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Direito da

Seguridade Social

Profª. Fernanda Mauri Borges


Introdução a Seguridade Social

Na história da humanidade, o ser humano sempre se preocupou


com a segurança para desfrutar de uma existência digna e tem se
adaptado no sentido de reduzir os efeitos das adversidades da vida,
como morte, invalidez, doença, velhice.

O atual ordenamento jurídico, ao dispor sobre proteção social,


procurou concretizar os anseios do ser humano com relação à
prevenção contra os infortúnios que está sujeito. Assim, quando o
ser humano estiver em risco social terá assegurada a proteção
necessária.

A proteção social vem se modificando conforme o passar do


tempo, tornando forma e adquirindo consistência. A Previdência é
resultado de um processo de evolução as sociedades e do Estado.
Evolução História

 Assistencialismo
 Voluntariado
 Seguro Social
 1923 – Marco da Previdência Social – Lei Eloy Chaves – CAPS
 1933 – IAPS
 1960 – LOPS
 1966 – INPS
 1977 – SINPAS
 1988 – Constituição Federal – Seguridade Social
 1990 - INSS
A primeira fase dessa evolução histórica é chamada de
assistencialismo, fundamentada na caridade e benemerência. O
seu início ocorreu no seio da família, quando as pessoas se
cuidavam mutuamente, os mais jovens cuidando dos mais velhos.

Entretanto, tal proteção era insuficiente, sendo necessário auxílio


externo, o qual ocorreu com a ajuda voluntária de terceiros. Esse
auxílio voluntário preencheu de forma importante a lacuna da
proteção familiar, situação esta que ocorre até os dias atuais. Esta
segunda fase chamamos de voluntariado.

Logo após do voluntariado surgem os grupos de mútuos, grupos de


pessoas que se uniam com o objetivo de contribuir com
determinado valor para resguardar a todos das adversidades da
vida.
Com o tempo, o Estado passa a assumir alguma parcela de
responsabilidade pela assistência de desprovidos, até chegar à
criação de um sistema securitário estatal. A participação estatal na
proteção social propicia uma diminuição das desigualdades sociais.

Mas somente em 1883, na Alemanha, que o Direito Previdenciário


tornou-se concreto. O chanceler da Alemanha, Otto Von Bismarck,
por meio de uma lei, introduziu a obrigatoriedade do seguro-
doença em favor dos operários que, logo após, foi seguido pelo
seguro de acidentes de trabalho e pelo seguro invalidez e doença.

Foi a primeira vez em que houve a proteção garantida pelo Estado,


funcionando este como arrecadador de contribuições cobradas
compulsoriamente dos participantes do sistema securitário.

Assim, chegamos na fase do Seguro Social.


Em 1923, por meio do Decreto n. 4.682, projeto do Deputado
paulista Eloy Chaves (LEC) é criada a primeira Caixa de
Aposentadoria e Pensão (CAP) para empregados de empresas
ferroviárias, estabelecendo assistência médica, aposentadoria e
pensões, válidas inclusive para seus familiares, sendo considerado o
marco inicial da previdência, visto que foi o primeiro sistema de
seguro social estendido a uma determinada clientela.

Em 03 anos, a lei seria estendida para trabalhadores de empresas


portuárias e marítimas.

Na década de 1930, pela promulgação de diversas normas, os


benefícios sociais foram sendo implementados para a maioria das
categorias de trabalhadores, dos setores público e privado. Foram
criados, também, seis institutos de previdência, responsáveis pela
gestão e execução da seguridade social brasileira, os antigos IAPs –
Institutos de Aposentadorias e Pensões.
Em 1934, pela primeira vez os direitos previdenciários são
mencionados expressamente na CF, determinando a tríplice forma de
custeio, em que empregadores, empregados e Governo deveriam
contribuir para o sistema previdenciário.

Em 1960 é publicada a Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS),


onde foi criada um sistema de lei única dos IAPs. Trazendo o conceito
de beneficiário, dependentes e assegurados.

Em 1966 o Decreto-lei n. 72 unificou de vez as instituições


previdenciárias, criando como organismo único em seu lugar o
Instituto Nacional da Previdência Social (INPS). Aqui houve a
unificação dos institutos de aposentadorias e pensões.

Em 1977 houve a criação do SINPAS – Sistema Integrado Nacional


de Previdência e Assistência. Foi criado vários órgãos onde cada um
ficava responsável para cada setor de proteção social.
O SINPAS tinha a finalidade de integrar:

• o INPS – Instituto Nacional de Previdência Social, em relação às prestações


pecuniárias (benefícios);
• o INAMSP – Instituto de Assistência Médica da Previdência Social, em relação à
assistência médica (como se fosse o SUS, mas para aqueles que contribuíram);
• a LBA – Legião Brasileira de Assistência, em relação à Assistência Social (hoje
é a Assistência Social);
• a FUNABEM – Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (assistência ao
menor, hoje a Casa do Menor);
• o IAPAS – Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência
Social, em relação à administração financeira e patrimonial (custeio – como hoje
quem faz é a Receita Federal);
• a CEME – Central de medicamentos, em relação à distribuição de medicamentos
às pessoas carentes (hoje quem distribui é o SUS e, em regra, para todos);
• e a DATAPREV – Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social,
responsável pelos serviços de processamento de dados (até hoje).
Mas somente em 1988, através da CF/88 que foi consagrado o
Sistema de Proteção Nacional Brasileiro, criando a Seguridade
Social onde traz ao cidadão a garantia de saúde, assistência e
previdência social.

Em 1990, após a CF/88, veio a criação do Instituto Nacional de


Seguro Social – INSS. Assim, foi extinto o antigo INPS, onde na
verdade foi fundido o INPS + IAPAS – Instituto de Administração
Financeira da Previdência e Assistência Social.

A partir de então, o INSS cuida do gerenciamento e administração do


nosso Sistema de Previdência Social do país.
Conceito e Organização

A Seguridade Social pode ser conceituada como a rede protetiva formada


pelo Estado e particulares, com contribuição de todos, incluindo parte dos
beneficiários dos direitos, no sentido de estabelecer ações positivas no
sustento de pessoas carentes, trabalhadores em geral e seus dependentes,
providenciando a manutenção de um padrão mínimo de vida.

A Seguridade Social tem por objetivo o bem-estar e a justiça social,


propiciando uma eficaz estrutura de distribuição de renda. A Seguridade
Social está englobada na CF no capítulo que trata da Ordem Social, que tem
com base o primado do trabalho. Com isso, verificamos que a ordem social
funda-se na valorização do trabalho e, portanto, a Seguridade Social não
será utilizada em substituição às situações em que o trabalho seja possível.

O trabalho sempre será perseguido e valorizados somente quando não


houver possibilidade de ser exercido é que será acionada a Seguridade
Social.
A Seguridade Social engloba os sistemas de:
1. Saúde
A saúde é direito de todos e dever do Estado. Visa a reduzir os riscos
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

“(…) direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e


econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos ao acesso
universal igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação”

Qualquer pessoa poderá usufruir da rede de saúde independentemente


de contribuição direta do beneficiário. A saúde pública é
responsabilidade direta do Ministério da Saúde, por meio do SUS –
Sistema Único de Saúde.
Art. 196 a 200 CF/88

O acesso à saúde independe de pagamento e é irrestrito, inclusive para


os estrangeiros que não residem no Brasil.
A saúde é administrada pelo SUS – Sistema Único de Saúde,
vinculado ao Ministério da Saúde. Este órgão não guarda nenhuma
relação com o INSS ou com a previdência social.
O SUS é financiado com recursos dos orçamentos da seguridade
social elaborados pela União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
além de outras fontes.
As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
regionalizada, hierarquizada e descentralizada (art. 198 CF/88).
Importante salientar que o atendimento é integral, com prioridade para
as atividades preventivas.
2. Assistência Social
A Assistência Social será prestada a quem dela necessitar,
independentemente de contribuição à Seguridade Social. Assim, o
acesso aos benefícios de assistência social não é universal, pois será
destinado a pessoas necessitadas.
“(…) prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à
seguridade social (proteção à família, amparo as crianças carentes, promoção de
integração ao mercado de trabalho, habilitação e reabilitação de pessoas protadoras
de deficiência.”

