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ESCOLA SUPERIOR DE ADVOCACIA DO MARANHÃO – ESA/MA

ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL – OAB/MA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO DO TRABALHO E DIREITO
PREVIDENCIÁRIO

FERNANDO BATISTA DUARTE JUNIOR

APOSENTADORIA RURAL À LUZ DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA: Análise dos


requisitos e proteção aos direitos fundamentais.

São Luís - MA
2023
FERNANDO BATISTA DUARTE JUNIOR

APOSENTADORIA RURAL À LUZ DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA: Análise dos


requisitos e proteção aos direitos fundamentais.

Artigo Científico apresentado como requisito


parcial à obtenção do título de especialista em
Direito do Trabalho e Direito Previdenciário.
Orientadora: Ma. Dyhelle Christina Campos
Mendes

São Luís - MA
2023
APOSENTADORIA RURAL À LUZ DA REFORMA DA PREVIDÊNCIA: Análise dos
requisitos e proteção aos direitos fundamentais.

Fernando Batista Duarte Junior*1

RESUMO

O presente artigo possui como tema realizar a análise da aposentadoria rural, especialmente
no que toca as inovações introduzidas pela da Emenda Constitucional nº 103/2019. O
benefício da aposentadoria rural é estudado pelo ramo do direito previdenciário, que visa
garantir ao segurado especial o recebimento de um valor mensal, para sua subsistência, sendo
este benefício administrado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). A problemática
enfrentada neste artigo, foi que com a reforma da previdência ocorrida no ano de 2019,
surgiram diversas modificações no que toca aos benefícios previdenciários. Desta forma o
presente visa explanar sobre a aposentadoria rural e os impactos gerados pela EC 103/2019,
neste benefício. A metodologia utilizada neste trabalho foram pesquisas bibliográficas, em
doutrina e especialmente na legislação pátria. Pode-se ainda concluir que não ocorreram
mudanças no que toca aos requisitos para concessão da aposentadoria rural, após a EC
103/2019, e sim uma atualização dos meios de requerimento do benefício, tentando desta
forma aproximar o trabalhador do INSS.

Palavras-chave: Segurado Especial; Trabalhador Rural; Aposentadoria Rural; Instituto


Nacional do Seguro Social (INSS); Emenda Constitucional nº 103/2019.

1 INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, estamos passando por uma séria crise financeira mundial, por
consequência da pandemia causada pela COVID-19, o nosso país não é diferente, do restante
do mundo, crise esta que assola tanto a economia do governo brasileiro e por consequência do
seu povo, principalmente das classes mais vulneráveis.
No ano de 2019, objetivando realizar modificações e uma melhor estruturação da
seguridade social, o congresso nacional entabulou uma grande reformulação no sistema
previdenciário brasileiro, a chamada reforma da previdência que fora instituída por meio da
Emenda Constitucional nº 103/2019, publicada em 12 de novembro de 2019, visando desta
forma resguardar o povo brasileiro de uma futura “quebra” do sistema previdenciário com o
que causaria a impossibilidade de instituição de novos benefícios e até mesmo o não
pagamento dos benefícios já ativos, o que ocasionaria uma grande crise humanitária no
território brasileiro.

1
* Advogado. Acadêmico da ESA/MA. E-mail: fernando_duarte3@hotmail.com
O presente artigo possui como problemática: Quais as possíveis dificuldades a serem
enfrentadas pelo trabalhador rural dadas as inovações introduzidas em nosso ordenamento
após a promulgação da Emenda Constitucional nº 103/2019? Para responder tal pergunta,
neste artigo iremos dissertar sobre os requisitos para obtenção da aposentadoria rural,
explicitando os marcos históricos que criaram esse direito ao trabalhador rural, quais as
legislações pertinentes a esta modalidade de aposentadoria, quem é o órgão que administra
este benefício, e ainda quais as formas e dificuldades enfrentadas pelo trabalhador rural no
momento do requerimento deste benefício, acarretando no deferimento ou indeferimento do
benefício.
Com este estudo será possível identificarmos quem é o segurado especial, quanto
tempo de trabalho, carência, a idade mínima necessária para obtenção do benefício, ainda a
forma de comprovação da qualidade de segurado especial, os meios de realizar o
requerimento de sua aposentadoria e ainda será explicitado às principais diferenças entre os
requisitos das normatizações entre o segurado especial do sexo masculino e do sexo feminino.
Desta forma o presente artigo tem como principal objetivo expor as principais
dificuldades enfrentadas pelo trabalhador rural na obtenção de aposentadoria, antes e depois
da promulgação da Emenda Constitucional nº 103/2019. Como objetivos secundários, tem-se:
Conceituar o que é Seguridade Social, dissertando sobre a sua relevância no cotidiano; tratar
sobre os princípios insculpidos na constituição aplicados ao sistema previdenciário brasileiro,
discutindo principalmente estes no viés do trabalhador rural; expor os requisitos e formas de
requerimento da aposentadoria por idade rural.
Ainda em tempo destaca-se a dificuldade na comprovação da qualidade de segurado
especial, haja vista a não obrigatoriedade da contribuição mensal (pagamento) ao INSS, o que
pode ser considerada uma das maiores dificuldades para a obtenção do benefício, haja vista o
rigor excessivo do órgão administrador para com as provas apresentadas, e a pouca
divulgação dos meios de prova e paralelo a isto o baixo conhecimento do lavrador, muitas das
vezes pessoa analfabeta, não possuindo desta forma o conhecimento dos direitos que lhe são
assegurados, ou ainda quais os meios possíveis conseguir angariar este benefício
previdenciário.

