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Ano XXVI- fevereiro/2015 nº281 - R$ 13,00 - www.musitec.com.

br

AUDIOARENA
O inovador projeto do estúdio que funciona sob as
arquibancadas de um dos maiores estádios do Brasil

HOME STUDIO
Diferentes tipos, vantagens e
desvantagens das conexões digitais
SONAR PLATINUM
Primeiros passos na nova
versão do programa
TESTES
MIXAGEM INTERFACE DE
AO VIVO o ÁUDIO BEHRINGER
ã
Equalizaeçm
(até s ores)
equalizad
FIREPOWER FCA610
Pequena no tamanho, grande nos recursos
A luz de Seu Jorge: Os detalhes do show que rodará o Brasil em 2015
A
CEN

Bruno & Marrone caem na estrada com apresentação cercada de tecnologia


Z&
LU

Media Composer: Nova versão permite edição em até 4K áudio música e tecnologia | 1
2 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 3
iSSN 1414-2821
EDiTORiAL
Áudio Música & Tecnologia
Ano XXVi – Nº 281/fevereiro de 2015
Fundador: Sólon do Valle

Direção geral: Lucinda Diniz -


lucinda@musitec.com.br
Edição jornalística: Marcio Teixeira

Para todos os gostos


Consultoria de PA: Carlos Pedruzzi

COLABORARAM NESTA EDiÇÃO


André Paixão, Cristiano Moura, Enrico De
Paoli, Fábio Henriques, Homero Sette, José
Carnaval, som, sol. O que mais podemos esperar de fevereiro? Sim: uma
Carlos Pires Jr., Lucas Ramos, Luciano
Áudio Música & Tecnologia cheia de matérias e colunas que vão tranformar Alves, Mauro Ludovico, Renato Muñoz,
seus próximos dias em uma experiência bem legal nos campos do conhe- Ricardo Honório e Rodrigo Horse.
cimento e da informação. Sem dúvidas, a seguir você encontrará páginas
que irão fazer a diferença no seu trabalho ou no seu lazer, pois, como bem REDAÇÃO
sabemos, o áudio e a música são paixões que podem ser encaradas de dife- Marcio Teixeira - marcio@musitec.com.br
rentes formas. Por mais que nosso foco seja o áudio profissional (grifo meu Rodrigo Sabatinelli - rodrigo@musitec.com.br
nessa última palavra), você não precisa ser um “pro” para viver, de corpo redacao@musitec.com.br
e alma, o que o som oferece de mais novo e interessante nesses modernos cartas@musitec.com.br
dias atuais. Então vamos a alguns de nossos destaques!
DiREÇÃO DE ARTE E DiAGRAMAÇÃO
Client By - clientby.com.br
Nesta edição 281 temos como matéria principal uma estúdio paulistano, o
Frederico Adão e Caio César
AudioArena, que une duas das maiores paixões do brasileiro: música e fu-
tebol. Projetado por Carlos Duttweller, o estúdio foi construído debaixo das Assinaturas
arquibancadas do Morumbi, e já foi palco de gravações como as que o Se- Karla Silva
pultura fez para a trilha sonora do seriado Dupla Identidade, da TV Globo. Vá assinatura@musitec.com.br
até a matéria e saiba tudo sobre este projeto único, incrivelmente versátil e
que, se antes de ser concretizado parecia loucura (como diziam os amigos Distribuição: Eric Brito
dos proprietários do AudioArena), hoje é sinônimo de criatividade e sucesso.
Publicidade
Mônica Moraes
Se o assunto que lhe interessa mais é som ao vivo, trazemos nessa edição
monica@musitec.com.br
uma matéria sobre o Holiday Festival, realizado no Estádio de Pituaçu (outro
estádio nesse editorial!), em Salvador, e sonorizado pela Vigor Som, que
impressão: Ediouro Gráfica e Editora Ltda.
empregou no evento equipamentos como um line array LS Audio e consoles
Avid, Yamaha e DiGiCo. O evento uniu grandes nomes da música popular, Áudio Música & Tecnologia
como Psirico, Jorge & Mateus, Os Travessos, Aviões do Forró e Harmonia do é uma publicação mensal da Editora
Samba, entre outros, e agitou, durante dois dias, a vida de mais de 50 mil Música & Tecnologia Ltda,
espectadores. O fã de som ao vivo também é brindado nas próximas páginas CGC 86936028/0001-50
com mais uma seção Notícias do Front, de Renato Muñoz, que dessa vez traz insc. mun. 01644696
um texto que aborda equalizadores e equalização. Vale muito a leitura. insc. est. 84907529
Periodicidade Mensal
Para quem quer ficar por dentro do que acontece no universo dos produ-
ASSiNATURAS
tos, além de nossa seção Novos Produtos estar aí cheia de novidades, tam-
Tel/Fax: (21) 2436-1825
bém trazemos mais um capítulo do processo de fabricação do subwoofer
(21) 3435-0521
H.Sette 2x18” SW6000nd e o teste da interface de áudio Behringer Firepower
Banco Bradesco
FCA610, bem avaliada pelo nosso colaborador Lucas Ramos. Ag. 1804-0 - c/c: 23011-1

No caderno Luz & Cena a capa vai para o novo show de Seu Jorge, que Website: www.musitec.com.br
daqui a pouco começa sua superturnê nacional. O show de Bruno & Mar-
rone, repleto de tecnologia, também é destaque na L&C, que ainda fala Distribuição exclusiva para todo o Brasil
de produtos, mostra notícias e conta com as sempre valiosas colunas pela Dinap S/A – Distribuidora Nacional de
Media Composer, Iluminando e Final Cut. Publicações, Rua Dr. Kenkiti Shimomoto, nº
1678, CEP 06045-390 – São Paulo – SP”
Agora é com você! Boa leitura!
Não é permitida a reprodução total ou
parcial das matérias publicadas nesta revista.