A Assistência Social tem por objetivo os a proteção:


• à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;
• o amparo às crianças e adolescentes carentes;
• Promoção da integração ao mercado do trabalho;
• Habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de
sua integração à vida comunitária e a garantia de um salário mínimo de benefício
mensal à pessoa portadora de deficiência e idoso, desde que comprovem não
possuir meios de prover a própria subsistência ou tê-la provida pela família.
A Assistência Social será custeada com recursos do orçamento da
Seguridade Social e será organizada com base em uma descentralização
político-administrativa, cabendo à União a coordenação e a emissão de
normas gerais e aos Estados e Municípios a coordenação e a execução
dos respectivos programas, sendo possível a execução por entidades
beneficentes e de assistência social.

Prevista nos arts. 203 e 204 CF/88

A assistência social, política pública não contributiva, é dever do


Estado e direto de todo cidadão que dela necessitar.
A assistência social será prestada a quem dela precisar, independente de
contribuição à seguridade social. A palavra chave é NECESSIDADE
do assistido.
Como a saúde, independe de contribuição direta do beneficiário.
3. Previdência Social

A Previdência Social Pública é uma espécie de seguro social


denominado social em razão de atender a sociedade contra riscos
sociais.

Os riscos sociais são os infortúnios que qualquer pessoa está sujeita


ao longo de sua vida como doenças, acidentes, invalidez, velhice.

O seguro social é um segmento da Seguridade Social que será


acionado quando o cidadão estiver em situação de risco social.

O Art. 201 da CF trata, dos princípios e conceitos da previdência


social.
Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral,
de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos t ermos da lei, a:

I - cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;

II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;

III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;


Vide Lei 7.998/1990 (Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT).

IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de


baixa renda;

V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou


companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.
Vide arts. 167, XI e 195, II CF.
Vide Lei 8.213/1991 (Planos de Benefícios da Previdência Social).
Vide Dec. 3.048/1999 (Regulamento da Previdência Social).
A organização da previdência é sustentada por dois princípios básicos:

Compulsoriedade – é o que obriga a filiação ao RGPS.

Contributividade – significa que para ter direito a qualquer dos benefícios,


deve-se enquadrar na condição de segurado, devendo contribuir para a
manutenção do sistema previdenciário.

A previdência comporta dois regimes básicos: Regime Geral de


Previdência Social (RGPS) e o Regime Próprio de Previdência Social
(RPPS). Em paralelo há o Regime Complementar.
Assim, a previdência social no Brasil é composta por três regimes:

a) Regime Geral de Previdência Social (RGPS): operado pelo INSS, uma


entidade pública e de filiação obrigatória para os trabalhadores regidos pela
CLT;

b) Regime Próprio de Previdência Social (RPPS): instituído por entidades


públicas –Institutos de Previdência ou Fundos Previdenciários e de filiação
obrigatória para os servidores públicos titulares de cargos efetivos da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; e

c) Regime de Previdência Complementar: operado por Entidades Abertas


e Fechadas de Previdência Complementar, regime privado, com filiação
facultativa, criado com a finalidade de proporcionar uma renda adicional ao
trabalhador, que complemente a sua previdência oficial.
Classificação dos benefícios

 Quanto a forma de financiamento:


Repartição simples – as contribuições são depositadas em um fundo único, e
os recursos são distribuídos a quem deles precisar. EX. regimes básicos.

Capitalização - as contribuições são investidas pelos administradores, e os


rendimentos utilizados para concessão de futuros benefícios aos segurados,
com base na contribuição feita por cada um. EX: regimes complementar.

 Quanto a natureza:
De natureza programada – buscam cobrir os riscos que possuem certa
previsibilidade. EX: aposentadoria por idade.

De natureza não programada – buscam cobrir os riscos que não possuem


previsibilidade. EX: aposentadoria por invalidez, auxílio-doença.
 Quanto aos regimes:
De beneficio definido – as regras para o cálculo do valor dos benefícios são
previamente estabelecidos. EX: regimes básicos. Ver art. 28 ss da Lei
8.213/91.

De contribuição definida – está vinculado ao regime de capitalização. As


contribuições são definidas e o valor dos benefícios varia em função dos
rendimentos das aplicações. EX: regime complementar.
Características da Previdência Social Pública:

• Regime Geral – em regra, é disponibilizado à todos. É um regime


público.

• Caráter Contributivo – em regra, é necessário contribuir para ter


direito aos benefícios. O segurado é obrigado a contribuir para
obter benefícios.

• Filiação Obrigatória – quando exercente de uma atividade


remunerada abrangida pelo RGPS, o trabalhador é obrigado a fazer
parte da previdência.
Como se dará a perda temporária da capacidade de trabalho?

• Doença;
• Maternidade;
• Reclusão.

E a perda permanente da capacidade de trabalho?

• Invalidez parcial ou total;


• Idade avançada e morte.
Princípios da Seguridade Social

1) Princípio da Solidariedade – Art. 3º, I, CF

O princípio da solidariedade é o princípio mais importante, em que pese não


estar escrito no texto constitucional.

Este princípio consiste no fato de toda a sociedade, indistintamente,


contribuir para a Seguridade Social, independentemente de se
beneficiar de todos os serviços disponibilizados. É proteção coletiva, na
qual as pequenas contribuições individuais geram recursos suficientes para a
criação de um manto protetor sobre todos, viabilizando a concessão de
prestações previdenciárias decorrentes de eventos pré-estabelecidos.

Portanto, independentemente da classe social, ao se consumir produtos e


serviços, todos estarão contribuindo para o orçamento da seguridade social.
2) Princípio da Universalidade da Cobertura e do Atendimento –
Art. 194, § único, I, CF

Esse princípio consiste em promover indistintamente o acesso ao maior


número possível de benefícios, na tentativa de proteger a população de
todos os riscos sociais previsíveis e possíveis. As ações devem contemplar
necessidades individuais e coletivas, bem como ações reparadoras e
preventivas.

Quanto ao direito à Saúde, o texto constitucional expressamente o declara


universal quando insere no caput do artigo 196 que a saúde é direito de
todos e dever do Estado.

Marcelo Leonardo Tavares, objetivamente conceitua este princípio:

“As prestações da seguridade devem abranger o máximo de situações de


proteção social do trabalhador e de sua família, tanto subjetiva quanto
objetivamente, respeitadas as limitações de cada área de atuação”.
Entretanto, este conceito merece uma crítica. Ele restringe a proteção ao
trabalhador. A Seguridade Social abrange não somente aos trabalhadores,
mas todos os homens e mulheres residentes no Brasil. Relativamente à
assistência social, existem benefícios dirigidos diretamente para pessoas
impossibilitadas de realizarem trabalhos que garantam a sua sobrevivência,
como por exemplo, o benefício de renda continuada.

Sérgio Pinto Martins, por sua vez, divide a universalidade em dois grupos:
subjetiva e objetiva. A subjetividade refere-se às pessoas alcançadas pela
seguridade social e a objetividade refere-se aos benefícios previstos em lei.

