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Regime Geral de

Previdência Social.

Aposentadoria e Previdência
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
Rogério Nagamine Costanzi (Conteudista, 2023).

Curso desenvolvido no âmbito da Diretoria de Desenvolvimento Profissional – DDPRO

Enap, 2023
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Introdução - Apresentação e boas-vindas...................................................................... 5

Módulo 1 – Conceitos, Funções e Organização dos Sistemas de


Seguridade e Previdência Social
Unidade 1 – Entendendo o funcionamento dos sistemas de Seguridade e
Previdência Social..................................................................................................... 6

Tópico 1: Conceitos, Funções e Organização dos Sistemas de Seguridade e


Previdência Social.............................................................................................................. 6
Tópico 1.2: Princípios e fundamentos do Regime Geral de Previdência Social....... 12
Referências....................................................................................................................... 16

Módulo 2 – Características do Regime Geral de Previdência Social


Unidade 1 – Conhecendo as principais características do Regime Geral de
Previdência Social................................................................................................... 18

Tópico 2.1 Principais características do Regime Geral de Previdência Social.......... 18


Tópico 2.2 Evolução e Importância do RGPS................................................................ 22
Referências....................................................................................................................... 31

Módulo 3 – Mudanças com a Reforma de 2019 e EC 103/2019


Unidade 1 – Conhecendo a Reforma de 2019 e a EC 103/2019........................... 32

Tópico 3.1 Principais mudanças nas regras de aposentadoria ................................ 32


Tópico 3.2 Demais alterações nas regras previdenciárias......................................... 44
Referências ...................................................................................................................... 50

Módulo 4 – Desafios Futuros do Regime Geral de Previdência Social


Unidade 1 – O que esperar do futuro do Regime Geral de Previdência Social.52

Tópico 4.1 Desafios do RGPS – a questão da cobertura previdenciária e


transformações do mercado de trabalho.................................................................... 53

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Tópico 4.2 Envelhecimento Populacional e Outros Desafios..................................... 60

Considerações Finais ............................................................................................. 63

Referências ............................................................................................................. 64

Glossário.................................................................................................................. 66

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Introdução - Apresentação e boas-vindas

Seja bem-vindo(a) ao curso Regime Geral de Previdência Social!

Antes de iniciar, assista ao vídeo de apresentação do curso:

Apresentação do curso

Este curso está estruturado em quatro módulos, no primeiro, trataremos dos


conceitos, das funções e da organização dos Sistemas de Seguridade e Previdência
Social, além de compreender como organizada a Previdência Social no Brasil; no
segundo módulo, analisaremos a evolução do Regime Geral de Previdência Social
e suas principais características; no módulo três apresentaremos as principais
mudanças introduzidas com a Reforma da Previdência de 2019, via Emenda
Constitucional (EC) n. 103; e, no quarto módulo, serão debatidos eventuais desafios
que ainda restam ao Regime Geral como a ampliação da cobertura previdenciária, em
especial, para grupos como trabalhadores domésticos ou que trabalham por conta
própria, além da questão contemporânea de proteção social dos trabalhadores de
plataformas digitais – importante para análise do envelhecimento populacional e
seus impactos na Seguridade e Previdência Social.

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Módulo

1 Conceitos, Funções e Organização


dos Sistemas de Seguridade e
Previdência Social
Unidade 1 – Entendendo o funcionamento dos
sistemas de Seguridade e Previdência Social

Reconhecer os conceitos básicos e funções do Regime Geral


de Previdência Social e a legislação básica que rege o sistema
previdenciário brasileiro.

Tópico 1: Conceitos, Funções e Organização dos


Sistemas de Seguridade e Previdência Social

Existe uma infinidade de definições que apresentam conceitos sobre Seguridade


e Previdência Social. Tão importante quanto a definição conceitual é ter clareza
de quais são as funções ou os objetivos que, do ponto de vista ideal, devem atuar
em tais Sistemas, para entender como podem ser ou como são organizados nas
sociedades atuais. Para pensar políticas públicas previdenciárias, é necessário
conhecer as alternativas de modelos previdenciários e como são organizados no
cenário internacional.

No art. 194 da Constituição Federal (CF) de 1988, a Seguridade Social foi definida
como um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social” (BRASIL, 1988).

Com base na definição constitucional em questão é possível entender como um


sistema de proteção social pode garantir seguridade a toda sociedade frente a
vários riscos sociais. Também fica claro que a Previdência é diferente da Seguridade,
mas que está integrada à Seguridade. Mais especificamente, a Previdência é o
subsistema contributivo da Seguridade Social Brasileira, enquanto a Saúde e a
Assistência Social correspondem ao subsistema não contributivo, conforme
exposto no Infográfico a seguir.

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Fonte: Produção autoral (2023).

Segundo, Ibrahim (2014, p. 1):

Seguridade Social pode ser conceituada como a rede


protetiva formada pelo Estado e particulares e não
particulares, com contribuições de todos, incluindo
parte dos beneficiários dos direitos, no sentido de
estabelecer ações positivas no sustento de pessoas
carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes,
providenciando a manutenção de um padrão mínimo
de vida.

Já Amado (2012, p. 31) observa que:

É preciso que o Estado proteja o seu povo contra


eventos previsíveis, ou não, aptos a causar a sua
miséria e intranquilidade social, providenciando
recursos para manter, ao menos, o seu mínimo
existencial e, por conseguinte, a dignidade humana,

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instituindo um eficaz sistema de proteção social.
Eventos como desemprego, a velhice, a infância, a
doença, a maternidade e a invalidez poderão impedir
temporária ou definitivamente que as pessoas
laborem para angariar recursos financeiros visando
atender às suas necessidades básicas e de seus
dependentes, sendo dever do Estado Social de Direito
intervir quando se fizer necessário.

Castro e Lazzari (2013, p. 3-27) atentam que:

O Estado Contemporâneo possui, entre suas funções,


a proteção social dos indivíduos em relação a eventos
que lhes possam causar a dificuldade ou mesmo a
impossibilidade de subsistência por conta própria,
pela atividade laborativa. Tal proteção, que tem
formação embrionária do Estado Moderno, encontra-
se consolidada nas políticas de Seguridade Social,
dentre as quais se destaca, a Previdência Social. A
Previdência Social é, portanto, o ramo da atuação
estatal que visa à proteção de todo indivíduo ocupado
numa atividade laborativa remunerada, para
proteção dos riscos decorrentes da perda ou redução,
permanente ou temporária, das condições de obter
seu próprio sustento. Eis a razão pela qual se dá o
nome de seguro social ao vínculo estabelecido entre
o segurado da Previdência e o ente segurador estatal.

Portanto, com base nas variações das definições conceituais, tem-se que uma
das funções, tanto da Seguridade Social, quanto da Previdência, é garantir
seguridade de renda frente a riscos sociais que impeçam, de forma temporária
ou definitiva, que os trabalhadores ou cidadãos tenham recursos suficientes
para garantir o mínimo necessário para sua sobrevivência e de sua família. Ter
clareza dessa função essencial é fundamental para a gestão da política pública.

A Previdência pode ser entendida como uma poupança necessária para enfrentar
situações como, por exemplo, a idade avançada, que compromete a capacidade de
gerar renda e exige poupança para garantir a seguridade de renda e a sobrevivência
digna. Diante disso, a Previdência é fundamental para evitar situações de pobreza,
em especial, entre a população idosa.

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A função de garantir renda em situações de incapacidade temporária ou
permanente para o trabalho está relacionada, tradicionalmente, à idade avançada
(as aposentadorias por idade, por exemplo); mas tem-se ainda benefícios devido à
doença ou invalidez que geram incapacidade.

Em geral, a literatura enfatiza que, entre as funções da Previdência, estão a suavização


do consumo ao longo do ciclo de vida e a prevenção da pobreza - dois objetivos
fundamentais dos Sistemas Previdenciários (Nistico, 2019). E ainda, os Sistemas
de Previdência envolvem volume relevante de recursos e transferências de renda
pública, sendo elementos importantes na distribuição de renda de uma sociedade
ou mesmo entre diferentes gerações.

Por essas características, o debate sobre os Sistemas Previdenciários deve considerar


suas repercussões fiscais e distributivas.

Os planos de previdência obrigatórios


representam uma resposta eficiente ao
risco de comportamento míope que
poderia levar os indivíduos a pouparem
pouco ou de forma insuficiente para a
velhice ou para se prevenir de riscos
sociais. Além disso, mesmo os indivíduos
que olham para o futuro podem
enfrentar dificuldades em desenhar um
plano de poupança eficiente para a
aposentadoria, até mesmo pela incerteza
em relação ao futuro ou sobre a
expectativa de sobrevida.

Os trabalhadores ou as famílias de baixa renda também podem ter dificuldade


de poupar para a velhice, para a incapacidade ou o desemprego, em um contexto
onde as famílias estão se tornando menores. Tais pontos exigem a necessidade de
atuação do Estado no campo previdenciário.

Outro ponto também a ser destacado é que os Sistemas de Seguridade e Previdência


Social são fundamentais para garantir a coesão social, a redução das desigualdades
e a luta contra a pobreza. Por exemplo, na crise gerada pela pandemia do novo
Coronavírus, em especial, no período 2020-2021, os graves efeitos sociais e econômicos
teriam sido ainda piores sem as políticas de Seguridade e Previdência Social.

Uma importante lição da pandemia foi justamente demonstrar a importância


de contar com esses sistemas sólidos e robustos, que pudessem mitigar

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significativamente impactos de crises como aquela gerada pelo novo Coronavírus.
A ausência de sistemas de proteção social sólidos acaba por tornar os países mais
vulneráveis a crises como a gerada pela pandemia, bem como possibilitam maior
resiliência e recuperação mais rápida frente aos riscos sociais.

Embora a Previdência seja tradicionalmente considerada o pilar contributivo da


Seguridade Social, na prática, é comum, na experiência internacional, a combinação
de sistemas de proteção social contributivos e não contributivos, inclusive, porque
uma parcela da população tem pouca ou limitada capacidade contributiva, além
da questão da elevada informalidade que caracteriza o mercado de trabalho
e a região da América Latina e do Caribe. Em 2020, em 67 países, o sistema de
proteção social da população idosa se dava exclusivamente pela lógica de Seguro
Social (contributivo), mas 72 países combinavam essa estratégia com esquemas
de proteção não contributivos (ILO, 2021). Do ponto de vista do financiamento
distributivo, é fundamental que as contribuições sejam estimadas para garantir
o financiamento, sendo distribuídas de acordo com a capacidade contributiva
individual ou das famílias.

Sobre a forma de organização dos Sistemas Previdenciários também é possível


analisar duas dimensões fundamentais, quais sejam:

1) Financiamento via sistemas de repartição/pay-as-you-go ou por


sistemas de capitalização;

2) Pela fórmula de cálculo do benefício, os sistemas podem ser de


benefício definido ou contribuição definida.

No quadro a seguir, tem-se uma amostra de como se dá a forma de pagamento em


cada um dos cenários:

Repartição PAY-AS-YOU-GO Sistema de Capitalização


O financiamento ocorre por meio
Os benefícios são pagos com as de uma poupança prévia, que
contribuições dos trabalhadores pode ser coletiva ou individual,
da ativa ou da sociedade em e o valor dos benefícios é
geral, sem acumulação prévia. baseado no saldo acumulado ao
longo da vida profissional.
Fonte: Produção autoral (2023).

Dentro desses sistemas, têm-se dois tipos de planos, a saber: 1) Benefício Definido,
em que o valor do benefício é estabelecido na contratação do plano e segue uma
fórmula predefinida; e, 2) Contribuição Definida, em que o valor do benefício
depende do saldo das contribuições acumuladas ao longo do tempo, considerando
a rentabilidade.

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O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é um exemplo de sistema de repartição
com benefício definido. Além disso, têm-se os sistemas de contas nocionais, que
funcionam como repartição, mas possuem contas individuais “capitalizadas” de
forma escritural.

Ao projetar um Sistema Previdenciário, é essencial considerar vários aspectos, tais


como: sustentabilidade fiscal a longo prazo; ampla cobertura previdenciária; e,
garantia de prestações adequadas, a fim de proporcionar qualidade de vida àqueles
que perdem a capacidade de gerar renda e sustento para si e suas famílias.

Os Sistemas Previdenciários estão relacionados às diversas dimensões sociais,


econômicas, demográficas, de mercado de trabalho, finanças públicas e políticas. É
fundamental que a Previdência se adapte a esses fatores em constante mudança.
Os Regimes de Previdência fazem parte de um pacto social, onde os cidadãos
concordam com o tipo de contribuição e o Estado se compromete a garantir as
promessas, assegurando a sustentabilidade do sistema para as futuras gerações.

A Previdência Social, no Brasil, está organizada em três Regimes, quais sejam: 1)


RGPS; 2) Regimes Próprios de Previdência dos Servidores Públicos (RPPS); e,
3) Regime de Previdência Complementar. Os dois primeiros são públicos e
compulsórios, enquanto o de Previdência Complementar é facultativo e privado. O
RGPS é voltado para trabalhadores do setor privado e servidores públicos em entes
que não possuem RPPS. Já os demais servidores são vinculados ao RPPS.

No quadro a seguir, tem-se a organização da Previdência em seus respectivos


Regimes.

RGPS RPS RPC

Trabalhadores do
setor privado e Todos os
Segurados Servidores públicos
servidores públicos trabalhadores
vinculados
Filiação Compulsório Compulsório Facultativo

Natureza Sistema público Sistema público Sistema privado


Entidades privadas
Entes federativos
de Previdência
INSS (benefícios) e (União, Estados,
Gestão Complementar
RFB (arrecadação) Distrito Federal
(fechadas ou
e Municípios)
abertas)

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RGPS RPS RPC

Benefícios podem
Benefícios Benefícios
Proteção ou não ser
limitados ao teto complementares
limitados ao teto
Fundamento
Art. 201 da CF Art. 40 da CF Art. 202 da CF
constitucional
Leis
Fundamento Leis n°s 8.212 Lei n° 9.717/1998 e
Complementares
legal e 8.213/1991 leis de cada ente
n° 108 e 109/2001

Fonte: Produção autoral (2023).

