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R e v i s t a d a C â m a r a M u n i c i p a l d e S ã o P a u l o

Número 4 - dezembro/2013
Distribuição gratuita

Partos
humanizados
Lei garante tratamento mais
respeitoso à mãe e ao bebê na
OH
OH

CH-CH2
OH
2 -NH3
rede pública municipal de saúde
E=m

Talentos esquecidos Herança de guerra
Projeto quer mais atenção Conflito de Canudos
aos alunos superdotados mudou nomes de ruas em SP
Palavra do Presidente Comunicação INTEGRADA
Vereador José Américo
Presidente da CMSP

Mesa Diretora
Presidente: José Américo (PT)
1º Vice-Presidente: Marco Aurélio Cunha (PSD)
Câmara Municipal de São Paulo
2º Vice-Presidente: Aurélio Miguel (PR)
1º Secretário: Claudinho de Souza (PSDB)
2º Secretário: Adilson Amadeu (PTB)

Sua opinião é
1º Suplente: Gilson Barreto (PSDB)
2º Suplente: Dalton Silvano (PV)
Corregedor: Rubens Calvo (PMDB) A última edição do ano da revista Apartes marca o fim do mandato da atual Mesa
muito importante para a Vereadores da 16ª Legislatura (2013-2016)
Diretora, da qual sou presidente. Fazendo um balanço das muitas decisões tomadas em
relação a todos os setores da Casa ao longo desses 12 meses, tenho especial orgulho do
construção deste veículo Abou Anni (PV) - suplente em exercício, Adilson Amadeu (PTB), Alfredinho
(PT), Andrea Matarazzo (PSDB), Antonio Carlos Rodrigues (PR) - licenciado, Ari
investimento realizado na área de comunicação. Confi ra a agenda
Algumas legislativa,
melhorias foram significati-
vas. Por exemplo: a grade da TV Câmara São Paulo ganhou novos programas; osobre
consulte leis e projetos e informe-se portal
de comunicação pública
Friedenbach (PROS), Arselino Tatto (PT), Atílio Francisco (PRB), Aurélio Miguel (PR),
Aurélio Nomura (PSDB), Rubens Calvo (PMDB), Celso Jatene (PTB) - licenciado,
Claudinho de Souza (PSDB), Conte Lopes (PTB), Coronel Camilo (PSD) - suplente recebeu um grande número de ferramentas o trabalho
úteis desenvolvido
ao cidadão e foi pelos vereadores.
remodelada a Web
em exercício, Coronel Telhada (PSDB), Dalton Silvano (PV), David Soares (PSD), Rádio - mais uma alternativa para quem deseja se informar sobre o Parlamento paulis-
Donato (PT), Edemilson Chaves (PP), Edir Sales (PSD), Eduardo Tuma (PSDB),
Eliseu Gabriel (PSB) - licenciado, Floriano Pesaro (PSDB), George Hato (PMDB), tano, além de outras novidades, como o aplicativowww.camara.sp.gov.br
da CMSP para dispositivos móveis e
Gilson Barreto (PSDB), Goulart (PSD), Jair Tatto (PT), Jean Madeira (PRB), José
Américo (PT), José Police Neto (PSD), Juliana Cardoso (PT), Laércio Benko (PHS),
as publicações institucionais.
Marco Aurélio Cunha (PSD), Mario Covas Neto (PSDB), Marquito (PTB) - suplente Entre as mudanças promovidas na área, tenho certeza de que um dos grandes acertos
em exercício, Marta Costa (PSD), Milton Leite (Democratas), Nabil Bonduki (PT),
Natalini (PV), Nelo Rodolfo (PMDB), Netinho de Paula (PC do B) - licenciado,
foi alterar a periodicidade desta publicação, de semestral para mensal. A modificação
Noemi Nonato (PROS), Orlando Silva (PC do B) - suplente em exercício, Ota contribuiu para aperfeiçoar ainda mais a comunicação
Acompanhe da Câmara
as Sessões Municipal,
Plenárias ao disponi-
e assista aos
(PROS), Patrícia Bezerra (PSDB), Paulo Fiorilo (PT), Paulo Frange (PTB), Reis (PT),
Ricardo Nunes (PMDB), Ricardo Teixeira (PV) - licenciado, Ricardo Young (PPS), bilizar um veículo mais dinâmico, atualdebates e votações que transformam Portanto,
e presente no cotidiano do Parlamento. a cidade.
Roberto Tripoli (PV), Sandra Tadeu (Democratas), Senival Moura (PT), Souza Santos é com muita satisfação que, como presidente da Mesa que encerra agora seu trabalho,
(PSD), Toninho Paiva (PR), Toninho Vespoli (PSOL), Vavá (PT), Wadih Mutran (PP) -
suplente em exercício escrevo esta última mensagem do ano para os leitores da Apartes.
Canal 61.4 (aberto digital – 24h)
Entre em contato: Na edição passada, comentei Canais a cabo 7 (digital)dae participação
sobre a importância 13 (analógico) deNET,
todos
dasos13h
fun-às 20h.
apartes@camara.sp.gov.br Expediente cionários da Casa na construção desta revista. Neste número, novamente
www.tvcamara.sp.gov.br faço questão
Editor executivo: José Carlos Teixeira de Camargo Filho de enaltecer o trabalho conjunto. Na reportagem Nomes de Guerra, a cooperação entre a
Elaboração: CCI.3 - Equipe de Comunicação da CMSP
Equipe de Documentação (SGP.3) e o corpo de jornalistas do Centro de Comunicação
Supervisora: Maria Isabel Lopes Correa
Siga: Editor: Sândor Vasconcelos Institucional resultou em importante resgate da história das ruas do Centro de São Paulo
@RevistaApartes Editor assistente: Rodrigo Garcia que tiveram seus nomes alterados, na época da Guerra de Canudos (em 1896-1897, na
Repórteres: Gisele Machado, Fausto Salvadori Filho
Apoio jornalístico: Assessoria de Imprensa da Presidência
Bahia), para homenagear os militares Ouçabrasileiros que atuaram
a programação ao vivonoouconflito. Resultadosdos
faça download
Curta: e Diretoria de Comunicação Externa como esses reforçam a importância de todas as equipes de servidores da Câmara
boletins diários sobre as atividades parlamentares. ea
/RevistaApartes Fotografia: Ângelo Dantas, Fábio Lazzari, Gute Garbelotto, Mozart Gomes,
Reinaldo Stávale, Ricardo Rocha, Marcelo Ximenez.
qualidade do trabalho que realizam.
Diagramação: Elton Pereira Não poderia deixar de mencionar, também, a matéria de capa, que traz um projeto
http://webradio.camara.sp.gov.br/
Editor de infografia: Rogério Alves de lei aprovado nesta Casa que determina a humanização dos procedimentos dos partos
Visite: Estagiários de arte: Gustavo Milan, Hugo Ramallo, Raphaela de Oliveira
feitos na rede pública municipal de saúde. Outro texto desta edição debate a situação
www.camara.sp.gov.br Equipe executiva: Leandro Uliam, Lívia Tamashiro
Unidade de apoio: Secretaria de Documentação - SGP.3 dos alunos com altas habilidades, os chamados superdotados, que muitas vezes ficam à
e Secretaria de Recursos Humanos - SGA.1
margem das atenções na rede municipal de ensino e acabam desestimulados, fazendo
CTP, impressão e acabamento: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Capa: Foto de Marcelo Min/Parto com Amor com que o País perca grandes talentos.
Por fim, desejo aos leitores um grande final de ano, com muita paz e harmonia. E que
Revista Apartes − Palácio Anchieta 2014 seja também excelente, com muito trabalho e inúmeras conquistas.
Viaduto Jacareí, 100 - Anexo, 2º andar, sala 212A - Bela Vista, São Paulo - SP
CEP 01319-900 - E-mail: apartes@camara.sp.gov.br
Versão digital disponível em: www.camara.sp.gov.br
Foto: Equipe de Eventos/CMSP

Uma boa leitura a todos!


Tiragem: 10.000 exemplares
Periodicidade: mensal
Fechamento desta edição: 13/12/2013

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Solicite o recebimento
preenchendo dasite
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preenchendo cadastro no site www.camara.sp.gov.br. dezembro/2013 • Apartes | 3
sumário
8 12 3

6
Palavra do Presidente

Notas

8 Cultura
São Paulo nas telas

12 Barulho
Sem pancadão, mas com opção

16
16 Saúde
Por nascimentos mais gentis

24 Educação
Para não desperdiçar talentos

24
29 Regulamentação
OH Menos burocracia para o comércio
e a indústria
CH2-CH2-NH3
OH
OH
32 História
Nomes de guerra
E=m
c² 32 37 Plano Diretor
A voz da cidade

abc 40 Premiação
Projetos simbólicos, intenções
verdadeiras
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cadastro no site www.camara.sp.gov.br ! 37
42 Comércio
Banca de jornal, bebida, eletrônicos...
?

dezembro/2013 • Apartes | 5
notas
Copa do Mundo Agenda da Autores discutem
Mozart Gomes/CMSP

já começou na Democracia biografias não autorizadas


Câmara O portal da CMSP lançou em novembro um
espaço dedicado à Agenda da Democracia, que
“A história de um biografado pertence à história do
País”, disse o jornalista e escritor Moacir Assunção no Ci-
A Câmara Municipal de São Paulo reúne eventos ligados às questões democrá- clo de Debates em Comunicação, realizado pela CMSP em
já entrou em clima de Copa do Mun- ticas, pelas liberdades e em defesa da vida na 11 de novembro. Assunção e seu colega de profissão Assis
do. Em 3 de dezembro, inaugurou sua cidade de São Paulo. A agenda é pública e está Ângelo criticaram a possibilidade de veto legal a biogra-
árvore de Natal, cujo tema é o mundial constantemente sendo atualizada. fias sem autorização prévia.
futebolístico de seleções, que ocorre Nesse novo espaço, haverá informes sobre even- Para Assis Ângelo, as questões de interesse do Brasil
em 2014, no Brasil. tos como audiências públicas da Comissão da Ver- não teriam sido escritas se, “do outro lado, existissem co-
A árvore está decorada com enfei- dade Municipal Vladimir Herzog, da CMSP, e de merciantes como os da associação Procure Saber”, que
tes alusivos ao futebol e bonequinhos outras Comissões da Verdade, além de exposições, reúne músicos – como Gilberto Gil e Caetano Veloso –
que homenageiam os craques das se- palestras, seminários e debates realizados por mu- no combate à venda da “intimidade alheia”. No encontro,
leções brasileiras campeãs do mundo, seus, universidades, parlamentares, secretarias de gratuito e aberto ao público, Assunção e Assis Ângelo de-
em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. governos e organizações da sociedade civil. bateram também o investimento crescente de jornalistas
As seleções do Brasil Até o Papai Noel já está pronto Para divulgar um evento, entre em contato na produção de livros.
que venceram Copas são para torcer para o Brasil, com seu uni- pelo e-mail agenda.democracia@camara.sp.gov.br Assis Ângelo é presidente do Instituto Memória Brasil
homenageadas pela Câmara
forme da seleção. informando data, horário, local e telefone ou e foi chefe de reportagem em O Estado de S. Paulo. É autor,
e-mail de contato. entre outros livros, de Lua, Estrela, Baião - A História de
um Rei, sobre Luiz Gonzaga. Moacir Assunção é professor
na Universidade São Judas Tadeu e também trabalhou em

Câmara Evento tem orquestra jornais de grande circulação. Entre os livros publicados,
ISSN 2316 - 7998

lança para terceira idade Valet mais seguro está Os Homens que Mataram o Facínora, sobre os inimigos
de Lampião e que foi finalista do prêmio Jabuti em 2008.
REVISTA

REVISTA
PROCURADORIA
da Câmara Municipal de São Paulo

PROCURADORIA
da Câmara Municipal de São Paulo
2013
2013

O Ciclo de Debates é promovido mensalmente pela


v.2 n.1 janeiro/dezembro 2013

revistas
v.2 n.1 janeiro/dezembro 2013

Os jovens e adolescentes da A CMSP aprovou mudanças na prestação de Câmara e os encontros são divulgados com antecedên-
revista_procuradoria_cmsp-2013_capa.indd 1 10/25/13 2:51 PM

Orquestra Grupo Pão de Açúcar serviço de manobra e guarda de veículos, o cha- cia no portal.
técnicas
Mozart Gomes/CMSP

ISSN 2318-4248

se apresentaram para um públi- mado “valet service”, na cidade de São Paulo.


co quase todo formado por gen- A partir de agora, além do modelo e da marca Da esquerda para a direita, Assis Ângelo, Eugênio Araújo
A CMSP lançou em te acima dos 60 anos, durante do automóvel, também deverão ser anotados (apresentador do evento) e Moacir Assunção
REVISTA PARLAMENTO

REVISTA
PARLAMENTO
SOCIEDADE
Orquestra Pão de Açúcar tocou
dezembro quatro re- o evento Terceira Idade em Fes- e entregues ao cliente dados como a placa, re-
SOCIEDADE

v.1 n.1 maio/outubro 2013

de Caetano Veloso a Vivaldi


vistas com pareceres e ta, realizada no Salão Nobre da gistro de eventual avaria e a quilometragem no
v.1 n.1 maio/outubro 2013

