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Aposentadoria e Pensão

de servidores: Atualizações
conforme Emenda 103/2019
Introdução à Emenda Constitucional
nº 103/2019

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Módulo

Políticas Públicas
Fundação Escola Nacional de Administração Pública

Diretoria de Desenvolvimento Profissional

Conteudista/s
José Guilherme Magalhães e Silva (conteudista, 2022);
Diretoria de Desenvolvimento Profissional.

Enap, 2022
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Diretoria de Desenvolvimento Profissional
SAIS - Área 2-A - 70610-900 — Brasília, DF
Sumário
Unidade 1: Conceituando a EC nº 103/2019 e o RPPS dos Servidores
Civis da União.........................................................................................5

1.1 O que é a EC nº 103/2019........................................................................................... 5

1.2 O RPPS dos servidores civis da União....................................................................... 8

Referências ...................................................................................................................... 11

Unidade 2: Principais Tópicos da Emenda Constitucional nº 103/2019... 12

2.1 Alteração das regras de aposentadoria.................................................................. 12

2.2 Alteração do benefício de pensão por morte........................................................ 13

2.3 Proibição da criação de novos regimes próprios de previdência social e de novos


benefícios previdenciários, e obrigação da instituição de regime complementar. .......... 14

2.4 Novas alíquotas de contribuição previdenciária................................................... 15

Referências ...................................................................................................................... 18
Apresentação e Boas-vindas

O curso “Aposentadoria e Pensão de servidores: Atualizações conforme Emenda 103/2019”


é estruturado em quatro módulos.

No primeiro módulo, é apresentado um panorama geral com as principais alterações


ensejadas pela Emenda Constitucional (EC) nº 103/2019 (BRASIL, 2019a). No segundo
módulo, são apresentadas as regras de aposentadoria voluntária. No terceiro
módulo, são apresentadas as regras de aposentadoria por incapacidade permanente
e aposentadoria compulsória. No quarto módulo, são elencadas as normas aplicáveis
ao benefício de Pensão por morte.

O objetivo do curso não é esgotar o tema, uma vez que a reforma trata de uma enorme
quantidade de questões, assim, é recomendável ler o texto integral da Emenda após
encerrar esse curso, de forma a conhecer tópicos não abordados aqui. A proposta do
curso não é fazer uma defesa ou uma crítica da norma, mas sim apresentar, de forma
educativa, o novo regramento aplicável a esse tema de grande importância.

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Módulo

1 Introdução à Emenda
Constitucional nº 103/2019
Nesse módulo, você verá uma apresentação conceitual da Emenda Constitucional
(EC) nº 103/2019 (BRASIL, 2019a) e dos regimes de Previdência Social. Além disso, é
apresentado um panorama geral das alterações ensejadas por essa EC. A ideia aqui
é que você tenha uma noção do impacto da reforma sobre o modelo previdenciário
brasileiro. É importante destacar que o foco aqui são as mudanças referentes ao
Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) dos servidores civis da União. Entretanto,
sempre que possível, será indicada a aplicabilidade dos dispositivos aos servidores
de estados, Distrito Federal e municípios

Unidade 1: Conceituando a EC nº 103/2019 e o


RPPS dos Servidores Civis da União

Objetivo de aprendizagem

Ao final desta unidade, você será capaz de identificar a Reforma da Previdência como
uma emenda constitucional que alterou diversas disposições aplicáveis ao regime de
previdência social dos servidores civis da União.

1.1 O que é a EC nº 103/2019

Ao longo de sua vida, o brasileiro trabalha, mas sem perder de vista o momento
em que poderá migrar para a inatividade remunerada. É difícil não pensar também
nas dificuldades pelas quais passarão as pessoas que dependem economicamente
desse trabalhador caso, por uma infelicidade, este venha a falecer. Para garantir
a aposentadoria dos trabalhadores e os benefícios mensais daqueles que já não
podem prover suas próprias necessidades econômicas, a Constituição Federal
Brasileira prevê, dentre os direitos sociais, a previdência social.