Tópico 1.2: Princípios e fundamentos do Regime


Geral de Previdência Social

O art. 201 da CF de 1988 estabeleceu as diretrizes e riscos sociais para os quais o


RGPS deve garantir proteção. Conforme ali estabelecido, a Previdência Social deveria
ser organizada sob a forma do Regime Geral, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados os critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
Portanto, fica estabelecido que a proteção é condicionada à contribuição. Assim, o
Regime Geral deve garantir cobertura ou proteção de:

Cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou


permanente para o trabalho e idade avançada;

Proteção à maternidade, especialmente à gestante;

Proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;

Salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos


segurados de baixa renda;

Pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou


companheiro e dependentes.

Portanto, deveria ficar claro que, por determinação constitucional, o RGPS deve
garantir proteção social contra incapacidade temporária ou permanente para o
trabalho, inclusive, por idade avançada, maternidade, desemprego e dependentes do
trabalhador segurado. Essas são as principais funções de um Sistema Previdenciário:
garantir um seguro social para os trabalhadores frente aos riscos que os impeçam
de trabalhar e gerar renda.

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Em relação à evolução do Sistema de Proteção Previdenciária no Brasil, vale destacar
importantes momentos desde a década de 1960, quando do processo de unificação
dos Institutos de Aposentadoria e Pensão e o surgimento da Lei Orgânica da
Previdência Social. Na década de 1970, houve a necessária expansão da Previdência
para trabalhadores rurais, autônomos e domésticos. Entre as principais mudanças
legislativas do Sistema Previdenciário brasileiro, cabe citar a promulgação da Carta
Magna de 1988, bem como as principais Reformas nos anos de 1998, 2003 e 2019.
Em especial, a Reforma de 2019 será vista em detalhes em relação às mudanças
implementadas pela EC n. 103/2019, no módulo 3. Foi a mais ampla Reforma desde
a CF de 1988.

Fonte: Banco Mundial, 2022

Na história do Sistema Previdenciário brasileiro, o Decreto n. 4.682, de 24 de


janeiro de 1923, conhecido como Lei Elói Chaves, foi o ponto de partida. Tal ditame
criou as Caixas de Aposentadorias e Pensões para os funcionários das empresas
ferroviárias, oferecendo benefícios como aposentadoria por invalidez, pensão por
morte e assistência médica, financiados por contribuições do Estado, empregadores
e trabalhadores.

Em 1956, o Projeto de Lei (PL) n. 2.119 foi criado para dar estrutura administrativa à
Previdência Social. Por conseguinte, sofreu modificações quando de sua aprovação

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no Congresso Nacional (CN), resultando na Lei n. 3.807, de 26 de agosto de 1960,
também denominada Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que unificou os
Regimes de Aposentadoria e Institutos Previdenciários, que até então possuíam
regras próprias.

A CF de 1988 introduziu o conceito de Seguridade Social, que abrange a Previdência,


a Assistência Social e a Saúde. Ela definiu que os poderes públicos têm a
responsabilidade de organizar a Seguridade Social, garantindo a universalização da
cobertura e assistência, a irredutibilidade dos benefícios, a diversidade da base de
financiamento e a participação da comunidade.

Em relação às mudanças ao longo do tempo, a EC n. 20, de 15 de dezembro de


1998, introduziu uma idade mínima para a aposentadoria dos servidores públicos,
enquanto a EC n. 41, de 19 de dezembro de 2003, trouxe algumas alterações ao
RGPS, como, por exemplo, a inclusão previdenciária para trabalhadores de baixa
renda e algumas mudanças na pensão por morte.

Outras mudanças significativas se deram na Lei n. 13.135, de 17 de junho de 2015,


que alterou regras de pensão por morte, e na Lei n. 13.183, de 4 de novembro de
2015, que flexibilizou a aplicação do fator previdenciário através da regra 85/95
progressiva.

Por fim, a EC n. 103/2019 trouxe importantes alterações nas regras de acesso e


cálculo dos benefícios do RGPS, incluindo o fim gradual da aposentadoria por tempo
de contribuição.

A regulamentação da EC n. 103/2019, no âmbito do RGPS, se deu pelo Decreto n.


10.410, de 30 de junho de 2020.

Para melhorar seu entendimento, na tabela a seguir, têm-se os principais marcos


legislativos do RGPS.

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Tabela – Principais marcos legislativos do Regime Geral de Previdência Social

Marco Legislativo Pontos de Destaque


1923 - Decreto n. 4.682, de 24 Tradicionalmente definido como início
de janeiro (Lei Elói Chaves). da Previdência Social no Brasil.
1960 – Lei n. 3.807, de
Lei Orgânica da Previdência Social.
26 de agosto.
Norma reguladora do trabalho rural,
1973 – Lei n. 5.889, de 8 de junho.
inclusive, de questões previdenciárias.
Originalmente, o regramento do
RGPS se deu nos arts. 201 e 202.
1988 - Constituição da República
Atualmente está nos arts. 201 e 202,
Federativa do Brasil.
que trata do RPC. Ampliação dos
direitos dos trabalhadores rurais.
Plano de Custeio e de Benefícios do RGPS
1991 – Leis n.s 8.212 e
– regulamentação do RGPS posterior
8.213, de 24 de julho.
à Constituição Federal de 1988
1998 – Emenda Constitucional Desconstitucionalização da regra de
n. 20, de 15 de dezembro. cálculo da aposentadoria do RGPS.
1999 – Decreto n. 3.408,
Regulamento da Previdência Social.
de 6 de maio.
Introdução do fator previdenciário, que
1999 – Lei n. 9.876, de buscava o equilíbrio atuarial fluxo esperado
26 de novembro. de pagamentos das aposentadorias
com o valor das contribuições.
Alterou as regras dos RPPS – elevou teto
do RGPS e gerou previsão, por Lei, de
2003 – Emenda Constitucional
sistema especial de inclusão previdenciária
n. 41, de 19 de dezembro.
para trabalhadores de baixa renda com
benefício vinculado ao salário-mínimo.
Alterou os arts. 37, 40, 195 e 201
2005 – Emenda Constitucional da Constituição Federal de 1988.
n. 47, de 5 de julho. Estabeleceu o direito à aposentadoria
especial para pessoas com deficiência.
2008 – Lei n. 11.718,
Alterações na previdência rural do RGPS.
de 20 de junho.
2015 – Lei n. 13.135, de 17
Alterações em regras infraconstitucionais
de junho; conversão da
do RGPS, em especial, nas regras
Medida Provisória n. 664, de
da pensão por morte.
30 dezembro de 2014.

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Marco Legislativo Pontos de Destaque
Flexibilização da aplicação do fator
2015 – Lei n. 13.183, de
previdenciário, pela chamada
4 de novembro.
regra 85/95 progressiva.
Importantes alterações nas regras
de acesso e cálculo dos benefícios do
2019 – Emenda Constitucional
RGPS. Fim, com regras de transição, da
n. 103, de 12 novembro.
aposentadoria por tempo de contribuição
sem idade mínima, existente desde 1962.
Regulamentação/atualização de
2020 – Decreto n. 10.410, vários atos legais, em especial,
de 30 de junho. da Emenda Constitucional n. 103,
de 12 de novembro de 2019.

Referências

AMADO, Frederico. Direito e Processo Previdenciário Sistematizado. 2012. 3ª Edição.


Editora Juspodium.

Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento / Banco Mundial 2022.


Proteção Social para o Brasil do Futuro – Enfrentar Mudanças com Inclusão e
Resiliência.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm - acesso em
30/04/2023.

BRASIL. Decreto 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm - acesso em 30/04/2023.

BRASIL. Decreto 10.410, de 30 de junho de 2020. Disponível em http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/d10410.htm - acesso em 30/04/2023.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 41, de 19 de dezembro de 2003. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc20.htm -
acesso em 30/04/2023.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 47, de 5 de julho de 2005. Disponível em: https://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc47.htm - acesso em
30/04/2023. - acesso em 14/05/2023.
BRASIL. Emenda Constitucional n. 103, de 12 novembro de 2019. Disponível em

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BRASIL. Lei 3.807, de 26 de agosto de 1960. Disponível em https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/1950-1969/L3807.htm - acesso em 30/04/2023.
BRASIL. Lei 5.889, de 8 de junho de 1973. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
l5889.htm - acesso em 30/04/2023.
BRASIL. Lei 8.212, de 24 de julho de 1991. Disponível em https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm - acesso em 30/04/2023.
BRASIL. Lei 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em https://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm - acesso em 30/04/2023.
BRASIL. Lei 11.718, de 20 de junho de 2008. Disponível em https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11718.htm - acesso em 30/04/2023.
BRASIL. Lei 13.135, de 17 de junho de 2015. Disponível em https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13135.htm - acesso em 30/04/2023.
BRASIL. Lei 13.183, de 4 de novembro de 2015. Disponível em https://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13183.htm - acesso em 30/04/2023.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira e LAZZARI, João Batista. 2013. Manual de Direito
Previdenciário. 15ª Edição. Editora Forense. Rio de Janeiro.
CEPAL (Comissão Econômica para América Latina). 2016. Los sistemas de pensiones
en América Latina Institucionalidad, gasto público y sostenibilidad financiera en
tiempos del COVID-19. Autor: Alberto Arenas de Mesa.
COSTANZI, Rogério Nagamine; FERNANDES, Alexandre Zioli e ANSILIERO, Graziela.
O Princípio Constitucional de Equilíbrio Financeiro e Atuarial no Regime Geral de
Previdência Social: Tendências Recentes e o Caso da Regra 85/95 Progressiva,. Texto
para Discussão do IPEA n. 2.395 de julho de 2018.
COSTANZI, Rogério Nagamine e SIDONE, Otávio. Março de 2019. Reforma da
Previdência. Contas Nocionais. Texto para Discussão do IPEA n. 53. DISOC/IPEA.
IBRAHIM, Fábio Zambite. Resumo de Direito Previdenciário. 13ª Edição. Rio de
Janeiro: Editora Impetus, 2014.
Nistico, Sergio. Essentials of Pension Economics. 2019. Palgrave. Macmillan.
World Social Protection Report 2020–22: Social protection at the crossroads – in
pursuit of a better future International Labour Office – Geneva: ILO, 2021.

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Módulo

2 Características do Regime Geral


de Previdência Social
Unidade 1 – Conhecendo as principais
características do Regime Geral de Previdência
Social

Listar as características e importância do Regime Geral de


Previdência Social.

O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é aquele que atende a maior parte
dos segurados e beneficiários da Previdência no Brasil. Como citado, anteriormente,
o RGPS garante a cobertura contra eventos de incapacidade temporária ou
permanente para o trabalho e idade avançada, proteção à maternidade e ao
trabalhador em situação de desemprego involuntário, salário-família e auxílio-
reclusão para os dependentes dos segurados de baixa renda e pensão por morte
ao cônjuge ou companheiro e dependentes.

Tópico 2.1 Principais características do Regime


Geral de Previdência Social

Vídeo 1 – Conhecendo o Regime Geral de Previdência Social

O RGPS, conforme previsto no art. 201 da Constituição Federal (CF) de 1988, é


obrigatório e contributivo, organizado de forma pública. Suas contribuições visam
garantir o equilíbrio financeiro e atuarial, sendo necessário contribuir para ter direito
aos benefícios previdenciários. A relação entre as contribuições e os benefícios leva
em conta aspectos financeiros e atuariais.

Basicamente, o valor dos benefícios no RGPS reflete as contribuições realizadas.


No entanto, existem planos de custeio/benefícios com subsídios para grupos

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específicos, justificados por questões sociais, como será visto no módulo 4. Trata-se
de um Regime complexo, com grande impacto social e fiscal.

O RGPS é um Regime de repartição, onde as contribuições dos trabalhadores ativos


são usadas para pagar os benefícios dos aposentados e pensionistas. É como se
houvesse uma “poupança forçada” dos trabalhadores para sustentar os inativos,
tornando a Previdência um contrato social entre gerações, permitindo a distribuição
de renda tanto dentro de uma mesma geração quanto entre gerações diferentes.

Os segurados do RGPS são divididos em várias categorias, tais como: empregados,


avulsos, trabalhadores domésticos, contribuintes individuais, segurados especiais
(rurais) e facultativos. Cada tipo de segurado tem regras distintas de contribuição
e de elegibilidade para aposentadoria. Por exemplo, após a Emenda Constitucional
(EC) n. 103, de 12 de novembro de 2019, a idade mínima para aposentadoria dos
segurados urbanos passou a ser de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres,
enquanto para os trabalhadores rurais não houve alteração, permanecendo em 60
anos para homens e 55 anos para mulheres. Os segurados facultativos não são
obrigados a contribuir e incluem donas de casa, desempregados e estudantes que
desejam contribuir para a Previdência.

Categoria de Segurados
Obrigatórios:

• Empregados: Urbanos e Rurais;

• Trabalhadores Avulsos (Ex. Portuários);

• Contribuintes Individuais (urbanos/rurais):


- Conta-própria
- Empresário

• Empregados domésticos;

• Segurados Especiais (pequenos produtores rurais).

Facultativos:

• São segurados facultativos da Previdência Social, as pessoas, com 16


anos ou mais de idade, que voluntariamente se filiarem ao RGPS.
Exemplo: donas de casa; estudantes; desempregados; presidiários não
remunerados.

Fonte: Produção autoral (2023).

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A definição legal dos segurados do (RGPS) é regulamentada principalmente pelas
Leis nº 8.212, de 24 de julho de 1991 e nº 8.213, de 24 de julho de 1991. A regra geral
para acesso à aposentadoria é de 65 anos para homens e 62 anos para mulheres,
compulsória ou obrigatória para os filiados após a EC n. 103/2019. No entanto,
existem exceções para aqueles filiados antes da reforma, com regras de transição
explicadas no módulo 3.

Além disso, a CF de 1988 garante aposentadoria aos trabalhadores rurais e àqueles


que exercem atividades em economia familiar aos 60 anos (homens) e 55 anos
(mulheres), incluindo produtores rurais, garimpeiros e pescadores artesanais.

Professores que comprovem tempo de efetivo exercício na Educação Infantil e Ensinos


Fundamental e Médio têm uma redução de 5 anos na idade de aposentadoria. Neste
caso, a aposentadoria se dá aos 60 anos para homens e 57 anos para mulheres.