ESCOLA DO PARLAMENTO
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO

artigos: Procuradoria da Câmara Municipal de São Pau- bro, o Terceira Idade em Festa é momento da entrega do veículo. Além disso, o
Câmara Municipal de ISSN 2316 - 798X
lo (CMSP), em 6 de dezembro. um evento criado pela Resolução funcionário da empresa de valet fica proibido de
São Paulo – 2013, Parla- Consultoria
Técnico-Legislativa
SGP. 5
Esta obra apresenta um
conjunto de trabalhos desenvol-
Com qualidade técnica, gestos 1/2005, “destinado ao congraça- circular com o carro, exceto entre o ponto de
mento & Sociedade (da teatrais e alegria de tocar, os mento dos cidadãos da terceira sua coleta e o estacionamento.
vidos pela Consultoria Técnico-Le-
gislativa, órgão de assessoria da
Câmara Municipal de São Paulo,
diretamente vinculada ao pro-
REVISTA

REVISTA
cesso legislativo, cujas atribuições
constituem-se em fornecer sub-

CONSULTORIA
sídios e suporte técnico às ativi-
CONSULTORIA
Técnico Legislativa - SGP.5

dades parlamentares relativas às

Escola do Parlamento), músicos executaram obras como idade do Município de São Paulo”, As mudanças constam na Lei 15.887/2013,
Técnico-Legislativa - SGP.5
Comissões de Mérito legalmente
constituídas, assim como apoio à

2013
Mesa Diretora da Câmara em suas
mais variadas demandas.
2013

Atualmente a Consultoria
v.2 n.1 janeiro/dezembro 2013
Técnico-Legislativa (SGP. 5) é
composta por três áreas: As-
sessoria e Consultoria de Ad-

Revista Consultoria Téc- Aquarela, Sampa, Tico-tico no Fubá e serve para celebrar o final dos dos vereadores Marco Aurélio Cunha e Marta
ministração Pública, Assessoria
v.2 n.1 janeiro/dezembro 2013

e Consultoria de Urbanismo e
Meio Ambiente e a Assessoria e
Consultoria da Área Social. A pre-
sente publicação apresenta um
resumo das atividades realizadas
por essas três equipes, tais como
relatórios, artigos, estudos, en-

nico-Legislativa – SGP.5 e o primeiro movimento de As trabalhos da Comissão Extraordi- Costa (ambos do PSD), que foi sancionada pelo
tre outros trabalhos desenvolvi-
dos ao longo dos anos.

– 2013; e Revista CTEO ISSN 2316-8005


Quatro Estações. nária Permanente do Idoso. Executivo e altera a Lei 13.763/2004, que estabe-
– Consultoria Técnica de A apresentação ocorreu no for- A Orquestra Pão de Açúcar, lece normas para o serviço de valet no Município.
Economia e Orçamento mato de uma sessão solene, con- com regência de Daniel Misiuk e A legislação já é válida, mas ainda deve ser
REVISTA

REVISTA

Gute Garbelotto/CMSP
CTEO
CTEO
Consultoria Técnica de Economia e Orçamento

– 2013. As publicações Consultoria Técnica de Economia e Orçamento

2013
v.2 n.1 janeiro/dezembro 2013
duzida pelo vereador Mário Covas direção artística de Renata Jaffé, regulamentada pela Prefeitura – que precisa de-
estão disponíveis em: Neto (PSDB). Realizado anualmen- é presença regular no Terceira finir como será a fiscalização e quais serão as pe-
v.2 n.1 janeiro/dezembro 2013

www.camara.sp.gov.br. te na primeira quinzena de dezem- Idade em Festa. nalidades no caso de infrações.

6 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 7


Cultura

São Paulo
cinema, e hoje eu me sinto muito à vontade

RenattodSousa/Portal CMSP
aqui. Este é um lugar onde a gente encon-
tra respaldo.”
Na sessão em que o projeto foi aprova-
do, o vereador Orlando Silva (PCdoB) res-
saltou que sua expectativa é que a SPCine
tenha como marca a eficiência. “Nos debates
com representantes do setor, sempre perce-

nas telas
bi uma preocupação com a eficiência, com
a agilidade, com a capacidade operacional
que essa empresa deve ter, e isso está plena-
mente contemplado nesse projeto.”
O vereador Andrea Matarazzo (PSDB)
declarou ser fundamental que a SPCine
não se transforme em uma agência apare-
lhada. “É importante que não tenha grupos
que se assenhorem dela, que seja absolu-
entUSiASMo tamente transparente e democrática. Que
Recém-criada, agência SPCine pretende Cineastas comemoram a aprovação
do projeto da SPCine
seus recursos sejam canalizados para a ati-

impulsionar setor audiovisual da cidade


vidade fim, o cinema.”
Na cerimônia de entrega do projeto, a
ministra da Cultura, Marta Suplicy (PT), de-
772/2013, que cria a SPCine, ao presidente clarou que a indústria cinematográfica “traz
da Câmara Municipal de São Paulo (CMSP), como resultado um produto que alegra a
rodrigo Garcia | rodrigogarcia@camara.sp.gov.br José Américo (PT), em 31 de outubro, no alma e enriquece nossa cultura”. Segundo
Palácio das Artes, com a presença de várias ela, “o cinema é um dos meios mais eficazes
autoridades e cineastas. “Nos últimos anos, a de criar uma imagem do País, registrando
Câmara vem aprovando vários projetos sobre
a cultura, mas havia uma lacuna em relação

M
esmo quem nunca esteve em Nova York facilmente reconhece a ci- ao cinema; a SPCine chega em muito boa
BAtALHA
dade quando vê seus pontos turísticos, como o Central Park ou hora”, afirmou Américo na ocasião. Toni Venturi é um dos cineastas que
a Estátua da Liberdade, no cinema. Essas lembranças surgem Em 3 de dezembro, os vereadores apro- lutam pela “emancipação do cinema”
porque muitas cenas de filmes e seriados são feitas nesses locais graças à varam o projeto por unanimidade, sob os
ajuda, por parte do governo municipal, às produtoras. aplausos de vários diretores e produtores que
Já a cidade de São Paulo, como ainda não contava com esse auxílio, lotaram as galerias da Câmara. O prefeito
tem pouca presença nas telas do mundo e até do País. Para tentar so- deve sancionar a lei em breve e a previsão é
lucionar essa carência, a Prefeitura e os governos estadual e federal se que a SPCine comece a funcionar nos primei-
uniram para criar a Empresa de Cinema e Audiovisual de São Paulo, a ros meses de 2014.
SPCine. A principal missão será facilitar e desburocratizar a economia Toni Venturi, ex-presidente da Associa-
audiovisual da cidade. ção Paulista de Cineastas (Apaci), é um dos
O prefeito Fernando Haddad (PT) queixou-se do número excessivo de Ponte eStAiAdA diretores de cinema que ajudaram a mon-

Fábio Lazzari/CMSP
Cena do filme Ensaio sobre a
licenças exigidas atualmente para se filmar na capital paulista. “Não pode- Cegueira, com a ponte Octávio
Divulgação
tar o PL. “Passei a frequentar essa Casa há
mos ter tantas”, disse ele na cerimônia de entrega do Projeto de Lei (PL) Frias de Oliveira ao fundo alguns anos, lutando pela emancipação do

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Cultura

movimentos históricos e características culturais, e


São Paulo poderá contribuir muito com isso”.
Muitas produtoras,
Sampa
Por sua vez, o governador de São Paulo, Geral- • São Paulo, Sinfonia da Metrópole
do Alckmin (PSDB), disse que o projeto celebra a
• o Homem que virou suco
união de esforços. “Estamos por terra, mar e ar”, pouca produção • São Paulo Sociedade Anônima

em
disse, em uma referência às três esferas de governo
envolvidas no projeto. “Estamos imitando o cinema, Na justificativa do Projeto de Lei (PL) que enviou • O Corintiano
que sempre trabalha em equipe, pois esse projeto à Câmara criando a SPCine, o prefeito Fernando • ensaio sobre a Cegueira
não é trabalho isolado.” Haddad mostrou um retrato paradoxal da situação • Anjos do Arrabalde

cartaz
audiovisual da cidade: há muitas produtoras e pou- • Linha de Passe

Fotos: Divulgação
MUitAS PLAtAforMAS ca produção. • Salve Geral
A SPCine investirá em produtos e serviços ligados a Segundo ele, São Paulo concentra o maior nú- • O Signo da Cidade
atividades audiovisuais, apoiará eventos promocio- mero de produtoras do Brasil: ultrapassa o número
• Chega de Saudade
nais no Brasil e no exterior, promoverá formação e de 500 e reúne as mais importantes em termos de
capacitação profissional, subsidiará pesquisa e de- volume de negócios e de geração de empregos e Alguns filmes que •

antonia
O Invasor
mostram a cidade
senvolvimento científicos e financiará ou apoiará a renda. Mas isso não se reflete na bilheteria e na
construção de espaços físicos. Terá, ainda, atuação audiência dos filmes. Em 2011, por exemplo, foram • Bem-vindo a São Paulo
como film comission, órgão que facilita as filmagens produzidos 32 filmes paulistas, ante 43 realizados
nos espaços públicos da cidade de São Paulo. no Estado do Rio de Janeiro.
De acordo com o prefeito, a SPCine vai fomen- Na realidade, percebe-se que nos últimos anos
tar a produção cinematográfica, publicitária, televi- muitas produtoras têm realizado suas filmagens em
siva, de games, de animação e de conteúdos trans- outras cidades devido às dificuldades de filmar e pro-
mídia, criados para serem veiculados em diferentes duzir em São Paulo. Além disso, a capacidade de recursos para se desenvolver. Vai ter espaço para

facilitar e
plataformas, das telas do cinema às dos aparelhos mobilizar recursos de incentivos fiscais por produto- todo tipo de produção”, disse Haddad. “É um en-
celulares. “A SPCine é para todo mundo: para ras paulistanas foi, nos últimos 10 anos, 30% menor xoval completo.”
quem está produzindo audiovisual com complexi-
dade para ter penetração internacional, até para
do que a das produtoras do Rio de Janeiro, de acordo
com dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine).
desburocratizar No mundo, poucas cidades têm uma instituição
para cuidar especialmente do cinema. Entre elas, estão
aquela garotada que está na periferia esperando Apesar do crescimento da produção cinematográ- Nova York, Seul, Buenos Aires e Rio de Janeiro, onde
fica brasileira na última década, com 83 lançamentos
Principais objetivos da SPCine desde 1992 existe a RioFilme. Por esse motivo, técni-
nacionais e 15 milhões de espectadores em 2012, Elaborar políticas para o desenvolvimento cos da Secretaria de Cultura de São Paulo estudaram o
existe um estrangulamento na fase da distribuição dos econômico, cultural, tecnológico e científico modelo da agência carioca antes da criação da SPCine.
CooPerAÇÃo
Os três níveis de governo se uniram filmes, em um mercado exíguo, competitivo e concen- “Seria um erro se apenas copiássemos a RioFil-
para criar a empresa de cinema trado em títulos importados, informou Haddad.
Subsidiar e investir na realização me”, disse o secretário municipal de Cultura, Juca
de produtos e serviços
Sendo o maior mercado exibidor do Brasil, o Es- Ferreira. “Analisamos a experiência e extraímos o
tado de São Paulo é decisivo para impulsionar o Investir em eventos promocionais que achamos de bom. Há uma diferença de perspec-
desenvolvimento econômico do audiovisual não só no País e no exterior tiva entre as cidades e as agências. Mas o trabalho
local, mas nacional. será muito mais de cooperação do que de concor-
Logo, concluiu o prefeito, é necessário um es- Distribuir produtos audiovisuais rência.” E completou: “Queremos fortalecer os la-
forço maior para promover e inserir os filmes e ços não só entre São Paulo e Rio de Janeiro, mas
Atuar como film comission, órgão que
conteúdos audiovisuais paulistanos e brasileiros no facilita filmagens em espaços públicos no resto do País”. Também ajudaram no projeto de
mercado paulista, o que, segundo ele, é um “fator criação da SPCine associações de cineastas, roteiris-
estratégico para o desenvolvimento econômico e a Apoiar ações de formação de pessoas tas, produtores de TV, animadores e desenvolvedo-
ampliação do público”. para a indústria audiovisual res de jogos digitais.
Haddad também informou que vem aumentan- Incentivar ações de pesquisa Com tanto entusiasmo dos profissionais da in-
do a demanda por roteiristas, quadros técnicos e científica e artística dústria audiovisual e das autoridades, um dia, quem
fotógrafos. Atualmente, a formação na área técnica sabe, os nova-iorquinos assistirão a um filme rodado
Fábio Lazzari/CMSP

audiovisual é um dos gargalos do desenvolvimento Investir no desenvolvimento de empresas no Vale do Anhangabaú ou no Parque do Ibirapuera
da atividade audiovisual
do audiovisual no País. e, rapidamente, reconhecerão São Paulo.

