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WBA1201_V1.

PRÁTICA DA SEGURIDADE SOCIAL


2

Lais Giovanetti

PRÁTICA DA SEGURIDADE SOCIAL


1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2022
3

© 2022 por Platos Soluções Educacionais S.A.


Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou
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Editorial
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Carolina Yaly
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


_____________________________________________________________________________
Giovanetti, Lais
Prática da seguridade social / Lais Giovanetti. – São
G512p
Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2022.
37 p.

ISBN 978-65-5356-391-9

1. Financiamento. 2. Seguridade social. 3. Regime


geral. I. Título.
3. Técnicas de speaking, listening e wrg. I. Título.
CDD 353.5
_____________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB: 010289/O

2022
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
4

PRÁTICA DA SEGURIDADE SOCIAL

SUMÁRIO

Apresentação da disciplina ___________________________________ 05

Financiamento da Seguridade Social.


Saúde (ações judiciais)________________________________________ 08

Assistência Social (ações judiciais: Benefício Assistencial de


Prestação Continuada. Lei nº 8.742, de 1993 e Decreto nº 6.214,
de 2007) ______________________________________________________ 22

Regime próprio (ações judiciais)_______________________________ 38

Regime Geral (introdução)____________________________________ 54


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Apresentação da disciplina

A Constituição Federal de 1988 prevê como um dos direitos


fundamentais sociais à Seguridade Social, no art. 6º e 194 ao 204. A
Seguridade Social é composta por um tripé de direitos: a saúde, a
assistência social e a Previdência Social.

Um dos temas importantes ligados à Seguridade Social é o seu sistema


de financiamento/custeio, como ele se opera direta e indiretamente
pelo Poder Público e pela sociedade, principalmente a partir das
contribuições previdenciários e/ou sociais.

Outro tema relevante quando mencionamos a Seguridade Social, é


o Direito à Saúde, um direito também fundamental e social, que se
problematiza com a sua judicialização no Brasil. Cita-se também, a
assistência social e o instituto do Benefício de Prestação Continuada
(BPC), um dos principais benefícios assistenciais voltados para a
população em condição de miserabilidade no Brasil.

Quanto à Previdência Social, em nosso país, ela se organiza a partir de


Regimes Previdenciários, os quais de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, promovem aos seus filiados e segurados, coberturas
previdenciárias, por meio da concessão de benefícios e serviços, desde
que cumpridos os períodos de carência exigidos pelas legislações.

Um desses Regimes é o Regime Geral de Previdência Social (RGPS),


mais abrangente e executado pelo Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), os Regimes Próprios de Previdência Social, que se destinam aos
servidores públicos efetivos e de carreiras, bem como, as Previdências
Privadas e/ou Complementares.
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Todos estes assuntos serão estudados nesta disciplina e, por essa razão,
ela foi organizada em quatro temas. No primeiro tema, denominado
“Financiamento seguridade Social. Saúde (Ações judiciais)”, procura-
se estudar os principais aspectos da relação jurídica de custeio da
Seguridade Social, demonstrando principalmente o seu caráter
contributivo. Na sequência, foram apresentadas as formas e fontes de
financiamento da Seguridade Social, a forma direta e indireta, previstas
no art. 195 da Constituição Federal de 1988 e na Lei nº 8.212/1991,
que disciplina o Plano de Custeio da Seguridade Social. Ainda, busca-se
sistematizar e caracterizar o Direito à Saúde e os principais temas que
levam a sua judicialização.

No segundo tema, “Assistência Social (Ações judiciais: Benefícios


Assistencial de Prestação Continuada. Lei 8.742, de 1993 e Decreto 6.214,
de 2007)”, busca-se apresentar algumas características, a regulação
e o funcionamento da Assistência Social, no Brasil. Enumera algumas
espécies de benefícios assistenciais, tais como o Auxílio-Inclusão. Aborda
as principais características do Benefício de Prestação Continuada (BPC/
LOAS) e apresenta as ações judiciais para a concessão do (BPC/LOAS) e
as suas adversidades na concessão.

O terceiro tema, “Regime Próprio (Ações judiciais)”, aborda-se as


características, os conceitos e os princípios gerais dos Regimes
Previdenciários: públicos e privado. Por conseguinte, trata mais
especificadamente dos Regimes Próprios de Previdência Social, as
regras, as características, a aplicabilidade e seus principais benefícios
previdenciários. Por último, apresenta as características e aplicabilidade
dos Regimes Complementares de Previdência Social no Brasil.

O quarto tema, denominado “Regime Geral (introdução)”, trata de


apresentar as características gerais do Regime Geral de Previdência
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Social, seu caráter contribuitivo, a filiação obrigatória e as principais


legislações que se aplicam a este regime. Aborda-se sobre o
Instituto Nacional de Seguro Social seu funcionamento, organização,
aplicabilidade e legislações de instituição e regulação da autarquia.
Por derradeiro, trata dos aspectos constitucionais, princípios e regras
aplicáveis ao Regime Geral de Previdência Social, bem como cita-se os
benefícios do Regime Geral, diante das contingências-necessidades de
seus segurados.

Por fim, para elaboração da disciplina adotou-se a metodologia da


revisão bibliográfica, por meio da revisão da literatura nacional acerca do
tema, bem como das principais legislações nacionais e decisões judiciais
relevantes sobre a temática.
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Financiamento da Seguridade
Social. Saúde (ações judiciais)
Autoria: Lais Giovanetti
Leitura crítica: Valtair de Lima Junior

Objetivos
• Apresentar aos alunos os principais aspectos da
relação jurídica de custeio da Seguridade Social.

• Abordar e diferenciar as formas de financiamento da


Seguridade Social, a forma direta e indireta.

• Sistematizar o Direito à Saúde e a sua judicialização.


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1. Do custeio da Seguridade Social

Nesta disciplina, pretende-se, primeiramente, abordar a relação jurídica


de custeio da Seguridade Social, sujeitos ativo, passivo e o objeto desta
relação. Em seguida, objetiva-se apresentar e diferenciar as formas de
custeio da Seguridade Social, a direta e a indireta, citando as principais
fontes de financiamento deste Direito Social. Finalmente, trata do
Direito a Saúde, suas principais características e a questão atual de sua
judicialização.

1.1 Da relação jurídica de custeio da Seguridade Social

Quando tratamos do Direito Previdenciário, na verdade, estamos nos


referindo a uma relação jurídica entre pessoas (físicas e jurídicas) e um
ente previdenciário estatal, que se ligam, ora por meio das contribuições
sociais, ora pelas prestações sociais (contingências-necessidades). Neste
sentido, essa relação jurídica pode ser de duas espécies distintas e
decorrem da aplicação da legislação previdenciária: a relação de custeio
e a relação de prestação. Nelas o Estado pode desempenhar dois papéis,
ora como credor, ora como devedor.

Na relação jurídica de custeio, objeto de estudo desta disciplina, o Estado


impõe coercitivamente a obrigação de que as pessoas consideradas pela
norma jurídica como contribuintes do sistema de Seguridade Social –
logo, contribuintes também da Previdência Social – vertam seus aportes,
conforme as regras para tanto estabelecidas, no intuito de financiar as
prestações sociais derivadas deste Sistema (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Já na relação de prestação, o Estado é compelido, também pela lei, à


obrigação de dar ou de fazer, pagar um determinado benefício, ou de
fazer um determinado serviço, aos segurados e dependentes desta
relação, que, preenchendo os requisitos legais para a obtenção do
direito, o requeiram (CASTRO; LAZZARI, 2020).
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Esta relação jurídica de custeio, a qual adotamos e como se verá adiante,


está constitucionalmente prevista e caracteriza o nosso modelo de
Previdência que é de caráter contributivo (art. 201, caput, CF).

Assim, a partir deste modelo de Previdência, de caráter contributivo,


a receita da Previdência Social – e, no caso brasileiro, da Seguridade
Social como um todo – decorre de pagamentos feitos por pessoas com
destinação específica para o financiamento das ações no campo da
proteção social, diferente de alguns países, que adotam o modelo de
financiamento por meio da destinação de uma parte da arrecadação
tributária, sem que se caracterize a existência de um ou mais tributos
cuja receita seja destinada especificamente para a área do seguro social
(CASTRO; LAZZARI, 2020).

Diante desta natureza de imposição, de forma coercitiva pelo Estado,


para que as pessoas, consideradas contribuintes, pela nossa legislação,
vertam suas contribuições para o sistema, transforma essa relação, em
uma relação obrigacional, em que a obrigação previdenciária de custeio,
se torna espécie do gênero obrigação tributária.

Neste interim, a obrigação de custeio tem evidente natureza tributária,


e decorre da existência de norma legal prévia que estabelece, as
hipóteses de incidência, ou seja, os fatos que, uma vez concretizados,
estabelecem o nascimento do vínculo obrigacional entre o contribuinte
ou responsável e o ente responsável pela arrecadação da contribuição
(CASTRO; LAZZARI, 2020).

Por essa razão, analisando nossa relação jurídica de custeio,


constatamos que a legislação estabelece que há pessoas que têm
obrigação de contribuir porque desta decorre sua condição de
beneficiário do sistema (segurados) e a sua participação se impõe para
que possam fruir dos benefícios e serviços previstos em lei; e outras
pessoas têm a obrigação de contribuir porque a lei simplesmente lhes
determina tal ônus, sem que tenham qualquer contraprestação, sob
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o fundamento, no ideal de solidariedade que fundamenta a nossa


Previdência Social, é o que ocorre com as empresas, ao contribuírem
sobre a folha de pagamento de seus trabalhadores, bem como sobre o
faturamento e o lucro.

Temos assim que, a nossa relação jurídica de custeio da Seguridade


Social está constitucionalmente prevista e que impõe as pessoas que
dela participam a obrigação de contribuir, por isso, considerada de
caráter contributivo e sob o manto, principalmente da solidariedade ao
sistema.

1.2 Da Lei nº 8.212/1991 – Plano de Custeio da Seguridade


Social (PCSS)

Conforme mencionado, a relação jurídica de custeio da Seguridade


Social no Brasil, tem previsão constitucional, no art. 195, que dispõe:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade,


de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos
provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais [...]. (BRASIL, 1991,
[s.p.], grifo nosso)

Diante do art. 195 da Constituição Federal, percebe-se que o nosso


constituinte deixou a cargo do legislador ordinário, regulamentar e
disciplinar o financiamento/custeio da Seguridade Social de forma direta
e indireta pela sociedade.

Para tanto, conforme Santos (2022), em 1991, foi publicada a Lei nº


8.212/1991, denominada como Plano de Custeio da Seguridade Social,
que tratou desta relação jurídica, nos artigos 10 e 11, estabelecendo
sujeito ativo, base de cálculo e alíquota, que se distinguem conforme se
trate de contribuição destinada ao custeio da Seguridade Social (gênero),
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denominadas de contribuições sociais; ou de contribuição previdenciária


(espécie).

Em 2007, com a edição da Lei nº 11.457, a União tornou-se o sujeito


ativo de todas essas contribuições sociais. No tocante ao sujeito passivo
desta relação, este tem o dever de pagar, e, por consequência, dentro
deste nosso sistema de caráter contributivo, de contribuir. Este sujeito é
denominado de devedor.

Sob a ótica da Lei nº 8.212/1991 e dos incisos do art. 195 da CF, o sujeito
passivo das contribuições, ora é o empregador, ora a empresa ou a
entidade a ela equiparada, ora o trabalhador e os demais segurados do
Regime Previdenciário, ora a receita de concursos de prognóstico que é
devida pelos órgãos do Poder Público ou pelas entidades privadas que
os promoverem, ora é o importador de bens ou serviços do exterior, ou
quem a lei a ele equiparar (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

Desta forma, o que o nosso constituinte e legisladores se preocuparam


foi efetivar o que está preconizado como princípios da Seguridade
Social, ou melhor dizendo, objetivos, previstos no art. 194, nos incisos
V e VI da Constituição Federal, que são a equidade na forma de
participação no custeio e principalmente a diversidade na base de
financiamento, possibilitando que o sujeito passivo contribua conforme
a sua capacidade contributiva, dentro de um sistema diversificado, com
diversas fontes ou fatos geradores de custeio.