2 SEGURIDADE SOCIAL

Primeiramente antes de adentramos na aposentadoria rural propriamente dita temos que


dissertar sobre o que seria a seguridade social, e as consequências da mesma no nosso dia a
dia. A Seguridade Social é realizada pelo poder público visando garantir a sociedade
trabalhadora uma condição de subsistência quando do momento do termino da sua vida
laboral, pode-se considerar um conjunto de ações visando fazer uma proteção entre a
previdência e a assistência social, ou seja, resguardando o trabalhador contribuinte e o cidadão
de baixa renda com dificuldades para subsistência, desta forma pode-se concluir que a
seguridade social possui um viés contributivo para alguns e assistencialista para outros,
visando resguardar a todos da sociedade.
Segundo Ibraim (2020) e Santos (2020) o seguro social, com característica de
seguridade social, nasceu na Prússia em 1883, com a Lei do Seguro Doença, que criou o
Seguro de Enfermidade, proposta de Otto Von Bismarck como programa social. Importante
esclarecer a situação de diversidade populacional existente em nosso país, tendo desta forma
muita riqueza na mão de poucos, e muita dificuldade e necessidade na casa de muitos.
Entretanto mesmo com essa dificuldade enfrentada pela maioria da população vivemos em
um sistema capitalista, não tendo como o governo gerir e administrar benefícios para toda a
sua população, por isso os benefícios possuem requisitos a serem cumpridos fazendo desta
forma com que os beneficiários sejam realmente aqueles que necessitam, haja vista
impossibilidade financeira do Estado de pagar benefícios a todos os residentes no território
nacional.
A nossa Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CRFB/1988),
introduziu o viés social em nosso território, elencando direitos aos brasileiros, principalmente
aqueles referentes à previdência, saúde e assistência social, ou seja, os direitos sociais sendo
de suma importância a valorização dos direitos para uma vida minimamente digna do povo
brasileiro. Conforme explicitado a CRFB/1988 se caracterizou por elencar a importância da
assistência social, e, por conseguinte a segurança que ela implicaria para a sociedade
brasileira. Destaca-se que a assistência social possui atuação por meio de benefícios
monetários com caráter não contributivo, visando o combate a pobreza, por consequência
aumentando o combate as mazelas e vulnerabilidades sociais.
Como dito alhures a seguridade social possui o viés assistencialista demonstrado acima
e o previdenciário, abaixo aduzido. A previdência social é a proteção estatal destinada ao
trabalhador, buscando lhe assegurar proteção frente à perda da sua capacidade laborativa,
posto aos grandes riscos sociais enfrentados, servindo desta forma como um meio de
contingência a problemas que podem ser ocasionados pela perda da capacidade de laborar,
seja ela repentina ou programada. Destaca-se que todo trabalhador obrigatoriamente participa
da previdência social, por meio de contribuições mensais descontadas em sua remuneração,
entretanto qualquer pessoa pode ser segurada da previdência social, necessitando apenas
efetuar o pagamento das referidas contribuições.
Destaca-se que a previdência busca resguardar o trabalhador ante a cessação da sua
capacidade laborativa, ou seja, causada por doenças, velhice, morte, invalidez temporárias,
invalidez permanentes, e ainda até mesmo da mulher durante a sua gravidez, desta forma foi
necessário o surgimento dos benefícios previdenciários sendo o meio de proteção do
indivíduo, buscando trazer uma tranquilidade necessária para o trabalhador antes a fatos
previsíveis e os imprevistos que possam vir a ocorrer.
Visando facilitar a organização dos benefícios disponíveis, determinou-se inicialmente
em dividir a sociedade em dois grandes grupos dentro de uma classe, que seria o Regime
Geral da Previdência Social (RGPS), sendo uma parte de segurados obrigatórios e outros de
facultativos. Segurados obrigatórios, são todos aqueles que possuem idade superior a 16
(dezesseis) anos e que exerçam atividade laborativa remunerada, ou seja, todo aquele
trabalhador que exerça atividade e por meio desta auferir renda é contribuinte obrigatório,
independentemente de ser empregado ou autônomo, e nessa categoria está inserido o segurado
especial, onde se encontra a aposentadoria do trabalhador rural, estudo do presente artigo.
Destaca-se que o contribuinte obrigatório é regido pelo princípio constitucional da
compulsoriedade. Todavia, é necessário contemplar o princípio da universalidade de
cobertura e atendimentos, desta forma foi estabelecido os contribuintes facultativos, que são
todos aqueles que mesmo não exercendo atividade laborativa remunerada, decidem por
vontade própria aderir ao sistema de proteção previdenciária, realizando de forma facultativa
e autônoma contribuições, ou seja, pagamentos ao INSS, a fim de ter proteção aos riscos
supracitados.

