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INTRODUÇÃO

O presente trabalho se presta a análise da aposentadoria por invalidez e sua


regulamentação, estabelecendo um estudo crítico e objetivo sobre os principais
aspectos da Lei n° 8.213 de 1991 que versa sobre os benefícios da previdência
social. Desse modo, a presente pesquisa se propõe a discutir sua aplicação e
consequências para os trabalhadores brasileiros e segurados do Regime Geral de
Previdência Social.

Nesse sentido, a escolha do tema é de grande relevância para o


entendimento e diferenciação com outros institutos previdenciários, desta forma, o
estudo pretende arquitetar uma melhor compreensão do benefício da aposentadoria
por invalidez.

Para melhor entendimento, o presente estudo primeiramente apresentará em


seu primeiro capítulo uma breve análise da proteção do benefício, diferença e
conceito em relação à incapacidade e deficiência, como também com outros
institutos previdenciários, passando à discussão de seus requisitos legais, como
carência e suas exceções, conceito de invalidez e doença pré-existente.

Além disso, a presente pesquisa expõe questões acerca do cálculo do


benefício da aposentadoria por invalidez, como também a respeito da assistência
permanente de outra pessoa, conhecida como “Grande Invalidez”.

Por fim, uma análise sobre os principais aspectos relevantes da Medida


Provisória n° 871 de 2019 convertida na Lei nº 13.846 de 2019, que versa sobre o
combate a irregularidades em benefícios previdenciários, e da Emenda
Constitucional nº 103, de 2019.

Para elaboração do presente estudo, foram utilizadas como pesquisa


documental, doutrina, legislação e análise de jurisprudência.

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I.a. RISCO PROTEGIDO

A aposentadoria por invalidez, proteção social e constitucional,


destinados aos trabalhadores e segurados do regime geral de previdência social,
protege o estado de vulnerabilidade e fragilidade das pessoas, que sofrem perda da
sua capacidade laborativa, situações de risco, aspectos relacionados à saúde, idade
e condições sociais, previsto no artigo 201º da Constituição Federal de 1988, que diz
o seguinte:

Art. 201º - A previdência social será organizada sob a forma de


regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória,
observados critérios que preservem o equilibro financeiro e atuarial, e
atenderá, nos termos da lei, a:

Inciso I – cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade


avançada;

Todavia, para concessão desse benefício, é preciso que seja


verificada, em regra, a incapacidade total e permanente para o exercício de uma
atividade profissional, conforme o artigo 42º e §1 da Lei n° 8.213 de 1991, dispõe
abaixo:

Art. 42º - A aposentadoria por invalidez, uma vez cumprida, quando


for o caso, a carência exigida, será devida ao segurado que, estando
ou não em gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e
insuscetível de reabilitação para o exercício de atividade que lhe
garanta a subsistência, e ser-lhe-á paga enquanto permanecer nesta
condição.

§1. A concessão de aposentadoria por invalidez dependerá da


verificação da condição de incapacidade mediante exame medico
pericial, a cargo da previdência social, podendo o segurado, ás suas
expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança.

Neste sentido, o setor médico da previdência será o responsável por


analisar que o segurado está ou não inválido, como assevera Hugo Goes:

Concluindo a perícia médica pela existência de incapacidade total e


definitiva para o trabalho, a aposentadoria por invalidez será
concedida. Todavia, havendo prognóstico de recuperação para outra
atividade anterior ou outra, o benefício a ser concedido deve ser o
auxílio-doença. (GOES, 2018, p.216).

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Desta forma, se faz necessário uma análise sobre a diferença e
conceituação desses dois institutos previdenciários, para compreender de maneira
clara e objetiva sua aplicação, conforme descrito abaixo.

I.b. DIFERENÇA ENTRE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ E AUXÍLIO-


DOENÇA

A aposentadoria por invalidez e o auxílio doença são espécies de


benefícios por incapacidade concedidos aos segurados do INSS.

A grande diferença existente entre o auxílio-doença e aposentadoria


por invalidez, está nós critérios adotados para concessão do beneficio, pontos
divergentes como incapacidade total permanente ou parcial, que são avaliados por
meio de perícia médica, em regra.

Na mesma linha de raciocínio, André Studart Leitão afirma que:

A diferença determinante entre os dois benefícios é o fato gerador: a


aposentadoria por invalidez será concedida ao segurado que for
considerado incapaz e insusceptível de reabilitação para o exercício
de atividade que lhe garanta a subsistência. (LEITÃO, 2018, p.279).

I.c. CONCEITO DE INCAPACIDADE E DEFICIÊNCIA

Sendo destarte, se faz relevante uma abordagem sobre o conceito de


incapacidade, para esclarecer eventuais dúvidas, nesse sentido;

De Plácido e Silva nos apresenta com clareza o conceito de


Incapacidade:

No conceito jurídico, a invalidez é tida como aquela que,


precipuamente, incapacita a pessoa para o exercício do cargo ou
função que desempenhava. É a incapacidade física para exercer o
trabalho ou serviço que lhe estava afeto. Nesse caso, será
permanente ou será transitória, segundo não possa mais exercê-los
ou, logo que se restabeleça, possa voltar ao serviço. (SILVA, 2012,
p.360).

Portanto, a mera doença não garante o direito ao benefício, desde que


possa executar as suas funções laborativas habituais. Desta forma, precisa haver

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uma particularidade entre doença e trabalho desenvolvido pelo segurado, verificando
seu impedimento para o labor.

Destaca-se o conceito de deficiência, sobre a ótica do Estatuto da


pessoa com deficiência artigo 2º da Lei nº 13.146 de 2015, que diz o seguinte:

Art. 2º - Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem


impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas.

Contudo, existem obreiros, segurados, pessoas, que nascem com


algumas limitações e possuem mutações parcialmente, malgrado seja, não obstam
sua capacidade plena laborativa, assim, em regra, não se aposentarão por invalidez.

I.d. RELAÇÃO ENTRE DEFICIÊNCIA E INCAPACIDADE

Dando continuidade à análise, uma pessoa deficiente, não significa que


seja incapaz para o labor, caso consiga exercer sua capacidade laborativa,
aposentará por tempo de contribuição da pessoa com deficiência, porém, quando o
portador da deficiência não consegue trabalhar, será beneficiário da aposentadoria
por invalidez e aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência,
nesse último caso, cumprindo os requisitos e prazos com relação ao tempo de
contribuição, conforme dispõe a Lei Complementar nº 142 de 2013 no artigo 3° e
seus incisos:

Art. 3 - É assegurada a concessão de aposentadoria pelo RGPS ao


segurado com deficiência, observadas as seguintes condições:

I - aos 25 (vinte e cinco) anos de tempo de contribuição, se homem,


e 20 (vinte) anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência
grave;

II - aos 29 (vinte e nove) anos de tempo de contribuição, se homem,


e 24 (vinte e quatro) anos, se mulher, no caso de segurado com
deficiência moderada;

III - aos 33 (trinta e três) anos de tempo de contribuição, se homem,


e 28 (vinte e oito) anos, se mulher, no caso de segurado com
deficiência leve; ou.

IV - aos 60 (sessenta) anos de idade, se homem, e 55 (cinquenta e


cinco) anos de idade, se mulher, independentemente do grau de
deficiência, desde que cumprido tempo mínimo de contribuição de 15
(quinze) anos e comprovada a existência de deficiência durante igual
período.

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Ressalta-se que, uma pessoa incapaz não precisa ser deficiente, dessa
maneira, inválido para o trabalho, não consegue exercer atividade laborativa,
permanente, será competente para pleitear o benefício da aposentadoria por
invalidez e não a aposentadoria por deficiência.

Assim, no tocante a aposentadoria por tempo de contribuição da


pessoa com deficiência, o indivíduo não precisa estar incapaz para o trabalho,
poderá estar apto, capaz de executar suas funções, basta comprovar os requisitos
necessários para concessão da aposentadoria.

