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Ano XXVI- dezembro/2014 nº279 - R$ 13,00 - www.musitec.com.

br

NOVO ESTÚDIO
CODIMUC
Gravadora de Taubaté abre as portas de sua
LOGIC PRO X “nova casa”, projetada por Renato Cipriano
Analisando prós e contras da
atual versão do programa

COMPRESSÃO SONORA PRÊMIO MULTISHOW


Utilização ao vivo e também na Toda a engenharia de som da maior
otimização de mixagens em estúdio premiação musical da TV brasileira

AES
A N G E L ES
LOS de
Em buscaento e
conhecimdades
n ov i

Linkin Park em BH: novo show, novo iluminador e conceito baseado em vídeo
A
CEN

Soluções práticas e criativas no espetáculo interativo de Hamilton de Holanda


Z&
LU

áudio música e tecnologia | 1


Media Composer: técnicas e métodos para uma montagem a jato
2 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 1
ISSN 1414-2821
EDITORIAL
Áudio Música & Tecnologia
Ano XXVI – Nº 279 /dezembro de 2014
Fundador: Sólon do Valle

Direção geral: Lucinda Diniz -


lucinda@musitec.com.br
Edição jornalística: Marcio Teixeira

Adeus, 2014!
Consultoria de PA: Carlos Pedruzzi

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO


André Paixão, Cristiano Moura, Enrico De
Paoli, Fábio Henriques, Fabrizio Di Sarno,
E o ano se passou. Muita coisa aconteceu nem 2014, né? Confusão, Copa,
Farlley Derze, Fernando Moura, Homero
confusão, eleições, confusão, mais eleições, confusão, e ao redor, sempre, Sette, Lucas Ramos, Mauro Ludovico e
som, som, som, som, som... Que é o que nos move, certo? É o que faz o Renato Muñoz.
corpo vibrar, a mente acender e a vida acontecer. Para alguns, a relação está
diretamente ligada ao trabalho, ao ganha pão. Para outros, o som é o prazer REDAÇÃO
“apenas”. E quem sabe não vira trabalho um dia, principalmente se você é Marcio Teixeira - marcio@musitec.com.br
uma pessoa que tem, no seu colo ou na mesa, a AM&T tradicional ou em ver- Rodrigo Sabatinelli - rodrigo@musitec.com.br
são digital? Você provavelmente quer saber mais, sentir mais, mergulhar de redacao@musitec.com.br
cabeça nesse universo. Assim sendo, sábia escolha! Sábias, aliás: pelo som cartas@musitec.com.br
na sua vida e pela AM&T, sua fonte de conhecimento sobre áudio, música e
DIREÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO
tecnologia há mais de duas décadas e meia.
Client By - clientby.com.br
Frederico Adão e Caio César
Nessa revista que fecha o ano você tem, logo na capa, um teaser bem legal
do que temos nesse mês (é pra isso que server as chamadas de capa, certo? Assinaturas
haha). Sim, a Codimuc nos apresentou seu novo estúdio, projetado por Re- Karla Silva
nato Cipriano, da WSDG. Na matéria você poderá se inspirar para a sonhada assinatura@musitec.com.br
hora de construir seu próprio estúdio ou pelo menos suspirar e curtir todo
o processo que culmina com um espaço de qualidade funcionando a pleno Distribuição: Eric Brito
vapor, registrando música dia após dia.
Publicidade
Mônica Moraes
Também falamos do som do Prêmio Multishow, que, com o fim da MTV
monica@musitec.com.br
Brasil em sua versão antiga, passou a ser, com sobras, a premiação musi-
cal mais importante da nossa televisão. A AES Los Angeles 2014 também
Impressão: Ediouro Gráfica e Editora Ltda.
chega até você, e através do olhar peculiar do grande Fernando Moura,
que foi lá e relatou o que de mais interessante e esquisito percebeu ao Áudio Música & Tecnologia
seu redor. Compressores também têm destaque nessa AM&T 279, já que é uma publicação mensal da Editora
são eles o tema principal em duas seções: Notícias do Front (“Compressão Música & Tecnologia Ltda,
ao vivo – Olhando mais de perto”) e Mixagem (“Otimizando sua Mixagem CGC 86936028/0001-50
[Parte 7]: Usando compressores”). Situações diferentes, abordagens dife- Insc. mun. 01644696
rentes, informação em altas doses pra você. E o Desafiando a Lógica che- Insc. est. 84907529
ga apontando os prós e contras do Logic Pro X, ao passo que o Produção Periodicidade Mensal
Fonográfica fala de algo talvez novo pra você, mas do qual nunca mais se
ASSINATURAS
esquecerá: o Mapa de Contorno Emocional, que serve como um verdadeiro
Tel/Fax: (21) 2436-1825
mapa anatômico de uma música para o produtor.
(21) 3435-0521
Banco Bradesco
No caderno Luz & Cena o destaque é o show do Linkin Park em BH. Taí uma Ag. 1804-0 - c/c: 23011-1
banda que você pode até não gostar, mas é fácil ver o progresso artístico
dos caras. E nisso está, talvez principalmente, a parte visual, que brilha nas Website: www.musitec.com.br
apresentações ao vivo do grupo americano.
Distribuição exclusiva para todo o Brasil
É isso. Curtam a revista, aproveitem o Natal e que 2015 surja promissor. Até pela Dinap S/A – Distribuidora Nacional de
o ano que vem! Publicações, Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº
1678, CEP 06045-390 – São Paulo – SP”
Marcio Teixeira
Não é permitida a reprodução total ou
parcial das matérias publicadas nesta revista.

AM&T não se responsabiliza pelas opiniões


de seus colaboradores e nem pelo conteúdo
2 | áudio música e tecnologia dos anúncios veiculados.
áudio música e tecnologia | 3
34 AES Los Angeles 2014
A viagem de um músico ao país das maravilhas
(ou “Por que não dá pra ver pelo YouTube?”)
Fernando Moura

48 Prêmio Multishow 2014

42
Tudo sobre a engenharia da maior premiação
musical da TV brasileira
Rodrigo Sabatinelli
Renovação no ar
Codimuc apresenta seu 52 Criando o subwoofer H.Sette 2x18” SW6000nd (Parte 2)
Novas etapas do desenvolvimento do produto
novo estúdio, projetado por Homero Sette e Mauro Ludovico
Renato Cipriano, da WSDG
Rodrigo Sabatinelli 56 Mixagem
Otimizando sua Mixagem (Parte 7): Usando compressores
Fábio Henriques

60 Produção Fonográfica
O Mapa de Contorno Emocional: Auxiliando o produtor
14 Em Casa
Conexões Analógicas (Parte 3): Como soldar na valorização da mensagem musical
seus próprios cabos Fabrizio Di Sarno
Lucas Ramos
66 Desafiando a Lógica
Minhas observações sobre o Logic X – Ele chegou
22 Plug-ins
Explorando emulações Waves (Parte 2): Analógico, para ficar: mas como nem tudo é perfeito, destaco alguns
digital e “digital que emula analógico” prós e contras
Cristiano Moura André Paixão

26 Notícias do Front 96 Lugar da Verdade


Como a política atrapalha o áudio
Compressão ao vivo – Olhando mais de perto
Renato Muñoz Enrico De Paoli

32 Quem é Quem?
O diretor de palco – Responsável por tudo seções
e (quase) todos
Rodrigo Sabatinelli editorial 2 notícias de mercado 6
novos produtos 10 índice de anunciantes 95

78
show
Espetáculo interativo de música instrumental de Hamilton
de Holanda tem soluções práticas e criativas

74
por Rodrigo Sabatinelli

84
capa
media composer
Linkin Park em BH: Banda Criando uma montagem rápida: Técnicas e métodos
desembarca no Brasil com para um trabalho a jato
novo show, novo iluminador e por Cristiano Moura
visão artística bem própria
por Rodrigo Sabatinelli
90
iluminando
PRODUTOS ........................................... 70 História dos profissionais de iluminação cênica no Brasil:
EM FOCO .............................................. 72 Sexto capítulo – Aurélio de Simoni (Parte 1)
por Farlley Derze
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áudio música e tecnologia | 5
nacionais de pró-áudio e showbusiness ainda
têm muito a evoluir

notícias de mercado

PROJETO DE LEI DETERMINA QUE DJS TERÃO QUE FAZER


CURSO DE 800 HORAS PARA EXERCER PROFISSÃO
Na quarta-feira, dia 12 de novembro, a Comissão de Constituição e Jus-

Divulgação
tiça e de Cidadania da Câmara dos Deputados aprovou um projeto de
lei que regulamenta a profissão de DJ. Ficou estabelecido no texto que
o requisito para exercer a função é ter feito um curso técnico com carga
horária de 800 horas, sendo que o curso precisa ser um dos que são
oferecidos por instituições reconhecidas pelo Ministério da Educação.
Para fazer o curso, será necessário ter, pelo menos, 16 anos de idade,
além de o ensino médio completo ou em curso. As novas determinações
não vão valer para os profissionais que já estejam trabalhando de for-
ma contínua há pelo menos cinco anos nem para o DJ estrangeiro que
permanecer até 60 dias no Brasil.

A proposta ainda determina que a duração do trabalho de um DJ profis-


sional não poderá ser superior a seis horas diárias e 30 horas semanais.
Ter realizado um curso técnico com carga
O tempo de trabalho vai abranger o período de execução ou apresen-
horária de 800 horas agora é requisito para
tação perante o público e também o tempo necessário para pesquisas,
que DJs possam atuar no Brasil
ensaios, estudo e atividades de promoção. Deverá, ainda, ser assegu-
rado um intervalo para refeição e descanso de, no mínimo, 45 minutos. Se o assunto é hora extra, estas serão remuneradas
com acréscimo de 100% sobre o valor da hora normal. Por fim, o DJ que prestar serviços em condições insalubres ou perigosas
deverá receber o adicional correspondente. Como o projeto sofreu algumas alterações, será necessário que ele retorne ao
Senado para ser votado novamente.

Vale lembrar que, em novembro, a mundialmente reconhecida escola de formação de DJs Dubspot trouxe para entusiastas da
música eletrônica na América Latina um curso realizado em parceria com o Instituto de Artes e Técnicas em Comunicação (IA-
TEC). No treinamento, estavam previstos contato com as mais avançadas técnicas de produção e mixagem usando o software
Ableton Live. À frente do curso, Dan Freeman, baixista pós-graduado em Harvard e produtor musical. Fique atento à agenda
do IATEC e à de outras intituições para obter o conhecimento técnico e prático que agora todo DJ precisa ter para poder atuar.

GOOGLE LANÇA SERVIÇO DE STREAMING


DE MÚSICA NO YOUTUBE
O mercado de serviços de streaming de música está crescendo já há algum tempo e ficando cada vez mais competitivo. Para
"botar mais lenha na fogueira", o Google agora também entrou no jogo, o que significa um player de qualidade e alcance
gigantescos entrando na disputa. Depois de muita especulação e rumores na internet, o YouTube anunciou em meados de
novembro o Music Key, plataforma que, em um primeiro momento, está disponível apenas para convidados.

Segundo informações divulgadas, a assinatura custará US$ 7,99 mensais e per-


Reprodução

mitirá que o usuário tenha acesso a clipes e álbuns completos no YouTube, sem
ser interrompido por anúncios. O serviço permite que as músicas sejam reprodu-
zidas em segundo plano e até em modo offline, algo que aplicativos alternativos
baseadas no YouTube já fazem, como é o caso do McTube, sucesso nos smar-
tphones.

Compatível com desktop e dispositivos móveis, o Music Key já está disponível


nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, como Espanha, Irlanda, Itália
e Portugal e Irlanda. De qualquer forma, por enquanto, qualquer internauta pode
Plataforma Music Key, do Google:
acessar gratuitamente a versão beta do serviço para testá-la. O site oficial é
acesso sem anúncios e até offline a
www.youtube.com/musickey e o vídeo que pode ser conferido em http://tinyurl.
clipes e álbuns completos no YouTube
com/musickey-teaser é um tease que mostra um pouco sobre a novidade.
6 | áudio música e tecnologia
PROSHOWS LANÇA NOVO SITE
O novo portal da empresa de origem gaúcha ProShows, uma das principais distribuidoras do Brasil, além de agora contar com um
visual mais moderno e clean, é também mais intuitivo, o que permite, ao logista, uma série de facilidades na hora de visitá-lo.

Além das mudanças na aparência e na navegação, com fotos e detalhes dos produtos sendo apresentados de uma forma mais
atraiente, uma boa novidade para o lojista é que em qualquer página de produto que se entre, há a possibilidade de solici-
tar imediatamente o orçamento do item, o que

Reprodução
acaba por eliminar processos e colabora para
agilizar a negociação entre as partes.

A busca também passou por uma reformulação.


Agora, além de procurar por palavras-chave, o
usuário também pode ir diretamente na mar-
ca ou por segmento. Inclusive, cada página de
marca no portal apresenta uma breve história
da companhia e mostra todos os seus produ-
tos por tema. O internauta ainda tem acesso às
mais recentes notícias da empresa, a seu por-
tfólio, a artistas associados, promoções e mais.
Na seção "Vendedores regionais", representan-
tes também têm destaque. Novo site da ProShows: mais intuitividade e buscas mais completas

Vale destacar que o portal ainda está em testes, mas para dar um confere em todas as novidades do novo site basta visitar
www.proshows.com.br.

DOLBY ANUNCIA AQUISIÇÃO DA DOREMI


Os laboratórios Dolby, sediados em São Francisco, anunciaram a finalização bem-sucedida do processo de compra da Doremi
Labs. Com o acordo, a Dolby, empresa fundada em 1965 que desenvolveu um sistema que reduz o ruído sonoro do fundo de
gravações em fitas, permitindo aos músicos produzir mixagens multitrilhas sem um ruído no fundo, reforça sua experiência de
cinema com a Doremi, que tem base em Burbank e foi fundada em 1985. De acordo com o Los Angeles Times, o acordo foi
avaliado em US$ 92,5 milhões mais um adicional de US$ 20 milhões que serão pagos em um período de quatro anos.

Nos anos 1970, o sistema de som da Dolby foi usado em filmes como Star Wars. Em 2012, a companhia lançou uma nova
tecnologia chamada Dolby Atmos, e logo um ano depois os sistemas de som Atmos já estavam sendo usados em filmes como
"Star Trek Into Darkness". Trata-se, de acordo com a desenvolvedora, do primeiro sistema de som imersivo baseado em objetos.

Segundo, Lucas Crantschaninov, Cinema Sales Manager da Doremi,


Reprodução

agora Dolby, a Doremi teve ótimos resultados espetaculares na Améri-


ca Latina., e esse foi um dos aspectos que chamou a atenção da Dolby.
"A confiabilidade dos números dos produtos acima da média foi um dos
aspectos que chamou a atenção da Dolby. A Doremi detém a capaci-
dade de se envolver no mercado e reunir os clientes. Em termos de
vendas, a Dolby tinha número poucos expressivos quando comparados
aos nossos", afirma Lucas, destacando ainda que a Doremi possui "um
leque de ferramentas e desenvolvimento mais dinâmico e abrangente".

O processo regulatório foi aprovado pelos governos americano e euro-


peu. A fusão ocorreu em três de novembro, e para a América Latina a
estrutura permanece a mesma. A Dolby possui um centro de logística
no interior de São Paulo, que será somado ao centro de reparos da
Dolby Theatre, palco do lançamento do Doremi, que fica na capital paulista. A gama e cartela de produtos das
sistema Dolby Atmos: aquisição da Doremi duas empresas serão integradas, assim como o atendimento Dolby e
Labs foi oficializada no início de novembro Doremi. A partir de agora a marca Doremi se torna Dolby.
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áudio música e tecnologia | 9
novos produtos

K-array lança sistema de line array com nova tecnologia


Há muitos séculos a Itália é reconhecida pelo mundo por sua grupos de três dentro de módulos rígidos, que são interli-
criatividade e design. No universo do áudio profissional, a mais gados rapidamente para criar grandes sistemas com até
nova criação da K-array, fabricante italiana de soluções de 24 unidades. Cada unidade pode ser inclinada de forma
áudio de alta tecnologia, é um produto que, de acordo com independente para o alinhamento mecânico, para em
a própria companhia, é fruto desta cultura e foi “desenvol- seguida fazer o alinhamento digital.
vido para encantar os especialistas do setor”. O resultado
é a Série Firenze, que tem no KH8 (um dos dois lançamen- "Queríamos criar um sistema que representasse o esta-
tos iniciais da linha) o primeiro sistema line array a utili- do da arte em termos de qualidade e desempenho, mas
zar a tecnologia "Slim Array Technology” (S.A.T.). O KH8 que, ao mesmo tempo, fosse o mais prático possível em
(foto) é amplificado, leve, fino, compacto e seu design é portabilidade, instalação e gestão. Voltamos no tempo, ao
futurista e resistente a intempéries, proporcionando 145 início do line array, e o reprojetamos a partir do zero, con-
dB SPL. É totalmente controlado pelos DSPs integrados siderando todos os detalhes em uma proposta de tornar
para ajuste preciso do alinhamento com a máxima flexi- as coisas mais simples, mas com potência suficiente para
bilidade operacional. Seu aliado é o compacto subwoofer torná-lo um sistema que todos podem reconhecer e apre-
KS8, o outro lançamento da linha Firenze, também ativo ciar. Realizamos beta testes com o Sistema Firenze na
e resistente, que proporciona 148 dB SPL. Ásia durante um ano e os resultados superaram nossas
expectativas", destacou Alex Tatini, presidente da K-array.
Um sistema com 24 unidades do KH8 pode ser montado
em apenas dez minutos. Isto é possível porque não é necessá- www.k-array.com
rio desmontar todo o conjunto: as caixas estão ancoradas em www.gobos.com.br

JOÃO AMÉRICO LANÇA AS CAIXAS AED 206 e 205


O engenheiro baiano João Américo, ex-proprietário da locadora
de equipamentos de áudio profissional que até hoje carrega seu Indicada para aplicações indoor em teatros, igrejas e centros
nome, lançou, há um mês, em um evento realizado na cidade de de convenções, dentre outros ambientes, ela foi tão bem re-
Salvador, na Bahia, sua própria linha de caixas acústicas – a AED cebida quanto a AED
(Audio et Design). 205, uma caixa tipo
coluna, composta por
Apresentadas por Carlos Kalunga, técnico de PA de Ivete Sangalo, dois woofers de cin-
as caixas AED 206 e AED 205 atraíram as atenções do público co polegadas e um
presente e também daqueles que acompanharam o lançamento driver, indicada para
direto de suas casas ou ambientes de trabalho, via internet. De músicos que tocam
acordo com Kalunga, a AED 206 é uma caixa de três vias equi- em locais pequenos.
pada com dois woofers de seis polegadas para os graves; um
mid range de seis polegadas para os médios, e dois drivers com www.audioetde-
membrana de 1,7 polegada. sign.com.br

CONTROLADORA BEHRINGER CMD STUDIO 2A


Com um controlador dual-deck compacto, botões iluminados e jog Entre outras características do equipamento, que é compatível
wheels sensíveis ao toque, a controladora Behringer CMD Studio 2A com o Windows e com o Mac OSX, estão configuração de DJ
pode ser aquele equipamento que você está buscando pra tocar pra completa, incluindo dual-deck de controlador de DJ com built-in
frente seu projeto de discotecagem. O produto, que interface de áudio e vale para o software Image-Line Decka-
conta com saída USB, oferece áudio de óti- dance – compatível com softwares populares como Virtual DJ e
ma qualidade, conversores de 24
Traktor; seção do mixer completo com crossfader e dois faders
bits e latência muito baixa.
de canais, equalizador de três bandas, navegação da bibliote-
É dotada de uma ótima
ca; interface de áudio potente USB com conversores de 24 bits
interface de áudio e
e latência ultrabaixa; é USB bus-powered e conta com pro-
permite controle total
de suas músicas, além tocolo MIDI Class-Compliant, que permite plug-and-play com
de ter um design atraente qualquer software MIDI.
e ser compacta, leve, portá-
til e prática, podendo ser leva- www.behringer.com
10 | áudio música e tecnologia da até em uma mochila. www.proshows.com.br
áudio música e tecnologia | 11
novos produtos

SAINDO DO FORNO O CONSOLE YAMAHA RIVAGE PM10


Mais de uma década após o lançamento das Yamaha PM1D e pré-amplificadores de
PM5D, que definiram a direção dos consoles de som digitais, che- microfone híbridos que
ga ao mercado em 2015 o console Rivage PM10 para mix ao vivo, foram recentemente de-
que embora tenha herdado o DNA de seus antecessores, é mais senvolvidos de acordo
moderno, oferece mais recursos, maior qualidade e versatilidade com a filosofia de som
sonora, atendendo às necessidades do usuário contemporâneo. Yamaha. A parte analógica
O sistema é constituído por uma superfície de controle CS-R10, é totalmente nova, tanto em
DSP-R10 DSP engine, Rpio622 I/O rack, trabalhando com três termos de componentes quanto em design. Tudo isso, de acordo
tipos de cartões RY e dois tipos de cartões HY. com a fabricante, é para que o som saia puro, natural. A parte di-
gital inclui modelos de transformadores de circuito da Rupert Neve
"O mixer é o centro de qualquer sistema de som. Nosso novo sistema Designs (RND) e o aclamado processamento Silk. Fora isso, os ca-
Rivage PM10 é o ápice de mais de 40 anos da história das séries PM nais EQ e dinâmico passaram por uma significativa atualização. Os
e inicia uma nova era de facilidade, confiabilidade, operação e um ex- canais de entrada têm equalizador paramétrico de quatro bandas
traordinário som", declarou Chihaya Hirai, manager do departamento completo, enquanto que os de saída contam com o mesmo tipo de
de PA da Yamaha. "Também não é exagero dizer que o desenvolvi- equalizador, mas de oito bandas completo. Ainda são oferecidos três
mento do novo sistema só foi possível graças ao apoio dedicado e ao algoritmos recentemente desenvolvidos e mais o clássico algoritmo
feedback dos nossos clientes ao longo de nossa história, além de nos- Yamaha "Legacy", além de 45 plug-ins já estarem está disponíveis.
sa paixão pela criação de produtos líderes da indústria", acrescentou.
www.yamahaproaudio.com
Entre algumas outras características do console, ele conta com br.yamaha.com

SISTEMA DE MONITORAÇÃO WIRELESS M2M AUDIO-TECHNICA IN-EAR


Desenvolvido para atender às necessidades de músicos exigen- diário; oferece som de alta fidelidade, com mix claro e articula-
tes, o sistema de monitoração sem fio M2M Audio-Technica In- do; 100 canais UHF selecionáveis; três modos do receptor: mix
-Ear oferece excepcional desempenho e alta praticidade no uso. pessoal, estéreo e mono; limitador (anulável), que ajuda a pro-
Combina recursos profissionais e configurações simplificadas, teger a audição do usuário contra picos repentinos; fo-
proporcionando mais qualidade, sem problemas de fee-
nes intra-auriculares de borracha com ajuste pessoal em
dback e desordem causada por monitores de chão. O
três tamanhos, além de uma espuma que se adapta ao
M2M Audio-Technica é um sistema sem fio e com res-
ouvido; entrada auxiliar com um ponto de conexão
posta de frequência altamente confiável e estável.
para microfone ambiente, faixa de batida ou outras
Sua tecnologia, segura e eficiente, de acordo com a
empresa, permite que sejam usados até dez entradas em nível de microfone ou linha.
sistemas simultâneos compatíveis por faixa.
www.audio-technica.com
Possui construção robusta, própria para uso www.proshows.com.br

375 WATTS E PRATICIDADE NO SISTEMA FENDER PASSPORT EVENT


Com um painel de controle extremamente versátil e opcões de conec- shows em festas, pequenos clubes e cafés; educação, eventos espor-
tividade, tudo acoplado em um gabinete leve e elegante, o sistema de tivos e religiosos; reuniões, seminários e apresentações. A qualidade
áudio portátil Passport Event, de 375 watts, é uma opção de três em sonora da série é resultado das tecnologias empregadas tanto no de-
um bastante interessante para amplificar a voz, instrumentos e mú- senvolvimento dos componentes eletrônicos quanto no sistema de alto
sicas de fundo. Fácil de carregar, transforma-se numa mala que pode falantes, daí um som de alta fidelidade, grande projeção e boa clareza.
ser transportada para qualquer lugar. Tem conexão Bluetooth, grande
sonoridade e sua configuração é tão simples que pode ser compara- São sete canais ao todo, sendo quatro para mic, um para linha
da à de sua televisão. Aberto, ele é mais um estéreo, com controles de volume, grave, agudo e reverb
composto por duas caixas acús- e controle de volume master. Cada caixa conta com um falante
ticas, um mixer, um microfone e de oito polegadas mais um tweeter de 1,2 polegada, e o produto
todos os cabos necessários para acompanha kit contendo dois cabos para caixa, microfone, cabo
ligá-lo e começar o uso. XLR e cachimbo para microfone. Pesa 19,96 kg.

