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FACULDADE DE ARACAJU – FACAR

BACHARELADO EM DIREITO

8º PERÍODO

MIGUEL LUCAS DA SILVA LEITE

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE E SUAS PECULIARIDADES ANTE A REFORMA
PREVIDENCIÁRIO

ARACAJU
2022
MIGUEL LUCAS DA SILVA LEITE

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE E SUASPECULIARIDADES ANTE A REFORMA
PREVIDENCIÁRIA

Trabalho entregue como requisito


para obtenção de nota na disciplina
de Direito Previdenciário pela
Faculdade de Aracaju – FACAR.
Professor (a): Irys Dominik

ARACAJU
2022
I - INTRODUÇÃO

É bem verdade que ao longo do tempo a sociedade Brasileira adquiriu direitos e


ocorreram alterações significativas em diversas áreas da legislação, entre eles o
incremento de benefícios previdenciários ao passo que estas mutações e inserções
afetaram fortemente a legislação previdenciária.
Vale ressaltar que o princípio da dignidade da pessoa, previsto no art. 1º, inciso
III da Constituição Federal, quando aplicado ao direito previdenciário diz respeito, entre
tantas nuances, ao mínimo para a subsistência.
Neste sentido, compete ao Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS,
organizar e cumprir a legislação previdenciária vigente, adotando um critério restritivo e
legalista, ou seja, na via administrativa somente é concedido o benefício a quem se
enquadra com o disposto em Lei.
Ademais, em caso de controversas ou dúvidas acerca da análise administrativa,
há possibilidade de concessão via judicial, adotando os parâmetros do processo civil,
inclusive o uso do entendimento jurisprudencial aplicado a cada caso mediante análise.
Entretanto, há diversas discussões acerca do efetivo ganho obtido pós-reforma
previdenciária, ocorrida no ano de 2019 por intermédio da Emenda Constitucional de nº
103/2019, que trouxe novos conceitos e possibilidades para os segurados.
Desse modo, no tocante a ampla cartela de benefícios e suas particularidades
presentes no direito previdenciário, este trabalho versará acerca dos benefícios por
incapacidade temporária e permanente e as suas alterações perante a reforma da
previdência.

II - DO BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE PERMANENTE E TEMPORÁRIA