Marcio Teixeira AM&T não se responsabiliza pelas opiniões


de seus colaboradores e nem pelo conteúdo
4 | áudio música e tecnologia dos anúncios veiculados.
áudio música e tecnologia | 5
34 44 Criando o subwoofer H.Sette 2x18” SW6000nd(Parte 3)
Novas etapas da construção do equipamento
Homero Sette e Mauro Ludovico
Gol de Placa
Estúdio AudioArena: música e 50 Desafiando a Lógica
Preciosidades do YouTube para você aprimorar
futebol num mesmo ambiente seus conhecimentos
Rodrigo Sabatinelli em Logic Pro X (e treinar seu inglês!)
André Paixão

54 Mixagem
Plug-ins pra levar pra uma ilha deserta
(Parte 2) – Compressores
14 Plug-ins – Ruído? Não, obrigado! (Parte 1)
Conheça mais sobre plug-ins de redução
Fábio Henriques

de ruído da Waves
Cristiano Moura 62 Produção Fonográfica
Gravando um grande mestre do violão: Uma coletânea
de obras inéditas de Geraldo Ribeiro
20 Notícias do Front
Equalizadores e equalização (Parte 1) – Considerações
José Carlos Pires Jr.

importantes para o seu trabalho diário


Renato Muñoz 66 Sonar
Sonar Platinum: Começando a conhecer a nova
versão do programa
24 Em Casa
Conexões Digitais (Parte 1): Tipos de conexões
Luciano Alves

Lucas Ramos
96 Lugar da Verdade
Cópias x réplicas: As perdas de gerações
30 Teste
Interface de áudio Behringer Firepower FCA610
Enrico De Paoli

Pequena no tamanho, grande nos recursos


Lucas Ramos
seções
40 Holiday Festival
Line nacional sonoriza evento em Salvador editorial 2 notícias de mercado 6
Rodrigo Sabatinelli
novos produtos 10 índice de anunciantes 95

78
show
Aqui e Agora – Bruno & Marrone caem na
estrada com show tecnológico

74
por Rodrigo Sabatinelli

82
media composer
capa Nova versão permite edição nativa em até 4K
Feliz Ano Novo – Seu Jorge e oferece suporte a novos formatos
mostra prévia de megaturnê por Cristiano Moura
que vai rodar o país em 2015

86
por Rodrigo Sabatinelli

PRODUTOS ........................................... 70 iluminando


EM FOCO .............................................. 72 Unindo ciência e luz para criar conceitos
F i nal C ut .............................................. 92 por Rodrigo Horse

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áudio música e tecnologia | 7
nacionais de pró-áudio e showbusiness ainda
têm muito a evoluir

NOTÍCIAS DE MERCADO

RØDE MiCROPHONES E EVENT ELECTRONiCS


TÊM NOVO REPRESENTANTE NO BRASiL
A Oxedio, através de comunicado oficial, anunciou em janeiro

Divulgação
que a empresa é a nova representante para o Brasil das mar-
cas australianas Røde Microfones e Event Electronics. Segundo
o informe divulgado, os produtos das duas marcas estariam
disponíveis para a comercialização ainda em janeiro e o obje-
tivo da Oxedio é trabalhar para que ambas estejam no maior
número possível de pontos de venda em todo o Brasil. A Oxedio
garante que os lojistas perceberão grandes mudanças com re-
lação à comercialização tanto de produtos Røde quanto Event.

"A Røde Microphones está muito contente em começar este


trabalho com a Oxedio, que é uma empresa que conhece nos-
sos produtos, está convencida de sua altíssima qualidade e
acredita no potencial que temos para crescer. Isto é o que
buscamos: pessoas que gostem de nossos produtos e que es-
tejam dispostas a fazer parte do Team Røde", destacou Edu-
ardo Martinez, coordenador de vendas para a América Latina Microfone NT-USB, da Røde: Oxedio é nova
da Røde Microphones/Event Electronics. representante da marca no mercado brasileiro

EQUiPO PROMOVE CONVENÇÃO DE


REPRESENTANTES COMERCiAiS
No dia 14/01, a Equipo, especializada em instrumentos musi- mandada pelos gerentes comerciais Adriana Ochoa e Joey
cais, áudio profissional e iluminação, atuando como distribuidora Gross Brown, que fizeram uma análise de 2014, dando
exclusiva de mais de 15 marcas no país, promoveu em sua sede destaque para o desempenho e resultados obtidos com
mais uma edição da Convenção de Representante Comerciais. as vendas no ano. Além disso, os gerentes apresentaram
O evento, realizado desde 2011, tem o intuito de fazer uma re- a nova política comercial da empresa, focada nos clientes
trospectiva do ano que passou, além de apresentar e promover de representantes. Já a segunda etapa da convenção foi
o debate sobre as ações da empresa para o novo ano. voltada à apresentação das diretrizes das marcas para
2015, além de tirar dúvidas técnicas e comerciais sobre
A convenção reuniu todo o quadro de representantes da os produtos. A Equipo já informou que um novo encontro
Equipo e foi realizada em duas etapas. A primeira foi co- acontecerá em abril.

CABOS GOLDEN TEM NOVO CATÁLOGO


No mercado desde 1991, a desenvolvedora de produtos e distribuidora Cabos Gol-
den, que tem base na cidade de São Paulo, anunciou em janeiro o lançamento de
seu novo catálogo. Segundo a marca, o material foi desenvolvido para pessoas
físicas e jurídicas dos segmentos de sonorização (como músicos, técnicos de
áudio, lojas de instrumentos musicais) e áudio e vídeo (técnicos, editores, vi-
deomakers, entre outros).

São 48 páginas de informações sobre produtos, divididos em soluções em áu-


dio e vídeo, cabos montados, medusas e multicabos, cabos em rolo, plugues
e conectores, adaptadores, painéis e acessórios. O catálogo digital pode ser
conferido em www.cabosgolden.com.br/catalogo_2015. A versão impressa
também já está disponível.

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PRiDE MUSiC TRAZ A REAN AO MERCADO NACiONAL
A Rean, empresa que atua no mercado mundial de conectores de áudio e vídeo profissional, anunciou recentemente sua che-
gada do Brasil, representada pela Pride Music.

Para que todos possam conhecer melhor os produtos, a Pride lançou um site brasileiro da marca (www.rean-brasil.com.br), que
segue o mesmo padrão visual do site internacional. Além da fidelidade no visual, o novo site é bem objetivo, a navegação é intuitiva
e rapidamente se encontra o produto desejado. Os itens estão agrupados por linhas, e com apenas dois cliques se chega até eles.

LiNCOLN OLiVETTi (1954-2015)


Faleceu no dia 13/01, aos 60 anos, Lincoln Olivetti – maestro, produtor,
compositor e arranjador que tem seu nome gravado entre os dos princi-
pais da história da música brasileira. De acordo com sua assessoria de
imprensa, um infarto foi a causa da morte.

Nascido em Nilópolis-RJ e considerado um dos criadores do som pop nacional


dos anos 1970 e 1980, Olivetti trabalhou, ao longo de sua carreira, com no-
mes como Tim Maia, Jorge Ben, Roberto Carlos, Caetano, Gil, Bethânia, Rita
Lee, Lulu Santos e Ed Motta. E foi deste último um dos mais impactantes,
emocionados e esclarecedores posts publicados em homenagem a Olivetti.
Em seu Facebook, Ed Motta publicou um grande texto em homenagem ao
maestro, que começou a estudar piano aos três anos e que com nove já se
apresentava em bailes do subúrbio com seu conjunto.

"Muito importante reconhecer, estudar e entender que apesar do Lincoln


ser brasileiro, ter morado a vida inteira aqui, o discurso e referência da mú-
sica dele não são exatamente 'brasileiros' (...). Ele ia lá, e de um estúdio no
RJ colocava todo mundo num formato realmente internacional, como nunca
mais se viu aqui", afirmou o cantor, em passagem de seu post.