Para finalizar este ponto, principalmente os nossos legisladores, devem


atentar para cada benefício ou serviço da Seguridade Social criado,
majorado ou estendido deve ser criada a correspondente fonte de
custeio total, o que doutrinariamente se denomina como “Regra da
Contrapartida”, prevista no art. 195, §5º, da CF.
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2. Do custeio da Seguridade Social: direta e


indireta

De acordo com o art. 195 da Constituição Federal, o financiamento da


Seguridade Social é um dever imposto a toda a sociedade, de forma
direta e indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos
da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de
contribuições sociais.

Assim, nesta relação de custeio da Seguridade Social, pelo qual,


se baseia no sistema contributivo, temos de um lado a sociedade
participando de forma direta, sob o princípio de que todos que a
compõem devem colaborar compulsoriamente para a cobertura dos
riscos provenientes da perda ou redução da capacidade de trabalho ou
dos meios de subsistência, não sendo facultado ao contribuinte optar
por não cumprir a obrigação de prestar a sua contribuição social.

De outro lado, a sociedade, também participa, porém, de forma indireta,


por meio do Poder Público, mediante a entrega por este, de recursos
provenientes do orçamento da União e dos demais entes da Federação,
para a cobertura de eventuais insuficiências do modelo, bem como para
fazer frente a despesas com seus próprios encargos previdenciários,
recursos humanos e materiais empregados.

O orçamento da Seguridade Social tem receita própria, que não


se confunde com a receita tributária federal, aquela destinada
exclusivamente para as prestações da Seguridade nas áreas da Saúde
Pública, Previdência Social e Assistência Social, obedecida a Lei de
Diretrizes Orçamentárias (LDO) (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Além do art. 195 da Constituição Federal, os artigos 10 e 11 da Lei


nº 8.212/1991, reforçam que o orçamento da Seguridade Social, no
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âmbito federal, é composto de receitas provenientes: da União; das


contribuições sociais; e de outras fontes.

2.1 Da participação da União no custeio da Seguridade


Social

A União participa do custeio da Seguridade Social, mas não por meio


de pagamento de contribuições sociais, ela não tem, efetivamente,
uma contribuição social. Na verdade, ela participa atribuindo dotações
do seu orçamento à Seguridade Social, fixados obrigatoriamente
na Lei Orçamentária anual, além de ser responsável pela cobertura
de eventuais insuficiências financeiras da Seguridade, em razão do
pagamento de benefícios de prestação continuada pela Previdência
Social (art. 16 da Lei nº 8.212/1991).

Neste sentido, o art. 165, § 5º, inciso III, da Constituição Federal, fixa,
ainda, a regra segundo a qual a lei orçamentária anual compreenderá
“o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades
e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem
como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público”
(BRASIL, 1988, [s.p.]).

Importante ressaltar que, sobre este orçamento anual definido, não há


um percentual mínimo estabelecido para ser destinado à Seguridade
Social, tal como ocorre com a educação (art. 212 da Constituição), trata-
se de uma parcela aleatória.

Portanto, a União participa do custeio, atribuindo dotações do seu


orçamento à Seguridade Social, bem como, garantidora deste Direito,
quando os recursos canalizados pelas contribuições não forem
suficientes, a sociedade é chamada, por meio do orçamento da União, a
contribuir.
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2.2 Das contribuições sociais

Tanto o art. 195 da Constituição Federal, quanto os artigos 10 e 11


da Lei nº 8.213/1991, estabelecem como uma das fontes de custeio
da Seguridade Social, as contribuições sociais. Tais contribuições são
uma espécie de contribuição social, cuja receita tem por finalidade o
financiamento das ações nas áreas da saúde, previdência e assistência
social. Elas também podem ser conceituadas como “valores com que,
a título de obrigações sociais, contribuem os filiados, e os que o Estado
estabelece para manutenção e financiamento dos benefícios que
outorga” (CASTRO; LAZZARI, 2020, p. 356).

Constituem contribuições sociais, as quais são exigidas com base nas


leis que as instituíram, e que estão agrupadas em nossas legislações:
a) as das empresas, incidentes sobre a remuneração paga, devida
ou creditada aos segurados e demais pessoas físicas a seu serviço,
mesmo sem vínculo empregatício; b) as dos empregadores domésticos,
incidentes sobre o salário de contribuição dos empregados domésticos
a seu serviço; c) as dos trabalhadores, incidentes sobre seu salário de
contribuição; d) as das associações desportivas que mantêm equipe de
futebol profissional, incidentes sobre a receita bruta decorrentes dos
espetáculos desportivos de que participem em todo o território nacional
em qualquer modalidade desportiva, inclusive jogos internacionais,
e de qualquer forma de patrocínio, licenciamento de uso de marcas
e símbolos, publicidade, propaganda e transmissão de espetáculos
desportivos; e) as incidentes sobre a receita bruta proveniente da
comercialização da produção rural; f) as das empresas, incidentes sobre
a receita ou o faturamento e o lucro; g) as incidentes sobre a receita de
concursos de prognósticos (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Além das contribuições referidas, deve-se acrescentar a do importador


de bens ou serviços do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar,
acrescentada pela Emenda Constitucional nº 42/2003 e regulada pela Lei
nº 10.865/2004 e suas modificações.
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Quanto à natureza jurídica das contribuições para a Seguridade Social,


possui uma importância significativa, pois ajuda a compreender as
regras que lhes são aplicáveis. Várias teorias se formaram para definir a
natureza jurídica das contribuições sociais.

Em nível jurisprudencial, destacamos a orientação firmada pelo Supremo


Tribunal Federal no sentido de que a contribuição de seguridade social
não só se qualifica como modalidade autônoma de tributo (RTJ 143/684),
como também representa espécie tributária essencialmente vinculada ao
financiamento da Seguridade Social, em função de específica destinação
constitucional (ADC 8-MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em
13.10.1999, DJ de 4.4.2003). (CASTRO; LAZZARI, 2020, p. 357-358)

Na doutrina e na jurisprudência predominam, após a Constituição de


1988, o entendimento majoritário, de que as contribuições destinadas
ao financiamento da Seguridade Social possuem natureza jurídica
tributária, pois estão sujeitas ao regime constitucional peculiar aos
tributos, ressalvada apenas a previsão do § 6º do art. 195 da Carta
Magna.

2.2 Das outras receitas da Seguridade Social

As outras receitas da Seguridade Social, de acordo com o art. 27 da Lei


nº 8.212/1991, seriam, as multas (moratórias e por descumprimento de
obrigações acessórias); a atualização monetária e os juros moratórios;
a remuneração recebida por serviços de arrecadação, fiscalização e
cobrança prestados a terceiros; as receitas provenientes de prestação de
outros serviços e de fornecimento ou arrendamento de bens; as demais
receitas patrimoniais, industriais e financeiras; as doações, legados,
subvenções e outras receitas eventuais; 50% dos valores obtidos e
aplicados na forma do parágrafo único do art. 243 da Constituição
Federal; 40% do resultado dos leilões dos bens apreendidos pela Receita
Federal; e outras receitas previstas em legislação específica.
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Por fim, referidas receitas não se confundem com as contribuições


sociais, pois não se revestem das características de tributos. As multas,
exigidas por infração à legislação, são penalidades pecuniárias; os
juros também se caracterizam como espécie de penalidade pelo
inadimplemento; as demais verbas constantes do dispositivo se revelam
como transferências de recursos públicos aos cofres da Seguridade
Social.

3. Do direito à saúde

O direito à saúde é um direito humano e fundamental, pois, reconhecido


internacional e nacionalmente na ordem jurídica. Também é um Direito
Social e implica em prestações positivas, pois deve ser garantido pelos
Estados aos seus cidadãos, por meio de políticas e ações públicas que
permitam o acesso de todos os meios adequados para o seu bem-estar.

O direito à saúde está previsto em nossa Constituição Federal nos


artigos 6º e 196 a 200. O art. 196 dispõe:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco doença e de
outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1988, [s.p.])

O art. 196 da CF, atende ao princípio da universalidade, seja da


cobertura, seja do atendimento.

Da cobertura, porque se dirige a todas as etapas: promoção; proteção; e


recuperação. O Estado deve agir para reduzir o risco “doença” e outros
agravos e garantir acesso universal e igualitário às ações e serviços de
saúde, sempre com vista à sua promoção, proteção e recuperação (art.
196). Para Santos (2022), a atuação estatal deve se voltar para todas as
etapas da cobertura.
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Do atendimento, porque garante a todos o direito e o acesso igualitário


às ações e serviços de saúde, ressaltando o atendimento a todos, todos,
no sentido dos que no território nacional, que tem o Estado (Poder
Público) como sujeito passivo, eis que contempla todos os que tiverem
a sua saúde afetada, independentemente de filiação e de contribuição
para o financiamento da seguridade social.

Quanto à cobertura à Lei nº 8.080/1990, dispõe sobre as condições


para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências.
Para Santos (2022):

Na etapa da promoção do direito à saúde, estão as ações de prevenção


do risco doença e outros agravos, de que são exemplos as campanhas
para prevenção da contaminação pelo vírus HIV, de prevenção de doenças
endêmicas, de vacinação etc.
Na etapa da proteção, propriamente dita, estão o atendimento e o
tratamento necessários.
E na etapa da recuperação deve ser facilitado o acesso a próteses,
órteses e demais equipamentos necessários ao retorno para a vida em
comunidade. (SANTOS, 2022, p. 119-120)

A Lei nº 8.080/1990 também instituiu o SUS e o definiu no art. 4º como


o conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e
instituições públicas federais, estaduais e municipais, da Administração
direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público.

Finalmente, o art. 199 da CF autoriza que a iniciativa privada atue no


setor da saúde. Entretanto, o legislador constituinte enfatizou que a
atuação da iniciativa privada só pode ocorrer de forma complementar,
impondo que o Poder Público continue a prestar diretamente o serviço,
mas também aos serviços privados contratados ou conveniados que
integrem o SUS (Sistema Único de Saúde).
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4. Da judicialização da saúde

Nos dias atuais é tormentosa a questão relativa à extensão do direito


à saúde, que se reflete diretamente na questão da existência ou
não de direito subjetivo ao fornecimento gratuito de medicamentos,
determinados tratamentos médicos, entre outros.

Neste sentido, às vezes, vem à tona a Teoria da Reserva do Possível,


que pretende dar aos direitos sociais feição meramente programática,
tirando-lhes a natureza de direitos subjetivos, com o que ao Estado
caberia, não podendo atender a todas as demandas, estipular as
prioridades a serem atendidas.

Em se tratando de seguridade social, há que se respeitar, os princípios


da seletividade e distributividade das prestações de seguridade
social. Tanto o legislador quanto o administrador, na esfera de
suas competências, devem selecionar as contingências geradoras
de necessidade (por exemplo, o Administrador poder escolher
os medicamentos que deverão compor a lista dos fornecidos
gratuitamente), com vistas, é claro, ao atendimento do maior número
possível de necessitados).

No entanto, o direito à saúde tem sido interpretado como garantia


constitucional que não sofre limitações de qualquer natureza, de
modo que até mesmo os medicamentos que não constam da lista do
Ministério da Saúde são fornecidos ao paciente que não tenha condições
de adquiri-los, principalmente por meio do manuseio de ações no
Poder Judiciário (o direito de acesso à justiça), como os remédios
constitucionais, que funcionam como instrumento garantidores dos
direitos fundamentais, neste caso, o mandado de segurança. A este
fenômeno atribuímos a denominação de “judicialização da saúde”.
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As ações sobem até o STJ e STF, que na maioria das vezes, adotam
entendimento em favor do necessitado de tratamento, ao fundamento
de configurar direito à saúde, que é dever do Estado:

Importante mencionar, que esse direito, não implica garantir o


fornecimento de todo e qualquer medicamento ou tratamento não
fornecido pelo SUS. Já foram fixadas algumas teses de que para a
concessão de medicamentos ou tratamentos não incorporados em
atos normativos do SUS devem ser exigidas a presença cumulativa de
alguns requisitos, como laudos médicos com a imprescindibilidade
do medicamento ou tratamento; incapacidade financeira; registro no
medicamento na ANVISA, entre outros. Há ainda ações judiciais em
andamento em que tem sido exigida a perícia médica prévia para a
concessão do pedido (SANTOS, 2022, p. 126-127)

Ademais, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios são


legitimados passivos, de forma solidária, para as ações judiciais em
que se pede o fornecimento gratuito de medicamentos e tratamentos
médicos. Sendo solidária a responsabilidade, a ação pode ser proposta
contra qualquer deles. Esse é o entendimento adotado pelo STF, pelos
Tribunais, e, também, pela Turma Nacional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais.