10 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 11


BarulHo

Sem
O

Gute Garbelotto/CMSP
som pode chegar a 110 decibéis. sor da Universidade de São Paulo

Gute Garbelotto/CMSP
É comparável ao de uma bri- (USP) José Fernando Cremonesi,
tadeira e pode levar à surdez mestre em Ruídos Urbanos e dou-
instantânea. A vibração dispara tor em Ruídos Industriais.
alarmes dos carros e faz tremer O aposentado Jacir relata o so-
janelas e portas das casas próxi- frimento vivido nas noites de sexta

pancadão,
mas. Esse barulho potente chega para sábado e de sábado para do-
ao quarto de Jacir Fernando, téc- mingo: “Arrebentam a casa da gen-
nico em química aposentado de 61 te; bate vidro, janela, sem hora nem
anos, morador do Jardim São Luiz, limite para o barulho”. Nos últimos
zona sul de São Paulo, e o faz “pu- meses, entretanto, ele notou que a
lar” involuntariamente na cama situação melhorou muito e supõe

mas
aos finais de semana. que seja efeito da Lei 15.777/2013,
O que provoca tudo isso é um que proíbe a emissão de som eleva-
fenômeno urbano bem conhecido do por automóveis parados, espe-

Câmara aprova lei


dos paulistanos: as festas ao redor cialmente à noite. Criada em maio
PreCAUÇÃo
de carros estacionados e com mú- de 2013, a Lei do Pancadão foi pro- Vereador Coronel Camilo acredita que

com
que permite multar sica excessivamente alta. “Além de
prejudicar os vizinhos, o alto nível
posta pelos vereadores da Câmara
Municipal de São Paulo (CMSP)
o Poder Público deve evitar a desordem
antes que ela se instale

som alto em carros sonoro atrapalha o próprio dono Coronel Camilo (PSD), Dalton Sil-

estacionados e
do carro. Você para perto dele e vano (PV) e o atualmente senador
estremece. Além de tudo, é um pro- Antonio Carlos Rodrigues (PR). “Já

opção
pretende criar blema de segurança sério, porque
aquele fulano não ouve nada, pode
tenho conseguido dormir em casa.
Se mexer no bolso, o pessoal aten-
funk: “Não trabalho com carro nas
minhas apresentações, mas sou do
alternativas de passar um caminhão por cima que de”, diz o aposentado, em referên- funk na comunidade e a galera fica

lazer aos jovens ele não escuta”, comenta o profes- cia às multas previstas no texto.
Quem não cumprir a lei pagará
meio assim, já abaixa o som. Ulti-
mamente, percebo as pessoas fa-
multa de R$ 1 mil. Se não baixar lando sobre a multa”.
o volume, o responsável pelo carro Apesar de surtir efeitos, Coro-
inStrUMento pode ter seu aparelho de som ou o nel Camilo lembra que, até o fe-
Gisele machado | gisele@camara.sp.gov.br
Vereador Dalton Silvano: próprio veículo apreendido “até o chamento desta edição, a lei ainda
“Não havia punição para donos de restabelecimento da ordem públi- não havia sido regulamentada pelo
carros estacionados com som alto”
ca”. Se a mesma infração ocorrer Executivo, que deve determinar
novamente em menos de 30 dias, quem fiscalizará e quantos decibéis
a multa sobe para R$ 2 mil. A par- serão suficientes para considerar
tir da terceira infração, o valor vai um som abusivamente alto, entre
a R$ 4 mil. As regras não atingem outros pontos. O prazo para a re-
veículos usados para publicidade e gulamentação terminou em 29 de
manifestações sindicais ou popu- julho. Por isso, o vereador protoco-
lares, além de outros casos previa- lou um pedido à Comissão Perma-
mente autorizados. nente de Administração Pública da
PAnCAdÃo
Jovens promovem Assim como Jacir, mais morado- CMSP para que questione o prefei-
festa com bebidas res sentiram que o medo da multa to Fernando Haddad (PT) sobre o
ao redor de carro fez diminuir o barulho. É o caso motivo do atraso.
estacionado
do MC Diih, nome profissional de O vereador Dalton Silvano lem-

Equipe de Eventos/CMSP
Diego Pereira da Silva, 23 anos, bra que, sem a lei, as autoridades
que mora em Santana, na zona não têm base para punir quem
norte, e faz shows desde reggae a abusa do volume em veículos esta-

12 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 13


BarulHo

BARULHO
cionados. Só é possível a punição atuar sobre o comércio irregular e cia, com antecipação, antes de as
por crimes isolados e às vezes as- o uso inadequado do espaço para pessoas se embriagarem, não
sociados, como perturbação do estacionar, mas a fiscalização pode respeitarem mais ninguém e
sossego ou venda ilegal de bebi- ser demorada. Já o Programa de ter confronto”.

PESADO
das alcoólicas, que requerem tes- Silêncio Urbano (Psiu), do Execu-
temunhas. O Código de Trânsito tivo municipal, atua apenas dentro GAStAr enerGiA
Brasileiro (CTB) prevê multa para de estabelecimentos, como bares e MC Diih é crítico da
veículos com som elevado, mas os boates. “Com a lei em prática, será informalidade dos bai-
automóveis devem estar em mo- muito fácil terminar com esse jogo les. Conta que recebe
vimento. A Prefeitura ainda pode de empurra, porque ela dá poder amigos estrangeiros e
Exemplos ensurdecedores

dB
dB
de sanção financeira forte e per- tem receio de levá-los

fUnk
mite apreensão do veículo ou som
num posto, bar, terreno, área pú-
às festas de rua por
conta da falta de ba-
encontrados nas grandes cidades

80
– 90
Para o MC Diih, se o jovem for blica, sem a necessidade de teste- nheiros, por exemplo, *dB = decibéis
proibido de se divertir de um modo

o–
considerado nocivo, buscará uma munha”, diz Coronel Camilo. e da possibilidade de
s

dB
opção igualmente negativa Em sua experiência como mili- abordagem policial.
n

c ia )
te
tar, o parlamentar do PSD notou Contrariado, leva os

tâ n
que os encontros ao redor de car- visitantes a casas no-
i n

00
o

d is
Tr á f e g de
ros com som abusivo iniciam 90% turnas, mesmo com

–1
do que ele denomina “pancadões”: muita vontade de apre-
0 0m
(a 1
B oei
festas com música alta nas vias pú- sentá-los à comunidade.

n g d ecola n do
c

ia)
blicas, sem autorização e estrutura Diego vê mais vantagens
ân
fornecidas pelas autoridades, que na formalização: os comer- is t
se tornam polo de atração para o ciantes podem atuar em d ed
uso de bebidas e entorpecentes, parceria com o Estado e aju- 10 m
violência, corrupção de jovens e dar a movimentar a economia. B u z i n a d e c a r r o (a B
d

B
“bagunça generalizada”. Ele acre- O músico defende que, se exis-
0

0d
dita que o Poder Público peca pela tissem opções culturais, em espa-
– 1 1 1 2
demora na resposta ao cidadão: “O ços estruturados pelo governo, não
S o m a u t o m o t i vo –
Divulgação

trabalho tem de ser com inteligên- seriam necessárias as abordagens )


e s om
d
a ca ixa condições de
d
S h ow d e r o c k (a 2 m propiciar novos
locais para a diver-

Discriminação musical
são dos paulistanos.
“Há igrejas com área livre
policiais e a para shows, CEUs subutilizados e
proibição de bailes outros espaços que já podem ser direcio-
Assis Ângelo, presidente do Instituto Memória Brasil minação musical, porque não é de cultura musical que informais. Ele também teme que, nados para o lazer e onde o Poder Público pode pôr
e estudioso de cultura popular, diz que o som usado se está tratando, mas rigorosamente de barulho, que ao serem simplesmente proibidos de exercer um lazer um mínimo de regras, para que não haja consumo de
nos pancadões não pode ser comparado às valsas e deve ser cerceado naturalmente, não no sentido pura considerado nocivo à sociedade, os jovens procurem drogas”, disse o vereador. Além disso, nas conversas
chorinhos das serestas noturnas do século passado, e simplesmente de proibir, mas de tirar de circulação alternativas igualmente negativas: “Já não tem educa- com os secretários o parlamentar ofereceu a possi-
que incomodavam os trabalhadores ansiosos por uma um objeto que incomoda a população”, afirma. ção, não tem uma cultura tão forte, e o que tem o go- bilidade de apresentar emendas ao Orçamento para
boa noite de sono, levavam os cantores para a prisão, Para ele, não há condições de a expressão musical verno cada vez mais tira, tira, entende?”. gerar áreas de lazer, principalmente, na periferia. “Se
mas, ao mesmo tempo, deixaram um precioso legado ser de boa qualidade nos eventos ao redor de automó- Coronel Camilo conversou sobre isso com Juca não criarmos espaços, a lei não vai resolver, porque o
musical. “Não tenho medo de ser acusado de discri- veis, inclusive por conta do volume excessivo. Ferreira, secretário municipal de Cultura, e com Ne- jovem quer se divertir, gastar energia. A ideia é melho-
tinho de Paula, secretário especial de Promoção da rar a vida das pessoas, o que significa termos ordem,
Igualdade Racial, e concluiu que a Prefeitura tem mas sem cercear a diversão”, diz Camilo.

14 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 15


saÚde

nascimentos N
ascimento gentil é como os falantes de língua banho. “Não acreditei no amor com que elas me
inglesa denominam o parto humanizado. A trataram. Me senti em outro mundo. Foi a expe-
ideia pode ser traduzida pelo carinho e pela riência mais incrível da minha vida”, diz Priscila,
serenidade da auxiliar de enfermagem Marlene, que teve seu filho na Casa de Parto de Sapopemba,

mais gentis
que delicadamente trançava os cabelos da gestan- um Centro de Parto Normal (CPN) público muni-
te Priscila Ortega, jornalista, enquanto esperava cipal. Nesse local, o parto é um evento natural, que
a dilatação aumentar. Marlene saía da sala de vez respeita o tempo do bebê, sem intervenção médi-
em quando e, na volta, trazia lanchinhos e chá de ca. O procedimento é destinado aos casos de baixo
cravo-da-índia para Priscila. Ao longo de sete horas risco, com possibilidade de acesso ao hospital se
madrugada adentro, a enfermeira Maria segurou houver alguma complicação.
a mão de Priscila e disse que ela não precisava ter O relato é um ideal de perfeição e lembra os
medo, que conseguiria ter seu bebê como queria: clichês das telenovelas, em que as mães aparecem
Paulistanas terão direito a parto humanizado por parto normal e sem medicamentos ou anestesia. sorrindo ao ter seus bebês. Mas o momento tam-

no SUS, graças a lei elaborada pela CMSP Finalmente, às 4 horas da manhã, Marlene, Ma-
ria e outra assistente trouxeram ao mundo o forte
bém pode ficar marcado pelos traumas. De maio a
novembro de 2013, a advogada Priscila Cavalcanti,
Isaac, que em hebraico significa sorriso. O pai cor- especializada em direitos reprodutivos e sexuais
Gisele machado | gisele@camara.sp.gov.br tou o cordão umbilical e acompanhou o primeiro da mulher, atendeu 30 mulheres que foram víti-

Marcelo Min/Parto com Amor


PACiente
Em partos normais
humanizados, há respeito
ao tempo do bebê

16 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 17


saÚde

mas de violência obstétrica: “Elas chegam até mim reclaman- pesadelo. Sem questionar a gestan-
do de maus tratos verbais, de exposição de seus corpos sem te, uma obstetriz induziu o trabalho
consentimento, de procedimentos invasivos e dolorosos sem de parto precocemente e proposital-

O Parto anuência, de intervenções sem justificativa médica”. Segundo


ela, as mulheres ainda reclamam que os serviços não permi-
mente, durante o exame de toque.
Após quase 15 horas de contra-

Humanizado tem a entrada do acompanhante, às vezes em nenhum mo-


mento do trabalho de parto, “por inacreditável que pareça”.
ções, sentindo-se esgotada e insegu-
ra, Luciana pediu para ser transfe-
As clientes chegam abaladas, com raiva, tristes, algumas em rida a um hospital conveniado ao

Arquivo pessoal
tratamento por depressão, segundo a advogada. “Elas choram Sistema Único de Saúde (SUS). Ao
nas reuniões comigo, contam detalhes que as marcaram e re- chegar, presenciou uma discussão
latam muitas dificuldades em retomar a vida normal.” entre a equipe que a levava e profis-
Luciana Lima, que trabalha como secretária, é uma das clien- sionais da instituição receptora, que

Preza pelo
tes que está movendo ação por danos morais contra o hospital
que a atendeu. Em busca de um parto normal humanizado, com
respeito ao tempo do bebê, procurou um CPN particular. Com
não teria sido avisada sobre a trans-
ferência. Com fortes dores, saiu da
ambulância a pé, esperou a briga
feridA
Luciana imaginou um parto
humanizado, mas teve seu
filho sozinha e desassistida
THOMAS
alívio da dor
39 semanas de gravidez, na instituição escolhida, começou seu terminar e, finalmente, foi admiti-
da. “Na sala de triagem, ao vocalizar Com uma gravidez saudável e feliz, Luciana Lima idealizava um parto
minha dor pelas contrações, a en- normal romantizado, com a presença de seu marido, que cortaria o cordão
fermeira me mandava calar a boca, umbilical do bebê. Juntos, os três tirariam fotos de um nascimento cheio de
dizia: ‘Você não fala nada aqui! Fica alegria. Para que isso acontecesse, ela escolheu uma casa de parto particular
Alia segurança quieta!’”. Após um exame de toque muito conceituada, onde Thomas nasceria sem a presença de médicos, quando
ao bem-estar “superdoloroso”, a profissional dis- estivesse pronto para vir ao mundo.
da mãe e do se que havia dilatação suficiente Os planos de Luciana ruíram quando uma obstetriz induziu o trabalho
bebê de parto sem necessidade nem anuência, durante um exame de toque.
para o parto normal. Mesmo assim,
Depois de 15 horas de contrações e exausta, a gestante foi transferida a um
ameaçou buscar o fórceps. Luciana
hospital, onde foi maltratada. No dia 8 de março de 2012, seu filho nasceu
desassistido, na sala de pré-parto. O marido não estava presente. “As
memórias me machucam sempre”, diz Luciana. As fotos, ela só conseguiu

