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PETIÇÃO INICIAL

Art. 319 do CPC

AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE IJUÍ

CARLOS MOURA, brasileiro, casado, agricultor, CPF e RG não


identificados, residente e domiciliado Vila Chorão, nº 00, Bairro
Interior, na cidade de Ijuí/RS CEP 98700-000, telefone número
(55) 99125-0423; por suas procuradoras signatárias, com
endereço profissional na Rua do Comércio, nº 1.000, na cidade
de Ijuí/RS, CEP 98700-000, telefone nº (55) 99116-1915, onde
recebem intimações; vem, respeitosamente, ajuizar

AÇÃO PREVIDENCIÁRIA DE
CONCESSÃO/RESTABELECIMENTO DE BENEFÍCIO POR
INCAPACIDADE C/C APOSENTADORIA POR INVALIDEZ, em
face de

INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS,


autarquia federal, na pessoa de seu representante legal, com
sede na Rua Benjamin Constant, nº 566, Bairro Centro, na
cidade de Ijuí/RS, CEP 98700-000, com endereço eletrônico
desconhecido; pelos fatos e fundamentos jurídicos e legais a
seguir expostos

I. DOS FATOS.

O Autor exerce a agricultura em regime de economia familiar, sendo que


atualmente contribui para a Previdência Social na forma de contribuinte individual.
Contudo, é portador de artrose pós-traumática de outras articulações (CID M 19.1)
no joelho e punho esquerdos, doença essa que o está impossibilitando de exercer
suas atividades laborais como agricultor.
Sem condições para exercer qualquer função que exija esforços e devido a
recomendação de afastamento do trabalho expressada pelo médico que o assiste, o
Autor requereu o benefício de auxílio-doença junto ao INSS, que lhe foi concedido
apenas até 30/01/2023.
Tendo em vista que, após essa data, o Autor continuou incapaz, ingressou
com novo pedido em 01/03/2023. Portanto, o novo pedido foi negado pela autarquia
previdenciária, pela “não constatação de incapacidade laborativa.”

II. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS E LEGAIS.

Nossa Constituição Federal de 1988, Documento norteador de nosso


ordenamento jurídico e da atuação do ente estatal, inicialmente, assim dispõe:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada


pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:

(...)

III - a dignidade da pessoa humana;

O citado princípio da dignidade humana pretende atribuir precipuamente


ao Estado a proteção dos sujeitos e a concretização de seus direitos básicos em
todas as esferas, compreendendo não só direitos de ordem individual, como a vida,
a intimidade e a propriedade, mas também os direitos de cunho social/coletivo,
conforme se extrai do art. 6º do mesmo Diploma Constitucional:

Art. 6º- São direitos sociais a educação, a saúde, a


alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o
lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência
aos desamparados, na forma desta Constituição.

No que se refere à data de início do benefício ora pleiteado, deve, tal, ser
concedido a contar da data do pedido administrativo negado, nos termos do art. 42,
da Lei 8.213/91:
Art. 42. A aposentadoria por invalidez, uma vez
cumprida, quando for o caso, a carência exigida,
será devida ao segurado que, estando ou não em
gozo de auxílio-doença, for considerado incapaz e
insusceptível de reabilitação para o exercício de
atividade que lhe garanta a subsistência, e ser-lhe-
á paga enquanto permanecer nesta condição.
§ 1º A concessão de aposentadoria por invalidez
dependerá da verificação da condição de
incapacidade mediante exame médico-pericial a
cargo da Previdência Social, podendo o segurado,
às suas expensas, fazer-se acompanhar de
médico de sua confiança.
Art. 43. A aposentadoria por invalidez será devida
a partir do dia imediato ao da cessação do auxílio-
doença, ressalvado o disposto nos §§ 1º, 2º e 3º
deste artigo.

Da mesma forma a Lei 8.213/91 dispõe no artigo 89 e seguintes, na


subseção II, Da Habilitação e da Reabilitação Profissional o seguinte:

Art. 89. A habilitação e a reabilitação profissional e social


deverão proporcionar ao beneficiário incapacitado parcial ou
totalmente para o trabalho, e às pessoas portadoras de
deficiência, os meios para a (re)educação e de (re)adaptação
profissional e social indicados para participar do mercado de
trabalho e do contexto em que vive.
Parágrafo único. A reabilitação profissional compreende:
a) o fornecimento de aparelho de prótese, órtese e
instrumentos de auxílio para locomoção quando a perda ou
redução da capacidade funcional puder ser atenuada por seu
uso e dos equipamentos necessários à habilitação e
reabilitação social e profissional;
b) a reparação ou a substituição dos aparelhos mencionados
no inciso anterior, desgastados pelo uso normal ou por
ocorrência estranha à vontade do beneficiário;
c) o transporte do acidentado do trabalho, quando necessário.
Art. 90. A prestação de que trata o artigo anterior é devida em
caráter obrigatório aos segurados, inclusive aposentados e, na
medida das possibilidades do órgão da Previdência Social, aos
seus dependentes.
Art. 91. Será concedido, no caso de habilitação e reabilitação
profissional, auxílio para tratamento ou exame fora do domicílio
do beneficiário, conforme dispuser o Regulamento.
Art. 92. Concluído o processo de habilitação ou reabilitação
social e profissional, a Previdência Social emitirá certificado
individual, indicando as atividades que poderão ser exercidas
pelo beneficiário, nada impedindo que este exerça outra
atividade para a qual se capacitar.
(....) § 1o  A dispensa de pessoa com deficiência ou de
beneficiário reabilitado da Previdência Social ao final de
contrato por prazo determinado de mais de 90 (noventa) dias e
a dispensa imotivada em contrato por prazo indeterminado
somente poderão ocorrer após a contratação de outro
trabalhador com deficiência ou beneficiário reabilitado da
Previdência Social.           (Redação dada pela Lei nº 13.146,
de 2015) 
§ 2o Ao Ministério do Trabalho e Emprego incumbe estabelecer
a sistemática de fiscalização, bem como gerar dados e
estatísticas sobre o total de empregados e as vagas
preenchidas por pessoas com deficiência e por beneficiários
reabilitados da Previdência Social, fornecendo-os, quando
solicitados, aos sindicatos, às entidades representativas dos
empregados ou aos cidadãos interessados.            (Redação
dada pela Lei nº 13.146, de 2015)
§ 3o  Para a reserva de cargos será considerada somente a
contratação direta de pessoa com deficiência, excluído o
aprendiz com deficiência de que trata a Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de
1o de maio de 1943.          (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)

Frise-se que nosso TRF da 4ª Região, em circunstâncias semelhantes à


do presente caso ora submetido ao crivo jurisdicional, tem entendido pela concessão
de auxílio-doença ou conversão em aposentadoria por invalidez ao segurado
possuidor das moléstias que o autor possui, veja-se:

EMENTA: DIREITO E PROCESSO PREVIDENCIÁRIO.


BENEFÍCIO POR INCAPACIDADE. VINCULAÇÃO RELATIVA
AO LAUDO. PROVA INDICIÁRIA. LOMBALGIA E
CERVICODORSALGIA CRÔNICAS. HERNIA DISCAL
LOMBAR. COMPROVAÇÃO. AUXÍLIO POR INCAPACIDADE
TEMPORÁRIA. SERVENTE DE PEDREIRO. JULGAMENTO
NA FORMA DO ART. 942 DO CPC. 1. O juízo não está adstrito
às conclusões do laudo médico pericial, nos termos do artigo
479 do NCPC (O juiz apreciará a prova pericial de acordo com
o disposto no art. 371, indicando na sentença os motivos que o
levaram a considerar ou a deixar de considerar as conclusões
do laudo, levando em conta o método utilizado pelo perito),
podendo discordar, fundamentadamente, das conclusões do
perito em razão dos demais elementos probatórios coligido aos
autos. 2. Ainda que o caderno processual não contenha
elementos probatórios conclusivos com relação à incapacidade
do segurado, caso não se possa chegar a uma prova
absolutamente conclusiva, consistente, robusta, é adequado
que se busque socorro na prova indiciária e nas evidências,
aplicando-se, em último caso, a máxima in dubio pro misero. 3.
Apesar de reconhecer a capacidade laboral, o laudo confirma a
existência da moléstia referida na exordial: Dorsalgia,
Transtornos de discos lombares e de outros discos
intervertebrais com radiculopatia, Outra degeneração
especificada de disco intervertebral, Lumbago com
ciática, Outras espondiloses com radiculopatias com crises
frequentes de dor intensa.   4. A documentação clínica
apresentada, associada às circunstâncias do caso e do
segurado: servente de pedreiro com 56 anos, demonstra a
efetiva incapacidade para o exercício da atividade profissional,
o que enseja, indubitavelmente, a concessão de auxílio por
incapacidade temporária, desde a DER, até a reabilitação para
outra atividade profissional que não demande esforço físico
demasiado.    (TRF4, AC 5009594-13.2019.4.04.9999, NONA
TURMA, Relator PAULO AFONSO BRUM VAZ, juntado aos
autos em 28/07/2021)

Diante do contexto fático e jurídico ora apresentado, pugna a parte autora


pelo acolhimento dos pedidos abaixo formulados, por medida de justiça e direito.

III. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA.


Dispõe o NCPC sobre a tutela de urgência, nos seguintes termos:

Art. 300.  A tutela de urgência será concedida


quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o
risco ao resultado útil do processo.
§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz
pode, conforme o caso, exigir caução real ou
fidejussória idônea para ressarcir os danos que a
outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução
ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada
não será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Ou seja, a concessão de tutela de urgência está condicionada à


verificação, in concreto, de dois requisitos: probabilidade do direito e perigo de dano
ou risco ao resultado útil do processo.

Quanto ao primeiro (probabilidade do direito), tem-se que este é cristalino,


visto que vários laudos e atestados médico apontam a incapacidade para o trabalho
que acomete a parte autora. Ademais, da análise da documentação trazida à
apreciação, denota-se que a parte autora preenche todos os requisitos estipulados
em lei para fazer jus ao auxílio-doença.