Finalmente, a Defensoria Pública e o Ministério Público são as principais


entidades que atuam na defesa deste Direito, no interesse de um
único paciente ou de um grupo determinado e restrito, baseando-se
na capacidade conferida pela Constituição Federal, que lhes atribuiu
legitimidade para defender direitos individuais indisponíveis, como o
direito à saúde.

Referências
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Brasília: D.O.U., 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em 19 set. 2022.
21

BRASIL. Presidência da República. Lei nº lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991.


Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá
outras providências. Brasília: D.O.U., 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/L8212cons.htm. Acesso em: 19 set. 2022.
CASTRO, Carlos A. P. de; LAZZARI, João B. Manual de Direito Previdenciário. 23.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
LEITÃO; André S.; MEIRINHO, Augusto G. S. Manual de direito previdenciário. 5.
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
SANTOS, Marisa F. dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 12. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2022.
22

Assistência Social (ações


judiciais: Benefício Assistencial
de Prestação Continuada. Lei nº
8.742, de 1993 e Decreto nº 6.214,
de 2007)
Autoria: Lais Giovanetti
Leitura crítica: Valtair de Lima Junior

Objetivos
• Apresentar aos alunos os principais aspectos da
assistência social, bem como algumas espécies de
benefícios assistenciais.

• Abordar sobre as principais características do


Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS).

• Tratar das ações judiciais para a concessão do (BPC/


LOAS) e suas principais dificuldades.
23

Da assistência social e alguns benefícios


assistenciais

A assistência social é um Direito Fundamental Social, previsto no


art. 6º da Constituição Federal de 1988, além de ser um dos direitos
assegurados pela Seguridade Social, conforme o art. 194 da Constituição
Federal de 1988, como também são a Saúde e a Previdência Social.
Ela também está disciplinada constitucionalmente, no art. 203, que
dispõe “será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à Seguridade Social” (BRASIL, 1988, 2022).

Desta forma, temos que a assistência é um direito social, pertencente


à Seguridade Social e que suas prestações (benefícios e serviços
assistenciais) independem de contribuição para o seu custeio por
parte do beneficiário. Ademais, o art. 203 da Constituição Federal de
1988 enumera em seus incisos os objetivos da assistência social, que
são: a proteção à família, à maternidade, à adolescência e à velhice; o
amparo às crianças e adolescentes carentes; a promoção da integração
ao mercado de trabalho; a habilitação e a reabilitação das pessoas
com deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
a garantia de um salário mínimo mensal à pessoa com deficiência
e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Para a CF a Assistência Social é instrumento de transformação social, e


não meramente assistencialista. As prestações de assistência social devem
promover a integração e a inclusão do assistido na vida comunitária, fazer
com que, a partir do recebimento das prestações assistenciais, seja “menos
desigual” e possa exercer atividades que lhe garantam a subsistência.
(SANTOS, 2022, p. 143)

Importante mencionar, que o referido art. 203 da Constituição Federal


de 1988, foi regulamentado pela Lei nº 8.742/1993 (Lei Orgânica da
Assistência Social-LOAS). Posteriormente, a Lei nº 8.742/1993 foi alterada
24

pela Lei nº 12.435/2011, a qual definiu a Assistência Social como Política


de Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais,
realizada por meio de um conjunto integrado de ações de iniciativa
pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades
básicas. Para Santos (2022), isso significa que deve garantir ao assistido
o necessário para a sua existência com dignidade.

Em relação aos objetivos da Assistência Social, conforme já mencionado,


há uma preocupação do nosso Constituinte e legisladores com a
proteção social, ou seja, o alcance na proteção dos sujeitos mais frágeis
das relações sociais, quais sejam, família, infância, adolescência, velhice
e pessoas com deficiência. Essa proteção social se efetiva a partir das
ações do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), conforme prevê o §
1º do art. 6º da LOAS (Lei Orgânica da Assistência Social).

Segundo o art. 6º-A da Lei nº 8.742/1993 (LOAS), a assistência social, ou


seja, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), organiza-se e atua por
meio dos seguintes tipos de proteção:

I – proteção social básica: conjunto de serviços, programas, projetos


e benefícios da assistência social que visa a prevenir situações de
vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de
potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários;

II – proteção social especial: conjunto de serviços, programas e projetos


que tem por objetivo contribuir para a reconstrução de vínculos familiares
e comunitários, a defesa de direito, o fortalecimento das potencialidades e
aquisições e a proteção de famílias e indivíduos para o enfrentamento das
situações de violação de direitos. (BRASIL, 1993, [s.p.])

Essas proteções sociais, básica e especial, são ofertadas, isto é, as


suas formas de acesso pela população, pelo Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) e pelo Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (CREAS), respectivamente, e pelas entidades sem fins
25

lucrativos de assistência social de que trata o art. 3º da LOAS. Segundo


Leitão e Meirinho (2018):

O CRAS é a unidade pública municipal, de base territorial, localizada em


áreas com maiores índices de vulnerabilidade e risco social, destinada à
articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência
e à prestação de serviços, programas e projetos socioassistenciais de
proteção social básica às famílias.

Por sua vez, o CREAS é a unidade pública de abrangência e gestão


municipal, estadual ou regional destinada à prestação de serviços a
indivíduos e famílias que se encontram em situação de risco pessoal
ou social, por violação de direitos ou contingência, que demandam
intervenções especializadas da proteção social especial. (LEITÃO;
MEIRINHO, 2018, p. 87)

Tanto o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), quanto o


Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) são
unidades públicas estatais instituídas no âmbito do SUAS, que possuem
interface com as demais políticas públicas e articulam, coordenam e
ofertam os serviços, programas, projetos e benefícios da assistência
social (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

A sociedade civil também participa das ações da assistência social por


meio das entidades e organizações de assistência social, que atendem
as demandas específicas da comunidade carente, quais sejam as
Organizações Não Governamentais (ONGs).

Por fim, a vigilância socioassistencial é um dos instrumentos das


proteções da assistência social, que identifica e previne as situações de
risco e vulnerabilidade social e seus agravos no território, gerenciando
informações, apoiando as atividades de planejamento, de supervisão
e de execução dos serviços socioassistenciais, por meio do provimento
de dados, indicadores e análises, se estruturando nos níveis municipal,
estadual e federal (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).
26

Quanto aos mecanismos de proteção, a assistência social, segundo os


incisos de I a V do art. 203 da Constituição Federal de 1988, se efetivam
por meio de benefícios e serviços, mais precisamente o inciso V, prevê
o pagamento do benefício assistencial, denominado como Benefício de
Prestação Continuada (BPC).

Conforme Santos (2022), podemos citar outros benefícios assistenciais,


tais como o Benefício da Prestação Continuada temporária, na
condição de pessoa com deficiência, à criança vítima de microcefalia
em decorrência de sequelas neurológicas decorrentes de doenças
transmitidas pelo Aedes aegypti, introduzido pelo art. 18 da Lei nº
13.301/2016 e regulamentado pela Lei nº 13.985/2020, a qual no § 1º,
do art. 1º, estabelece que a pensão especial será mensal, vitalícia e
intransferível e terá o valor de um salário-mínimo.

Mais um importante benefício assistencial é o benefício assistencial


ao trabalhador portuário avulso, introduzido pela Lei nº 12.815/2013.
Referido benefício concede um salário-mínimo mensal ao cidadão com
no mínimo 60 anos que, na condição de trabalhador avulso em área
portuária, não tenha implementado as condições mínimas necessárias
para se aposentar, nem possua renda suficiente para manter a si mesmo
e à sua família. Além de comprovar a condição de trabalhador avulso
em área portuária, para ter direito ao benefício é necessário que a renda
por pessoa do grupo familiar seja inferior a 1/4 do salário-mínimo. Esta
renda será avaliada considerando o salário do beneficiário, do esposo(a)
ou companheiro(a), dos pais, da madrasta ou do padrasto, dos irmãos
solteiros, dos filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde
que residam na mesma casa (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

Outro benefício assistencial é o auxílio-inclusão, criado pela Lei nº


13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), por intermédio do seu
art. 94, nos seguintes termos:
27

Art. 94. Terá direito a auxílio-inclusão, nos termos da lei, a pessoa com
deficiência moderada ou grave que:

I – receba o benefício de prestação continuada previsto no art. 20 da


Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993, e que passe a exercer atividade
remunerada que a enquadre como segurado obrigatório do RGPS;

II – tenha recebido, nos últimos 5 (cinco) anos, o benefício de prestação


continuada previsto no art. 20 da Lei n. 8.742, de 7 de dezembro de 1993,
e que exerça atividade remunerada que a enquadre como segurado
obrigatório do RGPS. (BRASIL, 2015, [s.p.])

Trata-se de um incentivo à inclusão da pessoa com deficiência no


mercado de trabalho, na medida em que confere este auxílio, mesmo
com recebimento do benefício assistencial de prestação continuada
e, mesmo exercendo atividade remunerada. O legislador ordinário
condicionou o recebimento do auxílio-inclusão à edição de lei. Por essa
razão, foi editada a Lei nº 14.176/2021, regulamento o benefício.

Por conseguinte, o art. 22 da LOAS também define a possibilidade


de criação de benefícios assistenciais eventuais, nas situações de
vulnerabilidade temporária e de calamidade pública. Não são benefícios
de prestação continuada, mas, sim, têm por escopo de atender às
necessidades advindas de situações emergenciais e temporárias
(LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

Sobre os serviços da Assistência Social, a LOAS prevê a prestação de


serviços socioassistenciais, e os define como “as atividades continuadas
que visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para
as necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes”
(BRASIL, 1993, [s.p.]) que estabelece (art. 23). A organização desses
serviços deve voltar-se com prioridade à infância e à adolescência em
situação de risco pessoal e social, e em situação de rua, para cumprir o
disposto no art. 227 da CF e na Lei nº 8.069/1990 (Estatuto da Criança e
do Adolescente).
28

Um dos exemplos de serviços assistenciais são os programas de


assistência social e projetos de enfrentamento da pobreza, como:
Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes;
Programas de Atenção à Pessoa Idosa; Programa Agente Jovem de
Desenvolvimento Social e Humano; Programa de Complementação ao
Atendimento Educacional Especializado às Pessoas com Deficiência
(PAED) (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

Finalmente, podemos concluir que a assistência social visa a redução


das desigualdades sociais e regionais, protege socialmente o cidadão, na
busca pelo combate à pobreza, com a criação de condições para atender
contingências sociais e à universalização dos direitos sociais.

1. Dos aspectos gerais sobre o Benefício de


Prestação Continuada

Dentre os benefícios assistenciais mencionados, o art. 203, inciso


V, da Constituição Federal de 1988, prevê um benefício de extrema
importância no ordenamento jurídico. Trata-se do benefício assistencial
de prestação continuada, que poderá ser concedido ao idoso, com
65 anos de idade, ou ao deficiente que comprove a hipossuficiência
econômica, ou seja, comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser
a lei. O valor do benefício é de um salário-mínimo mensal. Assim, são
requisitos cumulativos: a deficiência ou a idade e a necessidade.

O benefício se denomina de prestação continuada (BPC), pois, é


pago mês a mês desde o termo inicial até o termo final. É concedido
àqueles que cumprirem com os requisitos previstos na legislação e
independe de contribuição. Todo o procedimento administrativo para
a sua concessão é realizado sob o comando e fiscalização da Autarquia
Previdenciária (Instituto Nacional do Seguro Social – INSS). Possui caráter
personalíssimo, não tem natureza previdenciária, e, por isso, não gera
29

direito à pensão por morte (art. 23 do Decreto nº 6.214/2007) e não dá


direito ao abono anual (art. 22 do Decreto nº 6.214/2007).