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NOVOS PRODUTOS

HARMAN LANÇA SUBWOOFER JBL 118S


Exclusivamente desenvolvido para auxiliar na reprodução de baixas frequências, o
subwoofer JBL 118S foi recentemente lançado pela Harman no mercado brasileiro
e é, de acordo com a própria fabricante, uma boa opção para o reforço nos graves,
sendo um complemento recomendado para as linhas JS e SPM da marca.

Com componentes projetados através de software de cálculo por elementos finitos,


o produto proporciona uma resposta plana e de grande eficiência sem aumentar o
peso. Possui amplificador de 300 W RMS classe AB e entradas, saídas do tipo XLR e
um painel traseiro que conta com controle de ganho, conectores de entrada e saída
HPF, conectores de entrada e saída Line R e L, além de LEDs indicadores e seletor
de tensão. O JBL 118S tem sensibilidade de 97 dB SPL e resposta de frequência de
42 - 165 Hz e mede 62 x 52,6 x 64,7 cm, pesando 48 kg.

Divulgação
www.jblselenium.com.br
www.harmandobrasil.com.br

AMERCO BRASiL APRESENTA NOVO MONiTOR PROEL CX15A


O CX15A, da série Axiom da Proel, que chega ao país via Amerco Brasil, é um monitor coaxial de palco desenvolvido especifica-
mente para som ao vivo, sendo que sua aparência compacta, discreta (o equipameno tem apenas 34 cm de altura e 55 cm de
largura, com 18.5 kg), faz com que, inclusive, funcione muito bem em teatros e estúdios de televisão. A combinação entre um
transdutor de alta performance, uma estrutura física cuidadosamente desenhada e uma parte eletrônica robusta fornece um re-
sultado sonoro com um SPL bem alto e de grande inteligibilidade.

O novo monitor trabalha com uma resposta de frequência de 60 Hz – 18 kHz e conta


com um módulo digital DA Series, que representa uma nova geração de amplificado-
Divulgação

res classe D com SMPS digitalmente controlado. A tecnologia inovadora usada nesses
amps oferece uma definição de som superior em qualquer frequência de áudio, dinâ-
mica muito elevada – também para sinais de nível baixo – e distorção bastante re-
duzida mesmo quando operando na potência máxima. De acordo com a fabricante, a
qualidade sonora pode ser comparada à obtida com sistemas analógicos de classe AB.

www.axiomproaudio.com
www.amercobrasil.com.br

MiNi KAOSS PAD 2S: EFEiTOS NA PALMA DA MÃO


Como um Mini Kaoss Pad 2 com mais energia, o Mini Kaoss Pad 2S é uma poderosa unidade de efeitos de dimensões
bem reduzidas. O dispositivo inclui o bastante conhecido touch pad da Korg, que permite controlar intuitivamente 100
efeitos diferentes, além da função sampler (o "S" presente no nome do produto se refere ao sampler), que facilita
carregar e disparar uma variedade de sons.

A nova função sampler permite preparar efeitos sonoros ou samples de voz e usar estes em seu trabalho
de DJ ou em performance ao vivo. De acordo com as necessidades do usuário, é possível escolher
entre três métodos de reprodução – One Shot, Gate e Loop –, alterar a velocidade de reprodução
(modificação de afinação) e especificar a posição de início de reprodução (ponto cue). Além
disso, o gravador de samples permite capturar sons inseridos através de linha ou do micro-
fone interno. A unidade também pode ser usada como player de áudio, bastando, para
isso, salvar suas músicas favoritas em um cartão e usar o Mini Kaoss Pad 2S para aplicar
Divulgação

efeitos para divertimento. O produto trabalha com arquivos WAV e MP3.

www.korg.com.br
www.pridemusic.com.br
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NOVOS PRODUTOS

CONHEÇA A CAiXA LEXSEN LPX-2015A


Após o lançamento da caixa ativa LPX-2015, chega ao mercado um grande reforço para completar a fa-
mília de áudio da Lexsen, marca atualmente comercializada em mais de 20 países: a caixa LPX-2015A.
Com design moderno e projetadas em plástico injetado, as caixas LPX-2015A possuem dois woofers de 15
polegadas, com um driver de titânio, oferecendo 500 watts de potência para as mais variadas instalações.

Bivolts, elas possuem bluetooth, entrada USB e SD card e vêm com rodinhas traseiras para facilitar o
transporte. Entre outras características do produto que valem ser citadas está o fato de que as caixas
são equipadas com MP3 player, possuem display em LCD, funcionam por controle remto e contam com
equalizados de duas bandas (graves e agudos).

Divulgação
www.lexsen.com.br
www.proshows.com.br

TiAFLEX COM NOViDADES


A Tiaflex, loja e fabricante com base em São Paulo presente no mercado desde 1985 e que atua nos segmentos de cabos profissionais
para áudio, vídeo, informática, telefonia e eletrônica., anunciou novos nomes qua agora integram seu já vasto "arsenal" de produtos.

A primeira novidade é o Instrument Cable 20 - 2 x 0,20mm², que conta com


secção 2 x 0,20mm2 (24 AWG), blindagem dupla com película semicondutiva
Divulgação

e blindagem de cobre ofhc tipo trançada, diâmetro externo de 6 mm e plu-


gues especiais. Está disponível em versões P10 x P10, P10 x P10 têxtil e P10
x P10 90° (foto), com um, três, cinco ou sete metros. O outro lançamento
é o cabo de pedal Instrument Cable 20 - 2 x 0,20mm², que tem 25 cm de
comprimento e está disponível na versão P10 90° x P10 90°. No que diz res-
peito a secção, blindagem, diâmetro externo e conectores, tem as mesmas
características do Instrument Cable 20 - 2 x 0,20mm².

www.tiaflex.com.br

COMPARTiLHAMENTO DE MÚSiCAS:
TRUNFO DO JBL SYNCHROS E40BT
Com design moderno e potência de áudio, o JBL Synchros Brasil nas cores preta e branca, é o
E40BT oferece conforto para os ouvidos e conta com a função sistema ShareMe, responsável pelo
Pure Konnexx de cancelamento de eco, permitindo chamadas compartilhamento de músicas en-
telefônicas em mãos-livres com excelente qualidade de som. tre headphones do mesmo modelo.
A conexão Bluetooth exclui a necessidade de fios, porém, Para isso, basta parear o fone ao
na ausência da bateria recarregável com 16 horas de du- dispositivo que gera o áudio e pos-
teriormente ao outro fone. Ambos
ração, o fio pode ser utilizado normalmente. O controle
Divulgação

estarão conectados e poderão re-


através do botão multifuncional, presente na concha es-
produzir a mesma música ou o áu-
querda do aparelho, permite mudança de faixa, volume
dio do mesmo filme.
e atender chamadas telefônicas com poucos toques.