Em geral, a legislação proíbe a adoção de requisitos ou critérios diferentes para


benefícios, mas há exceções para segurados com deficiência ou que exercem
atividades com exposição a agentes prejudiciais à saúde. As exceções mencionadas
anteriormente para trabalhadores rurais e professores também se aplicam.

Os segurados empregados são aqueles que prestam serviços urbanos ou rurais


às empresas, sob subordinação e com remuneração. Empregados domésticos são
aqueles que trabalham continuamente em atividades sem fins lucrativos para uma
pessoa ou família, em ambiente residencial.

Os contribuintes individuais englobam empresários e prestadores de serviços


urbanos ou rurais, sem vínculo de emprego, e pessoas físicas que exercem atividade
econômica urbana, lucrativa ou não. Já os segurados especiais são aqueles que
residem em imóvel rural ou aglomerado urbano ou rural próximo, individualmente
ou em economia familiar, que exerçam atividades agropecuárias em até quatro
módulos fiscais, sejam seringueiros, extrativistas vegetais ou pescadores artesanais.
Membros do grupo familiar que trabalham com o grupo também são considerados
segurados especiais.

O RGPS também possui uma ampla gama de benefícios. Antes da EC n. 103/2019,


dez benefícios poderiam ser identificados no âmbito de tal Regime, quais sejam:

• Aposentadoria por idade;

• Aposentadoria por invalidez;

• Aposentadoria por tempo de contribuição;

• Auxílio-doença;

• Auxílio-acidente;

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• Salário-maternidade;

• Salário-família;

• Pensão por morte; e

• Auxílio-reclusão.

A EC n. 103/2019 acabou, de forma compulsória, com a aposentadoria por tempo de


contribuição, para os novos filiados. Já para aqueles filiados antes da Reforma, foram
criadas regras de transição que serão mais bem analisadas o próximo módulo.

No quadro a seguir, têm-se os Benefícios do –RGPS.

BENEFÍCIOS DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL

APOSENTADORIA POR IDADE AUXÍLIO-ACIDENTE

APOSENTADORIA POR INVALIDEZ SALÁRIO-MATERNIDADE

APOSENTADORIA POR TEMPO


SALÁRIO-FAMÍLIA
DE CONTRIBUIÇÃO

APOSENTADORIA ESPECIAL AUXÍLIO-RECLUSÃO

AUXÍLIO-DOENÇA PENSÃO POR MORTE

Fonte: Produção autoral (2023).

De modo geral, têm-se critérios de elegibilidade para a concessão de tais benefícios.


No caso das aposentadorias programadas, têm-se critérios de idade mínima, que
não existem para benefícios que não são programados ou chamados de risco, como,
por exemplo, aposentadoria por invalidez ou incapacidade permanente, auxílio-
doença ou por incapacidade temporária e pensão por morte.

Além de critérios de idade, têm-se ainda condições em termos de tempo de


contribuição e qualidade de segurado. Normalmente, existe o que é chamado de
carência, que é o período mínimo de contribuições pagas ao Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS) para que o segurado ou seus dependentes tenham direito a
receber um benefício do RGPS.

A carência tem base na Lei n. 8.213/1991, que estabelece que a concessão das
prestações pecuniárias do RGPS depende dos períodos de carência concernentes.
A título de exemplo, há exigência de 12 contribuições mensais para os benefícios
de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez e 24 contribuições mensais para o

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auxílio-reclusão. Contudo, existem alguns casos onde não há exigência de carência,
mesmo em meio à demanda que se tenha a qualidade de segurado, como no caso do
auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez nos casos de acidente de qualquer
natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos
do segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das doenças e
afecções especificadas em lista elaborada pelas pastas da Saúde e da Previdência
Social e salário-maternidade para as seguradas empregadas, trabalhadoras avulsas
e empregadas domésticas.

Tópico 2.2 Evolução e Importância do RGPS

Podcast 1 – Mudanças nas Regras Previdenciárias do Brasil

O RGPS é aquele regime com maior volume de contribuintes e beneficiários dos


três Regimes previdenciários brasileiros. Em dezembro de 2022, contabilizava um
estoque de 32,4 milhões de benefícios – aposentadorias (22,4 milhões) e pensões
por morte (8,3 milhões).

Entre dezembro de 2002 e dezembro de 2022, o estoque de benefícios do RGPS


cresceu de 18,9 milhões para 32,4 milhões (alta de 2,7% a.a.). No ano de 2021,
considerando aqueles trabalhadores com pelo menos uma contribuição no ano,
o RGPS contabilizou 69,3 milhões de indivíduos. Tais cifras evidenciam a grande
importância social do RGPS.

Com o processo de envelhecimento populacional, cujo indicador mais tradicional


é a participação dos idosos na população total, além da razão de dependência
demográfica, a tendência é o contínuo incremento do estoque benefícios do RGPS,
como aposentadorias, não apenas em termos absolutos, mas também em termos
relativos ou como percentual da população brasileira – processo que vem ocorrendo
e deve continuar. Tal aspecto demanda, sem dúvida, planejamento de médio e longo
prazo das políticas públicas de Seguridade e Previdência Social.

Para melhor compreensão do crescimento do estoque de benefícios do RGPS nos


últimos anos, no quadro a seguir tem-se um comparativo desse estoque entre os
meses de dezembro de 2002 e dezembro de 2022.

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Estoque de Benefícios do Regime Geral de Previdência Social – período dezembro
de 2002 e dezembro de 2022.

Variação
Acumulada Variação
Estoque em Estoque em
Grupo de em % e Acumulada
Dezembro Dezembro
Benefícios Média do Estoque e
de 2002 de 2022
Anual em Média Anual
%a.a.
13.540.261
+ 71,7%
Total RGPS 18.872.666 32.412.927 (média anual
(+2,7%a.a.)
de 677 mil)
10.506.152
+ 88,2%
1. Aposentadorias 11.910.556 22.416.708 (média anual
(+3,2%a.a.)
de 525 mil)
6.147.611
+ 103,5%
1.1. Idade 5.940.291 12.087.902 (média anual
(+3,6%a.a.)
de 307 mil)
997.002
+ 40,4%
1.2 Invalidez 2.470.674 3.467.676 (média anual
(+1,7%a.a.)
de 49,8 mil)
3.361.539
1.3 Tempo de + 96,1%
3.499.591 6.861.130 (média anual
Contribuição (+3,4%a.a.)
de 168 mil)
2.805.826
2 Pensão + 51,1%
5.485.800 8.291.626 (média anual
por Morte (+2,1%a.a.)
de 140 mil)
233.062
+27,4%
3 Auxílio- Doença 849.074 1.082.136 (média anual de
(+1,2%a.a.)
cerca 12 mil)
- 4.779
- 0,8 %
4 Outros 627.236 622.457 (média anual
(0,0%a.a.)
de - 239)
Fonte: Elaboração do autor a partir do Anuário da Previdência – Suplemento
Histórico e Boletim Estatístico da Previdência Social de dezembro de 2022.

O fato de o RGPS englobar um volume muito significativo de contribuintes e


beneficiários, inclusive, de parcela relevante da sociedade brasileira, acaba
implicando que o referido Regime também é muito relevante tanto para a política
social como para a fiscal.

A despesa do RGPS, em % do Produto Interno Bruto (PIB), no período 2016-2022,


tem permanecido no patamar de 8% do PIB.

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Ao tomar como base o ano de 2022, a despesa do RGPS alcançou a cifra de R$ 797
bilhões, considerando o pagamento dos benefícios previdenciários via INSS, bem
como gastos com sentenças judiciais (precatórios e requisições de pequeno valor) e
com a compensação do RGPS com Regimes Próprios de Previdência de Servidores
Públicos, chamado de COMPREV. Trata-se de um importante componente da
despesa primária do Governo Central, tendo representado 44,2% de todo dispêndio
primário da União.

Um modo de compreender essa crescente de Despesas do RGPS em % do PIB, é


através do Gráfico 1, a seguir.

Despesa do Regime Geral de Previdência Social em % do Produto Interno Bruto


– período 1997-2022.

Fonte: Elaboração a partir de dados do Tesouro Nacional e do Ministério da Previdência

A despesa do RGPS também representa uma parcela relevante do gasto primário


ou não financeiro da União. Desde 2016 ou no período 2016-2022, exceto o ano
de 2020, em função do pagamento do auxílio emergencial durante a pandemia do
novo Coronavírus, a participação do Regime em questão na despesa primária ou
não financeira do governo central tem se situado acima do patamar de 40% do total.
Nos anos de 2021 e 2022, por exemplo, tal participação ficou no patamar de 44%,
conforme evidenciado no Gráfico 2, a seguir.

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Participação do Regime Geral da Previdência Social na Despesa Primária do
Governo Central em % do total – período 1997-2022.

Fonte: elaboração a partir de dados do Ministério da Fazenda

As normas relativas ao valor dos benefícios no RGPS são fundamentais e refletem as


contribuições realizadas pelos segurados. Vale destacar que, por questões de justiça
atuarial, os benefícios devem corresponder às contribuições feitas, embora existam
subsídios para grupos específicos. Em relação ao valor mínimo dos benefícios, a CF
de 1988 garante que nenhum deles poderá ser inferior ao salário-mínimo, tanto para
os benefícios contributivos como para os não contributivos. E ainda, o valor máximo
dos benefícios também é regulado pelo RGPS, sendo denominado “teto”. Em 2023, o
teto foi estabelecido em R$7.507,49 (sete mil e quinhentos e sete reais e quarenta e
nove centavos) – o que significa que a maioria dos benefícios não pode ultrapassar
esse valor, que é utilizado como referência para a contribuição do segurado.

Para preservar o poder de compra dos benefícios ao longo do tempo, a Carta


Magna assegura o reajuste anual dos valores. A Lei nº 8.213/1991 determina que
o reajuste se dará na mesma data do reajuste do salário-mínimo, tendo por base o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) apurado pelo Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Tal reajuste garante que o valor real dos benefícios
seja mantido, especialmente considerando que alguns benefícios podem ser pagos
por longos períodos.

Outro ponto relevante é a estrutura de financiamento do RGPS, definida no art. 195


da CF de 1988 – fundamental para a sustentabilidade da Seguridade e Previdência
Social, garantindo recursos para o pagamento dos benefícios aos segurados.

Conforme estabelecido no artigo supracitado, a Seguridade Social deve ser


financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da Lei,
mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios. Nesse viés, a Carta Magna estabeleceu a vinculação das

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 25


seguintes contribuições sociais para o Sistema de Seguridade Social, inclusive, para
a Previdência:

I - Do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da Lei,


incidentes sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos
ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo
sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; e, c) o lucro.

II - Do trabalhador e dos demais segurados da Previdência Social, podendo ser


adotadas alíquotas progressivas de acordo com o valor do salário de contribuição,
não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo RGPS.

III – Sobre a receita de concursos de prognósticos.

IV - Do importador de bens ou serviços do exterior, ou de quem a Lei a ele


equiparar.

A Seguridade e a Previdência Social possuem diversas fontes de financiamento, que


abrangem recursos provenientes de folha de salários, faturamento, lucros, rendimento
do trabalho, entre outros. Parte das regras dessas fontes de financiamento está na
Lei n. 8.212/1991, que trata do plano de custeio da Previdência Social. Além disso, a
CF de 1988 estabelece que a pessoa jurídica em débito com a Seguridade Social não
poderá contratar com o Poder Público, tampouco receber benefícios ou incentivos
fiscais ou creditícios.

Um princípio importante na Carta Magna é que nenhum benefício ou serviço da


Seguridade Social pode ser criado, ampliado ou estendido sem uma fonte de
custeio correspondente. Outra particularidade é a contribuição diferenciada para
os trabalhadores rurais. O art. 195 da CF de 1988 estabelece que produtores
rurais, parceiros, meeiro, arrendatário rurais e pescadores artesanais, bem como
seus cônjuges, que exerçam suas atividades em regime de economia familiar,
contribuirão para a Seguridade Social com uma alíquota aplicada sobre o resultado
da comercialização da produção. Tem-se ainda a possibilidade de alíquotas de
contribuição diferentes conforme a atividade econômica, o uso de mão de obra, o
porte da empresa ou a condição do mercado de trabalho.

A Reforma de 2019, via EC n. 103/2019, alterou as alíquotas de contribuição para


segurados empregados, incluindo trabalhadores domésticos e trabalhadores
avulsos, estabelecendo alíquotas progressivas de 7,5%, 9%, 12% e 14%. A alíquota

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 26


de 7,5% é aplicada para salários até um salário-mínimo. As faixas de contribuição
são reajustadas na mesma data e índice do reajuste dos benefícios do RGPS. Por
exemplo, em janeiro de 2023, as alíquotas de contribuição ficaram estabelecidas
da seguinte forma para segurados empregados, empregados domésticos e
trabalhadores avulsos:

Salário de contribuição Alíquota

até R$ 1.302,00 7,50%

R$ 1.302,00 até R$ 2.571,29 9%

R$ 2.571,29 até R$ 3.856,94 12%

R$ 3.856,94 até R$ 7.507,49 14%

Contudo, as regras de contribuição são bastante variadas entre os diferentes tipos de


segurados e mesmo entre distintas empresas e empregados. De modo geral ou até
mesmo tradicional, a contribuição a cargo da empresa foi estabelecida em 20% sobre
o total das remunerações pagas, devidas ou creditadas a qualquer título, durante o
mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços.

Apesar dessa regra geral, têm-se várias exceções, como as micro e pequenas
empresas que pertencem ao SIMPLES Nacional, que pagam uma alíquota de
contribuição sobre o faturamento, e mesmo outras empresas que não pertencem
ao SIMPLES, mas podem pagar pelo faturamento em função da chamada política
de desoneração da folha de salários. A justificativa tradicional dessas iniciativas é
alterar a base tributária da folha de salários para o faturamento com o tradicional
argumento de estimular a geração de empregos formais. Tais iniciativas também
afetam a contribuição previdenciária daqueles setores com faturamento elevado e
baixa folha de salários.