A previdência social basicamente é um sistema de proteção social, sendo
considerado um ramo autônomo, inclusive Tavares entendeu por seu conceito da seguinte
forma:
A previdência no Regime Geral de Previdência Social é conceituada
como seguro público, coletivo, compulsório, mediante contribuição e
que visa cobrir os seguintes riscos sociais: incapacidade, idade
avançada, tempo de contribuição, encargos de família, desemprego
involuntário, morte e reclusão. É direito de fruição universal para os
que contribuam para o sistema. Ocorrendo um risco social – “sinistro”
(que afasta o trabalhador da atividade laboral), caberá à Previdência
a manutenção do segurado ou de sua família. (TAVARES, 2002,
p.13).2
Desse modo, a previdência social para abranger seus segurados adotou o
caráter contributivo e filiação obrigatória, sendo condição indispensável para gozar dos
benefícios previdenciários, contudo, estes requisitos são excluídos quando se pleiteia a
assistência social, que deve ser gratuita e independente de contribuição.
Segundo os doutrinadores Castro e Lazzari o segurado é conceituado como “A
pessoa física que exerce atividade remunerada, efetiva ou eventual, de natureza urbana ou
rural, com ou sem vínculos de emprego, a título precário ou não” (...).
A Constituição Federal prevê a cobertura dos eventos de incapacidade, segundo
se infere do art. 201, inciso I:
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime
Geral de Previdência Social, de caráter contributivo e de filiação
obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro
e atuarial, e atenderá, na forma da lei, a:
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente
para o trabalho e idade avançada; (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 103, de 2019)
É necessário explicar que a incapacidade pode ser temporária, quando há um
prazo estimado para cessação, permanente quando não há possibilidade de melhora,
também se encontra como classificação quanto a sua abrangência da lesão, sendo parcial
quando apenas uma parte dos movimentos ou membro do corpo é comprometido, e total
quando há comprometimento de determinada parte, como um todo.
O benefício por incapacidade temporária, anteriormente conhecido como auxílio-
doença foi previsto pela lei de benefícios da previdência social de nº 8.213/91, objetivando
abranger aqueles segurados impedidos temporariamente de exercer as suas atividades
laborais.
Segundo o art. 20 da Lei 8213/91, a doença ocupacional é “a produzida ou
desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da
respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social”.
Acontece que, quando ocorre o acidente no ambiente de trabalho ou constatação
de doença ocupacional, o setor chamado Serviço Especializado em Segurança e Medicina
do Trabalho - SESMT, deve emitir um documento chamado Comunicação de Acidente de
Trabalho - CAT, vale ressaltar que o prazo para emissão é de até um dia útil após o fato.
É bem verdade que se comprovada a incapacidade, o médico do Trabalho pode
conceder um simples atestado de alguns dias, porém se após 15 dias o segurado não
retornar as suas atividades, por conta da permanência da doença, a empresa não
necessitará custeará o tempo em inatividade.
Ademais, frisa-se que o segurado não estará desamparado, visto que a partir do
16º dia o INSS custeará o recebimento de renda, de acordo com o cumprimento dos
requisitos legais estabelecidos na legislação previdenciária.
Os requisitos para obtenção para o segurado empregado, seja urbano ou rural
cumprimento de carência, ou seja, um mínimo de meses de contribuição que atualmente é
de 12 meses para a maioria dos segurados, salvo em casos de doenças previstas na
Portaria Interministerial nº 2.998/2001:
Art. 1º As doenças ou afecções abaixo indicadas excluem a exigência
de carência para a concessão de auxílio-doença ou de aposentadoria
por invalidez aos segurados do Regime Geral de Previdência Social -
RGPS:
I - Tuberculose ativa;
II - Hanseníase;
III- Alienação mental;
IV- Neoplasia maligna;
V - Cegueira
VI - Paralisia irreversível e incapacitante;
VII- Cardiopatia grave;
VIII - Doença de Parkinson;
IX - Espondiloartrose anquilosante;
X - Nefropatia grave;
XI - Estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante);
XII - Síndrome da deficiência imunológica adquirida - Aids;
XIII - Contaminação por radiação, com base em conclusão da
medicina especializada; e
XIV - Hepatopatia grave.