www.jblselenium.com.br
No entanto, a maior novidade do E40BT, disponível no www.harmandobrasil.com.br

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Plug-ins | Cristiano Moura

Ruído? Não,
obrigado! (Parte 1)
Conheça mais sobre plug-ins de redução de ruído da Waves
Redução de ruídos... A Waves dominou por um bom tem- O Noise Gate é um processador que atua baseado em ga-
po este segmento e, sem dúvida, foi um dos motivos nho, e funciona reduzindo e/ou eliminando todo o sinal a
pelos quais se tornou peça essencial nos estúdios. partir de um certo ganho, esteja o sinal com ou sem ruído. O
termo “gate” em inglês significa “portão”, e podemos pensar
Antes de escolher o processador é importante enten- exatamente desta forma. É um “portão” que se fecha e evita
der a diversidade de ruídos que podemos ter numa que o sinal passe a partir de um certo nível (fig. 1).
gravação, pois o mesmo plug-in que pode reduzir ru-
ído do ar-condicionado, por exemplo, não é o mesmo Resumindo, serve para eliminar o sinal por completo (por
para amenizar distorções. exemplo, eliminaria vazamentos de bateria no canal do
tom sempre que o mesmo não estiver sendo executado),
Outro importante ponto que precisamos ter em mente mas não serve para separar, extrair e reduzir o ruído de um
é que não há nada para “eliminar” ruído. Em vez disso, ar condicionado enquanto uma pessoa faz uma locução.
apenas “amenizamos” o nível de ruído. O termo “redu-
tor” de ruído foi muito bem escolhido pela indústria, e é Para este segundo é que o Noise Reduction aparece. Ele
essencial aceitar e aprender a conviver com as limita- funciona baseado em amostras e análise. Ou seja, o usuário
ções de cada ferramenta. primeiro identifica ao processador qual ruído ele quer redu-
zir e o Noise Reduction se encarrega de amenizar este ruído
ESCLARECENDO - NOISE GATE sem degradar o sinal principal – no caso, a voz da locução.
VS. NOISE REDUCTION
CHIADO, AR-CONDICIONADO ENTRE
Os dois processores têm comportamentos bem dife- OUTROS RUÍDOS CONSTANTES
rentes, mas muitas vezes são confundidos por conta
do seu nome similar. Descontando o ruído conhecido como “hum” (que tem
um plug-in específico), pode-
a-volute.com

mos reduzir ruídos constan-


tes com o X-Noise (fig. 2).

Apesar da interface com o usu-


ário ser muito simples, há mui-
to desenvolvimento e cálculos
sendo feitos “por trás das câ-
meras”, e isto significa que ele
é um devorador voraz de CPU.

Apesar de rodar em tempo


real, a recomendação é pro-
cessar/renderizar o resultado
final tão logo seja possível.

Figura 1 – Gráfico representando a atuação do Noise Gate

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áudio música e tecnologia | 17
Plug-ins

timbre do sinal principal


também começa a ser
prejudicado.

Para ajudá-lo a compre-


ender o que está sen-
do reduzido, a Waves
implementou um botão
chamado “Difference”,
que se localiza no canto
direito inferior. Com ele,
o usuário pode ouvir, de
fato, o que está sendo
extraído do áudio, e vai
ficar muito fácil perce-
ber quando o sinal prin-
cipal também começa a
Figura 2 – X-Noise: contra ruídos constantes ser afetado.

Sua utilização é bem simples. Primeiro, é necessário se- Outro indicativo são os gráficos. Ao lado do parâme-
lecionar uma pequena área de áudio contendo apenas tro “Reduction” temos um VU que apresenta a quan-
o ruído (fig. 3). Uma vez selecionada, pressionamos o tidade de redução de ganho aplicada no momento.
botão “learn” que significa “aprender” e iniciamos a re-
produção, e de fato, o X-Noise estará aprendendo qual o Também temos os gráficos em que a linha branca
ruído que o usuário pretende reduzir. você já sabe que representa a amostra do ruído. Já a
linha verde indica o nível do sinal de entrada (origi-
Uma vez que o perfil de ruído tenha sido capturado (re- nal) e a linha vermelha indica o sinal de saída. Tudo
presentado pela linha verde), o usuário pode escolher o depende do sinal em questão, mas, para dar um pon-
ponto inicial de atuação com o parâmetro Threshold e a to de partida, há de se tomar cuidado ao notar que a
quantidade de redução com o controle “Reduction”. redução foi acima de 6-10 dBs se comparado ao sinal
de entrada, pois o processador começa a perder efici-
Simplificando, o Threshold regula “quando”, e o Reduc- ência e a alterar o sinal principal.
tion ajusta “quanto”. Como dito anteriormente, apesar
de algoritmos bem complexos, para o usuário os contro- X-NOISE VS. Z-NOISE
les são do tipo “direto ao ponto”.
É muito comum usuários terem a coleção completa da
COMO SABER A HORA DE PARAR? Waves em suas máquinas e ficarem na dúvida entre o
X-Noise e o Z-Noise. A informação também pode ser
Experimentando os parâmetros, provavelmente será importante para usuários que estão na dúvida sobre
notado que depois de um certo valor de redução o qual dos dois comprar.

Figura 3 – Trecho de ruído selecionado para amostra

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Plug-ins

Figura 4 – Z-Noise é uma versão mais recente e moderna do X-Noise

O X-Noise foi o primeiro a surgir e foi sucesso absoluto. com apenas ruído e coletar uma nova amostra para o
Entenda o Z-Noise (fig. 4) como uma versão mais re- X-Noise “aprender”.
cente e mais moderna do X-Noise.
Aliás, No Z-Noise, além do perfil “Learn”, que se baseia em
Há três pontos de destaque no Z-Noise. Primeiramente, “aprender”, existe também o perfil “Extract”, que funciona
desenvolvedores puderam trabalhar em cima de algo- como se fosse um detector automático. Pode ser útil se
ritmos mais complexos e precisos, pois as máquinas não houver um trecho de áudio puro com apenas o ruído.
de hoje podem aguentar um processamento bem maior
do que na época do lançamento do X-Noise. Ou seja, O terceiro ponto está no gráfico, que possui um equa-
teoricamente mais eficiente, porém bem mais pesado. lizador embutido. Este serve para ajudar a esculpir
ainda melhor o ruído a ser extraído e a conseguir um
O segundo ponto são seus modos de trabalho. Co- melhor resultado.
nhecido como “adaptive”, o Z-Noise tenta se ajustar
ao ruído em tempo real, ou seja, se o ruído mudar Voltado ao exemplo do motor, apesar de conter informa-
levemente, o Z-Noise é capaz de perceber e fazer os ções nas frequências baixas, médias e altas, é possível
ajustes necessários. Por exemplo, se o ruído for um que o ruído incomode mais nos graves do que nos agu-
motor e houver mudança na rotação deste motor, a dos, e neste momento o equalizador é muito bem-vindo.
frequência e o timbre serão alterados, mas a função
“adaptive” resolverá. Já com o X-Noise seria necessá- Encerramos aqui a primeira parte da série sobre reduto-
rio repetir o processo de procurar uma área de áudio res de ruído da Waves. Até a próxima! •