E por fim, comungamos com o ensinamento do Professor MARCUS


ORIONE GONÇALVES CORREIA que assim se manifestou:
“com o fim de eliminar a miséria, o princípio da universalidade, na seguridade
social, agasalha todas as pessoas que dela necessitam (universalidade subjetiva) ou
que possam vir a necessitá-la nas situações socialmente danosas (universalidade
objetiva), ou seja, eventualidades que afetem a integridade física ou mental dos
indivíduos, bem como aquelas que atinjam a capacidade de satisfação de suas
necessidades individuais e de sua família pelo trabalho”.
3) Princípio da Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e
Serviços às Populações Urbanas e Rurais – Art. 194, § único, II,
CF

Este princípio teve como o objetivo central equiparar os direitos dos


trabalhadores rurais aos trabalhadores urbanos, resgatando uma injustiça
histórica, especialmente no Direito Previdenciário Brasileiro. Desta forma,
ficam proibidas quaisquer distinções entre os trabalhadores urbanos e rurais.
Para Sérgio Pinto Martins, o princípio da uniformidade é um desdobramento
do princípio da igualdade.

Neste sentido, trazemos a lição de Marcelo Leonardo Tavares:


“As diferenças históricas existentes entre os direitos do trabalhador urbano
e rural devem ser reduzidas paulatinamente até a extinção. A legislação
previdenciária posterior à Constituição de 1988 adequou-se ao princípio,
sem fazer discriminação entre trabalhadores urbanos e rurais, exceto pelo
tratamento diferenciado do segurado especial, devido a características
particulares desta espécie de segurado”.
4) Princípio da Seletividade e Distributividade na Prestação dos
Benefícios – Art. 194, § único, III, CF.

Este princípio tem por finalidade orientar a ampla distribuição de


benefícios sociais ao maior número de necessitados. Nem todos terão
direito a todos os benefícios, devendo o legislador identificar as carências
sociais e estabelecer critérios objetivos para contemplar as camadas sociais
mais necessitadas.

Destaque-se, entretanto, como já dito anteriormente, a assistência médica


será acessível indistintamente, conforme previsto no artigo 196 da
Constituição Federal.

Para Miguel Horvath Júnior:

“a seletividade e a distributividade devem ser pautadas sempre que


possível pelo princípio da universalidade (caráter programático)”.
Sérgio Pinto Martins ensina que caberá à lei escolher as necessidades que o
sistema poderá atender, conforme as disponibilidades econômico-
financeiras, e conclui ao final:

“A distributividade implica a necessidade de solidariedade para poderem


ser distribuídos recursos. A ideia de distributividade também concerne à
distribuição de renda, pois o sistema, de certa forma, nada mais faz do que
distribuir renda. A distribuição pode ser feita aos mais necessitados, em
detrimento dos menos necessitados, de acordo com a previsão legal. A
distributividade tem, portanto, caráter social”.
5) Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Benefícios, de forma a
preservar-lhe o Poder Aquisitivo – Art. 194, § único, IV, CF.

Este princípio tem por finalidade preservar o valor de compra dos benefícios
financeiros concedidos pela seguridade social. A legislação
infraconstitucional materializou este dispositivo ao determinar que anualmente
os valores dos benefícios serão corrigidos por um índice de preço.

A preocupação do legislador ao inserir este princípio no texto constitucional foi


evitar que eventuais reajustes dos benefícios dependessem de vontade política
do governo federal. O eventual congelamento dos valores, em épocas de
processo inflacionário acelerado, significaria, na verdade, a supressão dos
benefícios ao longo do tempo.

Importante ressaltar, que não existe mais vinculação entre o reajuste dos
benefícios da seguridade social e o salário mínimo. Os benefícios serão
corrigidos por índice de preço que mede a inflação. Por outro lado, o salário
mínimo deverá ser contemplado por uma política de recuperação de seu poder
de compra, preferencialmente em respeito ao disposto na Constituição Federal.
6) Princípio da Equidade na forma de Participação do Custeio –
Art. 194, § único, V, CF.

Este princípio, expressa que cada um contribuirá para a seguridade


social na proporção de sua capacidade contributiva.

As contribuições para a previdência social são vertidas conforme a renda do


segurado. Quanto maior a renda, maior a alíquota, e, consequentemente,
maior a contribuição.

Portanto, para se definir a participação no custeio da seguridade social, leva-


se em consideração a capacidade de cada contribuinte, ou seja, cobrar-se
mais contribuições de quem tem maior capacidade de pagamento para que se
possam beneficiar os que não possuem as mesmas condições.
7) Princípio da Diversidade da Base de Financiamento
– Art. 194, § único, VI, CF.
O financiamento da seguridade social se dá atualmente através da
contribuição dos trabalhadores, das empresas e dos orçamentos dos entes
estatais. Mesmo as pessoas não enumeradas acima contribuem para a
seguridade social, seja através do pagamento da CPMF, seja através dos
impostos inseridos nos custos dos preços dos produtos consumidos.

Preocupado em garantir o aumento da arrecadação de recursos para a


seguridade social para garantir o atendimento do aumento de demanda
social, o legislador já expressou na constituição a permissão para que outras
fontes de financiamento fossem criadas pelo legislador ordinário.
8) Princípio do Caráter Democrático e Descentralizado da
Administração, Mediante Gestão Quadripartite, com
participação dos Trabalhadores, dos Empregadores, dos
Aposentados e do Governo – Art. 194, § único, VII, CF.

Este princípio não é inovação do texto constitucional, uma vez que


historicamente sempre houve a participação da comunidade nos Conselhos
da previdência social, assistência social e saúde.

Assim, a CF/88 estabelece o caráter democrático e descentralizado da


administração, mediante gestão quadripartite, com participação dos
trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Governo.
- Governo – responsável direto pela administração.
- Trabalhadores – tem interesse em manter o sistema sólido, visto que querem
beneficiar-se no futuro.
- Empregadores – repassam grande parte de suas receitas para o financiamento do
sistema, e querem saber como estão sendo aplicados os recursos.
- Aposentados – tem interesse no sistema, visto serem sustentados por ele.
Introdução ao Direito Previdenciário

Os segurados da Previdência Social podem ser obrigatórios ou


facultativos.

• Segurado Obrigatório: É todo aquele que exerce qualquer tipo


de atividade remunerada lícita, maior de 16 anos (exceto na
condição de menor-aprendiz).

• Segurado Facultativo: É aquele que não exerce atividade


remunerada, mas deseja contribuir para a Previdência, a fim
de futuramente obter algum benefício, conforme art. 13, da
Lei nº 8.213/91.
Segurados Obrigatórios:

Os segurados obrigatórios da Previdência Social são pessoas


físicas.

Todo aquele que exercer, concomitantemente, mais de uma


atividade remunerada sujeita ao RGPS é obrigatoriamente
filiado em relação a cada uma delas (art. 12, §2º da lei 8.212/91).

Exemplos:
- Célia, professora de uma universidade, eventualmente, presta serviços de consultoria na
área de educação. Por isso, Célia é segurada empregada pela atividade de docência e
contribuinte individual quando presta consultoria. Nessa situação, Célia tem uma filiação
para cada atividade.

- O aposentado pelo RGPS que estiver exercendo ou voltar a exercer atividade abrangida por
este Regime é segurado obrigatório em relação a essa atividade, ficando sujeitos às
contribuições (art. 11, §3º da Lei 8.213/91).
- O servidor civil ocupante de cargo efetivo ou o militar da União, dos Estados, do DF ou dos
Municípios, bem como o das respectivas autarquias e fundações, são excluídos do RGPS
consubstanciado nesta Lei, desde que amparados por RPPS (art. 12 da Lei 8.213/91). Caso o
servidor ou o militar venham a exercer, concomitantemente, uma ou mais atividades
abrangidas pelo RGPS, tornar-se-ão segurados obrigatórios em relação a essas atividades
(§1º).

Os segurados obrigatórios são os maiores de 16 anos, salvo na


condição de aprendiz (14 anos), que exercem qualquer tipo de
ATIVIDADE REMUNERADA LÍCITA que os vinculem,
obrigatoriamente, ao sistema previdenciário.