Laura Alzueta
Tem mínima ALeGriA fazer no dia seguinte ao nascimento. Thomas é um garoto saudável. Luciana
Vereadora Patrícia Bezerra, que
interferência criou a lei do parto humanizado: se trata para superar o estresse pós-traumático e a depressão.
médica “A mulher não pode ter trauma

SerenidAde
Priscila Ortega só tem boas
ISAAC num momento tão especial”

lembranças de seu parto


se desesperou, e a enfermeira rea- de que o menino estava nascendo
Usa métodos giu com riso e deboche. e que eu poderia morrer”, disse.
menos invasivos Quando engravidou, Priscila Ortega tinha uma certeza: não Transferida para a sala de pré- Num grito, nasceu Thomas. E as-
e mais naturais queria ter seu bebê em um hotel cinco estrelas, mas fazia questão parto, a gestante percebeu que fica- sim terminou o sonho de um par-
de um tratamento cinco estrelas, em um lugar simples e acolhedor ria sem acompanhante. O marido, to romantizado. A enfermeira veio
como uma manjedoura. Ela possuía bom convênio de saúde, mas que assinava a papelada na recep- com uma bronca por Luciana não
optou por uma casa de parto pública, onde são feitos partos ção, foi proibido de entrar. Ainda ter contido a expulsão, dizendo que
normais humanizados e sem médicos. lhe injetaram o hormônio ocitocina a paciente tinha culpa por ter fica-
Permite que a Lá, nasceu Isaac, em setembro de 2012, pelas mãos de três sintético, que acelera o trabalho de do “estragada”. Na opinião da mãe,
mãe escolha profissionais de enfermagem. “Lembro-me da fisionomia serena da parto e costuma gerar dor intensa. entretanto, algumas das lacerações
como o bebê enfermeira obstétrica Maria segurando minha mão por horas, “Fecharam o biombo e me deixa- que sofreu devem-se às induções ar-
vai nascer enquanto cronometrava minhas contrações na água quente da
ram lá, sozinha. Minha barriga en- tificiais e à falta de assistência.
banheira em que eu estava. Silenciosa e paciente, aguardava minha
dureceu, eu não conseguia parar de Frustrada, Luciana quis sair do

Ricardo Rocha/CMSP
Fonte: Lei 15.894/2013
dilatação evoluir”. Priscila não fala das dores do parto. Ela só tem
fazer força, pedia ajuda, meu quei- hospital, mas os profissionais riram
boas lembranças: “Foi a experiência mais incrível da minha vida”.
xo batia de tanto medo, a sensação dela. O marido, quando foi apresen-

18 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 19



entrevista 〉 vereadora Juliana Cardoso

Mozart Gomes/CMSP
Entre as propostas da CMSP para garantir melhores condições às gestantes e aos recém-nascidos, a vereadora
Juliana Cardoso (PT) elaborou o Projeto de Lei 542/2009, que dá respaldo legal para o Município ter mais Centros de O ambiente
Parto Normal (CPNs), inclusive por meio de convênios com unidades particulares. O texto pede a observância de alguns
critérios nessas casas, dedicadas ao parto vaginal (normal) humanizado para gestantes de baixo risco: permitir a presen- de uma casa
ça de acompanhante, garantir a assistência quando não houver riscos à mãe e ao bebê, respeitar a individualidade da
parturiente e disponibilizar remoção emergencial a hospitais de referência em eventuais situações de risco. Atualmente, de parto é
existe apenas um CPN público na cidade, a Casa de Parto de Sapopemba.
Juliana, que estava no fim da gestação quando foi entrevistada pela reportagem da apartes, em dezembro, também
acolhedor”
idealizou a lei do Programa Mãe Canguru (14.966/2009), para estimular o contato pele-a-pele entre mãe e bebê prematuro
ou de baixo peso. Com isso, a criança gasta menos energia para manter a temperatura ideal, em 37ºC, e ganha peso mais
rápido. Outras vantagens são a estimulação sensorial e a criação de laços afetivos.
Deve haver algum cuidado especial ao se decidir por
uma casa de parto?
Do que trata o projeto do Centro de Parto Normal? é muito importante, principalmente para as mães de É importantíssimo fazer um plano de parto, além de
Juliana Cardoso - Ele motiva o SUS a ter mais casas de primeira viagem, que têm muita dúvida, medo... Os um acompanhamento bem antes para saber se está tudo
parto fora do complexo hospitalar, porque dentro dos médicos geralmente não dialogam e você tem que certinho, já que não é um local anexo ao hospital. Fica a
hospitais não se estimula o parto normal humanizado, pesquisar por fora, mas na casa de parto não. Tem uma certa distância, permitida pelo Ministério da Saúde.
em que a mulher sente seu corpo e tem mais benefícios todo o acolhimento das obstetrizes, toda uma equipe Quando há complicações, ambulâncias removem a mãe
do que se fizesse a cesariana, uma cirurgia com dificul- para sanar suas dúvidas, dar atenção e carinho, o que pois descobri que o que eliminei foi o tampão (secreção ao hospital. Todo o trabalho pré-natal é feito para que a
dades de recuperação. é muito diferente de hospital. que bloqueia o colo do útero) e que, a partir disso, você mãe tenha a segurança de ter seu filho na casa de parto.
Hoje, a legislação não dá respaldo municipal para que Na primeira gravidez, tive minha filha por convênio e ainda tem tempo para romper a bolsa.
casas de parto particulares ingressem na rede pública não tinha muita informação. Quando cheguei ao hos- Há espaço para a cesárea, mas também para o parto Qual o objetivo do Programa Mãe Canguru?
de saúde por meio de convênio. O projeto de lei vai pital, os profissionais não conversavam comigo. Eles te humanizado, natural (normal que dispensa medicação), Os prematuros acabam indo para a incubadora, que é
possibilitar isso. levam para uma sala, o médico te apavora para que você sem o preconceito que já vem desde a faculdade de Me- uma máquina. Quero reforçar a questão de ter o bebê
não tenha parto normal, diz que o nenê fez as fezes na dicina. A classe médica sempre alega que é perigoso ter mais perto da mãe, sentindo seu calor e seu carinho. As
Algumas parturientes transferidas a hospitais citam barriga... E apavora a família também. Ele sai e diz: “A parto normal. Mas, no fundo, tem a questão financeira, estatísticas mostram que os bebês tratados nesse proje-
preconceito por terem tentado antes uma casa de parto. mãe não quer fazer a cesárea e está acontecendo uma porque em uma cesariana é necessária toda uma equipe to saem muito mais cedo da UTI (Unidade de Terapia
Não é possível ter tanto preconceito! O ambiente de complicação”. A família então apoia a cesariana, porque de profissionais, como o anestesista. E na casa de parto Intensiva) neonatal, em comparação aos que ficam só
uma casa de parto é acolhedor e aconchegante. Isso supostamente médico é médico, ele é quem sabe. De- humanizado, não. O parto é o mais natural possível. na incubadora.

tado à criança na sala de espera, cho- quando as parturientes assistidas quer garantir que mais mulheres lher tem o direito de chorar apenas rante que a gestante possa receber ver preferência por métodos mais
rou enfurecido, porque entendia ser por ela não têm sucesso na tentati- tenham um parto humanizado e de alegria”, afirma à Apartes, A par- informação e escolher os proce- naturais e menos invasivos.
seu direito ter acompanhado o par- va de dar à luz no lar ou em casa de com boas recordações. O texto, da lamentar elaborou a proposta inspi- dimentos que lhe tragam maior A gestante também terá o direi-
to. “Nos dois dias que passei naquele parto e precisam ser levadas a hos- vereadora Patrícia Bezerra (PSDB), rada no trabalho da médica obstetra segurança, conforto e bem-estar, to de elaborar um Plano Individu-
hospital, entre a admissão e a alta, pitais, são recebidas com “violência diz que toda gestante tem o direito Márcia Aquino, diretora da divisão incluindo o alívio da dor por anes- al de Parto, no qual ela indicará:
fiquei totalmente acuada, sofri maus verbal”: “Dizem atrocidades, tiram à assistência humanizada durante o médica do Hospital Maternidade tesia, medicamentos ou métodos o estabelecimento e a equipe que
tratos, senti a repulsa e a rejeição dos da mulher o direito da escolha”. parto na rede de saúde pública do Leonor Mendes de Barros, institui- alternativos, como massagens e escolheu para fazer o pré-natal e o
profissionais”, diz a mãe de Thomas. Município de São Paulo, integran- ção pública estadual de referência banhos de água morna. O médico parto; as rotinas e os procedimen-
Histórias dramáticas como as vi- BoAS MeMóriAS te do SUS. “Você não pode ter um que realiza em média 550 partos por deve interferir o mínimo possível tos de parto; se terá um acompa-
vidas por Luciana são presenciadas A Lei 15.894/2013, sancionada em trauma num momento tão especial, mês – sendo 370 deles normais. no parto e só poderá restringir as nhante nas duas últimas consultas
frequentemente pela parteira tradi- novembro e à espera da regulamen- ainda mais para a gestante que pre- A lei aprovada na Câmara Mu- escolhas em caso de risco à saúde e no parto; se usará métodos não
cional Jéssica Nunes. Ela conta que, tação do Executivo para vigorar, cisa do SUS. Na hora do parto, a mu- nicipal de São Paulo (CMSP) ga- da gestante ou do bebê. Deve ha- farmacológicos para alívio da dor

20 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 21


saÚde

LUz também chamado normal, que per-

ARTHUR

Arquivo Hospital Maternidade Leonor Mendes de Barros


obst etra , assi sten te e doul a mite uma recuperação mais rápida à
Médica
sorriem ao ver a cabeça do bebê mãe, entre outras vantagens.
Outra previsão da lei é garantir
que a mulher tenha liberdade de
Em novembro de 2007, a jornalista Luciana Benatti deu à luz Arthur, movimento durante o trabalho de
nas águas da banheira de um hospital particular, sem anestesia, sem parto. “Não precisa ficar deitada,
mutilações e sem aceleradores de dilatação. As primeiras pessoas que o pode andar. É bom porque, ao sen-
bebê conheceu, além da mãe e do pai, que fotografava a cena, foi a tir menos dor, ela pode cooperar no
médica obstetra humanizada, o assistente e a doula, profissional que processo de parto vaginal.” A legisla-
esteve ali para dar suporte emocional à mãe. “Encontrar a doula ção determina que será favorecido o referênCiA
sorrindo no saguão me tranquilizou. Reclamei de dor e ela disse com contato precoce entre mãe e recém- Maternidade Leonor Mendes de Barros, em São Paulo, faz 550 partos humanizados por mês
voz suave que era meu corpo se preparando para a chegada do bebê”, nascido, e que é necessário preservá-
relatou Luciana no livro Parto com Amor, elaborado com o marido lo da queda de temperatura.
Marcelo Min para incentivar o parto vaginal, por meio do relato de O documento ainda coíbe prá- dades de saúde: “Vamos encontrar
nove partos humanizados, realizados em vários formatos e cenários.
ticas rotineiras nos partos, como aquele pessoal do ‘por que preciso
Luciana planejava um parto normal pelas mãos de um médico
lavagem intestinal, aceleração da fazer diferente do que sempre fiz?’
do convênio. Mas um mês antes da data provável do nascimento de
dilatação com ocitocina, recomen- Vamos precisar de boa vontade, de
Arthur, questionou o obstetra sobre seus procedimentos e descobriu
que ele era adepto do corte vaginal em partos normais, da cesariana dação de esforços de puxo prolon- profissionais multidisciplinares, de
por conveniência e da anestesia em todos os casos. Ouviu do médico gado, ruptura artificial da bolsa e capacitação permanente, atualização
que ela deveria se preocupar com as roupinhas do bebê e com a corte entre a vagina e o ânus (epi- dos conhecimentos médicos, de os
decoração do quartinho, enquanto ele cuidaria do parto. Trocou de siotomia) para facilitar o parto. Por postos estarem em contato com as
obstetra, pagando uma profissional particular. Gastou mais, mas se levarem a sofrimento, constrangi- maternidades e de boa vontade polí-
sentiu protagonista da própria história: “O nascimento foi emocionante. mento, lacerações e cirurgia cesa- tica”. A obstetra, no entanto, acredita

Marcelo Min/Parto com Amor


E não menos seguro para mim e para o bebê”. riana desnecessários, com a lei o ser possível humanizar os partos, já
uso desses métodos ficará sujeito a
Os profissionais que a mentalidade começa a mudar

do parto
justificação. “Racionalmente, eu sei entre seus pares. A vereadora Patrícia
que não é pra fazer a episiotomia. Bezerra está otimista. Idealiza que

humanizado
Mas a minha mão vai sozinha”, dis- seu projeto estimulará o aumento de
(massagem e banho de água morna) ou se uma médica em entrevista para partos normais e será repetido em

As práticas que a lei quer anestesia e o modo como prefere que


sejam medidos os batimentos cardíacos
do feto (interna ou externamente).
uma tese de doutorado apresenta-
da à Faculdade de Medicina da Uni-
versidade de São Paulo (USP) por
Doula: Dá suporte físico
e emocional à mulher
outras cidades: “Tudo o que se faz em
São Paulo é replicado em um monte
de lugares nesse País. Então acho que
Patrícia Bezerra diz que o direito de Carmen Simone Grilo Diniz. Outro Parteira: Traz o bebê ao mundo demos um passo enorme”.