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona cursos oficiais em Pro Tools, Waves, Sibelius e os
treinamentos em mixagem na ProClass. Também é professor da UFRJ, onde ministra as disciplinas Edição de Trilha Sonora, Gravação e
Mixagem de Áudio e Elementos da Linguagem Musical. Email: cmoura@proclass.com.br

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NOTíCiAS DO FRONT | Renato Muñoz

eQuaLiZadoReS

(PaRte 1)
e eQuaLiZaÇão
Considerações importantes para o seu trabalho diário
Equalizador EMI TG12412
Equalizadores foram desenhados para trabalhar diretamen- equalizadores é a maneira como nós ouvimos os sons.
te no volume de frequências escolhidas pelo engenheiro de É sabido que não ouvimos igual todas as frequências.
som. Diminuindo ou acrescentando volume das determina- Somos mais sensíveis às médias do que às baixas e
das frequências, consegue-se chegar a um resultado sono- altas frequências. Isto é algo ao qual nos acostumamos
ro desejado, mas estas alterações também podem afetar a desde o nosso nascimento.
relação de fase das frequências em questão.
uM PouCo de PRÁtiCa
Sendo assim, devemos levar em consideração que po-
demos estar consertando o sinal de áudio de um lado e Quando você for utilizar um equalizador, sempre che-
estragando de outro. Sempre é importante checarmos que a sonoridade do instrumento em questão dentro
como é a sonoridade do sinal em questão com e sem de um contexto geral, ou seja, você pode começar a
equalização, e a melhor maneira de se fazer isto é utili- equalização com o instrumento em solo, porém sempre
zando o Bypass do equipamento. é bom ouvir com todos os outros instrumentos tocando
ao mesmo tempo dentro da mixagem.
Podemos notar uma grande diferença de sonoridade en-
tre equalizadores (sem levar em consideração ruídos ou Normalmente utilizamos o equalizador mais para tirar
outros problemas técnicos). Isto acontece porque o de- do que colocar volume nas frequências. O nosso ouvido
senho do equipamento pode ser considerado mais “mu- é mais tolerante a cortes do que a acréscimos. Duran-
sical” ou mais “natural” do que outros. te a mixagem podemos chegar a uma sonoridade mais
agradável se no geral cortarmos mais frequências do
A melhor maneira de sabermos o valor de um equalizador que acrescentarmos.
é quando depois de fazer mudanças radicais no som do
sinal em questão o resultado sonoro não parece artificial A equalização, ou a falta dela, vai depender muito do es-
e nem que foi modificado, além, é claro, de não termos tilo musical com o qual você está trabalhando. Na música
problemas com ruídos ou perda no sinal. clássica, que é mais purista, normalmente não se usa ne-
nhuma equalização, enquanto que, no jazz, normalmente
Um outro aspecto importante quando falamos sobre filtros são usados apenas para “limpar” o som. Já na mú-

22 | áudio música e tecnologia


sica pop a necessidade de criar novos
sons passa pela utilização do EQ.

Além de criar sons diferentes, a equa-


lização também pode ser muito bem
utilizada para distinguir instrumentos
dentro da mixagem. Se temos, por
exemplo, dois violões tocando a mes-
ma linha, podemos mudar a equali-
zação de um deles para que soem di-
ferentes. Está técnica funciona tanto
dentro do estúdio quanto ao vivo.

FaLaNdo SobRe Em destaque, o Pultec EQH-2: equalizadores


eQuaLiZadoReS estão presentes no áudio desde sempre

O equalizador foi desenvolvido pela indústria de telefo- utilizar o equipamento escolhido. Como veremos, as possi-
nia, que, nos seus primórdios, tinha muitos problemas bilidades de escolha são grandes e os problemas também.
com a inteligibilidade do sinal de áudio. Grandes dis-
tâncias tinham que ser percorridas, e como os equipa- Uma coisa interessante sobre equalizadores é que nem
mentos eram muito rudimentares, a qualidade sempre sempre precisamos usar um quando queremos fazer al-
ficava comprometida. gum tipo de “correção” sonora. Como veremos, existem
algumas formas de fazer esta “correção”, ou modifican-
Desde então, o equalizador é utilizado basicamente com do diretamente na fonte sonora ou na escolha do micro-
duas finalidades: a primeira continua sendo fazer modifica- fone e definição de seu posicionamento.
ções no sinal de áudio para melhorar a sua inteligibilidade,
e a outra forma de utilização tem como objetivo modificar eQuaLiZaNdo SeM eQuaLiZadoReS
o seu som original, criando, assim, novas sonoridades.
Pode parecer um pouco estranho, porém, como estamos fa-
Não importa para qual finalidade será utilizado o equaliza- lando sobre equalizadores, é bom que fique claro que nem
dor: primeiro temos que decidir com qual tipo de equaliza- sempre precisamos de um equalizador para se chegar a um
dor iremos trabalhar, e, mais importante ainda, saber como som desejado. Existem algumas técnicas bem
simples que podem nos fazer economizar
tempo e a utilização de um equalizador.

Estas técnicas vêm da época em que


os equalizadores ainda eram mui-
to escassos nos estúdios e, além do
mais, inseri-los dentro do sinal de áu-
dio podia gerar ou ruídos indesejados
ou a própria perda no sinal de áudio.
Sendo assim, os engenheiros sempre
optavam por “equalizar” o som antes.

A afinação do instrumento (principal-


mente os de percussão) pode ser
uma forma de equalizar sem utili-
zar equalizadores. Podemos con-
versar com o músico e passar as
nossas necessidades de timbres,
e com um pouco de experiência
ele pode perfeitamente chegar a
um resultado que nos ajude.
A bateria é um instrumento formado por peças
que possuem diversas sonoridades diferentes
áudio música e tecnologia | 23
Notícias do Front

Para mim, não existe exemplo melhor de proble-


mas com a inteligibilidade do que assistir a uma
missa celebrada por um padre já de mais idade,
com um grande sotaque do leste europeu, den-
tro de uma igreja católica que foi projetada para
missas cantadas, e não faladas.

Com um pouco mais de experiência, começamos


a notar que uma determinada faixa de frequências
influencia diretamente na inteligibilidade do
programa. Se soubermos trabalhar da forma
correta nesta região de frequências, certamente
conseguiremos uma boa resposta do sistema.

O equalizador é o instrumento que utilizamos


para fazer as correções necessárias no sinal de
áudio para que a tal inteligibilidade seja atingi-
Com o posicionamento correto podemos conseguir da. Estas correções podem variar de um sim-
o resultado sonoro ideal para cada instrumento ples filtro até a utilização de mais de um equalizador
para chegar à sonoridade desejada.