O Passport Event é ideal para uma www.fender.com


variedade de aplicações, incluindo www.fender.com.br
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áudio música e tecnologia | 13
em casa | Lucas Ramos

Equipamentos para
um Home Studio
Conexões Analógicas (Parte 3): Como
soldar seus próprios cabos
Na edição passada da coluna passada nós termi- nos de home studios. A possibilidade de fabricar
namos de falar sobre os tipos de cabos e conec- e consertar os seus cabos pode economizar muito
tores analógicos, então nada mais natural do que tempo e dinheiro!
falar sobre como soldar os dois juntos e assim
poder fabricar os nosso próprios cabos. Isso é FERRAMENTAS NECESSÁRIAS
um luxo que geralmente só os grandes estúdios
têm, pois contratam um profissional para fazer - Ferro de solda com potência em torno de 30-
toda a ligação do estúdio e soldar todos os cabos. 40W (ferros mais fortes podem acabar queiman-
Mas como quem não tem cão caça com gato, e do os cabos, e ferros mais fracos demoram muito
aprender a soldar por conta própria pode ser uma para aquecer o material)
alternativa eficiente e barata para home studios. - Suporte para ferro de solda
Assim você pode ter os cabos com os comprimen- - Esponja grossa molhada (para limpar a ponta do
tos e conectores exatos pro seu home studio sem ferro de solda)
ter que gastar uma fortuna.
- Alicate para desencapar fios
- Solda estanho de boa qualidade (com bastante bri-
Saber soldar cabos e conexões é um conhecimento
lho, como se tivesse sido polida)
de grande utilidade para qualquer um que queira
- Chave de fenda (ou phillips)
trabalhar com áudio, especialmente para os do-
- “Terceira mão”
- Multímetro
- Cabo
- Conector
- Mesa ou superfície lisa à prova de fogo

DICAS

- Limpe a ponta do seu ferro de solda com regulari-


dade, usando “Bombril” ou algo parecido.

- Desencapar cabos pode ser uma tarefa delicada.


Tome muito cuidado para não cortar demais e ex-
por os condutores em área indesejadas. Se você
não tem experiência nessa tarefa, pratique antes
em pedaços de cabos velhos até se sentir seguro.

- Meça a distância necessária para os cabo antes (com


uma pequena “folga”) e corte o cabo com o compri-
mento desejado. Assegure-se de que essa medição
está correta, pois um erro pode lhe custar um cabo!
As ferramentas necessárias para soldar um cabo: ferro de
solda e suporte, esponja úmida, alicate para desencapar
fios, solda estanho, “terceira mão” e multímetro
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áudio música e tecnologia | 15
EM CASA

- Encoste a solda sempre nos pinos do conector


ou no condutor do cabo, nunca na ponta do ferro
ESTANHAgEM
de solda. Isso garante uma adesão mais firme da
Antes de soldar é importante que todos os con-
solda na conexão.
tatos, condutores e até a ponta do ferro de solda
passem por um processo chamado de estanha-
- Nunca aqueça um cabo ou conector demais, pois gem. Esse processo envolve aquecer a área de-
o isolante (capa) pode acabar derretendo, danifi- sejada e encostar um pouco de solda para que
cando o cabo ou conector e produzindo uma fuma- cubra toda a área com uma fina camada de solda.
ça bem desagradável. É importante não exagerar na quantidade de sol-
da. Porém, se houver excesso, basta limpar na
- A superfície sobre onde você irá trabalhar deve ser esponja úmida. É de extrema importância fazer
à prova de fogo. Uma alternativa barata e simples isso com todos os pontos de solda e também o
pode ser simplesmente uma forma (de cozinha) de próprio ferro de solda, para garantir uma solda
metal velha ou algo parecido. mais firme.

- Utilize sempre óculos de proteção para proteger Esse processo pode ser um pouco delicado e tam-
bém deve ser praticado em cabos velhos até que
você se sinta seguro para trabalhar com cabos
TERCEIRA MÃo
“de verdade”.
A “terceira mão” é um suporte que permite posicio-
nar e manter os cabos e conectores na posição ideal
para soldar, liberando o uso das suas mãos para ma-
nuseio do ferro e da solda. Consiste em uma base
pesada e braços metálicos com “pinças” e outras
ferramentas na ponta. Alguns modelos vêm equipa-
dos com lupas, luz, esponja, suporte para o ferro de
solda, e até exaustor para tirar a fumaça da solda!

Antes de soldar é importante que todos


A “terceira mão” é um suporte que os contatos, condutores e até a ponta do
permite posicionar e manter os cabos e ferro de solda passem por um processo
conectores na posição ideal para soldar, chamado de estanhagem, para garantir
liberando o uso das suas mãos uma solda mais firme

16 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 17
em casa

seus olhos em caso de “espirros” de solda ou coi-


sas do tipo.

- Perigo! Nunca deixe um ferro de solda ligado


sem supervisão. Ferros de solda podem causar in-
cêndios se caírem sobre algum material inflamá-
vel, fato que já ocorreu milhares de vezes mundo
afora. Por isso, desligue o ferro de solda sempre
que você sair da sala onde estiver soldando.

- Muito cuidado! Ferros de solda podem queimar a


pele gerando ferimentos sérios. Não brinque com o
ferro de solda e preste sempre muita atenção quan-
do estiver manuseando um. Se possível, utilize man-
gas longas e luvas grossas para proteger sua pele.

PREPARAÇÃO

1) Coloque as ferramentas sobre uma superfície à


prova de fogo e posicione-as de forma que você te-
nha acesso a tudo.

2) Usando uma chave de fenda (ou phillips, depen- É necessário medir a distância entre os contatos
dendo do conector), remova os parafusos do conector e a braçadeira do conector e desencapar somente
e abra-o de forma que os contatos fiquem expostos. a distância necessária do cabo. Também é
importante desencapar, nos condutores, somente
3) Utilizando o alicate, desencape o cabo, removen- a distância necessária para fixá-los nos contatos.
do primeiro somente a capa exterior e expondo os
condutores internos do cabo. É necessário medir a
distância entre os contatos e a braçadeira de fixação forma segura. Geralmente leva em torno de cinco
do cabo no conector e desencapar somente a distân- minutos para o ferro de solda aquecer por completo.
cia necessária do cabo. Isso garantirá uma melhor
fixação do cabo e minimizará ruídos de manuseio. 2) Estanhe o ferro de solda, os condutores do cabo, a
blindagem e os contatos do conector (veja box). Uti-
4) Separe os condutores, e se necessário enrole a lize a “terceira mão” para manter o cabo/conector na
blindagem em espiral para que a mesma fique com posição ideal, sem que você precise ficar segurando-o.
formato cilíndrico. Se houver algum tipo de mate-
rial de preenchimento (geralmente algum tipo de 3) Antes de soldar os condutores do cabo no conec-
fibra) entre os condutores, corte na altura da capa tor, passe a capa do conector e todo o revestimento
externa do cabo, para não atrapalhar o manuseio externo pelo cabo (na orientação correta). Não se
dos condutores. esqueça de fazer isso antes de soldar os condu-
tores, pois, senão, terá que remover as soldas e
5) Utilizando o alicate, desencape os condutores. É refazê-las novamente.
importante desencapar somente a distância neces-
sária (geralmente 3 a 5 mm) para fixar os conduto- 4) Aqueça o contato do conector e encoste a ponta
res nos contatos do conector. Enrole as pontas dos do condutor no mesmo contato aquecido. As soldas
condutores em espiral (como a blindagem). em torno do contato e do condutor devem se unir
quando aquecidas suficientemente, havendo fixação
SOLDAGEM e ligação entre os dois pontos. Se for necessário,
acrescente um pouco de solda, encostando somente
1) Ligue o ferro de solda, e coloque-o no suporte de no contato ou no condutor, nunca no ferro de solda.

18 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 19
em casa

5) Repita o processo para os outros condutores e bém se há ruídos no manuseio do cabo.


contatos.
Soldar é uma habilidade essencial para todos que
FINALIZAÇÃO queiram trabalhar em um estúdio. Porém, é ne-
cessário ter bastante prática, paciência e deter-
1) Teste a qualidade das soldas, primeiro inspecio- minação para conseguir soldar seus equipamen-
nando-as visualmente. Uma boa solda deve ter uma tos e cabos sem o risco de danificá-los. Por isso,
aparência lisa e brilhante, sem bolhas ou deforma- se possível, eu sugiro um curso básico de elé-
ções. Em seguida, puxe os condutores levemente trica/eletrônica para todos aqueles que preten-
para testar a fixação da solda. dem ir além de soldar alguns cabos. Se não for
possível, pelo menos pratique bastante em cabos
2) Prenda o cabo na braçadeira de fixação do conec- velhos até se sentir seguro, antes de começar a
tor. Assegure-se de que a fixação está bem firme, soldar os cabos do seu home studio.
pois isso minimizará os ruídos de manuseio, assim
como a pressão exercida sobre as soldas. No próximo Em Casa vamos aprender a soldar
cada tipo de conector diferente para saber qual
3) Cubra os contatos com a capa do condutor e en- condutor deve ser soldado em qual contato. Tam-
rosque-a no seu devido lugar. Se houver, recoloque bém vamos aprender a fabricar cabos com co-
os parafusos do conector. nectores diferentes em cada ponta e até cabos
balanceados em uma ponta e não balanceados na
4) Teste o cabo utilizando um voltímetro, ou então outra... Não percam!
simplesmente ligando-o e verificando se o mesmo
transmite sinal sem ruído. É importante testar tam- Até lá!

Uma boa solda deve ter uma aparência lisa e


brilhante, sem bolhas ou deformações

Lucas Ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do IATEC. Formado em Engenharia de Áudio
pela SAE (School of Audio Engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools Certified Operator, Apple Logic Certified
Trainer e Ableton Live Certified Trainer. E-mail: lucas@musitec.com.br

20 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 21
PLUG-INS | Cristiano Moura

EXPLORAND O
EMULAÇÕES
2)
WAVES (P
A R T E

ANALÓGICO, DIGITAL E “DIGITAL QUE EMULA ANALÓGICO”


No artigo anterior, exploramos alguns plug-ins da Waves Outra característica importante dele está em torno do seu
que emulam o funcionamento de preamps e equalizado- sistema de detecção do sinal, que, explicando de forma
res analógicos que tem raízes que se misturam à história bem simples, funciona baseado em luz. Podemos chamar
da indústria fonográfica. isso de “sistema ótico”, que atrelado ao circuito valvulado
resulta numa compressão suave, com tempos de attack e
Desta vez, vamos explorar alguns dos processadores de di- release moderados.
nâmica da mesma forma, ou seja, tentando entender um
pouco mais do seu histórico, suas características principais. CLA-2A - CONTROLES E
CARACTERÍSTICAS
CLA-2A
A parte mais divertida neste equipamento (seja o hardware
Este plug-in (figura 1) foi desenvolvido em torno do ou plug-in) são seus controles, ou melhor, a falta de controles.
clássico LA-2A (figura 2), lançado pela já extinta Te-
letronix. O LA-2A é um compressor valvulado com pou- O controle principal é o botão “peak reduction”, que faz
quíssimos controles e muita história. Além de comprimir, a função do threshold. Já os controles de ratio, attack e
ele altera de forma significativa a resposta de frequên- release encontrados em outros compressores não estão
cias do sinal e inclusive muitas vezes era usado mesmo presentes. Mais que isso, eles não são fixos.
sem o compressor “atuar”. É por conta deste proces-
so que vem muito daquele papo de “vou passar por tal Conforme o usuário aumenta o peak reduction, interna-
equipamento só para dar uma ‘esquentada’”. De fato, mente o ratio também é levemente alterado. Já o attack
isso era feito com o LA-2A. e release, por conta das características da foto-célula res-

Figura 1 – Waves CLA-2A Figura 2 – Teletronix LA-2A

22 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 23
Plug-ins

ponsável por detectar a flutuação do sinal, também sofrem


constante variação, que dependem, inclusive, do sinal que
está sendo processado.

Uma voz e instrumentos de sopro em geral, que não têm


ataque tão rápido, serão valores de attack e release mais
lentos do que elementos como bateria, percussão ou um
baixo tocando slap. E indo mais longe, esta variação acon-
tece, inclusive, de acordo com a execução. Portanto, uma
nota longa no baixo seguida de um slap gera uma compres-
são diferente de um baixo tocando slap seguidamente.

CLA-76

Este plug-in foi desenvolvido em torno no compressor UREI


1176 (figura 3), um clássico introduzido no final da década
de 1960 e mais conhecido como “Onze-sete-meia”. A pri- Figuras 4A e 4B – Várias outras empresas
meira coisa a se destacar é que a UREI foi a desenvolvedora também lançaram “versões” do 1176
original do 1176 e aconteceram várias chamadas “revisões”
e melhorias no seu circuito, e elas se refletem na sua so- revisão “C”, preta (figura 6B). Há quem perceba muita di-
noridade. Existe a revisão “A”, “B”, “C” e assim por diante. ferença entre os dois. Se você não perceber, não sofra, pois
há quem garante perceber diferença até em cor de cabo e
marca de bateria em pedais de guitarra.

CONTROLES E CARACTERÍSTICAS

Como já vimos, o 1176 trouxe novas possibilidades com


seu circuito. A válvula faz o compressor agir de forma
“gentil”, com tempos de attack e release lentos, e é mui-
to bem-vinda em muitos casos, e o 1176 é o oposto,
pois permite que a atuação do compressor seja bem
Figura 3 – UREI 1176 mais rápida e mais adequada para instrumentos percus-
sivos, como bateria ou qualquer outro que esteja atuan-
Mais que isso, mas outras diversas empresas de equipa- do “percussivamente” numa música. Por exemplo, uma
mentos também lançaram “versões” do clássico 1176 (fi- guitarra funk: apesar de ser um instrumento harmônico,
guras 4A e 4B), sendo a Universal Audio uma das princi- sua função no funk é percussiva.
pais (figura 5). Então, existem muitos “1176”, similares
na construção mas com alguma diferença sonora. Seu funcionamento é similare aos de outros compresso-
res, com botões pré-definidos de ratio (4:1, 8:1, 12:1 e
Na revisão “C”, seu nome foi substituído por 1176LN, foi 20:1), e o seu threshold é fixo, portanto utilizamos na
adicionado um circuito para redução de ruído e sua frente verdade o botão “input” para elevar o sinal até o ponto
foi alterada de cinza para preta. Esta revisão já foi emu- de compressão desejada. Por fim, o output serve apenas
lada por outras diversas empresas de plug-ins e também para ajustar a saída.
foi a que se perpetuou nos estúdios.

Outro fato a destacar é que, por ser “vintage”, muitos auto-


maticamente associam à válvula, como no caso do LA-2A,
quando, na realidade, o 1176 é um marco como um dos
primeiros compressores FET (ou o primeiro).

A Waves emulou a revisão “A”, cinza e azul (figura 6A), e a


Figura 5 – Universal Audio 1176

24 | áudio música e tecnologia


Figura 6A – CLA-76 Compressor Limiter Bluey

Figura 6B – CLA-76 Compressor Limiter Blacky

TODOS OS BOTÕES PRESSIONADOS

Brincando no estúdio e testando limites, muitos descobriram que, ao man-


ter todos os botões de ratio pressionados, o compressor se comportava de
uma maneira totalmente inusitada e interessante em muitos casos. No caso
da Waves, há um botão dedicado para isso (“All”).

Neste modo de operação (em inglês, chamado de “All-Button Mode”), a com-


pressão é severa (mais que 12:1) e com certo nível de distorção. Já o attack
e release muda dependendo do sinal de entrada. Ou seja, o ataque/release
do compressor era mais lento ou mais rápido de acordo com o nível do sinal.

MAIS SOBRE COMPRESSORES

Chris Lord-Alge é um grande produtor/engenheiro de som e junto com a Wa-


ves ajudou a emular o CLA Classic Compressors, que é o pacote que inclui o
CLA-2A e CLA-76. Mas existem outros compressores clássicos que merecem
o mesmo destaque, mas não foram incluídos no pacote. Para quem se inte-
ressar pelo assunto, recomendo conhecerem mais sobre o FairChild 660 e
670, Purple Audio MC77 e uma variante do LA-2A chamada LA-3A.

Abraços e até a próxima!

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente lecio-


na cursos oficiais em Pro Tools, Waves, Sibelius e os treinamentos em mixagem na
ProClass. Também é professor da UFRJ, onde ministra as disciplinas Edição de Trilha
Sonora, Gravação e Mixagem de Áudio e Elementos da Linguagem Musical. Email:
cmoura@proclass.com.br

áudio música e tecnologia | 25


NOTÍCIAS DO FRONT | Renato Muñoz

Compressão
ao Vivo

Divulgação
OLHANDO MAIS DE PERTO
Depois de um série de artigos falando sobre siste- gate, um reverb ou um equalizador paramétrico. O
mas de sonorização de uma maneira bem abrangen- grande problema é: será que todos sabem como uti-
te, pretendo agora pegar alguns pontos mais im- lizar estas ferramentas?
portantes e colocar sobre eles uma grande lente de
aumento, me aprofundando neles. Como já foi dito TRABALHANDO UM POUCO A
por mim, prefiro que técnicos mais capacitados se DINÂMICA DO SINAL DE ÁUDIO
aprofundem em cálculos e fórmulas que podem ser
aplicadas no dia a dia do nosso trabalho com áudio. A frase é bem bonita, e, para alguns, pode até ser
Eu, particularmente (sempre que posso), prefiro tra- difícil de entender. Mas se escrevermos de outro jei-
balhar os textos de forma mais específica e direta. to, pode ficar mais simples. Pense no entretítulo aci-
ma como “trabalhando com o volume do instrumen-
Sempre que posso, converso com os companheiros to”. Neste caso, que fique claro que atuaremos sem
de trabalho sobre dúvidas minhas em relação a no- utilizar o fader, e sim um compressor. O compressor
vas técnicas e aplicações de algumas ferramentas de é um processador dinâmico que age sobre o sinal de
áudio durante os shows ou em situações de estúdio. áudio do instrumento em questão ou sobre a sua di-
Como a nossa categoria ainda é bem desnivelada, nâmica. Dependendo dos ajustes, conseguimos “co-
posso notar ideias e pontos de vista bem interessan- locar” o sinal de áudio dentro de uma determinada
tes, e, por outro lado, dúvidas muito básicas. A minha dinâmica. Isto é fundamental se o instrumento em
maior preocupação quanto a isso é que, em muitos questão possui muita variação dinâmica.
casos, vejo dúvidas grosseiras ou erros básicos que
não deveriam existir, principalmente vindos de pesso- É correto, então, dizermos que normalmente utiliza-
as com muito tempo de serviço e posição de destaque mos um compressor quando trabalhamos com um
em empresas de sonorização ou em estúdios. sinal de áudio (um instrumento ou a saída de um
console) que apresenta uma variação dinâmica mui-
Um dos maiores problemas que vejo é a falta de to grande. Sempre teremos os nossos alvos básicos,
informação mais aprofundada sobre determinados como a voz, um baixo, um naipe de metais, uma via
assuntos. Todos sabem o que é um compressor, um de ear-phone etc. Nestes casos e em vários outros

26 | áudio música e tecnologia


rém em vários canais diferentes, ao mes-
mo tempo ou em tempos diferentes.

EXISTE ALGUMA REGRA


PARA A UTILIZAÇÃO DO
COMPRESSOR?

Como em muitas outras áreas do áudio,


não existem regras rígidas quando falamos
da utilização dos compressores. Eu, par-
ticularmente, costumo trabalhar de duas
formas diferentes: uma quando utilizo o
compressor como um grande modificador
do sinal de áudio e outra quando eu o uti-
Clássico compressor dbx 161 lizo apenas para me ajudar na mixagem.

o que procuramos com o compressor é fazer com O primeiro exemplo acontece quando quero propo-
que ele atue sobre aquele sinal de forma que ex- sitalmente mudar as características sonoras de um
cessos de volume ou de dinâmica sejam controlados instrumento. Ou seja, com a compressão eu consigo
automaticamente, sem que nós tenhamos que nos ter além de um grande controle dinâmico, mas um
preocupar com o nível de cada um destes faders. som mais “agressivo”, com mais “punch”, que pode
dar uma nova característica ao som original.
Podemos pensar no funcionamento de um compres-
sor da seguinte maneira: imagine o seu dedo colo- Também posso utilizar o compressor, de uma ma-
cado sobre o fader do canal da voz alguns milisse- neira mais suave, fazendo com que “tome conta”
gundos antes daquele sinal ficar muito alto e fora da de alguns canais para mim, não permitindo que eles
mixagem; a sua mão consegue baixar o seu volume excedam as suas posições dentro da mixagem. Nes-
e alguns milissegundos depois você coloca o fader te caso não estou modificando o som original, ape-
na posição de antes do pico. nas tendo um maior controle sobre ele.