O debate sobre a melhor forma de financiamento da Previdência Social é muito


importante, pois acarreta impactos econômicos relevantes. O início da chamada
desoneração da folha de salários se deu legalmente em 2011, e ainda continua
vigente em 2023, em que pese grande debate sobre seus custos e benefícios. De
qualquer forma, o debate sobre o financiamento também precisa levar em conta
a magnitude da despesa obrigatória que será objeto do custeio, além de desenhar
as regras levando em consideração as características e a capacidade contributiva
de cada segurado. Por essa razão, as alíquotas são progressivas, aumentando à
medida que cresce o nível de renda, bem como há adaptações, como, por exemplo,
a incidência sobre a comercialização da produção para os produtores rurais.

Sobre os empregadores, não vinculados ao SIMPLES, também há contribuição para


o financiamento da aposentadoria especial e dos benefícios concedidos em razão

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 27


do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais
do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, aos segurados
empregados e trabalhadores avulsos que varia de 1% a 3% sobre a folha de salários,
dependendo do grau de risco da atividade preponderante da empresa. Entretanto,
a regra é ainda mais complexa, tendo em vista que a alíquota de 1% a 3% pode ser
reduzida pela metade ou majorada para o dobro devido ao Fator Acidentário de
Prevenção (FAP), cuja aplicação se dá a nível de estabelecimento. O objetivo do FAP
é estimular a prevenção de acidentes de trabalho, na medida em que as empresas
que registrarem maior número de acidentes ou doenças ocupacionais pagam
mais. Por outro lado, o FAP aumenta a bonificação das empresas que registram
acidentalidade menor.

O FAP foi instituído legalmente pela Lei n. 10.666, de 8 de maio de 2003, que
estabeleceu que a alíquota de contribuição de 1 a 3%, destinada ao financiamento
do benefício de aposentadoria especial ou daqueles concedidos em razão do grau
de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do
trabalho, podendo ser reduzida em até 50% ou aumentada em até 100%, em razão
do desempenho da empresa em relação à respectiva atividade econômica, apurado
a partir dos índices de frequência, gravidade e custo.

As alíquotas de contribuição também são diferenciadas para os contribuintes


individuais e segurados facultativos. A regra mais geral ou tradicional que prevaleceu
até 2006, era de uma alíquota de contribuição dos segurados contribuinte individual
e facultativo de 20% sobre o respectivo salário-de-contribuição. Contudo, desde
2006, foram sendo criadas figuras com regras diferenciadas, de tal sorte que
atualmente existe a possibilidade de uma alíquota de 11% do salário-mínimo, para o
plano simplificado, bem como de 5% do salário-mínimo para o Microempreendedor
Individual (MEI) e para o segurado facultativo de baixa renda. Esses novos planos,
diferentemente do plano completo, possuem planos de benefícios diferenciados,
com valor do benefício de salário-mínimo e sem direito a aposentadoria por tempo
de contribuição. O objetivo desses planos seria ampliar a inclusão previdenciária
dos segurados de baixa renda com a redução dos valores de contribuição. Tais
iniciativas de inclusão previdenciária serão discutidas detalhadamente no módulo 4.

A Lei Complementar (LC) n. 101, de 4 de maio de 2000, também conhecida como


Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), estabelece que o anexo de Projeto de Lei de
Diretrizes Orçamentárias (PLDOs) deverá conter a avaliação da situação financeira
e atuarial dos RGPS e próprio dos servidores públicos e do Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT), bem como dos demais fundos públicos e programas estatais de
natureza atuarial.

No anexo do PLDO apresentando em abril de 2022 tem-se a projeção de despesa e


receita do RGPS até o ano de 2060. Com o modelo de projeção fiscal desenvolvido
para o RGPS, no ano de 2022, está disponível, com detalhes da metodologia, projeção

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da despesa do RGPS até o ano de 2100, que permite perceber a tendência de longo
prazo (Informe de Previdência Social de Outubro de 2022). A referida tendência de
longo prazo é influenciada por diversos fatores (demográficos, econômicos e de
mercado de trabalho, por exemplo).

Do ponto de vista institucional, vale destacar que a competência pelo


acompanhamento e formulação das políticas públicas vinculadas ao RGPS, aos
Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) e à Previdência Complementar é de
competência, atualmente, do Ministério da Previdência. A concessão e manutenção
dos benefícios do RGPS é executada pelo INSS, que também é responsável por
alguns serviços como, por exemplo, a reabilitação profissional.

A Lei n. 8.213/1991 também instituiu o Conselho Nacional de Previdência


Social (CNPS), órgão superior de deliberação colegiada, que conta atualmente
com 15 representantes, sendo seis representantes do Governo Federal e nove
representantes da sociedade civil – estes últimos divididos em três representantes
dos aposentados e pensionistas, três representantes dos trabalhadores em atividade
e três representantes dos empregadores, sendo, portanto, quadripartite.

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Entre as atribuições legais do CNPS, podem ser citadas:

• Estabelecer diretrizes gerais e apreciar as decisões de


políticas aplicáveis à Previdência Social;

• Participar, acompanhar e avaliar sistematicamente a


gestão previdenciária;

• Apreciar e aprovar os planos e programas da Previdência


Social;

• Apreciar e aprovar as propostas orçamentárias da


Previdência Social, antes de sua consolidação na proposta
orçamentária da Seguridade Social;

• Acompanhar e apreciar, através de relatórios gerenciais


por ele definidos, a execução dos planos, programas e
orçamentos no âmbito da Previdência Social; e

• Acompanhar a aplicação da legislação pertinente à


Previdência Social e apreciar a prestação de contas anual
a ser remetida ao Tribunal de Contas da União (TCU),
podendo, se necessário, contratar auditoria externa.

Outra importante instituição no âmbito do RGPS é o Conselho de Recursos da


Previdência Social (CRPS), cuja competência é julgar recursos das decisões do INSS
nos processos de interesse dos beneficiários, bem como contestações e recursos
relativos à atribuição do FAP aos estabelecimentos das empresas, recursos das
decisões do INSS relacionados à comprovação de atividade rural de segurado
especial e aqueles relacionados à compensação financeira entre regimes. Esse papel
acaba sendo importante tendo em vista que visa permitir a solução de recursos no
âmbito administrativo sem a judicialização das questões do RGPS. Como será visto
no módulo 4, um importante desafio no âmbito do RGPS é a crescente judicialização.

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Referências

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm - acesso em
30/04/2023.

BRASIL. Decreto 3.048, de 6 de maio de 1999. Disponível em http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/decreto/D3048.htm - acesso em 30/04/2023.

BRASIL. Decreto 10.410, de 30 de junho de 2020. Disponível em http://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/decreto/d10410.htm - acesso em 30/04/2023.

BRASIL. Lei 8.212, de 24 de julho de 1991. Disponível em https://www.planalto.gov.


br/ccivil_03/leis/l8212cons.htm - acesso em 30/04/2023.

BRASIL. Lei 8.213, de 24 de julho de 1991. Disponível em https://www.planalto.gov.


br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm - acesso em 30/04/2023.

BRASIL. Lei Complementar 101, de 4 de maio de 2000. Disponível em https://www.


planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp101.htm - acesso em 07/05/2023.

BRASIL.https://www.gov.br/previdencia/pt-br/assuntos/rpps/legislacao-dos-rpps/
portarias/SEI_30818500_Portaria_Interministerial_26.pdf - acesso em 07/05/2023.

BRASIL. Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias. Disponível em https://www.gov.


br/economia/pt-br/assuntos/planejamento-e-orcamento/orcamento/orcamentos-
anuais/2023/pldo/4.5.Anexo_IV.5___Projecoes_Atuariais_do_RGPS.pdf .

BRASIL. Informe de Previdência Social de Outubro de 2022. Modelo de Projeção


Fiscal do Regime Geral de Previdência Social. Disponível em https://www.gov.
br/previdencia/pt-br/assuntos/previdencia-social/informes-de-previdencia-
social/2022/informe-de-previdencia-outubro-2022.pdf - acesso em 07/05/2023.

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Módulo

3 Mudanças com a Reforma de 2019


e EC 103/2019
Unidade 1 – Conhecendo a Reforma de 2019 e a
EC 103/2019

Reconhecer as mudanças promovidas pela Reforma de 2019 e EC


103/2019 e seus impactos no Regime Geral de Previdência Social.

As regras de acesso e o cálculo do valor dos benefícios, entre outros, foram alteradas
de forma significativa no ano de 2019, devido a ampla reforma da previdência que
ocorreu, em especial, com as mudanças decorrentes da Emenda Constitucional – EC
n.103, de 12 de novembro de 2019. Essa EC foi extremamente ampla e, certamente,
representa a maior alteração da previdência brasileira desde a Constituição de
1.988, tendo como repercussões profundas nas próximas décadas e no futuro do
país como um todo. Ela certamente foi mais ampla que as reformas anteriores,
como a de 1998 (Emenda Constitucional 20/1998), a de 2003 (Emenda Constitucional
41/2003) ou mesmo mudanças infraconstitucionais como a Lei n. 13.135/2015, que
alterou de forma relevante as regras de pensão por morte no âmbito do RGPS.

A EC 103/2019 também trouxe mudanças nos RPPS e na Previdência Complementar.


Dada a abrangência das medidas da EC 103/2019, não será possível, neste módulo,
analisar de forma profunda todas as alterações realizadas pela referida Emenda e seus
impactos. No entanto, será realizada uma análise focada nas principais mudanças
introduzidas no âmbito do RGPS, em especial, nas regras de aposentadoria.

Tópico 3.1 Principais mudanças nas regras de


aposentadoria

Vídeo 2 – Funções de Proteção Social e Seguridade de Renda

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 32


Um dos pontos mais polêmicos no âmbito do RGPS sempre foi a existência da
chamada aposentadoria por tempo de contribuição sem idade mínima. Dentro da
lógica de proteção contra riscos sociais, havia aqueles que defendiam a eliminação
dessa modalidade de aposentadoria programada, que não exigia uma idade
mínima. Isso se devia entendimento de que o tempo de contribuição não é, em si,
um risco social. Além disso, essa modalidade permitia a concessão de aposentadoria
a pessoas com plena capacidade laboral que, em muitos casos, acumulavam alta
renda formal de trabalho com a aposentadoria.

Além disso, alcançar 35/30 anos de contribuição, em geral, era mais comum para
trabalhadores de maior nível de escolaridade e renda. Tendo em vista que aqueles
com menor escolaridade e renda, em geral, tendem a passar a maior parte do tempo
na informalidade. Como resultado, aqueles com menor tempo de contribuição
costumavam conseguir no máximo 15 anos de contribuição. Portanto, enfrentavam
a necessidade de atingir uma idade mínima de 65 anos para homens ou 60 anos
para mulheres, antes da reforma de 2019. Como alternativa, podiam ter acesso ao
benefício não contributivo do BPC/LOAS (BPC - Benefício de Prestação Continuada,
previsto na LOAS - Lei Orgânica da Assistência Social) aos 65 anos de idade (Costanzi
e Ansiliero, 2017).

A aposentadoria por tempo de contribuição sem idade é um benefício quase raro


ou inexistente no cenário internacional, sendo poucos os países que possuíam ou
possuem alguma espécie similar.

Em decorrência desse debate, uma das principais propostas e mudanças provenientes


da EC 103/2019 foi, justamente, o fim gradual da chamada aposentadoria por tempo
de contribuição sem idade mínima. Contudo, esse processo ocorre por meio de
quatro regras de transição que serão apresentadas neste módulo.

Dado que as regras de transição são abrangentes e que foram garantidas para
todos que estavam filiados antes da promulgação da reforma, sua vigência valerá
por muito tempo. A origem da aposentadoria por tempo de contribuição remonta a
Lei 3.807, de 26 de agosto de 1.960, conhecida como Lei Orgânica da Previdência
Social (LOPS), que continha a aposentadoria por tempo de serviço ao segurado
com 35 ou 30 anos de contribuição, com valor do benefício de 100% do salário de
benefício no primeiro caso e 80% no segundo, ou seja, aposentadoria integral com
35 anos de serviço e proporcional com 30 anos de serviço.

Essa Lei também exigia que o segurado tivesse completado 55 anos de idade, ou
seja, exigia uma idade mínima. Contudo, em 1962, por meio da Lei n. 4.130, de 28 de
agosto de 1962, a exigência de uma idade mínima de 55 anos foi revogada. Desde
então, até a reforma de 2019, manteve-se no ordenamento jurídico previdenciário
brasileiro a possibilidade de aposentadoria por tempo de contribuição sem

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 33


idade mínima. A Constituição de 1988 manteve a possibilidade de assegurar a
aposentadoria, nos termos da lei, após 35 anos de trabalho para homem, e após
30 anos para mulher, calculando o benefício sobre a média dos 36 últimos salários
de contribuição. Essa fórmula, conhecida como “média curta”, não era adequada do
ponto de vista atuarial.

A Emenda Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, fez


importantes mudanças na previdência do Brasil e assegurou
aposentadoria no regime geral de previdência social, nos
termos da lei, com 35 anos de contribuição, se homem, e 30 de
contribuição, se mulher.

A EC 20/1998, no entanto, desconstitucionalizou o cálculo do valor da aposentadoria,


pela chamada “média curta”, e permitiu a introdução do fator previdenciário por
lei no final de 1999. Portanto, de qualquer forma, a aposentadoria por tempo de
contribuição sem idade mínima, que teve início em 1962, só foi excluída do RGPS com
a EC 103 no ano de 2019. Ademais, como a referida Emenda garantiu quatro regras
de transição para aqueles que já estavam filiados antes da reforma, na prática, a
convivência com a aposentadoria por tempo de contribuição sem idade mínima ainda
deve prevalecer por vários anos devido a essa transição. Apenas aqueles filiados
após a reforma, efetivamente, não terão mais direito a essa espécie de benefício. Se
forem segurados urbanos e não tiverem direito a alguma aposentadoria especial,
precisarão se aposentar aos 65 anos de idade, no caso dos homens, e 62 anos de
idade, no caso das mulheres.

A reforma da previdência de 2019 consiste em um amplo conjunto de medidas legais.


A alteração mais importante foi, sem dúvida nenhuma, a Emenda Constitucional
103, de 12 de novembro de 2019. Contudo, também há outras medidas importantes
que devem ser citadas. Para começar, pode-se destacar a Medida Provisória n. 871,
de 18 de janeiro de 2019, posteriormente convertida na Lei n. 13.846, de 18 de
junho de 2019.