A escolha do microfone é muito importante quando esta-


É bom que se fique claro que nem sempre a equalização será a
mos tentando “equalizar sem um equalizador”. Microfones
salvadora da pátria. Existem problemas sérios, principalmente
possuem características sonoras diferentes, que se apli-
os de acústica, que podem ser até certo ponto “mascarados”
cam a fontes sonoras diferentes. Se conseguirmos casar
com uma boa equalização e outras técnicas dentro do sistema
um com outro, certamente o resultado sonoro será mais
de sonorização, porém nunca resolvidos por completo.
fácil de ser atingido (sem a utilização do equalizador).

Finalmente, temos o posicionamento do microfone. Depen-


FREQUÊNCIAS
dendo da posição (distância e angulação) do microfone em re-
Se vamos falar sobre equalizadores é claro que temos que
lação à fonte sonora podemos ter resultados sonoros bastante
diferentes com o mesmo microfone. Por isso é sempre bom falar sobre frequências. Para os profissionais de áudio exis-
testar posições diferentes antes de usarmos o equalizador. te um pouco a mais do que graves, médios e agudos. Não
podemos ser tão simplistas e ficar limitados a estas três
UM POUCO DE INTELIGIBILIDADE regiões, porém é sempre bom sabermos por onde começar.

A boa inteligibilidade permite que nós tenhamos um perfeito Nós só conseguimos ouvir frequências começando a
entendimento do que está sendo reproduzido pelo sistema partir de 20 Hz (20 vibrações por segundo), porém o
de sonorização. A inteligibilidade perfeita é o que todos técni- nosso corpo pode “sentir” frequências mais baixas. As
cos procuram atingir – caso contrário, a plateia terá dificulda- frequências mais altas que ouvimos chegam a 20 mil
des em compreender o programa que está sendo executado. vibrações por segundo, 20.000 Hz, ou 20 kHz, de forma
abreviada, utilizando o k como abreviação de “mil”.
Nada mais problemático do que assistir a um show mu-
sical, uma palestra ou a um culto religioso sem com- Todos nós ouvimos ou deveríamos ouvir sons entre 20
preender o que está sendo reproduzido pelo sistema de Hz e 20 kHz. É claro que isto vai depender da nossa
sonorização. Entre outros problemas decorrentes disso, idade, de como cuidamos da nossa audição e de ou-
a plateia pode simplesmente perder o interesse pelo tros fatores fisiológicos sobre os quais não temos muito
que está acontecendo no palco. controle. O que é importante é que os profissionais de
áudio devem conhecer as frequências sonoras como a
Alguns fatores podem contribuir, e muito, para problemas palma das suas mãos.
referentes à inteligibilidade: uma fonte sonora ruim, uma
microfonação equivocada, uma acústica ruim, a falta de Isto significa que, ao ouvirmos um instrumento, uma
habilidade do técnico em trabalhar corretamente com os ressonância ou uma microfonia, devemos automatica-
equipamentos do sistema de sonorização etc. mente saber em qual região de frequência está atuando.

24 | áudio música e tecnologia


Separar as frequências em regiões é um bom
métodos para reconhecê-las mais facilmente

balho. As frequências escolhidas não seguem um pa-


drão universal, porém são quase sempre as mesmas ou
frequências bem próximas.
Assim poderemos fazer as correções necessárias rapida-
mente, e só existe uma forma de fazermos isso: termos
Além de um bom ouvido treinado, nada nos impede de
um ouvido bem treinado e experiente.
utilizarmos algumas ferramentas para ajudar no nosso tra-
balho. Uma das melhores é certamente o Smaart, que en-
Existe uma divisão do universo de frequência que nós tre várias de suas funções possui um excelente analisador
ouvimos em subgraves, graves, médios-graves, mé- gráfico, capaz de mostrar em tempo real como as frequên-
dios-agudos e agudos, o que facilita muito o nosso tra- cias estão se comportando.

Renato Muñoz é formado em Comunicação Social e atua como instrutor do iATEC e técnico de gravação e PA. iniciou sua carreira
em 1990 e desde 2003 trabalha com o Skank. E-mail: renatomunoz@musitec.com.br

áudio música e tecnologia | 25


em casa | Lucas Ramos

Equipamentos para
um home studio
Conexões Digitais (Parte 1): Tipos de conexões
Na edição passada nós terminamos de falar sobre os ca- Porém, nem tudo são flores, e as conexões digitais depen-
bos e conexões analógicas. Então nada mais natural do dem de uma boa conversão de analógico para digital para
que seguir falando sobre as conexões digitais, para en- garantir um sinal de qualidade. E conversores de qualidade
tender as diferenças, vantagens e desvantagens. Também costumam ser caros. Assim, se você tiver um pré-amplifica-
vamos conhecer os diferentes tipos de conexões digitais dor mais barato com saídas digitais (além das analógicas),
encontradas nos equipamentos de áudio. a tendência é que o conversor não será de alta qualidade e
o sinal digital será inferior em qualidade ao sinal analógico.
ANALÓGICO VS. DIGITAL Nesse caso, seria melhor manter o sinal analógico até a en-
trada da sua interface de áudio, que costuma ter converso-
A primeira coisa a se indagar é “por que utilizar conexões res de melhor qualidade.
digitais em seu home studio?”. Qual a vantagem? Há duas
características das conexões digitais que se sobressaem: Mas as entradas digitais costumam ser utilizadas para am-
pliar o número de entradas e saídas de um sistema de gra-
1. A capacidade de transmitir múltiplos canais de áudio em vação. A maioria das interfaces de áudio, hoje em dia, pos-
um único cabo. suem entradas digitais além das analógicas, e com isso é
2. A fidelidade da transmissão, pois sinais digitais não so-
frem nenhuma perda.

Todos os tipos de cone-


xões digitais permitem
transmitir múltiplos canais
simultaneamente em um
único cabo (até 64!). Isso
diminui a quantidade de
cabos no estúdio, minimi-
zando o risco de criar “ni-
nhos de rato”. Além disso,
simplifica as ligações, pois
você não precisará organizar
tantas conexões.

A outra grande vantagem das conexões digi-


tais é que não há perda na transmissão dos
sinais. Como o áudio digital é codificado em
bits (0 ou 1), não há como haver
perda do sinal ao longo dos cabos,
como pode ocorrer com as conexões
analógicas. Isso significa que você É comum em home studios o uso de
pode fazer quantas conexões diferen- um pré-amplificador de oito canais com
tes quiser com o sinal que ele conti- saídas digitais, entrando na interface
nuará sendo fiel ao original. através de uma conexão ADAT Lightpipe

26 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 27
em casa

possível obter mais entradas e saídas. É bastante comum,


em home studios, o uso de um pré-amplificador de oito
canais com saídas digitais, entrando na interface atra-
vés de uma conexão ADAT Lightpipe (ou MADI). Assim
você “ganha” oito canais de gravação com um único
cabo fazendo a ligação.