3 OS PRINCÍPIOS INSCULPIDOS NA CONSTITUIÇÃO APLICADOS AO SISTEMA


PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO

Ao fazemos uma análise mais ampla, é possível observar que a legislação vigente não
é a única fonte do Direito, mas também são utilizados os princípios, costumes, doutrinas,
jurisprudências, ou seja, elementos que não necessariamente estão no texto da lei, haja vista
por isso sempre é necessário fazer atualização nas normatizações, visando inserir
necessidades dos brasileiros que devem ser garantidas.
Desta forma é possível proporcionar ao povo, a entrega dos direitos fundamentais,
fazendo com que desta forma seja possível resguardar o mínimo de dignidade da pessoa
humana, e a previdência social junto com a seguridade social estão presentes na nossa
constituição, visando diminuir as diferenças dentro da sociedade e as mazelas enfrentadas, e
ainda por consequência auxiliando no desenvolvimento do povo e ainda especialmente do
trabalhador.
Para Berwanger (2008, P. 124) a inserção do segurado especial na Constituição Federal
se dá por vários motivos, dentre eles o reconhecimento profissional dessa classe; a não
discriminação entre trabalhadores rurais e trabalhadores urbanos; com ênfase no caráter
previdenciário e não mais assistencial; e a responsabilidade de efetivar os direitos sociais ao
campo.
Desta forma é de salutar importância, trazer a tona o artigo (194 da CRFB/1998), onde
são elencados os principais objetivos da seguridade social:
Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos
relativos à saúde, à previdência e à assistência social.
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a
seguridade social, com base nos seguintes objetivos:
I – universalidade da cobertura e do atendimento;
II – uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e
rurais;
III – seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços;
IV – irredutibilidade do valor dos benefícios;
V – equidade na forma de participação no custeio;
VI – diversidade da base de financiamento;

Posto isso o direito previdenciário, assim como os demais ramos do Direito, é formado
pelos princípios constitucionais, devendo o mesmo ser norteador no momento da aplicação
prática, ou seja, quando a previdência é buscada pelo cidadão, ela deve o socorrer usando os
princípios acima expostos, como norteadores. Para Barbosa (2006, p. 16), ― “o combate à
pobreza tem sido destacado como o principal efeito do processo de universalização da
Previdência Social Rural, na medida em que são incorporados ao sistema previdenciário
segmentos sociais empobrecidos”.
Define-se como sendo segurado especial todo aquele que trabalha no campo, seja de
forma individual ou familiar, tendo a sua produção a finalidade de promover o sustento do
trabalhador e/ou da sua família, ou seja, o trabalho deve possuir o caráter de subsistência,
sendo vedado que o trabalhador desenvolva outras atividades seja ela de cunho comercial,
empresarial, turístico ou empregatício.
A CRFB/1998 traz a figura do segurado especial, estabelecendo critérios para
facilitar a definição do que seria a personificação deste segurado, tudo isto elencado no artigo
195 §8°, conforme segue:
O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais e o pescador
artesanal, bem como os respectivos cônjuges, que exerçam suas atividades
em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuirão
para a seguridade social mediante a aplicação de uma alíquota sobre o
resultado da comercialização da produção e farão jus aos benefícios nos
termos da lei (art. 195, § 8°, regulamentado pela Lei 8.213/91).

Ademais também é possível localizar a definição de segurado especial, em legislações


infraconstitucionais, tal seja a lei 11.718/2008, determinando que todo produtor residente em
imóvel rural ou em conglomerado urbano ou próximo a este, e que exerça a sua atividade de
forma individual ou com a sua família, podendo ainda possuir ajuda de forma eventual de
terceiros, devendo ser uma colaboração mutua entre o auxiliante e o auxiliado.
Desta forma com as informações elencadas na CRFB/1998 especialmente no artigo
supra indicado, é possível de forma sintética elencar os principais requisitos e características
do segurado especial, visando desta forma facilitar a compreensão sobre o tema: A figura do
produtor é aquele que, sendo ou não proprietário da terra, utilizando a mesma para retirar o
seu sustento ou de sua família, atuando sempre de forma autônoma, ou seja, sem a figura de
um empregador, desempenhando atividades rurais, pastoril ou de hortifrutigranjeiro;
Já o parceiro é aquele individuou que após a realização de um contrato de parceria
com o dono da terra, desenvolve naquele espaço atividades referentes ao cultivo, dividindo o
seu resultado com o seu parceiro, seja este resultado positivo ou negativo; é possível também
termos a figura do meeiro, que é aquele que de forma comprovada por meio de contrato com
o dono da terra, desenvolve as suas atividades repartidas, o que fora conseguido após a
colheita com o proprietário do espaço;
Temos ainda a figura do arrendatário, que é aquele, que realiza contrato de
locação, ou seja, por meio de pagamento, podendo ser em dinheiro ou por meio dos resultados
obtidos, de valores já devidamente estipulados, explorando a terra também de forma
individual ou familiar; O comodatário, é a figura na qual explora a terra de forma gratuita,
podendo ser por tempo determinado ou não, ou seja, o proprietário da terra cede um espaço da
sua propriedade para que a pessoa exerça a sua produção rural, sem lhe cobrar nada em troca.
Há de se acrescentar aos segurados especiais o carvoeiro, o seringueiro, o
pescador artesanal, o extrativista vegetal, os indios, e ainda a de se considerar como segurado
especial todos os membros do grupo familiar, sendo necessário a pratica da atividade por estes
também. É de salutar importâcia se fazer a distinção entre o segurado especial, daqueles que
recebam a aposentadoria especial. O segurado especial é todo aquele como dito alhures que
exerce o trabalho no campo, ou o pescador ou o indigne, de forma individual ou familiar para
sua subsitência.
O benefíciario da aposentadoria espeicial, é aquela pessoa que trabalhe de forma a
ficar exposto a agentes prejudicias a sua saude, seja de risco iminente com recebimento da
periculosidade, como por exemplo policias, ou a riscos que vão se agravando com o decorrer
do tempo, ou seja, a agentes insalubres, podemos citar a titulo de exemplo pessoas que
trabalham em hospitais, haja vista, a exposição em tempo integral a agentes quimicos, fisicos
ou biologicos.
Ao contrario do que pode ser pensado nem todo trabalhador campesino é carcterizado
como segurado especial, haja vista que o segurado especial é uma subdivisão dentro dos
trabalhores ruricolas, sendo a definição realizada pela forma do trabalho exercido, não
podendo ser empregado ou ser regidido pela CLT, saindo da categoria de segurado especial,
para a categoria de segurado obrigatorio, modificando completamente os requisitos para
angariar a aposentadoria.
É importante destacar neste contexto o que seria a atividade em regime de economia
familiar:
Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento
socioeconômico do núcleo familiar, e é exercido em condições de mútua
dependência e colaboração, sem a utilização de empregados permanentes.
(KERTZMAN, IVAN, 2015, p. 117).