Todavia, na aposentadoria por invalidez, o indivíduo, como segurado


da previdência social, não precisa provar tempo de contribuição para aposentar por
invalidez, somente a qualidade de segurado e a sua incapacidade laboral,
independentemente de o indivíduo possuir ou não alguma deficiência.

Por fim, podemos concluir que a incapacidade laboral e deficiência são


situações diferentes, gerando benefícios distintos.

I. REQUISITOS LEGAIS

Trata-se de benefício de caráter previdenciário, ou seja, exige a filiação


ao Regime Geral da Previdência Social – RGPS, mediante a condição de segurado
obrigatório ou o recolhimento de contribuições previdenciárias, cujo valor do salário
de contribuição deverá ser entre o salário mínimo e o teto previdenciário.

É um benefício devido ao segurado que, estando ou não em gozo de


auxílio-doença, for considerado incapaz para o trabalho e insusceptível de
reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, sendo o
benefício pago enquanto permanecer nessa condição.

Há requisitos objetivos e subjetivos. Os requisitos objetivos são a


carência e a qualidade de segurado. O requisito subjetivo é a incapacidade total e
permanente para o exercício de atividade laborativa que garanta a subsistência.

II.a. Objetivo:

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(i) Qualidade de segurado: Deve ser filiado ao Regime Geral de
Previdência Social – RGPS. Não ter decorrido o período de
graça entre o último recolhimento previdenciário e o evento
incapacitante.

(ii) Carência: Exigência ao segurado de recolher no mínimo 12


contribuições mensais, obrigatoriamente, com valor de salário de
contribuição entre salário mínimo e teto previdenciário, para
todos os segurados, e a partir da primeira contribuição sem
atraso para os segurados contribuinte individual e facultativo.

Entretanto, não há carência para aposentadoria por invalidez


decorrente de acidente de qualquer natureza ou de causa de doença profissional ou
do trabalho ou para os casos dos segurados especiais, ou que após a filiação ao
RGPS seja acometido de alguma das doenças e afecções especificadas em lista
elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Previdência Social, atualizada a cada
três anos, de acordo com os critérios de estigma, deformação, mutilação, deficiência
ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que mereçam tratamento
particularizado.

Enquanto não for elaborada a lista de doenças pela Previdência Social,


será utilizada a lista de doenças exemplificadas pelo legislador no artigo 151 da Lei
nº 8.213/91, quais são: tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose
múltipla, neoplasia maligna, cegueira, paralisia irreversível e incapacitante,
cardiopatia grave, doença de Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
grave, estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante), Síndrome da
Imunodeficiência Adquirida (AIDS), contaminação por radiação, com base em
conclusão de medicina especializada, hepatopatia grave ou contaminação por
radiação, com base em medicina especializada.

No caso do segurado especial, não haverá a necessidade de cumprir a


carência de 12 contribuições mensais, basta comprovar o exercício de atividade rural
nos 12 meses imediatamente anteriores ao mês do requerimento administrativo do
benefício.

II.b. Subjetivo

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Para a concessão do benefício da aposentadoria por invalidez deve ser
preenchido os requisitos da qualidade de segurado, carência e a incapacidade para
o exercício de atividade laborativa que desempenhava para garantir a subsistência
do segurado.

Nesta linha, é essencial diferenciar a incapacidade laborativa genérica


da específica, vez que a incapacidade laborativa genérica refere-se a incapacidade
para qualquer atividade laborativa, ou seja, caso consiga exercer outra atividade
laborativa remunerada que venha garantir a subsistência o benefício não será
concedido; por outro lado, há a incapacidade laborativa específica, na qual a
incapacidade será para a função que o segurado exercia habitualmente, ou seja, na
atividade que o segurado possua experiência profissional e no mercado de trabalho,
sob pena de tornar letra morta o dispositivo legal e, sob pena de forçar o segurado a
exercer atividade diversa dos conhecimentos e condições físicas, psíquicas e
intelectuais que possua.

A aposentadoria por invalidez pode ter como causa acidente ou doença


não relacionado ao trabalho, quando será considerada como invalidez
previdenciária; quando for relacionado a acidente de trabalho ou doença profissional
ou ocupacional, será considerada como invalidez acidentária.

No âmbito Administrativo, para a concessão do benefício da


Aposentadoria por Invalidez, deve ser feita a verificação da condição da
incapacidade, a qual dependerá de avaliação por exame médico pericial a cargo da
Previdência Social, podendo o segurado, às suas expensas, fazer-se acompanhar
de médico assistente de sua confiança.

Geralmente, o início da aposentadoria por invalidez ocorre após o


término do benefício do auxílio-doença. Contudo tal procedimento, não é tido como
regra, tendo em vista que o médico perito poderá avaliar que a incapacidade seja
total e permanente, neste caso, o segurado terá a concessão do benefício da
aposentadoria por invalidez independentemente da prévia concessão do benefício
do auxílio-doença.

Isso ocorre porque nem sempre a incapacidade que resulta na


insuscetibilidade de reabilitação possa ser constatada de plano, ao menos que as
lesões à integridade física ou mental do indivíduo sejam extremamente graves,
então, normalmente há a concessão do benefício do Auxílio-doença, como
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presunção de que a incapacidade seja temporária, porém, posteriormente, poderá
concluir-se que a incapacidade é permanente, mediante a avaliação ter observado a
impossibilidade de retorno à atividade profissional, assim transforma-se o benefício
inicial em aposentadoria por invalidez.

Constatado que a incapacidade do segurado seja total e temporária, o


início do benefício para o segurado empregado ocorrerá a partir do 16º dia de
afastamento, vez que os primeiros 15 dias serão custeados pela empregadora; para
as demais modalidades de segurados, o início do benefício ocorrerá na data do
início da incapacidade.

Após a concessão do Benefício da Aposentadoria por Invalidez,


concedido tanto pela via administrativa quanto pela via judicial, poderá o segurado
com menos de 60 anos de idade ser convocado para a realização de perícia médica
a ser realizada por médico indicado pela Previdência Social a fim de reavaliar a
condição da incapacidade. Importante ressaltar que, no evento concessão ou
reavaliação, a Previdência Social, por meio de seu médico perito, poderá exigir do
segurado a realização de tratamento médico adequado, porém não poderá exigir ou
obrigar o segurado à realização de intervenção cirúrgica ou transfusão de sangue
com fito de cessar o benefício.

Se por ventura, o segurado ao filiar-se ao RGPS já portar a doença ou


lesão, em regra, este não terá direito ao benefício de aposentadoria por invalidez, ao
menos que consiga provar que a incapacidade ou o agravamento do estado de
saúde/quadro clínico ou, ainda, a progressão da doença ou lesão tenham ocorrido
após à filiação ao RGPS.

Considerando o cerne do requisito subjetivo para a concessão do


benefício da aposentadoria por invalidez ser a incapacidade do segurado para o
trabalho sem perspectiva de reabilitação para o exercício de atividade capaz de lhe
assegurar a subsistência.

Considerando a possibilidade da concessão da aposentadoria por


invalidez decorrente ou não da concessão do auxílio-doença, ou seja não há a
obrigatoriedade da concessão do auxílio-doença e, posteriormente a concessão da
aposentadoria por invalidez, são benefícios que embora semelhantes em alguns
requisitos são distintos, vez que poderá haver casos do segurado que recebe o
benefício de auxílio-doença não tê-lo convertido em aposentadoria por invalidez,
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bem como haverá casos do segurado ser aposentado por invalidez diretamente, sem
ser afastado em auxílio doença.