Incentivar uso da anestesia é um avanço, porque a


disponibilização desse recurso na rede
médico disse à doutoranda que pro-
fissionais forçam a cesariana por
baseada no saber tradicional
Obstetriz e enfermeiro
• Liberdade de movimento à parturiente pública não é usual, bem como os méto- meio da ocitocina: “Tem colega que obstetra: Com funções saiBa mais
• Alívio da dor também por meios alternativos dos alternativos contra a dor. Do mesmo diz que vai fazer um parto normal, semelhantes e curso
• Alimentação (leve) da mulher em trabalho de parto universitário em Obstetrícia tese de doutorado
modo, a presença de um acompanhante que é a favor, concorda em ir para
• Contato físico precoce entre mãe e recém-nascido já é um direito previsto em lei federal, aquelas salas bonitas de parto nor- ou Enfermagem, com Entre a técnica e os direitos
especialização em Obstetrícia humanos: possibilidades e limites

Coibir
mas descumprido em 65% dos casos, mal que tem nos hospitais caros.
da humanização da assistência
segundo a vereadora. “A lei vem para di- Mas quando chega lá, bota um soro Médico obstetra humanizado: ao parto. Carmen Simone Grilo
zer que agora não tem mais brincadeira. bem firme na paciente e diz: ‘apos- Respeita o ritmo da natureza, o Diniz. Faculdade de Medicina da
• Lavagem intestinal
Tem que ter acompanhante e acabou”, to que da segunda dor já vai sair pe- corpo da mulher e suas escolhas Universidade de São Paulo. 2001.
• Aceleração da dilatação com ocitocina
• Esforços de puxo prolongado diz a parlamentar. A médica Márcia dindo cesárea’. E o pior é que saem Médico anestesista: Aplica Disponível na internet.
• Ruptura artificial da bolsa Aquino explica que a presença de uma contando isso como vantagem”. medicamentos para reduzir a dor livro
• Corte entre a vagina e o ânus para facilitar o parto pessoa que tranquilize a parturiente Para a médica Márcia Aquino, a ou anestesiar quando preciso
Parto com Amor. Luciana Benatti
• Hipotermia do bebê aumenta até as taxas de parto vaginal, lei deve enfrentar resistência nas uni- e Marcelo Min. Panda Books. 2011.

22 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 23


OH

eduCaÇÃo CH2-CH2-NH3
OH
OH

Para não E=m


res utilizaram a mesma definição
que o Ministério da Educação usa:
“Podem ser consideradas como de
altas habilidades/superdotadas as
pessoas que apresentam notável de-

desperdiçar ²
sempenho e elevada potencialidade

c
em qualquer dos seguintes aspec-
tos, isolados ou combinados: ca-
pacidade intelectual geral, aptidão
acadêmica específica, pensamento
criador ou produtivo, capacidade

talentos
de liderança, talento especial para
artes e capacidade psicomotora”.
Se a lei for sancionada pelo

abc
prefeito Fernando Haddad (PT), o
Município vai promover a implan-
tação gradativa do atendimento
às altas habilidades, no prazo de

Vereadores criam lei que garante cinco anos. Edir Sales comemorou
a aprovação do PL: “O aluno com
educação diferenciada para capacidade acima da média preci-
sa ser acolhido, recebendo educa-
alunos altamente habilidosos

Montagem sobre foto de Ângelo Dantas/CMSP


ção direcionada; caso contrário,
corre riscos de desenvolver trans-

!
tornos afetivos”.
rodrigo Garcia | rodrigogarcia@camara.sp.gov.br Floriano Pesaro ressaltou que
países como Estados Unidos, Japão
e Coreia do Sul não desperdiçam
seus talentos, “pois tratam de for-
?

ma diferente pessoas diferencia-


ModeLo das”. Ele espera que o Brasil tam-

F
Outros países cuidam bem dos
elipe Sakae tem 10 anos, está no 5º ano do ensino Os AHs podem ter capacidades bem acima da média, superdotados e São Paulo pode vimento, Trabalho e Empreende- bém tenha essa política e que São
fundamental e também faz aulas de robótica, in- como inteligência, rapidez, memória, criatividade, lide- dar o exemplo ao Brasil, diz Pesaro dorismo da Prefeitura paulistana), Paulo possa servir de modelo.
glês, natação e teatro. Ele aprendeu a ler aos 4 rança, facilidade para determinada tarefa. Entretanto, Edir Sales (PSD), Floriano Pesaro Nos Estados Unidos, por exem-
anos, tem um bom vocabulário e adora se informar muitas dessas habilidades não se desenvolvem por falta (PSDB), Noemi Nonato (Pros) e plo, é possível uma criança entrar
sobre a Segunda Guerra Mundial, mas não gosta mui- de estímulo ou, pior, por pressão para que sejam limita- Marta Costa (PSD), o projeto prevê na universidade. Com apenas 11
to da escola. “É chato, a professora de matemática ex- dos, principalmente nas escolas. que as escolas terão de assegurar anos, Carson Huey-You é o aluno
plica uma vez, eu entendo, mas ela fica repetindo pros Para que o Brasil não desperdice esses talentos, é aos alunos superdotados currícu- mais novo na história a ser admi-
outros alunos, tem vez que ela repete quatro vezes”, preciso que haja uma atenção especial às crianças super- los, métodos, técnicas, recursos tido na Texas Christian University.
queixa-se. E confessa: “Não gosto da aula, é fácil de- dotadas. A Câmara Municipal de São Paulo (CMSP) deu educativos e organização específica Carson quer ser físico quântico.
mais”. Entediado, ele deixa de prestar atenção para passo importante para evitar a perda desses prodígios para atender às suas necessidades; Com 10 anos ele se candidatou
ficar perturbando os colegas. E enfrenta problemas ao aprovar, em segunda votação, em 13 de novembro aceleração para concluir em menor para a graduação – fez 1.770 pon-
(ver box na pág. 27). de 2013, o Projeto de Lei (PL) 352/2012, que determina tempo o programa escolar, série ou tos de 2.400 possíveis no SAT (es-
O menino é uma das milhares de pessoas altamente que em cada escola municipal haja um especialista para etapa; enriquecimento curricular pécie de Enem norte-americano).
habilidosas (AH), também conhecidas como superdota- detectar os alunos com altas capacidades e lhes garantir (mudanças no currículo) ou lúdico Também fala mandarim. Sua mãe
das, que, segundo especialistas em educação, não estão um atendimento educacional especializado. (brincadeiras que ensinam). afirma que o menino já lia livros
Arquivo CCI.1/CMSP

recebendo do Poder Público a atenção que merecem e Apresentado pelos vereadores Eliseu Gabriel (PSB) Na proposta, para determinar com dois anos e fazia contas de
correm o risco de ter seus talentos desperdiçados. (licenciado da Câmara para ser secretário do Desenvol- quem é superdotado os vereado- multiplicação e divisão aos três. “A

24 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 25


eduCaÇÃo

universidade é divertida, pois parece com a esco-

Ângelo Dantas/CMSP
la, só que em um câmpus maior e com mais gen-
te”, afirmou Carson a uma TV norte-americana. A iogaterapeuta Gabriela Vanina Toscanini explica
que usa as posturas e as respirações da ioga para fa-
deBAteS zer com que a pessoa altamente qualificada mostre o
O PL 352 foi apresentado em 15 de agosto de 2012, que está sentido. “Como elas são muito inteligentes,
mas a Câmara já tratava da questão antes. Em 28 conseguem manipular usando as palavras; já com o
deSeStiMULAdo
de novembro de 2011, por iniciativa do vereador Eli- corpo isso não é possível”, afirma.
Principais seu Gabriel, foi realizado no Palácio Anchieta, sede
Felipe não gosta
da aula porque
“é fácil demais”
Paula tem outro filho, Henrique, de seis anos. Ele

características da CMSP, o 2º Congresso para Altas Habilidades/


Superdotação, que contou com a participação de
também aprendeu a ler praticamente sozinho e está
no 1º ano do ensino fundamental. Adora brincar com

da criança com médicos e pedagogos. O parlamentar explicou que os amigos de pega-pega e de “aventuras”, mas disse

altas habilidades (AH)


o encontro se destinava a “subsidiar a formulação
de políticas”, já que “pessoas com altas habilidades
muitas vezes são excluídas e até perseguidas”.
Tédio na escola gostar “mais ou menos” da escola. Sua justificativa:
“É muito entediante, a tarefa de matemática é muito
fácil, queria que fosse um pouquinho mais difícil”.
Em 19 de junho de 2012, realizou-se na CMSP o O altamente habilidoso Felipe Sakae já foi expulso Ele não tem problemas de relacionamento nem com
Fórum Legislativo das Altas Habilidades/Superdota- da sala de aula e tinha dificuldades em fazer amigos, colegas, nem com professores, mas há alguns me-
Aprende rapidamente
É original, criativa, não convencional ção, com o objetivo de propor uma regulamentação pois as outras crianças não tinham os mesmos in- ses começou a roer as unhas. Por isso também está
Está sempre bem informada teresses que ele. Sua mãe, a pediatra Paula Sakae, frequentando a Apahsd.
Pensa de forma incomum para resolver problemas ficou preocupada e encaminhou o filho à Associa- Paula admira tanto a ajuda que a associação dá a
É persistente, independente, autodirecionada, persuasiva ção Paulista para Altas Habilidades/Superdotação seus filhos que resolveu se unir à Apahsd. Atualmen-
fAMÍLiA
Pode não tolerar tolices A pediatra Paula, com Henrique no colo, (Apahsd), onde Felipe há alguns meses passou a ter te, ela faz um trabalho com seus colegas pediatras
É inquisitiva, cética e curiosa tem dois filhos AHs e procura conscientizar os colegas sessões de iogaterapia. Agora, ele tem amigos, pois para que eles possam reconhecer com mais facilida-
Adapta-se com bastante rapidez a novas situações aprendeu a ter mais paciência. de uma superdotação.
Habilidades nas artes
Tem vocabulário excepcional, múltiplos interesses
Resiste à rotina e à repetição

Como lidar com elas específica. Durante os debates, o es- duas audiências públicas para que PreoCUPAÇÃo
Para Edir Sales, “o aluno com capacidade
Dedicar-lhes tempo. Discutir ideias, pecialista em educação Giovani Fer- a sociedade apresentasse aos verea-
acima da média precisa ser acolhido”
responder a perguntas, valorizar a curiosidade reira, que é superdotado, lamentou dores suas propostas. Nesses encon-
Transmitir amor e confiança que “ninguém gosta” do alto habili- tros, organizados pela Comissão
nas capacidades e demonstrar aceitação doso: “É como se a pessoa fosse proi- de Educação, Cultura e Esportes,
Encorajar a busca por fontes bida de ser ela mesma”. Segundo pais, mães e educadores deram de-
diversificadas de conhecimento Ferreira, o superdotado é excluído poimentos sobre as dificuldades de
Estimular habilidades físicas e sociais desde a escola até o ambiente profis- lidar com os superdotados.
sional. Ele acredita que a falta de in- Ana Lucia Fanganiello é direto-
A falta de estímulo pode causar formação faz com que a exclusão seja
constante e que essas pessoas sejam
ra de escola e mãe de duas crian-
ças que apresentam altas habilida-
Baixo rendimento escolar
vítimas até de ódio. O educador ain- des. Ela teve duas vezes negado o
Decepção e frustração
da aponta que mesmo profissionais pedido de aceleração do processo
Desinteresse pelos estudos
da psicologia e da educação não são educativo das filhas, mecanismo
Comportamento inadequado, muitas vezes
confundido com hiperatividade, déficit de preparados para lidar com a inclusão previsto pelo Ministério da Edu-
concentração, dislexia ou depressão dos superdotados, que acabam pre- cação. Na esfera profissional, ela

Assessoria vereadora Edir Sales


ferindo esconder a característica a reconhece que há uma cadeia de
Ângelo Dantas/CMSP

buscar acompanhamento. desinformação, que inclui profes-


Obs.: Uma criança com altas habilidades não apresenta, necessariamente, todas essas características
Em maio de 2013, com o projeto sores sem capacidade de identifi-
Fontes: Associação Paulista para Altas Habilidades/Superdotação (Apahsd) e Conselho Brasileiro
de Superdotados (Conbrasd) já em tramitação na Câmara, houve car os alunos com essas caracte-

26 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 27


eduCaÇÃo reGulamentaÇÃo

Ricardo Rocha/CMSP
Plano Municipal de Educação avança na CMSP
O Plano Municipal de Educa- plicou que foi elaborado um substi- cional de Educação, entre outras
ção (PME) foi aprovado pela Co- tutivo com base nos debates feitos regulamentações, para orientar
missão de Administração Pública, nos últimos meses. Agora o projeto o planejamento, a avaliação e o
em 6 de novembro, após os vere- volta para a Comissão de Educa- controle social das políticas edu-
adores terem participado de uma ção, Cultura e Esportes para que cacionais do Município por um
série de audiências públicas para as alterações sejam submetidas período de dez anos. Trata-se de
discutir a proposta. O plano es- aos vereadores que a compõem. um plano de Estado e não de go-
tabelece diretrizes para o ensino O Plano de Educação é um verno, porque vai além da gestão
municipal até 2020. instrumento previsto na Lei Or- que o aprovar e evita a descon-
O presidente da comissão, ve- gânica do Município, na Consti- tinuidade na execução das políti-
reador Gilson Barreto (PSDB), ex- tuição do Estado e no Plano Na- cas educacionais.