A atividade não pode ser ilícita, pois, apesar da natureza


tributária da contribuição previdenciária, o fato gerador desse
tributo é o trabalho, que pelo seu próprio conceito, pressupõe a
licitude da atividade.
A remuneração percebida pode ser presumida. Um exemplo
disso são as contribuições dos empregados e avulsos presumem-
se recolhidas, bastando comprovar-se o exercício do trabalho.

Outro exemplo: a remuneração do taxista é presumida, não


existe nenhum fiscal tributário junto dele para verificar quanto
este aufere por dia de trabalho, ele declara um certo valor e a
partir deste será sua contribuição junto a previdência social.

Segurados Obrigatórios – EMPREGADO

A caracterização do trabalho como urbano ou rural depende da


natureza das atividades efetivamente prestadas, e não do meio
em que se inserem (TRF 4, AC 9604330870/97).
Para o STJ (REsp 591.370-MG, 2003), os tratoristas são
trabalhadores rurais, não urbanos.

1. Empregado (aquele que presta serviço de natureza urbana ou


rural à empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e
mediante remuneração, inclusive como diretor empregado).

- O MENOR APRENDIZ é segurado empregado.

- Também é segurado empregado o ALUNO-APRENDIZ, desde


que receba remuneração, mesmo que indireta. Esse é o
entendimento do STF (MS 28.399-AgR-DF) e da TNU. Mas
atenção: esse cômputo limita-se até 16/12/1998, pois a EC
20/1998 substituiu o “tempo de serviço” pelo “tempo de
contribuição”.
- O monitor acadêmico e o jogador amador de futebol não são
segurados obrigatórios. O monitor
recebe bolsa de natureza indenizatória e o jogador não recebe
qualquer remuneração.

- O empregado rural (regulado pela Lei 5.889/73) não está


nessa categoria.

2. Trabalhador Temporário (aquele que, contratado por empresa


de trabalho temporário, definida em legislação específica, presta
serviço para atender a necessidade transitória de substituição de
pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de
serviços de outras empresas)

- Regido pela Lei 6.019/74.


3. O brasileiro ou estrangeiro domiciliado e contratado no brasil
para trabalhar como empregado em sucursal ou agência de
empresa nacional no exterior.

- “empresa brasileira” = constituição sob as leis brasileiras, com sede e


administração no Brasil.

- exceção ao princípio da territorialidade da filiação (o segurado trabalha no


exterior).

4. Servidor público ocupante de cargo em comissão, sem vínculo


efetivo com a união, autarquias, inclusive em regime especial, e
fundações públicas federais.
- aqui estão enquadrados os ministros e secretários sem vínculo efetivo com
a administração.
- inicialmente, o dispositivo só se referia aos comissionados federais, mas
passou a abranger os estaduais, distritais e municipais com a EC 20/1998.
5. Outras hipóteses:

a) bolsista e estagiário que prestam serviço em desacordo com a lei


11.788/2008;

b) servidor contratado por tempo determinado para atender a necessidade


temporária de excepcional interesse público (art. 37, IX da CF/88).

c) escrevente e auxiliar de cartório (a partir de novembro de 1994);

d) titular de cargo efetivo de ente político que não tenha regime próprio.
Segurados Obrigatórios – Empregado Doméstico

Empregado doméstico = aquele que presta serviço de natureza


contínua a pessoa ou família, no âmbito da residência desta, em
atividade sem fins lucrativos (art. 12, II, da lei 8.212/91).

Empregador doméstico = a pessoa ou família que admite a seu


serviço, sem finalidade lucrativa, empregado doméstico (art. 14,
II, da Lei 8.213/91).

Além dos tradicionais empregados domésticos, como caseiro e a


cozinheira, existem outros que, apesar de não trabalharem dentro
da casa do patrão, são assim considerados: o motorista
particular, o marinheiro de barco de família e, até mesmo, em
tese, o piloto de jatinho ou de helicóptero particular.
Embora a Lei permita a contratação de empregados a partir de
16 anos de idade, o Decreto 6.481/08 proibiu a contratação de
empregados domésticos menores de 18 anos. Também nesse
sentido, a EC 72/13.

Não é considerado vínculo empregatício o contrato de trabalho


de empregado doméstico entre cônjuges, pais e filhos (art. 19,
§9º da Instrução Normativa INSS 77/2015).

Segurados Obrigatórios – Trabalhador Avulso

Trabalhador avulso = quem presta, a diversas empresas, sem


vínculo empregatício, serviços de natureza urbana ou rural
definidos no regulamento (art. 12, VI, da lei 8.212/91).
O art. 9º, VI, do Decreto 3.048/99 define como “aquele que,
sindicalizado ou não, presta serviço de natureza urbana ou rural, a
diversas empresas, sem vínculo empregatício, com a intermediação
obrigatória do órgão gestor de mão-de-obra, nos termos da Lei
8.630/1993, ou do sindicato da categoria, assim considerados:
Segurados Obrigatórios – Segurado Especial

Segurado especial = pessoa física residente no imóvel rural ou


em aglomerado urbano ou rural próximo a ele que,
individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que
com o auxílio eventual de terceiros a título de mútua
colaboração, na condição de (art. 12, VII, da lei 8.212/91):
Entende-se como Regime de Economia Familiar a atividade em
que o trabalho dos membros da família é indispensável à própria
subsistência e ao desenvolvimento socioeconômico do núcleo
familiar e é exercido em condições de mútua dependência e
colaboração, sem a utilização de empregados permanentes (art.
12, §1º da lei 8.212/91).
Para o STJ (EDcl no REsp 409.986-RS, 2003), ainda que mereça todo
o repúdio o trabalho exercido por crianças menores de 14 anos,
ignorar tal realidade, ou entender que esse período não deverá ser
averbado por falta de previsão legal, esbarra no alcance pretendido
pela lei. Ao estabelecer o limite mínimo de 14 anos, o legislador o fez
em benefício do menor, visando a sua proteção, e não em seu
prejuízo, razão pela qual o período de trabalho prestado antes dos 14
anos deverá ser computado como tempo de serviço para fins
previdenciários.

O INSS revogou um dispositivo da Instrução Normativa INSS


45/2010 que previa o cômputo do trabalho do menor a partir dos 12
anos de idade. Isso indica que o INSS não admite mais o período
trabalhado anterior ao implemento da idade prevista na CF/88, indo de
encontro ao STJ.
Exemplo:

Considere que Lucas tenha exercido, individualmente, de modo


sustentável, durante toda a vida, a atividade de seringueiro na região
amazônica, tendo os frutos dessa atividade sido sua única fonte de
renda. Após o falecimento dele, os herdeiros — demonstrados os
pressupostos de filiação — poderão requerer a inscrição de Lucas,
como segurado especial, no RGPS.

Está certo, pois A LEGISLAÇÃO PERMITE A INSCRIÇÃO PÓS


MORTE DO SEGURADO ESPECIAL, que não precisa comprovar o
recolhimento de contribuição para ter direito à obtenção do benefício,
necessitando apenas, de comprovação do exercício na atividade rural.

Isso ocorre devido ao fato de sua contribuição não ser recolhida


mensalmente, mas apenas no ato da comercialização de sua produção
rural.
Segurados Obrigatórios – Contribuinte Individual

Os segurados anteriormente denominados "empresário", " trabalhador


autônomo" e "equiparado a trabalhador autônomo", a partir de 29 de
novembro de 1999, com a Lei 9.876, foram considerados uma única
categoria e passaram a ser chamados de "contribuinte individual".