Essa reforma da Lei, entre outras ações, trouxe algumas características. Clique a
seguir para conferir:

+ Ampliar os objetivos da Lei


A reforma veio para aperfeiçoar o combate às fraudes do RGPS instituindo
programas de incentivo à análise e redução dessas fraudes.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 34


+ Instituir medidas
Para combater as fraudes, foram criados os seguintes programas: Programa
Especial para Análise de Benefícios com Indícios de Irregularidade; e
Programa de Revisão de Benefícios por Incapacidade.

+ Alterações nos benefícios


Realizou as seguintes alterações nos benefícios:
• inclusão da carência de 24 meses para auxílio-reclusão;
• comprovação da condição e do exercício da atividade rural do
segurado especial via Cadastro Nacional de Informações Sociais
(CNIS) a partir de 01/01/2023.

Posteriormente, a entrada em vigor deste dispositivo ganhou mais uma


condicionalidade no âmbito da EC 103/2019, que será apresentada ao longo deste
módulo. Ainda no âmbito da previdência rural, a Lei 13.846 revogou a possibilidade de
comprovação do exercício de atividade rural por meio de declaração fundamentada
de sindicato que represente o trabalhador rural ou, quando for o caso, de sindicato
ou colônia de pescadores, desde que homologada pelo Instituto Nacional do Seguro
Social (INSS). Contudo, a referida Lei permitiu a comprovação por meio de Declaração
de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar.

A proposta inicial do poder executivo, que se tornaria a EC 103/2019, foi enviada


ao Congresso Nacional em fevereiro de 2019, por meio da Proposta de Emenda
Constitucional n. 6, de 20 de fevereiro de 2019. Embora a EC 103/2019 tenha
sido baseada na PEC 6/2019, houve importantes alterações que foram realizadas
durante a tramitação da proposta no âmbito do Congresso Nacional. Uma alteração
fundamental da EC 103/2019 foi realizada no corpo permanente do artigo 201 da
Constituição Federal, em especial no parágrafo 7. Para sua melhor compreensão, no
quadro a seguir, preparamos um comparativo das mudanças propostas na Redação
da EC 103/2019 com Redação anterior da Constituição. Confira:

Redação dada pela Emenda


Redação Anterior da Constituição
Constitucional 103/2019
Art. 201. A previdência social será Art. 201. A previdência social será
organizada sob a forma do Regime organizada sob a forma de regime
Geral de Previdência Social, de caráter geral, de caráter contributivo e de
contributivo e de filiação obrigatória, filiação obrigatória, observados
observados critérios que preservem critérios que preservem o
o equilíbrio financeiro e atuarial, equilíbrio financeiro e atuarial, e
e atenderá, na forma da lei, a: atenderá, nos termos da lei, a:

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§ 7º É assegurada aposentadoria
§ 7º É assegurada aposentadoria
no regime geral de previdência
no regime geral de previdência
social, nos termos da lei, obedecidas
social, nos termos da lei, obedecidas
as seguintes condições:
as seguintes condições:
I - 65 (sessenta e cinco) anos de idade,
I - Trinta e cinco anos de
se homem, e 62 (sessenta e dois)
contribuição, se homem, e trinta
anos de idade, se mulher, observado
anos de contribuição, se mulher;
tempo mínimo de contribuição;

Fonte: Produção autoral (2023).

Portanto, uma mudança fundamental foi a exclusão da Constituição a possibilidade


de uma regra permanente de acesso à aposentadoria no âmbito do RGPS, que
antes permitia 35 anos de contribuição para homens e 30 anos de contribuição
para mulheres, independentemente da idade ou sem idade mínima. Essa regra
permanente foi alterada para uma condicionalidade de uma idade mínima de 65 anos
para homens e 62 anos para mulheres, observado o tempo mínimo de contribuição.
Contudo, é importante salientar que essa alteração da regra permanente para
aposentadoria vale de forma obrigatória apenas para aqueles que se filiaram ou vão
se filiar ao RGPS depois da EC 103/2019. Para todos aqueles que já estavam filiados
antes da EC 103/2019 existe ainda a possibilidade de aposentadoria por meio de
regras de transição. Falaremos detalhadamente sobre elas mais à frente.

Na imagem a seguir, podemos observar as mudanças ocorridas por meio da Nova


Regra Geral do RGPS por intermédio da EC 103/2019 em detrimento das regras
aplicadas anteriormente.

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Fonte: Secretária de Previdência - Ministério da Economia (2019)

A existência de regras de transição é uma necessidade para evitar alterações muito


bruscas nas idades de aposentadoria. Cabe enfatizar que, ao garantir a opção para
todos aquele que já estavam filiados, mesmo uma pessoa de 18 anos, do ponto de
vista legal, as regras de transição ainda devem permanecer, legalmente falando, por
várias décadas.

Portanto, o aumento da idade média de aposentadoria para as idades de 65 anos


para homens e 62 anos para mulheres, na prática, deve acontecer de maneira
gradual. Como exemplo, a idade média da aposentadoria por tempo de contribuição
no RGPS se elevou de 55,27 anos em 2019 para 55,81 e 56,56 anos, respectivamente,
nos anos de 2020 e 2021 considerando ambos os sexos e a data de início de benefício
(Costanzi; Santos, 2022).

A idade média de aposentadoria, no caso das aposentadorias por tempo de


contribuição para mulheres, aumentou de 53,44 anos em 2019 para 54,01 anos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 37


e 54,85 anos, respectivamente, nos anos de 2020 e 2021. No caso dos homens,
nesta mesma comparação, tiveram aumento da idade média de aposentadoria
por tempo de contribuição, de 56,52 anos, em 2019, para 57,16 anos e 57,93 anos,
respectivamente, nos anos de 2020 e 2021 (Costanzi; Santos, 2022).

Esse processo gradual e não imediato de convergência para as novas idades de


65/62 anos só foi possível graças à existência de quatro regras de transição para
aposentadoria por tempo de contribuição no âmbito do RGPS. Portanto, a idade de
aposentadoria permanece fixada na Constituição. Em muitos países, os critérios de
elegibilidade não são definidos na Constituição, mas sim no âmbito infraconstitucional
ou legal. Por essa razão, as reformas de previdência no Brasil, em especial, se forem
mais amplas ou profundas, tendem a exigir Emendas Constitucionais.

Também cabe destacar que ainda haverá trabalhadores que se aposentarão antes
dos 65/62 anos devido à existência de aposentadorias especiais ou pelo tratamento
diferenciado para determinados grupos, como trabalhadores rurais, professores e
pessoas com deficiência.

As regras de acesso à aposentadoria para os trabalhadores rurais, por exemplo,


não foram alteradas. Permaneceu o acesso aos 60 anos de idade para homens e
55 anos de idade para mulheres que se enquadram como trabalhadores rurais ou
que exerçam suas atividades em regime de economia familiar, incluindo o produtor
rural, o garimpeiro e o pescador artesanal.

A Constituição também manteve o tratamento diferenciado para professores,


reduzindo o requisito de idade de 65/62 em 5 anos para o profissional que comprove
tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no
ensino fundamental e médio. Portanto, para os professores, prevalece uma idade
de aposentadoria de 60 anos para homens e 57 anos para mulheres. Antes da EC
102/2019, os professores podiam se aposentar com 30 anos de contribuição para
homens e 25 anos para mulheres, também sem uma idade mínima. Contudo, essa
regra só é obrigatória para aqueles filiados após a EC 103/2019, havendo regras de
transição para aqueles que já estavam filiados antes da reforma de 2019.

Em relação à aposentadoria por tempo de contribuição, a EC 103/2019 estabeleceu


quatro regras de transição. Conheça cada uma delas:

A primeira regra de transição do artigo 15 da Emenda


Constitucional 103 estabeleceu um sistema de pontuação, que
é dado pela soma de idade + tempo de contribuição. Portanto, a
condicionalidade para aposentadoria deixa de ser exclusiva aos
35/30 anos de contribuição e passa a exigir, de forma adicional,
uma pontuação crescente ao longo do tempo. Por essa regra, o
segurado do RGPS, que era filiado antes da promulgação da EC
103/2019, pode se aposentar desde que atenda cumulativamente
aos seguintes requisitos:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 38


I - 30 anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco) anos de
contribuição, se do sexo masculino;

II - Soma de idade e tempo de contribuição, equivalente a 86


pontos, se feminino, e 96 pontos em 2019, mas aumentando a
partir de 1º de janeiro de 2020, 1 ponto a cada ano até atingir o
limite de 100 pontos, se for mulher, e 105 pontos, se for homem.

No ano de 2023, por exemplo, um homem, para poder se aposentar por essa regra
de transição, teria que ser filiado ao RGPS antes da EC 103/2019, ter pelo menos
35 anos de contribuição e um somatório e idade de tempo de contribuição de 100
pontos. Esse limite de pontos aumenta progressivamente até atingir 105 pontos em
2028, estabilizando-se nesse patamar. Para atingir os 105 pontos, um homem com
40 anos de contribuição, por exemplo, deveria ter 65 anos de idade.

No caso das mulheres, em 2023, além da condicionalidade de 30 anos de


contribuição, seria necessário um somatório de 90 pontos. Uma mulher com 35
anos de contribuição, por exemplo, poderia se aposentar com 55 anos de idade por
essa regra de transição, sem precisar aguardar até a idade 62 anos. A pontuação
exigida atingirá o patamar máximo de 100 pontos no ano de 2033. Confira a Regra de
transição RGPS da Aposentadoria por Tempo de Contribuição na imagem a seguir:

Fonte: Secretária de Previdência - Ministério da Economia (2019)

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 39


No caso dos professores, seriam exigidos, além dos parâmetros anteriores à reforma,
25 anos de contribuição para mulheres e 30 anos de contribuição para homens no
efetivo exercício de funções docentes na educação infantil, fundamental e ensino
médio. Além da exigência adicional de uma soma de idade e tempo de contribuição
equivalente a 81 pontos para mulheres e 91 pontos para homens no ano de 2019.

Analisando de forma similar aos demais segurados, esse patamar inicial de 81/91
também passou a crescer a partir de 1º janeiro de 2020, seguindo o ritmo de 1
ponto a cada ano tanto para homens quanto para mulheres, até atingir o limite de
92 pontos para as mulheres e 100 pontos para os homens. No ano de 2023, por
exemplo, a pontuação exigida foi de 85 para mulheres e 95 para homens. O limite
máximo de pontuação, 10 para homens, será atingido em 2028, e o das mulheres,
92 pontos, será alcançado em 2030.

A segunda regra de transição, estabelecida no artigo 16 da


EC 103/2019, previa que um segurado filiado ao RGPS até a
data de entrada em vigor da EC 103 teria assegurado o direito
à aposentadoria quando atendesse, cumulativamente, aos
seguintes requisitos de uma idade mínima crescente e o tempo
de contribuição anterior a reforma:

I - 30 anos de contribuição, se mulher, e 35 anos de contribuição,


se homem;

II - Idade de 56 anos, se mulher, e 61 anos, se homem, mas


crescendo, a partir de 1º de janeiro de 2020, ao ritmo de 6 meses
a cada ano, até atingir 62 anos de idade, se mulher, e 65 anos de
idade, se homem.

No caso dos/as professores/as, com tempo de efetivo exercício das funções de


magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio, o tempo de
contribuição e a idade foram reduzidos em 5 anos, sendo que, a partir de 1º de
janeiro de 2020, também foram acrescidos 6 meses às idades a cada ano, até atingir
57 anos, se mulher, e 60 anos, se homem. Portanto, para os professores, até o ano
de 2019, se exigia, além do tempo de contribuição de 30/25 anos, uma idade mínima
de 51 anos para mulheres e 56 anos para homens.

Confira essas mudanças na imagem a seguir:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 40


Fonte: Secretária de Previdência - Ministério da Economia (2019)

Como exemplo, a segunda regra de transição estabelece a exigência de uma idade


mínima de 63 anos para homens com 35 anos de contribuição. Para as mulheres,
essa regra requer 58 anos de idade e 30 anos de contribuição. Para os homens, a
exigência de uma idade mínima de 65 anos será alcançada em 2027, enquanto para
as mulheres, o novo requisito de idade será atingido apenas em 2031.

Nesse sentido, para atingir a idade de 65 anos, será necessário um período de 8 anos
para os homens, enquanto para alcançar os 62 anos, as mulheres precisarão de 12
anos. No caso de professores, em 2023, os homens terão a exigência de 30 anos de
contribuição e uma idade mínima de 58 anos. Já para as mulheres, a condição para
aposentadoria é de 25 anos de contribuição e 53 anos de idade. As idades mínimas
de 62 e 57 anos, respectivamente, para professores e professoras, serão alcançadas
em 2027 e 2031.

A terceira regra de transição ficou regulamentada no artigo


17 da EC 103/2019 e aplica-se exclusivamente aos segurados do
RGPS que, até a data de entrada em vigor da EC 103, já possuíam
mais de 28 anos de contribuição, no caso das mulheres, e 33 anos
de contribuição, no caso dos homens. Portanto, essa regra se
aplica exclusivamente a segurados que estavam a dois anos de
completar os requisitos anteriores de 35/30 anos de contribuição
e, dessa forma, estavam muito próximos da aposentadoria antes
da reforma de 2019. Por meio dessa regra de transição, garante-
se o direito à aposentadoria ao cumprir cumulativamente os
seguintes requisitos:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 41


I - 30 (trinta) anos de contribuição, se for mulher, e 35 (trinta e
cinco) anos de contribuição, se for homem;

II - Cumprimento de prazo adicional correspondente a 50%


do tempo que, na data de entrada em vigor da EC 103, faltava
para atingir 30 anos de contribuição, se mulher, e 35 anos de
contribuição, se do sexo masculino.

Portanto, naturalmente, essa regra possui uma duração de aplicação mais curta
na prática e foi destinada a um grupo próximo da aposentadoria com 35/30 anos
de contribuição. Esse período adicional de 50% é conhecido como “pedágio”. Por
exemplo, um homem com 33 anos de contribuição teria que cumprir 3 anos de
contribuição após a reforma, em vez de 2 anos na regra anterior à reforma,
totalizando 36 anos de contribuição.

Outra particularidade dessa regra de transição é que o cálculo do valor do benefício


está sujeito à aplicação do chamado fator previdenciário. Essa é a única regra
transitória na qual o fator previdenciário continua a ser aplicado, não sendo utilizado
nas outras regras de transição.