O que você fez foi controlar a dinâmica do canal, bai- O grande problema para quem trabalha ao vivo e quer
xando o seu volume em um determinado momento utilizar um compressor, seja para a primeira ou para a
(que você sabia que o sinal iria ficar muito forte) e, segunda opções citadas, é a falta de padrão para acer-
em seguida, voltando à posição e ao nível original, tar os parâmetros do compressor. Como são várias mú-
é exatamente isso que os compressores fazem, po- sicas diferentes, normalmente com dinâmicas diferen-
tes, esta regulagem pode ficar prejudicada.

Quando estamos em um estúdio com a


situação muito mais controlada, podemos
pedir para que o músico repita várias ve-
zes a mesma música para podermos regu-
lar melhor a atuação tanto do compressor
quanto a de qualquer outro equipamento
que estivermos usando. Porém, isto é algo
que definitivamente não acontece ao vivo.
Dentro de um show com várias músicas di-
ferentes, nem sempre os instrumentos se
comportarão da mesma maneira em todas
as músicas. Desta forma, torna-se uma ta-
refa complicada preparar um compressor
para ser utilizado ao vivo.

Metais quase sempre precisam de um controle de dinâmica

áudio música e tecnologia | 27


NOTÍCIAS DO FRONT

pegar intimidade com qualquer tipo de equipamento.

Quando houver um pouco mais de controle sobre


o compressor, comece a trabalhar na modificação
do som em questão, tente maneiras mais radicais
de se comprimir algo, pense na possibilidade de
trabalhar o mesmo instrumento com dois sinais
diferentes – um sem nenhuma compressão e o
outro com muita compressão.

Você pode ter dois canais da mesma guitarra – um


para a base, sem compressão, e o outro para os so-
los, com muita compressão. Desta forma será possível
conseguir dois sons diferentes de um mesmo instru-
mento. Mais à frente veremos que isso também é pos-
sível com instrumentos maiores, como uma bateria.

JÁ QUE FALAMOS EM
REGULAGEM, VAMOS A ELA
Músicos também podem usar compressores
diretamente nos seu instrumentos O compressor, junto com os equalizadores, já exis-
tem nos estúdios há bastante tempo. Basicamente,
COMEÇANDO COM CALMA eram estes equipamentos e algumas câmeras de
eco tudo o que podia ser encontrado em um estúdio
Se você realmente pretende utilizar um compressor, na década de 1960 (além, é claro, de um pequeno
comece da maneira mais básica: primeiro escolha console e de um gravador de dois ou quatro canais).
onde você irá usá-lo, se será para trabalhar com um
instrumento ou com a saída do console e depois ten- De lá para cá, muita coisa aconteceu e os compres-
te os compressores mais simples, que não precisam sores se desenvolveram bastante. Porém, alguns con-
de muitas configurações. Pegue um microfone e faça ceitos básicos de aplicação e funcionalidade continuam
testes com a sua própria voz. Cuidado ao testar com- os mesmos. Alguns controles foram retirados e outros
pressores com música, pois normalmente esta música foram acrescentados, porém os mais importantes con-
já passou pelo processo de tinuam presentes. São eles:
mixagem e masterização,
sendo que este último tem - Threshold: Determina
como uma de suas funções a partir de quando o com-
trabalhar na dinâmica da pressor começará a atuar.
mixagem. Nem sempre o - Ratio: Determina quan-
L/R terá uma variação de ta compressão será aplica-
dinâmica tão grande. da depois da ativação do
compressor.
Faça variações dinâmicas - Attack: Determina a ve-
com a sua voz, fale mais su- locidade com que a com-
ave, depois um pouco mais pressão irá atuar.
intenso e, por fim, gritando. - Release: Determina
Veja como o compressor a velocidade com que a
atua nestas três “formas” compressão deixará de
de sinal, ajuste os contro- atuar.
les do equipamento e sinta - Gain: Traz o volume do
o compressor trabalhando. sinal para o mesmo lugar
Esta é a melhor forma de de antes da compressão.

Músicas já mixadas e masterizadas,


diferentemente do que acontece ao vivo,
já possuem um grande controle na sua
28 | áudio música e tecnologia dinâmica (principalmente nos dias de hoje)
áudio música e tecnologia | 29
NOTÍCIAS DO FRONT

necendo básicos, porém, com características


sonoras diferenciadas. Tudo isto sempre em
busca de novos sons.

Nos últimos anos, os compressores que vêm


sendo mais utilizados, e, portanto, têm cha-
mado mais atenção, são os em forma de plug-
-ins (simulações digitais de compressores reais
ou softwares desenhados exclusivamente para
este fim). Algumas pessoas veem os plug-ins
como uma grande solução. Outras, nem tanto.
Controles que podem ser encontrados em um compressor
Na minha opinião, sendo um plug-in ou não, tanto
Estes controles são o básico de todo compressor, e um compressor quanto qualquer outro equipamen-
como podemos ver, não são de difícil entendimento. A to de áudio pode ser bom ou ruim. O que não pode
grande dificuldade, não só na utilização de compres- acontecer é o profissional responsável por sua ope-
sores, como na de outros equipamentos de áudio, é ração não estar preparado para trabalhar com ele
sabermos ir além do básico e conseguir chegar a um da maneira correta, e é isso o que temos que tentar
som desejado da maneira mais simples possível. evitar a todo custo.

Não se assuste se você encontrar compressores Na próxima coluna falarei mais dos compressores
com menos ou mais controles do que estes: exis- originais e de como funcionavam. Depois, abordarei
te uma grande variedade de marcas e modelos os compressores analógicos que dominaram as dé-
com aplicações bem distintas, e o importante é cadas de 1980, 1990 e 2000, até chegarmos final-
dominar estas funções básicas para se começar mente aos compressores digitais e aos plug-ins, que
um trabalho da maneira correta e com grande provavelmente dominam 90% do mercado atual.
possibilidade de sucesso.

DE ONDE OS
COMPRESSORES VIERAM
E ONDE ELES FORAM
PARAR?

Como quase todos os equipamentos de so-


norização, o compressor também teve seu
DNA desenvolvido nas rádios e estúdios das
décadas de 1950 e 1960, é claro que com
um número bem reduzido de marcas e mo-
delos, assim como regulagens que pudessem
ser alteradas. Os últimos 60 anos marcaram
grandes mudanças: alguns ficaram mais mo-
dernos, com várias opções de ajustes; outros
se voltaram para os mais antigos, perma- Plug-in de um compressor

Renato Muñoz é formado em Comunicação Social e atua como instrutor do IATEC e técnico de gravação e PA.
Iniciou sua carreira em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank. E-mail: renatomunoz@musitec.com.br

30 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 31
QUEM É QUEM? | Rodrigo Sabatinelli
Divulgação

O diretor
de palco
Responsável por tudo e (quase) todos
Depois de mergulhar no universo dos operadores O MANDA-CHUVA
de PA e monitor, que foram personagens dessa
coluna nas duas mais recentes edições de nossa Seja nos shows de um artista com o qual viaja em
revista, agora é hora de falar um pouco sobre um turnê ou em megafestivais nos quais geralmente se
cara que vemos como “o grande general” do show apresentam diversos artistas, o diretor de palco tem
business: o diretor de palco. a missão de organizar a logística e coordenar sua
equipe. Dos carregadores aos técnicos de instru-
Profissional que, segundo o próprio nome em inglês mentos, passando por assistentes e produtores.
sugere (“stage manager”), “manda no stage”. Ele

Divulgação
é, dentre outras coisas, o responsável direto pela
coordenação de logística de montagem e desmon-
tagem de equipamentos de som, luz e backline em
turnês de artistas ou festivais de música. Em outras
palavras, tudo o que acontece em cima de um palco
passa, indispensavelmente, por seu crivo.

No exterior, a maior parte dos artistas em ativida-


de conta com um homem do gênero em sua equi-
pe. Mas, no Brasil, tal disciplina ainda é encarada
como “luxo”, e diante de orçamentos cada vez mais
enxutos, geralmente os chamados “tops de linha”
– aqueles que vendem muitos discos e têm uma
agenda de shows “gorda” – são os únicos capazes
de investir em contratações do tipo.

Cabe ao stage manager coordenar a ação


de todos os profissionais envolvidos com a
montagem e o trabalho em cima do palco

32 | áudio música e tecnologia


Em seu “roteiro” diário estão, basicamente, a
descarga de equipamentos de som, luz, ba-
ckline e, em alguns casos, elementos ceno-
gráficos; a montagem ordenada desses equi-
pamentos, a supervisão da operação técnica
durante a passagem de som e o show em si.
Por fim, depois de as estrelas brilharem diante
de suas plateias, ele cuida da desmontagem
de toda a estrutura para que a trupe possa
seguir viagem e aporte em outras cidades.

EXTRA: ADMINISTRAR O
EGO DO ARTISTA

Há, ainda, uma tarefa que vai além da mon-


tagem e desmontagem de um palco: fazer
com que sua equipe e, principalmente, o Festivais de grande porte, como o
artista cumpram o cronograma estipulado por sua Rock in Rio, são verdadeiras escolas
produção, o que, de fato, não é algo muito simples,
DE DEGRAU EM DEGRAU
visto que, no meio disso, há fatores como imprevis-
tos do dia a dia, e, talvez, o maior “problema” de
Quando perguntados sobre a melhor escola para
todos: o ego de terceiros.
suas carreiras, muitos diretores de palco disparam:
“a estrada”. O que é simples de se compreender,
afinal de contas, a bagagem do dia a dia tem, em
seu caso, valor ainda maior. Especialmente porque
a cada show, a cada espetáculo, novos feitos são
vivenciados e, no fundo, tudo vira “riqueza”.

Portanto, se você pretende, no futuro, ser um grande


profissional do gên ero, considere, a partir de agora,
a estrada como seu primeiro degrau. Circule, acom-
panhe artistas e bandas e trabalhe em grandes fes-
tivais, pois com isso irá acumular experiência para,
quem sabe, no futuro, comandar o palco de um ex-
pressivo nome ou de um importante evento musical.

Outra coisa muito importante: é desejável que o


“candidato” tenha noções de administração de fon-
Administrar o ego do artista: tarefa faz
tes elétricas (uso correto de energia), estruturas
parte do dia a dia do diretor de palco
(planejamento e supervisão das ações de mon-
Não é raro, por exemplo, em festivais de grande tagem) e equipamentos em geral (som, luz e ins-
porte, artistas desrespeitarem o tempo estipulado trumentos) e saiba usar sua inteligência emocio-
para suas apresentações sob “justificativas” como a nal para lidar com todos os percalços que possam,
empolgação por estar pela primeira vez em determi- de fato, cruzar seu caminho durante o trabalho.
nada cidade, diante de determinada plateia. Quando
isso acontece, o diretor de palco tem que se posicio- Então, é isso! Boa sorte!
nar e tomar à frente da situação, podendo, inclusive,
chegar ao extremo de desligar o som e acabar “for- Na próxima edição contaremos um pouco sobre o
çadamente” com o show. universo dos técnicos de instrumentos. Não perca! •

áudio música e tecnologia | 33


Evento | Fernando Moura

AES
2014
LOS ANGELES A viagem de um músico ao país das maravilhas
(ou “Por que não dá pra ver pelo YouTube?”)
se eu apresentasse tudo já pronto e corrigido, como
colosso tecnológico numa sessão de Pro Tools recheada de plug ins. Os
serviços de reserva de hotel oferecidos pela AES fun-
Saudades de você, leitor, e a necessidade de res-
cionaram perfeitamente e estou downloadeando o
ponder a essa pergunta tão sensível feita pela mi-
aplicativo do congresso no meu celular. Infelizmen-
nha querida esposa (a pergunta do subtítulo, ali em
cima), que ao saber dessa minha nova aventura não te, na velocidade fornecida pelo meu contrato com a

pôde conter sua curiosidade e uma certa insatisfação, operadora de Telular que atende a tantos brasileiros
já que uma viagem dessas exclui, de saída, qualquer incautos como eu. A coisa parece que vai longe.
possibilidade de ser um passatempo de casal.
Amanhã cedo, munido de um e-mail com um códi-
Da escrivaninha do hotel escrevo em tempo real o go de barras enviado pela AES, vou ao centro de
que vou vivendo, e acho que, assim, o leitor poderá convenções imprimir minha credencial e entrar na
dividir comigo algumas expectativas, opiniões e re- festa, para nossa alegria, leitor. Agora, um pouco
latos de maneira mais atraente do que aconteceria de trash TV e um soninho, que ninguém é de ferro

34 | áudio música e tecnologia


depois de uma longa viagem e uma comida entre mais, mas algumas escolhas terão que ser feitas”).
o intragável e o patético, como é tradicional em As referências musicais usadas pelos editores ou temp
terras norte americanas. tracks são a mordaça número um da criatividade tam-
bém por aqui, embora sempre citada por todos como
DiA 1: cHegAnDo lÁ eficaz forma de se comunicar nesse mundo de pode-
rosos e frágeis iletrados musicais.
O fuso horário é implacável, e antes das seis da
manhã já estou de pé, fuxicando no computador, Depois de um almocinho muquirana nível bande-
esperando a hora do café. Aproveito para lembrar jão universitário mexicano, finalmente adentrei o
que, diferentemente da NAMM, que é um encontro parque de diversões, ou seja, o salão dos exposi-
de fabricantes e vendedores de produtos, a AES tores, mas numa perspectiva de galope de apre-
privilegia o aspecto técnico do encontro entre pro- sentação, sem me aprofundar muito nesse ou na-
fissionais do áudio, sejam eles engenheiros, mú- quele exibidor, exceção feita, é claro, à réplica do
sicos ou comerciantes, e é exatamente isso o que Moog Modular de Keith Emerson construída para
me atrai: a possibilidade de ouvir e conversar com comemorar os 50 anos da primeira exibição de
caras que além de habitarem créditos de discos um produto Moog na AES.
e filmes históricos, me influenciam até hoje com
seus trabalhos. Bob Ludwig, Bob Katz, Al Schmidt, Durante todo esse primeiro dia rolou um lobby for-
Chris Lord Alge, Bruce Swedien e Eddie Kramer tíssimo de gravadoras majors lideradas pela Sony
entre tantos outros existem, dão expediente e de- em torno do formato High Resolution Audio, que
fendem seus cachês até hoje, agora como garotos vem a ser, na palavra de seus defensores, como
propaganda e consultores, não apenas se deitando Bob Ludwig, Bruce Botnick (o cara que gravou to-
nos louros da merecida fama. dos os discos do The Doors e vários dos Stones),
“uma necessidade de dar ao consumidor a mesma
Depois de um registro sem problemas, começo com qualidade que nós ouvimos há anos nos estúdios,
um painel sobre direitos autorais em que a questão que é o padrão 192 kHz 24 bit”. Lá na minha ter-
mais recente é o pleito de engenheiros de gravação ra, Botafogo, ainda não estamos nesses padrões,
pelo seu quinhão no direito autoral sob a alegação mas claro que a qualidade é melhor, as frequên-
de que o som da gravação e seus processamentos cias parecem mais definidas e sente-se um digital
levam a uma identidade sonora tão única que, sem que respira. Entretanto, achar que o consumidor
eles, a música não existiria ou seria totalmente dife- vai investir em players e aparatos específicos para
rente. Questão complexa... Afinal, será mesmo que tocar esse formato, quando o grande barato de
equalizações, edições e efeitos servem criativamen- tantos é enfiar o equivalente a 500 CDs num iTre-
te de tal forma à música quanto sua melodia ou sua co, mesmo com a qualidade de som precária dos
letra, por exemplo? Ou será que é por um certo es- MP3 e seus primos, é duvidoso.
vaziamento desses valores “tradicionais” da música
que o aspecto técnico reivindica sua parte? Arranjo No mínimo, sabemos muito bem com é feito o
não tem direito autoral, amigos, mesmo sendo do “pagamento” da maioria desses downloads, e,
George Martin ou do Quincy Jones. Muita coisa para além disso, vender a ideia de que o consumidor
pensar, não acha, Pai Fabio Henriques? precisa ter mais uma nova versão de seus dis-
cos preferidos depois do vinil, CD e download
Em seguida, um painel inesquecível sobre a música pode ser muito atraente para as gravadoras, mas
para cinema e TV protagonizado por três compositores é algo a ser visto com cuidado. Absolutamente
muito interessantes e experientes que eu não conhe- nada contra uma qualidade sonora melhor, tenta-
cia: Chris Boardman (“...tente estudar um pouco da tivas recentes como Super Audio CD, o DVD áudio
linguagem cinematográfica para entender melhor os e até mesmo o 5.1, que se estabeleceu no cinema
pedidos do diretor”), Laura Karpman (“...dê ao dire- mas deu uma sumida no áudio, exceto talvez na
tor o que ele quer, mas sem ficar infeliz com isso”) e música erudita, me trazem muitas dúvidas e um
Simon Franglen (“...não acho que menos seja sempre sono de fuso horário.

áudio música e tecnologia | 35


EVENTO

de maneira bem eficaz. Po-


diam ser conferidos também
os interessantes Iris, Alloy,
Trash 2, Break Tweaker e o
Insight, essencial para al-
guém que, como eu, tem
Bruce Swedien ao alcance: evento
que se adaptar aos padrões
permitiu contato com nomes históricos
de broadcasting e cinema,
agora em versão digital. Em
seguida, visitei o criador de
um plug-in distribuído pela
Brainworx chamado bx_re-
finement. Na AES descobri
ter sido criado por um jovem
chamado Gebre Waddell,
masterizador na sua compa-
nhia Stonebridge Mastering,
que oferece masterizações
Players e headphones
on-line a preços atraentes e
Sony Hi Def Audio
Moog Modular: a lenda livros sobre técnica de mas-
terização. O plug-in se apli-
DiA 2: AUtoMAÇÃo, eXcURsÃo e ca a reduzir a aspereza causada eventualmente por
UM PAinel BeM inteRessAnte sucessivos processamentos na busca digital pelo som
perfeito e que podem massacrar os médios em vez de
Difícil imaginar um lugar que eu tenha mais an- esquentá-los. Sutil, mas funciona bem.
tipatia em freqüentar do que o Starbucks Café...
Além de uma seleção horrível de cafés, sanduí- Uma passadinha rápida na Slate Digital, que ofere-
ches artificiais e doces de petróleo trabalhado, o ce o seu Virtual Mix Rack, composto por dois equa-
atendimento é inacreditável e só mesmo a expe- lizadores e dois compressores de inspiração inglesa
riência do café do dia anterior composto de ovo (o leitor já sabe quais são!), além do Raven, um
mexido, pão de forma frio e a água de calcinha interessante sistema de automação que oferece a
americana poderia me induzir a mais uma tenta- possibilidade de você tocar nos parâmetros de seus
tiva nessa franquia dos infernos! plug-ins. Vale dar uma conferida nesse na internet.
Para os que preferem o Mac, o stand da SoundToys
Baseado em minhas observações do dia anterior, mostrava produtos com a criatividade característica
já fui direto aos stands
que mais me interessa-
vam, começando com os
plug-ins da Ozone que
já anunciam a chegada
da versão 6, grátis para
quem tem a versão 5, e do
RX 4, o “melhorizer” mais
reverenciado das últimas
semanas e que de fato
pode reparar problemas
de distorção, ruído e ou-
ATR Eletronics e fitas magnéticas Gibson Les Paul Monitors
tros acidentes frequentes

36 | áudio música e tecnologia


da marca e com demo valen- estão colocadas, espalhan-
do por 30 dias. No estande do graves indesejavelmente
da Eiosis, o Air EQ, equali- (confira no YouTube, leitor,
zador com presets com no- vale a pena!), saio em dire-
mes como “Água”, “Fogo” e ção ao ônibus de excursão
“Neutro” (vai aí, leitor?). No que vai levar um grupo de
estande da UVI, fornecedor quatro mulheres e trinta e
de quem uso o IRCAM Prepa- poucos senhores grisalhos,
red Piano, que é tão bom de a maioria com barriga e em
som quanto complicado de diversos estágios de calví-
instalar, muitas emulações cie, para uma visita ao len-
de sintetizadores clássicos, dário Village Studios, um
Slate: empresa mostrou seu Virtual
todas soando muito bem, e enorme complexo de gra-
Mix Rack e o Raven, sistema de
o pacote “Vintage Vault” se vação que começou como
automação que permite o toque nos
destacando para quem acre- templo maçônico em 1926 e
parâmetros de seus plug-ins
dita em amores virtuais. tem sido usado por artistas
tão importantes e diversos
Depois de aprovar o teste drive e anotar o modelo quanto Rolling Stones, Bob Dylan e Carole King,
certo do suporte fabricado pela IsoAcoustics para cujo disco Tapestry vendeu mais de 10 milhões
as caixas de som do meu estúdio não ficarem vi- de cópias segundo informações em um dos mui-
brando diretamente em cima da estante em que tos discos de ouro pendurados pelo estúdio, como

áudio música e tecnologia | 37


EVENTO

do a paixão daquele homem


falando de seu trabalho ao
redor do mundo, inclusive
no Brasil, onde fez um estú-
dio com as caixas dentro da
parede de vidro. Não disse
onde era, só que era de al-
Air EQ, que tem presets com Estantes para caixas Iso Stands,
guma entidade religiosa. Se
nomes quase esotéricos da IsoAcoustics
é meu leitor, se habilite!

do Steely Dan, Nine Inch Nails e até Lady Gaga. De tarde, uma palestra maravilhosa com produtores
como Don Was (agora presidente da Capitol Recor-
Melhor ainda é que no final dos anos 1960, início dos ds!) e Michael Brauer comandada por Ed Cherney so-
anos 1970, o guru Maharishi (aquele que os Bea- bre canções que fizeram “a agulha saltar para a fren-
tles inventaram e depois não conseguiram se livrar) te”, e foi impressionante constatar a genuína emoção
comprou uma parte, onde realizava semanalmente desses caras ao falar de seus trabalhos. Para eles, o
“sessões de meditação”. Considerando a época e o que conta é uma boa canção, um intérprete de voz
local, o meu leitor já entendeu do que se tratava e única e uma gravação onde se use toda a técnica
algumas marcas desse psicodelismo ficaram, como possível para eternizar o sentimento que sai da cabe-
a cabine de vocal e uma sala enorme com um piano ça do compositor para chegar até o ouvinte. Ninguém
onde, segundo o gerente, gravam-se cordas com um discutiu equipamento aqui, e não é porque não se
“som maravilhoso”. Não senti o cheiro de incenso, lembrem do que usaram... Foi muito revelador.
mas acredito que com o monte de equipamentos
analógicos de alto nível e uma acústica bem traba- Ao final, voltei para o salão de exposições, mas
lhada, o som deve rolar bonito mesmo. achei que seria melhor refletir sobre tudo que ti-
nha vivido hoje pela larga avenida até o hotel e me
Já ia me esquecendo de dizer que antes de partir para preparar para o último dia dessa AES 2014. Afinal,
essa excursão tive o prazer de assistir a um pedaço de quando estarei novamente frente a frente com nin-
palestra do lendário projetista de estúdios John Storyk guém mais, ninguém menos que o pioneiro Wendy
com o sugestivo nome “Os erros mais comuns na Carlos e Geoff Emerick, o engenheiro que gravou
montagem de home studios”. Na terceira vez que lem- quase todos os discos dos Beatles?
brei de meu estúdio a partir de alguma característica
destacada por ele como “algo a ser evitado”, fiquei so- DiA 3: Moogs, Mics, MesAs,
nhando com a possibilidade de algum dia poder fazer PRÉ-AMPs e MAis
as coisas de maneira certa em meu estúdio. Torcendo
para que ainda seja nessa encarnação, fiquei admiran- Ao acordar para fazer meu roteiro diário, vejo com