O texto de lei ao exigir a incapacidade do segurado para o exercício de


atividade laborativa, esta incapacidade não se limita apenas a incapacidade de
saúde sob a óptica médica, mas uma incapacidade que o segurado esteja
acometido diante de fatores que o incapacitem de exercer atividade laborativa para a
sua subsistência, podendo ser de caráter psicológico e/ou social, os quais poderão
ter ou não relação com a incapacidade sob o crivo médico.

Vale ressaltar que o legislador determinou que o segurado deverá estar


incapacitado e sem possibilidade de reabilitação para o exercício de atividade que
lhe garanta a subsistência, considerando o indivíduo de modo global, ou seja,
considerando aspectos sociais, ambientais, pessoais, profissionais e culturais do
segurado. A visão ultrapassada de avaliar a incapacidade do segurado somente pela
visão médica e da saúde do segurado se limita apenas ao aspecto pessoal do
segurado.

Nesta linha, também se posiciona o Superior Tribunal de Justiça, cuja


corte detêm o entendimento acerca da desnecessidade da vinculação do magistrado
à prova pericial na área médica, se existente outros elementos nos autos aptos à
formação do seu convencimento, podendo, inclusive, concluir pela incapacidade
permanente do segurado em exercer qualquer atividade laborativa, não obstante a
perícia médica conclua pela incapacidade parcial.

A Corte Superior também firmou orientação de que para a concessão


de aposentadoria por invalidez, na hipótese do laudo pericial ter concluído pela
incapacidade parcial, devem ser considerados além dos elementos previstos no
artigo 42 da Lei nº 8.213/91, os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais
do segurado.

No âmbito dos Juizados, a Turma Nacional de Uniformização se


posicionou no sentido de que a incapacidade para o trabalho é fenômeno
multidimensional e não pode ser avaliada somente do ponto de vista médico,
devendo ser analisados também os aspectos sociais, ambientais e pessoais, ou seja
há a necessidade de avaliar a real possibilidade do segurado reingressar ao
mercado de trabalho.

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O entendimento da TNU decorre do posicionamento oriundo da
Organização Internacional do Trabalho e do Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana.

A perícia biopsicossocial já vem sendo aplicada nos casos de Benefício


Assistencial de Prestação Continuada – BPC/LOAS e se trata de uma perícia
complexa, onde o perito não se limita somente aos problemas de saúde ou
problemas do corpo do segurado/trabalhador, mas também considera seus aspectos
psicológicos e sociais.

A perícia biomédica é aquela que analisa a incapacidade física do


segurado, a perícia psicológica, por sua vez, analisará a incapacidade psicológica do
segurado, independente da primeira perícia. A perícia social, e não menos
importante, analisará as questões sociais que acometem o segurado, seja este
incapaz ou não física e psicologicamente.

Dessa forma, a perícia deve ser complexa, não bastando a perícia


médica para o fim a que se destina, quando tratamos de deferimentos nos
benefícios por incapacidade, em especial, nos benefícios de Aposentadoria por
Invalidez.

O médico perito, mesmo diante do amplo conhecimento na área


médica, deve também ter conhecimento nas áreas sociais a fim de constatar que a
doença que por si só não incapacitaria o segurado para as atividades laborais, são
incapacitantes a partir do momento que estes problemas de saúde vem em conjunto
com os aspectos sociais do indivíduo.

A doença em si pode não incapacitar o indivíduo para o trabalho,


porém, em determinados casos, outros aspectos fazem com que o segurado não
tenha outra opção, senão se socorrer da Previdência a fim de garantir a sua própria
subsistência.

II. CÁLCULO DA APOSENTADORIA POR INVALIDEZ

Para realização do cálculo do benefício da aposentadoria por invalidez


realiza-se a média dos 80% maiores salários de contribuição corrigidos

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monetariamente desde junho de 1994, sendo que o valor da aposentadoria
corresponde a 100% do salário do benefício, sem incidência do fator previdenciário.

Os artigos 29 e 44 da lei 8.213/91 são claros nesse sentido:

Art. 29. O salário-de-benefício consiste:

II - para os benefícios de que tratam as alíneas a, d, e e h do inciso I


do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários-de-
contribuição correspondentes a oitenta por cento de todo o período
contributivo.

Art. 44. A aposentadoria por invalidez, inclusive a decorrente de


acidente do trabalho, consistirá numa renda mensal correspondente
a 100% (cem por cento) do salário-de-benefício, observado o
disposto na Seção III, especialmente no art. 33 desta Lei.

Exemplo: Suponhamos que o segurado possua salário de benefício de R$ 1.000,00,


logo, sua RMI será equivalente, já que corresponde a 100% do salário do benefício.

“Salário de Benefício” = R$ 1.000,00

Renda Mensal Inicial = R$ 1.000,00

III.a. RMI da aposentadoria por invalidez quando precedida por auxílio


doença

Nos casos em que ocorre a transformação do auxílio-doença em


aposentadoria por invalidez, sem que haja período contributivo entre a concessão de
um benefício e outro, o cálculo da RMI da aposentadoria por invalidez será feito
levando-se em conta o mesmo salário de benefício utilizado no cálculo do auxílio-
doença.

Dessa forma, no caso da aposentadoria por invalidez ser concedida


imediatamente após o auxílio-doença, existindo período contributivo entre a
concessão de um benefício e outro, a renda mensal inicial será calculada conforme a
sistemática do §5º do artigo 29 da Lei nº 8.213/91.1 In verbis:

Art. 29. § 5º. Se, no período básico de cálculo, o segurado tiver


recebido benefícios por incapacidade, sua duração será
contada, considerando-se como salário-de-contribuição, no

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AIELLO, Maria Lucia. O Cálculo da Renda Mensal Inicial da Aposentadoria por Invalidez Precedida de Auxílio-
Doença. Disponível em http://www.lfg.com.br
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período, o salário-de-benefício que serviu de base para o
cálculo da renda mensal, reajustado nas mesmas épocas e
bases dos benefícios em geral, não podendo ser inferior ao
valor de 1 (um) salário mínimo.

Importante destacar que a aplicação do supracitado dispositivo deve


ser isenta de qualquer tendência restritiva e discriminatória.

III. GRANDE INVALIDEZ

A pessoa aposentada por invalidez faz jus ao recebimento de uma


majoração de 25% do benefício caso precise de um “acompanhante”, ou seja, de
uma outra pessoa que dê suporte para as atividades do dia a dia.

Importante salientar que o aumento de 25% do benefício pode chegar a


superar inclusive o teto previdenciário, não havendo limitações para o valor a ser
recebido.

A grande invalidez vem prevista no artigo 45 da lei 8.213/91. In verbis:

Art. 45. O valor da aposentadoria por invalidez do segurado que


necessitar da assistência permanente de outra pessoa será
acrescido de 25% (vinte e cinco por cento).
Parágrafo único. O acréscimo de que trata este artigo:
a) será devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite
máximo legal;
b) será recalculado quando o benefício que lhe deu origem for
reajustado;
c) cessará com a morte do aposentado, não sendo incorporável ao
valor da pensão.

A concessão do supracitado acréscimo depende da demonstração da


necessidade de assistência permanente, aferível somente com a postulação
administrativa ou judicial do segurado, bem como com o consequente exame
médico-pericial do INSS ou judicial.

Vale dizer que o anexo I do RPS traz um rol exemplificativo de


situações que implicariam na grande invalidez:

1 - Cegueira total.
2 - Perda de nove dedos das mãos ou superior a esta.
3 - Paralisia dos dois membros superiores ou inferiores.
4 - Perda dos membros inferiores, acima dos pés, quando a
prótese for impossível.

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5 - Perda de uma das mãos e de dois pés, ainda que a prótese
seja possível.
6 - Perda de um membro superior e outro inferior, quando a
prótese for impossível.
7 - Alteração das faculdades mentais com grave perturbação
da vida orgânica e social.
8 - Doença que exija permanência contínua no leito.
9 - Incapacidade permanente para as atividades da vida diária.