O Benefício de Prestação Continuada (BPC), além da previsão


constitucional, é disciplinado pelos artigos 20, 21 e 21-A da LOAS, e
regulamentado pelo Decreto nº 6.214/2007 (Regulamento do Benefício
de Prestação Continuada), com a redação dada pelo Decreto nº
7.617/2011.

Quanto à deficiência, segundo Santos (2022), esta contingência sempre


gerou discussões no tocante ao seu conceito e comprovação. Mas, a
partir do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) e
incorporado à LOAS, restando uniformizado na legislação brasileira, um
novo conceito à deficiência foi formulado que deixou de considerá-la
como uma incapacidade pura e simples para o trabalho e para a vida
independente.

Assim, segundo o Estatuto, considera-se pessoa com deficiência


aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade
em igualdade de condições com as demais pessoas.

As limitações física, mental, intelectual e sensorial agora devem ser


conjugadas com fatores sociais, com o contexto em que vive a pessoa
com deficiência, devendo, conforme Santos (2022), ficar comprovado
que suas limitações a impedem de se integrar plenamente na vida em
sociedade, dificultando sua convivência com os demais.

Os impedimentos de longo prazo devem ter duração mínima de 2 anos,


segundo o § 10, do art. 20 da LOAS. Isso quer dizer que, se o prognóstico
médico for de impedimento por período inferior, não estará configurada
a condição e pessoa com deficiência para fins de benefício de prestação
continuada. Parece-nos que quis o legislador ser coerente com o prazo
30

de 2 anos para a reavaliação das condições dos benefícios concedidos.


Neste sentido, a Súmula 48 da Turma Nacional de Uniformização, já
reconheceu que o conceito de pessoa com deficiência não se confunde
necessariamente com situação de incapacidade laborativa.

Ademais, a concessão do benefício ficará sujeita à avaliação


multidisciplinar da deficiência, indicando o tipo de deficiência (se física,
mental, intelectual, sensorial, ou conjugação de tipos) e do grau de
impedimento (para o trabalho e para a integração social). Depende
também, de uma avaliação social do requerente, ou seja, a verificação
da composição da renda familiar do interessado e da descrição de suas
condições de vida, além da avaliação do grau de dificuldade de sua
integração à vida social, considerando a comunidade em que estiver
inserido.

Se o benefício for requerido judicialmente, também serão necessárias


as perícias médica e social, feitas por peritos e assistentes sociais
nomeados pelo juiz. A perícia médica, administrativa ou judicial, deverá
determinar o início do impedimento e o prognóstico de sua duração, se
inferior ou superior a 2 anos.

O ato de concessão do BPC é revisto a cada dois anos, uma vez que deve
ser constatado se o beneficiário continua nas mesmas condições que
deram origem ao benefício (art. 21). Se superadas essas condições, cessa
o pagamento (art. 21, § 1º).

Quanto à contingência hipossuficiência econômica ou a miserabilidade,


o § 3º do art. 20 da LOAS, considera este requisito, como sendo aquele
que torna o interessado incapaz de prover a sua própria manutenção
ou de sua família, considerando que a renda mensal per capita deve ser
igual ou inferior a 1/4 do salário-mínimo.

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) também dá a definição


de família para fins de concessão do BPC (art. 20, § 1º), como sendo
31

composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na


ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os
filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob
o mesmo teto.

O Benefício de Prestação Continuada (BPC) não pode ser acumulado


com qualquer outro benefício no âmbito da Seguridade Social ou de
outro regime, salvo o da assistência médica e o caso de recebimento
de pensão especial de natureza indenizatória (art. 20, § 4º). Ademais,
além de todos os requisitos impostos pelas legislações que disciplina
o benefício, por ocasião do requerimento do benefício, o requerente
deverá comprovar sua inscrição no CadÚnico (Cadastro Único), o qual
consta informações referentes à sua renda, a renda do grupo familiar,
reúne informações como situação de trabalho, nível de escolaridade,
moradia, entre outros. Os cidadãos devem atualizar os dados no
CadÚnico, no mínimo, a cada dois anos para garantir a manutenção
do benefício. Para tanto, basta procurar o Centro de Referência de
Assistência Social (CRAS) ou a prefeitura do município para fazer a
inscrição ou atualizar os dados do seu CadÚnico

Os estrangeiros também podem ser sujeitos ativos do referido


benefício assistencial. Para tanto, o art. 7º do Decreto n. 6.214 exige
que sejam naturalizados e domiciliados no Brasil, e atendam a todos
os demais critérios estabelecidos em regulamento. O tema foi julgado
pelo Supremo Tribunal Federal, em Repercussão Geral, no RE 587.970,
de Relatoria do Ministro Marco Aurélio, em 2017, fixando a tese: “A
assistência social prevista no art. 203, inciso V, da Constituição Federal
beneficia brasileiros natos, naturalizados e estrangeiros residentes no
País, atendidos os requisitos constitucionais e legais” (BRASIL, 2017, p. 1).

Por fim, é possível, ainda, que em algumas situações o benefício de


prestação continuada seja suspenso, e não cessado, quando a pessoa
com deficiência passe a exercer atividade remunerada, inclusive na
condição de microempreendedor individual. Quando o beneficiário
32

for contratado como menor aprendiz, poderá receber o benefício


em concomitância com a remuneração de aprendiz, desde que, não
ultrapasse o prazo de 2 anos (art. 21-A, § 2º).

Ainda, caso seja extinta a relação trabalhista ou a atividade


empreendedora e, quando for o caso, encerrado o prazo de pagamento
do seguro-desemprego e não tendo o beneficiário adquirido direito a
qualquer benefício previdenciário, poderá ser requerida a continuidade
do pagamento do benefício suspenso, sem necessidade de realização de
perícia médica ou reavaliação da deficiência e do grau de incapacidade
para esse fim, respeitado o período de revisão bienal previsto no caput
do art. 21 (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

2. Da concessão administrativa e judicial do


Benefício de Prestação Continuada

Conforme já mencionado, cabe à Autarquia Previdenciária


(Instituto Nacional do Seguro Social – INSS), a “operacionalização”, o
processamento, a concessão e a fiscalização do Benefício de Prestação
Continuada, na forma do art. 3º e 39 do Decreto nº 6.214/2007. O
requerente, regra geral, realiza o pedido administrativamente e, nesse
caso, o benefício será pago a partir da Data da Entrada do Requerimento
(DER). Quando realizado administrativamente, submete-se às avaliações
médica e social da respectiva autarquia previdenciária.

Caso seja indeferido administrativamente o benefício, caberá recurso


à Junta de Recursos do Conselho de Recursos da Previdência Social, no
prazo de 30 (trinta) dias, contados do recebimento da comunicação.

Há, porém, situações em que o interessado faz o requerimento do


benefício na via judicial, diretamente ou após o indeferimento ou não
apreciação na via administrativa.
33

A questão relativa à legitimidade passiva para as ações em que se


requer o Benefício de Prestação Continuada já causou muita polêmica
nos Tribunais, porque o art. 7º do Decreto nº 1.744/1995 dispunha que
o benefício fosse requerido junto aos postos de benefício do INSS, ao
órgão autorizado ou a entidade conveniada.

No entanto, a questão está pacificada pela jurisprudência dominante,


no sentido de que o INSS é parte legítima nas ações cujo objeto seja
a concessão do Benefício de Prestação Continuada, não havendo
litisconsórcio necessário da União. Nesse sentido, foi editada a Súmula
nº 4 da Turma Regional de Uniformização da 4ª Região: “A União é parte
ilegítima para figurar no polo passivo nas ações em que seja postulado
o benefício assistencial previsto no art. 20 da Lei n. 8.742/93” (BRASIL,
2004, [s.p.]).

Quanto ao termo inicial do benefício caso seja realizado judicialmente,


há duas hipóteses:

a) se não houve requerimento administrativo e o benefício é concedido


por sentença de cedência do pedido, há divergência na jurisprudência: o
termo inicial é a citação ou a data do laudo pericial, ou, ainda, da juntada
do laudo que atesta a incapacidade, caso não seja preciso nesse ponto;

b) se houve requerimento administrativo não apreciado ou indeferido,


sendo procedente o pedido, o termo inicial será a Data do Requerimento
Administrativo (DER). (LEITÃO; MEIRINHO, 2018, p. 695-696)

Nesse sentido, também a Súmula 22 da TNU dos Juizados Especiais


Federais: “Se a prova pericial realizada em juízo dá conta de que a
incapacidade já existia na data do requerimento administrativo, esta é o
termo inicial do benefício assistencial” (BRASIL, 2004, [s.p.]).

Com relação à comprovação judicial do requisito da hipossuficiência


econômica, dois pontos de partida são fundamentais:
34

1º) Para a TNU, a renda mensal per capita de ¼ do salário-mínimo não é


o único critério para aferir a miserabilidade do postulante ao benefício
assistencial de prestação continuada, não gerando uma presunção
absoluta, mas apenas relativa da situação de miserabilidade do grupo
familiar, a qual pode ser afastada pela análise dos demais elementos de
prova constantes dos autos (Processos 0504219-73.2014.4.05.8102, julgado
em 22-11-2017 e 5000404—66.2014.4.04.7003, julgado em 27-4-2017).

2º) De acordo com a Súmula 79 da TNU, nas ações em que se postula


benefício assistencial, é necessária a comprovação das condições
socioeconômicas do autor por laudo de assistente social, por auto de
constatação lavrado por oficial de justiça ou, sendo inviabilizados os
referidos meios, por prova testemunhal. (LEITÃO; MEIRINHO, 2018, p. 687)

No tocante às formas para requerer o benefício, na via administrativa


como mencionado, hoje ocorre no âmbito do INSS, pelos canais de
atendimento, “135” e “MEU INSS” (aplicativo de acesso aos segurados,
criado pelo Governo Federal), além do requerimento, devem ser
anexados ao pedido os seguintes documentos, tanto para pessoas
com deficiência, como para idosos com 65 anos ou mais: o CadÚnico
ou cadastro único, é um cadastro do Governo Federal para famílias de
baixa renda e pode ser feito na Secretaria de Desenvolvimento Social
do seu Município, comprovante de gastos do grupo familiar (luz, água,
aluguel entre outros), documento de identificação de todas as pessoas
da família, para verificar a renda de cada uma. Para as pessoas com
deficiência é imprescindível a apresentação de atestados e exames
médicos que comprovem a existência da deficiência, comprovantes de
gastos com medicamento e tratamento médico, se houver.

Judicialmente há a possibilidade de propositura de uma ação de


concessão do benefício de prestação continuada que deve preencher os
requisitos do art. 319 e 320 do Código de Processo Civil, que tratam dos
requisitos da petição inicial, bem como os requisitos dos artigos 20, 21
e 21-A da LOAS, que disciplinam o benefício e apresentam os requisitos
para a sua concessão.
35

Sobre as ações judiciais, é interessante pontuar a necessidade


imperiosa de se demonstrar que o interessado é deficiente e não
incapaz, pois, infelizmente, muitas perícias ainda são feitas com base
na incapacidade para o trabalho e para a vida independente, inclusive
adotando o mesmo laudo dos benefícios por incapacidade, dificultando
o enquadramento do interessado como deficiente, já que existem
diferenças conceituais e técnicas entre elas.

Antes de protocolar o pedido, é importante realizar uma análise da


renda do grupo familiar, pois algumas verbas devem ser excluídas da
renda per capita que embasa a análise do requisito socioeconômico.
O parágrafo único do art. 34 do Estatuto do Idoso determina que o
benefício assistencial já recebido por familiar idoso não será computado
para fins do cálculo da renda familiar, e a jurisprudência também
acompanha este entendimento.

Outro cuidado é quanto aos gastos despendidos em virtude da


deficiência, tais como medicamentos, alimentação especial e fraldas
descartáveis, que também devem ser excluídos da análise da renda
familiar, entendimento adotado por parte da jurisprudência.

Mais um ponto relevante é a análise restrita do conceito de grupo


familiar, estabelecido pelo §1º do art. 20 da LOAS. Nele, está previsto que
o grupo familiar é composto pelo cônjuge ou companheiro, os pais e,
na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros,
os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam
sob o mesmo teto. Esta disposição deve ser lida de forma restritiva, ou
seja, em sua literalidade. Caso o familiar não se enquadre em alguma
das hipóteses acima descritas, deve ser desconsiderado da análise,
pois, algumas vezes nos deparamos com a inclusão da renda de filhos
que não moram junto com o requerente quando da análise da renda
familiar.
36

Por fim, importante mencionar, que atualmente existem muitas


dificuldades e trata-se de um procedimento muito burocrático a
concessão do referido benefício.