Producers Panel: palestra sobre Moog Sub 37: evolução do Little Phatty,
Discos de Ouro no Village Recording: canções que fizeram “a agulha mas com muitas ideias interessantes,
excursão ao complexo de gravação saltar para a frente” inclusive com arpegiador gateado

38 | áudio música e tecnologia


Em destaque, os prés Avalon V5 e Modelo SSL XL Desk me deixou de
AD2022 e o equalizador AD2025 olho comprido e cabeça virada

tristeza no site da AES rida de sempre, a SSL, cujo modelo XL Desk me deixou
que a palestra de Wen- de olho comprido e cabeça virada, afinal, sonhar é de
dy Carlos foi cancelada. graça e Botafogo seria um lugar ótimo para essa ingle-
Para quem não sabe, ela sinha conhecer e fazer a vida (no bom sentido, claro!).
Mesa Neve Custom Made
começou a vida como Microfones e headphones também espalhados por toda
Walter Carlos gravando parte em vários preços, formatos e gostos. Veja nas
"Switched On Bach" a fotos as muitas opções e tecnologias que não pude ten-
bordo de um Moog Modular, que foi o disco mais bem tar, mas que sempre poderão ser conferidas na internet
sucedido de música eletrônica de que se tem notícia com os tradicionais Shure, Audio-Technica, Neumann
até hoje, se operou, mudou de sexo e compôs várias e Sennheiser (cujo headphone HD 800 é sonho para
trilhas sonoras, entre as quais a da Laranja Mecânica uma próxima vida pelo som e pelo preço) brigando por
de Stanley Kubrick. Como alternativa, assisti a uma espaço e preferência do comprador com marcas mais
palestra sobre a obra de Oskar Sala, pioneiro da músi- novas como MXL, DPA, Lucas Engineering, Ronin e Ca-
ca eletrônica com seu Trautonium, que foi usado tanto thedral Guitars – sem dúvida um estranho nome para
por Hitchcock em seu filme “Os pássaros” quanto em fabricante de microfones, mas que estava com o estan-
diversos comerciais do broadcasting europeu dos anos de bastante concorrido.
1950 e 60. Os sons são únicos!
Saio desse mundo de tentações insanas triste por-
Nova incursão ao salão de exposições e o Moog Sub que perdi a maior parte da palestra de Geoff Eme-
37 sorri para mim, que não consigo largá-lo, apesar rick, de quem recomendo fortemente o livro “Here,
do frisson em volta do modular, com hordas de bocós There and Everywhere” para quem quer saber da
posando para selfies pretendendo ser Keith Emerson... realidade das gravações dos Beatles pela mão de
O Sub 37 é evoluçãodo Little Phatty, mas com muitas quem apertava o rec e muito mais. Sobra um tem-
ideias interessantes, inclusive com arpegiador gateado pinho e confiro a palestra de Andrew Schepps, en-
e um teclado que, como todos da nova geração do genheiro que dentro da série proposta nessa AES
Moog, são muito diferentes do meu Mini Moog, que fi- chamada “Raw Tracks”, abriu sessões de PT do Red
cou fazendo tratamento dentário (limpeza e ajuste dos Hot Chili Peppers e concluiu com um comentário re-
contatos do teclado) em New York, com Sam Masuko, velador: “os arranjos, apesar de soarem muito sim-
da Three Wave Music. Ausências sentidas de teclados ples, são detalhadíssimos, e talvez por isso o público
Korg, Roland e Yamaha, mas em compensação, nun- queira sempre ouvi-los mais e mais vezes”.
ca vi tantos tipos de microfones, pré-amps, compres-
sores, limiters e processadores externos juntos num E quase que profeticamente respondendo à inda-
mesmo salão. Vale uma surfada na internet. Não há gação de minha digníssima esposa que motivou
como cobrir tanta fartura nesse artigo! todo esse artigo, passo pela palestra de Jim Tan-
nenbaum e Peter Kurland, dois septuagenários
O mesmo aconteceu com mesas: gravação, shows ao ainda em franca atividade na gravação de som
vivo, broadcasting e home studios. Todos os suspeitos direto para filmes em Hollywood e na TV america-
habituais para vários gostos e bolsos: Rupert Neve, Tri-
na que sacramentavam: “não há nada que esteja
dent, API, Tascam, ProSonus, Yamaha e a minha prefe-
nos livros que substitua a experiência pessoal na

áudio música e tecnologia | 39


EVENTO

Microfones Blue, Shure, Telefunken e AKG


marcaram presença no evento

busca do seu caminho profissional e vice-versa: é


preciso combinar as duas formas de conhecimen-
to para se preparar cada vez melhor para o que
há de vir”.

Depois de três dias de muita fantasia na AES


2014, finalizo esse artigo no aeroporto de Los
Angeles, que por sinal não deve em nada à ro-
doviária de Jequié em termos de atendimento e
instalações, exceto talvez pela conexão wireless
que deve ser mais rápida (será mesmo?).

E para quem quiser ir mais fundo, não deixe de visi-


tar: www.aes.org. •

Fernando Moura é flamenguista, músico, compositor, arranjador e produtor musical, além de ex-fumante.
Visite www.myspace.com/fernandomoura.

40 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 41
CAPA | Rodrigo Sabatinelli

Renovação
José Caetano

A
gravadora Codimuc está de “casa nova”, ou me- metros de pé direito, é usada para a captação de
lhor, de estúdio novo. Construído em um comple- vozes e instrumentos como pianos e baterias, den-
xo residencial na cidade de Taubaté, na região do tre outros, e o iso, de 5,9 m2, e o lock, de 7,2 m2,
Vale do Paraíba, São Paulo, o espaço conta com nada são destinados às gravações de instrumentos me-
menos que cinco salas: duas técnicas, uma sala de gra- nores, como violões e percussões, além de vocais.
vação, um iso booth e um sound lock, além de uma
sala de máquinas que abriga a caixa elétrica central do Projetadas pelo engenheiro Renato Cipriano, repre-
estúdio e as fontes mais ruidosas de equipamentos. sentante nacional da Walters-Storyk Design Group
(WSDG), empresa norte-americana especializada
A técnica principal, que tem 30,6 m2 e, por isso, em desenvolvimento de projetos acústicos, elas vêm
atende às recomendações da Dolby, é destinada a recebendo, desde o início do ano, quando o estúdio
gravações, mixagens e masterizações, enquanto foi inaugurado, nomes como os de Padre Fabio de
que a outra, de nove m2, reserva-se a gravações Melo, Marcelo Duarte, Maikon Máximo, Iahweh, Eloy
e edições. A sala de gravação, de 37 m2 e seis Casagrande e Canal da Graça, entre muitos outros.

42 | áudio música e tecnologia


no ar
Codimuc apresenta
seu novo estúdio,
projetado por Renato
Cipriano, da WSDG

A convite de Tiago Mattos, diretor, engenheiro de área estritamente silenciosa, foram utilizados
áudio, mestrando em Acústica e responsável pela blocos de concreto de 15 e 20 centímetros – pre-
coordenação de toda a obra do Codimuc, a AM&T enchidos com concreto usinado –, além de gesso
adentrou este espaço, desenvolvido com sucesso acartonado, várias camadas de dry wall e lãs de
para gravações de grande porte, e em um bate- absorção, como lã de rocha e lã de vidro de 75
-papo com nossa equipe, ele e Renato Cipriano mm de espessura e densidade de 20 kg/m3.
contaram detalhes sobre a construção e finaliza-
ção das obras do estúdio. Para o acabamento, foram usadas madeiras com
diversas espessuras, montadas de formas dife-
ACÚSTICA E ACABAMENTO renciadas, funcionando como difusores, ressona-
COM MATERIAIS APURADOS dores ou, simplesmente, refletores, além de piso
laminado e tecidos que, na verdade, atuam ape-
Para o isolamento máximo dos ambientes, ain- nas como revestimento de tratamentos acústicos
da que o Codimuc tenha sido construído em uma de absorção de frequências médias e altas.

áudio música e tecnologia | 43


CAPA

José Caetano

José Caetano
De grandes proporções, as salas do Codimuc As paredes do estúdio foram feitas com
foram projetadas por Renato Cipriano, da WSDG blocos de concreto preenchidos com concreto
usinado, dentre outros materiais

As portas do estúdio, que pesam cerca de 250 kg, INSTALAÇÕES TAMBÉM SE DESTACAM
foram feitas em madeira, areia e vidros laminados
de 12 e 17 mm, que favorecem a comunicação visu- As instalações elétrica e de condicionamento de ar
al entre os ambientes, enquanto que nas estruturas do Codimuc ficaram a cargo, respectivamente, do
dos bass traps e painéis acústicos foram utilizadas engenheiro Franklim Garrido e da equipe da En-
chapas de compensado, e madeira maciça para difu- conar, que realizou o trabalho em parceria com a
sores, aquários, batentes das portas e janelas. própria WSDG. Segundo Tiago, a pedido do próprio
Franklim, todo o cabeamento destinado ao aterra-
Esses difusores, chamados de coaxiais 3D, foram mento das salas foi feito com cabos de 4 mm e as
projetados pelo próprio Tiago e proporcionam um conexões feitas com conectores Seal Tube.
espalhamento na horizontal, na vertical e em fun-
ção do tempo, devido à profundidade do material. Ainda de acordo com o gerente, o sistema de ar
Sintonizados entre as frequências de 150 Hz e do estúdio, feito por tubos construídos com lã de
9000 Hz, eles dividem a atenção com outros pai- vidro relativamente compactada e fita de alumínio,
néis, como, por exemplo, os QRD, além, claro, foi tão bem feito que, dentro de suas salas, é prati-
dos absorvedores e dos próprios bass traps. camente impossível dizer se o ar condicionado está
José Caetano

José Caetano

Na sequência, painéis construídos especialmente para o estúdio

44 | áudio música e tecnologia


Realização em diversos níveis
Construção de novo espaço é concretização de sonho de diretor técnico
AM&T: Tiago, por que a Codimuc decidiu cons- AM&T: Mesmo com tão pouco tempo de inau-
truir um novo estúdio? gurado, o estúdio já sediou gravações de Padre
Fabio de Melo, Marcelo Duarte e Maikon Máxi-
Tiago Mattos: Nós ficávamos em Cachoeira Paulis- mo, dentre outros. Neste momento, que proje-
ta, interior de São Paulo, num complexo que conti- tos estão sendo realizados na casa?
nha, além do antigo estúdio, a gravadora e algumas
casas de familiares. O espaço era grande, parecia Tiago: Nossos últimos trabalhos foram a produ-
uma chácara, mas foi vendido para a Canção Nova, ção completa do CD novo da banda Iahweh [grupo
que utiliza o estúdio até hoje para alguns serviços de rock católico que lançou seu primeiro disco em
específicos. Com isso, fui procurar um local para 1996], uma sessão ao vivo de Eloy Casagrande to-
construir outra sala. cando músicas do Sepultura e do Iahweh e, atual-
mente, a produção do novo CD do Canal da Graça.
AM&T: E sair de Cachoeira Paulista não foi um Entre esses, o primeiro trabalho e o mais longo foi
problema? do Iahweh, o qual tive o prazer de fazer toda a pro-
dução musical e ainda tocar guitarra. Nesse CD, ex-
Tiago: A escolha por Taubaté se deu em função de ploramos ao máximo o novo estúdio. Fizemos muitos
algumas questões, como, por exemplo, a proximi- testes de posicionamento na sala de gravação para
dade com familiares e o fato de a região não ter checar a acústica variável e o resultado de todo o
estúdios de grande porte. Construir esse estúdio foi trabalho me alegrou muito.
a realização de um sonho. Foram três anos de
trabalho árduo, paciência e dedicação na criação

José Caetano
de um espaço no qual engenheiros de áudio, pro-
dutores e artistas pudessem expressar da melhor
forma sua arte.

AM&T: Qual foi a sua participação na cons-


trução do estúdio?

Tiago: O fato de ser graduado em Engenharia


Elétrica e Eletrônica, estar cursando mestrado
em Acústica e já ter acompanhado obras em
outros estúdios de gravação foi fundamental
para assumir toda a responsabilidade deste
projeto. Quando aparecia alguma dúvida, eu
falava com Renato [Cipriano], que prontamen-
te a esclarecia.

Acompanhei de muito perto toda a parte rela-


cionada ao isolamento acústico dos ambientes,
pois, para mim, não se pode simplesmente pas-
sar para o mestre de obras como o serviço será
feito e acreditar que isso será cumprido corre-
tamente. As obras de estúdios são complexas
e muito específicas, e os pedreiros, na maioria Dada a complexidade das obras, estas foram
das vezes, não estão acostumados com esse acompanhadas de perto por Tiago. “Em
tipo de serviço. Em muitos casos, por exemplo, muitos casos, por exemplo, os pedreiros não
eles não acreditam que não podem deixar bu- acreditam que não podem deixar buracos
racos entre os blocos de concreto. entre os blocos de concreto”, explica.

áudio música e tecnologia | 45


CAPA

Bate - bola com Renato Cipriano


Engenheiro aborda, entre outros temas, vantagens
e dificuldades enfrentadas na execução do projeto
AM&T: Renato, quais são as vantagens de se não somente a qualidade acústica, mas também a
construir um estúdio “do zero”, como foi feito estética e a ergonomia dos ambientes.
com o Codimuc?
AM&T: Que materiais foram utilizados na cons-
Renato Cipriano: Trabalhando dessa forma, é pos- trução do estúdio?
sível criar ambientes com proporções acústicas oti-
mizadas, visando o maior equilíbrio de distribuição Renato: Bem, para o Codimuc, nós definimos um
de pressão em baixas frequências, que representa sistema construtivo misto, feito em bloco de concreto
a maior dificuldade de qualquer tipo de projeto de preenchido com concreto magro, com paredes internas
ambientes acústicos de pequeno e médio portes. em dry wall e pisos (lajes) desconectados para evitar
a transmissão de vibrações de baixas frequências en-
AM&T: E, no caso do Codimuc, quais foram as tre as salas. A fundação também fez parte do conceito
dificuldades enfrentadas antes e durante a de isolamento no qual as sapatas foram concretadas
execução da obra? sobre colchões de areia e locadas de forma indepen-
dente para cada ambiente acústico. Por ser localizado
Renato: Poucas, relacionadas apenas à distribuição em uma área residencial, o cuidado com o isolamento
dos ambientes acústicos. Em nosso caso, criamos acústico foi muito mais focado na interferência entre as
um layout no qual todas as salas se comunicam vi- salas do que em relação às áreas externas. Esse tipo
sualmente, com acessos bem definidos e com a ga- de solução promove um pouco mais de economia, o
rantia de proporções ideais. Tudo isso priorizando que, aliás, foi uma das premissas do projeto.

AM&T: Nos últimos anos, na maioria dos es-


José Caetano

túdios projetados pela WSDG, as salas costu-


mam ser mais “vivas” se comparadas às dos
padrões mais antigos. Essa filosofia foi apli-
cada no Codimuc Estúdio?

Renato: Certamente. Estamos falando de salas de


mixagem com tempo de reverberação acima de 0,25
segundos, algo que, em outros tempos, era consi-
derado quase que um problema. Hoje em dia temos
ferramentas de simulações que nos permitem ousar
um pouco mais e garantir um resultado melhor.

Esse conceito de criar salas técnicas mais vivas


é baseado no fato de que ambientes convencio-
nais de nossas residências e/ou locais de traba-
lho, nos quais escutamos música com frequência,
raramente possuem tratamentos acústicos, e, por
isso, são também mais vivos. Essa “equivalência”
acústica é importante não só por isso, mas por
termos um ambiente técnico de estúdio no qual
exista uma maior naturalidade acústica e que se
No projeto de Cipriano, todas as salas torne menos cansativo por não ser muito “dife-
se comunicam por meio de aquários rente” daquilo que vivemos no dia a dia.

46 | áudio música e tecnologia


ou não ligado. “Perceptível mesmo, somente a temperatura
baixa, mas, em se tratando de ruído, não há qualquer sinal. É
um silêncio total”, afirmou.

MUSEU DE GRANDES NOVIDADES

Os altos investimentos destinados à construção e ao desen-


volvimento de um apurado projeto de acústica se estenderam
à aquisição de novos equipamentos, que juntamente àqueles
herdados do antigo estúdio, fundado em 1990 pelo músico e
compositor Eraldo Mattos, compõem um verdadeiro arsenal de
itens clássicos e raros.

Para a captação de instrumentos e vozes, por exemplo, estão


disponíveis microfones de diversas marcas e modelos, tais como
os Neumann M149 Tube e KM 184, os Sennheiser MD421, os
Shure Beta 57, SM91, SM 94 e SM 58, os AKG D112 e C5218,
os Crown CM 700 e os MXL V77.

Para o processamento destes microfones, as opções são os pré-


-amplificadores Vox Box, da Manley; 9098, da Amek, e 16 canais
do summig mixer Manley, além do Liquid Safire 56, da Focusrite,
e de outros 16 canais, sendo estes do Octamic II, da RME.

Para as masterizações, estão disponíveis o compressor GML


2030, da George Massemburg – equipamento considerado
raro em estúdios por seu alto custo – e um equalizador Mas-
sive Passive, da Manley. Como o estúdio não possui um con-
sole, todas as gravações são feitas diretamente na própria
plataforma de gravação, o Pro Tools HD II 96. •
José Caetano

Ao alcance do técnico, alguns dos periféricos do estúdio

áudio música e tecnologia | 47


EVENTO | Rodrigo Sabatinelli

Louise Palma
Prêmio
2014
Multishow
Tudo sobre a engenharia da maior premiação musical da TV brasileira
No dia 28 de outubro, o HSBC Arena, no Rio de Ja-
DOBRADINHA NO FRONT:
neiro, foi palco da 21ª edição do Prêmio Multishow
de Música Brasileira, que neste ano contou com
LINE D.A.S. E CONSOLES DIGICO
participações de nomes como Daniela Mercury, É o
O sistema de sonorização utilizado no evento foi
Tchan, Pitty, Luan Santana, Buchecha, Ivete Sanga-
um Aero 50, da D.A.S., composto por três colunas
lo, Anitta, Bruno & Marrone e Zezé Di Camargo &
de sete elementos cada – sendo o tradicional L/R e
Luciano, entre muitos outros nomes.
um cluster central –, e complementado por quatro
elementos Aero 28, também da D.A.S., no front, e
Responsável pela locação de equipamentos, sono-
quatro caixas J-Sub, da d&b audiotechnik, nos subs.
rização e mixagem do áudio para a TV, a equipe
do Epah! Estúdios – empresa paulistana presente
Louise Palma

em grandes festivais de música realizados no país,


tais como Rock in Rio, Festival de Verão de Sal-
vador e Lollapalooza Brasil – disponibilizou para o
evento um line array, diversos sistemas de micro-
fone e in-ears e consoles digitais.

Operadores de PA e monitor e engenheiro de grava-


ção e mixagem do som exibido pela TV, Marcio Sch-
naidman, Renato Carneiro e Marcelo Freitas, conver-
saram com nossa equipe e contaram detalhes sobre
o projeto técnico da premiação, pensado e executa-
do em conjunto com os profissionais da Globosat.

Bem no alto, o line D.A.S., usado para sonorizar o evento


48 | áudio música e tecnologia
Louise Palma

Louise Palma
Na sequência, o engenheiro de PA do prêmio, Marcio Schnaidman, e a SD9, mesa usada por Carlos “Babaloo”

A instalação do terceiro grupo de elementos no line, da Sennheiser, enquanto que as percussões foram
algo bastante comum em mega-espetáculos ao ar captadas pelos MD421, da Sennheiser, e pelos
livre, se deu em função da grande extensão da boca SM57, da Shure, e instrumentos como baixo e te-
de cena do palco, montado especialmente para a clados seguiram plugados em direct boxes Radial
festa. De acordo com Marcio Schnaidman, opera- Engineering.
dor de PA e proprietário do Epah!, “se [o sistema]
contasse somente com o L/R, ‘aberto’ do jeito que Já a plateia, que lotou o HSBC Arena, recebeu
estava, praticamente não haveria som no centro os Sennheiser ME66, que foram, de acordo com
da plateia”. Por isso a necessidade de se fazer tal Marcelo Freitas, distribuídos em 16 pontos no in-
‘acréscimo’”, disse ele, que utilizou uma SD10, da
terior da casa, “sendo três em cada lado do front
DiGiCo, para fazer as mixagens.
e três em cada lateral das arquibancadas, sempre
direcionados para a house, instalada a cerca de
Mas o engenheiro não esteve sozinho na house mix. A
30 metros do palco”, explicou.
seu lado, operando uma SD9, também da DiGiCo, que
serviu como mesa master, Carlos “Babaloo” Calvão ali-
mentou o PA e o front e recebeu a mix de banda feita
NO MONITOR,
por Marcio, além dos microfones dos apresentadores MIX PARA TODOS
e os sinais de áudio de vídeo e áudio do Super Júri.
Diante de sua DiGiCo SD7, Renato Carneiro, en-
SENNHEISER, SHURE E genheiro de mixagem de monitor de todas as
DPA NA CAPTAÇÃO atrações do evento, disse que o trabalho foi fei-
to de maneira simples e objetiva, semelhante ao
Se na house houve hegemonia das DiGiCo, que ele e a equipe do Epah! vêm fazendo no pro-
no palco a captação foi feita por um verda-
deiro mix de marcas como Sennheiser, Shure
Tais Malheiros

e DPA. Para captar as vozes dos artistas, por


exemplo, foram usados os Ew500-945, da
Sennheiser, enquanto que as dos apresenta-
dores do prêmio receberam os UR, da Shure,
com cápsulas Beta 58A e 87A.

Na bateria, o bumbo ficou com um Beta 91;


a caixa com um par de Beta 57 e o contra-
tempo e os overs com os SM81, todos da
Shure, enquanto que os tambores levaram
os E604, da Sennheiser, e pandeiros e tan-
tans os DPA 4099.
No detalhe, microfones usados pelos apresentadores Ivete
As guitarras foram amplificadas pelos E609, Sangalo, Tatá Werneck, Paulo Gustavo e Didi Wagner
EVENTO

Louise Palma

Louise Palma
Ao chão, monitores Norton usados no palco da premiação

Mas, tecnicamente falando, como é essa mix (já


que, como bem sabemos, mixar um show ao vivo
é algo, de fato, bastante complexo)? Segundo o
próprio Renato, “a receita é fazer algo confortável,
com ‘cara de disco’, tendo, para os cantores, vo-
zes em primeiro plano e banda ao fundo, e, para
Sennheiser ME66: microfones
foram usados para captar plateia os músicos, instrumentos próprios à frente de vo-
zes e banda” .
grama Música Boa Ao Vivo, de Thiaguinho, tam-
bém exibido pelo canal Multishow. Ainda de acordo com o engenheiro, todos os músi-
cos e artistas que participaram do evento utilizaram in
“Ali [no Música ao Vivo] eu basicamente ‘amarro’ sistemas in-ear EW 300 IEM, da Sennheiser. A única
exceção ficou a cargo do DJ Marlboro, que pediu à pro-
todas as mixes – dos músicos que compõem uma
dução do prêmio um par de monitores de chão M2CX,
banda base aos artistas convidados – em uma
da Norton, também disponíveis nos três palcos, para
mix ‘cheia’ do L/R do console que monitoro cons-
referência dos premiados e ballet, e no backstage da
tantemente”, contou.
festa ears e monitores para o pessoal de cenário.