Desta forma, a concessão liminar de antecipação dos efeitos da tutela,


determinando ao INSS, desde já, que inicie o pagamento das parcelas a título de
auxílio-doença, mantendo-se até findar-se a presente demanda, o que é medida de
justiça.

Ademais, impende salientar que, considerando que em casos como o


presente, a prova pericial se faz insubstituível, a designação, em sede liminar, de
perícia médica-judicial, com a maior brevidade possível, é condição necessária para
comprovação das alegações nesta peça expendidas.
Por esses motivos, dado o caráter alimentar, bem como a necessidade de
custear tratamento médico e pela impossibilidade de o segurado exercer suas
atividades habituais e, consequentemente, prover o próprio sustento, deve ser
implantado do benefício de forma urgente a parte autora, pois presente se faz o
segundo requisito para concessão da liminar, qual seja a possibilidade de ineficácia
da medida, caso concedida somente ao final.

IV. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA.

A parte autora é economicamente hipossuficiente, não podendo arcar com as


custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios e periciais sem
prejuízo do próprio sustento e de sua família. Assim, faz jus ao benefício da
gratuidade de justiça, forte no art. 98 do CPC, o que desde já requer.
Junta aos autos comprovantes de renda, bem como Declaração de
Hipossuficiência assinada.

V. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO.

A parte autora manifesta interesse na realização da audiência preliminar de


conciliação.

VI. DAS PROVAS.

Requer demonstrar o alegado por meio de todas as provas em direito


admitidas, especialmente a prova pericial, que vai esclarecer as doenças apontadas
e sua incapacidade ao labor; a prova documental a ser juntada até o final da
instrução processual; o depoimento pessoal e a prova testemunhal, estas que
podem esclarecer o ambiente laboral da parte autora e sua impossibilidade de labor;
visto que a colheita das provas de tais natureza permitirão confirmar o estado de
incapacidade que acomete a parte autora e que reforçará o direito reclamado.

VII. DOS PEDIDOS.

Ante ao exposto, pede:


a) O deferimento liminar da Tutela de Urgência, determinando ao
INSS que restabeleça/conceda de imediato, à parte autora, as
verbas alimentares relativas ao benefício de auxílio por
incapacidade, até a confirmação da medida em sede de sentença,
seja de imediato marcada perícia médica-judicial para o autor, cujos
requisitos seguem anexos à presente inicial, requerendo, desde já, o
acompanhamento pelo profissional assistente que acompanha o
quadro clínico do autor;

b) A procedência da presente demanda, com a consequente


condenação do réu a concessão de um dos benefícios por
incapacidade, de acordo com o resultado médico (após perícia), em
conformidade com os pedidos sucessivos abaixo, com base no art.
289 do CPC, sem prejuízo de outros benefícios que V. Excelência
entenda devidos:
I – se Vossa Excelência entender que o requerente é portador de
incapacidade permanente apurado na perícia e também as
condições em razão da profissão que a parte autora está
permanente proibida de enfrentar, a concessão da aposentadoria
por incapacidade permanente, considerando-se como período inicial
a data do benefício cessado sem possibilidade de prorrogação em
01/03/2023 ou a contar da data que a prova produzida na instrução
processual averiguar a sua incapacidade;
II – alternativamente, se a perícia médica judicial assim entender
pela incapacidade temporária, a concessão do benefício por
incapacidade temporária, devendo o termo inicial ser também da
data de 01/03/2023, ou a partir da data que a prova produzida na
instrução processual averiguar a sua incapacidade;
III – ainda alternativamente ou cumulativamente, de acordo com o
resultado da perícia médica, atendendo o constante no artigo 89 e
seguintes, da Lei 8.213/91, deverá ser condenado o INSS ao
processo de reabilitação profissional da parte autora para o
enquadramento em outra atividade que lhe garanta a subsistência,
não podendo cessar o benefício até que seja dado como habilitado
para o desempenho de nova atividade ou, quando considerado não-
recuperável, for aposentado por invalidez;

c) A condenação do INSS a pagar todas as parcelas não pagas e ou


diferenças a contar da contestação da incapacidade laboral, sejam
vencidas e ou vincendas, que devem ser monetariamente corrigidas
desde o vencimento, bem como acrescidas de juros legais
moratórios, tudo até a data do efetivo pagamento.

VIII. DOS REQUERIMENTOS.

Diante do exposto, Requer:

a) A citação da autarquia previdenciária, na pessoa de seu


procurador, para, querendo, apresentar defesa no prazo legal sob
pena de incorrer nos efeitos da revelia;

b) A designação de Audiência de tentativa de conciliação, nos


termos do art. 319, VII do CPC;

c) O deferimento do benefício da Assistência Judiciária Gratuita.

IX. DO VALOR DA CAUSA.

Dá-se à causa o valor de R$ 17.056,20 (dezessete mil e cinquenta e seis


reais com vinte centavos)

Nesses termos, pede deferimento.

Ijuí, 04 de abril de 2023.

Advogado(a) – OAB

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