Conforme exposto acima é possivel constatar uma proteção, a aqueles que retiram
o seu sustento da sua própria produção, ou seja, exerce a atividade rural de forma braçal sem
interesse algum em auferir lucros, ou grandes produções e sim, exclusivamente de subisistir
juntamente com a sua familia, retirando da terra todo o seu alimento.
A lei 11.718/08 estabeleceu qual a idade inicial para o inicio da qualidade de segurado
especial, tal seja 16 (dezesseis) anos. Entretanto posteriormente em 2012 o STJ, por meio do
julgamento da ação recisoria nº 3877, definiu um novo entendimento de que mesmo o
lavrador sendo menor de 16 (dezesseis) anos, desde que consiga comprovar a sua atividade
rural juntamente com a sua familia, poderá o mesmo se utilizar destas comprovações para o
recebimento de benefícios previdenciarios, a titulo de exemplo o recebimento de auxilio
doença, conforme segue o entendimento:

PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL.AÇÃO RESCISÓRIA. ATIVIDADE


RURÍCOLA DESEMPENHADA POR MENOR DE 14 ANOS EM REGIME DE
ECONOMIA FAMILIAR. CONTAGEM DE TEMPO DE SERVIÇO PARA FINS
PREVIDENCIÁRIOS. POSSIBILIDADE. DECISÃO RESCINDENDA
FUNDAMENTADA E EM SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DESTE
TRIBUNAL. INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO À DISPOSIÇÃO LITERAL DE
LEI E DE ERRO DE FATO. CPC, ART. 485, V E IX. UTILIZAÇÃO DE AÇÃO
RESCISÓRIA COMO SUCEDÂNEO RECURSAL. DESCABIMENTO. 1. A
decisão rescindenda, ao dar provimento ao recurso especial do autorsegurado para
reformar o acórdão e restabelecer a sentença, reconhecendo como tempo de serviço
efetivo o período de labor rural de 1964 a 1968, amparou-se no entendimento de que
o tempo de serviço prestado por menor de 14 anos, ainda que não vinculado ao
Regime de Previdência Social, pode ser averbado e utilizado para o fim de obtenção
de benefício previdenciário, exegese que se encontra em sintonia com a
jurisprudência deste Tribunal: Precedentes: AR nº 3.629/RS, Ministra Maria Thereza
de Assis Moura, DJe 9/9/2008; EDcl no REsp nº 408.478/RS, Ministro Arnaldo
Esteves Lima, DJ 5/2/2007; AgRg no REsp nº 539.088/RS, Ministro Felix Fischer,
DJ 14/6/2004. 2. Na espécie, considerando que o próprio acórdão proferido em
apelação, mesmo reformando a sentença, registrou de forma inequívoca a suficiência
do início de prova material, corroborada pela prova testemunhal, da atividade
rurícola desempenhada pelo autor, não há dúvidas de que, reconhecida em recurso
especial a possibilidade de contabilização do período de labor anterior aos 14 anos
para o fim de postulação de benefício previdenciário, ponto nodal da discordância
entre o juízo de primeiro grau e o Tribunal a quo, deveria ser restabelecida a
sentença, que originalmente aplicara tal solução, não se configurando a apontada
violação à disposição literal de lei. 3. No caso dos autos, não se identifica a apontada
ofensa à literal disposição de lei (CPC, art. 485, V), mas tão somente a pretensão de
se rediscutir decisão que, embora desfavorável ao INSS, contemplou adequada
interpretação e aplicação da norma legal que regula a controvérsia, não sendo, de
outro modo, cabível a utilização da ação rescisória como sucedâneo recursal 4. A
caracterização de erro de fato, na forma do art. 485, IX, do CPC, exige que, no
julgamento da causa, tenha se considerado como existente fato que não existiu, ou
como inexistente fato que comprovadamente está evidenciado nos autos, hipóteses
que, no caso, não estão configuradas. Precedentes: AR nº 4.309/SP, Ministro Gilson
Dipp; AR 4.220/MG, DJe 8/8/2012; Ministro Jorge Mussi, (DJe 18/5/2011; AR nº
2.777/SP, Ministra Maria Thereza de Assis Moura, DJe 3/2/2010. 5. Ação rescisória
improcedente)
Outro ponto importante a ser esclarecido é sobre as contribuições do trabalhador rural,
em regra geral o segurado especial não necessariamente precisa verter contribuições mensais
ao INSS, para a manutenção da qualidade de segurado e por consequência recebimentos de
benefícios. A contribuição é feita por meio de comprovação da efetiva atividade
desenvolvida, haja vista que se o desenvolvimento ocorrer em família e para subsistência, sem
a produção para venda, não há o que se pagar de INSS, sendo a qualidade de segurado
mantida pelo período em que o mesmo comprove que esta exercendo o seu trabalho, ou seja,
não é necessário efetuar pagamentos mensais como o trabalhador urbano, mais uma vez
estampando o princípio da isonomia.