LeGALidAde
Estabelecimentos menores poderão
funcionar apenas com um laudo
rísticas e diagnósticos errôneos de entidade que ajudou na elaboração A especialista faz questão de res-
dislexia e déficit de atenção. da proposta, conta que alguns pais saltar que uma criança altamente

Menos burocracia para


A presidenta da Associação Pau- chegam a ser orientados a não es- qualificada tem plena consciência
lista para Altas Habilidades/Super- timular a inteligência do filho. “Pe- sobre o seu próprio conhecimento
dotação (Apahsd), Ada Toscanini, dem para eles fazerem a criança e não sente necessidade de mostrar
brincar em vez de comprar livros. nada a ninguém. “Ela não se impor-

o comércio e a indústria
Mas ler pode ser brincar”, argu- ta com notas, algumas ficam desin-
PróXiMo
“Um superdotado pode estar ao seu menta. Para ela, a maneira com teressadas e tiram notas baixas”,
lado”, diz Ada, presidenta da Apahsd que a maioria das escolas lida com explica. E alerta: “Um superdotado
os superdotados não é justa. Ada, pode estar ao seu lado, por isso é
que é pedagoga, comemorou a importante estar atento para não
aprovação do projeto, mas ressalta
que ainda há muito a ser feito, prin-
desperdiçar esses talentos”.
Lei da CMSP permite que imóveis
cipalmente entre pais, professores,
terapeutas e médicos. saiBa mais
de até 1.500 m² funcionem sem o Habite-se
Ela também afirma que é pre-
Algumas entidades têm programas de aju-
ciso tomar muito cuidado com os da aos altamente qualificados e aos pro-
tratamentos que alguns profissio- fissionais que queiram ajudá-los. Também Gisele machado | gisele@camara.sp.gov.br
nais recomendam, pois algumas há bolsas de estudos à disposição:
vezes o superdotado é equivocada-

E
Associação Paulista para Altas
mente diagnosticado com proble- Habilidades/Superdotação (Apahsd):
ntre os estabelecimentos comerciais, industriais, necessários para conseguir uma Licença de Funciona-
mas médicos, como hiperatividade http://apahsd.org.br institucionais ou de prestação de serviços da ca- mento definitiva. “Não existe outra cidade brasileira
ou depressão. Ada lembra que um pital paulista, apenas 65 mil têm autorização da com tamanho nível de exigência para a regularização
Conselho Brasileiro para
aluno da associação presidida por Superdotação (Conbrasd): Prefeitura. Esse número representa menos de 10% dos dos estabelecimentos”, conta o vereador Ricardo Nu-
ela tomou tanto remédio, alguns http://conbrasd.org que deveriam ter o Habite-se (Certificado de Conclu- nes, líder da bancada do PMDB na Câmara Municipal
Ângelo Dantas/CMSP

até de tarja preta, que perdeu par- Instituto Social Para Motivar, Apoiar são, também conhecido com Auto de Vistoria, Alvará de São Paulo (CMSP). Junto com os colegas de parti-
te de sua capacidade intelectual, e Reconhecer Talentos (Ismart): de Conservação e Auto de Conclusão) para funcionar. do Calvo, George Hato e Nelo Rodolfo, Nunes é au-
de forma irreversível. http://ismart.net.br O principal motivo é a extensa lista de documentos tor da Lei 15.855/2013, que simplifica as regras para

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REGULAMENTAÇÃO

MOTOR seja o primeiro passo de uma gran-


1 2 Criadores da lei,
os vereadores Calvo
(foto 1), George Hato
de caminhada”, disse o executivo.
O representante da ACSP conta O QUE MUDA
(2), Nelo Rodolfo (3) que a nova legislação foi recebida
e Ricardo Nunes (4)
acreditam que ajudarão
pelo setor com alívio: “A regulariza- liCenÇa definitiva liCenÇa temPorária
a movimentar a ção das empresas é fator de arreca-
economia da cidade dação: o empresário quer gerar ri-
Passa a ser permitida a
queza, pagar os impostos, cumprir Passa a ser permitida a
estabelecimentos entre
seus deveres sem chateação, sem estabelecimentos de até
1.500 m² e 5 mil m², desde
criar problemas, sem ficar devedor 1.500 m² sem Habite-se
que respeitadas as regras
da Justiça nem ficar preocupado e Auto de Regularização
com o agente vistor”. específicas vigentes
Mozart Gomes/CMSP

Com acesso mais rápido à licen-


Ricardo Rocha/CMSP

Fonte: Liderança do PMDB na Câmara


ça permanente, o empreendedor
consegue outras facilidades, como
a permissão para instalar as placas O Poder Executivo deveria ter para fazer entrevistas com seus
genheiro ou arquiteto credenciado que levam o nome e a marca do elaborado, até novembro, as nor- proprietários para esta matéria.
3 4 no conselho da categoria. Também estabelecimento. “Isso nos leva ao mas de aplicação da lei. Mas até o Em comum, todos tinham o medo
permanece necessário respeitar a combate efetivo da corrupção. Você fechamento desta edição, um mês de se expor. “Eu digo por que mui-
Lei de Zoneamento. rompe com a cultura do jeitinho, após expirar o prazo, o prefeito tos empresários se apavoram: eles
Outra novidade é a possibilidade de gerar dificuldade para vender Fernando Haddad (PT) ainda não têm pânico da abordagem dos fis-
de licença condicionada para imó- facilidade”, diz o vereador Nunes. havia publicado a regulamentação. cais. Muitos estão ilegais e garanto
veis não residenciais com área entre Antônio Carlos Pela concorda: “Pa- que não é por vontade própria”,
1.500 m² e 5 mil m², desde que res- rece que a situação ficava aberta de trAUMA disse a dona de um restaurante,
peitadas as regras específicas vigen- propósito para que agentes mal in- A reportagem da Apartes visitou que aceitou falar desde que não
tes. A permissão valerá por dois anos tencionados pudessem agir”. vários estabelecimentos comerciais fosse identificada.
e poderá ser renovada por igual pe- Quando a empresária estabele-
ríodo. Até agora, só tinham direito ceu seu ponto comercial, o Habite-se
Equipe de Eventos/CMSP

Equipe de Eventos/CMSP

a essa permissão provisória os locais já estava garantido, mas ela conhece


LiBerdAde
com até 1.500 m² construídos. “O empresário quer gerar riqueza, sem ficar preocupado com o agente vistor”, a história de vários colegas de profis-
Segundo estimativa de Ricar- diz o coordenador da ACSP, Antônio Carlos Pela são que precisaram do documento
do Nunes, mais de 1,5 milhão de para obter a licença de funcionamen-
comerciantes poderão sair da ile- to: “É complicado, muito difícil”.
galidade com a Lei 15.855/2013, No site da Prefeitura paulistana são
obter a permissão para funcionar. documentos, o dono do imóvel terá além de indústrias, instituições e mencionadas nada menos do que 11
“Se você for ao Rio de Janeiro, por de fazer um laudo técnico em que prestadores de serviços. Dados ob- etapas para concluir o trâmite de ob-
exemplo, tira a sua Licença de Fun- se comprometa a cumprir as regras tidos pelo vereador na Secretaria tenção do Habite-se.
cionamento em uma semana com existentes sobre higiene, acessibi- de Finanças do Município e na Co- “É uma teia, com nós, que se
laudo técnico, sem precisar do Ha- lidade, segurança, estabilidade e ordenação das Subprefeituras mos- constrói em cima do alvará. E você
bite-se”, compara Nunes. habitabilidade da edificação, além tram que a maioria das empresas tem de ficar soltando, ponto a pon-
Para amenizar o problema na do Auto de Vistoria do Corpo de da cidade possui até 1.500 m² e será to, se quiser sua licença pelas vias
capital paulista, os parlamentares Bombeiros (AVCB), em alguns ca- beneficiada. “Os locais maiores têm legais”, diz a proprietária. A banca-
redigiram o texto que dispensa os sos. “A parte da segurança continu- de ser atendidos, mas já conseguire- da do PMDB acredita que a situação
estabelecimentos com até 1.500 m² ará a mesma”, explica Paula Motta mos resolver grande parte dos pro- tende a mudar com Lei 15.855. Para
construídos de apresentar Habite-se Lara, secretária de Licenciamen- blemas”, confirma o coordenador os vereadores, a cidade terá um fa-
e Auto de Regularização (referente to do Município, por meio de sua de Política Urbana da Associação tor de intimidação a menos contra
aos pedidos de anistia) ao pleitear assessoria de imprensa. O laudo Comercial de São Paulo (ACSP), os que pretendem abrir empresas e
a licença definitiva. No lugar desses poderá ser feito por qualquer en- Antônio Carlos Pela. “Acredito que gerar empregos na capital.
ACSP

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HistÓria

Guilherme Gaensly/Arquivo Público do Estado de São Paulo


nomes
de guerra
Em 1897, o conflito de Canudos,
no sertão baiano, fez a Câmara
mudar os nomes de seis ruas
do centro de São Paulo
MUdAnÇA
Entre 1897 e 1899, a Rua Direita
chamou-se Floriano Peixoto
fausto salvadori filho | fausto@camara.sp.gov.br

N
ão se falava em outra coisa. Canudos para vender de sapatos a dos, a guerra virou assunto na Câ- voto de pesar e protesto ao chefe da na- te, no dia 17, o Plenário aprovou CAPtUrAdo
Em 1897, a guerra do Exér- vestidos de seda. mara Municipal de São Paulo. Além ção, por intermédio do presidente [equi- propostas dos vereadores Gomes Soldados do Exército levam
prisioneiro para execução
cito brasileiro contra um Os habitantes do arraial, coman- de suspender sessão e fazer voto de valente a governador] d’este Estado, a Cardim, Alfredo Zuquim e Rober-
arraial pobre do sertão baiano era dados pelo líder religioso Antônio pesar, os vereadores decidiram alte- sua franca solidariedade e apoio incon- to Penteado que rebatizavam as
tema de tudo quanto fosse roda Conselheiro, já haviam rechaçado rar os nomes de seis ruas do centro dicional em todos os terrenos em prol da Ruas do Quartel (que virou Cabo
de conversa. “É um zunzum que duas pequenas expedições enviadas (veja mais na pág. 35) para homena- Republica”, afirmaram os vereadores Roque), João Alfredo (General
ensurdece, / Um vaivém que nos para combatê-los, entre outubro de gear militares mortos em Canudos e (grafia da época). Carneiro), da Esperança (Capitão
põe mudos, / Desde que o dia 1896 e janeiro de 1897. Mas o que heróis da República da Espada. Salomão) e das Flores (Coronel
amanhece / Até que acaba: – Ca- fez o pânico se espalhar por todo o “Deante do inesperado acontecimen- neM tÃo HeroiCoS Tamarindo), “em homenagem aos
nudos!”, escreveu um poeta no jor- País foi a derrota da terceira expe- to que acaba de enlutar a Patria Brazi- Antes do encerramento dos traba- patriotas e heroicos soldados assassi-
nal A Bahia. Políticos e intelectuais dição, uma força de 1.300 homens leira e o glorioso exercito nacional, pela lhos, a Câmara aprovou a mudança nados covardemente na cruzada de
de todas as tendências debatiam o comandada por um dos heróis do morte de seus bravos soldados no com- dos nomes das Ruas Direita (reba- Canudos, defendendo a Republica”.