Considera-se contribuinte individual as pessoas físicas elencadas no


inciso V do art. 9º do Decreto 3.048/1999, a saber:

• A pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a


qualquer título, em caráter permanente ou temporário ou atividade pesqueira ou
extrativista, com auxílio de empregados ou por intermédio de prepostos;

• A pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral -


garimpo -, em caráter permanente ou temporário;
• O ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de
congregação ou de ordem religiosa;

• O titular de firma individual urbana ou rural;

• O profissional liberal;

• O pintor, eletricista, bombeiro hidráulico, encanador e outros que prestam


serviços em âmbito residencial, de forma não contínua, sem vínculo
empregatício;

• O cabeleireiro, manicure, esteticista e profissionais congêneres, quando


exercerem suas atividades em salão de beleza, por conta própria;

• O comerciante ambulante;
...
Assim, todo pagamento efetuado a título de contraprestação de
serviços a qualquer pessoa física sofre a retenção da Previdência
Social.
Segurados Facultativos:

É segurado facultativo o maior de 16 anos de idade que se filiar ao


RGPS, mediante contribuição, desde que não esteja exercendo
atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório da
previdência social.

É vedada a filiação ao RGPS, na qualidade de segurado facultativo, de


pessoa participante de RPPS (art. 201, §5º da CF/88). Se o
participante de RPPS recolher contribuições como segurado
facultativo no RGPS, poderá fazer pedido de restituição, observada a
prescrição quinquenal.
- Suponha que João, servidor público federal aposentado, tenha sido
eleito síndico do condomínio em que reside e que a respectiva
convenção condominial não preveja remuneração para o desempenho
dessa função. Nesse caso, João não pode filiar-se ao RGPS na
condição de segurado facultativo, pois é aposentado por um RPPS.

- Considere que João e Marta sejam árbitros de futebol e atuem, de


acordo com a Lei 9.615/98, sem vínculo empregatício com as
entidades esportivas diretivas em que atuam. Nessa situação
hipotética, João e Marta podem ser inscritos na previdência social na
qualidade de segurados facultativos, tendo em vista inexistir qualquer
disposição legal que os obrigue a serem filiados ao regime geral.
A filiação do segurado facultativo só pode ser feita a partir dos 16
anos, de acordo com o art. 11 do RPS (Regulamento da Previdência
Social). Contudo, o art. 14 da Lei 8.212/91, assim como o art. 13 da
Lei 8.213/91, ainda dispõem que o segurado pode contribuir como
facultativo a partir dos 14 anos de idade.

Tal divergência é justificada porque a EC 20/98 alterou a idade


mínima do trabalhador dos 14 anos para os 16 anos. Para a
doutrina majoritária, a data mínima para a filiação deveria
acompanhar a CF/88 (16 anos), mas as leis 8.212 e 8.213
continuam mantendo a idade mínima de 14 anos para filiação
como facultativo. Ressalva-se o caso do aprendiz, que pode se filiar a
partir dos 14 anos.
De acordo com o art. 11 do RPS é admitida a filiação na qualidade de
segurado facultativo as seguintes pessoas físicas:
- Suponha que João, servidor público federal aposentado, tenha sido
eleito síndico do condomínio em que reside e que a respectiva
convenção condominial não preveja remuneração para o desempenho
dessa função. Nesse caso, João não pode filiar-se ao RGPS na
condição de segurado facultativo, pois é aposentado por um RPPS.

- João aposentou-se pelo RPPS em 16/11/2009 e, a partir de então,


passou a prestar consultoria a diversas empresas do DF, atividade que
não interrompeu mesmo após a sua contratação para trabalhar em
missão diplomática norte-americana localizada no Brasil. Nessa
situação, João é segurado obrigatório do RGPS, ainda que já receba
aposentadoria oriunda de RPPS. O que não pode é receber
aposentadoria do RPPS e ser facultativo do RGPS, mas obrigatório
pode.
Somente será considerado segurado obrigatório o estagiário que
descumprir a Lei. Se o estagiário prestar serviço de acordo com a Lei,
poderá filiar-se à previdência como segurado facultativo.

- Se a esposa de um trabalhador contratado para trabalhar no exterior em


uma empresa multinacional quiser contar tempo de contribuição para o
RGPS, ela poderá inscrever-se na qualidade de segurada facultativa.

- Os presos no regime aberto trabalham fora da prisão, obedecendo ao


regime de filiação de acordo com a forma de prestação de serviço.
Filiação e Inscrição
A filiação é a relação jurídica que se estabelece entre o indivíduo e a
autarquia federal encarregada de gerir o sistema previdenciário, o
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), fazendo com que o
primeiro se torne segurado da Previdência e passe a ter direitos às
prestações estabelecidas em lei.

A partir do momento em que o indivíduo filia-se ao regime geral de


previdência (RGPS), seja como segurado obrigatório, seja como
facultativo, e segue com suas contribuições, adquire ele a qualidade
de segurado, que é requisito essencial para que goze dos benefícios e
prestações postas à disposição do trabalhador segurado.
No entanto, essa qualidade de segurado não é definitiva,
estabelecendo a lei hipóteses em que há a perda dessa condição. De
acordo com a lei, se o segurado deixa de realizar atividade laborativa
remunerada, é demitido ou, sendo contribuinte individual, deixa de
pagar a contribuição previdenciária, perde ele a qualidade de segurado
e, por consequência, deixa de fazer jus aos benefícios previdenciários.

Todos os segurados que exercem atividade remunerada lícita estão


automaticamente filiados ao Regime Geral de Previdência Social.

Os segurados facultativos devem realizar sua inscrição, que é


efetivada com o pagamento da primeira contribuição.

Já os segurados obrigatórios são divididos em: empregado,


empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador
avulso e segurado especial.
No caso dos contribuintes individuais que trabalham por conta
própria, a filiação é condicionada ao efetivo recolhimento das
contribuições por iniciativa própria, pois não existe a empresa ou
empregador responsável pelo recolhimento. Cabe ao próprio segurado
pagar as contribuições.

Para a TNU (Turma Nacional de Uniformização), não é possível a


concessão do benefício de pensão por morte aos dependentes do
segurado falecido, contribuinte individual, que não efetuou o
recolhimento das contribuições respectivas à época, não havendo
amparo legal para a dita inscrição post mortem ou para que sejam
descontadas as contribuições pretéritas, não recolhidas pelo de cujus,
do benefício da pensão por morte percebido pelos herdeiros. Esse
também é o entendimento do STJ (REsp 1.346.852-PR, 2012).
Súmula 52 da TNU: para fins de concessão de pensão por morte, é
incabível a regularização do recolhimento de contribuições de
segurado contribuinte individual posteriormente a seu óbito, exceto
quando as contribuições devam ser arrecadadas por empresa tomadora
de serviços (terceirização).

No caso dos segurados facultativos, a filiação ocorre com a


inscrição perante o INSS e o efetivo pagamento da primeira
contribuição (depende da vontade do segurado de se filiar).

Quanto à idade mínima, já vimos que há divergência, mas prevalece o


entendimento de que a idade mínima para filiação do segurado
facultativo é 16 anos.

O servidor público efetivo e o militar amparados por RPPS não


podem se filiar como segurado facultativo, por vedação constitucional
(art. 201, §5º da CF/88).
A filiação e a inscrição são institutos diferentes no direito
previdenciário, e, portanto, podem ocorrer em momentos distintos.

A filiação é vínculo jurídico entre o segurado e o RGPS, do qual


decorrem direitos e obrigações recíprocos (art. 20 do Decreto n.
3.048/1999). De um lado, o segurado tem o dever de contribuir e o
direito à cobertura previdenciária. De outro, o RGPS tem o dever de
pagar os benefícios e prestar os serviços previdenciários (quando
cumpridos os requisitos legais), e o direito de exigir o pagamento das
contribuições previdenciárias.