O segurado especial, ou seja, lavrador tem direito ao recebimento de benefícios


temporários e permanentes, como benefício por incapacidade temporária, benefício por
incapacidade permanente, salário maternidade, aposentadoria por idade, e até mesmo o
auxílio reclusão, importante frisar que este benefício possui o valor de 1 (hum) salário mínimo
nacional e ainda o recebimento de 13º (décimo terceiro) salário.

5 REQUISITOS E FORMAS DE REQUERIMENTO DA APOSENTADORIA POR


IDADE RURAL
A lei nº 8.212/91 e a lei nº 8.213/91 criaram juntamente com as normas constitucionais
a figura do segurado especial na modalidade de segurado obrigatório, portanto todo aquele
que for considerado segurado especial, é obrigatoriamente segurado da previdência social,
fazendo desta forma com que trabalhadores urbanos e rurais nas medidas das suas
desigualdades e peculiaridades de cada atividade desenvolvida, possuam o direito e segurança
de se verem socorridos pela previdência.
O tema central desse artigo é os requisitos da aposentadoria do trabalhador rural,
importante destacar que é necessário o preenchimento de requisitos cumulativos, portanto o
não preenchimento de todos implica no não recebimento do benefício, e ainda destacar a
existência da diferenciação entre os requisitos elencados para homens e mulheres assim como
para o trabalhador urbano.
No que toca a qualidade de segurado especial, como dito acima é o lavrador é
segurado obrigatório, ou seja, com a comprovação da atividade campesina desenvolvida no
momento do requerimento, por pelo menos os 15 anos anteriores ao requerimento, com a
comprovação à qualidade do segurado está comprovada. Em relação à carência é importante
destacar que a comprovação dos 180 (cento e oitenta) meses, deve ser do período logo
imediatamente a data do requerimento, ou seja, trata-se de período contemporâneo.
Mesmo com a reforma da previdência realizada em 2019, as regras da
aposentadoria rural não foram afetadas, possuindo ainda a diferença de requisitos entre a
aposentadoria urbana, sublinha-se que a atividade desempenhada pelo campesino, ocasiona
danos físicos excessivos, ficando exposto demasiadamente aos raios solares e a chuva, e ainda
um trabalho braçal intenso. Destaca-se que a mulher que desempenha atividade campesina é
beneficiada por uma redução de 07 (sete) anos de idade quando comparada com a mulher que
desempenha atividade urbana, haja vista a mulher campesina precisa completar 55 (cinquenta
e cinco) anos de idade para poder pleitear a sua aposentadoria, enquanto a mulher que
desempenha atividade urbana necessita de 62 (sessenta e dois) anos.
Já no tocante ao homem rural este possui uma redução de 05 (cinco) anos de idade
quando comparado ao homem com trabalho urbano, haja vista ser necessário 60 (sessenta)
anos de idade para o homem campesino aposentar, enquanto para o trabalhador urbano são
necessários no mínimo 65 (sessenta e cinco) anos de idade. O INSS possui atualmente a
Instrução normativa 128/2022, onde estabelece os meios de prova para a comprovação da
atividade rural por meio do processo administrativo, destaca-se a necessidade da auto-
declaração rural, onde o próprio segurado irá caracterizar e descrever o seu tempo rural, a
atividade exercida, onde a atividade era exercida, o que plantava, o que criava, o tempo de
atividade em cada localidade, podendo dessa forma criar-se uma síntese de toda a vida
daquele segurado, facilitando até mesmo a comprovação da atividade, o que por muita das
vezes é difícil haja vista o não recolhimento da contribuição.
Ademais na autodeclaração rural, é possível o requerente inserir os dados do seu grupo
familiar de trabalho, como nome completo, CPF, estado civil, ainda é necessário a inserção
dos dados dos imóveis rurais onde a atividade foi desempenhada como, o município, área
total do imóvel e ainda o número do Imposto Territorial Rural (ITR), ainda é necessário a
inclusão do nome e apelido de vizinhos daquela localidade.
A autodeclaração ainda possui campos para informar se ocorre a comercialização da
produção e ocorrendo onde a mesma acontece se ocorreu o recolhimento de IPI, sobre a
industrialização da produção de farinha, por exemplo, nesta mesma autodeclaração o
requerente informa se possui ou não empregados ou prestadores de serviço.
O requerente também deve informar se já morou em local diverso a não ser o meio
rural, ou ainda outras atividades exercidas, informar se ocorreu algum afastamento da
atividade rural e o período, informar ainda se desempenha outra atividade como artística,
artesanal, ou turística, se participa da cooperativa ou ainda se participa de plano de
previdência complementar e ainda se possui outro imóvel urbano ou rural. O artigo 116 da
Instrução Normativa elenca um rol exemplificativo dos documentos que podem ser utilizados
pelo lavrador para complementar a autodeclaração rural, como meio de prova:
Art. 116. Complementarmente à autodeclaração de que trata o § 1º do art. 115 e ao
cadastro de que trata o art. 9º, a comprovação do exercício de atividade do segurado
especial será feita por meio dos seguintes documentos, dentre outros, observado o
contido no § 1º:
I - contrato de arrendamento, parceria, meação ou comodato rural, cujo período da
atividade será considerado somente a partir da data do registro ou do
reconhecimento de firma do documento em cartório;
II - Declaração de Aptidão ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar, de que trata o inciso II do caput do art. 2º da Lei nº 12.188, de 11 de
janeiro de 2010, ou por documento que a substitua;
III - bloco de notas do produtor rural;
IV - notas fiscais de entrada de mercadorias, de que trata o § 7º do art. 30 da Lei nº
8.212, de 1991, emitidas pela empresa adquirente da produção, com indicação do
nome do segurado como vendedor;
V - documentos fiscais relativos à entrega de produção rural a cooperativa agrícola,
entreposto de pescado ou outros, com indicação do segurado como vendedor ou
consignante;
VI - comprovantes de recolhimento de contribuição à Previdência Social decorrentes
da comercialização da produção;
VII - cópia da declaração de imposto de renda, com indicação de renda proveniente
da comercialização de produção rural;
VIII - licença de ocupação ou permissão outorgada pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária - INCRA ou qualquer outro documento emitido por
esse órgão que indique ser o beneficiário assentado do programa de reforma agrária;
IX - comprovante de pagamento do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural -
ITR, Documento de Informação e Atualização Cadastral do Imposto sobre a
Propriedade Territorial Rural - DIAC e/ou Documento de Informação e Apuração do
Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural - DIAT, com comprovante de envio à
RFB, ou outros que a RFB vier a instituir;
X - certidão fornecida pela FUNAI, certificando a condição do índio como
trabalhador rural, observado o contido no § 5º;
XI - certidão de casamento civil ou religioso ou certidão de união estável;
XII - certidão de nascimento ou de batismo dos filhos;
XIII - certidão de tutela ou de curatela;
XIV - procuração;
XV - título de eleitor, ficha de cadastro eleitoral ou certidão eleitoral;
XVI - certificado de alistamento ou de quitação com o serviço militar;
XVII - comprovante de matrícula ou ficha de inscrição em escola, ata ou boletim
escolar do trabalhador ou dos filhos;
XVIII - ficha de associado em cooperativa;
XIX - comprovante de participação como beneficiário em programas
governamentais para a área rural nos Estados, no Distrito Federal ou nos
Municípios;
XX - comprovante de recebimento de assistência ou de acompanhamento de
empresa de assistência técnica e extensão rural;
XXI - escritura pública de imóvel;
XXII - recibo de pagamento de contribuição federativa ou confederativa;
XXIII - registro em processos administrativos ou judiciais, inclusive inquéritos,
como testemunha, autor ou réu;
XXIV - ficha ou registro em livros de casas de saúde, hospitais, postos de saúde ou
do programa dos agentes comunitários de saúde;
XXV - carteira de vacinação e cartão da gestante;
XXVI - título de propriedade de imóvel rural;
XXVII - recibo de compra de implementos ou de insumos agrícolas;
XXVIII - comprovante de empréstimo bancário para fins de atividade rural;
XXIX - ficha de inscrição ou registro sindical ou associativo junto ao sindicato de
trabalhadores rurais, colônia ou associação de pescadores, produtores ou outras
entidades congêneres;
XXX - contribuição social ao sindicato de trabalhadores rurais, à colônia ou à
associação de pescadores, produtores rurais ou a outras entidades congêneres;
XXXI - publicação na imprensa ou em informativos de circulação pública;
XXXII - registro em livros de entidades religiosas, quando da participação em
batismo, crisma, casamento ou em outros sacramentos;
XXXIII - registro em documentos de associações de produtores rurais, comunitárias,
recreativas, desportivas ou religiosas;
XXXIV - título de aforamento; ou
XXXV - ficha de atendimento médico ou odontológico.
§ 1º Os documentos elencados nos incisos XI a XXXV do caput poderão ser
utilizados desde que neles conste a profissão ou qualquer outro elemento que
demonstre o exercício da atividade na categoria de segurado especial.
(...)