TRÁFEGO DO PALCO
Louise Palma

À UNIDADE MÓVEL
Na superequipada unidade móvel U.M.A 3, do
Epah!, o gerente técnico da empresa, Marcelo
Freitas, pilotou uma SD7B, da DiGiCo, e assegu-
rou um som limpo para o espectador que acom-
panhava de casa a transmissão do prêmio.

De acordo com ele, em projetos do gênero, é


importante que o engenheiro de áudio entregue
ao canal o som mais claro possível. Para isso, em
seu caso, “foi preciso recorrer ao uso de perifé-
ricos como os gates, capazes de limpar pistas
de tons de bateria e percussões, como congas e
Fazendo os últimos ajustes antes do evento, Renato
Carneiro foi responsável pela mix dos monitores surdos, dentre outros”, disse.

50 | áudio música e tecnologia


Marcelo também ressaltou que todo o gerenciamen- casos emergenciais, um console de standby.
to de áudio circulou entre os consoles via Optocore,
e que, por meio do loop óptico, trafegaram pelo “Esse sistema ainda permitiu que trafegássemos o
sistema 496 canais – entre inputs, outputs e canais áudio dos apresentadores diretamente para a UMV
de comunicação –, que foram endereçados para di- Globosat executar a mixagem final que continham a
versos postos do evento, como, por exemplo, uma mix L/R e 5.1, da U.M.A. 3, o P.A., a sala máster e a
sala master montada para a Globosat operar, em sala Super Júri”, completou ele. •

OS BASTIDORES DOS BASTIDORES


Engenheiros comentam “administração” de operação
AM&T: Marcelo e Renato, falem um pouco so- Renato: Em um evento como esse, mixar é apenas
bre a engenharia montada para que o som sa- uma parte – talvez até pequena – de todo o opera-
ísse do palco e chegasse com o máximo de qua- cional. Toda a comunicação interna entre diretores e
lidade à TV. apresentadores, artistas e banda, além do pessoal
de palco, também foi integrada ao nosso sistema, e
Marcelo Freitas: A experiência adquirida no Música a mecânica do evento foi bastante complexa. Tive-
Boa Ao Vivo nos permitiu desenvolver uma forma se- mos mais de 50 artistas participando, momentos de
gura e de fácil operação para todos os técnicos de nos- breaks, entradas dos áudios, dos vídeos, entradas do
sa equipe, inclusive para mim, que, no caso do Prêmio áudio de Super Júri, entradas e saídas de apresen-
Multishow, operei e dirigi a unidade móvel. Basicamen- tadores, tudo programado em snapshots, pois seria
te, o Optocore nos possibilitou uma infinidade de op- impossível resolver tanta coisa manualmente.
ções de envio e recebimento dos áudios, e a integração
com as DiGiCo nos deu mais segurança na operação, De que maneira os equipamentos utilizados
na qual contamos com o apoio de Renato [Carneiro], contribuíram para o operacional do projeto?
especialista de produtos da marca no Brasil.
Marcelo: Assim que nos convidaram para fazer o prê-
Renato Carneiro: Várias características das mesas mio, decidimos que consoles e sistema de transmis-
[DiGiCo], tais como VCAs controlando mandadas de são de áudio usaríamos. Como eu, Renato [Carneiro]
auxiliar, mix em 5.1 e a estrutura do loop óptico que e Marco [Maluf, que gerenciou os sistemas de RF] tí-
nos permitiu integrar cinco consoles e cinco racks – nhamos intimidade com as DiGiCo e imaginávamos
totalizando mais de 250 ins e 150 outs físicos em um como deveria ser o tráfego do áudio e comunicações,
só sistema – foram imprescindíveis para a realização ficou tranquilo desenvolver o projeto de áudio, o qual
do trabalho. Como todas as mesas tiveram acesso a apresentamos ao Departamento de Engenharia de
todos os racks, contamos com envios entre os conso- Áudio da emissora, que também já sabia como gos-
les, mixei as comunicações do pessoal de palco, en- taria de tratar [o áudio] e nos deu “ok” para seguir.
viei à unidade móvel em um só canal e, lá, eles mixa-
ram os 12 mics de ambiente e me enviaram um L/R. Passado o trabalho, você diria que, tecnicamen-
te falando, tudo saiu conforme o planejado?
Na sua opinião, quais são as maiores dificulda-
des enfrentadas na transmissão ao vivo de um Marcelo: Logo que a premiação foi encerrada, nos
evento musical? reunimos para uma breve conversa e atestamos que
o resultado conquistado foi o esperado, consideran-
Marcelo: São sempre muitas, mas trabalhamos do, naturalmente, os possíveis erros humanos, claro.
tranquilos, porém, com muita atenção, pois o Num projeto como esse, a tensão é constante e a
caminho que o áudio percorre até chegar à casa das quantidade de profissionais envolvidos também é um
pessoas é longo. Para minimizar riscos, contamos fator a ser tratado com atenção. Na verdade, o im-
com uma equipe que trabalha como uma verdadeira portante foi que todos ficaram satisfeitos, o que nos
engrenagem e procuramos eliminar questões e faz acreditar que podemos buscar, cada vez mais, a
dúvidas durante os ensaios técnicos e musicais. melhoria das transmissões de shows ao vivo no Brasil.

áudio música e tecnologia | 51


PROJETO DE PRODUTO | Homero Sette e Mauro Ludovico

Criando o subwoofer H.Sette


2x18” SW6000nd (Pa r te 2)

Novas etapas do desenvolvimento do produto

O texto anterior, publicado na AM&T 277, terminou com o didos os parâmetros dos falantes, e não só ao ar livre, como
começo do projeto em si. E o passo inicial foi o da escolha também instalados no protótipo da caixa, com o duto selado
dos falantes: B&C 18SW100, com ímã de neodímio, e B&C provisoriamente. Este procedimento objetiva corrigir os va-
18TBW100, com ferrite. Também apresentamos um box lores de Fs, Qts, Qes e Qms que podem sofrer alteração em
com todas as especificações de cada um. função da variação da massa móvel do falante no interior da
caixa em virtude da modificação da massa de ar acoplada ao
Para se conseguir maior precisão nas simulações, foram me- cone, ocasionada pelo acoplamento com as paredes.

Figura 1 – Desenho técnico do 18SW100 Figura 2 – Desenho técnico do 18TBW100


52 | áudio música e tecnologia
Figura 5 – Parafuso de cabeça cilíndrica, com sextavado
interno e bucha de zamac para embutir no compensado

Figura 3 – Resposta preliminar, simulada, do Sub parte mais prática da construção dos protótipos. Inicial-
SW6000nd com falante B&C 18SW100. Vermelho mente, apenas uma das câmaras.
– caixa de 170 litros, sintonizada em 40 Hz; verde
– caixa de 148 litros, sintonizada em 37 Hz. Montagem
O parâmetro K, adimensional, é o fator de proporcionali- A caixa, cortada em máquina CNC, com toda a precisão
dade que retrata o fenômeno. inerente a essa tecnologia, usa e abusa dos entalhes e
encaixes para garantir exatidão na montagem e conferir
RESPOSTAS SIMULADAS a rigidez estrutural, indispensável para evitar vibrações
nas baixas freqüências em que a caixa vai trabalhar.
Na figura 3 temos as respostas de frequência simula- Além disso, foi utilizado compensado naval de 20 mm.
das, obtidas com os parâmetros de catálogo, para dois
volumes e sintonias diferentes, que foram usadas como Na fixação dos falantes foram utilizados parafusos com
avaliação das possibilidades que se descortinavam: cabeça cilíndrica, com sextavado interno, pois com os
parafusos comuns os furos de fixação nos falantes não
1. Vermelho: Vb = 170 L e Fb = 40 Hz
permitiam à entrada da chave de boca o suficiente para
2. Verde: Vb = 148 L e Fb = 37 Hz
assegurar um aperto final adequado, capaz de garantir
a ausência de vazamentos e vibrações.
CONSTRUÇÃO DO PROTÓTIPO
Além disso, buchas de zamac, com rosca soberba externa
Uma vez esclarecidos os princípios teóricos que nortearam
e interna com o mesmo fio do parafuso, foram embutidas
o projeto, escolhidos os falantes e feitas algumas simula-
na madeira, para permitir a retirada e a recolocação do fa-
ções que mostraram resultados possíveis, foi iniciada a
lante com comodidade e segurança, o que foi feito
inúmeras vezes na fase do desenvolvimento.

Ajustes no duto

O primeiro protótipo, de uma única câmara,


continha uma gaveta, com puxador no meio.
Esta gaveta, correndo em dois sulcos abertos
nas paredes superior e inferior da caixa, permi-
tia variar a frequência de sintonia com precisão
e comodidade, facilitando a escolha daquela que
se mostrou mais adequada. O fundo do gabinete,
removível, facilitava o acesso ao seu interior, para
a colocação da cortina de material absorvente, e
demais alterações que se desejasse fazer. O pri-
meiro protótipo foi utilizado, também, para a me-
dição dos parâmetros T-S, além da obtenção das
curvas de resposta e impedância.

Figuras 4a + 4b + 4c + 4d – Detalhes da
montagem e do corte em CNC do protótipo
Projeto de produto

Figura 6 – Primeiro protótipo: notar o duto, de


comprimento variável, em forma de gaveta

Área do duto

Na figura 7 temos a curva preliminar de sintonia para


um volume Vb = 170 L. Se a área do duto for aumentada
para se conseguir maior vazão, o comprimento assumirá
valores muito grandes, o que poderá causar problemas de
acomodação, consumir muito volume útil da caixa e gerar Figura 7 – Estimativa preliminar de sintonia: Vb = 170 L,
ressonâncias. Por esses motivos adotamos uma área cal- para área do duto igual a 10,5 x 56 = 588 cm²
culada de forma a permitir um deslocamento, sem perdas,
de aproximadamente 9,5 mm, o que consideramos um quado do duto para sintonizar a caixa em uma determina-
excelente resultado de compromisso e que está dentro da frequência. O Erro Médio Quadrático dos Ajustes feitos
dos limites especificados pelo fabricante do alto falante. na curva de sintonia foi igual a 1,26%.

Sintonia do duto Dimensionando o amplificador de potência


A sintonia do duto é medida utilizando-se um microfo- A música possui um fator de crista tipicamente igual a
ne, colocado o mais próximo possível da calota do falante 10, que é a relação entre a potência musical e a potência
(sem que haja contato entre as duas partes). Isso evita o média. Assim, um amplificador de 1.000 watts por canal,
erro introduzido pela indutância da bobina do falante, que reproduzindo um programa musical típico, vai entregar
pode ser muito elevado em alguns casos (bobinas com apenas 100 watts de potência média (erradamente cha-
elevada indutância e sintonias em frequências altas). mada de RMS). Sendo exigido acima disso, irá distorcer
severamente ou acionará os limitadores. Se a distorção
A frequência de sintonia é clara e precisamente indi- não for evitada, você colocará em grande risco a vida dos
cada pela frequência do estreito vale que aparece na falantes: irão superaquecer e sofrerão grandes esforços
curva de resposta, traçada conforme já vimos. Os di- mecânicos, que podem estragá-los.
versos valores medidos estão mostrados na tabela 1,
juntamente com os correspondentes valores, ajustados Para obter uma "pegada" forte (punch) no seu som, sem
através de um método empírico desenvolvido pelo Prof. o risco da distorção harmônica excessiva, é preciso que
Homero Sette (Homero Sette Silva: Computer Assisted seus amplificadores tenham potência de sobra. O mínimo
Vented Box Tuning, publicado na Revista Speaker Buil- recomendado para um ótimo desempenho são amplifi-
der, Vol. 14, número 4, jul/93). cadores capazes de fornecer o dobro da potência RMS
dos falantes, proporcionando mais SPL, mais qualidade,
Curva de Sintonia menos distorções nocivas por CLIP, que é deformação ou
“ceifamento” da onda, que ocorre normalmente quando
A curva de sintonia da figura 8, obtida pelo método em- o amplificador trabalha com sinal de entrada excedendo
pírico, permite calcular com precisão o comprimento ade- os limites da amplitude máxima linear.

54 | áudio música e tecnologia


Tabela 1 - Pares (L, Fb) medidos com microfone e ajustados
Comprimento do duto L Freqüência de sintonia Frequência ajustada Erro
Fb
cm Hz Hz %
44,0 29,2 29,91 - 2,37
40,0 30,9 30,09 0
35,0 32,7 32,29 1,28
30,0 34,3 33,88 1,24
20,0 37,6 37,93 - 0,87
10,0 43,9 43,90 0

ESPECIFICAÇÕES RESUMIDAS DO MACHINE 14.0 SD


Ajuste do Duto - Método Empírico 14.0 SD
Potência total de saída 2 Ohms(*) 14.000 W
Potência total de saída 4 Ohms(*) 8.400 W
Potência total de saída 8 Ohms(*) 4.800 W
Potência total de saída bridged ***
Comprimento do Duto em cm

Classe de amplificação AB + H (4 step)


Resposta de frequência +0, -3dB 20Hz a 20KHz
Distorção harmonica total 0,05%
Impedância de entrada(bal./unbal.) >20 K /10k
Fator de amortecimento >1000:1
Sensibilidade de entrada 40x ou 775mV
Relação sinal ruído (-105 DB)
Cons./ Plena Pot(1Kem 2 Ohms) 16,8 KVA
Frequência de Sintonia em Hz Voltagem 220Vac
Dimensões A-L-P 89/485/480 mm
Peso 19,0 Kg
* Medição de Potência: Tone Burst, 1 kHz, 33 ms On/66 ms Off

O sub SW6000nd está equipado com dois transdutores Obtivemos resultados adequados com o Machine
B&C de 1500 watts AES, e, portanto, vai trabalhar de for- SD14.0, 14.000 watts totais, em 2 ohms. Dos importa-
ma ideal, supondo um programa com fator de crista alto, dos, um candidato é o Powersoft K20, de 18.000 watts.
quando for alimentado por amplificador capaz de fornecer Uma das suas opções de sensibilidade, igual a 2,62 V,
6000 watts (ou até mais, desde que sejam utilizados pro- oferece um ganho de 35 dB.
cessadores com limiters adequadamente ajustados). De-
vido à alta potência dos falantes, pode ser difícil encontrar Em nosso próximo encontro, mais detalhes sobre a cria-
tais amplificadores no mercado. ção do subwoofer H.Sette 2x18” SW6000nd. Até lá!

Homero Sette é gerente de desenvolvimento e aplicações da 4VIAS Pro Audio (homero.sette@4VIAS.com.br). Mauro Ludovico é gerente de plane-
jamento da companhia (4VIAS@4VIAS.com.br).

áudio música e tecnologia | 55


MIXAGEM | Fábio Henriques

OTIMIZANDO
SUA MIXAGEM
(PARTE 7)

Usando compressores
Por que comprimir? Essa é a boa notícia: assim como nin- ferências do estilo com que se está trabalhando para uma
guém é obrigado a equalizar, também não existe obrigação avaliação do papel dos compressores. Sem dúvida, a ideia
em comprimir. Mas se não há, por que usar compressores? antiga de que se devia ser comedido com a compressão para
O maior vilão das mixagens é o fenômeno psicoacústico do mantê-la inaudível já não pode ser considerada “moderna”.
mascaramento. Quando existe uma região de frequência
intensa em um instrumento, outros instrumentos que têm VISÕES MICRO E MACRO
menos volume nesta região são completamente ignorados
por nossos ouvidos (já tratamos detalhadamente disso an- Podemos encarar o fato de comprimir em duas vertentes.
teriormente). Assim, quanto menores as variações de volu- Primeiro, a visão “micro” – ora, imaginemos que estamos
me de um determinado instrumento, mais fácil será achar com ataque demais em um instrumento percussivo e que-
um volume médio para ele em uma mixagem de forma que remos diminuí-lo. Se usarmos um compressor bem rápido,
ele não seja mascarado por outros. ataque mínimo e release mínimo, será possível. Estamos
neste ponto apenas preocupados com a sonoridade do ins-
Isso é particularmente importante para a voz, que normal- trumento em si. Já a visão “macro” avalia a mixagem como
mente precisa ficar perfeitamente audível o tempo todo. Ao um todo e o papel deste instrumento frente aos outros. Um
diminuir a variação de volume, o compressor permitirá que caso clássico da visão macro é o compressor de stereo bus
se ache um ponto médio para a voz em uma mix com mais da SSL, disponível também em plug-ins, como o da Waves.
facilidade. É claro que ao longo da música poderão ser pre- O número de hits-número-um que passaram por um com-
cisos ajustes neste volume médio, pra que não fique nem pressor destes é enorme, e sua sonoridade certamente já
alto nem baixo demais, mas o compressor tornará estes se incorporou à nossa cultura de “som de hit”.
ajustes muito mais fáceis.
Neste ponto, vale um pequeno parêntese: uma coisa é
Além desta necessidade técnica, existem também os aspec- muitos hits terem passado pelo stereo compressor da SSL,
tos estilísticos envolvidos (afinal, arte é assim mesmo). Se a outra, muito diferente, é a pessoa pensar que é preciso
estamos trabalhando com música pop/rock, por exemplo, passar por ele para se ter um hit. Resumindo, portanto,
não se espera muitas variações de volume ao longo da mú- analisando objetivamente, compressores diminuem a di-
sica, e os compressores irão nos ajudar muito a manter os ferença entre o maior e o menor volume de um canal,
volumes mais constantes, sem o uso excessivo de automa- facilitando sua colocação em uma mixagem. Ao mesmo
ções de volume. Aliás, existe uma tendência geral atualmen- tempo, subjetivamente falando, os compressores deixam
te em se trabalhar com tracks bem comprimidos, a ponto o som com uma característica interessante em termos de
desta compressão ser audível mesmo. Vale a pena ouvir re- estilo, e familiar ao ouvinte.

56 | áudio música e tecnologia


Divulgação
TIPOS DE COMPRESSORES

Variando a filosofia com que se


ajustam o threshold e a ratio,
podemos ter reduções de ganho
semelhantes com ajustes bem
diferentes. Um caso clássico são
os compressores em que não se
permite a escolha da ratio, sendo
esta pré-ajustada e muitas vezes
comportando-se de acordo com as
características do sinal de entrada.

Um dos modos de operação mui-


to interessantes é o “leveler”, que
usa uma ratio muito baixa (me-
nor que 2:1) e um threshold tam-
bém baixo, de forma que sempre
haja compressão, mas que esta
seja em taxa baixa, para diminuir Compressor de stereo bus da
a audibilidade. Este tipo de filoso-
SSL: caso clássico da visão macro
fia é bem interessante no caso da
também disponível em plug-ins
voz, onde regiões de volume com
e sem compressão muito nítidas podem ser problemáticas.

Um outro tipo de filosofia é o “limiter”. Em tese, costuma-se considerar que


um compressor está atuando como limiter se os tempos de attack e release
são curtos e se a ratio é igual ou maior que 10:1. Em um caso ideal, e no
caso dos plug-ins de limiter, como o L1 e o Maxim, pode-se considerar a ra-
tio como infinito:1, ou seja, para qualquer amplitude acima do threshold na
entrada, o valor de saída é o mesmo.
Reprodução

No caso dos plug-ins de limiter, como o L1 e o Maxim


(acima), pode-se considerar a ratio como infinito:1
MIXAGEM | Fábio Henriques

WikiImages
Com a evolução da mixagem e, principalmente, masteriza-
ção em ambiente digital, o uso de limites se propagou rápi-
da e ubiquamente no áudio. Levando-se em conta que, em
digital, quanto maior o volume, maior a qualidade, o limiter
se mostrou uma ótima ferramenta, pois segura os picos de
curta duração e permite subir o nível geral de uma mix ou
de um instrumento. Seu uso exagerado, porém, pode levar
a diminuição exagerada da dinâmica, e muitos consideram
que foi a ferramenta que impulsionou a “guerra de volu- Behringer T 1952: compressores valvulados, como
mes” tão mal vista hoje em dia. este, e suas simulações são notoriamente lentos

COMPRESSÃO PARALELA COMO ESCOLHER O TIPO DE COMPRESSOR


De tempos em tempos surgem os “melhoraisers”, que são
O que vai determinar a escolha são as características do
equipamentos ou procedimentos sem os quais é “impossí-
sinal a comprimir, o estilo e a facilidade de uso. Com-
vel” se conseguir uma mix moderna, decente e com “pres-
pressores valvulados e suas simulações são notoriamente
são”. Por um breve tempo, a compressão paralela foi o me-
lentos. Assim, se a gente precisa diminuir os ataques da
lhoraiser da vez. Mas vejamos do que se trata.
caixa, a opção são compressores ou a transistor ou total-
mente de software, pois terão tempos de attack e release
A técnica consiste em se pegar o sinal original e somar com
mais maleáveis. Para voz, o uso clássico são os levelers,
uma versão dele pesadamente comprimida. Antes de mais
ou compressores com soft knee e que permitam ratios
nada, precisamos fazer uma ressalva. É preciso tomar mui-
baixas e thresholds baixos.
to cuidado para se manter a coerência de fase entre estas
duas componentes, sob pena de se alterar o timbre e até
Uma crença que considero sem o menor fundamento é
gerar um filtro pente. Assim, se você quer usar compressão
a de que os compressores “tiram agudos”. Muitas vezes,
paralela, prefira os plug-ins de compressores que
por diminuírem o volume de saída num primeiro
possuem um controle de “mix” entre o som di-
momento, a percepção de agudos por nossos
reto (“dry”) e o comprimido (“wet”). “Existe
ouvidos diminui, podendo causar essa sen-
uma tendência, sação. Em outros casos, o próprio design
Já vi gente dizendo com firmeza que a principalmente no do compressor usa circuitos que acabam
compressão paralela dá “vida”, “pres-
caso de plug-ins, que alterando a resposta em frequência – não
são”, “energia” e coisas subjetivas como
nos leva a escolher como resultado desejado pelo projetista,
essas, mas sem especificar como e por-
que, então vejamos do que se trata.
aquele equipamento mas como consequência inevitável –, o

Quando se soma o sinal original com um cuja interface nos é que nos leva a fazer realmente uma pes-
pesadamente comprimido, nos momentos mais amistosa” quisa em nosso conjunto de equipamentos/
mais altos haverá pouca soma, por causa plug-ins disponíveis, e, dessa forma, estabe-
da compressão atuando, e nos momentos mais lecer um banco de cartas na manga.
baixos a porção comprimida irá se somar muito ao
som direto, pois não sofreu compressão. Em resumo, en- Um fator que não se pode menosprezar e que considero
quanto um compressor diminui o que é alto (como já vi- fundamental, embora eu nunca o tenha visto abordado
mos), a compressão paralela aumenta o que é baixo. em publicação nenhuma, é a facilidade de operação. Exis-
te uma tendência, principalmente no caso de plug-ins,
Ora, esse tipo de ferramenta era valiosa quando o sinal pre- que nos leva a escolher (como “soando melhor”) aquele
cisava ser mandado pra fita o mais pronto possível. Hoje, equipamento cuja interface nos é mais amistosa. O fator
com a gravação em computador, isso ficou totalmente dis- a se considerar nesta abordagem não é necessariamente
pensável, e um ótimo substituto para a compressão parale- o tipo de som resultante (já que ele será similar em mui-
la é o change gain. A gente vai lá e simplesmente dá ganho tos casos), mas a facilidade, comodidade e rapidez de se
nos trechos mais baixos do áudio file. Pronto, dispensado chegar até ele com esta ou aquela ferramenta.
o melhoraiser. Para quem gosta, porém, da distorção intro-
duzida com uma compressão paralela pesada, aí são outros Em nosso próximo encontro conheceremos vários mode-
quinhentos, pois o resultado agrada pela distorção e não los de compressores e suas emulações, dos clássicos e
necessariamente pela compressão. consagrados aos modernos.