De acordo com a Lei 8.213/91 o segurado incorporado as Forças Armadas para


prestação de serviço militar possuem a carência reduzida para 3 meses, também será
reduzida a 6 meses a carência do segurado facultativo que cessar as suas contribuições.
Já para os segurados doméstico, avulso, contribuinte individual, facultativo e o
segurado especial não se exige carência, sendo utilizados para todos os segurados
mencionados a comprovação da incapacidade laboral e demonstração de qualidade de
segurado.
Entretanto, este benefício pode ser prorrogado caso seja requerido pelo
segurado, devendo-o solicitar nos últimos 15 dias, não sendo o caso, finda-se quando
realizada perícia médica atestando o fim da incapacidade ou por ocasião de óbito.
Ainda, de acordo com a legislação previdenciária vigente não é concedido o
benefício para aqueles que possuem doença incapacitante pré-existente a data de filiação,
justamente para evitar fraudes e garantir que efetivamente somente os segurados que se
enquadram nos requisitos, recebam tal quantia.
Ao requerer administrativamente o benefício, o segurado se compromete a
comparecer na autarquia para os procedimentos devidos, ocorrendo a ausência em uma
perícia, por exemplo, o proibirá de pleiteá-lo por um prazo de 30 dias.
Inversamente, também se observa o direito de recebimento deste benefício aos
que estão gozando o período de graça, que basicamente é a manutenção da qualidade de
segurado quando não há qualquer contribuição, conforme o art.15 e seus incisos da
legislação previdenciária.
Portanto, para os segurados empregados considera-se início da incapacidade
quando ultrapassa o décimo sexto dia do afastamento da atividade, porém para os demais
segurados, o termo inicia a partir da incapacidade ou data do requerimento perante o INSS.
Em se tratando de benefício por incapacidade permanente, anteriormente
conhecido como aposentadoria por invalidez, é certo que não deixou de ser uma
aposentadoria, mas sofreu alterações em sua nomenclatura, continuando a exercer um
papel na sociedade de refúgio para os indivíduos que se tornaram incapacitados
definitivamente para o trabalho.
Este benefício visa suprir a necessidade de percepção de verbas que pelo
segurado incapacitado permanentemente, que não consegue mais trabalhar e por outro
lado ainda precisa se manter, dependendo da impossibilidade para readaptação para outra
atividade.
Há diversos conceitos inseridos neste tema, tendo como espécies a
incapacidade parcial ou total, em outros termos a parcial é quando o indivíduo tem lesão
em determinada parte do corpo que compromete apenas parte da funcionalidade de um
membro.
Ademais, a incapacidade total versa sobre a completa perda de funções laborais
e motoras em um determinado membro do corpo humano, impossibilitando o retorno ao
trabalho e consequentemente a concessão do benefício.
Acerca do tema, vale ressaltar que tal benefício é revogável, podendo ser
cessado, por consequência do exaurimento da incapacidade, ou seja, há possibilidade de
cessação exclusivamente se constatada recuperação da capacidade para o trabalho,
semelhantemente como ocorre com o benefício por incapacidade temporária.
Desse modo, através de perícias médicas feitas a cada 2 (dois) anos, ou seja,
são realizadas de forma periódica para revisão de benefícios, salvo para os portadores do
vírus HIV, sendo reiteradas ou não as enfermidades que tornaram o segurado incapacitado,
caracterizando o chamado “pente-fino” do Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS.
Os requisitos para enquadrar-se é: ser segurado da Previdência Social no
momento do evento incapacitante, a constatação da incapacidade total e definitiva para
atividade laboral que exercia e qualquer outra possível, cumprir período de carência de 12
meses, salvo exceções previamente citadas.
Deste modo, segundo o STJ o termo inicial é no dia seguinte à cessação do
benefício anteriormente concedido ou prévio requerimento administrativo, ou na ausência
deste, conta-se a partir da citação do INSS no processo judicial, sendo este a descrição da
Súmula nº 576 da Superior Corte.
O Benefício cessa se após perícia for constatada a sua melhora, também é
interrompida por morte do segurado, sendo direitos dos dependentes a concessão do
benefício de pensão por morte.
Todavia, após apresentar os dois benefícios por incapacidade, é necessário
explicar quando o temporário se converte em permanente, pois bem, este requerimento
pode ser feito judicialmente, visto que o segurado já deve ter passado por várias perícias e
concessões e cessações de benefícios.
Por fim, resta apenas comprovação de cumprimento dos requisitos para
concessão do benefício permanente, principalmente a incapacidade duradoura, com laudos
médicos e documentos comprobatórios.