Tal acréscimo representa a necessidade de maiores despesas, pela


assistência de outra pessoa, mas é preciso ressaltar que o dinheiro faz parte do
benefício do segurado, não pertence ao assistente. O valor do acréscimo cessará
com a morte do segurado, não sendo incorporável ao valor da pensão por morte.2

IV. RECUPERAÇÃO DA CAPACIDADE DE TRABALHO

A aposentadoria por invalidez suspende o contrato de trabalho


(conforme art. 475 da CLT) e cessa com a recuperação da capacidade de trabalho.
Por tal razão, o aposentado por invalidez que retornar voluntariamente à atividade
terá sua aposentadoria automaticamente cancelada, a partir da data do retorno, nos
termos do artigo 46 da Lei nº 8.213/91, que prevê:

Art. 46. O aposentado por invalidez que retornar


voluntariamente à atividade terá sua aposentadoria
automaticamente cancelada, a partir da data do retorno.

Por sua vez, o artigo 475 da CLT preconiza:

Art. 475 - O empregado que for aposentado por invalidez


terá suspenso o seu contrato de trabalho durante o prazo
fixado pelas leis de previdência social para a efetivação do
benefício.
§ 1º - Recuperando o empregado a capacidade de trabalho e
sendo a aposentadoria cancelada, ser-lhe-á assegurado o
direito à função que ocupava ao tempo da aposentadoria,
facultado, porém, ao empregador, o direito de indenizá-lo por
rescisão do contrato de trabalho, nos termos dos arts. 477 e
478, salvo na hipótese de ser ele portador de estabilidade,

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DE CASTRO, Carlos Alberto Pereira e LAZZARI, João Batista. Manual de Direito Previdenciário. 21ª edição. São
Paulo: Editora Forense, 2019, página 864.
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quando a indenização deverá ser paga na forma do art.
497.
§ 2º - Se o empregador houver admitido substituto para o
aposentado, poderá rescindir, com este, o respectivo contrato
de trabalho sem indenização, desde que tenha havido ciência
inequívoca da interinidade ao ser celebrado o contrato.

Questão recorrente diz respeito ao alcance da regra do dispositivo


acima, no tocante a outros direitos do empregado que não o pagamento do salário.
O mais comum é o pedido de manutenção do plano de saúde em modalidade
empresarial, custeado pelo empregador, que muitas vezes é suprimido justamente
no período de concessão da aposentadoria por invalidez. Sobre o assunto, a
posição da jurisprudência é firme no sentido da ilicitude de tal procedimento,
inclusive no TST.

O segurado em gozo de aposentadoria por invalidez está obrigado, sob


pena de suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da
Previdência Social, a processo de reabilitação profissional por ela prescrito e
custeado, e a tratamento dispensado gratuitamente, exceto o cirúrgico e a
transfusão de sangue, que são facultativos, independentemente da idade. De acordo
com o parágrafo único do artigo 46 do Decreto 3.048/99, a periodicidade de
submissão do aposentado à perícia é bienal.

No entanto, o artigo 43, § 4º da Lei n. 8.213/91, acrescido pela Lei n.


13.457/2017, aduz:

Art. 43. A aposentadoria por invalidez será devida a partir do


dia imediato ao da cessação do auxílio-doença, ressalvado o
disposto nos §§ 1º, 2º e 3º deste artigo.
(...)
§ 4o O segurado aposentado por invalidez poderá ser
convocado a qualquer momento para avaliação das
condições que ensejaram o afastamento ou a
aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente,
observado o disposto no art. 101 desta Lei.

A Lei n. 13.063 de 30/11/2014, alterou o art. 101 da Lei n. 8.213/91


para isentar o aposentado por invalidez e o pensionista inválido beneficiários do
RGPS de se submeterem a exame médico-pericial após completarem 60 anos de
idade. A norma excetua as perícias médicas com as seguintes finalidades:
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1. Verificar a necessidade de assistência permanente de outra pessoa,
situação em que será concedido acréscimo de 25% sobre o valor do
benefício;
2. Verificar a recuperação da capacidade de trabalho, mediante
solicitação do beneficiário; subsidiar autoridade judiciária na
concessão de curatela.

Na hipótese de aposentadoria por invalidez deferida judicialmente e


posteriormente cassada, são dois entendimentos. Senão vejamos:

a. O cancelamento também deve ser por meio de ação judicial, nos


termos do artigo 471, inciso I, do CPC/1973 (artigo 505, I, do
CPC/2015) e em respeito ao princípio do paralelismo das formas:
REsp 1.201.503/RS, 6ª Turma, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, DJe de 26.11.2012; REsp 1.408.281/SC, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, DJe 07.03.2017;

b. Considera inaplicável o principio do paralelismo de formas para o


cancelamento dos benefícios, utilizando-se dos seguintes argumentos
(REsp 1.429.976/CE, 2ª Turma, Rel. Min. Humberto Martins, DJe
24.02.2014):

1) A legislação previdenciária, que é muito prolixa, não determina


essa exigência, não podendo o Poder Judiciário exigir ou criar
obstáculos à autarquia, não previstos em lei;
2) Foge da razoabilidade e proporcionalidade, uma vez que, por meio
do processo administrativo previdenciário, respeitando o devido
processo legal, o contraditório e a ampla defesa, é suficiente para
apurar a veracidade ou não dos argumentos para a
suspensão/cancelamento do benefício, e não impede uma posterior
revisão judicial;
3) A grande maioria dos benefícios sociais concedidos pela LOAS (Lei
n. 8.742/93, é deferida por meio de decisão judicial, o que
acarretaria excessiva demanda judicial, afetando o Poder
Judiciário, além da Procuradoria do INSS, necessidade de o
cidadão contratar defesa técnica sempre que houvesse motivos
para a revisão do benefício.

De qualquer forma, ficou assentado nesse último precedente do STJ


que é indispensável a observância do contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal, sempre que houver necessidade de revisão do benefício
previdenciário, por meio do processo administrativo previdenciário, impedindo com
isso o cancelamento unilateral por parte da autarquia, sem oportunizar apresentação
de provas que entender necessárias.

15
A aposentadoria por invalidez decorrente de ação judicial pode ser
submetida a procedimento de revisão a cada dois anos, na forma e condições
fixadas em ato conjunto com a Procuradoria-Geral Federal (artigo 223 da IN
INSS/PRES n. 77/2015).

A aposentadoria por invalidez não tem caráter irrevogável. Como a


incapacidade para o trabalho pode deixar de existir, em face de uma série de
fatores, a lei prevê a possibilidade de cessação do pagamento quando ocorrer o
retorno ao trabalho. É que a “Previdência Social Brasileira, há muitos anos,
abandonou o critério da irrevogabilidade da aposentadoria por invalidez que, no
direito anterior, se configurava pelo transcurso do tempo (cinco anos de manutenção
do benefício pelo órgão previdencial). Tal regra foi mitigada em favor do segurado,
quando atingir os 60 anos de idade, com base na Lei n. 13.063, de 30/11/2014.