Vamos, a seguir, conhecer melhor os tipos de conexões digi-


tais mais utilizados nos equipamentos de áudio.

S/PDIF
O padrão S/PDIF foi criado pela Sony em parceria
com a Phillips, e permite transmitir dois canais de áudio O padrão AES/EBU é capaz de transmitir dois
por cabo. Esse tipo de conexão é encontrada em muitos canais de áudio em um único cabo e é encontrado
equipamentos de consumidor (CD player, DVD player etc.), em diversos equipamentos de estúdio
mas também pode ser encontrada em equipamentos de
áudio profissional, geralmente com o intuito de ser utili-
zado para a ligação de tais equipamentos de consumidor.

O cabo utilizado é não-balanceado com conectores RCA.


Porém, apesar da aparência ser idêntica, não
se dever utilizar cabos RCA para ligações S/
PDIF. Os cabos S/PDIF têm uma impedân-
cia específica de 75 Ω (geralmente mais alta
que os cabos comuns), e os conectores cos-
tumam ser de qualidade superior. Há tam-
bém uma versão do S/PDIF que utiliza um
cabo de fibra ótica e conectores Toslink nas
pontas (assim como o padrão ADAT Light-
pipe), e permite utilizar cabos mais longos
sem a indução de ruídos no sinal.

AES/EBU
O padrão S/PDIF permite transmitir dois canais um
cabo com conectores RCA. Há também uma versão que O padrão AES/EBU foi criado pela AES (Associação de
utiliza um cabo de fibra ótica e conectores Toslink. Engenheiros de Áudio) em conjunto com a EBU (União

S/PDIF VS. AES/EBU


Ambos os formatos transmitem dois canais de áudio, po- que não será possível copiar o sinal gravado (com esse
rém há uma enorme diferença entre S/PDIF e AES/EBU. tipo de proteção). Isso pode ser um problema para a
Primeiramente, os conectores e tipo de cabos são distin- maioria dos profissionais do áudio, e por isso o formato
tos. Além disso, AES/EBU é uma conexão balanceada, AES/EBU é considerado mais profissional.
que minimiza a indução de ruídos no cabo, especialmen-
te em longas distâncias. Portanto, se a sua conexão for curta e não houver prote-
ção anticópia no sinal, S/PDIF está de bom tamanho. Se
Mas a maior diferença é que o S/PDIF respeita os siste- a conexão for longa e/ou houver proteção anticópia no
mas de proteção anticópia (como SCMS), o que significa sinal, AES/EBU é mais recomendado.

28 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 29
EM CASA

um único cabo, o formato ADAT Lightpipe se tornou o pa-


drão para conexões digitais nos equipamentos de áudio,
e pode ser encontrado em muitos pré-amplificadores e
interfaces de áudio.

Madi
O padrão MADI também foi criado pela AES
para padronizar um formato multicanal de
transmissão de áudio digital profissional.
Esse tipo de conexão permite transmitir até
64 canais em um único cabo (até 48 kHz).
Há dois tipos de conexão MADI: um utiliza
um cabo de fibra ótica com um conector es-
pecial e o outro utiliza um cabo coaxial com
conectores BNC. Pelo alto número de canais transmiti-
dos por cabo, o padrão MADI tem consquistado muito
espaço no mercado, e hoje é comum ver esse tipo de
Pela praticidade de transmitir oito canais, o conexão em mesas e interfaces com um número elevado
formato ADAT Lightpipe se tornou o padrão para de entradas e saídas.
ligações digitais nos equipamentos de áudio
Até o nosso próximo encontro! •
Europeia de Radiodifusão) para padronizar um formato
de transmissão de áudio digital profissional. Esse tipo de
conexão é capaz de transmitir dois canais de áudio em
um único cabo, e é encontrado em diversos equipamentos
de estúdio – de interfaces de áudio a pré-amplificadores.

O cabo utilizado é balanceado, com conectores XLR


nas pontas. Porém, apesar da aparência ser
idêntica, não se dever utilizar cabos XLR
para ligações AES/EBU. Os cabos AES/
EBU têm uma impedância específi-
ca de 110 Ω (geralmente mais alto
que os cabos comuns) e os conec-
tores costumam ser de qualidade
superior. Inclusive, por essas ra-
zões, muitos engenheiros de áudio
preferem utilizar cabos AES/EBU para suas
ligações analógicas, pois, apesar de mais caros, garan-
tem um sinal mais limpo.

adat LigHtPiPe
O padrão ADAT Lightpipe foi criado pela empresa Alesis
(criadora do ADAT) como uma conexão digital para as
máquinas de ADAT, que gravavam oito canais em uma
fita digital. Esse tipo de conexão é capaz de transmitir
até oito canais de áudio em um único cabo (até 48 kHz). Há dois tipos de conexão MADI: um utiliza um
O cabo utilizado é de fibra ótica, com conectores Toslink cabo de fibra ótica com um conector especial e
nas pontas. Pela praticidade de transmitir oito canais em o outro um cabo coaxial com conectores BNC

30 | áudio música e tecnologia


SiNCRoNiSMo digitaL
Toda conexão digital necessita ser sincronizada para po- mas interfaces utilizam um software de gerenciamen-
der funcionar corretamente. Sem sincronismo, haverá to, e muitas vezes essa escolha tem que ser feita no
muito ruído digital (clicks e pops) no sinal, impossibilitan- software (não há botão na interface em si). Seja como
do a sua utilização. Mas não se preocupe, pois o sincro- for, escolha como “mestre” o equipamento mais confi-
nismo de sinais digitais é bem simples e fácil de executar. ável e de maior qualidade do seu sistema (na maioria
dos casos, a própria interface de áudio) e defina o
Como todo sistema de sincronismo, é preciso designar resto como escravo.
um único equipamento como o “mestre” (ou master)
do sincronismo. Os outros equipamentos ligados no Também pode ser necessário escolher o mesmo sample
mesmo sistema serão todos “escravos” (ou slave). Só rate (taxa de amostragem) em todos os equipamentos
pode haver um “mestre” por sistema. Para designar os do mesmo sistema digital. Se estiver trabalhando em
equipamentos como “mestre” ou “escravo”, é necessá- 44.100 Hz, então todos os equipamentos devem estar
rio localizar o botão de sincronismo (sync ou clock) e selecionados em 44.100 Hz. Caso contrário, haverá ruído
escolher a devida posição (mestre ou escravo). Algu- digital (clicks e pops) no seu sinal.