Conforme demonstrado acima, o INSS visando otimizar e facilitar o requerimento do


lavrador, elencou os documentos acima indicados, para poder ajudar o campesino a
comprovar a sua qualidade de segurado especial, tudo isso por meio do processo
administrativo que é realizado pelo próprio INSS, conforme será exposto abaixo.
Como dito acima, o INSS é o órgão do governo responsável por administrar os
benefícios da previdência e da assistência social, entretanto ele precisa ser provocado pelo
beneficiário, para que assim possa se iniciar o procedimento de deferimento ou indeferimento
do benefício pleiteado.
Ao completar os requisitos cumulativos para a aposentadoria rural, tal seja 180 (cento e
oitenta) meses de carência e 55 (cinquenta e cinco) anos para mulher e 60 (sessenta) anos para
o homem, o requerente deve fazer um requerimento administrativo ao INSS, por meio da
central telefônica 135, ou por meio do portal eletrônico “Meu INSS”, ou ainda diretamente na
agência mais próxima da sua residência.
No momento do requerimento administrativo o segurado especial deve portar toda a
documentação exigida na Instrução normativa nº 128/2022 exposta acima, para comprovar a
atividade rural e ainda a sua identidade para comprovar o fator etário. Após o protocolo do
requerimento o sistema integrado do INSS, realizara a distribuição do processo administrativo
a um servidor aleatório, o mesmo irá realizar a análise de toda a documentação apresentada,
fazendo cruzamento dos dados levados com bases de dados governamentais, podendo desta
forma localizar qualquer inconsistência entre os documentos apresentados.
Não estando o servidor do INSS, certo da qualidade de segurado especial do requerente
o mesmo pode requerer a complementação de provas, por meio de cartas de exigências que
são endereçadas ao requerente, para que o mesmo complemente as informações em um prazo
de 30 (trinta) dias, devendo o cumprimento da exigência ser protocolada por meio do portal
Meu INSS, ou ainda diretamente a uma agência posteriormente ao agendamento de
cumprimento de exigência que deve ser feito pela central telefônica 135.
Mesmo após serem complementadas as informações o servidor do INSS, não estiver
seguro da qualidade de segurado especial do requerente, poderá operacionalizar a Justificativa
Administrativa (JA) que é quando o requerente levara até uma agencia do INSS, no máximo
duas pessoas para que as mesmas possam ser ouvidas como testemunhas e dizer ao servidor
tudo que sabem sobre a atividade campesina desenvolvida pelo requerente, tal seja onde mora,
quantos filhos tem, qual atividade por ele desempenhada, e se de forma individual ou familiar.
Posteriormente a todo esse processo administrativo o servidor do INSS, gera o resultado
da sua análise podendo ocorrer o deferimento ou indeferimento do benefício.
Com o deferimento do benefício o requerente recebe uma carta de concessão do
benefício, nesta correspondência é possível observar quais os períodos foram utilizados como
comprovação da atividade rural, quando ocorreu o inicio do benefício, e ainda qual a data do
primeiro recebimento da aposentadoria, com o banco cadastrado para o recebimento do
mesmo, por conseguinte o requerente passa a ser aposentado por idade rural e irá começar a
receber o seu benefício previdenciário de forma mensal, no valor de um salário mínimo,
acrescido ainda do 13º (décimo terceiro) salário, de forma vitalícia, ou seja, o benefício de
aposentadoria por idade rural, somente se extingue com a morte do beneficiário.
No momento do recebimento do benefício o aposentado deve se dirigir a agência
bancaria constante na carta de concessão juntamente com a sua carteira de identidade ou outro
documento de identificação com foto válido, e ainda comprovante de endereço, neste
momento são realizadas consultas no cadastramento do benefício, e posteriormente é aberta
uma conta benefício para o aposentado onde todos os meses o valor da sua aposentadoria será
depositado pelo INSS, devendo o mesmo realizar o saque do valor.
Vale destacar ainda que o benefício de aposentadoria por idade rural, é possível a
contratação de empréstimo e cartão na modalidade consignado, ou seja, o aposentado pode
contrair empréstimos ou cartão de crédito com juros e taxas reduzidos haja vista que o
pagamento destes será realizada de forma automática descontando do valor do benefício, após
a contratação destes créditos o aposentado já recebe a sua aposentadoria com os descontos dos
produtos por ele contratado.
Importante destacar que como a maioria dos aposentados rurais são pessoas analfabetas
ou até mesmo de poucos conhecimentos acabam por cair em golpes nas contratações destes
produtos bancários acima expostos, devendo sempre estar atento no momento da contratação
de qualquer serviço ou cadastramento de dados junto as instituições financeiras, para não
ocorrer eventual desconto em seu recebimento do benefício de forma mensal.
Caso ocorra o indeferimento do benefício o requerente poderá requerer uma nova
analise administrativa perante a Junta de Recursos do INSS, onde o requerente irá demonstrar