58 | áudio música e tecnologia


UMA RECEITA DE BOLO
Antes de mais nada, é preciso ter uma ideia do que se quer. 4) Coloque para tocar um trecho em que haja variações de
Desejo manter o volume geral do track mais uniforme? Pre- volume importantes no track;
ciso diminuir/aumentar a relação entre o volume do ataque 5) Venha descendo o valor do threshold até que a redução
e da ressonância de um instrumento? A compressão poderá de ganho no medidor esteja atingindo no máximo em 6 dB;
ser audível ou não? 6) Se a compressão estiver muito audível, reavalie a ratio
e verifique a forma do “joelho”, alternando entre “soft” e
As ferramentas para este tipo inicial de decisão já fornece- “hard” knee;
mos acima. Agora vejamos, uma vez escolhido o compres- 7) Avalie se o compressor teria que ser mais rápido no at-
sor a usar, como fazer um pequeno ajuste. tack ou no release.

1) Parta de um attack e release médios ou de preferência Embora muito básico, você vai verificar que este procedimento
em uma posição “auto”; se aplica à maioria dos casos. Ele, obviamente, é um mero pon-
2) Escolha uma ratio inicial. Para voz, entre 1.5 e 3:1; para to de partida, e as experimentações são bem-vindas, desde que
instrumentos, de 2 a 4:1; não se deixe para tentar todas elas durante o horário do cliente.
3) Deixe o threshold no máximo; Nestas horas, o “dever de casa” faz uma enorme diferença.

Fábio Henriques é engenheiro eletrônico e de gravação e autor dos Guias de Mixagem 1, 2 e 3, lançados pela editora Música & Tecnologia. É responsável
pelos produtos da gravadora Canção Nova, onde atua como engenheiro de gravação e mixagem e produtor musical. Visite www.facebook.com/GuiaDeMi-
xagem, um espaço para comentários e discussões a respeito de mixagens, áudio e música. Comente este artigo em www.facebook.com/GuiaDeMixagem.

áudio música e tecnologia | 59


PRODUÇÃO FONOGRÁFICA | Fabrizio Di Sarno

O MAPA DE
CONTORNO EMOCIONAL
Auxiliando o produtor na valorização
da mensagem musical

O Mapa de Contorno Emocional (que chamaremos de MCE) NATUREZA SUBJETIVA DO EIXO VERTICAL
é um recurso utilizado por produtores, arranjadores e enge-
nheiros de mixagem para valorizar a forma musical de uma A subjetividade deste tipo de representação (principalmen-
canção. Este tipo de mapa costuma atribuir um valor emo- te em relação ao seu eixo vertical) torna-se um obstáculo
cional, mesmo que arbitrário, para cada parte de uma can- ao seu completo entendimento por parte dos estudantes
ção, de modo a tornar claro qual ou quais partes da música de mixagem. A obscuridade deste tema é amplificada de-
devem ser valorizadas na mixagem ou no arranjo musical. vido à falta de uma estrutura consagrada historicamente
para a sua construção, ficando a cargo de cada produtor/
Como podemos ver no mapa 1, o MCE costuma atribuir um engenheiro gerar as suas próprias regras de acordo com o
valor emocional no eixo vertical, que pode ser de 1 a 10, de seu entendimento da música a ser representada.
0 a 100 ou qualquer outra escala de valores especificada. O
eixo horizontal é dividido de acordo com a forma musical, Evidentemente, os critérios sobre qual parte de uma
de modo a estabelecer um valor emocional para cada parte determinada canção é mais emocionante dependem da
da canção, podendo também ser dividido pelo número do preferência pessoal e do repertório de cada ouvinte, de
compasso ou tempo (geralmente dividido em segundos). modo que cabe ao profissional que vai confeccionar o
mapa praticar uma espécie de “futurologia”, tentando
Geralmente quem realiza este mapa é o produtor, ainda na adivinhar qual trecho da música causará mais impacto
fase de pré-produção, passando a utilizá-lo como um guia no público, e que é, portanto, a parte que deve ser mais
para dirigir o trabalho do arranjador e do engenheiro de mi- valorizada no arranjo ou na mixagem. É claro que este
xagem nos casos em que não é o próprio produtor quem faz tipo de adivinhação pode naufragar completamente, e,
o arranjo e a mixagem (em produções de baixo orçamento, posteriormente, o público pode considerar uma parte to-
estes versáteis profissionais chegam a acumular também talmente inesperada da música como a mais emocionan-
outras funções, como dono do estúdio e fazedor de café). te, contrariando a previsão do MCE.

60 | áudio música e tecnologia


Mapa 1 – Mapa de Contorno Emocional realizado
pelo aluno da Fatec-Tatuí Carlos Koiti para a
música Californication, dos Red Hot Chili Peppers

Entretanto, este fenômeno não difere de todo o resto da cadeia de


produção fonográfica, o que revela os inúmeros casos em que uma
canção prevista como um grande sucesso se tornou um retumbante
fracasso ou quando uma música feita para um determinado público-
-alvo atinge um completamente diverso. Ou seja, subjetividades a
parte, o MCE torna-se muito útil devido à maneira como deixa claro
o grau de impacto que desejamos causar em cada parte da canção,
facilitando o caminho de valorização da mensagem musical, que é o
grande objetivo da produção musical.

Note que os mapas 2 e 3, que você verá a seguir, realizados por


grupos diferentes de alunos de Música do CEUNSP para o Jingle FCAD,
possuem formas e atribuições de nota diferentes, apesar de se tratar
de uma mesma música.

A nota que devemos atribuir no eixo vertical diz respeito ao grau de


empolgação que queremos, ou imaginamos, atingir o público. Essa
atribuição passa naturalmente por uma determinada característica,
também subjetiva, conhecida coloquialmente como “comercialidade”,
de modo que muitos produtores confeccionam o MCE para valorizar as
partes que consideram mais comerciais (geralmente o refrão), e que,

Mapa 2
áudio música e tecnologia | 61
PRODUÇÃO FONOGRÁFICA

ticamente, pois supomos que o compositor já assumiu de


antemão a estrita obrigação de cumprir o sistema de divi-
são interna das partes envolvidas na estrutura musical de
acordo com a forma escolhida. Resta apenas, neste caso,
apontarmos o momento em que cada parte prevista na
forma musical se inicia, baseando-se no conhecimento te-
órico necessário para tal tarefa.

No caso da música popular, as formas consagradas atual-


mente se desenvolveram a partir das canções compostas
Mapa 3 desde a idade média. Dentre as formas conhecidas que
atravessaram os séculos, encontramos a forma canção bá-
portanto, serão responsáveis por transformar a canção em sica, baseada em uma repetição da estrofe seguida pelo
um sucesso de vendas. refrão (AAB-AAB), e a forma rondó, que repete o refrão
depois de cada estrofe (ABACADA...), ganhando por vezes
Uma das maiores dificuldades dos alunos de produção fo- o apelido de ABACADA devido à sua estrutura. Sabemos
nográfica em relação a este eixo é a confusão entre o grau que a música comercial massiva baseia-se na extrema ex-
de “emocionalismo” e a margem dinâmica de uma música. ploração do refrão, fenômeno que torna comum o uso de
A nota atribuída a uma determinada parte não define uma formas musicais que repetem muitas vezes o refrão no
maior intensidade sonora dela. Muitas vezes uma final ou que se iniciam pelo próprio refrão, truques
parte com queda brusca de intensidade pode que facilitam a compreensão rápida da parte
receber a maior nota neste eixo devido ao Dentre as principal da canção.
seu potencial para emocionar o público. formas de música
Portanto, o que deve-se levar em conta popular conhecidas que Em termos de forma musical, a canção
no eixo vertical do MCE é quão emocio- atravessaram os séculos, popular radiofônica mudou bastante
nal, empolgante, comercial, divertida encontramos a forma canção em algumas décadas. Devido à rapidez
ou tocante cada parte deve ser ao final básica, baseada em uma dos novos meios de comunicação e à
do arranjo e/ou da mixagem. repetição da estrofe seguida velocidade com a qual o homem con-
pelo refrão (AAB-AAB), e a temporâneo deseja trocar de experiên-
A FORMA MUSICAL E forma rondó, que cia, hoje em dia não são bem aceitas
O EIXO HORIZONTAL repete o refrão depois formas musicais que utilizam vastas pas-
de cada estrofe sagens instrumentais no rádio. A democra-
A construção de um mapa de contorno emo- (ABACADA) tização da tecnologia de gravação e o sur-
cional passa necessariamente pela realização gimento da internet como meio de distribuição
de uma atividade teórica fundamental para qualquer produziu a seguinte matemática: enorme número de
tipo de produção musical: a análise da forma musical, um gravações contra poucas mídias abertas para escoamento
processo teórico-abstrato que visa dividir uma música em desse grande volume de produções. O produto final desta
fases distintas. conta resulta em uma canção radiofônica de rápida assimi-
lação, com forma musical extremamente simples e comer-
Apesar de ser uma construção consagrada para represen- cial. Intuitivamente, o consumidor passa pelo ciclo ouvir,
tar as diferentes fases de uma música, a análise da divi- aprovar, consumir e deixar de ouvir muito rapidamente,
são formal da música pode assumir diferentes modelos, permitindo que um grande número de gravações passe a
dependendo da conceituação utilizada pelo produtor. Nor- acessar os restritos canais da mídia aberta massiva.
malmente, devido à sua natureza mais rígida, a música
erudita possui classificações mais precisas das diferentes Basta analisarmos uma canção de sucesso mundial dos
fases presentes nas formas musicais. Como este tipo de anos 1990, como Sweet Child O’ Mine, do Guns N’ Roses, e
música é o resultado de um longo processo histórico, ocor- comparar a sua forma com uma canção de sucesso mundial
rido dentro de padrões pré-estabelecidos, a macroforma atual. Na música do Guns observaremos solos de guitarra,
musical já constitui de per si a somatória das partes indivi- temas instrumentais, introdução instrumental com solo de
duais presentes na estrutura musical. baixo e a ausência de refrão do meio para o final da canção,
além do fato de que a canção tem quase seis minutos de
Quando nos referimos a uma música como Fuga, Sona- duração. Todos estes elementos dificilmente participarão da
ta etc., já classificamos a sua estrutura interna automa- forma musical de uma canção de grande sucesso atual.

62 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 63
PRODUÇÃO FONOGRÁFICA

medida em que pode influenciar a constru-


ção dos arranjos musicais e, principalmente,
na mixagem, fase em que é mais utilizado
como uma espécie de apoio criativo ao en-
genheiro.

O produtor pode confeccionar o MCE na


fase de pré-produção, utilizando-o para
obter um melhor domínio da forma de uma
determinada canção. Dessa maneira, ele
Mapa 4 – Mapa de Contorno Emocional realizado pelo aluno
pode efetuar possíveis mudanças na for-
de Produção Fonográfica da Fatec-Tatuí Jean Lucas Delafiori
ma de acordo com a sua percepção da
para a música Rafaela’s Dream, do guitarrista Sandro Albert
mensagem musical. Novas partes podem
ser incluídas em caso de uma música sem
O que ocorre hoje é bem diferente, sendo que a comerciali- grandes notas no eixo vertical, ou partes
dade da canção valoriza o ritmo em vez da melodia e explo- desinteressantes demais podem ser excluídas. Também
ra a repetição (por vezes exaustiva) do refrão. A rigidez das pode-se efetuar trocas ou repetições de partes caso o
regras comerciais se torna tão elevada nos tempos atuais MCE apresente uma natureza maçante.
que encontramos regras implícitas na forma de uma música
que vai para o rádio. Estas regras incluem a entrada Após esta primeira fase de estruturação, o mapa
do refrão em até um minuto de música, a dura- pode ser utilizado como um importante re-
Outra maneira forço na construção do arranjo musical. É
ção da canção (que não deve passar de três
de usar o MCE é comum encontrarmos bandas que rea-
minutos e meio) e a ausência de solos ou
para truques de lizam o próprio arranjo musical, o que
grandes temas instrumentais durante a
mixagem, valorizando também pode ser feito pelo produtor
canção. A quebra destas regras repre-
as partes melhor pontu- ou arranjador. Caso haja interesse em
senta um perigoso caminho de incerte-
adas do MCE. Surpreen- transformar uma parte para que ela se
za que pode significar o fracasso total
dentemente, isso também torne mais emocionante, pode-se in-
da canção a ser trabalhada nos meios
pode ser feito desvalori- cluir detalhes no arranjo como uma or-
midiáticos massivos.
zando outras partes para questração, coro, novos riffs de acom-
que o trecho desejado panhamento ou qualquer outro detalhe
Como podemos notar no mapa 4, reali-
cause mais instrumental.
zado durante uma mixagem para big band,
impacto
não é apenas a canção popular massiva que
pode ser beneficiada com o MCE. Podemos tam- Após o arranjo, podemos utilizar o MCE como
bém utilizá-lo como uma importante ferramenta durante apoio no momento da mixagem. Apesar de contar com
a mixagem de diversos gêneros de música instrumental, já uma gravação já realizada, esta fase também pode efetuar
que em muitos casos não é apenas a comercialidade que mudanças de arranjo, como a exclusão de algum canal ou
buscamos ao trabalharmos com o mapa, mas a valorização até mesmo de alguma parte da música que não esteja so-
de uma mensagem musical distribuída através de suas di- ando bem. Outra maneira de usar o MCE nesta fase é para
ferentes partes no tempo. truques de mixagem, valorizando assim as partes melhor
pontuadas do MCE. Surpreendentemente, isso também
COMO UTILIZAR O MCE pode ser feito desvalorizando de alguma forma outras par-
tes para que o trecho desejado cause mais impacto, o que
Apesar de encontrarmos poucos relatos sobre este tipo de é bastante comum em mixagem.
mapa na internet e na bibliografia especializada, podemos
observar que o MCE tem sido utilizado em diferentes si- Em uma próxima oportunidade ensinaremos truques de mi-
tuações de estúdio, tornando-se útil na pré-produção, na xagem que podemos realizar com a ajuda do MCE. Até lá! •

Fabrizio Di Sarno é professor da Fatec-Tatuí e CEUNSP, compositor, produtor e tecladista em bandas como Angra, Shaaman, Edu Ardanuy, Karma e
Paul di Anno etc. Já criou trilhas sonoras para marcas como Natura, Odebrecht, Ambev, Governo Federal, Playboy etc. E-mail: fabrizio3@uol.com.br.

FATEC Tatuí - Curso gratuito de Produção Fonográfica. Site: http://tinyurl.com/fatec-prodfono

64 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 65
DESAFIANDO A LÓGICA | André Paixão

MINHAS obSERVAÇõES
SobRE o logIC x

Ele chegou para ficar: mas como nem tudo é


perfeito, destaco alguns prós e contras

INTERFACE
A interface do Logic X é mais bonita e moderna do que
prática. O cinza escuro dominante atrapalha a leitura de
menus e pode piorar dependendo da sua monitoração de
vídeo e qualidade de visão. Mas não se trata do fim do
mundo, pois você pode customizá-la ou mesmo instalar
templates pré-customizados, como os que encontrei em
http://logicxinterfaces.wordpress.com. Não me parece ser
um processo simples, portanto, caso resolva modificar sua
GUI (General User Interface). Para tal, siga atentamente os
passos descritos nesse site.

Tenho vontade de testar, mas preciso de uma manhã livre e tran-


quila. Compreensível, não? Além disso, demorei um pouco para
encontrar menus e comandos com os quais já estava acostu-
mado no Logic 9. Mas não se preocupe: com o passar dos dias
a intimidade volta a fazer a parte da relação. Gostei de outros
detalhes, como uma barra de redução de ganho – presente na
janela Mixer – acionada automaticamente à medida em que in-
serimos algum processador de dinâmica no nosso canal.

Esse blog oferece as melhores soluções para quem não


está satisfeito com a interface padrão do Logic X
66 | áudio música e tecnologia
INSTALAÇÃO
Mesmo nos dias atuais, quando é difícil viver e respirar num
ambiente desconectado, é chato ter que depender de uma
rede para instalar no computador do seu estúdio um software
que você comprou com seu suado dinheirinho. Infelizmente,
ainda existem países cuja internet de alta velocidade ainda
é uma utopia – como o nosso –, e, pior, muitas vezes, falha
constantemente, especialmente nos dias de chuva em
determinadas regiões. Nesse caso, a opção de transferir
o Logic X – juntamente com todo o conteúdo adicional de
cerca de 35 GB – via Apple Store de outro computador para
o seu, via offline, é descartada pela empresa. Para instalar
extremamente orgânicos, dinâmicos e realistas, com con-
a plataforma em meu recentemente atualizado sistema tive
troles independentes para cada região definida por canal.
que desconectar minha máquina do estúdio – onde não havia
Se você pensou numa máquina de loops como o OctaRex,
uma conexão wi-fi – e trazê-la para o ambiente doméstico
do Reason (que já apresenta boas possibilidades de di-
para que então o download fosse executado.
nâmica em sua versão atual), considere-se enganado. O
Drummer é bem diferente de tudo o que foi produzido até
agora quando o assunto é bateria. Escolha o baterista,
monte seu kit, defina a dinâmica (viradas, levadas, vo-
lumes, simples, complexo etc.) e boa viagem. Em breve
vamos falar mais sobre ele.

Uma conexão fraca – como a oferecida pela Oi


Velox em certas regiões – vai demandar muita
paciência até que todo o conteúdo adicional
do Logic X chegue em seu HD

PLUG-INS 32 BITS
Caso seus plug-ins 32 bits externos (de outros fabrican- Nada substitui um verdadeiro
tes) ainda não tenham sido atualizados para 64 bits, essa baterista, mas o Drummer chega perto
transição pode ser um problema, pois não existe a pos-
sibilidade de abrir em 32 bits mode. Nesse caso, a única
solução seria renderizar os respectivos canais no Logic FLEX PITCH
Pro 9 e importá-los no Logic X. Mas trata-se de uma única
exceção nesse aspecto, pois todos plug-ins do Logic estão Você não precisa mais gastar 249 dólares para ter em
presentes na versão atual, portanto, nesse caso, não há mãos uma ferramenta de afinação como o Celemony Me-
dor de cabeça. lodyne. A partir dessa versão você pode afinar e alterar o
pitch de suas pistas monofônicas – além de outras possi-
DRUMMER bilidades criativas – como numa janela de Piano Roll. Bem
que poderiam aproveitar e acresecentar uma ferramenta
Grande sacada dos desenvolvedores, o Drummer é uma de conversão de Áudio para MIDI, como a Ableton fez na
inspiradora máquina de arranjos percussivos que soam mais recente versão do Live.

áudio música e tecnologia | 67


DESAFIANDO A LÓGICA | André Paixão

Edite o pitch de vozes e outros


instrumentos com maior facilidade

ORGANIZAÇÃO
Ficou mais tranquilo organizar seus tracks, com maior fa-
cilidade de seleção e deslocamento de canais de forma si-
multânea. Em projetos com muitos canais, o Logic oferece
a ferramenta “Hide” que, como o nome já diz, permite que
você esconda os que não estão sendo utilizados, mas que
podem vir a ser (em algum momento da sua mixagem, por
exemplo). A cereja do bolo são os Track Stracks, recurso que O Logic Remote transforma seu iPad num
permite agrupar canais que serão processados simultanea- verdadeiro controlador de plataforma, com
mente (Summing Stacks) ou apenas para fins de organiza- funções bem diferentes
ção e melhor visualização do seu projeto (Folder Stacks).

CONTROLE COM IPAD


Se você comprou a última versão do Logic e possui um
iPad, não deixe de adquirir – gratuitamente – o controlador
Logic Remote, desenvolvido pela Apple. Trata-se de um
excelente complemento para seu estúdio, especiamente se
você costuma gravar sozinho.

CONCLUSÃO
Como você pôde conferir nessa coluna, minhas observa-
ções são muito mais favoráveis do que contrárias à versão
mais recente do Logic Pro. Assim, se você procura novas
formas de produzir música e fugir do convencional – que
muitas vezes é entediante –, vale a pena sair da zona de
conforto e explorar os novos recursos dessa plataforma.
Os Tracks Stacks vão deixar sua vista menos Com valor fixado em 199 dólares, o Logic X é, na minha
cansada, seu projeto mais organizado e seu cerébro opinião, o que há de melhor em termos de custo-benefício
vai focar no que realmente importa: a música do mercado.

André Paixão é produtor de trilhas sonoras para cinema, teatro, TV e publicidade. O Super Studio (www.superstudio.com.br) é sua segunda casa, onde
passa grande parte de seu tempo compondo, editando e mixando. Fez parte de bandas como Autoramas, Matanza e Acabou La Tequila e atualmente
dedica-se a projetos autorais, como a banda Lafayette e os Tremendões, além de assinar direção musical e canções da peça infanto-juvenil “O Mé-
dico Que Tinha Letra Bonita”. Apaixonou-se pelo Logic em 2010 e nunca mais o largou. Contato: andre@suprasonica.com.br

68 | áudio música e tecnologia


LINKIN PARK
EM BH
Novo show, novo
iluminador e visão
artística bem própria

MEDIA COMPOSER
Técnicas e métodos para
uma montagem a jato

MÚSICA, LUZ E
INTERATIVIDADE ILUMINANDO
Espetáculo instrumental de Aurélio de Simoni conta
Hamilton de Holanda tem sua história no universo da
soluções práticas e criativas iluminação cênica
áudio música e tecnologia | 69
 produtos
CONSOLE QUARTZ É O MAIS NOVO
INTEGRANTE DA LINHA AVOLITES TITAN
Lançado mundialmente e com chegada ao Brasil prevista para breve, a nova Quartz é a mais recente adição da Avolites à
família Titan. Trata-se de um console bem completo, compacto (42,5 cm de largura), cujo design foi desenvolvido tendo-
-se em mente o espaço ocupado e a facilidade de utilização e transporte. De acordo com a fabricante, o console fornece
uma iluminação sofisticada e repleta de recursos, sendo “o companheiro ideal para todos os seus projetos de iluminação,
turnês e espetáculos mais complexos”. Possui processamento on-board e painel bem divido para facilitar a utilização.