De acordo com o art. 1º da Lei nº 8.213/1991:

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“A Previdência Social, mediante contribuição, tem por fim assegurar aos
seus beneficiários meios indispensáveis de manutenção, por motivo de
incapacidade, desemprego involuntário, idade avançada, tempo de serviço,
encargos familiares e prisão ou morte daqueles de quem dependiam
economicamente” (BRASIL, 1998).

Desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, foram publicadas diversas


emendas constitucionais que alteram o regulamento aplicável à previdência social.

De acordo com a Exposição de Motivos (EM) nº 29/2019/ME (BRASIL, 2019b), por


meio da qual o Ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou ao Presidente da
República, Jair Bolsonaro, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n.º 6/2019
(BRASIL, 2019c), tais alterações não foram o suficiente para reduzir as desigualdades
socioeconômicas e evitar o crescente déficit previdenciário, o que, segundo
esse mesmo documento, contribuiu para a explosão do endividamento público,
provocando um ambiente macroeconômico instável e ameaçando a subsistência
do sistema previdenciário brasileiro.

Para saber mais sobre a Exposição de Motivos (EM) nº 29/2019/


ME (BRASIL, 2019b), leia o texto, na íntegra, aqui.

O cenário descrito se dá em um contexto de transformação demográfica, com


a redução das taxas de mortalidade, diminuição da fecundidade e aumento
da expectativa de vida. Nesse sentido, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE, 2019), de 1940 a 2019, a esperança de vida do
brasileiro aumentou em 31,1 anos.

O Brasil vive uma transformação da pirâmide demográfica, marcada pelo


envelhecimento da população. Esse processo resulta em uma ameaça à
sustentabilidade do modelo previdenciário, eis que há cada vez mais pessoas
dependentes do benefício, diante de uma proporção menor de contribuintes ativos.
Há uma deterioração da relação entre contribuintes e beneficiários, de forma

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que, conforme disposto na referida Exposição de Motivos (BRASIL, 2019b), hoje há
uma relação de dois contribuintes para cada beneficiário, mas por volta da década
de 2050 haverá menos de um contribuinte para cada beneficiário.

Pirâmide demográfica da relação entre contribuintes e beneficiários.


Fonte: Elaboração: CEPED/UFSC

Assim, a PEC nº 6/2019 (BRASIL, 2019c), popularmente conhecida como “Reforma


da Previdência”, de autoria do Poder Executivo Federal, é apresentada como uma
resposta necessária às perspectivas de insustentabilidade e desequilíbrio dos
regimes geral e próprio de Previdência Social.

De acordo com a EM nº 29/2019 (BRASIL, 2019b), a ideia é instituir um modelo


sustentável e justo, onde cada brasileiro, de acordo com sua realidade econômica,
contribui para a continuidade da proteção previdenciária, equilibrando as finanças
e cooperando para um ambiente macroeconômico estável.

A PEC nº 6/2019 (BRASIL, 2019c), é apresentada para a deliberação do Congresso


Nacional em 20 de fevereiro de 2019, sendo objeto de um intenso debate político
até a aprovação. Em 13 de novembro de 2019 foi publicada, no Diário Oficial da
União, a Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro de 2019 (BRASIL, 2019a),
que alterou o sistema de previdência social e estabeleceu regras de transição e
disposições transitórias.

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Para saber mais sobre a Emenda Constitucional n.º 103 de 12 de
novembro de 2019 (BRASIL, 2019a), clique aqui.

A norma alterou parte dos regramentos aplicáveis ao Regime Geral de Previdência


Social (RGPS) e ao Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) dos servidores civis
da União, podendo estas inovações serem estendidas aos servidores de estados,
Distrito Federal e municípios. As alterações se referem, principalmente, aos
benefícios de Aposentadoria e Pensão por Morte.

1.2 O RPPS dos servidores civis da União

O modelo previdenciário brasileiro comporta diferentes regimes de previdência, que


se diferenciam no que diz respeito aos filiados, os benefícios previstos, os requisitos
para concessão etc.