Flávio de Barros/Museu da República


conflito nas tribunas e nos jornais, Exército republicano, coronel Mo- bate com as hordas monarchistas nos tizada Marechal Floriano Peixoto) Nem todos os “patriotas e heroi-
editoras vendiam mapas do arraial reira César, o Corta-Cabeças. sertões da Bahia, indicamos que a Ca- e São Bento (Coronel Moreira Cé- cos soldados” homenageados pela
“nitidamente litografados” e lojas, Em 10 de março, seis dias após mara Municipal de S. Paulo suspenda sar), duas das mais conhecidas vias Câmara eram tão heroicos assim. O
em seus anúncios, usavam o nome a morte de Moreira César em Canu- a sessão de hoje, lançando na acta um de São Paulo. Na sessão seguin- próprio Moreira César não ganha-

32 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 33


HistÓria

ra o apelido Corta-Cabeças por ser


um defensor dos direitos humanos.
Ao contrário, era um militar cuja
mente dado como morto. Em 1985,
Dias Gomes reaproveitaria o mes-
mo mote na trama da sua teleno-
des da Cunha, “tinham todos, sem
excetuar um único, colgada ao peito
esquerdo em medalhas de bronze,
TROCA DE NOMES
As ruas de São Paulo que mudaram de denominação, em 1897, por causa da Guerra de Canudos
“bravura cavalheiresca” esvaía-se vela Roque Santeiro. Por outro lado, a efígie do marechal Floriano Pei-
“na barbaridade revoltante”, segun- ninguém até hoje desmentiu a his- xoto e, morrendo, saudavam a sua

aia
sM
do Euclides da Cunha em Os Ser- tória do martírio do Capitão José memória”. O outro homenageado, Largo do

ste
tões. Quando foi capitão, participou Salomão da Rocha, que “tombou, general Gomes Carneiro, foi encar- Rua General Carneiro

Pre
Paissandu Vd
.S
Rua Capitão Salomão

Av.
do linchamento de um jornalista, retalhado a foiçadas, junto dos ca- regado por Floriano de combater a R. Cap. Sal om ão an
ta Antes chamada Rua João Alfredo, mudou
Apulcro de Castro. Anos depois, nhões que não abandonara”, tam- Ifig (Resolução 84/1897) para o nome que
Revolução Federalista no Paraná, Antes chamada Rua da Esperança, manteve o novo ên
Av. ia mantém até hoje.
encarregado de reprimir duas re- bém segundo Euclides da Cunha. onde morreu resistindo, com 600 nome (Resolução 84/1897) até 26/9/1923, quando a Sã o Jo
rua deixou de existir, englobada pela Praça da Sé (Ato ão Largo Parque Dom
beliões contra o governo Floriano Tanto que seu feito é lembrado em homens, a um cerco de mais de 3 l
2185/1923). No dia seguinte, o nome Capitão Salomão São Bento o Gera Pedro II
Peixoto (a Revolta da Armada, no um verso da Canção da Artilharia mil revoltosos, no episódio conheci- rebatizou a Travessa do Paissandu (Ato 2187/1923). Praça Ramos rt

o
Po

eir
de Azevedo Ld.

arn
Rio de Janeiro, e a Revolução Fede- do Exército: “Abraçado ao canhão do como Cerco da Lapa.

C
Vd

ral
ralista, em Santa Catarina), ficou morre o artilheiro”. . do
Prefeitura Rua Direita

R. Boa Vista

ne
Ch

Ge
o fiM de CAnUdoS á

aio
conhecido pelas execuções de ini- Os outros dois homenageados

R.
eM
Renomeada Rua Marechal Floriano

R. Vi
migos indefesos. pela CMSP nunca pisaram em Ca- Chama atenção o modo como a

sd
Peixoto (Resolução 82/1897). Em 1899,
Rua São Bento

nte
Trê
Em Canudos, muito do fracasso nudos, mas foram lembrados como primeira alteração nos nomes das retomou nome original (Lei 416/1899).

to
Vale do

eC
nte

Ben
da expedição foi culpa do salto alto símbolos da República da Espa- ruas, em 10 de março, foi realizada.

inco
Renomeada Rua Coronel Moreira Anhangabaú

Vi
Av.
R. Dir

São
César (Resolução 82/1897). Em 1899,

de M
com que o coronel entrou na bata- da (1889-1894), período em que o A pedido do vereador Gomes Car- eita
retomou nome original (Lei 416/1899). de Julho
Av. Nove

R.

arço
lha, desprezando os inimigos ao recém-proclamado regime republi- dim, as mudanças foram aprovadas
ponto de dizer “vamos almoçar em cano, comandado por militares, es- sem debate, “pois que sua discussão
Praça Rua das Flores

nio
Canudos” para seus comandados magou uma série de revoltas contra pareceria pôr em duvida os sentimentos

ntô
da Sé Renomeada Rua Coronel Tamarindo

A
pouco antes de invadir o arraial. O o governo federal. O símbolo dessa republicanos da Camara”. Não havia

Luis
Câmara (Resolução 84/1897). Retomou nome
coronel Tamarindo, que assumiu fase foi o marechal Floriano Peixo- ambiente para questionamentos. O Rua 11 de Agosto r e s original em 1899 (Lei 416/1899).

eiro
Via
Municipal Flo
s

gad
o comando da terceira expedição to, segundo presidente do Brasil clima era de guerra. Chamada Rua do Quartel, foi renomeada d uto da

sto
Jac aulina R.

Bri
Vd. D. P

Ago
após a morte de Moreira César, en- (1891-1894). Os soldados que en- Cabo Roque (Resolução 84/1897), mas are
Como relata a pesquisadora

Vd.
í
R. Tabatinguera

1 de
novo nome não “pegou”. Em 1907, tornou-se
trou para a história ao falar, diante frentavam Canudos, segundo Eucli- Walnice Nogueira Galvão em No Fonte: Secretaria de Documentação (SGP.3) da Câmara Municipal
Rua 11 de Agosto (Lei 1033/1907).

R.1
da batalha perdida, outra frase me- de São Paulo / Catálogo de Logradouros da Prefeitura de São Paulo

morável: “É tempo de murici, cada


um cuide de si...”. SoBreViVenteS
Já o Cabo Roque era celebrado Mulheres e crianças aprisionadas em Canudos
como o herói que teria sido mor- Calor da Hora, várias matérias jornalísticas retratavam lização geral da opinião feita pelos jornais, acompa-
to enquanto protegia o cadáver Canudos como um grupo com ramificações em Nova nhando as operações bélicas, a Guerra de Canudos
de Moreira César dos jagunços de York e Paris que pretendia restaurar a monarquia no foi, afinal, ganha e o arraial arrasado a dinamite e
Canudos. O heroísmo durou até o Brasil e pediam sua destruição. Canudos era “uma querosene juntamente com quem não quis se render.
cabo ser descoberto, muito vivo, e horda de mentecaptos e galés”, segundo Rui Barbosa, Os prisioneiros foram todos degolados, restando ape-
confessar que, durante o conflito, considerado o principal intelectual brasileiro, ou uma nas algumas poucas centenas de mulheres e crianças
havia simplesmente largado o cor- “vergonha que cumpre extinguir de pronto”, de acordo que foram dadas de presente ou vendidas. A Repúbli-
po do comandante no mato e saído com um manifesto de acadêmicos baianos. “Em Canu- ca estava salva”, resume Walnice.
correndo, “vítima da desgraça de dos não ficará pedra sobre pedra”, prometia o presiden- Com o fim de Canudos, alguns dos setores que ha-
não ter morrido, trocando a imor- te da República, Prudente de Morais. viam pedido a destruição do arraial começaram a per-
talidade pela vida”, nas palavras de A promessa foi cumprida com o envio, em abril, de ceber que, da mesma forma como muitos militares não
Euclides da Cunha. O personagem uma quarta expedição contra Canudos, com mais de foram os heróis que se imaginava, os canudenses tam-
teria inspirado o dramaturgo Dias 5 mil homens, comandados pelo general Artur Oscar. bém não eram o grupo de conspiradores interessados
Flávio de Barros/Museu da República

Gomes a criar o Cabo Jorge, prota- Em outubro, já haviam destruído o arraial. Não houve em derrubar a República que a mídia e os políticos ha-
gonista da peça O Berço do Herói, de rendição. O conflito acabou quando os soldados ma- viam retratado. O arraial era apenas uma comunidade
1963, um personagem que passa a taram os últimos defensores de Canudos: um velho, de gente pobre, que, embora houvesse crescido a ponto
ser considerado herói após ser falsa- dois adultos e uma criança. “E assim, com essa mobi- de virar a segunda maior cidade da Bahia, mantinha-se

34 | Apartes • dezembro/2013 dezembro/2013 • Apartes | 35


HistÓria Plano diretor

Ricardo Rocha/CMSP
A voz
sobre as quais ele mesmo havia si-
Flávio de Barros/Museu da República

lenciado em sua cobertura para o


jornal O Estado de S.Paulo, e afirma
que a campanha de Canudos “foi,
na significação integral da palavra,
um crime”. Para as vítimas, porém,

da cidade
protestos como os de Euclides ou
do parlamentar João Bueno, além
de ocorrerem tarde demais, nunca
levaram a qualquer punição.
Das seis mudanças de nome
feitas pela Câmara em 1897, ape-
nas duas perduraram – a General
Carneiro e a Capitão Salomão. Si-
tuação parecida ocorreu no Rio de Nas audiências públicas
Janeiro, que na mesma época reba- do Plano Diretor, um retrato
tizou a Rua do Ouvidor como Mo-
reira César, nome que também não das várias caras de São Paulo
GUerrA pegou. Houve, porém, um nome
Soldados reconstituem captura de canudenses para fotógrafo Flávio de Barros originado de Canudos que atra-
vessou o século, levado por anti- fausto salvadori filho | fausto@camara.sp.gov.br
gos soldados da Guerra que foram
à margem de todos os poderes da nudos, e que nessa occasião apresentou morar no Rio de Janeiro. Descarta-

D
época, fosse do Estado, da Igreja ou emenda para que a Camara se mani- dos pelo Exército após a batalha, uas São Paulo bem diferentes deram as caras nas
dos grandes fazendeiros – e que tal- festasse contra esses factos”. O mesmo os antigos combatentes subiram principais audiências públicas convocadas para
vez por isso incomodasse tanto. parlamentar, contudo, retirou a tal em um morro para ali erguer ca- debater o novo Plano Diretor Estratégico (PDE),
emenda, por entender que cabia ao sebres onde pudessem morar. Em que vai definir os rumos do planejamento urbano para
fAVeLAS governo “syndicar os fatos” e propôs, homenagem a um morro de Canu- a cidade nos próximos dez anos.
Os vereadores de São Paulo volta- em seu lugar, uma congratulação dos, batizaram o local de Favela. Em 23 de novembro, o Centro Educacional Unifi-
ram a tratar de Canudos na sessão “com o Paiz pela victoria da guerra em O nome “favela” se espalhou pelo cado (CEU) Vila Rubi foi ocupado por mais de mil
de 27 de outubro, quando Rober- Canudos, trazendo a paz aos brasilei- País e passou a designar conjuntos pessoas, a maioria militantes do Movimento dos Tra-
to Penteado propôs “um voto de ros”. Novamente, não houve acordo de habitações precárias das cidades balhadores Sem Teto (MTST). Gritos, palmas, tambo-
congratulação com o general Arthur e a votação acabou adiada. que, ao longo das décadas seguin- res e discursos exaltados de quem busca um lugar para
Oscar, pela victoria de Canudos, com O desconforto com que os ve- tes, algumas autoridades tratam do morar deram o tom da audiência da Macrorregião Sul.
as forças em operações e com o brioso readores retomaram a questão de mesmo jeito que trataram Canudos Uma semana depois, a audiência pública da Macror-
1º batalhão de S. Paulo pela bravura Canudos fazia parte de um pro- – com a mesma brutalidade e, qua- região Centro-Oeste atraiu um público mais velho e
com que revelou o seu patriotismo”. cesso de mudança na mentalidade se sempre, com impunidade. silencioso, preocupado com áreas verdes, especulação
Dessa vez não houve a mesma una- da “consciência letrada” do País, imobiliária e equipamentos de saúde.
nimidade. Vereadores propuseram que, após o massacre do arraial, De outubro a dezembro, a Comissão de Política
que a congratulação fosse feita à “termina reconhecendo os jagun- saiBa mais Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente da Câmara
“Patria Brazileira” e a “todos os altos ços (como eram chamados os ca- livros Municipal de São Paulo (CMSP) realizou 45 audiências
poderes da nação”. Sem acordo, a nudenses) como compatriotas e a para ouvir o que a população tem a dizer a respeito da
A Dinâmica dos Nomes na Cidade
discussão foi retomada na sessão se- guerra como fratricida”, segundo proposta de Plano Diretor enviado pela Prefeitura, por
de São Paulo. Maria Vicentina de Paula
guinte, em 3 de novembro, quando Walnice. O auge desse “mea-culpa” do Amaral Dick. Annablume, 1997. meio do Projeto de Lei (PL) 688/2013. Com base nes-
direito
o vereador João Bueno afirmou que, é a obra-prima Os Sertões, publica- No Calor da Hora. Walnice Nogueira Ana Paula Ribeiro, sas sugestões, os vereadores devem apresentar, no iní-
“quando se iniciou a questão, teve que do em 1902, em que o jornalista Galvão. Ática, 1974. do MTST, pede cio de 2014, um substitutivo para o projeto.
manifestar o seu descontentamento con- Euclides da Cunha relata as exe- mais moradia para Das 45 audiências, quatro foram voltadas a debater
Os Sertões. Euclides da Cunha. Várias baixa renda
tra a degolação dos prisioneiros em Ca- cuções de sertanejos prisioneiros, editoras. os problemas das quatro Macrorregiões do municí-