Fonte: Secretária de Previdência - Ministério da Economia (2019)

Por fim, a quarta e última regra de transição para a aposentadoria


por tempo de contribuição foi estabelecida no artigo 20 da EC
103/2019 e garante o direito à aposentadoria quando o segurado
atender, cumulativamente, os seguintes requisitos:

I - 57 (cinquenta e sete) anos de idade, se mulher, e 60 (sessenta)


anos de idade, se homem;

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 42


II - 30 (trinta) anos de contribuição, se mulher, e 35 (trinta e cinco)
anos de contribuição, se homem;

III - período adicional de contribuição correspondente ao tempo


que, na data de entrada em vigor da EC 103, faltaria para atingir
o tempo mínimo de contribuição de 35/30 anos (“pedágio” de
100%).

É importante ressaltar o processo de transição para a aposentadoria por tempo de


contribuição não é tão simples. Isso se deve às existências de regras de transição
que são aplicáveis a todos os segurados que já estavam filiados ao RGPS antes da
reforma. A necessidade de tais regras de transição é compreensível, visando evitar
o incremento brusco de uma idade de aposentadoria. Em 2019, a idade mínima era
de 55 anos, para homens, e 53 anos, para mulheres. Essa idade foi alterada para
os novos patamares permanentes de 65/62 anos. Há um incremento gradual das
idades médias de aposentadoria por tempo de contribuição, mas a convergência
para os novos parâmetros permanentes ocorrerá de forma gradual. De qualquer
forma, é importante ressaltar que será uma longa transição.

Como exemplo, uma mulher de 18 anos, em 2019, que já estava filiada ao RGPS,
poderia, daqui a 41 anos, ou seja, em 2060, com idade de 59 anos e 41 anos de
contribuição, aposentar-se com o sistema de pontuação 3 anos antes de completar 62
anos. No entanto, é importante ressaltar que, nesse exemplo, haveria a necessidade
de uma densidade de contribuição de 100% de todo o período, algo que não é tão
fácil de alcançar. De qualquer modo, esse exemplo ilustra que ainda haverá um
longo tempo com a convivência de possibilidades de aposentadoria com idades
abaixo de 65/62 anos em função das várias regras de transição.

Confira a Regra de Transição 4 ilustrada na imagem a seguir:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 43


Fonte: Secretaria de Previdência - Ministério da Economia (2019)

Tópico 3.2 Demais alterações nas regras


previdenciárias

Podcast 2 – Mudanças Recorrentes da Ementa Constitucional 103

Um aspecto fundamental da EC 103/2019 foi a eliminação gradual da aposentadoria


por tempo de contribuição sem idade mínima, uma disposição que existia no
ordenamento jurídico previdenciário brasileiro desde 1962, sendo uma regra
pouco comum no mundo como um todo. Contudo, as mudanças realizadas pela EC
103/2019 foram muito mais amplas e profundas, tanto no RGPS, como também nos
regimes de previdência dos servidores públicos e na previdência complementar.

Não será possível analisar todas as mudanças e o foco, como citado anteriormente,
será nas principais alterações (não abrangendo todas) no âmbito do RGPS. A nova
regra permanente de 65 anos de aposentadoria para homens e 62 anos para mulheres
representou alteração tanto em relação ao regramento anterior da aposentadoria
por tempo de contribuição, como também da aposentadoria por idade urbana.

A chamada aposentadoria por idade urbana permitia o acesso ao benefício com a


idade mínima de 65 anos para homens e 60 anos para mulheres, com pelo menos

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 44


15 anos de contribuição. Exatamente para evitar um incremento brusco da idade
de aposentadoria das mulheres urbanas, também foi estabelecida uma regra
de transição para essa espécie. O artigo 18 estabelece que o segurado filiado ao
RGPS, até a data de entrada em vigor da EC 103/2019, poderá aposentar-se quando
preencher, cumulativamente, os seguintes requisitos:

I - 60 anos de idade, se mulher, e 65 anos de idade, se homem, mas com a idade


da mulher, a partir de 1º de janeiro de 2020, subindo 6 meses a cada ano, até
atingir 62 anos de idade; e

II - 15 (quinze) anos de contribuição, para ambos os sexos. Não foi necessário


alterar a idade dos homens, que já era de 65 anos, mas foi necessário criar essa
regra de transição no caso da aposentadoria por idade urbana para as mulheres.
A idade de 62 anos, para as mulheres, foi atingida em janeiro de 2023, encerrando
a transição necessária para os novos parâmetros no caso da aposentadoria por
idade.

Para aqueles com direito de escolher a regra de transição, ou seja, já aqueles que já
estavam filiados ao RGPS antes da reforma, preservou-se o direito à aposentadoria
com tempo mínimo de contribuição de 15 anos. Contudo, houve uma importante
alteração estabelecida no artigo 19 da EC 103/2019, que determina que até que lei
disponha sobre o tempo mínimo de contribuição, o segurado filiado ao RGPS após
a data de entrada em vigor da reforma será aposentado aos 62 anos de idade, se
mulher, 65 anos de idade, se homem, com 15 anos de tempo de contribuição, se
mulher, e 20 anos de tempo de contribuição, se homem.

Portanto, para os homens filiados ao RGPS depois da EC 103/2019 houve incremento


do tempo mínimo de contribuição de 15 para 20 anos. Já para os professores ficou
estabelecido, como nova regra permanente, um tempo mínimo de contribuição de
25 anos, com as já citadas idades mínimas de 60/57 anos.

Cabe lembrar, também, que não houve alteração na previdência rural, de tal sorte
que ainda se garante a aposentadoria aos 60 anos de idade, se homem, e 55 anos
de idade, se mulher, para os trabalhadores rurais e para os que exerçam suas
atividades em regime de economia familiar. Nesses estão incluídos o produtor rural,
o garimpeiro e o pescador artesanal. Também não houve alteração no benefício não
contributivo do BPC/LOAS.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 45


As mudanças, contudo, não foram apenas na aposentadoria por tempo de
contribuição e por idade urbana, mas também ocorreram importantes alterações
na aposentadoria especial. De modo geral, a Constituição busca limitar a adoção de
critérios diferenciados para concessão da aposentadoria, exceto para determinadas
situações ou casos. Como estabelecido na Constituição, é vedada a adoção de
requisitos ou critérios diferenciados para concessão de benefícios, ressalvada, nos
termos de lei complementar, em que é permitida a possibilidade de previsão de idade
e tempo de contribuição distintos da regra geral para concessão de aposentadoria
exclusivamente em favor dos segurados:

I - Com deficiência, previamente submetidos a avaliação biopsicossocial realizada


por equipe multiprofissional e interdisciplinar;

II - Cujas atividades sejam exercidas com efetiva exposição a agentes químicos,


físicos e biológicos prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, vedada
a caracterização por categoria profissional ou ocupação. Portanto, uma
possibilidade de aposentadoria especial é justamente aquela que decorre devido
à exposição de agentes nocivos prejudiciais à saúde, ou seja, por questões de
insalubridade e de forma a preservar a saúde dos trabalhadores.

O artigo 19 da EC 103/2019 estabeleceu que aos segurados que comprovem o


exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos
prejudiciais à saúde, ou associação desses agentes, por um período mínimo de 15,
20 ou 25 anos, independentemente da categoria profissional ou ocupação, terão o
direito de se aposentar sob as seguintes idades mínimas e períodos de exposição

a) 55 anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 15 anos de


contribuição;

b) 58 anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 20 anos de


contribuição; ou

c) 60 anos de idade, quando se tratar de atividade especial de 25 anos de


contribuição.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 46


Portanto, a aposentadoria especial, que anteriormente não tinha idade mínima, mas
sim a exigência de 15, 20 ou 25 anos de contribuição, passou a ter idades mínimas
de 55, 58 ou 60 anos. De forma similar aos outros casos, também foi criada uma
regra de transição para aposentadoria especial, conforme estabelecido no artigo 21
da EC 103/2019. Esse dispositivo, determinou que o segurado que se tenha filiado ao
RGPS até a data de entrada em vigor da EC 103/2019, cujas atividades tenham sido
exercidas com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e biológicos prejudiciais
à saúde, ou associação desses agentes, vedada a caracterização por categoria
profissional ou ocupação, poderão aposentar-se quando o total da soma resultante
da sua idade e do tempo de contribuição e o tempo de efetiva exposição forem,
respectivamente, de:

I - 66 pontos e 15 anos de efetiva exposição;

II - 76 pontos e 20 (vinte) anos de efetiva exposição; e

III - 86 pontos e 25 anos de efetiva exposição.

As mudanças da EC 103/2019 não foram exclusivas às regras de acesso aos benefícios


previdenciários do RGPS e dos RPPS dos servidores públicos federais, mas também
alteraram regras de cálculo e de acumulação de benefícios. Um exemplo inicial de
alteração no valor dos benefícios é observado ao auxílio-reclusão. Historicamente,
o auxílio-reclusão era calculado de forma similar a pensão por morte, com limitação
do valor pelo teto do RGPS, embora fosse um benefício limitado para segurados de
baixa renda.

O artigo 27 da EC 103/2019 estabeleceu que, até que a lei discipline o acesso ao


salário-família e ao auxílio-reclusão, esses benefícios serão concedidos apenas
àqueles que tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 1.364,43 (mil, trezentos
e sessenta e quatro reais e quarenta e três centavos), que serão corrigidos pelos
mesmos índices aplicados aos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.
Ademais, o valor do auxílio-reclusão, embora tenha seu cálculo na forma daquele
aplicável à pensão por morte, não pode exceder o valor de um salário-mínimo.

Também houve importantes alterações no cálculo do valor de benefícios do RGPS.


De forma mais geral, conforme regulamentado no artigo 26 da EC 103/2019, ficou
estabelecido que, até que lei discipline o cálculo dos benefícios do RGPS, será
utilizada a média aritmética simples dos salários de contribuição, atualizados

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 47


monetariamente, correspondentes a 100% do período contributivo desde a
competência de julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior
àquela competência. Anteriormente, a regra geral, estabelecida na Lei 8.213/1991
era a utilização de 80% dos maiores salários-de-contribuição e não todo o período
contributivo.

De modo mais geral, o valor do benefício de aposentadoria corresponde a 60%


da média aritmética com acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano de
contribuição que exceder o tempo de 20 anos de contribuição no caso dos segurados
do sexo masculino do RGPS. Entretanto, há várias exceções e detalhes em relação
a essa regra geral. Como exemplo, tem-se o valor do benefício de aposentadoria
que corresponderá a 100% da média aritmética no caso de aposentadoria por
incapacidade permanente, quando decorrer de acidente de trabalho, doença
profissional e doença do trabalho.

No caso das mulheres filiadas ao RGPS, o acréscimo de 2% por ano adicional de


contribuição será aplicado para cada ano que exceder 15 anos de tempo de
contribuição. Ademais, durante a tramitação no Congresso Nacional, foi incluído
um dispositivo que tradicionalmente possibilita o descarte das contribuições como
forma de elevar o valor dos benefícios. No § 6º, do artigo 26 da EC 103/2019, ficou
estabelecido que podem ser excluídas da média as contribuições que resultem
em redução do valor do benefício, desde que seja mantido o tempo mínimo de
contribuição exigido, vedada a utilização do tempo excluído para qualquer finalidade.

Para melhor compreensão e fixação do seu aprendizado, organizamos essas


alterações na imagem a seguir:

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 48


Fonte: Secretaria de Previdência - Ministério da Economia (2019)

Com a reforma da previdência de 2019, ocorreram mudanças significativas nas


regras de pensão por morte. Antes, o valor da pensão por morte correspondia ao
valor integral ou 100% da aposentadoria e existia a chamada reversão de cotas,
ou seja, quando a cota de um dependente cessasse, o valor era revertido para os
demais dependentes.

A EC 13/2019 alterou esses dois pontos. O artigo 23 da EC 103/2019 estabeleceu


que a pensão por morte concedida a dependente de segurado do RGPS consiste
em uma cota familiar de 50% do valor da aposentadoria recebida pelo segurado ou
daquela a que ele teria direito caso fosse aposentado por incapacidade permanente
na data do óbito. Adicionalmente, são acrescidas cotas de 10 pontos percentuais por
dependente, com um limite máximo de 100% do valor da pensão. Portanto, as cotas
por dependente cessarão com a perda dessa qualidade e não serão reversíveis aos
demais dependentes.

Entretanto, novamente há exceções a essa regra geral. Na hipótese de existir


dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental ou grave, o valor da
pensão por morte será equivalente a 100% da aposentadoria recebida pelo segurado
ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente
na data do óbito.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 49


Também cabe destacar que, para a aposentadoria das pessoas com deficiência, foi
mantido os critérios que já valiam anteriormente pela Lei Complementar 142, de
8 de maio de 2013, que regulamentou esse importante dispositivo constitucional.
Conforme estabelecido no artigo 22 da EC 103/2019, a aposentadoria da pessoa
com deficiência segurada do RGPS será concedida na forma da Lei Complementar
n.142, inclusive quanto aos critérios de cálculo dos benefícios.

Referências

BRASIL. Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc20.htm.
Acesso em 14 de maio de 2023.

BRASIL. Emenda Constitucional n.41, de 19 de dezembro de 2003. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc41.htm.
Acesso em 14 de maio de 2023.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 47, de 05 de julho de 2005. Disponível em: http://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc47.htm. Acesso em
1º ago. 2021. BRASIL. Emenda Constitucionaln.70, de 29 de março de 2012. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc70.htm.
Acesso em 14 de maio de 2023.

BRASIL. Medida Provisória 871, de 18 de janeiro de 2019. Disponível em: https://


www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Mpv/mpv871.htm . Acesso em
14 de maio de 2023.

BRASIL. Proposta de Emenda Constitucional n.6, de 20 de fevereiro de


2019. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_
mostrarintegra?codteor=1712459&filename=PEC%206/2019. Acesso em 14 de maio
de 2023.

BRASIL. Lei n.13.846, de 18 de junho de 2019. Disponível em: https://www.planalto.


gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13846.htm. Acesso em 14 de maio de 2023.

BRASIL. Emenda Constitucional n.103, de 12 de novembro de 2019. Disponível


em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc103.htm.
Acesso em: 1º ago. 2021.