Atualmente existem três possibilidades de regime diferentes.

(A) Regime Geral de Previdência Social (RGPS)

Sistema de repartição público, regido pela Lei nº 8.213/1991 (BRASIL, 1998) e


legislação complementar, e gerenciado pelo Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS), ao qual se encontram vinculados os trabalhadores do setor privado,
empregados públicos (funcionários de empresas estatais) e trabalhadores do setor
público não amparados por regime próprio de previdência social. É o regime com a
maior cobertura no Brasil, atendendo situações como incapacidade, idade avançada,
encargos da família, morte e reclusão.

(B) Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS)

A Constituição permite também a existência de regimes próprios de previdência


social (RPPS), aplicáveis aos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, e aos militares da União, Estados e do Distrito Federal, a
serem criados pelos próprios entes, na forma da Lei n.º 9.717/1998. A criação do
RPPS não é obrigatória, havendo entes federativos cujos servidores efetivos estão
submetidos ao RGPS. De acordo com a supracitada Exposição de Motivos (BRASIL,
2019b), em 2019 existiam no Brasil mais de 2.130 RPPS, incluindo o da União, de
todos os estados, de todas as capitais e de cerca de 2.080 municípios, cobrindo cerca
de 5,7 milhões de servidores ativos e 3,8 milhões de aposentados e pensionistas.

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(C) Regime de Previdência Comp (RPC)

Regime de caráter complementar e organizado de forma autônoma ao RGPS e aos


regimes próprios. O modelo é regulamentado pelas Leis complementares n.º 108 e
109, ambas de 2001. O objetivo do RPC é trazer segurança previdenciária adicional
àquela oferecida pela previdência pública. O RPC é organizado em segmento aberto
(planos de previdência oferecidos a qualquer indivíduo por bancos e seguradoras)
e fechado (fundos de pensão, nos quais os planos de benefícios são restritos
aos vinculados à empresa ofertante, órgão público ou membros de entidades de
classe instituidoras). Os servidores civis da União são atendidos por 3 entidades
fechadas de previdência complementar, denominadas Fundação de Previdência
Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe),
Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder
Legislativo (Funpresp-Leg) e Fundação de Previdência Complementar do Servidor
Público Federal do Poder Judiciário (Funpresp-Jud), criadas pela Lei n.º 12.618/2012.
A adesão ao RPC pelos servidores civis da União é obrigatória para os servidores
que ingressaram após 04 de fevereiro de 2013 e facultativa aos demais.

Agora você já conheceu as três diferentes possibilidades de regimes, o foco passa a


ser o objeto de estudo específico: o RPPS dos servidores civis da União.

Os servidores civis da União estão vinculados a Regime Próprio de Previdência Social


cuja normatização é prevista na Constituição Federal (e em suas emendas, como a
EC nº 103/2019), na Lei n.º 8.112/1990 e sua legislação complementar.

O regime próprio de previdência social dos servidores titulares de cargos efetivos


tem caráter contributivo e solidário, sendo custeado mediante contribuição do
respectivo ente federativo, de servidores ativos, de aposentados e de pensionistas,
observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial. Dessa forma,
as contribuições previdenciárias de servidores, aposentados e pensionistas custeiam
benefícios vigentes e garantem a sobrevivência do regime que deve lhes garantir
esses mesmos benefícios futuramente, caso cumpridos os requisitos.

O rol de benefícios dos regimes próprios de previdência social é composto da


seguinte forma de acordo com o art. 9º, §2º, da EC n.º 103/2019 (BRASIL, 2019a):

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Benefício Conceito

Aposentadoria Momento em que o contribuinte ativo migra para a situação de


inativo, voluntariamente, pelo advento da idade máxima permitida
ou, nos termos apresentados pela Reforma da Previdência, por
incapacidade permanente para o trabalho.