Possui tela de 12.1” de alta definição; botões que ficam iluminados em ambientes com luz baixa, quatro DMX XLR
- cinco conectores físicos; 16 universos DMX a partir do console (8.912 canais); é
compatível com Titan Net (até 64 universos), conta com porta de rede Gigabit para
Divulgação

Titan Net, Artnet e streaming ACN; entrada MIDI, dez faders de reprodução, três
encoders ópticos de alta qualidade; 20 botões programáveis; monitor embutido
touch screen 12.1” com controle de brilho e saída de headphone. É compatível com
Titan remoto, suporta multibanda Sound-a-Light e pode ser expandido com Titan
Mobile Wing através da porta USB dedicada. Pesa oito quilos.

www.avolites.com
www.proshows.com.br

FLEXIBILIDADE, DESIGN E POTÊNCIA NO XLED 1037


Carro-chefe dos moving heads de LED da chinesa PR, o XLED 1037 surgiu no mercado já mostrando para o que veio ao unir
potência e flexibilidade e ainda contar com um design que foge ao lugar-comum. Por trás de suas lentes frontais, o equipa-
mento conta com 37 LEDs de alta potência, de 10 W RGBW CREE americana, oferecendo um facho de luz homogêneo, com
elevada saída. Tão elevada que é capaz de iluminar completamente grandes palcos, pistas de shows e
pisos de estúdios. Conta com DMX de 24 canais wireless para a escolha da mistura de cores desejada.
O zoom com ângulo variável de 13 a 52 graus proporciona bastante luminosidade, com brilho e
durabilidade (vida útil do LED de 50 mil horas) para as mais diversas necessidades de utilização.

Entre outras características do equipamento, podemos destacar foco de 0 a 100% ajustável

Divulgação
via DMX; efeito Strobo (0 ~ 25 fps); CTO com variação de 3.200 K a 1.0000 K; movimento
pan de 540° e tilt de 270° com correção de posição automática; velocidade ajustável, com
mecanismo de bloqueio, e velocidade dos coolers ajustada automaticamente. Tudo isso em
um corpo de 12,9 kg. Vem com case para transporte de duas peças.

www.pr-lighting.com
www.proshows.com.br

MARTIN MAC VIPER PROFILE SE


DESTACA POR LEVEZA E VELOCIDADE
Divulgação

O MAC Viper Profile é um moving head de alta potência com um conjunto de recursos que favorecem a rotina do unsuário
e um sistema óptico altamente eficiente na faixa de 1.200 watts. Através de engenharia de ponta e de específicos métodos
de produção, a equipe de engenheiros da Martin conseguiu produzir um aparelho menor, mais leve e
mais rápido. O consumo de energia é menor e a potência é 55% mais eficiente. O MAC Viper Profile
oferece diversos efeitos de strobo utilizando controle mecânico ou eletrônico ou em combinação.

Conta com lâmpada Osram HTI 1000/OS Lok-it; color mixing CMY (Ciano, Magenta e Amarelo);
26 mil lumens de saída; zoom de 10 a 44°; canais DMX: 26/34; gobo de cores com oito filtros
dicróicas trocáveis; gobo estático e gobo de efeitos de animação; pan e tilt de 540° e 268°, res-
pectivamente, e controle de temperatura de cor de 6.000 K a 3.200 K. Seu tempo médio de vida
é de 750 horas, possui grau de proteção IP20 e pesa 37,2 kg.

www.martin.com
70 | áudio música e tecnologia www.harmandobrasil.com.br
áudio música e tecnologia | 71
em fo c o

SET REVELA DESAFIOS DO BROADCAST


SUL-AMERICANO NA INTER BEE
A Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET) par-

Divulgação
ticipou, de 19 a 21 de novembro passados, da International
Broadcast Equipment Exhibition – Inter BEE 2014, realizada
em Chiba City, no Japão. Destinada a profissionais de bro-
adcasting, áudio, vídeo, iluminação e negócios de mídia, o
evento comemorou o seu 50º aniversário no dia 20 de no-
vembro com a programação especial do Inter BEE Experien-
ce, um dos seus vários eventos paralelos.

Conhecida como uma das maiores mostras globais de bro- A Inter BEE vista do alto: SET contou com um
estande na feira e foi responsável por uma sessão
adcast e mídia, ao lado da NABShow, na América do Norte,
de seu congresso, que abordou os desafios atuais
IBC, na Europa, e BIRTV, na China, a Inter BEE reuniu mais
dos radiodifusores sul-americanos
de 900 empresas e mais de 30 mil participantes de 35 países
e regiões nos seus 47 mil m² de área. O SET Expo, evento temas desenvolvidos pelo presidente. Os planos para o swi-
anual da SET, é o único latino-americano que se encontra tch off, o grande debate sobre a realocação do espectro e
entre os parceiros globais da Inter BEE. A entidade brasileira
suas consequências também fizeram parte da apresentação.
contou com um estande na feira e foi responsável por uma
sessão de seu congresso, a Invited Session 6, sobre os de-
Promovida pela Japan Electronics and Information Techno-
safios atuais dos radiodifusores sul-americanos. Intitulada
logy Industries e a Association Japan Electronics Show As-
“South American Broadcaster – What are the current chal-
lenges?”, a sessão foi coordenada por Olímpio José Franco, sociation, a Inter BEE conta com o patrocínio da NHK, dos
presidente da SET. A situação atual do ISDB-T e da trans- ministérios das Comunicações e da Economia do Japão, The
missão da TV digital na América do Sul, bem como a sua Japan Commercial Broadcast Association (JBA) e da Asso-
penetração em cada um de seus países, estiveram entre os ciation of Radio Industries and Businesses.

AVID APRESENTA EM EVENTOS VISÃO AVID


EVERYWHERE E SOLUÇÕES APLICADAS NA COPA
Realizados entre os dias 24 e 25 de Setembro e 21 e 22 quer lugar, gerenciamento de ativos de mídia e moderni-
de outubro, respectivamente, os eventos regionais Nordes- zação do fluxo de trabalho, Andrade apresentou a visão
te e Centro-Oeste da SET contaram com a participação da Avid Everywhere. “Não se trata de um produto final exa-
Avid apresentando novos fluxos de trabalho para o jornalis-
tamente, mas sim de um conceito de trabalho baseado no
mo televisivo. Ministrada por Felipe Andrade, diretor de de-
MediaCentral Platform, um sistema que abriga todo o fluxo
senvolvimento de negócios da marca, a palestra apresentou
de produção, seja da Avid ou de terceiros, pra modernizar
também o case prático realizado para a FOX Sports para a
cobertura da Copa do Mundo 2014. Durante a apresentação, e agilizar o trabalho das emissoras”, explicou.
Andrade abordou os desafios do jornalismo moderno, como a
necessidade de ter o conteúdo bruto disponível em qualquer Para exemplificar os conceitos apresentados em sua pales-
lugar para o trabalho dos jornalistas e a distribuição para tra, Felipe Andrade demonstrou o case prático realizado pela
diferentes plataformas.
Avid junto com seu distribuidor no Brasil, a CIS Group, para
a FOX Sports durante a Copa do Mundo FIFA 2014. Nos me-
“Hoje a demanda é por mais conteúdos em mais telas.
ses que antecederam a competição, a emissora realizou um
A indústria tem centenas de fornecedores de tecnologia,
uma situação que deverá mudar no futuro com menos grande trabalho de otimização de fluxos de trabalho, arma-
players fornecendo soluções mais completas”, afirmou An- zenamento e gerenciamento de mídia por meio dos sistemas
drade. Como solução para o acesso ao conteúdo em qual- ISIS e MediaCentral | UX da Avid.

72 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 73
Capa Rodrigo Sabatinelli

Linkin Park
em BH

Eduardo Magalhães
Banda desembarca no Brasil com
novo show, novo iluminador e
visão artística bem própria

N
o dia 18 de outubro, o Linkin Park, uma banda e que agora tem viajado como iluminador, está se
das maiores bandas do mundo do rock saindo muito bem. Fez o show tranquilo, e por ter tudo sin-
contemporâneo, desembarcou na Expla- cado, ou seja, à sua mão, seguiu o roteiro de cena estabele-
nada do Mineirão, em Belo Horizonte, Minas Gerais, para cido por Oli [Metcalfe, lighting designer que assina a criação
apresentar seu novo show, Carnivores, na mais recente da luz da turnê]”, disse Erich. “Para atendê-lo da melhor
edição do Circuito Banco do Brasil, evento iluminado pela maneira possível, criei um rider que partiu de seu projeto
paulista LPL. original, composto por trusses que formam uns dentes. Ti-
nham uma coisa meio carnívora mesmo”, completou.
Lighting designer do festival – que neste ano contou ain-
da com as presenças de nomes de impacto como Titãs, RIDER MONTADO
Nação Zumbi e Panic! At The Disco –, Erich Bertti desen- BASICAMENTE COM
volveu um mapa amplo, segundo ele, muito bem explo- ROBE E DTS
rado por William Anglin, novo iluminador do Linkin Park.
Nos trusses laterais foram instalados quatro moving
“Ele [William], que foi por muito tempo suporte técnico da lights Robe ColorWash 2500. Esses aparelhos, que ti-

74 | áudio música e tecnologia


Eduardo Magalhães

Eduardo Magalhães
Aparelhos DTS e Robe estiveram entre os equipamentos
disponibilizados pela LPL para as apresentações do Linkin Park

veram funções de pan e tilt desabilitadas, mas promo- largura por 6 m de altura, se estendia a outros quatro
veram efeitos de estrobo e mudança de cor, fizeram painéis menores, sendo quatro de 2,50 m de altura
o papel dos canhões seguidores e foram destinados a por 1,44 m e dois de 1,92 m de altura por 72 cm de
seguir os integrantes da banda. largura, usados como no entorno dos praticáveis de
DJ e teclados. Nele foram exibidos conteúdos diver-
No teto do palco, nos trusses centrais, que formavam um sos, como os pré-produzidos por diretores de arte e
enorme V, foram dispostos, por lado, três moving lights vídeo-artistas contratados pela banda, além das ima-
DTS XR3000 Spot, três Robe ColorSpot 2500 e cinco gens registradas ao vivo.
Robe ColorWash 2500, além de dois Martin Atomic 3000,
enquanto que nos trusses laterais, que eram espécies de Esses conteúdos, que eram totalmente sincados no time
avanços desse V central, estiveram, também por lado, code, continham elementos curiosos, como, por exem-
três Robe ColorSpot e três DTS XR3000, além de dois plo, um pulmão enorme que respirava no beat da músi-
Martin Atomic 3000 e nove Robe LEDWash 600, sendo ca, além de imagens de animais selvagens, carnívoros,
cinco deles usados para fazer a luz de plateia. imagens abstratas e imagens de mapeamento do DJ,
que era exibido em formato gigante na tela. Mas o que
Por trás deles, em outros trusses, foram dispostos, no chamou a atenção mesmo foram as imagens de GoPro,
primeiro, mais quatro DTS XR3000, sendo dois a cada que, captadas ao vivo, mostravam detalhes dos músicos,
lado, e, no segundo, mais dez Robe ColorSpot e 11 Mar- principalmente do vocalista Chester Bennington.
tin Atomic 3000. No terceiro, outros dez DTS Spot 3000
e, ao chão, complementando o teto, mais oito Robe Co- “Havia um cara, com uma daquelas varas de GoPro,
lorSpot e quatro Atomic 3000. que, daquele corredor à beira do palco, seguia o vo-
calista de um lado para o outro. Ele se movimentava
PROJEÇÃO RICA bastante e o fato de acompanhá-lo dava uma tensão
EM DETALHES às imagens, que eram projetadas ao vivo nos painéis
via central de vídeo, gerenciada pela equipe da ban-
Ao fundo, o grande painel de LED, que media 16 m de da”, conta Erich. •
Divulgação

Divulgação

Usados como arremate dos praticáveis, placas de Ao fundo, no painel de LED, a direção de arte dá o
LED também receberam imagens pré-produzidas tom de Carnivores, nova turnê do Linkin Park
Capa

Muito prazer, William Anglin


Novo iluminador do Linkin Park fala de suas preferências e do atual show da banda

L&C: Desde quando você trabalha com o Linkin L&C: O Linkin Park viaja o mundo em turnês que
Park? passam por centenas de cidades. Na sua opinião,
o suporte oferecido no Brasil por empresas como
William Anglin: Estou há quatro turnês prestando su- a LPL são tão bons quanto os oferecidos, por
porte técnico para a banda. Durante este período, vi exemplo, na Europa?
belos trabalhos de lighting design feitos para o grupo
por nomes que vão de AJ Penn até, mais recentemen- William: Me faltam palavras para elogiar o trabalho da
te, Oli Metcalfe. Hoje minha função mudou para a de LPL, mas, resumidamente, a empresa cumpriu com o
operador e diretor de luz, e estou gostando bastante. combinado e disponibilizou exatamente o equipamento
e estou muito feliz com essa oportunidade. Temos uma que pedimos. Além disso, conseguiu montar, paralela-
nova equipe de design se juntando a nós e estou an- mente, dois shows nossos, que foram realizados segui-
sioso para trabalhar com eles. damente, um dia após o outro. Não tive muito tempo
para passar as luzes do segundo show, mas graças ao
L&C: Fale sobre a uso integrado de luz e vídeos Erich [Bertti], que se responsabilizou por tudo, essa
pré-produzidos, algo que sempre vemos nos falta de tempo não se transformou em um problema.
show da banda.
L&C: Você destacou o comprometimento da em-
William: A visão artística da banda normalmente co- presa com relação à cessão de equipamentos.
meça com o conteúdo em vídeo. Meu objetivo é, no Então pergunto: qual é a sua preferência em re-
show, é complementar isso, fazendo com que o vídeo lação às mesas de luz?
dialogue adequadamente com a iluminação. Cabe a
mim saber o momento certo para que vídeos, luz ou William: Estou adorando trabalhar com a grandMA II
banda tenham destaque. Full Size. Ela realmente faz tudo o que promete e não
conheço outra mesa mais indicada para quem trabalha
L&C: Os equipamentos à base de LED estão pre- com time code, ou seja, com o show sincado. Também
sentes em muitos dos projetos de luz de grandes estou impressionado com o software 3D desenvolvido
artistas, inclusive no projeto do Linkin Park. Qual pela empresa, que, entre outras funções, permite ao
é a sua opinião a respeito deles? usuário trabalhar com o VectorWorks sem custos extras.

William: Eu adoro o fato de eles [os


equipamentos a base de LED] consumi-
rem pouca energia, serem leves e tam-
bém serem muito potentes. Muitas lu-
zes a mais e menos energia consumida
é o que precisamos para esses grandes
shows de rock. Os moving lights lan-
çados recentemente, por exemplo, são
capazes, ainda, de oferecer melhores
temperaturas de cor aos usuários. E
agora já não temos mais uma lâmpada
passando por uma série de lentes, en-
Divulgação

tão as luzes de LED estão representan-


do mudanças para formas mais inte-
ressantes de iluminação. E o progresso
O projeto cênico da tour Carnivores, que tem
vai continuar. Na verdade, a pergunta
rodado o mundo, reflete bem o comentário de
deveria ser “como você acha que será
William: “a visão artística da banda normalmente
um moving daqui a dez anos?”.
começa com o conteúdo em vídeo”

76 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 77
Show Rodrigo Sabatinelli

Pe l o
Br as il
Divulgação

Espetáculo interativo de música instrumental


tem soluções práticas e criativas
Conhecido por sua habilidade com o bandolim de presentativos, como, por exemplo, choro, baião,
dez cordas, Hamilton de Holanda está atualmen- maracatu, samba, bumba-meu-boi, moda de viola e
te em cartaz com três projetos distintos. Um de- chamamé, entre muitos outros, e que faz de Hamil-
les, no entanto, se diferencia por sua concepção ton mais do que um músico em cena.
cênica, composta por projeções e uma linguagem
visual interativa – algo, teoricamente, impensável “Estou muito feliz por este novo desafio, que me
para apresentações de música instrumental, princi- alimenta, abre novos horizontes e me permite tra-
palmente no nosso país. balhar com ferramentas como projeção, cenografia,
iluminação, além do uso de textos que homena-
Batizado de Pelo Brasil, o show em questão é, na geiam diversas regiões do meu país”, declara Hamil-
verdade, uma espécie de concerto multimídia, uma ton sobre o espetáculo, para o qual recebeu apoio do
travessia musical que exalta ritmos brasileiros re- programa Petrobras Cultural.

78 | áudio música e tecnologia


Dirigido por Marcos Portinari, com design de luz de
Marina Stoll, operação de luz de Cristiano Pedott e
criação e manipulação de conteúdo em vídeo do VJ
Boca, Pelo Brasil já passou por capitais como Brasília
e Rio de Janeiro e deve, como o próprio nome sugere,
rodar as “terras de Cabral” ao longo do ano de 2015.

Em entrevista à Luz & Cena, Pedott e Boca contam


detalhes de como são feitas a iluminação e as pro-
jeções do show e mostram que é possível desenvol-
ver um trabalho cênico diferente, baseado no uso de
poucos equipamentos e muita criatividade.

áudio música e tecnologia | 79


Show

homem Hamilton, que toca diante


Divulgação

de seu próprio passado.

“Temos, ainda, outros tipos de


interatividade do gênero, como a
cena em que o pai [de Hamilton]
aparece contando histórias curio-
sas a respeito de sua musicalida-
de e as cenas em que o público
aparece fazendo perguntas para
ele [o músico]”, conta. “Mas há
outros momentos, lindos e não
menos importantes, transmitidos
pelas animações, como as repre-
sentações do pampa gaúcho e do
sertão nordestino, entre outros
lugares do Brasil”, completa.
Por meio do Modul8, Boca possibilita um “encontro
virtual” entre o menino Hamilton, projetado em
vídeo, e o homem Hamilton, que toca ao vivo MOBILIDADE PARA
A ESTRADA
PROJEÇÕES TÊM VÍDEOS
Foi partindo do conceito de mobilidade e pratici-
E ANIMAÇÕES dade que nasceu a ideia de se utilizar rebatedores
tradicionais de fotografia como superfície de exi-
O conteúdo visual exibido no espetáculo é com-
bição das projeções interativas. Dobráveis, leves
posto basicamente por animações em 2D e vídeos e de fácil montagem e desmontagem, eles – sete
do acervo particular de Hamilton de Holanda. ao todo – têm dimensões e formatos distintos e
Responsável pela produção, edição e manipula- facilitam a vida da produção, além de imprimir
ção das animações em 2D, o VJ
Boca gerou o material utilizando

Divulgação
softwares como o After Effects,
indicado para composições, o
iMovie e o Adobe Premiere, sendo
o último um dos mais utilizados
em montagens de cinema e pu-
blicidade.

Ao vivo, como ferramenta de


execução, sua opção se dá pelo
Modul8, que, de acordo com o
próprio, “apesar de caro, é um
programa fácil de ser operado,
além de rápido e muito estável”.
É por meio da plataforma, por
exemplo, que Boca possibilita,
dentre outras coisas, um “encon-
tro virtual” entre o menino Ha- Em cena, Hamilton e campos verdejantes
milton, projetado em vídeo, e o projetados: clima bucólico no palco

80 | áudio música e tecnologia


Divulgação

Mobilidade e praticidade foram levadas em


conta para que rebatedores tradicionais de
fotografia fossem escolhidos como superfície
de exibição das projeções interativas

com perfeição o conteúdo desenvolvido pelo


VJ a partir de ideias do diretor Portinari.

“Como o projeto iria rodar o Brasil, precisá-


vamos de algo leve e prático. Ele [Portinari],
então, teve a ideia de utilizar os rebatedores
e me ligou perguntando se isso seria possível.
Fiz uns testes e, ao notar que rolaria, man-
damos brasa! O bom de trabalhar com mate-
riais desse tipo é que, em viagens, ocupamos
pouco espaço e não precisamos nos preocupar
com excesso de bagagem”, explica o VJ.

RIDER SIMPLES EXPLORA


A CRIATIVIDADE
Na vara da geral, de frente, estão dispostos
oito PC 1kW. Esses refletores, que recebem
filtros 1/4 CTB, são divididos em três áreas
e cobrem toda a movimentação do músico no
palco. No chão do proscênio, nas laterais da
boca de cena, são dispostos dois elipsoidais
ETC 50º, com filtros 1/4 CTB + Frost, que, a
45º, fazem uma luz intimista e complemen-
tar, tirando as sombras que as luzes do teto
provocariam no rosto do músico.

áudio música e tecnologia | 81


Show

Divulgação
No momento em
que cenicamente o
espetáculo segue para
o Sul, surgem as cores
verde, roxo e azul, “que
simboliza as chuvas”

Divulgação

Hamilton, as luzes e,
ao fundo, delicadas
sombras de animais

Em uma vara de luz de pino estão 12 PAR LED e pela diversificada musicalidade do bandolinista.
dois elipsoidais ETC 26º, que criam, respectiva- Quando ele fala e passeia pelo universo cultural
mente, ambientações e focos, enquanto que na do sertão nordestino e do cerrado, por exemplo, o
vara de contraluz são dispostos quatro aparelhos iluminador utiliza tons quentes, e, no momento em
Robe ColorSpot 1200 e quatro fresneis 2kW tem-
que cenicamente segue rumo ao Sul do país, opta
perados em tom lavanda escuro. De acordo com
pelo verde, pelo roxo e pelo azul, “que simboliza as
Pedott, iluminador do espetáculo, “esses fresneis
chuvas”, diz Pedott.
servem para promover efeitos de cor, gobo e mo-
vimentos que saem do palco e chegam à plateia,
além de luzes contrastadas”. O fim do show, no entanto, é o momento em que
o iluminador mistura todas essas cores e outras

LUZES EM “TONS BRASILEIROS” mais. “A movimentação da luz é um capítulo à par-


te, pois cada música tem uma única luz na qual
As cores usadas em aparelhos e refletores têm por estão contidas as informações do conceito artístico
base as regiões do Brasil que são representadas desenvolvido”, encerra Pedott. •

82 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 83
Me dia Com po s e r Cristiano Moura

CRIANDO UMA
MONTAGEM
RÁPIDA
Técnicas e métodos
para um trabalho a jato
Tempo. O item mais valioso no mundo atual. Hoje seja, se você resolver fazer um trim, ajustar cor,
em dia, tempo vale mais do que dinheiro em vá- colocar um efeito ou qualquer outra coisa, o con-
rios momentos. Organizar a vida pessoal com a vida ceito perde seu sentido.
profissional tem sido cada vez mais difícil, principal-
mente pelo fato de que a vida profissional acabou
PRIMEIRO PASSO:
entrando na nossa casa. Ter um escritório (no nosso
caso, uma ilha de edição em casa) é tão convenien- DISPONIBILIZAR A MÍDIA
te, mas, ao mesmo tempo, tão invasivo.
A primeira coisa a fazer é ver o material que te-
Bem, não adianta reclamar porque nada vai mu- mos. Para acessar nosso material sem perder
dar, então o que nos resta fazer é aprender a li- tempo com conversões, nada de usar a função
dar com a situação e aprender a aproveitar nosso “Import”. Utilizamos o protocolo AMA (Avid Media
tempo ao máximo. Uma clara recomendação de Access). Esta função está no menu file > AMA
qualquer palestrante que fale sobre administra- link, e permite que seu material seja disponibi-
ção do tempo (e isso vale para todas as áreas) lizado imediatamente independente do formato,
é que você não tente fazer tudo de uma vez até CODEC ou arquivo.
ficar perfeito. É mais rápido e eficiente produzir o
“material bruto” e colocar as ideias para fora, mas Porém, muitas câmeras não têm seu plug-in AMA
depois num segundo momento voltar e limpando, instalado como padrão no Media Composer, por-
corrigindo, refinando este material. tanto, dependendo da sua mídia, será necessário
instalar um plug-in AMA. Eles se encontram no
Neste artigo vamos mostrar um passo-a-passo de site www.avid.com/AMA. Basta fazer o download
como aproveitar ao máximo do seu tempo para e instalar. É gratuito.
uma primeira montagem. É importante entender
que a premissa deve ser “avançar ao máximo no Repare que clips linkados via AMA têm um ícone de
menor tempo possível” sem se perder com pe- uma corrente, enquanto clips importados ou conso-
quenos ajustes. Isso é uma segunda etapa. Ou lidados/transcodificados não têm (fig. 1).