A cessação do recebimento do benefício, uma vez constatada a


recuperação da capacidade de trabalho do aposentado, ocorre nos moldes do artigo
47 da Lei n. 8.213/91, que tem a intenção de permitir ao segurado o retorno gradual
ao mercado de trabalho para tornar a prover os meios necessários à sua
subsistência. O dispositivo prevê:

Art. 47. Verificada a recuperação da capacidade de trabalho do


aposentado por invalidez, será observado o seguinte
procedimento:

I - quando a recuperação ocorrer dentro de 5 (cinco) anos, contados


da data do início da aposentadoria por invalidez ou do auxílio-doença
que a antecedeu sem interrupção, o benefício cessará:

a) de imediato, para o segurado empregado que tiver direito a


retornar à função que desempenhava na empresa quando se
aposentou, na forma da legislação trabalhista, valendo como
documento, para tal fim, o certificado de capacidade fornecido pela
Previdência Social; ou

b) após tantos meses quantos forem os anos de duração do auxílio-


doença ou da aposentadoria por invalidez, para os demais
segurados;

II - quando a recuperação for parcial, ou ocorrer após o período do


inciso I, ou ainda quando o segurado for declarado apto para o
exercício de trabalho diverso do qual habitualmente exercia, a
aposentadoria será mantida, sem prejuízo da volta à atividade:

a) no seu valor integral, durante 6 (seis) meses contados da data em


que for verificada a recuperação da capacidade;

16
b) com redução de 50% (cinqüenta por cento), no período seguinte
de 6 (seis) meses;

c) com redução de 75% (setenta e cinco por cento), também por


igual período de 6 (seis) meses, ao término do qual cessará
definitivamente.

Assim, para os segurados empregados, urbanos ou rurais, uma vez


estando suspenso o contrato de trabalho e tendo sido verificada a recuperação total
da capacidade de trabalho, o benefício cessará de imediato, caso não tenham se
passado cinco anos entre a concessão do benefício e a recuperação.

Se a recuperação do segurado empregado for apenas parcial, e este


for considerado apto para função diversa da que exercia, ou aquele cuja “alta”
sobrevier em tempo posterior a cinco anos da concessão da benesse, então a estes
será assegurada a percepção do benefício por mais 18 meses, sem prejuízo do
retorno à atividade, sendo que, nos primeiros 6 meses da volta à ativa, o benefício é
pago integralmente, do 7º ao 12º mês é pago com redução de 50% em seu valor e,
nos 6 últimos meses (do 13º ao 18º mês) pago com redução de 75%. Esse período é
chamado de “Mensalidade de Recuperação”, uma vez que já houve alta médica pelo
INSS.

Aos empregados são aplicadas as regras do artigo 475 da CLT, ou


seja, o INSS emite um certificado de capacidade para o empregado postular seu
emprego de volta. Segundo a legislação trabalhista, o empregado que for
aposentado por invalidez, recuperando a capacidade de trabalho e sendo a
aposentadoria cancelada, terá direito a retornar para a função que ocupava ao
tempo da aposentadoria, facultado, porém, ao empregador o direito de indenizá-lo
em resilição contratual sem justa causa, salvo na hipótese de ser o empregado
portador de estabilidade, quando esta deve ser respeitada.

Diante da inaplicabilidade dos artigos 477, 478 e 497 da CLT, a partir


da adoção do FGTS como regime único de proteção do emprego contra a despedida
imotivada, há que se interpretar que o empregador que desejar dispensar o
empregado não estável pagará a indenização compensatória da dispensa imotivada
igual a 40% do montante dos depósitos do FGTS devidos no curso do contrato de
trabalho e, no caso de estável, pagará a indenização equivalente ao período de
garantia de emprego, mais a indenização de 40% do FGTS.
17
A Súmula n. 160 do TST aduz:

Súmula nº 160 do TST


Cancelada a aposentadoria por invalidez, mesmo após
cinco anos, o trabalhador terá direito de retornar ao
emprego, facultado, porém, ao empregador, indenizá-lo na
forma da lei.

Aos demais segurados aplica-se o seguinte: sobrevindo a recuperação


plena nos cinco anos subsequentes à concessão do benefício, a estes será
concedido o benefício ainda por tantos meses quantos foram os anos de duração do
auxílio doença ou da aposentadoria por invalidez. Já se a recuperação for parcial,
ocorrer após os cinco anos, ou o segurado for declarado apto para o exercício de
função diversa da que exercia antes da aposentação, aplicar-se-á a mesma regra da
supressão gradativa do benefício, em 18 meses.

É cediço que o aposentado por invalidez que retorna à atividade pode


requerer, a qualquer tempo, um novo benefício previdenciário, que será processado
normalmente. Ou seja, sobrevindo nova incapacidade ou implementando os
requisitos para outro benefício de aposentadoria, pode requerê-lo a qualquer tempo,
não havendo obrigação de prazo carencial entre os dois benefícios, ou
compensação de valores percebidos a título de aposentadoria por invalidez.

Cabe destacar que há decisões do STJ no sentido de ser possível a


cumulação de aposentadoria por invalidez e subsídio decorrente de exercício de
mandato eletivo, reconhecendo que a incapacidade para o exercício da atividade
profissional não significa necessariamente invalidez para os atos da vida política.
Neste sentido:

PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL.


APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CUMULAÇÃO COM
SUBSÍDIO DECORRENTE DO EXERCÍCIO DE MANDATO
ELETIVO. VEREADOR. POSSIBILIDADE. 1. Cinge-se a
controvérsia em estabelecer a possibilidade de recebimento de
benefício por invalidez, com relação a período em que o
segurado permaneceu no exercício de mandato eletivo. 2. A
Corte de origem decidiu a questão em acordo com a
jurisprudência do STJ de que não há óbice à cumulação da
aposentadoria por invalidez com subsídio decorrente do
exercício de mandato eletivo, pois o agente político não
mantém vínculo profissional com a Administração Pública,
exercendo temporariamente um munus público. Logo, a
incapacidade para o exercício da atividade profissional não
18
significa necessariamente invalidez para os atos da vida
política. 3. Recurso Especial não conhecido.
(RESP - RECURSO ESPECIAL - 1786643 2018.03.12868-7,
HERMAN BENJAMIN, STJ - SEGUNDA TURMA, DJE
DATA:11/03/2019, DTPB:.)

Comprovados os requisitos para a aposentadoria por invalidez e


sobrevindo o óbito do Autor no curso da demanda, é possível a conversão do
benefício em pensão por morte, não caracterizando julgamento ultra ou extra petita,
por ser benefício consequência daquele.

V. DA POSSIBILIDADE DE TRANSFORMAÇÃO DA
APOSENTADORIA POR INVALIDEZ EM APOSENTADORIA POR
IDADE

O artigo 55 do Decreto n. 3.048/99 preconiza que a aposentadoria por


idade poderia ser decorrente de transformação de aposentadoria por invalidez ou
auxílio doença, desde que requerida pelo segurado e observado o cumprimento da
carência exigida na data de início do benefício a ser transformado.

Ocorre que esse dispositivo foi revogado pelo Decreto n. 6.722 de


2008, impossibilitando essa transformação direta que muitas vezes representava um
acréscimo de renda em face da aplicação do fator previdenciário positivo.

Posteriormente, o artigo 212 da INS 45/2010 trouxe a seguinte


previsão:

Art. 212. É vedada a transformação de aposentadoria por invalidez


ou auxílio-doença em aposentadoria por idade para requerimentos
efetivados a partir de 31 de dezembro de 2008, data da publicação
do Decreto nº 6.722, de 2008, haja vista a revogação do art. 55 do
RPS.

Tal entendimento foi mantido na IN 77/2015, não obstante muitos a


considerarem inconstitucional, especialmente por não respeitar o direito adquirido
daqueles que implementaram o requisito para a aposentadoria por idade antes do
advento do Decreto n. 6.722/2008, mas que fizeram o requerimento após
30/12/2008.