Pensão Benefício pago a familiares e/ou dependentes econômicos do


contribuinte, desde que configurada hipótese legal de concessão.
A duração e forma de cálculo do benefício dependem da
hipótese de concessão em que se enquadra o beneficiário e de
características do próprio ex servidor, denominado nesse caso
como instituidor do benefício, como o fato deste estar ou não
aposentado à época do óbito.

Benefícios dos regimes próprios de previdência social. Fonte: Brasil (2019a).


Fonte: Elaboração: CEPED/UFSC (2020).

As disposições da EC nº 103/2019 (BRASIL, 2019a) alteraram substancialmente o


regramento aplicável aos benefícios de aposentadoria e pensão do regime de
previdência dos servidores civis da União, principalmente no que se refere aos
requisitos para concessão e formas de cálculo. Assim, é fundamental que os
servidores busquem conhecer a reforma da previdência e os impactos que a sua
aprovação trouxe sobre seus benefícios.

Com isso você chegou ao fim do estudo desta unidade! Caso tenha dúvidas, retome
o estudo dos conteúdos já apresentados.

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Referências

BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro


de 2019. Altera o sistema de previdência social e estabelece regras de transição
e disposições transitórias. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 13 nov. 2019a.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/
emc103.htm. Acesso em: 25 jan. 2022.

BRASIL. Lei nº 8213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da


Previdência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 14
ago. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm.
Acesso em: 25 jan. 2022.

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tábua completa de


mortalidade para o Brasil – 2019 Breve análise da evolução da mortalidade no Brasil.
Rio de Janeiro, RJ, 2019. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
periodicos/3097/tcmb_2019.pdf. Acesso em: 08 fev. 2022

BRASIL. Ministério da Economia. Exposição de Motivos nº 00029, de 20 de fevereiro


de 2019. 2019b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Projetos/
ExpMotiv/REFORMA%202019/ME/2019/00029.htm. Acesso em: 25 jan. 2022.

BRASIL. Ministério da Economia. Proposta de Emenda À Constituição nº 6, de


20 de fevereiro de 2019. Modifica o sistema de previdência social, estabelece
regras de transição e disposições transitórias, e dá outras providências. .
Brasília, DF, 2019c. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/
prop_mostrarintegra;jsessionid=node0qekavst8snku1lyegw2ogauz927771417.
node0?codteor=1712459&filename=PEC+6/2019. Acesso em: 25 jan. 2022.

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Unidade 2: Principais Tópicos da Emenda
Constitucional nº 103/2019

Objetivo de aprendizagem

Ao final desta Unidade, a partir de uma leitura sobre os principais tópicos da Emenda
Constitucional (EC) nº 103/2019 (BRASIL, 2019a), você será capaz de identificar tópicos
dessa EC aplicáveis, de forma geral, aos benefícios de aposentadoria e pensão por morte.

A Emenda Constitucional (EC) nº 103/2019 (BRASIL, 2019a) não é conhecida como


uma “reforma” à toa. A norma alterou diversos pontos do regramento aplicável aos
filiados e beneficiários do Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e dos regimes
próprios de previdência social (RPPS) da União, estados, Distrito Federal e municípios.

A seguir, serão apresentados os principais tópicos da reforma aplicáveis ao RPPS


dos servidores civis da União, de forma que você entenda o tamanho do impacto da
EC nº 103/2019 (BRASIL, 2019a) sobre o regramento previdenciário brasileiro.

2.1 Alteração das regras de aposentadoria

Esse talvez seja o tópico de maior interesse por parte dos servidores federais, que
contribuem mensalmente para o RPPS com a expectativa de eventualmente migrarem
para a inatividade remunerada. Em síntese, a EC nº 103/2019 (BRASIL, 2019a):

• Altera a idade mínima para concessão de aposentadoria voluntária aos


servidores civis da União.

• Altera a forma de cálculo dos proventos de aposentadoria.

• Desconstitucionaliza os requisitos de tempo de contribuição, efetivo


serviço público e tempo no cargo, tema que agora deve ser regulamentado
por lei complementar. No caso dos servidores civis da União, devem ser
obedecidos os critérios estabelecidos pela própria EC nº 103/2019 (BRASIL,
2019a), enquanto não sobrevier lei complementar federal.

