART, Bruno V. da Rós. Tutela de evidência. 2ª ed. São Paulo: RT, 2015, p. 111.
Em relação aos precedentes que podem servir como suporte fático para
essa espécie de tutela da evidência, tem predominado o entendimento
de que não apenas as teses firmadas em processos repetitivos (incidente
de resolução de demandas repetitivas e recurso extraordinário e especial
repetitivos) podem ser utilizadas, mas todos os precedentes obrigatórios
mencionados no art. 927 do CPC.60 Tal interpretação teria por base uma
interpretação sistemática do CPC, no sentido de que a mesma força argu-
mentativa trazida pelos precedentes listados no art. 311, II, do CPC, também
estaria contida nos demais provimentos obrigatórios do art. 927 do CPC. Há
ainda quem realize interpretação ainda mais ampliativa, fazendo referência
à jurisprudência unânime de tribunal superior, portaria do Poder Executivo
que dispensa a oferta de contestação ou de recursos pela procuradoria etc.61
Em relação ao réu, deverá ele opor dúvida razoável, tanto por meio de
prova documental, quanto por meio de prova documentada, a exemplo
de perícia produzida por meio do procedimento de antecipação de prova.
Não o fazendo, tem-se a possibilidade de concessão da tutela da evidên-
cia, mas que não impede que essa dúvida razoável venha a ser comprova-
da durante a dilação probatória.
Pontuando
62
COSTA, Eduardo José da Fonseca. Comentários ao art. 300. CUNHA, Leonardo Carneiro da; NUNES, Dierle; STRECK, Lenio;
FREIRE, Alexandre. Comentários ao código de processo civil. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 465. Em sentido contrário,
sem vislumbrar inconstitucionalidade: DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael. Curso de direito processual
civil. 12ª ed. Salvador: Juspodivm, 2017, v. 2, p. 659-660).
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Sobre a tutela provisória, assinale a alternativa incorreta:
a) Aplica-se o regime do cumprimento provisório de sen-
tença para fins de efetivação da tutela provisória.
b) A decisão que concede a tutela provisória deverá ser
motivada de forma clara e precisa, prescindindo da
exposição de motivos a decisão que a modifique, ou
revogue.
c) A tutela provisória requerida em caráter incidental in-
depende do pagamento de custas.
d) A tutela provisória conserva sua eficácia na pendência
63
Nesse sentido: PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Comentários ao Código de Processo Civil. 2. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2003, tomo XII, p. 12-22. SILVA, Ovídio A. Baptista da. Do processo cautelar, cit., p. 72-81.
Referências Bibliográficas
ARAÚJO, Fabio Caldas de. Curso de processo civil. São Paulo: Malheiros, 2016, t. I.
ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro. São Paulo: RT, 2015, v. 2, t. II.
Gabarito
Questão 1 - Resposta: B
Tanto a decisão que modifica, ou revoga como também a decisão que con-
cede tutela provisória devem expor seus motivos de forma clara e precisa,
conforme determina o art. 298, do CPC “na decisão que conceder, negar,
modificar ou revogar a tutela provisória, o juiz motivará seu convencimento
de modo claro e preciso”.
Questão 2: Resposta: E
Questão 3 - Resposta: E
Nesse sentido prescreve o art. 309, inc. II, do CPC/2015: “art. 309. Cessa
a eficácia da tutela concedida em caráter antecedente, se: [...] II - não for
efetivada dentro de 30 (trinta) dias”.
Questão 4 - Resposta: A
Questão 5 - Resposta: D