COSTANZI, Rogério Nagamine. ANSILIERO, Graziela. O Impacto Fiscal da Demografia


na Previdência Social. Abril de 2017. Texto para Discussão do IPEAn.2.291. Disponível
em https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/7730/1/td_2291.pdf. Acesso em
14 de maio de 2023.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 50


COSTANZI, Rogério Nagamine e SANTOS, Carolina Fernandes dos. Análise dos
Impactos da reforma de 2019 sobre as idades de aposentadoria no regime geral
de previdência social. Informe de Previdência Social de Agosto de 2022. Disponível
em https://www.gov.br/trabalho-e-previdencia/pt-br/assuntos/previdencia/
publicacoes-previdencia/publicacoes-sobre-previdencia-social/informes/
arquivos/2022/informe-de-previdencia-agosto-2022.pdf. Acesso em 14 de maio de
2023.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 51


Módulo

4 Desafios Futuros do Regime Geral


de Previdência Social
Unidade 1 – O que esperar do futuro do Regime
Geral de Previdência Social

Identificar os desafios futuros do Regime Geral de Previdência


Social.

Apesar das alterações das regras e do funcionamento do RGPS na reforma de 2019 e


pela EC 103/2019, ainda permanecem desafios importantes no âmbito previdenciário
e no RGPS. Entre os desafios, certamente, cabe destacar a necessidade de buscar a
ampliação da cobertura previdenciária no Brasil, que ainda é caracterizada, assim
como a Região da América Latina e Caribe, por elevada informalidade e por uma
parcela relevante da população ocupada sem contribuição para a Previdência,
em especial entre determinados grupos como trabalhadores por conta própria e
domésticos.

Além deste problema estrutural e histórico, ainda permanece o desafio do


envelhecimento populacional, que tem amplo impactos sobre todo sistema de
seguridade social, não apenas na previdência, mas também na saúde e assistência
social e, ainda, sobre o crescimento econômico. O Brasil e toda região da América
Latina e Caribe estão envelhecendo de forma intensa e rápida. A pandemia de
Covid-19 representou, infelizmente, uma inflexão, porém não deveria alterar a
tendência estrutural de médio e longo prazo de envelhecimento populacional rápido
e intenso.

Além de tudo isso, também estão surgindo novos desafios, como a necessidade de
redesenhar a proteção social frente às transformações do mundo do trabalho, em
especial, o incremento da importância relativa dos trabalhadores de plataformas
digitais. Um aspecto que também parece muito relevante no cenário atual brasileiro
é a crescente e alta judicialização no âmbito do RGPS e do INSS. Neste módulo,
iremos examinar esses e outros desafios futuros do RGPS.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública 52


Tópico 4.1 Desafios do RGPS – a questão da
cobertura previdenciária e transformações do
mercado de trabalho

É um fato amplamente conhecido que boa parte da não contribuição previdenciária


dos trabalhadores ocupados está concentrada em determinados grupos, em
especial, os trabalhadores por conta própria e domésticos. Os empregados, por
sua vez, têm um padrão de contribuição muito superior a esses grupos, mas o
contingente de empregados sem carteira de trabalho assinada também é bastante
elevado. Veja um exemplo, no último trimestre de 2022 havia um total de 34,8 milhões
de trabalhadores ocupados com 16 anos ou mais de idade sem contribuição para
previdência; com percentuais de contribuição em torno de 1/3 para os trabalhadores
por conta própria e para os trabalhadores domésticos, ou seja, apenas um em cada
três trabalhadores desses referidos grupos contribuía para a previdência, sendo
que quase metade dos 34,8 milhões eram trabalhadores por conta própria (16,8
milhões ou 48,4% do total).

Esses baixos percentuais de contribuição entre os trabalhadores por conta própria,


também conhecidos por autônomos, e os trabalhadores domésticos explicam o
motivo de boa parte das iniciativas serem voltadas para a inclusão previdenciária
desses grupos, que desde 2006 têm sido alvo de direcionamento. Contudo,
apesar de várias iniciativas como o plano simplificado de previdência social e o
Microempreendedor Individual (MEI), a inclusão desses grupos ainda é um problema
que está longe de ser superado. Deveria ficar claro, também, que a ampliação da
cobertura previdenciária passa necessariamente pelo combate à informalidade
no mercado de trabalho. Há profunda inter-relação entre mercado de trabalho e
previdência social. Uma vez que, um melhor sistema de previdência demanda um
mercado de trabalho de melhor qualidade (BID, 2013).

Na tabela a seguir, foi organizado os índices de contribuições para a Previdência


por parte da população ocupada a partir de 16 anos no quatro trimestre de 2022,
conforme a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Confira:

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Tabela - Contribuição para Previdência em Qualquer Trabalho da População
Ocupada – Brasil – PNAD Contínua – quarto trimestre de 2022 – trabalhadores
com 16 anos ou mais de idade

Posição na com sem % de


Ocupados
Ocupação contribuição contribuição contribuintes
Empregados 54.303.472 42.650.145 11.653.327 78,5
Trabalhadores
5.815.341 2.117.750 3.697.591 36,4
domésticos
Militar e
7.747.117 7.747.117 0 100,0
Estatutário
Empregador 4.248.351 3.113.850 1.134.501 73,3
Conta Própria 25.434.767 8.611.090 16.823.677 33,9
Trabalhador
Familiar 1.488.553 3.725 1.484.828 0,3
Auxiliar
TOTAL 99.037.601 64.243.677 34.793.924 64,9

Fonte: Elaboração do autor a partir dos microdados da PNAD Contínua do quarto trimestre de 2022

A Previdência tem relações muito estreitas com o mercado de


trabalho. Um mundo de trabalho marcado por precariedade
e elevada informalidade tende a gerar ampla desproteção
previdenciária. Trabalhadores desempregados ou com baixas
remunerações na informalidade, obviamente, não possuem
capacidade para contribuírem regularmente para a previdência.

Uma análise realizada em 2019, anterior à pandemia, mostrou que no Brasil havia
uma população total de 119,2 milhões de pessoas de 20 a 59 anos. Dentro desse
total, 54,6 milhões eram contribuintes para previdência, enquanto 64,6 milhões não
eram. Entre esses não contribuintes, 44% podiam ser associados à informalidade,
40,8% poderiam ser atribuídos a estarem fora da força de trabalho ou inativos e
15,2% estavam relacionados à questão do desemprego (Costanzi; Santos, 2021). Ou
seja, a não contribuição para previdência poderia, em termos gerais, ser atribuída
a 24,8 milhões de trabalhadores na informalidade; 26,3 milhões de pessoas fora da
força de trabalho; e 9,8 milhões de pessoas desempregadas.

Nesse sentido, o incremento do total de contribuintes exige políticas públicas de


combate à informalidade e ao desemprego, que estimulem e viabilizem maior
participação no mercado de trabalho, em especial, entre as mulheres e os chamados
desalentados. A contribuição para a previdência depende da evolução do mercado
formal que, por sua vez, é fortemente afetado pelo crescimento econômico
sustentado.

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Também é possível avaliar a questão da cobertura por meio de indicadores
construídos por metodologia a partir dos microdados da PNAD Contínua. Em que
pese diferentes possibilidades de medir, em especial, incluindo a questão dos
segurados especiais. A estimativa para o ano de 2019, anterior à pandemia, era
de que a cobertura previdenciária dos trabalhadores ocupados de 16 a 59 anos
seria de 72%, ou seja, em termos gerais, 7 em cada 10 trabalhadores brasileiros
ocupados contavam com proteção previdenciária no Brasil. Contudo, esses 28% de
trabalhadores ocupados sem proteção correspondiam a cerca de 24,6 milhões de
pessoas, muitos dos quais com renda abaixo do salário-mínimo (Ansiliero; Costanzi;
Cifuentes, 2021).

Outro ponto possível de medir é a cobertura da população idosa, com 60 anos ou


mais de idade, em relação ao recebimento de benefícios de aposentadoria e/ou
pensão por morte. Em caso de não recebimento do benefício, a análise pode se
concentrar naqueles que estão contribuindo para a previdência. Com base nessa
metodologia, para o ano de 2019, a cobertura era de 85%, ou seja, 85 em cada
100 idosos no Brasil estavam protegidos socialmente (Ansiliero; Costanzi; Cifuentes,
2021).

Contudo, ainda restavam cerca de 5 milhões de idosos sem proteção social, que não
recebiam nem aposentadoria, nem pensão, nem BPC/LOAS, nem contribuíam para
a previdência.

Também cabe destacar que há profundas diferenças regionais na contribuição


previdenciária, com patamares mais elevados nas Unidades da Federação mais
ricas, como Sul e Sudeste, e níveis mais baixos em regiões como Norte e Nordeste.
Em geral, há relevante correlação entre o percentual de trabalhadores ocupados
e o PIB per capita da Unidade da Federação, ou seja, aqueles estados com maior
PIB per capita tendem a ter maiores níveis de cobertura previdenciária entre os
trabalhadores ocupados. Portanto, todos esses dados deixam claro que ainda
permanecem desafios muito importantes no âmbito da necessidade de ampliação
da cobertura previdenciária no Brasil e no RGPS, conforme podemos observar no
gráfico a seguir:

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Gráfico - Percentual de Contribuição para Previdência entre trabalhadores
ocupados por UF do Brasil em 2020 x PIB per capita da UF em 2020

Fonte: elaboração a partir de dados do IBGE

O Brasil possui um nível de cobertura previdenciária acima da média da América


Latina e Caribe (47%), mas abaixo dos padrões de países desenvolvidos ou de renda
alta, como a Europa e a América do Norte. De forma similar, nota-se que os países
ou regiões mais ricas possuem maior nível de cobertura previdenciária, enquanto as
regiões mais pobres têm patamares muito elevados de proteção.

Além disso, o Brasil tem uma cobertura previdenciária acima da média mundial
(53,7%), mas abaixo, por exemplo, da América do Norte (95%), Europa e Ásia Central
(84,3%) e dos países de renda alta (89,8%). Também chama atenção o elevado nível
de desproteção previdenciária nos países ou regiões mais pobres como a África
(13,4%) ou países de renda baixa (6,6%). Na realidade, quase metade da força de
trabalho mundial não tem proteção previdenciária, mostrando que, na realidade,
esse é um desafio que pode ser considerado global.

Confira no quadro a seguir a Cobertura da Previdência a âmbito mundial por Região


ou Nível de Renda:

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Tabela – Cobertura da Previdência a nível mundial por Região ou Nível de
Renda - 2020 ou último ano disponível

Força de Trabalho coberta por


Região regime ou esquema de previdência
(contribuintes ativos em % do total)
1. África 13,4%
2. Américas 64,9%
2.1 América Latina e Caribe 47,0%
2.2. América do Norte 95,0%
3. Estados Árabes 29,2%
4. Ásia e Pacífico 54,7%
5. Europa e Ásia Central 84,3%
Força de Trabalho coberta por
Nível de Renda regime ou esquema de previdência
(contribuintes ativos em % do total)
Países de baixa renda 6,6%
Países de renda média baixa 27,1%
Países de renda média alta 70,9%
Países de alta renda 89,8%
Média mundial 53,7%
Fonte: OIT, 2023

No Brasil, tendo em vista o quadro exposto, o Governo Federal implantou diversas


medidas voltadas à inclusão previdenciária de grupos que tradicionalmente
possuem elevada desproteção previdenciária como os chamados trabalhadores por
conta própria ou autônomos e trabalhadores domésticos no ano 2000. Entre elas,
podem ser citadas:

+ (a) instituição, em 2003 (Lei n. 10.666/2003), da Retenção Obrigatória:


Obrigatoriedade de retenção de 11% do valor dos contratos de Contribuintes
Individuais (CI - Pessoas Físicas) equiparados a empregados, quando
prestam serviços a empresas, a título de contribuição do trabalhador;

+ (b) a instituição do Plano Simplificado de Inclusão Previdenciária (PSPS), em


2006.
Vigente desde 2007, à medida que reduziu (de 20% para 11%) a alíquota
de Contribuinte Individual recolhendo sobre salário-mínimo, mas com um

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plano de benefícios diferenciado sem direito a aposentadoria por tempo
de contribuição, mas com direito a aposentadoria por idade ou invalidez e
valor do benefício de 1 salário-mínimo;

+ (c) possibilidade de dedução da contribuição patronal para o empregador


doméstico no IR.
Possibilidade de dedução da contribuição do profissional doméstico na
declaração de Imposto de Renda pessoa física do referido empregador,
visando estimular a formalização dos trabalhadores domésticos.

+ (d) A criação da figura do Microempreendedor Individual (MEI), com vigência


iniciada em 2009 por meio da Lei Complementar 128, de 19 de dezembro de
2008.
O MEI iniciou, assim como o Plano Simplificado, com alíquota de 11% do
salário-mínimo, mas com um plano de benefícios diferenciado sem direito à
aposentadoria por tempo de contribuição, mas com direito a aposentadoria
por idade ou invalidez e valor do benefício de 1 salário-mínimo. Em 2011,
por meio da Medida Provisória 529, de 7 de abril de 2011, posteriormente
convertida na Lei 12.470, de 31 de agosto de 2011, a alíquota de contribuição
do MEI foi reduzida de 11% para 5% do salário-mínimo sem alterações no
plano de custeio. Essa mesma Lei estendeu o 5% do salário-mínimo para
a figura criada do segurado facultativo de baixa renda, entendido como
aquele sem renda própria que se dedique exclusivamente ao trabalho
doméstico no âmbito de sua residência, desde que pertencente à família de
baixa renda. Para se enquadrar como baixa renda, a Lei estabeleceu como
condição que o segurado facultativo fosse membro de família inscrita no
Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico com
renda mensal de até 2 (dois) salários-mínimos.

Há grande debate na literatura sobre os impactos ou a efetividade dessas políticas de


inclusão previdenciária. No entanto, as polêmicas envolvem questões importantes,
como o risco que essas formas subsidiadas, como o MEI, possam vir a substituir o
emprego com carteira de trabalho assinada por meio de (pseudo) pejotização. Além
disso, são discutidos os desequilíbrios atuariais dessas políticas, por exatamente
serem muito subsidiadas (segurados irão receber benefícios em valor muito superior
ao valor das contribuições), tais políticas deveriam ser focalizadas nos mais pobres
ou naqueles de menor capacidade contributiva.