• Prevê regras de transição aplicáveis aos servidores civis da União que


tenham ingressado no serviço público até 12/11/2019 (véspera da publicação
da EC nº 103/2019).

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• Preserva o “direito adquirido” em favor dos servidores civis da União que
atendessem os requisitos para as regras anteriormente vigentes de
aposentadoria voluntária até 12/11/2019, o que se estende também ao
direito ao Abono de Permanência. Dessa forma, cumpridos todos os
requisitos para determinada regra até 12/11/2019, o servidor mantém o
direito a se aposentar ou requerer o Abono de Permanência com fulcro nas
regras anteriormente vigentes à publicação da reforma.

• Revoga, em relação aos servidores civis da União, as normas


anteriormente vigentes de aposentadoria, incluindo os arts. 2º e 6º da EC
nº 41/2003 (BRASIL, 2003) e art. 3º da EC nº 47/2005 (BRASIL, 2005), mas
preservando o direito adquirido, conforme citado anteriormente.

• Substitui a “Aposentadoria por Invalidez” pela “Aposentadoria por


Incapacidade Permanente”, medida excepcional, a ser adotada quando não
for possível a readaptação do servidor. Nesse sentido, a readaptação passa a
ser mais flexível, podendo ser designadas ao servidor atribuições diversas
daquelas ligadas ao cargo de origem, desde que compatíveis com a escolaridade,
habilitação e com as limitações físicas e intelectuais do interessado.

As mudanças são aplicáveis imediatamente aos servidores da


União. Em relação aos servidores de estados, DF e municípios,
devem ser aplicadas as normas anteriores à entrada em vigor
da EC nº 103/2019 (BRASIL, 2019a), enquanto não for publicada
norma de competência do respectivo ente subnacional.

2.2 Alteração do benefício de pensão por morte

A reforma também altera, profundamente, a forma de cálculo do benefício de


pensão por morte, bem como dispõe sobre hipóteses de acumulação. Veja a seguir
quais são essas alterações:

• É alterada a forma de cálculo do benefício de pensão por morte, que


agora passa a variar de acordo com a situação do instituidor do benefício à
época do óbito (se ativo ou aposentado), com o número de pensionistas
habilitados e com a existência ou não de beneficiário inválido ou com
deficiência intelectual, mental ou grave. Em regra, quanto maior o número
de beneficiários, maior será a cota do benefício a ser repartido em partes

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iguais pelos pensionistas, até o limite de 100% do valor (art. 23 da EC n.º
103/2019) (BRASIL, 2019a).

• Em hipótese de exclusão de beneficiário, fica vedada a reversão das cotas


aos demais pensionistas, sendo garantida, entretanto, a nova repartição
das cotas de acordo com o número de beneficiários (art. 23, §1º, da EC n.º
103/2019) (BRASIL, 2019a).

• O benefício de pensão passa a poder ser inferior a um salário mínimo.


O piso do salário mínimo só é garantido quando se tratar da única fonte de
renda formal (art. 40, §7º, da CF88, com a nova redação dada pela EC n.º
103/2019) (BRASIL, 2019a).

• Há limitações à acumulação de pensões de cônjuge ou companheiro


com outros benefícios previdenciários. Em determinadas hipóteses, o
pensionista vai fazer jus ao valor integral do benefício de maior valor e a
uma parcela do benefício de menor valor, garantida a possibilidade de
revisão em caso de alteração dos valores dos benefícios (art. 24, §§1º e 2º,
da EC n.º 103/2019) (BRASIL, 2019a). Já a acumulação de duas pensões de
cônjuge ou companheiro no âmbito do mesmo regime de previdência
social só será admitida caso cumpridos, cumulativamente, os seguintes
requisitos: a) sejam do mesmo instituidor; b) sejam decorrentes do exercício
de cargos acumuláveis na forma do art. 37, XVI, da Constituição Federal (art.
24, caput, da EC n.º 103/2019) (BRASIL, 2019a).