O atendimento nas agências do INSS depende de agendamento prévio


feito por meio remoto, e os interessados possuem vulnerabilidades
digitais para o acesso ao sistema. O requerimento e acompanhamento
do pedido também se dão de forma remota, gerando insegurança e
muitas dúvidas nos interessados.

Na prática, outro grande problema é com as perícias administrativas


e judiciais. Percebe-se cada vez mais a tendência de improcedência
no primeiro grau de ações sobre benefícios por incapacidade. Essa
orientação vetorial está intimamente relacionada à dificuldade que os
juízes encontram para lidar com a prova pericial, esta que é a única e
derradeira prova a ser produzida nesse tipo de processo.

Se a perícia não é bem feita, se ela não é informativa e conclusiva ou


mesmo se ela é preconceituosa, superficial ou tendenciosa, o resultado é
a improcedência da ação. Um laudo pericial administrativo somente será
válido, convincente e aceitável se atender a todos os requisitos formais e
materiais da boa perícia.

Felizmente, os tribunais de segundo grau têm sido bastante sensíveis


a esta problemática que se pode chamar de “crise das perícias”. Em
inúmeros casos, revertem decisões de primeiro grau, seja no sentido de
anular a sentença para a realização de nova perícia, nas hipóteses em
que esta é imprestável, seja para conceder imediatamente o benefício,
quando há no caderno processual elementos de prova suficientes

Referências
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de 1988. Brasília: D.O.U., 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 11 out. 2022
37

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993. Dispõe


sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. Brasília: D.O.U.,
1993. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742.htm. Acesso
em: 11 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 12.435, de 6 de julho de 2011. Altera a Lei
nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993, que dispõe sobre a organização da Assistência
Social. Brasília: D.O.U., 2011. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
ato2011-2014/2011/lei/l12435.htm. Acesso em: 11 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 6.214, de 26 de setembro de 2007.
Regulamenta o benefício de prestação continuada da assistência social devido à
pessoa com deficiência e ao idoso de que [...]. Disponível em: https://www.planalto.
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phpdoc/virtus/sumula.php?nsul=22&PHPSESSID=gva2l6a0lmrttgvv5ib2e0uan2.
Acesso em: 24 nov. 2022.
LEITÃO; André S.; MEIRINHO, Augusto G. S. Manual de direito previdenciário. 5.
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
SANTOS, Marisa F. dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 12. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2022.
38

Regime próprio (ações judiciais)


Autoria: Lais Giovanetti
Leitura crítica: Valtair de Lima Junior

Objetivos
• Apresentar aos alunos as características gerais dos
Regimes Previdenciários: públicos e privado.

• Abordar sobre o conceito, regras, características


e benefícios dos Regimes Próprios de Previdência
Social.

• Tratar dos Regimes Complementares de Previdência


Social e sua aplicabilidade no sistema previdenciário
brasileiro.
39

1. Dos aspectos gerais dos Regimes


Previdenciários

A Previdência Social é um Direito Fundamental Social, previsto no art. 6º


e 201 e seguintes da Constituição Federal de 1988. É um direito que tem
como um dos maiores objetivos assegurar e proteger os trabalhadores,
diante de infortúnios da vida, tecnicamente denominados de
contingências-necessidades, que podem ocorrer em qualquer momento
da vida. Desse modo, a Previdência Social funciona como um seguro que
garante a renda do trabalhador e de sua família, por exemplo, nos casos
de doença, acidente, gravidez, reclusão, morte ou idade avançada.

Para assegurar essa proteção, a Constituição Federal de 1988, organizou


a Previdência Social, ou seja, o Sistema Previdenciário Brasileiro, em dois
regimes previdenciários: o regime público e o regime privado. Esclarece
que, regime previdenciário é aquele que abarca, mediante normas
disciplinadoras da relação jurídica previdenciária, uma coletividade de
indivíduos que têm vinculação entre si em virtude da relação de trabalho
ou categoria profissional a que está submetida, garantindo a esta
coletividade, no mínimo, os benefícios essencialmente observados em
todo sistema de seguro social – aposentadoria e pensão por falecimento
do segurado (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Os regimes públicos no Brasil são o Regime Geral de Previdência Social


(RGPS), o regime previdenciário próprio dos servidores públicos civis
(RPPS) e o regime previdenciário próprio dos militares. Como descreve
Santos (2022), o RGPS, além de ser um regime público, é administrado
pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), e engloba a maior parte
dos trabalhadores, principalmente da iniciativa privada e servidores não
filiados a regimes próprios e está previsto no art. 201 da Constituição
Federal de 1988.
40

Já o RPPS, segundo Santos (2022), além de ser um regime público


específico para servidores públicos concursados, titulares de cargo
efetivo, é administrado por fundos previdenciários dos respectivos entes
federados a que pertencerem os servidores públicos e está previsto no
art. 40 da Constituição Federal de 1988.

No tocante ao Regime Próprio dos Militares, este se subdivide em duas


espécies: a dos Militares da União (integrantes das Forças Armadas
(Marinha, Exército e Aeronáutica)); e Militares dos Estados, do Distrito
Federal e Territórios (integrantes das Polícias Militares e Corpos de
Bombeiros Militares). Estes estão previstos, respectivamente nos artigos
142 e 42 da Constituição Federal de 1988. Para este regime, o Estado
deferiu a esses servidores um regime de previdência social diferenciado
(LEITÃO; MEIRINHO).

Quanto ao regime privado, a previdência é considerada de caráter


complementar e facultativo, no qual se ingressa por manifestação
expressa da vontade do interessado, com a finalidade de suprir a
necessidade de renda adicional na aposentadoria e está previsto no art.
202 da Constituição Federal de 1988 (CASTRO, LAZZARI, 2020). Temos
assim que:

Quadro 1 – Regimes públicos e regime privado

Regimes públicos Regime privado


• Previdência
• Regime geral (RGPS).
complementar.
• Regime próprio dos servidores
públicos civis.
• Regime próprio dos servidores
públicos militares.
Fonte: elaborado pela autora.

Diante do exposto, importante mencionar algumas características dos


regimes previdenciários públicos. Primeiramente, conforme Santos
41

(2022), são regimes previdenciários de caráter obrigatório, isto é, a


filiação independe da vontade do segurado; têm adesão obrigatória para
todos os cidadãos que exercem atividades remuneradas (segurados
obrigatórios) e a contribuição é mensal.

Ainda, no Regime Geral, mais especificadamente, é possível a adesão de


cidadãos que não exerçam trabalho remunerado, mas que podem se
filiar à Previdência de maneira facultativa (não-obrigatória) a partir da
inscrição formalizada com o pagamento da primeira contribuição sem
atraso (segurados facultativos) (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Do ponto de vista econômico-financeiro, os regimes previdenciários se


organizam por meio de um sistema de capitalização ou de repartição
simples. No regime ou sistema de capitalização, adotam-se técnicas
financeiras de seguro e poupança. As contribuições dos segurados são
capitalizadas individual ou coletivamente:

Na capitalização individual, as contribuições se creditam na conta de cada


segurado, e, com os rendimentos desse capital, por longo período, será
possível o pagamento das prestações devidas. O fundo é individual. Na
capitalização coletiva, as contribuições, em seu conjunto, são consideradas
em favor da coletividade segurada.

No regime de repartição simples, baseado na solidariedade entre


indivíduos e entre gerações, as contribuições dos que podem trabalhar são
imediatamente empregadas no pagamento das prestações dos que não
podem exercer a atividade laboral, (LEITÃO; MEIRINHO, 2018, p. 94-95)

O sistema de repartição simples funciona como se as despesas com


o pagamento dos benefícios em manutenção fossem divididos entre
os contribuintes. São feitos cálculos para verificar se as contribuições
arrecadadas atendem, de forma exclusiva, ao pagamento das parcelas
dos benefícios em um mesmo período e é um sistema adotado pelas
previdências públicas em quase todos os países do mundo.
42

Os regimes públicos brasileiros adotam o sistema de repartição simples,


o que não foi alterado pela Reforma da Previdência promovida pela
Emenda Constitucional nº 103/2019. Para o sistema de repartição
simples vale aquela “máxima”, a qual se propõe um pacto bem direto
entre gerações. Os trabalhadores ativos, compostos pela geração atual,
pagam os benefícios dos que estão inativos, compostos pela geração
passada. O pagamento dos benefícios próprios irá depender da geração
futura manter o pacto intergeracional. Essa geração será constituída de
novos trabalhadores que irão ingressar no sistema previdenciário.

No sistema de capitalização, o próprio trabalhador, durante a fase de


sua vida laboral, irá produzir um montante de recursos necessários
para sustentar o seu benefício previdenciário, ou seja, o custo total
de sua aposentadoria. Neste sistema, o próprio beneficiado é quem
faz o financiamento dos seus benefícios previdenciários. Diante
das características apresentadas, passemos à análise dos regimes
previdenciários em espécie.

2. Do Regime Próprio de Previdência Social

Antes de adentrar ao tema, menciona-se que somente com a introdução


do caráter contributivo, pela Emenda Constitucional nº 03/1993, e da
noção de “Regime Próprio” de Previdência, pela Emenda n. 20, de 1998,
que a aposentadoria dos servidores ocupantes de cargos efetivos
mereceu destaque maior na literatura previdenciária.

A Constituição Federal de 1988, quando promulgada, concedia o mesmo


tratamento diferenciado aos agentes públicos ocupantes de cargos
efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, bem
como os das autarquias e fundações públicas. Porém, com a Emenda
Constitucional nº 20/1998, passou a prever a instituição de um regime
previdenciário próprio, o qual também se aplica aos agentes públicos
43

ocupantes de cargos vitalícios (magistrados, membros do Ministério


Público e de Tribunais de Contas).

Tais agentes públicos citados, não se inserem no Regime Geral de


Previdência Social, o que significa dizer que lhes é assegurado estatuto
próprio a dispor sobre seus direitos previdenciários e a participação
destes no custeio do regime diferenciado.

Em virtude da autonomia político-administrativa de cada um dos


Entes da Federação, os regimes próprios foram instituídos por lei do
respectivo ente federativo, cabendo à União a edição de normas gerais
sobre a matéria, o que foi feito com a publicação da Lei nº 9.717/1998.

Assim, incumbe especificamente à União estabelecer, normatizar e fazer


cumprir a regra constitucional do art. 40 em relação aos seus servidores
públicos; a cada Estado-membro da Federação e ao Distrito Federal,
em relação a seus servidores públicos estaduais ou distritais; e a cada
Município, em relação aos seus servidores públicos municipais, o que
acarreta a existência milhares de Regimes de Previdência Social na
ordem jurídica vigente (CASTRO; LAZZARI, 2020). Além disso, a Emenda
Constitucional nº 103/2019 vedou a instituição de novos regimes
próprios de previdência social (art. 40, § 22, da CF), conforme Santos
(2022).

Importante esclarecer que na hipótese de o servidor público ocupante


de cargo efetivo exercer atividade paralelamente na iniciativa
privada, sujeita-se à filiação em dois Regimes de Previdência Social,
pois há filiação obrigatória em relação a cada uma das atividades
desempenhadas, por força dos regimes jurídicos vigentes. A mesma
condição de duplamente filiado acontecerá se um indivíduo acumular,
licitamente, dois cargos públicos de provimento efetivo, no quadro
funcional de Entes da Federação distintos, por exemplo, dois cargos de
professores, em rede municipal e estadual.
44

2.1 Dos princípios constitucionais que regem o Regime


Próprio de Previdência Social (RPPS)

O Regime Próprio de Previdência Social de todos os entes federativos,


submete-se aos mesmos princípios constitucionais que regem a
Seguridade Social, previstos no art. 194 da Constituição Federal de 1988,
e aplica, no que couber, as normas, os requisitos e critérios fixados no
Regime Geral de Previdência Social, art. 40, § 12, da Constituição Federal
de 1988.