A TNU entende, ainda, ser possível converter aposentadoria por idade


em aposentadoria por invalidez, conforme decisão transcrita abaixo:
19
Trata-se de incidente de uniformização nacional suscitado pela
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG,
pretendendo a reforma de acórdão da Turma Recursal de origem, que
condenou a autarquia ao pagamento de honorários advocatícios em favor
da Defensoria Pública da União. É o relatório. Preliminarmente, conheço
do agravo, tendo em vista o cumprimento dos requisitos de admissibilidade
e passo a analisar o pedido de uniformização. O recurso não comporta
provimento. Defende a tese de que a matéria objeto da controvérsia foi
pacificada no âmbito da Corte Superior, por meio do enunciado sumular n.
421, segundo o qual: "Os honorários advocatícios não são devidos à
Defensoria Pública quando ela atua contra a pessoa jurídica de direito
público a qual pertença". É o relatório. Não assiste razão à parte
requerente. A TNU, por meio do PEDILEF n. 5000977-50.2013.4.04.7000,
decidiu que: PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO.
MATÉRIA PROCESSUAL. DESCABIMENTO. INCIDÊNCIA DAS
SÚMULAS Nº 7 E 43 DA TNU. INCIDENTE NÃO CONHECIDO. 1. Trata-
se de Pedido de Uniformização contra acórdão proferido pela 1ª Turma
Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Paraná,
que negou provimento ao recurso do INSS e condenou o recorrente
vencido ao pagamento de honorários advocatícios. O acórdão proferido em
embargos de declaração negou provimento aos aclaratórios ao
fundamento de que: O embargante sustenta, em síntese, que é indevida a
condenação ao pagamento de honorários advocatícios quando a
defensoria Pública da União atua contra INSS, pessoa jurídica de direito
público que também está vinculada à União. Conheço dos embargos
porque tempestivos. No mérito, porém, nego-lhes provimento. Esta Turma
Recursal, ao julgar os EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM RECURSO
CÍVEL Nº 5027932-89.2011.404.7000, Rel. Juiz Federal Nicolau Konkel
Junior, em 13/11/2013, já decidiu no seguinte sentido: De acordo com a
súmula 421, do STJ, 'os honorários advocatícios não são devidos à
defensoria Pública quando ela atua contra pessoa jurídica de direito
público à qual pertença'. No presente caso, contudo, a defensoria Pública
da União prestou assistência jurídica à parte autora em face do INSS,
pessoas jurídicas distintas, de modo que não há que se falar na ocorrência
de confusão entre credor e devedor. Destaque-se, ainda, a existência de
autonomia orçamentária das autarquias federais em relação à União, nos
termos do disposto no art. 165, § 5º da Constituição Federal. Assim, deve
ser mantida a condenação quanto ao pagamento dos honorários
advocatícios. 2. Em seu incidente, o INSS alega que a decisão da origem
contraria a jurisprudência consolidada no âmbito do Superior Tribunal de
Justiça (Súmula 421 e REsp 1.199.715) no sentido de que os honorários
advocatícios não são devidos à Defensoria Pública quando ela atua contra
a pessoa jurídica de direito público à qual pertença. 3. Pedido de
uniformização admitido na origem. 4. A questão dos honorários
advocatícios destinados à Defensoria Pública da União já foi objeto de
análise por esta Turma na ocasião do julgamento do Pedilef 5026546-
24.2011.4.04.7000 (Relator Juiz Federal Paulo Ernane, j. 11/02/2015),
conforme ementa que segue: INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO
SUSCITADO PELO INSS. PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS PARA A DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO. MATÉRIA
PROCESSUAL. DESCABIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DA
TNU. INCIDENTE NÃO CONHECIDO. 1. Trata-se de Incidente de
Uniformização Nacional interposto pelo INSS em face de Acórdão da 3ª
Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do
Paraná que condenou a autarquia ao pagamento de honorários
advocatícios à parte vencedora, patrocinada pela Defensoria Pública da

20
União. 2. Aduz, em síntese, que o acórdão recorrido diverge da
interpretação firmada por jurisprudência dominante do STJ, uma vez que
esta preleciona não serem devidos os honorários advocatícios à
Defensoria Pública da União quando atua contra pessoa jurídica de direito
público da qual é parte integrante. Para demonstrar a alegada divergência
colacionou acórdãos do STJ, bem como ressaltou o enunciado sumular
nº421 de indigitada Corte. 3. Incidente foi admitido na origem, sem
fundamentação específica. 4. O incidente de uniformização, todavia, não
merece ser conhecido. 5. Dispõe o art. 14, caput e § 2º da Lei nº
10.259/2001 que caberá pedido de uniformização de interpretação de lei
federal quando houver divergência entre decisões sobre questões de
direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei. O
pedido de uniformização nacional, contudo, deve estar escorado em
divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou em
contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do e. Superior
Tribunal de Justiça. 6. In casu a questão controversa gravita em torno da
possibilidade, ou não, de condenação do INSS ao pagamento de
honorários advocatícios para a Defensoria Pública da União, fato
conducente à aplicação da Súmula nº 7 da TNU, qual seja: "Descabe
incidente de uniformização versando sobre honorários advocatícios por se
tratar de questão de direito processual" 7. Nesse sentido, também trago
recente ementa desta Corte Uniformizadora, publicada em 24/10/2014, de
relatoria da d. Juíza Federal Kyu Soon Lee, no PEDILEF
nº05014264520114058013: PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE
JURISPRUDÊNCIA FORMULADO PELO INSS. PREVIDENCIÁRIO E
PROCESSUAL CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. MATÉRIA
PROCESSUAL. DESCABIMENTO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7 DA
TNU. CONVERSÃO DE APOSENTADORIA POR
IDADE EM APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. POSSIBILIDADE.
INCIDENTE CONHECIDO E IMPROVIDO. [...] 8. Diante do exposto, não
conheço do incidente de uniformização. 5. Assim, voto pela reafirmação do
entendimento proclamado no julgamento referido e deixo de conhecer do
pedido de uniformização com amparo nas Súmulas 7 e 43, desta TNU."
Dessa forma, incide, à espécie, a QO 13/TNU: "Não cabe Pedido de
Uniformização, quando a jurisprudência da Turma Nacional de
Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais se
firmou no mesmo sentido do acórdão recorrido". Ante o exposto, com
fundamento no art. 8º, VIII, do RITNU, nego seguimento ao incidente.
Intimem-se.
(Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei (Presidência) 5004564-
63.2016.4.04.7101, MINISTRO RAUL ARAÚJO - TURMA NACIONAL DE
UNIFORMIZAÇÃO, 30/11/2017.)

Quanto à questão do recálculo da RMI (renda mensal inicial), não


havendo períodos intercalados de atividade laboral, aplica-se também a orientação
do STF, decorrente do julgamento da Repercussão Geral no RE 583.834/SC, que
afasta a possibilidade de aplicação do artigo 29, § 5º, da Lei n. 8.213/91 (RE
583.834/SC, Plenário, Rel. Min. Ayres Britto, DJe de 14.02.2012).

Questionamento importante é se poderia o segurado voltar a contribuir


para a previdência social e postular na sequência o novo benefício.

21
Vejamos em que hipóteses o retorno à atividade pelo aposentado por
invalidez encontra respaldo:

a) Caso tenha recuperado a capacidade laborativa e retornar


voluntariamente à atividade, a sua aposentadoria por invalidez
será automaticamente cancelada (art. 46 da Lei n. 8.213/91);
b) Caso o aposentado por invalidez se julgar apto a retornar à
atividade deverá solicitar a realização de nova avaliação
médico-pericial e somente depois da perícia médica do INSS
concluir pela recuperação da capacidade laborativa, a
aposentadoria será cancelada (art. 47 da Lei n. 8.213/91.

VI. PERÍCIA MÉDICA NOS BENEFÍCIOS POR INCAPACIDADE

A concessão de benefícios por incapacidade está sujeita, em regra, à


comprovação da incapacidade em exame realizado por médico perito da Previdência
Social, uma vez ultrapassado o lapso de quinze dias, cabendo à empresa que
dispuser de serviço médico próprio ou em convênio o exame médico e o abono das
faltas correspondentes aos primeiros quinze dias de afastamento, conforme o artigo
75, § 2º, da Lei n. 8.213/91.

Caso a empresa não possua médico ou convênio médico, ficará a


cargo do médico da Previdência, sindicato ou de entidade pública o fornecimento de
atestado.