III- ALTERAÇÕES CONFORME REFORMA DA PREVIDÊNCIA


Entre as mudanças está a mudança na forma de cálculo da Renda Mensal Inicial
– RMI do benefício por incapacidade permanente, pois antes da reforma da previdência de
2019 eram feitos a média dos 80% salários de contribuição desde 07/1994 (Início do Plano
Real), excluindo os 20% menores dos salários.
Após a Emenda Constitucional 103/2019 a contagem é realizada com base em
100% dos salários de contribuições, incluindo os 20% menores, incidência que resulta
numa redução significativa nos valores de benefícios.
Também é utilizado um coeficiente redutor de 60% mais 2% a cada ano
contribuído a mais do que o período obrigatório, sendo considerado tempo obrigatório 20
anos para homens e 15 para mulheres.
O auxílio por incapacidade temporária antes da citada EC era calculado com
base na média aritmética simples dos 80% maiores salários de contribuição, a partir de
julho de 1994, sendo também excluídos os 20% menores salários, semelhantemente como
ocorre com o benefício anteriormente citado.
Entretanto após a reforma RMI passou a ser de 91% do salário de benefício,
sendo expressamente vedado que este valor seja inferior a um salário mínimo, quando o
segurado é impossibilitado de exercer uma atividade.
Ademais, é evidente que diante dos desafios da atualidade, os segurados
necessitam de mais de um vínculo empregatício, ensejando um duplo pedido de benefício,
caso seja constatada a incapacidade para as duas funções, e neste caso o benefício
concedido pode ser inferior a um salário mínimo, porém a soma dos dois devem ser
superiores ao salário vigente.

IV- CONCLUSÃO
Conclui-se que os benefícios explicitados possuem uma relevância extrema para
aqueles que o recebem, porém a autarquia administradora tem adotado rigor ao analisar
os requerimentos.
Ao estabelecer periodicamente um prazo para revisão e reanalise de
cumprimento de requisitos para a sua manutenção, automaticamente de demonstrar se a
incapacidade é total ou parcial, ou se a temporária passou a ser permanente.
O chamado programa especial de análise de benefícios com índices de
irregularidade, popularmente conhecido como “pente fino” do INSS, ferramenta utilizada
para investigar e corrigir possíveis erros na concessão de benefícios, possibilitando
inclusive bônus aos servidores que encontram estas falhas.
Constatou-se também que houve mudanças na forma em que é calculado a RMI
de ambos os benefícios, que representaram redução significativa para o valor final recebido,
se comparado ao que estava vigente antes da EC 103/2019.
Notou-se que a necessidade de contribuição, denota uma das diretrizes cruciais
dos benefícios em geral, que é a contributividade obrigatória, caracterizando também a
chamada carência sendo está dispensada em alguns casos, como já foi explicitado.
Por fim, reitera o exposto acerca do fim do recebimento do benefício, que ocorre
quando não é constatada permanência da incapacidade e quando o segurado morre,
inclusive gerando o direito dos dependentes de pleitear uma pensão por morte.
Ressalta-se que o princípio da dignidade da pessoa humana é materializado
quando o segurado receber tais benefícios, pois as verbas que deixam de ser recebidas a
título de salário, causam déficit substancial para a manutenção da circulação de renda.
Portanto, é válido analisar as alterações citadas por duas visões: uma
objetificando a necessidade do segurado de se manter e prover financeiramente a sua
família, como ocorre em muitos casos, e pela ótica da autarquia que necessita fiscalizar
para coibir as fraudes previdenciárias que ao longo do tempo vem em ascensão.
Concluindo que se encontrado o meio termo entre concessão e monitoramento,
cumprimento dos preceitos fundamentais a vida e princípios protetores do erário, a
sociedade chegará à chamada satisfação da coletividade, interesse público e particular.
REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição Federal de 1988.


Disponível em:https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Acessado em 01/12/2022;

BRASIL. Código Civil.


Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm
Acessado em 03/12/2022;

BRASIL. Portaria Interministerial nº 2.998/2001


Disponível em: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/p2998.pdf
Acessado em 04/12/2022;

BRASIL.TAVARES, MARCELO L, Direito Previdenciário, Regime Geral da previdência


social e regras constitucionais dos regimes próprios de previdência, 2002, p.13.2;

BRASIL.CASTRO, Carlos Alberto Pereira de; LAZZARI, João Batista. Manual de direito
previdenciário. 10. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008;

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