Assim como para o Regime Geral de Previdência Social, nos artigos 201
e 202, a Constituição Federal de 1988, estabeleceu, normas específicas
para o Regime Próprio de Previdência Social, previstas no art. 40. O
caput do art. 40 está em vigor com a redação que lhe foi dada pela
Emenda Constitucional nº 103/2019:

O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos


efetivos terá caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do
respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de
pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e
atuarial. (BRASIL, 2019, [s.p.])

Quanto aos princípios, citemos como principais o da solidariedade,


equilíbrio financeiro e atuarial e unicidade de regime e gestão. Esse
princípio (ou fundamento) foi previsto com a Emenda Constitucional
nº 41/2003, ao modificar o art. 40 para fixar que o Regime Próprio
de Previdência Social seja financiado, solidariamente, mediante
contribuição do ente público respectivo, bem como pelas contribuições
dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, mantendo a
exigência de preservação do equilíbrio financeiro e atuarial da redação
dada pela Emenda Constitucional nº 20/98. A solidariedade no
financiamento deste Regime foi preservada pela Emenda Constitucional
nº 103/2019 (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).
45

Outro princípio é o do equilíbrio financeiro e atuarial que é a chave


da sobrevivência de qualquer regime de Previdência Social público ou
privado. Na forma do que a CF prevê para a Seguridade Social, no art.
195, § 5º, há necessidade de que o sistema tenha equilíbrio entre receita
e despesa. Sendo assim, a regra do art. 195, § 5º, tem aplicação: nenhum
benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado
ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total (LEITÃO;
MEIRINHO, 2018,).

Por fim, mais um princípio é o da unicidade de regime e gestão, ou


seja, os entes federativos não podem adotar mais de um regime
previdenciário para seus servidores titulares de cargo efetivo. A
Constituição Federal exige, também, que a gestão do Regime Próprio
seja feita por apenas um órgão ou unidade gestora, como estabelece o
art. 40, § 20:

É vedada a existência de mais de um regime próprio de previdência social


e de mais de um órgão ou entidade gestora desse regime em cada ente
federativo, abrangidos todos os poderes, órgãos e entidades autárquicas
e fundacionais, que serão responsáveis pelo seu financiamento,
observados os critérios, os parâmetros e a natureza jurídica definidos na
lei complementar de que trata o § 22. (BRASIL, 1988, [s.p.])

2.2 Dos benefícios e regras previstas para o Regime


Próprio de Previdência Social (RPPS)

O art. 40 da Constituição Federal de 1988, com nova redação dada


pela Emenda Constitucional nº 103/2019, estabelece os benefícios
previdenciários garantidos aos filiados do Regime Próprio de Previdência
Social, que são:

(I) aposentadoria por incapacidade permanente para o trabalho, no cargo


em que estiver investido, quando insuscetível de readaptação;
46

(II) aposentadoria compulsória, com proventos proporcionais ao tempo


de contribuição, aos 70 (setenta) anos de idade, ou aos 75 (setenta e
cinco) anos de idade, na forma de lei complementar (EC n. 88/2015);

(III) aposentadoria voluntária, no âmbito da União, aos 62 (sessenta


e dois) anos de idade, se mulher, e aos 65 (sessenta e cinco) anos
de idade, se homem, e, no âmbito dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios, na idade mínima estabelecida mediante emenda às
respectivas Constituições e Leis Orgânicas, observados o tempo de
contribuição e os demais requisitos estabelecidos em lei complementar
do respectivo ente federativo;

(IV) aposentadoria voluntária, com idade reduzida em 5 (cinco) anos, aos


professores que comprovem tempo de efetivo exercício nas funções
de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio,
na forma de lei complementar do respectivo ente federativo. (SANTOS,
2022, p. 548-565)

A partir do art. 40, também se previu aos entes federativos que


estabeleçam, por lei complementar, tempo de contribuição e idade
diferenciados para aposentadoria de servidor com deficiência
(§4º-A), de ocupantes do cargo de agente penitenciário, de agente
socioeducativo, e de policiais da Câmara dos Deputados, do Senado
Federal, de policiais federais, de policiais da Polícia Rodoviária
Federal, da Polícia Ferroviária Federal e de policiais civis.

Também por lei complementar os entes federativos poderão prever


a aposentadoria especial para servidores cujas atividades sejam
exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e
biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada
a caracterização por categoria profissional ou ocupação.

A Lei Complementar nº 152/2015, cumprindo o previsto na Emenda


Constitucional nº 88/2015, estendeu a aposentadoria compulsória
aos 75 anos de idade a todos os servidores públicos da União, dos
47

Estados e dos Municípios. Para os dependentes, a CF se assegura a


pensão por morte.

Ademais quanto aos valores dos proventos de aposentadorias, o


§ 2º do art. 40 da CF, com a redação da EC nº 103/2019, adotou as
mesmas regras do Regime Geral de Previdência Social: adotando
os limites mínimo e máximo aos proventos de aposentadoria: § 2º
Os proventos de aposentadoria não poderão ser inferiores ao valor
mínimo a que se refere o § 2º do art. 201 ou superiores ao limite
máximo estabelecido para o Regime Geral de Previdência Social,
observado o disposto nos §§ 14 a 16.

Por conseguintes, os §§ 14 a 16 da Constituição Federal de 1988,


dispõem sobre a obrigação de os entes federativos instituírem
regime de previdência complementar para os servidores titulares
de cargo efetivo para que possam ser adotados os limites máximo e
mínimo de valor dos benefícios do RGPS. Importante frisar, segundo
Santos (2022), que a garantia ao princípio do tempus regit actum,
dispondo que os proventos de aposentadorias e pensões por morte
serão calculados de acordo com a legislação em vigor à época em
que foram cumpridos os requisitos exigidos para obtenção dessas
coberturas previdenciárias.

Ressalta-se que a integralidade, deixou de ser garantia constitucional


a partir da Emenda Constitucional nº 41/2003, sendo que tanto os
proventos da aposentadoria, quanto os da pensão por morte têm
cálculo que agora considera o sistema eminentemente contributivo
do Regime Próprio de Previdência Social.

Tratando-se da percepção de mais de uma aposentadoria à conta do


Regime Próprio de Previdência Social, o § 6º do art. 40 da Constituição
Federal de 1988, permite decorrentes de cargos cuja acumulação seja
permitida. As hipóteses de acumulação permitida de cargos estão
previstas no art. 37, inciso XVI e XVII, e se restringem às situações em
48

que haja compatibilidade de horários entre as atividades e, ainda, a


remuneração ou subsídio decorrente da acumulação não pode ser
superior ao teto constitucional.

2.3 Do Regime dos Militares das Forças Armadas

A Emenda Constitucional nº 18/1998, dispondo sobre o regime


constitucional dos militares, excluiu estes do gênero “servidores
públicos”, passando essa categoria de agentes públicos a ser referida
como militares, englobando os integrantes das Forças Armadas e das
Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, do
Distrito Federal e dos Territórios.

A referida Emenda Constitucional, também prevê tratamento diverso


em relação aos Militares da União e dos demais Entes Federativos,
segregando-os em dispositivos diversos, com influência, inclusive, nos
regimes previdenciários.

Os militares estão vinculados a regimes próprios com regras próprias,


cabendo a uma lei específica dispor sobre o processo de inatividade
dessa categoria, conforme se conclui dos artigos 42, §§ 1º e 2º, e 142,
§ 3º, inciso IX e X, da CF/88.

A análise da Lei nº 9.717/98, que dispõe sobre regras gerais para a


organização e o funcionamento dos RPPS dos servidores públicos
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos
militares dos Estados e do Distrito Federal e dá outras providências,
possibilita a conclusão de que os militares da União terão tratamento
diferenciado em relação aos militares dos Estados, DF e Territórios

Essa conclusão está de acordo com o disposto no § 20 do art. 40 da


Constituição Federal, que veda de forma expressa a existência de
mais de um RPPS para os servidores titulares de cargos efetivos, e
de mais de uma unidade gestora do respectivo regime em cada ente
49

estatal, ressalvado o disposto no art. 142, § 3º, X (que se refere aos


militares da União).

Assim, os integrantes das Forças Armadas possuem legislação própria


(Lei n. 6.880/80, que trata do estatuto dos Militares das Forças
Armadas), o que não acontece com os militares dos demais entes
federativos, os quais se integram ao RPPS respectivo (embora possam
apresentar legislação diferenciada – Estatuto dos Militares estaduais,
por exemplo).

Com relação aos militares, não parece correto falar em aposentadoria


propriamente dita, já que a sua situação perante o Estado,
quando não mais exerce suas atividades profissionais, apresenta
peculiaridades. Assim, parece-nos que seja mais correto falar em
inatividade do militar. Nessa situação de inatividade, o militar
permanece vinculado à sua profissão, podendo ocorrer duas
hipóteses: a reserva e a reforma.

Os militares na reserva estão sujeitos a leis militares, em especial


ao Estatuto dos Militares e ao Regulamento Disciplinar, podendo ser
mobilizados a qualquer momento. No caso da Reforma, a obrigação
de retornar ao serviço não mais existe, o que ocorre no caso da idade
ou por incapacidade física. Conclui-se, então, que os militares em
inatividade, observados a condição física e o limite de idade para
reforma, encontram-se em disponibilidade remunerada.

A passagem para a inatividade pode se dar de forma voluntária ou


involuntária, denominada ex officio. São critérios para a passagem
para a inatividade dos militares integrantes das Forças Armadas: (1)
Voluntariamente: após completar 30 anos de serviço; (2) Ex officio: ao
atingir a idade limite de permanência no serviço ativo (variável com o
posto ou graduação), ou quando apresentar problema de saúde que
o incapacite para o serviço ativo.
50

3. Do Regime Complementar de Previdência


Social

O Regime de Previdência em caráter complementar, se aplica no Brasil,


apenas em caráter supletivo, ao contrário do que ocorre, por exemplo,
no Chile, onde o regime previdenciário adotou a privatização da proteção
previdenciária como fórmula básica.

A Lei Complementar nº 109/2001, a qual dispõe sobre o Regime de


Previdência Complementar e dá outras providências, preconiza os
mesmos princípios estabelecidos no art. 202 da Constituição da República,
quais sejam, o caráter meramente complementar do regime privado
e a autonomia deste em relação à Previdência Social, assim como a
facultatividade no ingresso e a necessidade de constituição de reservas
que garantam a concessão dos benefícios (art. 1º).

Para a constituição e início de funcionamento de uma entidade


previdenciária privada, a Lei prevê a necessidade de autorização
governamental prévia (art. 33, inciso I, e art. 38, inciso I).

O controle governamental é exercido pela Superintendência Nacional de


Previdência Complementar – PREVIC, autarquia de natureza especial criada
pela Lei n. 12.154/2009, vinculada atualmente ao Ministério da Fazenda,
com atribuição de fiscalizar e supervisionar as atividades das entidades
fechadas de previdência complementar e de execução das políticas para o
regime de previdência complementar operado pelas entidades fechadas
de previdência complementar, observadas as disposições constitucionais e
legais aplicáveis. (BRASIL, 2001, [s.p.])

Segundo a respectiva Lei Complementar, o regime de previdência


complementar é operado por entidades de previdência complementar,
as quais são classificadas em fechadas e abertas. A entidade fechada
de previdência privada é aquela constituída sob a forma de fundação
ou sociedade civil, sem fins lucrativos, e que é acessível exclusivamente
51

a empregados de uma empresa ou grupo de empresas, aos servidores


dos entes públicos da Administração, quando o tomador dos serviços
será denominado patrocinador da entidade fechada, e aos associados
ou membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou
setorial, quando estas serão denominadas “instituidores” (sic) da entidade
(art. 31 da Lei). Não pode o próprio empregador explorar a atividade
de previdência complementar; para estabelecer o plano previdenciário
privado, deverá constituir entidade própria para este fim. Não se
confunde, portanto, a personalidade jurídica da empresa patrocinadora
ou instituidora (empregador) com a da entidade previdenciária
complementar (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

Com relação à entidade aberta de previdência privada é aquela que


não se enquadra na hipótese anterior. São instituições financeiras que
exploram economicamente o ramo de infortúnios do trabalho, cujo
objetivo é a instituição e operação de planos de benefícios de caráter
previdenciário em forma de renda continuada ou pagamento único,
constituídas unicamente sob a forma de sociedades anônimas, podendo
as seguradoras que atuem exclusivamente no ramo de seguro de
vida virem a ser autorizadas a operar também planos de previdência
complementar (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

A pessoa do segurado, associado ou beneficiário, neste regime é


denominado de “participante” ou “assistido”. Para que um indivíduo se
torne participante de um plano previdenciário de entidade fechada de
previdência privada, conforme Santos (2022), há necessidade de que
preencha os requisitos exigidos pela entidade, geralmente, a vinculação
a um empregador (empresa); já para ingressar em um plano de entidade
aberta, basta a adesão voluntária a ele, não havendo necessidade de
vinculação a um empregador.