84 | áudio música e tecnologia


Figura 1 – Link para AMA vs. Import

STORYBOARD: CRIANDO SUA HISTÓRIA


FORA DA TIMELINE
Storyboard é uma maneira de organizar uma história de
maneira simples e direta. Foi um processo desenvolvido
por Walt Disney e a ideia era simples: o criador da história
fazia desenhos simplórios divididos como uma história em
quadrinhos (fig. 2) e um desenhista profissional recriava a
sequência de desenhos.

Figura 2 – Exemplo de storyboard

áudio música e tecnologia | 85


Me dia Com po s e r

Este processo se expan-


diu para a criação de fil-
mes, desenhos animados
e muito mais, e é uma
técnica que também
pode ser utilizada para
edição no Media Compo-
ser. Para isso, expanda
bastante um bin com seu
material sem se preocu-
par com outras janelas e
habilite a a visualização Figura 4 – Clips do storyboard na timeline
por frames (fig. 1).

Nesta visualização é possível dar play, stop e usar


RETIRANDO OS EXCESSOS
o JKL em qualquer um dos frames para assistir
seu conteúdo. Vasculhe seu material e organize os
É uma excelente recomendação iniciar a grava-
vídeos que te interessam na parte inferior deste bin
ção de uma filmagem, aguardar alguns segundos
ou mesmo num bin sem material. O mais importan-
para apenas depois iniciar a ação. Da mesma for-
te é que os clips estejam organizados na ordem em
ma, quando a ação se encerra é recomendável
que você gostaria que eles estivessem na timeline.
gravar por alguns instantes. Esta prática é es-
sencial em diversos cenários com por exemplo na
No final, você terá algo como na figura 3. É um bin
criação de transições, porém faz com que 99,9%
com material organizado da esquerda para a direita,
dos vídeos tenham uma área no início e no final
de cima para baixo.
que podem ser retiradas.

Quando estiver satisfeito, para completar o processo,


basta selecionar todos os clips escolhidos e arrastar Para retirar este excesso, costuma-se utilizar a
para a timeline. Repare que eles serão montados um técnica que consiste em marcar um In e um Out
após o o outro, exatamente como estava no bin (fig. 4). na área a ser retirada e pressionar o botão “X”,
que representa a função “Ex-
tract”. Mas o Media Composer
possui ferramentas mais efi-
cazes para este tipo de situ-
ação. Elas se chamam “Top”
e “Tail”. Ficam localizadas em
Tools > Command Palette na
aba “Edit”. Atribua estes dois
comando ao seu teclado e
agora vamos entender como
funciona.

Com essa função, o curso de


posição serve para informar
até que ponto deve ser reti-
rado o excesso. Se você quer
retirar o excesso do início,
pressione o botão “Top”. Se
quiser retirar o excesso do fi-
nal, pressione “Tail” (fig. 5)
Figura 3 – Storyboard pronto

86 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 87
Me dia Com po s e r

Pronto! Dependendo do ta-


manho da sequência e da
quantidade de material,
este processo não deve de-
morar muito mais do que 20
minutos (se for pouco ma-
terial) a uma hora (se for
muito).

Neste momento você deve


ter uma timeline pronta
com uma sequência lógica
da sua história e com os
clips sem excesso. Uma boa
prática neste momento é se
Figura 5 – Funcionamento do Top e Tail afastar um pouco do traba-
lho, descansar a cabeça por
dez a 15 minutos e voltar para assistir em busca
de refinar, aplicar efeitos, transições, ajustar o
MUDANDO A ORDEM DOS CLIPS áudio e concluir a sequência.

Talvez a ordem que você selecionou no bin não te- Abraços e até a próxima.
nha ficado satisfatória. A me-
lhor forma de se alterar a or-
dem dos clips que já estão na
timeline é utilizando a ferra-
menta de segmento “Extract/
Splice-in” (fig. 6). Ela permite
que clips sejam rearranjados
sem que nada seja perdido na
timeline.

Para fazer este trabalho de for-


ma precisa, pressione o botão
Command (Mac)/Ctrl (Win) e
arraste os clips que deseja co-
locar em outra posição. Este
botão pressionado garante que
os clips sejam realocados man- Figura 6 – Splice-in Extract Segment Tool
tendo o ponto de corte. para realocar clips na timeline

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona cursos oficiais em Pro
Tools e treinamentos em mixagem na ProClass-RJ.

88 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 89
Iluminando Farlley Derze

aureliodesimoni.blogspot.com.br
Aurélio de Simoni

História dos Profissionais de


Iluminação Cênica no Brasil
Sexto capítulo: Aurélio de Simoni (Parte 1)
“O Luís Paulo Neném é da segunda geração, forma- o Jorginho. Ele pegou o facão e abriu a picada. Ele
da pelo pioneiro Jorginho de Carvalho. Eu sou da deve ter dito “sigam-me aqueles que querem traba-
terceira geração. O Neném é mais novo que eu e lhar com iluminação”. Até onde o meu conhecimento
todo mundo pensa que eu ensinei iluminação pra vai sobre a história, aprendi que antes os diretores
ele. Mas não... Foi ele quem me ensinou.” dos espetáculos teatrais criavam a iluminação e os
teatros tinham seus eletricistas. Mas, com o passar
Há algum tempo, o iluminador carioca Aurélio de Si- do tempo, esses eletricistas, pela prática e repetição,
moni, nascido em Cascadura em 17 de julho de 1948, começaram a opinar sobre a luz do espetáculo. Havia
me recebeu em sua casa. Enquanto eu montava a o ensaio e o eletricista daquele teatro se aproximava
câmera de vídeo, puxei o assunto sobre a formação do diretor e lhe fazia sugestões sobre iluminação, e
profissional do iluminador, perguntei se todos apren- alguns diretores aceitavam. O Jorginho foi o primeiro,
diam conceitos de eletricidade ou não; se havia esco- aqui no Rio de Janeiro, que passou a ser o respon-
las ou não... E ele usa os termos “primeira geração”, sável pela luz do espetáculo, isto é, pela criação. É
“segunda geração”, “terceira geração” para se referir responsável por coletar as informações artísticas e
a quem participou de forma mais direta da formação técnicas e apresentar uma luz ao espetáculo.
de um ou de outro. Passo-lhe a palavra.
O teatro não é uma arte individual, mas uma arte co-
O BANDEIRANTE letiva por excelência. Não é exercício de individuali-
dades. O iluminador contribui para a criação do espe-
“Aqui no Rio de Janeiro o bandeirante da história foi táculo. O Jorginho de Carvalho foi o nosso ponto de

90 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 91
partida. Ele é o homem que resolveu ser o responsá- seguinte eu perguntei ao Marcelo, meu filho, que tinha
vel pela criação de luz. Eu citaria outros que vieram quatro anos, o que ele queria fazer, e ele respondeu
depois com esse mesmo espírito de criar luz: o Luís que queria ir ao teatro, e na semana seguinte de novo
Paulo Neném, o Roberto dos Santos, o Zé Augusto, o e pronto: de tanto levá-lo e oferecer ajuda, me tornei
Ivanzinho Marques, o Marley... Enfim, era um grupo o contra-regra da peça. Três semanas depois, o José
que o Jorginho reunia, era a equipe dele. Eu entrei na Roberto Mendes, diretor do espetáculo, operava a luz e
equipe em 1978. Mais tarde, o meio da iluminação vai o som. Olha, eu não estou falando de 1920. Estávamos
conhecer outros talentos ,como Paulo César Medei- em 1976. O teatro Cacilda Becker não tinha mesa de
ros. Com o Jorginho eu aprendi o que é fazer teatro, luz. Operar a luz era ligar e desligar chaves monofási-
quem é a figura do iluminador, como se conduzir num cas. Para efeitos de cores o recurso era o papel celofane
processo de criação teatral, como deve ser meu com- azul, celofane rosa, amarelo... E combinava o rosa com
portamento profissional. Jorginho sempre, sempre, amarelo para chegar no âmbar (risos).
sempre ensina o que sabe... Enquanto ele cria luz, ele
ensina. Se vai montar luz, ele ensina.” MAIS FUNÇÕES E A PRIMEIRA
MONTAGEM DE LUZ
O COMEÇO
Então, o José Roberto Mendes precisou viajar para atu-
“Eu era casado com uma pessoa que estudava numa ar juntamente com Maria Pompeu. Assim, passei a ser
escola de teatro. Nós morávamos no subúrbio e ía bus- o contra-regra, o operador de som e o operador de luz
cá-la no prédio onde funcionava a Federação das Esco- do espetáculo. Eu trabalhava de segunda a sexta na
las de Teatro do Estado da Guanabara, na Praia do Fla- rede ferroviária, e aos sábados e domingos dentro
mengo, onde depois funcionou a UNE e mais do teatro. No ano seguinte, 1977, o espetá-
tarde foi demolido pelos militares. Na culo foi remontado no SESC da Tijuca,
“Eu não estou
época eu trabalhava na rede ferrovi- e o José Roberto Mendes perguntou
falando de 1920.
ária (RFFSA), era burocrata no pré- se eu podia dar aquela força para a
Estávamos em 1976. O teatro
dio do relógio da Central do Brasil. equipe. Eu topei. Meu filho Marcelo
Cacilda Becker não tinha mesa de
Quando ía buscá-la, enquanto a adorou, pois podia brincar noutro
esperava, eu ía à biblioteca fazer
luz. Operar a luz era ligar e desligar
teatro (risos). Hoje ele tem 37
pesquisas de história da arte para chaves monofásicas. Para efeitos de
anos e é meu assistente: Marcelo
ajudá-la nos trabalhos que eram cores o recurso era o papel
Molinari de Simoni. E, minha filha,
solicitados aos alunos. Uma vez celofane azul, celofane rosa, Ana Luzia Molinari de Simoni, com
foi proibida a entrada na bibliote- amarelo... E combinava o 24 anos, é responsável pela luz do
ca de pessoas que não eram alunos. rosa com amarelo para Teatro Poeira, em Botafogo.
Procurei o Pernambuco de Oliveira, que chegar no âmbar.”
era o decano na escola. Eu me lembro que O teatro do SESC, na Tijuca, tinha um
entrei na sala dele, e ele, por cima dos óculos, funcionário, conhecido pelo apelido de Jacaré,
disse ‘pois não’. Eu respondi ‘sou o marido de uma de contratado para operar a luz dos espetáculos realiza-
suas alunas e fui proibido agora de entrar na biblioteca dos lá. O Aurélio era o operador de luz da remontagem
e ela tem um trabalho de história da arte para fazer...’. de ‹Ambrósio, o boneco›, e o Jacaré operava a luz do
Ele me interrompeu e disse ‘eu lhe conheço, você é espetáculo seguinte, uma peça do Ziraldo, o "Flicts".
mais assíduo do que muitos alunos dessa escola.’ Então Uma das atrizes dessa última peça teve um problema
ele puxou um papel, autorizou a minha presença lá e e não podia continuar. A atriz de "Ambrósio, o boneco",
eu continuei fazendo as pesquisas para ajudá-la. Isso com quem Aurélio era casado, é convidada para fazer o
foi por volta de 1975, 76. papel. Ao ver que Aurélio permanecia no teatro, o Jaca-
ré (que também era funcionário da TVE) perguntou se
Nessa mesma época ela foi chamada para estrear como o Aurélio poderia operar a luz do segundo espetáculo,
atriz em um espetáculo infantil chamado ‘Ambrósio, o porque iria ali rapidinho na TV e voltava logo.
boneco’, no Teatro Cacilda Becker. Ela era o Ambrósio,
o boneco. Ela reproduzia o rosto do Carlitos, com uma Mas o Jacaré nunca voltava logo (risos). Chegava qua-
maquiagem, o rosto todo branco, bidoginho e chapéu. se sempre no final da peça. Na prática, eu era o ope-
No dia da estreia havia um certo rebuliço, e eu pergun- rador de luz dos dois espetáculos, um após o outro.
tei se eles estavam precisando de ajuda. O diretor e o Lá para outubro ou novembro daquele ano (1977),
produtor estavam tirando as coisas da kombi em frente no final da temporada, o Jacaré e o administrador do
ao teatro, e eu fui ajudar. A estreia foi ótima. No dia teatro se desentenderam e o Jacaré foi embora. Em
92 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 93
janeiro de 1978 estrearia um espetáculo
e o SESC não tinha mais um operador “‘Aurélio, você
O ENCONTRO E A CARREIRA
de luz. O administrador, Mauro, que não quer ser o operador
Em agosto chegaram dois espetá-
me viu ali muitas vezes, chegou de luz do teatro?’ Eu disse
culos ao SESC: ‘As quatro patas
pra mim e disse: ‘Aurélio, você não que tinha meu emprego, das 9h do poder’, com direção de Clóvis
quer ser o operador de luz do tea- às 18h, na RFFSA. Mas ele me Levi e iluminação de Jorginho de
tro?’. Eu disse que tinha meu em- convenceu de que dava para Carvalho, e o infantil ‘O leiteiro e a
prego, das 9h às 18h, na RFFSA.
conciliar porque os espetáculos menina à noite’, com direção e ilu-
Mas ele me convenceu de que dava
adultos começavam minação de Jorginho de Carvalho. Eu
para conciliar porque os espetáculos
às 21h.” disse pra mim mesmo que iria conhe-
adultos começavam às 21h. Ou seja,
cer o cara. Quando cheguei do meu em-
em janeiro de 1978 eu era oficialmen-
prego, tinha um cara assim meio cabeludo e
te o operador de luz do SESC, para operar a
me disseram: ‘aquele ali é o Jorginho de Carvalho’.
luz de todos os espetáculos. Eram seis refletores de
Eu fui até ele e disse ‘oi, Jorginho! Meu nome é Aurélio
mil e trinta refletores de quinhentos. Dos seis de mil,
e sou o responsável pela luz do teatro. Ele disse ‘eu
três eram para a geral branca, três para a geral âm-
já ouvi falar de você... o Ilo me disse que você fez um
bar, ninguém mexia naquilo. Já era padrão, sempre
efeito na coroação da onça›. Levantei a sobrancelha
funcionava assim, já estavam afinados (risos). Nessa
e prendi a respiração (risos). E ele disse ‘eu soube
condição, a primeira peça em que montei a luz foi ‘Se
que funcionou’ (risos). Uma coisa contra a qual, mais
chovesse vocês, estragavam todos’, com Tião d'Ávila
tarde, briguei muito, e orientei nas minhas oficinas a
e Priscila Camargo, e iluminação de Luís Paulo Peixoto
se evitar, foi interferir no trabalho de um iluminador.
(o Luís Paulo Neném)”.

A partir de agosto de 1978 eu saía da rede ferroviá-


Aurélio nos conta que até então ele se via como o
ria às 18h, ía para o SESC operar luz, depois ía virar
marido da atriz que estava no teatro “dando uma
a noite com o Jorginho, chegava na rede ferroviária
força”. “Eu me lembro do Luís Paulo Neném chegan-
às 9h da manhã, direto, sem dormir, Meu chefe tinha
do lá e dizendo que tinha que descer os refletores,
três horas de almoço, e eu pegava cinco almofadas. A
porque tinha que fazer isso e aquilo, e eu dizia que
secretária, que era minha amiga, me dizia ‘ele saiu’,
estava tudo funcionando (risos), e ele disse ‘não,
eu fechava a porta, dormia três horas, e de repente
não... tem que limpar, tem a posição das lentes’.
alguém batia na porta. Era ela, pra me avisar que ele
Eram lâmpadas de rosca e se o filamento não es-
havia regressado. Eu arrumava as almofadas, corria
tivesse bem colocado, ou seja, paralelo à lente,
para o banheiro e ficava lá com água no rosto até de-
perdia-se a luminosidade, perdia-se o rendimento.
sinchar e voltar pra trabalhar. Foi assim durante três
Ali comecei a pensar... ‘uhmm... é assim que se faz
anos, até que fui embora da rede ferroviária. Estava
luz’. Isso foi em janeiro de 1978. Em maio ou junho
decidido: eu iria trabalhar no teatro.” •
daquele ano foi pra lá um infantil, ‘O mistério das
nove luas’, com direção de Ilo Krugli. Um dos atores
veio me passar a luz, porque o iluminador do espe-
ixeiradourada.com

táculo não podia estar lá. O ator conhecia toda a luz


e veio passar a operação pra mim. Eu perguntei o
nome do iluminador e ele disse: Jorginho de Carva-
lho. Eu comecei a olhar aquela luz e aprendi que a
luz tem uma função dentro do espetáculo. Eu fiquei
tão entusiasmado que cheguei pro Ilo e falei ‘pô, Ilo,
na hora da coroação da onça a gente podia criar um
efeito... e o Ilo me autorizou. Hoje eu até me pego
rindo contando esta história, porque é horrível você
se meter na luz dos outros.
Espetáculo “O filho eterno”

Farlley Derze é professor do Instituto de Pós-Graduação (IPOG), diretor de Gestão e


Pesquisa da empresa Jamile Tormann Iluminação Cênica e Arquitetural, membro do
comitê científico do Núcleo de Estética, Hermenêutica e Semiótica da UnB. Doutor
em Arquitetura e Urbanismo pela UnB. E-mail: diretoria@jamiletormann.com.

94 | áudio música e tecnologia Até o mês que vem, com mais um caderno Luz & Cena!
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áudio música e tecnologia | 95


lugar da verdade | Enrico De Paoli

Como a política
atrapalha o áudio
Nunca fui muito de me meter a falar de política. Mas, nos últimos tempos, o assunto se tornou mais frequente
do que falar de futebol em Copa do Mundo. Se tornou um dever. Já estou numa idade em que posso começar
frases que começam com “na minha época...”. Pois bem, na minha época, comprar uma revista de áudio e
música importada custava tão caro, que meu pai me dava uma de presente, e eu passava o ano inteiro pra
baixo e pra cima com ela, não apenas lendo as matérias, mas sonhando com os equipamentos ali anunciados.
Sim, sonhando. Pois se comprar a revista já era caríssimo, comprar os equipamentos era perto do impossível.

E o que isso tem a ver com política? Sim, o Brasil era então um país fechado. Era proibido importar qualquer
coisa. Com o tempo, os mercados foram se abrindo e começou a tornar-se possível o acesso à tecnologia de
outros países. Mas, claro, tudo isso com preços altíssimos e a logística de compra complicadíssima, pois não
existiam lojas em que era fácil se chegar de carro e voltar pra casa com lindos equipamentos novos. E não
só isso: a tecnologia era diferente, e mesmo quem tinha o privilégio de ter alguns equipamentos em casa,
como um venerado porta-estúdio, não conseguiria jamais chegar perto dos resultados dos equipamentos
profissionais de um estúdio grande.

Pois bem, com a estabilização da moeda no Plano Real, o país cresceu e se tornou um mercado interessante
para muitas empresas internacionais que se instalaram no Brasil, e,com isso, muitas lojas de equipamentos
passaram a existir. E também as revistas, e a internet, e as redes sociais e todo o grande sucesso do áudio
e música no Brasil em consequência de um país com economia estabilizada e aquecida. Não somente os
equipamentos existiam no Brasil, mas também o acesso à informação, os vídeos no YouTube e os cursos e
treinamentos. Porém, tenho duas notícias: uma ruim e uma boa... Qual vocês querem primeiro?

A ruim é que não anda tão fácil comprar equipamentos. O dólar sobe, os equipamentos se tornam mais
caros. O mercado menos aquecido, circula menos dinheiro, as pessoas têm menos acesso. Ok, chega de
coisa ruim. Sendo um otimista nato, eu sempre prefiro focar nas coisas positivas do que nas ruins. Sendo
assim, a boa notícia é que ninguém mais precisa de milhares de dólares pra produzir um hit. E por que
não? Porque simplesmente com um computador e uma interface de áudio (ou placa de som) você hoje
tem uma gama de ferramentas muito maior do que qualquer grande estúdio que já tenha existido. Nossa!

É mesmo? Trabalhando in the box (somente dentro do computador)? Sim. Claro que esse tópico sozinho
já renderia um novo artigo (e pode ainda render!). É legal ter equalizadores clássicos e compressores
valvulados? Sim! Mas eu garanto que não é isso que vai fazer sua música ser um hit. Quando você puder,
invista sim no que quiser, mas, no momento, foque na música. Mixe pra ela. Lembre-se de que mesmo
com a política não ajudando tanto no momento, a tecnologia está ao seu lado. Empresas que só fabrica-
vam mesas multimilionárias hoje produzem pequenos (e ótimos) equipamentos pra home studios.

Outras empresas extremamente populares e “barateiras” compraram marcas fortíssimas e suas tecnolo-
gias. E várias destas empresas clássicas estão também representadas em forma de plug-ins. Com a vasta
evolução da tecnologia e dos métodos de fabricação, os equipamentos que antes custavam caríssimo hoje
são acessíveis.

Na Formula 1 investe-se milhões de dólares para se ganhar mais alguns milisegundos nas voltas. Se vocês
não comprarem equipamentos milionários, não se preocupem: vocês ainda darão voltas muito rápidas!

Enrico De Paoli é engenheiro de música. Trabalha com equipamentos clássicos e também com sistemas virtuais
dentro de seu computador, onde quer que esteja. Conheça sua discografia e métodos de treinamentos visitando
www.EnricoDePaoli.com.

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