A inscrição consiste na formalização da filiação. É por meio da


inscrição que o segurado fornece à previdência os dados necessários
para sua identificação (art. 18 do Decreto n. 3.048/99).
Inscrição dos Segurados
A inscrição dos segurados ocorre mediante a apresentação dos
seguintes documentos (art. 18 do Decreto n. 3.048/99):

1) Empregado e trabalhador avulso: pelo preenchimento dos


documentos que os habilitem ao exercício da atividade, formalizado
pelo contrato de trabalho, no caso de empregado, e pelo
cadastramento e registro no sindicato ou órgão gestor de mão de obra,
no caso de trabalhador avulso;

2) Empregado doméstico: pela apresentação de documento que


comprove a existência de contrato de trabalho;

3) Contribuinte individual: pela apresentação de documento que


caracterize a sua condição ou o exercício de atividade profissional,
liberal ou não;
Cuidado: A partir da Lei n. 10.666/2003, contudo, houve alteração na
condição do contribuinte individual quando prestador de serviços a
empresas ou na condição de associado a uma cooperativa de trabalho ou de
produção, pois a cooperativa de trabalho e a pessoa jurídica passaram a ser
obrigadas a efetuar a inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social –
INSS dos seus cooperados e contratados, respectivamente, como
contribuintes individuais, se ainda não inscritos. (art. 5º. § 2º., da Lei n.
10.666/2003).

4) Segurado especial: pela apresentação de documento que comprove


o exercício de atividade rural.

A inscrição do segurado especial será feita de forma a vinculá-lo ao


seu respectivo grupo familiar e conterá, além das informações
pessoais, a identificação da propriedade em que desenvolve a
atividade e a que título, se nela reside ou o Município onde reside e,
quando for o caso, a identificação e inscrição da pessoa responsável
pela unidade familiar.
O segurado especial integrante de grupo familiar que não seja
proprietário ou dono do imóvel rural em que desenvolve sua atividade
deverá informar, no ato da inscrição, conforme o caso, o nome do
parceiro ou meeiro outorgante, arrendador, comodante ou
assemelhado.

Simultaneamente com a inscrição do segurado especial, será atribuído


ao grupo familiar número de Cadastro Específico do INSS – CEI, para
fins de recolhimento das contribuições previdenciárias.

5) Facultativo: pela apresentação de documento de identidade e


declaração expressa de que não exerce atividade que o enquadre na
categoria de segurado obrigatório.
A inscrição do empregado e do trabalhador avulso será efetuada
diretamente na empresa, sindicato ou órgão gestor de mão de obra, e a
dos demais, no Instituto Nacional do Seguro Social. Caso a empresa
não cumpra a sua obrigação e deixe de efetuar a inscrição, o próprio
empregado poderá fazê-lo, desde que comprove o exercício da
atividade, por exemplo, por meio da apresentação da Carteira de
Trabalho.

No caso do contribuinte individual, excepcionalmente a empresa que


o contratou poderá ter a obrigação de realizar a sua inscrição. Esta
hipótese ocorrerá quando a empresa utilizar-se de segurado não
inscrito. Esta mesma situação poderá ocorrer no caso do cooperado de
cooperativa de trabalho (art. 4º da Lei n. 10.666/2003).

O art. 18, § 5º, do Decreto n. 3.048/99 dispõe que, presentes os


pressupostos da filiação, admite-se a inscrição post mortem do
segurado especial.
Filiação Múltipla
Todo aquele que exercer, concomitantemente, mais de uma atividade
remunerada sujeita ao Regime Geral de Previdência Social é
obrigatoriamente filiado em relação a cada uma delas (art. 11, § 2º, da
Lei n. 8.213/91 e § 2º. do art. 12 da Lei 8.212/91).

Exemplo: Uma empregada doméstica que trabalha numa casa durante a


semana e aos domingos faz faxina em outra casa é filiada em relação ao
emprego (segurada empregada doméstica) e em relação ao serviço ocasional
(segurada contribuinte individual). Ou um professor que tem vínculo com
duas escolas, é segurado em relação a cada um desses empregos.
Dependentes
Os beneficiários do RGPS são classificados em segurados e dependentes.

Ao segurado é atribuído o ônus de contribuir para o sistema previdenciário,


os dependentes podem habilitar-se como beneficiários da previdência social
sem precisarem prestar uma única contribuição.

Ocorrendo a morte do segurado ou sua prisão, os dependentes requererão em


nome próprio o benefício. Ou seja, o dependente ou beneficiário exerce um
direito próprio em nome próprio.

Desta forma, os dependentes dos segurados são também beneficiários do


Regime Geral de Previdência Social, e, por esse motivo, ainda que não
tenham contribuído ao citado regime, têm direito à percepção de alguns
benefícios previdenciários – notadamente pensão por morte (subseção VIII
da Lei n. 8.213/1991, que compreende os arts. 74 a 79) e auxílio-reclusão
(subseção IX, art. 80, da Lei n. 8.213/1991).
Classes de Dependentes
Os dependentes dos segurados estão divididos em três classes,
conforme o art. 16, da Lei nº 8.213/91.
A denominação de “classe” significa que a existência de dependentes
da primeira classe, por exemplo, exclui o direito dos dependentes das
classes seguintes:

1ª Classe:

a) o cônjuge, que poder ser o marido ou a mulher;

b) a companheira e o companheiro, embora não casados oficialmente, vivam juntos


com a intenção de constituir família, tendo os mesmos direitos dos cônjuges,
incluindo aqui, os parceiros homossexuais, desde que comprovem a vida em
comum (Instrução Normativa/PR nº 20/07);

c) a ex-mulher e o ex-marido que recebam pensão alimentícia (mas somente se a


pensão tiver sido judicialmente definida);
d) o filho menor de 21 anos, desde que não emancipado. Caso a emancipação seja
proveniente de colação de grau em curso superior, a presunção de dependência
econômica ainda permanece.

e) o filho invalido de qualquer idade, devendo a incapacidade ser comprovada por


perícia medica do INSS;

f) equiparados a filhos, menor tutelado ou enteado. Neste caso é necessário


declaração escrita do segurado, comprovação de dependência econômica e, para a
tutela, apresentação do respectivo termo.

2ª Classe:
Os pais, desde que comprovem dependência econômica.

3ª Classe:
O irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 (vinte e um)
anos ou inválido ou que tenha deficiência intelectual ou mental ou
deficiência grave.
Antigamente, existia uma 4ª classe, formada por “pessoa designada,
menor de 21 (vinte e um) anos ou maior de 60 (sessenta) anos ou
inválida”. Contudo, a Lei n. 9.032/95 revogou o inciso IV do art. 16
da Lei n. 8.213/91, excluindo referida classe do rol de beneficiários
da previdência social.

Diante disso, alguns dependentes pleitearam judicialmente o direito ao


benefício previdenciário (pensão por morte ou auxílio-reclusão),
alegando que, a respeito do óbito do segurado fosse posterior à Lei n.
9.032/95, a designação havia sido feita em momento anterior, o que
ensejaria o direito adquirido à condição de dependente.

Entretanto, o Judiciário firmou o entendimento de que somente


existiria direito adquirido ao benefício para a quarta classe quando a
designação do dependente e a morte do segurado tivessem ocorrido
antes do advento da Lei n. 9.032/95.
Manutenção e perda da qualidade de segurado

A partir do momento em que o indivíduo filia-se ao Regime Geral de


Previdência (RGPS), seja como segurado obrigatório, seja como facultativo,
e segue vertendo as suas contribuições, adquire ele a qualidade de segurado,
que é requisito essencial para que goze dos benefícios e prestações postas à
disposição do trabalhador segurado.

Assim, regra geral, o segurado obrigatório mantém a qualidade de


segurado enquanto permanecer no exercício de atividade remunerada.
Com relação ao segurado facultativo, a manutenção da qualidade de
segurado decorre do pagamento regular das contribuições
previdenciárias.

Contudo, o art. 15 da Lei n. 8.213/1991 prevê uma exceção entre a


vinculação da qualidade de segurado e o pagamento das contribuições à
previdência Social: é o chamado período de graça. Assim, temos que
mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições,
quem está em período de graça.
Período de Graça
Pela regra geral, o segurado mantém esta qualidade enquanto estiver
exercendo atividade remunerada (segurado obrigatório) ou vertendo
contribuições para o RGPS (segurado facultativo).