Todavia, não é possível aprofundar o debate neste curso introdutório, mas nas
referências bibliográficas deste módulo, disponibilizamos literatura adequada para
aqueles que queiram se aprofundar sobre o tema.

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Um desafio atual que está surgindo no âmbito da cobertura previdenciária é,
justamente, a crescente importância dos chamados trabalhadores de plataformas
digitais, como aqueles que são alocados na entrega a domicílio de refeições ou outros
produtos, além daqueles dedicados ao transporte de passageiros. As plataformas
digitais trazem novos desafios à regulamentação trabalhista e previdenciária, como
forma de garantir adequadas condições de trabalho e cobertura previdenciária.
Essas mudanças tecnológicas têm tido forte impacto na organização do trabalho e
nas relações laborais, resultando, em geral, em um processo de desregulamentação
do mundo do trabalho em nível global.

Nesse contexto, é fundamental tentar avaliar as implicações no mercado de trabalho


e na Seguridade Social, bem como avaliar qual deve ser a melhor reação dos
formuladores de políticas públicas em termos de uma regulamentação adequada e
eficiente que garanta condições de trabalho decente e proteção social sustentável
para os trabalhadores das plataformas digitais.

Em vários países, o crescimento do trabalho em plataformas digitais é visto como


uma ameaça que pode aumentar a precariedade no trabalho e enfraquecer os
níveis existentes de cobertura da seguridade social, bem como levar a uma maior
fragmentação dos sistemas de proteção social. Por outro lado, há argumentos de
que o trabalho nas plataformas poderia ajudar alguns grupos de pessoas a terem
acesso ao mercado de trabalho, como jovens, trabalhadores com responsabilidades
familiares ou outros grupos de pessoas que possuem dificuldade para obter um
modo de trabalho mais convencional. Além disso, o trabalho na plataforma também
poderia trazer vantagens para os trabalhadores que precisam de flexibilidade
de tempo, podendo escolher quantas horas e quantos dias desejam trabalhar.
Entretanto, como citado, tal argumentação não deveria obscurecer a necessidade
urgente de estabelecer uma regulamentação que garanta proteção social sustentável
para esses trabalhadores que, algumas vezes, estão enfrentando precárias condições
de trabalho e desproteção social.

Alguns estudos relacionados aos trabalhadores de plataformas digitais têm


apontado baixa cobertura previdenciária, mesmo em setores com alto grau de
acidentalidade. Alguns estudos estimaram que apenas 1 em cada 4 trabalhadores
de plataformas digitais estavam contribuindo para o RGPS (Costanzi; Santos, 2023;
Rangel, 2023). Alguns países, como Espanha e Chile, na América Latina, já avançaram
na regulamentação do trabalho em plataformas digitais (Costanzi; Santos, 2023). No
Brasil, atualmente, há uma ampla discussão sobre a regulamentação dessa forma
de organização de produção, sendo um debate realmente importante, visando a
necessidade urgente de regulamentação desse setor.

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Tópico 4.2 Envelhecimento Populacional e Outros
Desafios

Vídeo 3 – Desafios nas Transformações da Previdência Social

Um grande desafio dos sistemas de Seguridade e Previdência


Social é o rápido e intenso processo de envelhecimento
populacional. Embora esse processo seja global, tem sido muito
rápido e intenso na região da América Latina e Caribe e no Brasil.

O processo de envelhecimento populacional pode ser entendido como a crescente


participação dos idosos ou de pessoas com 60 anos ou mais na população total. Esse
referido processo decorre da combinação de redução nas taxas de fecundidade e
fertilidade e incremento da expectativa de vida. O incremento da expectativa de
vida é algo extremamente positivo e deve ser comemorado, pois reflete as melhores
condições de vida da população, avanços da medicina e outros fatores positivos.
Contudo, o processo de envelhecimento exige um maior planejamento das políticas
públicas de seguridade social, uma vez que desempenha diversos impactos sobre a
previdência, saúde, assistência social e mesmo efeitos econômicos e sociais bastante
amplos e diversificados. Nesse contexto, há a necessidade de planejamento das
políticas públicas a médio e longo prazo.

Como exemplo, tem-se a expectativa de vida ao nascer que, no Brasil, era de 45,5
anos em 1940. No ano de 2019, essa expectativa de vida ao nascer havia crescido
para 76,6 anos (IBGE, 2020). O aumento da expectativa de vida se deu para todas
as idades, de tal sorte que a expectativa de sobrevida na idade de 65 anos cresceu
de 10,6 anos, em 1940, para 17,2 anos, em 2019. Isso quer dizer que uma pessoa,
que chegasse à idade de 65 anos, teria expectativa de viver até 75 anos, em 1940,
e até 82 anos em 2019. Tal fato implica em uma expectativa de maior duração dos
benefícios previdenciários de aposentadoria e pensão por morte. Essa importante
alteração demográfica tem importantes impactos sobre a previdência social, bem
como sobre as chamadas razões de dependência de idosos ou previdenciária
(Costanzi; Fernandes; Santos; Sidone, 2018; Costanzi; Ansiliero, 2017).

Tanto o IBGE quanto a ONU realizam projeções demográficas sobre a evolução


da população brasileira. Ambas convergem no diagnóstico do envelhecimento. As
projeções demográficas da divisão de população da ONU mostram estimativas de
trajetória de envelhecimento populacional bastante similares às do IBGE.

Do ponto de vista de aumento da participação dos idosos, no total da população


brasileira, o grupo de 60 anos ou mais de idade, que representava apenas 4,9% da

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população total, em 1950, teria crescido sua participação para 11,9% em 2015. A
tendência esperada é que continue crescendo de forma quase contínua até o final
deste século, atingindo, 34,1% e 39,4%, respectivamente, nos anos de 2060 e 2100.
Portanto, a projeção da ONU para 2060 (34,1%) é próxima daquela feita pelo IBGE
(32,2%), sendo que ambas ficam muito próximas de uma participação em torno de
um terço da população total.

Nesse cenário, não apenas há um incremento da importância relativa dos idosos,


mas também os grupos com idades muito mais avançadas, como 80 anos ou mais
e 90 anos ou mais de idade, estão crescendo em ritmo ainda mais acelerado e com
grande aumento de participação na população total. A projeção do IBGE, realizada
antes da pandemia, era que a população de 65 anos ou mais, que deveria representar
1 em cada 10 brasileiros no ano de 2023, chegará em 1 a cada 4 no ano de 2060,
enquanto as pessoas de 60 anos ou mais irão responder por 1 a cada 3 no referido
ano.

Contudo, essas projeções foram feitas antes da pandemia de Covid-19, que


representou uma inflexão no processo de envelhecimento. Felizmente, com o avanço
do processo de vacinação, a tendência esperada é que seja retomado o processo de
envelhecimento populacional a médio e longo prazo.

No gráfico a seguir, você pode ter um panorama da projeção da participação dos


idosos na população total do Brasil dos anos de 1950 a 2100. Confira:

Fonte: Elaboração a partir da projeção da população das Nações Unidas

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A crise gerada pela pandemia de Covid-19 foi, sem dúvida, uma tragédia humana que
gerou perdas irreparáveis e um grande volume de mortes. Contudo, é necessário
extrair lições da crise gerada pela pandemia. Um aspecto importante é que a
pandemia mostrou a grande importância de ter sistemas sólidos de seguridade
social para enfrentar crises que, infelizmente, continuarão a ocorrer de tempos
em tempos. A pandemia foi, também, um desafio sem precedentes que mostrou
a importância da seguridade social para reforçar a resiliência em tempos de crise.

De um modo geral, os sistemas de seguridade social atenuaram os efeitos da crise


socioeconômica para os cidadãos e na sociedade, contribuindo para amenizar a
desaceleração econômica (AISS, 2022). A crise gerada pela pandemia de Covid-19
mostrou a necessidade de estender a cobertura aos grupos de população vulneráveis,
como os trabalhadores por conta própria e domésticos, os trabalhadores migrantes
e os jovens, visando construir uma sociedade mais inclusiva por meio de novas
políticas e programas destinados a sanar as deficiências de cobertura e impulsionar
a inclusão social. Além disso, mostrou a importância de sistemas de saúde universais
como o SUS no caso brasileiro.

Há necessidade também de adequar as políticas públicas às necessidades urgentes


e crescentes das pessoas de idade avançada, como os cuidados de longa duração e
a necessidade de promover o envelhecimento saudável.

A previdência social é essencial para proteger as pessoas ante


as contingências que surgem ao longo da vida. A Associação
Internacional de Seguridade Social (2022) estabeleceu, entre
outras, as principais tendências e desafios da seguridade social:
evolução das práticas de gestão, ampliação e manutenção da
cobertura, atendimento das necessidades de uma população que
envelhece e fomentar o crescimento inclusivo e a coesão social.

No cenário brasileiro, um aspecto importante, que representa um desafio a ser


estudado de forma profunda e superado, é a elevada e crescente judicialização
dos benefícios do INSS. As concessões judiciais de benefícios no âmbito do INSS,
mostraram uma tendência crescente no período de 2001 a 2020: a participação
dos despachos judiciais passou de 1%, em 2001, para 13% em 2020. Enquanto a
concessão total cresceu ao ritmo médio anual de 2,85%, entre 2001 e 2020, a judicial
teve incremento médio anual de 17,5%. No período de 2001 a 2020, a concessão
total de benefícios foi de 90,2 milhões, sendo que o total concedido judicialmente
foi de 6,7 milhões (7,4% do total - ver Informe de Previdência Social, junho de 2021).

Contudo, trata-se de uma questão bastante complexa que não é passível de ser
abordada de forma aprofundada neste curso introdutório sobre o RGPS. No
entanto, é essencial ressaltar que se trata de um problema que precisa ser estudado
e superado. A melhora na qualidade de prestação dos serviços e do atendimento no
âmbito do INSS também deve ser um tema importante no âmbito do RGPS.

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Outro aspecto estrutural importante em relação ao RGPS é analisar a estrutura
de financiamento do próprio regime, em especial, frente às transformações do
mundo do trabalho. Um exemplo é o crescimento da importância relativa de novas
formas de organização da produção como as plataformas digitais, para as quais
não existe regulamentação a respeito trabalhista e previdenciário, conforme citado
anteriormente. A estruturação dessa regulamentação em conjunto com uma análise
e eventual reestruturação do financiamento do RGPS é, sem dúvida nenhuma, um
importante desafio para os próximos anos.

Essa discussão é importante, especialmente à luz dos debates em torno da reforma


tributária e das contínuas análises sobre a possibilidade de alterar a base de
financiamento do RGPS, substituindo a contribuição sobre a folha de salários pela
incidência sobre o faturamento. Tal mudança é considerada um mecanismo que
seria capaz de estimular a geração de empregos formais e/ou proporcionar uma
taxa mais efetiva nos setores que possuem alto nível de faturamento com pouca
utilização de mão-de-obra.

É válido ressaltar que a maioria das micro e pequenas empresas enquadradas no


Simples Nacional já contribuem com base no faturamento, e não na folha de salários.
Entretanto, essa abordagem acarreta uma considerável renúncia previdenciária.
Mais uma vez, é necessário salientar que esse assunto é complexo e deve estar em
sintonia e harmonia com as propostas de reforma tributária, uma vez que pode
causar grandes impactos indiretos na economia e no mercado de trabalho formal.

Em meio a esse debate, é fundamental considerar que a melhor forma de financiar


os relevantes gastos do RGPS é garantir o volume de recursos necessário para o
pagamento dos benefícios. Trata-se de uma discussão complexa, porém crucial
para os próximos anos, especialmente diante das propostas de reforma tributária
em pauta e das transformações em curso no mundo do trabalho. Diante disso,
convidamos você a aprofundar-se no tema e buscar um maior conhecimento sobre
o Regime Geral de Previdência Social, sua estrutura de financiamento e os desafios
e impactos envolvidos.

Considerações Finais

Durante este curso, aprendemos que a Previdência Social é muito importante para
proteger as pessoas no Brasil. Ela ajuda aqueles que não podem mais trabalhar por
causa da idade, doenças, acidentes ou desemprego, garantindo uma renda para eles
e suas famílias. A previdência é essencial para combater a pobreza, especialmente
entre os idosos. Vimos várias maneiras de organizar o sistema previdenciário, mas
é importante lembrar que ele precisa ser sustentável, atender a todos e oferecer
benefícios adequados.

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A política de previdência é complexa, envolvendo muitos aspectos como população,
economia, sociedade, finanças e estatísticas. Os gastos previdenciários são
significativos para muitas pessoas e representam uma parte importante do dinheiro
público. O Regime Geral de Previdência Social é o maior programa de ajuda financeira
do país. A Previdência trata de como guardar dinheiro para lidar com problemas
sociais.

A reforma de 2019 foi a maior mudança no sistema previdenciário desde a


Constituição de 1988. Conhecemos, ainda, as principais alterações nas regras do
Regime Geral de Previdência Social. Contudo, mesmo com todas essas mudanças,
ainda há desafios para melhorar o sistema previdenciário. Por exemplo, precisamos
ampliar a cobertura para grupos específicos, como trabalhadores autônomos,
domésticos e aqueles sem carteira assinada.

Reduzir a informalidade é um desafio tanto para o trabalho quanto para a previdência.


Para ter um bom sistema previdenciário, também precisamos ter um bom mercado
de trabalho. E isso é ainda mais importante agora, com as mudanças no mundo do
trabalho, como o aumento dos trabalhadores em plataformas digitais.

Além disso, o envelhecimento rápido da população é um grande desafio para o


sistema de previdência e seguridade social. Precisamos planejar políticas públicas a
longo prazo para lidar com isso.

Este curso nos incentivou a pensar em diferentes políticas e nos desafios que os
governos enfrentam para planejar o futuro. A previdência é pensar no futuro.
Para termos um futuro melhor, o planejamento das políticas previdenciárias é
fundamental.

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Glossário

Desalentado: de forma mais geral se diz de quem se mostra sem ânimo, sem vontade
de agir ou desanimado. Na literatura econômica de mercado de trabalho é uma
referência a pessoas desempregados que deixam de procurar trabalho ou emprego
não porque não queiram, mas sim porque estão desanimadas ou acreditam que
não irão conseguir ou será difícil conseguir.

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