os equívocos cometidos pelo servidor do INSS, devendo o recurso ser protocolado por meio
do Meu INSS, ocorrendo uma nova análise de realizada por outros servidores do INSS
podendo resultar no deferimento ou em um novo indeferimento do benefício, casa a Junta de
Recursos, conclua pelo parecer favorável, o requerente terá seu benefício implantado e ira
seguir todos os passos acima mencionados para o recebimento do mesmo.
Como demonstrado acima todo o procedimento pode ser realizado pelo requerente
sozinho de forma pessoal, entretanto conforme o passo a passo explicitado, trata-se de um
procedimento administrativo complexo, onde muitas das vezes falta informação e até mesmo
iniciativa do servidor do INSS para orientar o requerente da melhor forma possível a
conquista os seus benefícios, seja com a explicação da documentação correta ou a forma de
protocolização.
Estamos falando de pessoas que infelizmente estão vivendo a margem da sociedade, na
maioria das vezes em locais isolados e sem informação nenhuma, muitos dos segurados
especiais são analfabetos ou de baixíssima escolaridade, não possuem acesso a internet, ou
qualquer outro meio de informação, causando desta forma maior dificuldade para que ocorra
o requerimento – falta de conhecimento sobre o direito à aposentadoria, ou ainda dificuldade
no deferimento do benefício posto que o lavrador não possui o conhecimento técnico para
poder demonstrar ao servidor do INSS, a sua qualidade de segurado especial e o cumprimento
dos requisitos elencados acima para garantir a sua tão sonhada aposentadoria por idade rural.
Desta forma enfrentamos dois principais problemas o indeferimento por um
requerimento elaborado de maneira inadequada ou ate mesmo a falta do requerimento posto
que o trabalhador rural, não tem o conhecimento de que possui direito ao recebimento da
aposentadoria, e como dito acima, o INSS precisa ser provocado para deferir o beneficio, ou
seja, o campesino necessita obrigatoriamente protocolar o seu pedido de aposentadoria junto
ao INSS, o que muitas vezes não acontece, podendo ocorrer uma diminuição nos benefícios
implantados e ativos, gerando dificuldade de sobrevivência aqueles que não poderiam mas
não estão recebendo o benefício.
Mesmo com todas essas dificuldades o processo administrativo pode ser revisto, haja
vista os princípios constitucionais norteadores da nossa sociedade, podendo o requerente
buscar o socorro do poder judiciário, por meio da Justiça Federal, justiça esta competente para
processar e julgar as causas contra o INSS, devendo ser observado as competências de cada
comarca da jurisdição.
Ressalta-se que o requerente de acordo com jurisprudências pacificas do Tribunal
Federal da 1ª Região (TRF-1), não pode adentrar ao poder judiciário sem antes ter realizado o
requerimento administrativo junto ao INSS, e aguardado a análise do mesmo por pelo menos
90 (noventa dias), esse procedimento é realizado haja vista ser necessário a demonstração de
pretensão resistida por meio do INSS, ou seja, é demonstrada a pretensão resistida por meio
do indeferimento do benefício ou ainda pelo decurso do prazo de (90) noventa dias sem
analise do requerimento o que é chamado de indeferimento tácito do benefício, somente após
estes procedimentos é possível protocolar junto ao poder judiciário a análise da decisão
administrativa.
O processo judicial na Justiça Federal pode ser aberto pelo próprio requerente em sede
de juizado especial, por meio do Jus Postulandi, ou ainda ser representado por meio de
advogado (a). Após o protocolo do processo na Justiça Federal, ele é distribuído a um Juízo
Federal, sendo realizada a intimação do INSS, para se habilitar no processo, com a
apresentação de contestação ou de proposta de acordo.
Caso seja realizada uma proposta de acordo e o autor da ação aceite o processo é
sentenciado com a homologação do acordo e implantação do benefício conforme descrito
acima. Caso a parte autora da ação não aceite a proposta de acordo o processo continua em
seus tramites legais.
Posteriormente a apresentação de contestação pelo INSS, a parte autora é intimada para
realizar apresentação de réplica a contestação, posteriormente é designada audiência de
instrução e julgamento oportunidade esta onde a parte autora poderá ser ouvida pelo juízo e
poderá levar testemunhas para serem inquiridas pelo juízo, e pelo INSS, para colaborarem
com as outras provas documentais acostadas ao processo.
Desta forma o juízo forma o seu convencimento podendo julgar procedente o processo
ou improcedente, caso seja procedente ocorre à implantação do benefício. Ressalta-se que
independente do resultado do processo ambas as partes podem recorrer da decisão caso não
concordem com a sentença prolatada. A figura do advogado no processo de aposentadoria do
trabalhador rural é de salutar importância haja vista a grande dificuldade enfrentada pelo
campesino, diga-se de passagem, as decisões da justiça federal muitas das vezes é para
reverter às decisões arbitrarias impostas pelo INSS, em não reconhecer a qualidade de
segurado especial do lavrador.