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PLANO DIRETOR

lação imobiliária, além do desejo


Ricardo Rocha/CMSP

Ricardo Rocha/CMSP
de mais hospitais e melhores condi-
ções de transporte.
A questão ambiental foi uma das
prioridades. O representante da Se-
cretaria de Planejamento, Fernando
Bruno, recebeu críticas ao mostrar
um slide com a previsão das áreas
verdes a serem implantadas na ma-
crorregião durante os próximos três
anos. “É muito pouco! Quase nada”,
gritaram da plateia. “Concordo que
não seja muito, mas acho que não é
zona sul pouco para três anos, considerando
Militantes sem-teto participam de audiência da Macrorregião Sul custos de desapropriação, projeto,
implantação”, respondeu Bruno.
Uma das principais propostas
pio: Leste, Sul, Centro-Oeste e Norte. Além dessas, a do projeto de Plano Diretor enviado
Casa organiza uma audiência para cada Subprefeitura pela Prefeitura, a de permitir o aden-
(31, no total) e algumas temáticas, sobre assuntos como samento em torno dos corredores de
mobilidade, moradia e meio ambiente, entre outros. transporte público, também foi cri-
ticada. Lucila Lacreta, do Defenda
Moradia antes de tudo São Paulo, movimento que discute
No dia 23, uma multidão de vermelho, com mais de mil as questões sobre a cidade, disse que
militantes do MTST, tomou o auditório aos gritos de a proposta vai gerar um padrão de
“Criar, criar, poder popular” e “Pisa ligeiro, pisa ligeiro, ocupação semelhante à da Avenida
quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro”. Paulista, com um “Muro de Berlim”
Na fala inicial, os vereadores e o representante da de prédios altos se espalhando por
Prefeitura ressaltaram que os grandes problemas da áreas de várzeas e por trechos da
Macroárea Sul são a moradia e a questão ambiental, já Serra da Cantareira. “Não estamos
que muitos habitantes vivem de forma irregular em áre- Centro-oeSte prevendo as mudanças climáticas
as de mananciais. Quando o microfone foi aberto, con- Audiência realizada no Sesc Pinheiros, em 30 de novembro que isso pode causar numa cidade
telão
tudo, a maioria dos cidadãos apontou problemas como Público assiste à audiência pública no CEU Rubi que já é uma ilha de calor”, afirmou.
a falta de moradia e pediu a implantação de novas Zo- O presidente da Câmara, verea- pertinentes. Estamos estudando e Em resposta aos questionamen-
nas Especiais de Interesse Social (Zeis). dor José Américo (PT), destacou que vamos tratar com muito carinho por- tos, o relator do projeto do Plano
“Tem que preservar mananciais, mas também o di- a capacidade de mobilização de seto- que precisamos ampliar o espaço de Diretor Estratégico, vereador Nabil
reito dos cidadãos à moradia”, disse Natália Rocha, do res da sociedade, como os sem-teto, moradia em São Paulo”, disse. Bonduki (PT), disse que o adensa-
MTST. “Moro há 26 anos num loteamento irregular, na pode influenciar no conteúdo do mento em torno dos corredores de
Ilha do Bororé, e a única luz que tenho ali é clandesti- Plano Diretor. “Quem decide a cida- “MUro de BerLiM” transporte foi pensado para “absor-
na.” Valmir de Sena, presidente da Associação dos Sem de são as pessoas que se mobilizam. Ninguém levou tambores e poucos ver as necessidades futuras da cida-
Casa da Zona Sul (Ascaz), lembrou como a pressão dos Isso dá muita força para as reivindi- mencionaram a questão da mora- de, porque ela não pode mais cres-
movimentos populares levou o poder público a ampliar cações. Dessa vez não é só o Secovi dia na audiência da Macrorregião cer horizontalmente”.
as fronteiras da legalidade. “Quando chegamos aqui, [Sindicato das Empresas de Compra, Centro-Oeste, realizada no dia 30,
em 1987, era proibido entrar água, luz, asfalto. O Hos- Venda, Locação e Administração de no Sesc Pinheiros. Como aquela é
pital Grajaú e o CEU em que estamos agora não pode- Imóveis Residenciais e Comerciais a área que concentra os maiores saiBa mais
riam ter sido construídos se a lei não fosse mudada.” de São Paulo] que está mobilizado”, índices de emprego do Município, site
Ricardo Rocha/CMSP

Entre uma fala e outra, o público soltava seus refrões, afirmou. “As propostas de alteração as preocupações ali envolvem mais Plano Diretor.
acompanhados pelo som dos tambores. de Zeis que vocês trouxeram são áreas verdes e o receio da especu- http://planodiretor.camara.sp.gov.br.

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EVENTO

Arquivo CCI.1/CMSP
iniciativa da CMSP para oferecer

Ricardo Rocha/CMSP
aos estudantes do 6º ao 9º ano do
Ensino Fundamental municipal
uma lição de cidadania e demo-
cracia, com o exercício, por um
dia, das funções e dos trabalhos
do Poder Legislativo.
Os projetos enviados pelas es-
colas foram escolhidos por uma
comissão de vereadores, seguindo
os critérios de respeito ao formato
de projeto de lei, pertinência em re-
lação ao tema do partido, correção
gramatical, concisão e clareza, ori-
ginalidade e exequibilidade.
Para o presidente da Câmara CoMProMiSSo
Municipal, José Américo (PT), o Estudantes prestam juramento ao serem empossados como vereadores jovens
Parlamento Jovem é um sucesso.
descontração • Pais e professores tiram fotos dos vereadores jovens no Plenário 1º de Maio “Pela quantidade de garotas e garo-
tos aqui presentes, vemos que a ideia Já houve casos de vereadores que paulistano, chama a atenção por ter

Projetos simbólicos,
pegou”, observou durante a Sessão aproveitaram propostas sugeridas sido apresentada no Parlamento Jo-
Solene de abertura dos trabalhos. no Parlamento Jovem e as encampa- vem de 2012 por seu filho Laércio
O ex-vereador José Rogério ram, sempre citando de quem foi a Benko Lopes Filho.
Farhat, autor da proposta de cria- ideia original. Laércio Benko (PHS), Independentemente de o pro-

intenções verdadeiras
ção do Parlamento Jovem Paulista- Aurélio Nomura (PSDB) e Coronel jeto virar lei, os professores acham
no, também participou da cerimô- Camilo (PSD), por exemplo, já apre- excelente a realização do Parlamen-
nia. “Espero que vocês continuem sentaram projetos baseados em su- to Jovem Paulistano. “Os jovens se
na política, pois um dia vão coman- gestão dos vereadores jovens do ano sentem ouvidos”, comentou Thiago
dar este País”, afirmou aos jovens. passado. Uma das propostas utiliza- Braz, que leciona sociologia para
Vereadores jovens apresentam suas propostas para a cidade fUtUro doS ProJetoS
das por Benko, que institui o pro-
grama de permeabilização do solo
alguns dos parlamentares mirins.
O professor de português Luís Al-
Todos os projetos dos vereadores berto Camargo acha que é muito
Rodrigo Garcia | rodrigogarcia@camara.sp.gov.br jovens foram aprovados, mas ape- importante os estudantes passarem
nas de forma simbólica, já que não diVULGAÇÃo um dia ouvindo e conversando com
vão se tornar leis. Essa questão foi Material de apoio do Parlamento Jovem 2013 os outros vereadores jovens. “É um

A
lice Ye Eun Chug, filha de sul-coreanos, tem 12 anos e O vereador jovem André Hardt Cardoso, de mencionada por Laura Franciscato aprendizado da consciência políti-
estuda no Bom Retiro. No caminho para a escola, 13 anos, propôs que em todas as escolas públicas mu- dos Santos em seu discurso como ca”, resumiu.
ela vê muitos retalhos de tecidos jogados na rua nicipais houvesse uma horta. “Aluno que come bem, candidata à Presidência da Mesa Di- Mais informações sobre o Par-
como se fosse lixo. A estudante, então, teve uma ideia: a estuda bem”, afirmou o garoto de 13 anos, que garante retora. “Espero que os projetos se- lamento Jovem podem ser obtidas
Prefeitura poderia organizar o recolhimento desse ma- gostar de verdura. jam postos em prática e virem leis,” com a Equipe de Eventos da Câmara,
terial, para que fosse reciclado. A proposta foi aprovada Heitor Chaves Teodoro, de 10 anos, apresentou pro- declarou ela, que acabou sendo elei- pelo e-mail eventos@camara.sp.gov.br
por seus professores e encaminhado à Câmara Munici- posta para que a sobra de madeira nas obras de cons- ta presidenta pelos colegas. ou pelo telefone (11) 3396-4170. No
pal de São Paulo (CMSP), onde se tornou um dos 55 trução seja enviada para os presídios, onde seria trans- Para que as propostas de Laura portal www.camara.sp.gov.br, em Prê-
projetos que fizeram parte do Parlamento Jovem deste formada em móveis pelos detentos. “Assim, quando o e dos outros jovens vereadores tor- mios Institucionais, também é pos-
ano. “Para o cidadão, é melhor andar por uma rua lim- preso voltar para a rua não precisará mais roubar, já nem-se realidade, é necessário que sível encontrar mais detalhes, como

Ângelo Dantas/CMSP
pa do que uma suja”, justificou Alice. Em 8 de novem- que terá uma profissão”, afirmou, com convicção. algum vereador apresente os proje- cronograma de atividades, fichas
bro, ela defendeu o projeto na tribuna do Plenário 1º de Esses são apenas três dos 55 projetos aprovados tos, que a maioria dos parlamentares de inscrição e as normas para envio
Maio, no Palácio Anchieta, sede da CMSP. na 12ª edição do Parlamento Jovem Paulistano, uma aprovem e que o prefeito sancione. dos trabalhos.

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ComÉrCio

Comunicação INTEGRADA
Câmara Municipal de São Paulo

Mozart Gomes/CMSP
Banca de jornal, Confira a agenda legislativa,

bebida, eletrônicos...
consulte leis e projetos e informe-se sobre
o trabalho desenvolvido pelos vereadores.

www.camara.sp.gov.br

Lei aprovada na Câmara O que pode Acompanhe as Sessões Plenárias e assista aos
Com a nova lei, as bancas podem comercializar:
debates e votações que transformam a cidade.
amplia rol de produtos • Refrigerante, água mineral, isotônico, energético,

oferecidos em bancas suco industrializado, bebidas à base de soja e de


café, chá em lata, água de coco, bebidas lácteas,
Canal 61.4 (aberto digital – 24h)
Canais a cabo 7 (digital) e 13 (analógico) NET, das 13h às 20h.
iogurte líquido e natural, leite fermentado e outras be-
sândor vasconcelos | sandor@camara.sp.gov.br www.tvcamara.sp.gov.br
bidas não alcoólicas em embalagem de até 600 ml;
• Doces industrializados e biscoitos salgados de até

A
partir de novembro, os donos das cerca de 3.500 ban- 200 gramas e sorvetes em embalagens descartáveis
cas de jornal de São Paulo podem ampliar a lista individuais;
de produtos e serviços oferecidos por seus estabe- • Artigos eletrônicos de pequeno porte, como pen
drives, mídias, reprodutores de mídia, jogos de vi-
Ouça a programação ao vivo ou faça download dos
lecimentos, graças à Lei 15.895/2013, cujo projeto foi boletins diários sobre as atividades parlamentares.
deogame, fones de ouvido, mouse, carregadores
idealizado pelo presidente da Câmara Municipal de São
de celulares, cartuchos e toner para impressoras,
Paulo, José Américo (PT), e sancionado pelo Executivo. cadeados, capas de chuva, guarda-chuvas e outros http://webradio.camara.sp.gov.br/
Segundo Américo, a iniciativa tenta corrigir uma produtos de pequeno porte do segmento;
injustiça, já que as bancas enfrentam a concorrência • Artigos de papelaria, como papel sulfite A4 (folhas
de, por exemplo, supermercados e lojas de conveniên- individuais), papel de presente, envelope, caderno,
cia, que podem vender jornais e revistas sem restrição. agenda, calendário, cola escolar, pasta, fita e bloco
“As bancas não precisam de privilégios, mas de con- autoadesivos, clipe, elástico, etiqueta, ímã, jogos
dições iguais para competir”, apontou o vereador na de tabuleiro, brinquedos pequenos, boné, jogos de
justificativa do projeto. cartas e similares;
De acordo com a lei, bebidas e alimentos devem es- • Cartões de recarga e chips para celulares;
tar acondicionados em refrigeradores, no interior da • Transmissão e recepção de fax e e-mail, assinaturas
banca. A comercialização de revistas e jornais segue de revistas, serviços de revelação de fotos e en-
como atividade principal, por isso 75% do espaço inter- comendas rápidas por convênios com a Empresa
no útil do estabelecimento continuam destinados ape- Brasileira de Correios e Telégrafos e outras empre-
sas do ramo.
nas a produtos editoriais.

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O novo
Plano Diretor
vai reorganizar
São Paulo.
Com a sua ajuda, os vereadores paulistanos vão
definir a cara da cidade para os próximos dez anos.
Eles vão debater e votar os rumos do crescimento
econômico, da mobilidade urbana, do saneamento,
da habitação, entre outros. E como isso afeta
a todos, a Câmara quer a sua participação.

Envie suas sugestões para a elaboração do Plano Diretor:


www.camara.sp.gov.br/planodiretor

abc

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