Entretanto, a cessação do exercício de atividade remunerada ou do


recolhimento das contribuições não acarreta automaticamente a perda
da qualidade de segurado.

A relação jurídica mantida entre o segurado e a previdência é de trato


continuado e visa à cobertura de eventos programados e
infortunísticos. Entretanto, durante esse vínculo, o segurado pode ficar
impossibilitado de efetuar o pagamento de contribuições ao RGPS por
circunstâncias alheias a sua vontade (como a situação de desemprego,
por exemplo), pelo que seria inadequada a imediata cessação da
cobertura previdenciária.
Períodos básicos de graça:
Dessa forma, o art. 15 da Lei n. 8.213/91 estabelece que mantém a
qualidade de segurado, independentemente de contribuições:

1) Sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício;

Mantém a qualidade de segurado, independentemente de


contribuições e sem limite de prazo, quem está em gozo de benefício
previdenciário.

Exemplo: Uma pessoa começou a exercer atividade remunerada em 2016,


tendo contribuído como contribuinte individual por 12 meses. Após estes 12
meses, ela ficou temporariamente incapaz, e passou a receber auxílio-
doença, e com isso parou de contribuir para a Previdência Social. Durante o
tempo em que estiver recebendo auxílio-doença ela mantém a qualidade de
segurado. Assim, por exemplo, se ela falecer recebendo auxílio-doença, seu
cônjuge terá direito à pensão por morte.
2) Até 12 (doze) meses após a cessação das contribuições, o
segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida
pela previdência social ou estiver suspenso ou licenciado sem
remuneração;

É o caso do indivíduo que estava trabalhando no mercado formal e


ficou desempregado. Ao sair do emprego, ele deixa de recolher as
contribuições previdenciárias. Se não houvesse essa benesse legal –
período de graça –, ele perderia automaticamente a qualidade de
segurado e o direito às prestações previdenciárias.

O prazo original de 12 meses poder ser aumentado em mais 12 meses,


se o segurado já possuir mais de 120 contribuições mensais, sem
interrupção que acarrete a perda da qualidade de segurado.
3) Até 12 meses após a cessação da segregação, o segurado
acometido de doença de segregação compulsória;
Este diz respeito àquele que tenha sofrido doença epidemiológica para
a qual a vigilância sanitária obriga o isolamento com o intuito de evita
a difusão da contaminação.

4) Até 12 meses após o livramento, o segurado detido ou recluso;


Aqui também cabe uma observação importante, apesar de evidente: a
manutenção da qualidade de segurado tem, como pressuposto, a
qualidade de segurado - ou seja, não se deve achar que toda pessoa
que deixa a prisão irá usufruir 12 meses de período de graça, pois
muitos sequer terão a qualidade de segurado.
Exemplo: Dênis, desempregado, contribuía para o RGPS como segurado
facultativo. Certa manhã foi despertado por alguns agentes da polícia civil,
que descobriram que ele, na verdade, prestava alguns serviços de entregas de
substâncias proibidas para seu primo, chefe de uma quadrilha de traficantes
da região. Pego em flagrante com alguns quilos de drogas em casa, passou 6
anos preso. Embora fosse, na data da prisão, segurado facultativo, ele
manteve sua qualidade de segurado durante todo o período em que esteve
preso, mesmo sem recolher contribuições, e ainda terá direito a 12 meses de
período de graça após sair da prisão.

5) Até 03 meses após o licenciamento, o segurado incorporado as


Forças Armadas para prestar serviço militar;
Este período de graça aplica-se quando da baixa do conscrito (aquele
que prestou serviço militar).
6) Até 6 (seis) meses após a cessação das contribuições, o segurado
facultativo.

Por força do disposto no art. 13, § 4º, do Decreto n. 3.048/1999, ao


segurado que se desvincular de Regime Próprio de Previdência Social
aplica-se o prazo de 12 meses, previsto no inciso II do art. 15 da Lei
n. 8.213/1991.

A legislação previdenciária, contudo, prevê ainda a possibilidade de


prorrogação do período de graça em duas hipóteses:
1) Pagamento de mais de cento e vinte contribuições sem interrupção que
acarrete a perda da qualidade de segurado, e
2) Situação de desemprego.
Regimes de Previdência

Regime Geral de Previdência Social (RGPS)


É regido pela Lei n. 8.213/1991, intitulada “Plano de Benefícios da
Previdência Social”.

De organização estatal, contributivo e compulsório, administrado pelo


INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

As contribuições são arrecadadas e fiscalizadas pela Receita Federal


do Brasil.

Todos que trabalham, exceto os funcionários públicos vinculados a


regimes próprios, estão obrigatoriamente vinculados ao RGPS,
recebendo o nome de segurados obrigatórios. Aqueles que não
trabalham podem ser filiados ao RGPS, e serão chamados de
segurados facultativos. Ex.: dona de casa.
Importante lembrar que o servidor vinculado ao regime próprio e que
exerça também atividade na iniciativa privada, será segurado
obrigatório de ambos os regimes (RPPS e RGPS), tendo direito a
usufruir de todos os benefícios dos dois regimes.

Ver art. 37, XVI, CF/88. Lendo este artigo chega-se a conclusão, ser
possível a acumulação de três aposentadorias de regimes básicos: duas
de regimes próprios e uma de regime geral.

Com base no Princípio da Diversidade de Financiamento que está


previsto no art. 194, parágrafo único, VI da CF, quem financia a
Seguridade Social não são somente os trabalhadores, os
empregadores e o Poder e Público, mas sim: a) a União Federal, os
Estados e os Municípios; b) os empregadores; c) os segurados da
previdência social; d) receitas de concursos de prognósticos; e) importadores
de bens e serviços do exterior.
A contribuição das empresas (tomadores de serviço) é calculada
mediante um percentual sobre o total da remuneração paga aos
trabalhadores que lhes prestam serviços (total da folha de pagamento).
A contribuição dos segurados incide sobre a remuneração recebida,
mas esta base está sujeita a um teto, R$ 5.531,31.

Segundo Ibrahim, os regimes básicos (RGPS e RPPS) não possuem


natureza jurídica contratual, e sim institucional ou estatutária,
visto o Estado, por meio de lei, criar a vinculação automática,
independente de vontade.

Em razão disso, não se aplica a esses regimes o CDC (lei 8.078/90),


visto não haver relação de consumo, mas proteção coercitiva
patrocinada pelo Estado.
Regime Próprio de Previdência Social (RPPS)
São intitulados de Regimes Próprios porque cada ente público da
Federação (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) pode ter o
seu, cuja finalidade é organizar a previdência dos servidores
públicos titulares de cargo efetivo, tanto daqueles em atividade,
como daqueles já aposentados e também dos pensionistas, cujos
benefícios estejam sendo pagos pelo ente estatal.

Desta forma, de um lado, temos o Regime Geral de Previdência


Social – RGPS, cuja gestão é efetuada pelo INSS, que vincula
obrigatoriamente todos os trabalhadores do setor privado e também os
servidores públicos não vinculados a regimes próprios de previdência
social e, por outro lado, temos vários regimes próprios de previdência
social cujas gestões são efetuadas, distintamente, pelos próprios entes
públicos instituidores.
Cuidado!
Os entes federativos não são obrigados a instituírem seus regimes
próprios, sendo facultativa tal opção. Assim, no Brasil, a União tem
regime próprio para os seus servidores e os Estados também. Já em
relação aos municípios, existem muitos que não instituíram regimes
próprios. Desta forma, os servidores titulares de cargos efetivos
desses Municípios que não optaram por um Regime Próprio, são
segurados obrigatórios do Regime Geral de Previdência Social
(INSS).