No caso de segurados obrigatórios que não sejam empregados


urbanos ou rurais, o direito ao benefício decorre da existência de incapacidade para
as atividades habituais, não havendo que se falar em pagamento por empresa nos
primeiros 15 dias.

O artigo 75-A do Decreto n. 3.048/99 vem excepcionar a regra geral


acerca da perícia médica pelo INSS, autorizando que a Autarquia possa conceder o
benefício com base na documentação médica do segurado e pelo período indicado
pelo médico que o assistiu, conforme se verifica do artigo transcrito abaixo:

Art. 75-A. O reconhecimento da incapacidade para concessão ou


prorrogação do auxílio-doença decorre da realização de avaliação
pericial ou da recepção da documentação médica do segurado,
hipótese em que o benefício será concedido com base no período de
recuperação indicado pelo médico assistente. (Incluído
pelo Decreto nº 8.691, de 2016)

22
§ 1º O reconhecimento da incapacidade pela recepção da
documentação médica do segurado poderá ser admitido,
conforme disposto em ato do INSS: (Incluído pelo
Decreto nº 8.691, de 2016)
I - nos pedidos de prorrogação do benefício do segurado
empregado; ou (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de
2016)
II - nas hipóteses de concessão inicial do benefício quando o
segurado, independentemente de ser obrigatório ou facultativo,
estiver internado em unidade de saúde. (Incluído pelo
Decreto nº 8.691, de 2016)
§ 2º Observado o disposto no § 1º, o INSS
definirá: (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de 2016)
I - o procedimento pelo qual irá receber, registrar e reconhecer a
documentação médica do segurado, por meio físico ou eletrônico,
para fins de reconhecimento da incapacidade laboral;
e (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de 2016)
II - as condições para o reconhecimento do período de recuperação
indicado pelo médico assistente, com base em critérios estabelecidos
pela área técnica do INSS. (Incluído pelo Decreto nº 8.691,
de 2016)
§ 3º Para monitoramento e controle do registro e do processamento
da documentação médica recebida do segurado, o INSS deverá
aplicar critérios internos de segurança operacional sobre os
parâmetros utilizados na concessão inicial e na prorrogação dos
benefícios. (Incluído pelo Decreto nº 8.691, de 2016)
§ 4º O disposto neste artigo não afasta a possibilidade de o INSS
convocar o segurado, em qualquer hipótese e a qualquer tempo,
para avaliação pericial.

Importante destacar que a Lei n. 13.457/2017 incluiu o § 5º do art. 101


da Lei de benefícios, trazendo a possibilidade de requerer perícia domiciliar ou
hospitalar para segurados co dificuldade de locomoção, conforme dispositivo
transcrito abaixo:

Art. 101. O segurado em gozo de auxílio-doença, aposentadoria por


invalidez e o pensionista inválido estão obrigados, sob pena de
suspensão do benefício, a submeter-se a exame médico a cargo da
Previdência Social, processo de reabilitação profissional por ela
prescrito e custeado, e tratamento dispensado gratuitamente, exceto
o cirúrgico e a transfusão de sangue, que são
facultativos. (Redação dada pela Lei nº 9.032, de 1995)
(...)

§ 5o É assegurado o atendimento domiciliar e hospitalar pela


perícia médica e social do INSS ao segurado com dificuldades
de locomoção, quando seu deslocamento, em razão de sua
limitação funcional e de condições de acessibilidade, imponha-
lhe ônus desproporcional e indevido, nos termos do
regulamento. (Incluído pela lei nº 13.457, de 2017)

23
Para a caracterização da incapacidade do segurado, tanto na via
administrativa como na judicial, é imprescindível a produção de prova pericial por
médico que tenha domínio sobre a patologia em questão, não sendo possível ao
órgão decisório tomar a decisão sem permitir ao segurado a produção de tal prova.

Realizado o requerimento de benefício pelo segurado ou procurador,


seja pelo telefone, internet ou protocolo de requerimento por escrito, é designada
perícia, informando-se ao interessado a data, hora e local da perícia. Os exames
médico-periciais serão realizados no hospital ou no domicílio nos casos de
impossibilidade de locomoção do segurado, devidamente configurada.

Quando da data da perícia no INSS, deve o segurado levar consigo


toda a documentação médica que possuir relativa à enfermidade que o tornou
incapaz, desde o diagnóstico até os dias atuais, especialmente seu prontuário
médico. É que o prontuário médico é considerado, pelo Conselho Federal de
Medicina, como “decisivo em qualquer diagnóstico” que envolva a análise da saúde
do trabalhador (artigo 2º da Resolução n. 1.488/1998 do CFM).

Muitos problemas surgem na perícia do INSS com a falta de


apresentação de documentos médicos. Isso porque o perito fica sem subsídios para
constatar se existem ou não condições de a pessoa voltar ao trabalho. Se o
segurado não leva nada, o risco de indeferimento ou cessação do benefício por
incapacidade é grande.

Importante ressaltar que a concessão judicial de benefícios por


incapacidade não impede a revisão administrativa pelo INSS, mesmo durante o
curso da demanda judicial.

Frise-se ser possível recorrer na via administrativa do Laudo de Perícia


Médica do perito do INSS ou, ainda, judicialmente.

Tratando-se de perícia feita no órgão previdenciário, verifica-se ser


quase impossível exigir que o perito seja um especialista no ramo da Medicina que
envolve a enfermidade. Não obstante, incumbe ao perito identificar de forma precisa
o conjunto de atividades (tarefas, atribuições) desenvolvidas pelo segurado, e não
apenas se limitar a reproduzir o nome da função exercida, pois a conclusão acerca
24
da incapacidade para o trabalho habitual ou sobre o nexo de causalidade não pode
prescindir de tais informações.

O perito médico deve obrigatoriamente fixar a DID (data de início da


doença) e a DII (data de início da incapacidade) nos exames iniciais de concessão
de benefício por incapacidade, já que tais informações são essenciais para análise
de dispensa do período de carência ou em casos de doença com início anterior ao
ingresso no RGPS.

Acerca do resultado da perícia médica, existem quatro possibilidades


de conclusão de seu exame, segundo o Manual de Perícias do INSS:

Tipo 1 Contrária
Tipo 2 Data de Cessação do Benefício (DCB)
Tipo 3 Contrária (gravidez fisiológica)
Tipo 4 Data da Comprovação da Incapacidade (DCI)

A conclusão com DCB nos reexames de segurados aposentados por


invalidez poderá ocorrer nos casos de determinação legal ou quando houver
solicitação por parte do aposentado, visando a verificação da reaquisição da
capacidade parcial ou total para o exercício de sua ou de outra atividade.

Antes de proferir a conclusão médico-pericial é facultado à perícia


médica a requisição de exames complementares e especializados que julgar
indispensáveis, de acordo com as normas técnicas.

Da decisão decorrente do laudo o segurado será comunicado por via


postal, em regra. Se a decisão for favorável, indicará a espécie de benefício deferido
e a data de início do benefício (DIB). Se for desfavorável, indicará o motivo do
indeferimento (falta de incapacidade, ausência de qualidade de segurado ou
carência, por exemplo).

No âmbito judicial, o laudo pericial médico tem um grande peso, mas o


magistrado não está necessariamente vinculado ao resultado do exame técnico,
podendo apreciar todas as provas constantes dos autos para formar seu
convencimento, nos termos dos artigos 479 e 371 do CPC/2015:

25
Art. 479. O juiz apreciará a prova pericial de acordo com o disposto
no art. 371, indicando na sentença os motivos que o levaram a
considerar ou a deixar de considerar as conclusões do laudo,
levando em conta o método utilizado pelo perito.

Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos,


independentemente do sujeito que a tiver promovido, e indicará na
decisão as razões da formação de seu convencimento.