Tais normas são aplicáveis aos óbitos ocorridos a partir de 13/11/2019


(data da publicação da reforma). Caso o óbito tenha ocorrido
anteriormente, deve ser aplicada a legislação em vigor à época.

2.3 Proibição da criação de novos regimes próprios de previdência


social e de novos benefícios previdenciários, e obrigação da
instituição de regime complementar.

Um pilar da reforma da previdência é a criação de um novo modelo previdenciário


capitalizado e equilibrado, destinado às próximas gerações segundo o item 13 da
Exposição de Motivos nº 29/2019/ME (BRASIL, 2019b). Assim, a EC n.º 103/2019 veda
a criação de novos regimes próprios e estimula a criação de regimes de previdência
complementar, assim como explicitado a seguir:

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• Fica vedada a instituição de novos regimes próprios de previdência
social, por qualquer ente federativo (art. 40, §22, da CF88, incluído pela
EC nº 103/2019) (BRASIL, 2019a).

• Lado outro, ficam os entes federados obrigados a instituir Regime de


Previdência Complementar (RPC) no prazo de 2 anos a partir da entrada
em vigor da reforma (art. 9º, §6º, da EC nº 103/2019) (BRASIL, 2019a). A
União se encontra em dia com tal obrigação, tendo instituído seu RPC por
meio da Lei nº 12.618/2012.

• Além disso, a reforma limita o rol de benefícios dos regimes próprios


de previdência social às aposentadorias e à pensão por morte (art. 9º,
§2º, da EC nº 103/2019) (BRASIL, 2019a). Outros benefícios que já existam
passam a ser considerados como benefícios estatutários (e não mais
previdenciários), devendo correr por conta do tesouro dos entes
federativos e não à conta do RPPS.

Tais normas são aplicáveis imediatamente à União, estados,


DF e municípios.

2.4 Novas alíquotas de contribuição previdenciária

Anteriormente à publicação da EC nº 103/2019 (BRASIL, 2019a), a contribuição


previdenciária correspondia a 11% da base de cálculo. A reforma alterou o
modelo de cálculo da contribuição previdenciária dos filiados ao RPPS dos
servidores civis da União.

A referida EC altera esse modelo, prevendo alíquotas progressivas, de forma que


quem ganhe mais pague mais. A tabela abaixo informa as alíquotas aplicadas em
2021, conforme Portaria SEPRT/ME nº 636/2021 (BRASIL, 2021).

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SALÁRIO-CONTRIBUIÇÃO ALÍQUOTAS

Até um salário mínimo (R$1.100,00) 7,5%

De R$ 1.100,01 até R$ 2.203,48 9%

De R$ 2.203,49 até R$ 3.305,22 12%

De R$ 3.305,23 até R$ 6.433,57 14%

De R$ 6.433,58 até R$ 11.017,42 14,5%

De R$ 11.017,43 até R$ 22.034,83 16,5%

De R$ 22.034,84 até R$ 42.967,92 19%

Acima de R$ 42.967,92 22%

Alíquotas Progressivas baseadas no salário. Fonte: Portal do


Governo Federal (2022). É importante saber que:
Fonte: Elaboração: CEPED/UFSC (2022).

É importante saber que:

• Tais alíquotas não incidem sobre a totalidade da remuneração, mas


sim sobre cada faixa de remuneração.

• Essas alíquotas valem para todos os servidores da União, inclusive para


quem ingressou na carreira após a instituição do RPC. Entretanto, para
servidores que ingressaram após esse marco (04/02/2013 para os servidores
do Executivo e 07/05/2013 para servidores do Legislativo Federal), tendo
em vista que a contribuição previdenciária se limita ao teto do RGPS, a
progressividade terá como teto de contribuição o limite máximo dos
benefícios do RGPS. Assim, para esse grupo de servidores, a alíquota mais
elevada não ultrapassará 14%.

