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JOGO E APOSTA

CONCEITO E NATUREZA JURÍDICA

Com previsão nos arts. 814 a 817, trata-se de dois contratos diferentes, mas
que são tratados em conjunto em razão de suas afinidades.
O contrato de jogo é um negócio jurídico por meio do qual duas ou mais
pessoas prometem realizar determinada prestação a quem conseguir um resultado
favorável na prática de um ato em que todos participam. O sucesso ou o fracasso
dependerá necessariamente da inteligência, da habilidade, força ou sorte de cada sujeito,
chamado jogador.
Já o contrato de aposta é um negócio jurídico em que duas ou mais pessoas,
com opiniões diferentes sobre certo acontecimento, prometem realizar determinada
prestação àquela cuja opinião prevalecer. Na aposta não há participação ativa de cada
sujeito, chamado apostador, mas apenas a manifestação de uma mera opinião pessoal.
O que aproxima os dois institutos é: a figura da álea; a inexigibilidade das
prestações deles advindas; e a irrepetibilidade do pagamento efetuado por sua causa.
É o que se depreende o art. 814, caput. A doutrina critica o referido artigo
quando o mesmo ressalva a inexigibilidade e a irrepetibilidade apenas nos casos de dolo,
deixando de fora as demais hipóteses de vício de consentimento (erro, coação, lesão,
estado de perigo, fraude contra credores e simulação).
O §1º do referido artigo estende tais características a qualquer contrato que
encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo, harmonizando
a característica a inexigibilidade das prestações com os interesses de terceiros de boa-fé.
Apesar de tais características e da condição de obrigação natural (em que não
há exigibilidade judicial do conteúdo pactuado), quanto à natureza jurídica, tem
prevalecido na doutrina a ideia segundo a qual trata-se de figuras contratuais.
Isso porque a relação jurídica material existe e é válida, tenho apenas limitados
alguns dos seus efeitos pela lei, a qual se baseou num conceito social de que se tratam
de condutas indesejáveis, desagregadoras do ambiente familiar, pelo estabelecimento de
posturas viciadas e possibilidade de ruína do patrimônio dos envolvidos.
Em outras palavras, a produção limitada de efeitos não retira a natureza
contratual de um acordo de vontades para a produção de determinado resultado.
ESPÉCIES DE JOGO

O jogo pode ser classificado como ilícito (ou proibido) e lícito, subdividindo-se
este último em tolerados ou autorizados (legalmente permitidos). No primeiro caso, trata-
se de jogos vedados expressamente pela lei.
O Decreto-lei n. 3.688/41 elenca diversas condutas típicas nesse sentido
(contravenções), todas voltadas a práticas em que o resultado depende, única
exclusivamente, da sorte em lugar público ou acessível ao público. Ex: jogo do bicho,
roleta, dados etc.
Todavia, de forma contraditória, em nome dos princípios de ninguém poderá se
valer de sua própria torpeza bem como é vedado o enriquecimento indevido, reconhece-
se a validade do pagamento efetivado nos jogos proibidos, uma vez que decorre de ato
voluntário do pagador, e, consequentemente, da solutio retentio (credor de dívida tem o
direito de reter o que recebeu). E as “Casas de Bingo”? Trata-se de uma questão jurídica
tormentosa porque já foi permitida por lei (Lei n. 9.615/98 – Lei Pelé), que depois foi
revogada (pela Lei n. 9.981/00), e mais adiante proibida de vez pela Medida Provisória n.
168/04, mas que foi rejeitada pelo Senado.

O tema ficou relegado aos tribunais, de modo que o STJ tem entendimento
jurisprudencial no sentido da ilegalidade da prática e o STF tem precedente no mesmo
sentido. Todavia, no que se refere às modalidades lícitas, esclarece-se que o critério é de
exclusão, ou seja, é considerado jogo e aposta permitidos todos aqueles que não estão
proibidos por lei. Ex: corrida apostada entre amigos para ver quem chega primeiro; rifa
feita por uma comissão de formatura; carteado apostado entre membros da família. Há
verdadeira tolerância do ordenamento jurídico, pois, apesar de lícitos, não se admite a
produção total dos efeitos do negócio jurídico, gerando obrigações naturais.

Mas além da modalidade tolerada, há também os legalmente permitidos, nos


quais não há que se falar em obrigação natural, mas sim de obrigação juridicamente
exigível em todos os seus efeitos (§2º e 3º do art. 814). Ex: as diversas loterias
patrocinadas pelo Governo Federal através da CEF; competições esportivas; premiação
lícita prometida em emissoras de TV ou qualquer outro meio de divulgação (Goiás da
Sorte, Telesena, Festival de Prêmios etc). Em todas essas hipóteses há aplicação do
CDC.

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