Neste sentido:

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AUSÊNCIA DE


VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC. APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ. INCAPACIDADE PARCIAL. CONSIDERAÇÃO DOS
ASPECTOS SÓCIO-ECONÔMICOS, PROFISSIONAIS E
CULTURAIS. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. O Tribunal de
origem deixou claro que, na hipótese dos autos, o autor não possui
condições de competir no mercado de trabalho, tampouco
desempenhar a profissão de operadora de microônibus. 2.
necessário consignar que o juiz não fica adstrito aos fundamentos e à
conclusão do perito oficial, podendo decidir a controvérsia de acordo
o princípio da livre apreciação da prova e do livre convencimento
motivado. 3. A concessão da aposentadoria por invalidez deve
considerar, além dos elementos previstos no art. 42 da Lei n.
8.213/91, os aspectos socioeconômicos, profissionais e culturais do
segurado, ainda que o laudo pericial apenas tenha concluído pela
sua incapacidade parcial para o trabalho. Precedentes das Turmas
da Primeira e Terceira Seção. Incidência da Súmula 83/STJ Agravo
regimental improvido.
(AGARESP - AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL - 384337 2013.02.71311-6, HUMBERTO MARTINS, STJ -
SEGUNDA TURMA, julgado em 01/10/2013, DJE DATA:09/10/2013
..DTPB:.)
VII. COMPETÊNCIA DAS AÇÕES JUDICIAIS DE APOSENTADORIA POR
INVALIDEZ

Os benefícios por incapacidade, destinados a assegurar a cobertura de


eventos causadores de doenças, lesões ou invalidez, encontram-se previstos na Lei
n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, nos arts. 42, 59 e 86, dependendo, para fins dos
benefícios de auxílio doença e aposentadoria por invalidez, da caracterização da
incapacidade ser temporária ou definitiva, mas sempre total.

Neste ponto, fixada a natureza acidentária da lesão sofrida pelo


segurado (benefício acidentário), cumpre destacar qual seria a justiça competente
para processar e julgar eventual demanda judicial.

É de conhecimento que a justiça federal é a competente para


processar e julgar as demandas propostas em face de Autarquias Federais.

26
Neste sentir, como o INSS, autarquia federal, é o responsável pela
gestão e administração dos benefícios previstos na Lei nº 8.213/1991, nada mais
intuitivo do que se afirmar a competência da justiça federal para o processamento
das demandas nas quais se pleiteiam benefícios por incapacidade.

Outrossim, no mesmo dispositivo constitucional que estabelece a


competência da justiça federal, ressai importante exceção para as demandas
decorrentes de acidentes de trabalho, vejamos o art. 109, da Constituição:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e


julgar:
I - as causas em que a União, entidade autárquica ou
empresa pública federal forem interessadas na condição
de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à
Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

Sob este parâmetro constitucional, tanto o Supremo Tribunal Federal,


quanto o Superior Tribunal de Justiça, possuem súmulas fixando a competência da
justiça estadual para julgar demandas que versem sobre acidentes de
trabalho, verbis:

STF SÚMULA 501


Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o
julgamento, em ambas as instâncias, das causas de
acidente do trabalho, ainda que promovidas contra a
União, suas autarquias, emprêsas públicas ou
sociedades de economia mista.

STJ SUMULA 15
Compete a justiça estadual processar e julgar os litígios
decorrentes de acidente do trabalho.

A jurisprudência atual também se orienta no mesmo vetor:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO


REGIMENTAL NO CONFLITO DE COMPETÊNCIA
INSTAURADO ENTRE JUÍZOS ESTADUAL E FEDERAL.
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. PENSÃO POR MORTE
DECORRENTE DE ACIDENTE DE TRABALHO.
ENTENDIMENTO REFORMULADO PELA 1ª SEÇÃO.
ART. 109, I, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULAS
501/STF E 15/STJ. PRECEDENTES DO STF E STJ.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL. AGRAVO
REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
27
1. Compete à Justiça comum dos Estados apreciar e
julgar as ações acidentárias, que são aquelas
propostas pelo segurado contra o Instituto Nacional
do Seguro Social, visando ao benefício, aos serviços
previdenciários e respectivas revisões
correspondentes ao acidente do trabalho. Incidência
da Súmula 501 do STF e da Súmula 15 do STJ.
2. Agravo regimental a que se nega provimento.
(STJ, AGRCC - AGRAVO REGIMENTAL NO CONFLITO
DE COMPETÊNCIA – 122703, Relator: MAURO
CAMPBELL MARQUES, órgão julgador: PRIMEIRA
SEÇÃO, fonte: DJE DATA:05/06/2013 ..DTPB:) –
destaquei

Portanto, compete à justiça estadual o julgamento dos benefícios


decorrentes de acidente do trabalho, e à justiça federal o julgamento dos benefícios
que não decorram de acidente do trabalho.

Esta conclusão ressai por deveras importante para aqueles que lidam
com a demanda previdenciária, tendo em vista o disposto no 109, §3º, da
Constituição Federal, autorizando aos segurados a propositura de ações no âmbito
da justiça estadual mesmo quando seja o caso de, em tese, e a princípio, deva ser
proposta a ação no âmbito da justiça federal, mas apenas nos casos em que a
comarca do local do domicílio do segurado ou beneficiário não seja sede de vara do
juízo federal.

Vejamos o citado dispositivo constitucional:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e


julgar:
(...)
§ 3º Serão processadas e julgadas na justiça estadual,
no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as
causas em que forem parte instituição de previdência
social e segurado, sempre que a comarca não seja sede
de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição,
a lei poderá permitir que outras causas sejam também
processadas e julgadas pela justiça estadual.

Em outros termos, é comum, em cidades do interior do país, como


forma de possibilitar o amplo acesso à justiça, que as demandas objetivando
benefícios por incapacidade sejam propostas na justiça estadual.

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De outra banda, acaso surja a necessidade de interposição de Recurso
de Apelação em face de sentença prolatada por juiz estadual, surge a necessidade
desta premissa acima estabelecida: acaso se trate de demanda previdenciária, o
recurso deve ser direcionado para o competente Tribunal Regional Federal; acaso
se refira à demanda acidentária, o respectivo apelo deverá ser direcionada ao
competente Tribunal de Justiça.

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BIBLIOGRAFIA e REFERÊNCIAS

Manual de Direito Previdenciário / Carlos Alberto Pereira de Castro, João Batista


Lazzari. – 21. Ed., ver., atual. E ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2018. Págs 855 a
871.

Prática Processual Previdenciária: administrativa e judicial / João Batista Lazzari,


Jefferson Luis Kravchychyn, Gisele Lemos Kravchychyn e Carlos Alberto Pereira de
Castro – 10. Ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2018. Págs 375 a 384

CASTRO, Carlos Alberto de, Manual de direito previdenciário/ Carlos Alberto Pereira
de Castro, João Batista Lazzari. – 19. ed. ver., atual. e ampl. – Rio de Janeiro:
Forense, 2016.

MIRANDA, Nina Maria Barba e Gouveia, Carlos Alberto Vieira de. A perícia
biopsicossocial nos requerimentos judiciais de aposentadoria por invalidez. Acesso
em 25/06/2019. Disponível em
<http://www.ambitojuridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=177
65>

SILVEIRA, Vinicius Loureiro da Mota. Parâmetros para estabelecer a competência


entre a Justiça Estadual e a Federal no julgamento de processos versando sobre
benefícios por incapacidade. Conteudo Juridico, Brasilia-DF: 08 jan. 2016. Disponivel
em: <http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.55019&seo=1>. Acesso
em: 21 jun. 2019.

AIELLO, Maria Lucia. O Cálculo da Renda Mensal Inicial da Aposentadoria por


Invalidez Precedida de Auxílio-Doença. Disponível em http://www.lfg.com.br

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