• Além disso, a reforma revogou o art. 40, §21, da CF88, que dispunha que
a contribuição previdenciária sobre proventos de Aposentadoria e Pensão
por morte incidiria apenas sobre a parcela que exceder o dobro do teto
estabelecido para os benefícios do RGPS, quando o beneficiário se tratasse
de portador de doença incapacitante (BRASIL, 1988). Ou seja, até a publicação
da reforma, aposentados e pensionistas portadores de doença incapacitante,
que recebiam proventos que não excediam o dobro do teto do RGPS não
tinham desconto de contribuição previdenciária. Tal benefício foi revogado.

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16
A publicação da EC nº 103/2019 (BRASIL, 2019a) criou dúvidas
entre os interessados e aplicadores do direito sobre a entrada
em vigência de suas inovações e sobre a aplicabilidade a
estados, DF e municípios. Assim, o Ministério da Economia
publicou a Nota Técnica SEI nº 12212/2019/ME (ME, 2019),
de 22/11/2019, com a análise das regras constitucionais da
reforma previdenciária aplicáveis aos RPPS.

Clique aqui para conferir uma síntese das conclusões apresentadas.

Ao chegar até aqui você finalizou o estudo desta unidade! Acesse a atividade
avaliativa no ambiente virtual de aprendizagem para refletir sobre o que foi
apresentado até aqui.

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Referências

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF: Centro Gráfico, 1988.

BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 103, de 12 de novembro


de 2019. Altera o sistema de previdência social e estabelece regras de transição
e disposições transitórias. Diário Oficial da União. Brasília, DF, 13 nov. 2019a.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/
emc103.htm. Acesso em: 25 jan. 2022.

BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de


2003. Modifica os arts. 37, 40, 42, 48, 96, 149 e 201 da Constituição Federal, revoga
o inciso IX do § 3 do art. 142 da Constituição Federal e dispositivos da Emenda
Constitucional nº 20, de 15 de dezembro de 1998, e dá outras providências. Diário
Oficial da União. Brasília, DF, 31 dez. 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.
br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc41.htm. Acesso em: 25 jan. 2022.

BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 47, de 05 de julho de


2005. Altera os arts. 37, 40, 195 e 201 da Constituição Federal, para dispor sobre
a previdência social, e dá outras providências. Diário Oficial da União. Brasília,
DF, 06 jul. 2005. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
emendas/emc/emc47.htm. Acesso em: 25 jan. 2022.

BRASIL. Ministério da Economia. Exposição de Motivos nº 00029, de 20 de fevereiro


de 2019. 2019b. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Projetos/
ExpMotiv/REFORMA%202019/ME/2019/00029.htm. Acesso em: 25 jan. 2022.

Brasil. Ministério da Economia. Portaria oficializa reajuste de 5,45% nos valores de contribuição
dos servidores da União. Portal gov.br, 2021. Acesso em: 31 jan. 2022

BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Previdência e Trabalho.


Portaria nº 636, de 13 de janeiro de 2021. Dispõe sobre o reajuste dos valores
previstos nos incisos II a VIII do § 1º do art. 11 da Emenda Constitucional nº 103,
de 12 de novembro de 2019, que trata da aplicação das alíquotas da contribuição
previdenciária prevista nos arts. 4º, 5º e 6º da Lei nº 10.887, de 18 de junho de 2004.
(Processo nº 10133.100018/2021-91). Diário Oficial da União. Brasília, DF, 14 jan.
2021. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-seprt/me-n-636-
de-13-de-janeiro-de-2021-298903520. Acesso em: 26 jan. 2022.

MINISTÉRIO DA ECONOMIA. SEI 12212: ANÁLISE DAS REGRAS CONSTITUCIONAIS DA


REFORMA PREVIDENCIÁRIA APLICÁVEIS AOS REGIMES PRÓPRIOS DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
DOS ENTES FEDERADOS SUBNACIONAIS. Brasília: Ministério da Economia, 2019. 38 p.

Enap Fundação Escola Nacional de Administração Pública


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