7 CONCLUSÃO
O presente artigo realizou a análise sobre os principais aspectos da previdência social,
juntamente com a assistência social, com enfoque no benefício de aposentadoria por idade
rural, trazendo as inovações introduzidas pela EC 103/2019. Elencando desta forma quais
foram às normatizações que inseriram este benefício no ordenamento jurídico brasileiro, quais
são os requisitos para obtenção dele, e ainda quais são as formas de requerimento dele.
Com este estudo foi possível demonstrar as grandes dificuldades enfrentadas pelo
trabalhador campesino, haja vista muitas das vezes morar no interior em locais pequenos, sem
acesso a informações, e ainda as dificuldades enfrentadas mesmo após a obtenção do
benefício. Foi possível constatar a preocupação do ordenamento jurídico brasileiro tanto na
questão previdenciária quanto na assistencial, visando desta forma salvaguardar a população
mais necessitada, fazendo um paralelo entre os benefícios assistências e os previdenciários
demonstrando a diferenciação entre os beneficiários e os requisitos para o deferimento de
ambos.
Destaca-se ainda a diferenciação entre o trabalhador urbano e o rural, quais as
diferenças encontradas para que ambos tenham o benefício de aposentadoria concedido.
Ainda em tempo foi possível a realização de um passo a passo para a obtenção do benefício
de aposentadoria por idade rural quais os mesmo de requerimento e quais os documentos
necessários para a realização do requerimento, e ainda quais os procedimentos a serem
realizados após a implantação do benefício. É de salutar importância a caracterização da
aposentadoria rural como sendo vitalícia, ou seja, somente se extingue com a morte do
aposentado, entretanto caso o mesmo possua dependentes conforme descrito nas normatização
acima elencadas, é possível obtenção do benefício de pensão por morte rural.
Conclui-se, portanto que a previdência de forma específica estabelece formas de
contribuição do trabalhador rural, devendo desta forma serem cumpridas as exigências acima
expostas com o enquadramento na categoria de trabalhador rural e a comprovação do
cumprimento do requisito etário o benefício é concedido, apesar das diversas singularidades,
o homem do campo tem direito aos mesmos benefícios previdenciários, garantido pela
Constituição do país ao trabalhador urbano.

REFERÊNCIAS

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ABSTRACT

The theme of this scientific article is to analyze rural retirement, especially regarding the
innovations introduced by Constitutional Amendment No. 103/2019. The rural retirement
benefit is studied by the branch of social security law, which aims to guarantee the special
insured person the receipt of a monthly amount for their subsistence, this benefit being
administered by the National Social Security Institute (INSS). The problem faced in this
article was that with the social security reform that took place in 2019, several changes
emerged regarding social security benefits. Therefore, this article aims to explain rural
retirement and the impacts generated by EC 103/2019, on this benefit. The methodology used
in this course conclusion work was bibliographical research, in doctrine and especially in
national legislation. It can also be concluded that there were no changes regarding the
requirements for granting rural retirement, after EC 103/2019, but rather an update of the
means of applying for the benefit, thus trying to bring the worker closer to the INSS.

Keywords: Special Insured; Rural worker; Rural Retirement; National Social Security
Institute (INSS); Constitutional Amendment nº 103/2019.

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