O servidor ocupante, exclusivamente de cargo em comissão declarado


em lei de livre nomeação e exoneração, bem como de outro cargo
temporário ou de emprego público são excluídos do RPPS, aplicando-
se o RGPS (art. 40, §13 CF/88).
O RPPS observará no que couber, os requisitos e critérios fixados
para o RGPS (art.40, §12 CF/88). Assim, as regras constitucionais do
RGPS aplicam-se ao RPPS.

A previdência dos servidores públicos sofreu significativas mudanças


através das EC 20/98; 41/03; 47/05.

 EC 20/98:
- o servidor público podia se aposentar por tempo de serviço,
independentemente da idade. Este diploma legal passou a exigir o
cumprimento cumulativo dos requisitos idade e tempo de
contribuição para a aposentadoria do RPPS.

- antes dessa emenda era permitido que os servidores contassem com


períodos fictícios de tempo de serviço. A licença prêmio não gozada,
por exemplo, contava em dobro para fins de aposentadoria.
Atualmente, o §10 do art. 40 CF/88 traz vedação expressa para
requerer contagem fictícia de tempo de contribuição.
- era possível cumulação de aposentadorias públicas
indiscriminadamente. Era possível também a cumulação de cargo
público com proventos de aposentadoria. Assim um auditor fiscal
aposentado poderia fazer concurso público para o mesmo cargo ou
para outro, cumulando a sua aposentadoria com a remuneração do
cargo.

 EC 41/03:
- acabou com a integralidade e a paridade. A integralidade é o
direito do servidor de receber aposentadoria no valor da sua última
remuneração como ativo, e a paridade é a garantia de que os
proventos de aposentadoria serão reajustados toda a vez que a
remuneração dos servidores ativos seja aumentada.

- criou a possibilidade de instituição de previdência complementar


para servidores públicos.
A CF/88 prevê as seguintes modalidades de aposentadorias para os
servidores públicos:

1 - aposentadoria voluntaria - Com base no inciso III do §1º do art. 40


CF/88. Com cumulação dos requisitos idade e tempo de contribuição ou por
idade proporcional ao tempo de contribuição;

2 – aposentadoria compulsória - esta independe da vontade do servidor


público. Com base no inciso II do §1º do art. 40 CF/88 a aposentadoria se
dá ao servidor público que tenha 75 anos de idade (Lei Complementar
152/2015), com proventos proporcionais ao tempo de contribuição.

3 – aposentadoria por invalidez - está prevista no art. 40, §1º, I da CF/88.

4 – aposentadoria especial - art. 40, §4º CF/88.


- portadores de deficiência;
- que exerçam atividades de risco;
- cujas atividades sejam exercidas sob condição especiais que prejudiquem a saúde
ou a integridade física.
Todas as hipóteses dependem para a concessão de regulamentação
por lei complementar. Apesar de já existir regulamentação para a
aposentadoria especial dos trabalhadores do RGPS, em caso de
contato com agentes insalubres (art. 57 e 58 da lei 8.213/91, e
também, dos portadores de deficiência (LC 142/2013), mas não existe
norma similar prevendo o direito dos servidores vinculados ao RPPS.

Abono de permanência: de acordo com o art. 40, § 19 CF, o


servidor que tenha completado as exigências para aposentadoria
voluntaria permanente, ou seja, 60 anos se homem mais 35 anos de
contribuição, e 55 anos se mulher mais 35 anos de contribuição, e que
opte por permanecer em atividade fará jus a um abono de
permanência equivalente ao valor da sua contribuição previdenciária
até complementar as exigências para aposentadoria compulsória.
Regime Complementar de Previdência Social

No ordenamento jurídico brasileiro, coexistem regimes previdenciários


básicos (obrigatórios) e complementares (facultativos), conforme abaixo:
O Regime Complementar podem ser dois:

- Regime de previdência complementar dos servidores públicos (de natureza


pública);

- Regime de previdência privada complementar (de natureza privada);

O regime de previdência privada complementar subdivide-se em dois


segmentos:

a) previdência aberta, em regra, acessível a qualquer pessoa física;

b) previdência fechada, destinada exclusivamente aos empregados de uma


empresa ou grupo de empresas, aos servidores de entes públicos e aos associados ou
membros de pessoas jurídicas de caráter profissional, classista ou setorial.
Exemplo: A Petrobrás – Petróleo Brasileiro SA, na condição de empresa,
oferece, aos seus empregados, planos de benefícios de previdência privada,
os quais são administrados pela PETROS (entidade fechada). Portanto,
considerando que somente os empregados da Petrobrás podem aderir aos
planos de benefícios da PETROS, trata-se de previdência fechada.

Cabe destacar, a edição da Lei n. 12.618, de 30.4.2012, que institui o


regime de previdência complementar para os servidores públicos
federais titulares de cargo efetivo. Fixa o limite máximo para a
concessão de aposentadorias e pensões pelo regime de previdência de
que trata o art. 40 da Constituição Federal; autoriza a criação de 3
(três) entidades fechadas de previdência complementar, denominadas
Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal
do Poder Executivo (Funpresp-Exe), Fundação de Previdência
Complementar do Servidor Público Federal do Poder Legislativo
(Funpresp-Leg) e Fundação de Previdência Complementar do
Servidor Público Federal do Poder Judiciário (Funpresp-Jud); altera
dispositivos da Lei n. 10.887, de 18.6.2004; e dá outras providências.
Merece atenção o fato de que, mesmo no âmbito dos entes federativos
que criarem fundos de previdência complementar para seus agentes
públicos, não há obrigatoriedade de adesão, por parte de novos
ingressantes em cargos públicos efetivos ou vitalícios. Apenas a
contribuição destes se limitará a 11% do valor estabelecido como
“teto” para o regime de que trata o art. 40, caput, da Constituição.
Caberá a cada pessoa atingida pela alteração decidir se irá ou não
contribuir para o fundo de previdência complementar.

No estado do Espírito Santo já fora criada a previdência


complementar dos servidores públicos. Criada no dia 26 de setembro
de 2013 através do Decreto nº 3395-R, a Fundação de Previdência
Complementar do Estado do Espírito Santo iniciou suas atividades
em fevereiro de 2014, recebendo todos os servidores públicos
nomeados para cargos efetivos a partir daquela data para aderir a
previdência complementar. (PREVES)
Da carência
Período de carência é o tempo correspondente ao número mínimo
de contribuições mensais indispensáveis para o beneficiário faça
jus ao benefício, consideradas a partir do transcurso do primeiro dia
dos meses de suas competências. A contagem do período de carência
de acordo com cada categoria de segurado se inicia da seguinte forma:
O período de carência varia em função do:

• Do tipo de benefício;
• Do tipo de segurado.

Período de carência para cada espécie de benefício:


Independe de carência a concessão das seguintes prestações:

I – pensão por morte, auxílio-reclusão, salário-família e auxílio-acidente;

II – auxílio-doença e aposentadoria por invalidez nos casos de acidente e qualquer


natureza ou causa e de doença profissional ou do trabalho, bem como nos casos de
segurado que, após filiar-se ao RGPS, for acometido de alguma das doenças e
afecções especificadas em lista elaborada pelo Ministério da Saúde e da Previdência
Social, atualizada a cada 3 anos, de acordo com os critérios de estigma,
deformação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e
gravidade que mereçam tratamento particularizado;

III – os benefícios concedidos aos segurados especiais;

IV – serviço social;

V – reabilitação profissional;

VI – salário-maternidade para as seguradas empregadas, trabalhadora avulsa e


empregada doméstica.
No caso de perda da qualidade de segurado, podem ser aproveitadas
as contribuições anteriores, desde que cumprido, no mínimo, 1/3 do
número exigido para a carência do benefício requerido.

Para as aposentadorias por idade por tempo de contribuição e especial


não é necessário que o segurado cumpra essa obrigação para fins de
concessão desses benefícios.

Para o segurado especial, a carência é contada, conforme o tempo de


efetivo exercício na atividade rural, visto que o segurado especial não
possui contribuição mensal.

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