O custeio dos planos de previdência complementar de entidades


fechadas de que trata a lei será feito por meio de contribuições dos
participantes (trabalhadores que aderirem), dos assistidos (dependentes
52

de trabalhadores que possam aderir também ao plano) e do patrocinador


(empregador). Já os de entidades abertas são custeados exclusivamente
com aportes do trabalhador participante (cotização individual).

Quanto às normas que disciplinam a relação entre o participante de


planos de previdência complementar e as entidades respectivas, cumpre
frisar o entendimento consolidado pelo STJ na Súmula nº 563, e a
correspondente retirada da Súmula nº 321 daquele Pretório: “O Código
de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas de previdência
complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados
com entidades fechadas” (BRASIL, 2016, [s.p.]).

Finalmente, destacamos outros precedentes sobre o tema, considerados


relevantes: “compete à Justiça Estadual processar e julgar litígios
instaurados entre entidade de previdência privada e participante de seu
plano de benefícios” (Tese julgada sob o rito do art. 543-C do CPC/1973,
Tema 539); “as contribuições para o regime de previdência complementar
podem ser alteradas (majoradas ou reduzidas) a qualquer momento para
manter o equilíbrio econômico-financeiro do plano, uma vez que não há
direito adquirido ao regime inicial de custeio” (AgRg no AREsp 541301/RJ)
(LEITÃO; MEIRINHO, 2018, p. 572).

Desta forma, foram destacadas as principais características do Regime


Complementar de Previdência.

Referências
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988. Brasília: D.O.U., 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 11 out. 2022
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe
sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras
providências. Brasília: D.O.U., 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/L8212cons.htm. Acesso em: 14 out. 2022.
53

BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe


sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.
Brasília: D.O.U., 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8213cons.htm. Acesso em: 14 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999.
Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providências. Brasília:
D.O.U., 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.
htm. Acesso em: 14 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 10.410, de 30 de junho de 2020.
Altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no 3.048, de 6
de maio de 1999. Brasília: D.O.U., 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Decreto/D10410.htm#art1. Acesso em: 14 out. 2022.
BRASIL. STJ. Súmula n. 563. Brasília: DJe, 2016. Disponível em: https://www.stj.jus.
br/publicacaoinstitucional/index.php/sumstj/article/download/5099/5225. Acesso
em: 24 nov. 2022.
CASTRO, Carlos A. P. de; LAZZARI, João B. Manual de Direito Previdenciário. 23.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
LEITÃO; André S.; MEIRINHO, Augusto G. S. Manual de direito previdenciário. 5.
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
SANTOS, Marisa F. dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 12. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2022.
54

Regime Geral (introdução)


Autoria: Lais Giovanetti
Leitura crítica: Valtair de Lima Junior

Objetivos
• Apresentar aos alunos as características gerais do
Regime Geral de Previdência Social.

• Abordar sobre o Instituto Nacional de Seguro Social,


seu funcionamento e organização.

• Tratar dos aspectos constitucionais, dos benefícios


e dos beneficiários do Regime Geral de Previdência
Social.
55

1. Dos aspectos gerais do Regime Geral de


Previdência Social (RGPS)

A Constituição Federal de 1988 garante aos trabalhadores da iniciativa


privada e que não estejam submetidos à disciplina legal dos servidores
públicos civis e militares, um Regime Público de Previdência Social, de
caráter obrigatório.

Neste sentido, o Regime Geral de Previdência Social é considerado


o principal regime previdenciário na ordem interna, pois abrange
obrigatoriamente grande parte dos trabalhadores, incluindo todos
os trabalhadores da iniciativa privada, ou seja: os trabalhadores que
possuem relação de emprego; os trabalhadores autônomos, eventuais
ou não; os empresários individuais e microempreendedores individuais
ou sócios de empresas e prestadores de serviços remunerados por
“pro labore”; trabalhadores avulsos; pequenos produtores rurais e
pescadores artesanais trabalhando em regime de economia familiar; e
outras categorias de trabalhadores, como agentes públicos que ocupam
exclusivamente cargos em comissão, garimpeiros, empregados de
organismos internacionais, ministros de confissão religiosa entre outros.

O conceito para o Regime Geral de Previdência Social é constitucional


previsto pelo art. 201, com redação reforçada pela Emenda
Constitucional nº 103/2019: “a previdência social será organizada sob a
forma de Regime Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e
de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio
financeiro e atuarial” (BRASIL, 2019, [s.p.]).

O referido regime é disciplinado pela Lei nº 8.213/1991, denominada de


“Plano de Benefícios da Previdência Social–PBPS”, pela Lei nº 8.212/1991,
nomeada de “Plano de Custeio da Seguridade Social — PCSS” e regulado
pelo Decreto nº 3.048/1999, alterado pelo Decreto nº 10.410/2020.
56

De acordo com Santos (2022), o Regime possui algumas características


como a filiação compulsória e automática para os segurados
obrigatórios, pois o legislador constituinte, quis, de um lado, que todos
tivessem cobertura previdenciária e, de outro, que todos contribuíssem
para o custeio.

Permite, ainda, que pessoas que não estejam enquadradas como


obrigatórios e não tenham regime próprio de previdência se inscrevam
como segurados facultativos, passando também a serem filiados
ao Regime Geral de Previdência Social, em obediência ao princípio
da universalidade do atendimento, conforme art. 194, inciso I, da
Constituição Federal de 1988.

Além disso, o regime é de caráter contributivo porque a cobertura


previdenciária pressupõe o pagamento de contribuições do segurado
para o custeio do sistema. Conforme Santos (2022), somente quem
contribui adquire a condição de segurado da Previdência Social e,
cumpridas as respectivas carências, salvo quando dispensadas, tem
direito à cobertura previdenciária correspondente à contingência-
necessidade que o acomete.

A cobertura previdenciária garante proteção ao segurado e desonera


o Estado de arcar com os custos de atendimento àquele que não pode
trabalhar em razão da ocorrência das contingências-necessidade
enumeradas na Constituição e na lei.

Ainda, a Constituição Federal de 1988, quanto aos critérios de


organização do regime instituiu regras para preservar o equilíbrio
financeiro e atuarial. As contribuições previdenciárias formam um fundo
destinado ao financiamento das prestações previdenciárias, e que não
pode ser deficitário, sob pena de comprometer a sobrevivência do
sistema.
57

O regime previdenciário deve ser equilibrado. Este equilíbrio apresenta


dois aspectos: equilíbrio financeiro e equilíbrio atuarial. O equilíbrio
financeiro deve ser entendido como a capacidade financeira do sistema de
fazer frente às despesas com o pagamento dos benefícios previdenciários,
de forma imediata. Portanto, o equilíbrio financeiro tem um parâmetro
temporal restrito, considerando as necessidades atuais do sistema.
Portanto, é um equilíbrio de curto prazo, mas que o sistema deve procurar
sempre manter.

O equilíbrio atuarial, por sua vez, impõe o conhecimento da ciência atuarial


(atuária), que é a área do conhecimento humano que tem por finalidade
analisar os riscos e expectativas financeiras e econômicas relacionadas,
sobretudo, na gestão de seguros e pensões. Possui parâmetro temporal
mais amplo, ou seja, considera as necessidades do sistema a médio e a
curto prazo. O equilíbrio atuarial apresenta maior grau de complexidade
na medida em que se deve levar em conta os aspectos demográficos da
população (envelhecimento, expectativa de sobrevida, tempo de atividade
etc.) e os riscos que impõem necessidades sociais a serem enfrentadas
pelo sistema, elaborando modelos matemáticos que indiquem, ad
futurum, as receitas previdenciárias necessárias para que os benefícios
previdenciários sejam mantidos. (LEITÃO; MEIRINHO, 2018, p. 94)

O art. 201 da Constituição Federal de 1988, enumera as contingências


que o Regime Geral de Previdência Social se preocupa em cobrir, através
da criação de benefícios previdenciários:

[...] cobertura de eventos de incapacidade temporária ou permanente


para o trabalho e idade avançada; proteção à maternidade, especialmente
à gestante; proteção ao trabalhador em situação de desemprego
involuntário; salário-família e auxílio reclusão para os dependentes dos
segurados de baixa renda; e pensão por morte do segurado, homem ou
mulher, ao cônjuge ou companheiro e dependentes. (CASTRO; LAZZARI,
2020, p. 182)

Por fim, a Emenda Constitucional nº 103/2019 alterou substancialmente


o regime de aposentadorias e pensões do Regime Geral de Previdência
58

Social e também do Regime Próprio de Previdência Social dos servidores


públicos federais.

A normatização infraconstitucional da Reforma da Previdência se deu


principalmente por meio do Decreto nº 10.410/2020, que alterou o
Decreto nº 3.048/1999, denominado como Regulamento da Previdência
Social, além das espécies normativas secundárias, como a Instrução
Normativa nº 128/2022, a qual disciplinou as regras, os procedimentos
e as rotinas necessárias à efetiva aplicação das normas de direito
previdenciário, entre outras legislações e portarias a respeito.

2. Do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)

O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) tem natureza jurídica de


autarquia federal, pertencente à Administração Pública Descentralizada,
sendo assim, integra a Administração Pública Indireta, com sede em
Brasília (Distrito Federal) e vinculado ao Ministério do Trabalho e
Previdência Social.

Foi criado para exercer atividade típica do Estado, com autonomia


gerencial e administrativa, instituído com base na Lei nº 8.029/1990, com
as alterações promovidas pela Lei nº 11.457/2007, tem por finalidade a
aferição dos pressupostos legais para a concessão, reconhecimento e
manutenção de benefícios e serviços do Regime Geral de Previdência
Social, bem como do benefício assistencial de prestação continuada e a
ampliação do controle social (CASTRO; LAZZARI, 2020).

Importante mencionar que o INSS não administra o Regime Geral


de Previdência Social, segundo o art. 7º do Decreto nº 3.048/99
(Regulamento da Previdência Social), a administração deste regime
é atribuída ao Ministério da Previdência e Assistência Social (hoje,
59

Ministério do Trabalho e Previdência Social), sendo exercida pelos


órgãos e entidades a ele vinculados.

Por força da Lei nº 11.457/2007, o INSS passou a se dedicar apenas às


atividades de prestação de serviços aos beneficiários da Previdência
Social, concentrando sua atividade na concessão, manutenção e
pagamento de benefícios, retirando-lhe as competências relativas à
arrecadação, fiscalização, lançamento e normatização dos recolhimentos
das contribuições sociais.

Com as mudanças na estrutura administrativa, em 2016 a Previdência


Social perdeu o status de ministério e o INSS passou a integrar o
Ministério do Desenvolvimento Social (Lei nº 13.341/2016). Para tanto,
foi criada uma Secretaria de Previdência Social vinculada ao então
denominado Ministério da Fazenda. Posteriormente, uma Secretaria
Especial de Previdência e Trabalho, que integrou o Ministério da
Economia.

Em janeiro de 2019, o Ministério do Trabalho e Previdência Social foi


extinto tendo suas atribuições divididas entre o Ministério da Economia,
o Ministério da Cidadania e o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Porém, em julho de 2021, por meio Medida Provisória nº 1.058/2021,


convertida na Lei nº 14.261/2021, o Ministério do Trabalho e Previdência
Social, foi novamente criado e atualmente encontra-se em pleno
desenvolvimento.

3. Dos aspectos constitucionais do Regime


Geral de Previdência Social (RGPS)

O art. 201 da Constituição Federal de 1988, além de enumerar as


contingências geradoras das necessidades que terão cobertura
previdenciária, os seus parágrafos estabelecem regras para que o
60

legislador ordinário e a Administração possam conduzir o Regime Geral


de Previdência Social. A primeira regra, prevista no §1º do art. 201 da
Constituição Federal de 1988, é a proibição de adoção de requisitos e
critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria no Regime
Geral de Previdência Social. Para Santos (2022), esta regra estabelece
que os benefícios têm requisitos específicos, que devem ser os mesmos
para todos os beneficiários, vedadas quaisquer diferenciações, o
que atende aos princípios da universalidade e da uniformidade e
equivalência de benefícios e serviços às populações urbanas e rurais.

Ainda conforme Santos (2022), a segunda regra, disciplinada no §2º


do art. 201 da Constituição Federal de 1988, determina que nenhum
benefício que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do
trabalho do segurado terá valor mensal inferior ao salário-mínimo. Já
o §3º do art. 201 da Constituição Federal de 1988, prevê que todos os
salários de contribuição utilizados para o cálculo da renda mensal do
benefício, sejam corrigidos monetariamente até a data do cálculo, na
forma da lei, a fim de que a renda do benefício seja calculada de modo a
garantir que o valor apurado não tenha defasagem inicial.

Complementando, o art. 29-B, da Lei nº 8.213/1991, prevê que os


salários de contribuição considerados no cálculo do valor do benefício
serão corrigidos mês a mês de acordo com a variação integral do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), calculado pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (LEITÃO; MEIRINHO,
2018).

Mais uma regra está estampada no §4º do art. 201 da Constituição


Federal de 1988, o qual estabelece a preservação do valor real dos
benefícios, ou seja, como o benefício previdenciário se destina a
substituir os rendimentos do segurado, de modo que possa manter
seu sustento e de sua família, o “poder de compra” da renda mensal do
benefício previdenciário deve ser preservado, como descreve Santos
61

(2022), desde a renda mensal inicial até enquanto durar a cobertura


previdenciária, e não pode ficar sujeito às desvalorizações da moeda.

O §5º do art. 201 da Constituição Federal de 1988, ainda, veda a filiação


ao Regime Geral de Previdência Social, como segurado facultativo,
de pessoa participante de regime próprio de previdência. Ademais,
é garantido pelo §6º do art. 201 da Constituição Federal de 1988, aos
aposentados e pensionistas do Regime Geral de Previdência Social, o
pagamento de gratificação natalina. E o §7º, assegura a aposentadoria
no Regime Geral de Previdência Social, a quem preencher os requisitos
determinados por lei.

Outra regra prevista no §9º do art. 201 da Constituição Federal de


1988, garante a contagem do tempo de contribuição para o Regime
Geral de Previdência Social e para os regimes próprios de Previdência
Social, e destes entre si, para que, ao final, possa o segurado obter
sua aposentadoria por tempo de contribuição ou por idade (art. 201, §
9º, com a redação da EC nº 103/2019). A Constituição Federal de 1988
disciplina que os diversos regimes de Previdência Social se compensarão
financeiramente, segundo critérios estabelecidos em lei.

Neste sentido, a Certidão de Tempo de Contribuição (CTC) é o


documento essencial para fins de aproveitamento e contagem
recíproca de tempo trabalhado sob o regime próprio, no Regime Geral
de Previdência Social. Diante dessa determinação constitucional,
é plenamente possível que o indivíduo transite de um regime
previdenciário para o outro, levando consigo o tempo de contribuição já
acumulado (LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

A Emenda Constitucional nº 103/2019 acrescentou o § 9º-A ao art.


201, restando garantido o cômputo do tempo de serviço militar para
fins de contagem recíproca: tempo de serviço militar prestado pelos
militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (membros
da Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares); pelos das Forças
62

Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica); e o tempo de serviço militar


obrigatório. De acordo com Santos (2022), a contagem recíproca será
feita para fins de inativação militar e para a concessão de aposentadoria,
com a compensação financeira feita entre as receitas de contribuição
dos militares e as receitas de contribuição aos demais regimes.

O § 10 do art. 201 da Constituição Federal de 1988, deixou para a lei


complementar a disciplina da cobertura do risco de benefícios não
programados (aqueles que decorrem de contingências não programadas
ao longo da vida laboral, não planejadas, que impedem o segurado de
trabalhar de forma total ou parcial, temporária ou permanente, como
nos casos de auxílio-doença, auxílio-acidente, salário-maternidade,
e também, a pensão por morte do segurado em razão de acidente
de trabalho), a ser atendida concorrentemente pelo Regime Geral de
Previdência Social e pelo setor privado, deixando de ter cobertura
exclusiva pelo Regime Geral. Esses benefícios poderão ser objeto de
contrato com entidades privadas. Assim, a Constituição Federal de 1988
permite a edição de lei complementar (“poderá disciplinar”), mas não a
determina.

Mais uma regra está prevista no § 11, o qual assegura que todos
os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, devem ser
incorporados ao seu salário para efeitos previdenciários. Com isso, a
norma visa garantir ao segurado que, quanto maior a base de cálculo
de sua contribuição previdenciária, maior será o valor da renda mensal
inicial de seus benefícios previdenciários. Ainda, é importante para o
sistema previdenciário em razão dos reflexos no custeio.

Por fim, o § 12 do art. 201 da Constituição Federal de 1988, modificado


pela Emenda Constitucional nº 103/2019, possibilitou a inclusão
previdenciária dos trabalhadores de baixa renda, inclusive os que se
encontram em situação de informalidade, e daqueles que, sem renda
própria, se dediquem exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito
de sua residência, desde que pertencentes a famílias de baixa renda.
63

Esse sistema especial de inclusão previdenciária permite o


estabelecimento de alíquotas de contribuição diferenciadas das vigentes
para os demais segurados da Previdência Social, por exemplo, o
contribuinte individual e o microempreendedor individual, bem como o
segurado facultativo sem renda própria que se dedique exclusivamente
ao trabalho doméstico no âmbito de sua residência, desde que
pertencente à família de baixa renda.

4. Dos benefícios e regras previstas para o


Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

Após a Constituição Federal de 1988, que disciplinou a Seguridade Social,


bem como a Previdência Social, a Lei nº 8.213/1991 foi a responsável
pela introdução do Plano de Benefícios da Previdência Social (PBPS),
estabelecendo normas, princípios que regem a relação jurídica entre
segurados, dependentes e a Previdência Social, sob o prisma dos
benefícios e serviços.

A Lei nº 8.213/1991 foi diversas vezes alterada e passou por sucessivas


regulamentações por meio de Decretos. A última e mais recente
alteração foi com a Reforma da Previdência de 2019, a partir da Emenda
Constitucional nº 103/2019, que previu a edição de lei ordinária, e, em
algumas hipóteses, de lei complementar para regular a concessão de
benefícios e sua fórmula de cálculo.

Neste sentido, foi editado o Decreto nº 10.410/2020 que alterou


o Decreto nº 3.048/1999, que regulamenta a Previdência Social,
regulamentando as regras trazidas pela Reforma.

Quanto aos benefícios previdenciários, o art. 1º da Lei nº 8.213/1991


enumera as contingências cobertas pelo Plano de Benefícios, tais
como: a incapacidade; o desemprego involuntário; a idade avançada; o
64

tempo de serviço; a prisão ou a morte daqueles de quem dependiam


economicamente.

Algumas contingências têm como sujeito ativo o segurado; outras o


dependente e outras o segurado e o dependente. Assim, diante das
contingências, são devidas ao segurado:

a) em razão de acidente do trabalho – Aposentadoria por incapacidade


permanente; auxílio por incapacidade temporária, auxílio-acidente.

b) em razão de doença – Aposentadoria por incapacidade permanente;


auxílio por incapacidade temporária, auxílio-acidente.

c) em razão da idade avançada – Aposentadoria por idade,


aposentadoria por tempo de contribuição e, atualmente, denominada de
aposentadoria programada.

d) em razão de exposição a agentes nocivos à saúde – Aposentadoria


especial.

e) em razão da maternidade – Salário-maternidade, entre outros.

Com a Emenda Constitucional nº 103/2019, a idade deixa de ter


cobertura previdenciária específica para os trabalhadores urbanos e
passa a ser requisito cumulativo com o tempo de contribuição para
a aposentadoria do segurado. Somente os trabalhadores rurais e
segurados especiais continuaram a ter cobertura de aposentadoria
por idade após a Reforma da Previdência de 2019. Aos dependentes
são devidos pensão por morte e auxílio-reclusão. Os segurados e os
dependentes têm direito à reabilitação profissional.

Para Santos (2022), embora previsto no art. 201, inciso III, da


Constituição Federal de 1988, e no art. 1º da Lei nº 8.213/1991, a situação
de desemprego involuntário não tem cobertura previdenciária dentro do
plano de benefícios, mas é objeto de lei específica, a Lei nº 7.998/1990
65

(alterada pelas Leis nº 8.900/1994, 10.608/2002, e 12.513/2011, pela


Lei nº 13.134/2015), que regula o Programa de Seguro-Desemprego, o
Abono Salarial, institui o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), e dá
outras providências.

No tocante aos beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, de


acordo com o art. 10 da Lei nº 8.213/1991, os beneficiários classificam-
se em segurados e dependentes. Consequentemente, infere-se
que beneficiário é gênero do qual são espécies os segurados e os
dependentes. Segurados e dependentes são sujeitos ativos da relação
jurídica cujo objeto seja o recebimento de prestação de natureza
previdenciária.

São diferentes as relações jurídicas que se estabelecem entre segurado


e Previdência Social e entre dependente e Previdência Social. A relação
jurídica entre segurado e Previdência Social se inicia com seu ingresso
no sistema, e se estenderá enquanto estiver filiado. A relação jurídica
entre dependente e Previdência Social só se formaliza se não houver
mais a possibilidade de se instalar a relação jurídica com o segurado
porque não há, no sistema previdenciário, nenhuma hipótese de
cobertura concomitante para segurado e dependente.

Os segurados são de duas espécies: os obrigatórios e os facultativos.


Os segurados obrigatórios são aqueles que devem contribuir
compulsoriamente para a Seguridade Social, com direito aos
benefícios pecuniários previstos para a sua categoria (aposentadorias,
pensões, auxílios, salário-família e salário-maternidade) e aos serviços
(reabilitação profissional e serviço social) a encargo da Previdência Social
(LEITÃO; MEIRINHO, 2018).

Ao lado do segurado obrigatório, o qual é filiado independentemente


de sua vontade, encontramos o segurado facultativo, que desfruta do
privilégio constitucional e legal de se filiar ao RGPS. É a pessoa que,
não estando em nenhuma situação que a lei considera como segurado
obrigatório, desejar contribuir para a Previdência Social, desde que
66

seja maior de 16 anos (segundo o Decreto nº 3.048/99), e não esteja


vinculado a nenhum outro regime previdenciário (art. 11 e § 2º do
Regulamento).

Referências
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988. Brasília: D.O.U., 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
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BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.212, de 24 de julho de 1991. Dispõe
sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio [...]. Brasília:
D.O.U., 1991. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212cons.
htm>. Acesso em 14 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe
sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências.
Brasília: D.O.U., 1991. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l8213cons.htm. Acesso em: 14 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 3.048, de 06 de maio de 1999.
Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providências. Brasília:
D.O.U., 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d3048.
htm. Acesso em: 14 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Decreto nº 10.410, de 30 de junho de 2020.
Altera o Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 3.048, de 6
de maio de 1999. Brasília: D.O.U., 2020. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Decreto/D10410.htm#art1. Acesso em: 14 out. 2022.
BRASIL. Presidência da República. Emenda Constitucional nº 103, de 12 de
novembro de 2019. Altera o sistema de previdência social e estabelece regras de
transição e disposições transitórias. Brasília: D.O.U., 2019. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc103.htm. Acesso em:
24 nov. 2022.
CASTRO, Carlos A. P. de; LAZZARI, João B. Manual de Direito Previdenciário. 23.
ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
LEITÃO; André S.; MEIRINHO, Augusto G. S. Manual de direito previdenciário. 5.
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
SANTOS, Marisa F. dos. Direito Previdenciário Esquematizado. 12. ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2022.
67

BONS ESTUDOS!

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