Lucas Ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do iATEC. Formado em Engenharia de Áudio pela SAE (School
of Audio Engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools Certified Operator, Apple Logic Certified Trainer e Ableton Live Certified Trainer.
E-mail: lucas@musitec.com.br

áudio música e tecnologia | 31


Teste | Lucas Ramos

Interface de áudio
Behringer Firepower FCA610
Pequena no tamanho, grande nos recursos
Seguindo com os testes de interfaces de áudio, nesta edi- Na caixa, você recebe a interface, manuais, um cabo USB,
ção vamos analisar a Behringer Firepower FCA610. Ela é um cabo Firewire 400 e uma fonte para alimentação exter-
a menor da linha Firepower, que também inclui o modelo na. Há também uma garantia de três anos, como oferece a
FCA1616. Ambas são compatíveis com Mac e PC, podem maioria dos produtos da Behringer.
ser ligadas via USB ou Firewire 400 e incluem o software
de áudio Traktion 4 e mais 150 plug-ins, que podem ser ENTRADAS E SAÍDAS
obtidos via download no site.
A interface dispõe de seis entradas e dez saídas. Há duas
VISÃO GERAL entradas na frente da interface com conectores combo
(XLR/P10) e equipadas com pré-amplificadores da linha
A interface é compacta (tem 24 x 16 x 4,5 cm) e cabe Midas (topo de linha da Behringer). Essas duas entradas
facilmente em uma mochila. Além de bastante portá- também dispõem de botões para acionar o phantom po-
til, ela pode ser alimentada pelo próprio cabo USB ou wer, PAD, e filtro passa-alta, além de um botão para de-
Firewire (sem a necessidade de fonte de alimentação signar a entrada para instrumentos de linha (como uma
externa). A construção é bem sólida, com chassis de guitarra). Há mais duas entradas de linha com conectores
metal, e os botões parecem ser bem fixados e rígidos. P10 na parte traseira, assim como uma entrada digital S/
Isso tudo é importante para as pessoas que tendem a PDIF (estéreo). Essa entrada digital pode ser usada com
mudar a interface de posição com frequência ou aqueles cabo ótico ou coaxial, e há um botão na frente da inter-
que trabalham com um estúdio móvel. face para selecionar uma das duas opções.

A ligação com o computador é feita através de um cabo USB Há oito saídas de linha na traseira, todas com conec-
ou Firewire 400, e a alimentação pode ser fornecida pelo tores P10. Há também uma saída digital S/PDIF que,
mesmo cabo ou uma fonte externa (fornecida). A interfa- assim como a entrada digital, pode ser usada com um
ce é compatível com os dois sistemas operacionais mais cabo ótico ou coaxial. Na frente da interface há um con-
populares, Windows e Macintosh. Há um driver ASIO para trole de volume e um botão que permite selecionar se o
Windows e um driver Core Audio para Macintosh. Com isso, controle atuará sobre as saídas 1 e 2 ou sobre todas as
pode ser utilizada com praticamente qualquer software de oito saídas analógica. Assim é possível monitorar até 7.1
áudio, incluindo Pro Tools, Logic Pro, Ableton Live, Cubase surround e controlar o volume com um único controle.
etc. A interface pode funcionar com taxa de amostragem Há também um controle que permite determinar se o si-
(sample rate) de até 96 kHz, e 16 ou 24 bits de resolução. nal enviado às saídas será o retorno do software (DAW)

32 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 33
TESTE

A interface dispõe de seis entradas e dez saídas. As duas entradas


frontais são equipadas com pré-amplificadores da linha Midas.

ou o sinal vindo direto das entradas. Isso serve para para não gastar tantas entradas USB (que sempre fal-
minimizar problemas de latência na gravação. tam!). Há dois LEDs na frente para indicar a presença de
sinal MIDI na entrada (in) e na saída (out).
Há também duas saídas de fone de ouvido na frente da
interface, cada uma com controle de volume próprio. A SoNoRidade
segunda saída de fone pode ser designada para monito-
rar o sinal das saídas 1/2 ou 3/4 através de um botão. A qualidade sonora da interface impressiona pelo preço
Isso permite fazer duas mandadas de fone independen- do produto. Ao lado de uma interface Focusrite Saffire
tes, o que pode ser bastante útil. Há também um botão Pro 26 (que usei para comparação), os pré-amplificado-
que faz com que o sinal nas saídas de fone seja mono. res e conversores da FCA 610 não fizeram feio. O sinal
é claro e, no geral, bem definido. Dava pra ouvir um
Como referência visual, há LEDs na frente indicando a pequeno “chiado” quando o pré-amplificador estava no
presença de sinal para cada uma das entradas e saídas nível máximo, mas na maioria dos casos isso não seria
da interface. Não há medidores de nível, mas pelo me- necessário (em níveis mais baixos não havia ruído audí-
nos dá pra saber se há sinal chegando. Há também LEDs vel) .Para a maioria dos trabalhos caseiros está mais do
para indicar que a interface está ligada (power), que o que bom. Pelo preço, então, está ótimo.
cabo de ligação está ligado (USB/FW) e um último para
indicar se as entradas e saídas digitais funcionarão com Para ser chato, falta um pouco de definição nos médio agu-
os conectores óticos ou coaxiais (coax e opt). dos e os graves não são tão claros quando comparamos
com interfaces de primeira linha (que geralmente custam
Midi dez vezes o preço), mas aí já é covardia.

Há uma entrada e uma saída MIDI, que apesar de não CoNCLuSão


ser mais tão útil para controladores MIDI, já que a maio-
ria deles hoje em dia vêm equipados com conexão USB, No geral, a relação custo-benefício dessa interface im-
pode ser bem interessante para funções de sincronismo pressiona. Hoje em dia o mercado está saturado de in-
MIDI. Caso você trabalhe com um laptop, pode ser útil terfaces de pequeno porte, mas eu acho difícil encontrar

Vista traseira do equipamento: o mercado atual está repleto de pequenas


interfaces, mas a FCA610 se destaca pela quantidade de recursos

34 | áudio música e tecnologia


outra com tantos recursos por um preço tão baixo.
Resumo – behringer Firepower FCa610 Os pré-amplificadores e conversores são mais que
Sistema Operacional Mac ou Windows razoáveis, e o número de entradas e saídas irá satis-
Conexão USB 2.0 ou Firewire 400 fazer a maioria dos home studios.
Entradas (analógicas) 2 x Instrumento (TS)/Mic (XLR) + 2 x
Linha (TRS) Mas não é perfeita, claro. As funções oferecidas dei-
xam a desejar um pouco. A primeira coisa que eu senti
Pré-amplificadores 2 x Midas
falta foi um botão de inversão de fase para as entradas
Saídas (analógicas) 8 x Linha (P10) + 2 x Fone (TRS)
de microfone (mas a maioria das interfaces nessa fai-
Entradas (digitais) 1 x S/PDIF (estéreo) xa também não têm), e um botão para tornar mono
Saídas (digitais) 1 x S/PDIF (estéreo) as saídas principais também seria bom. Medidores de
MIDI MIDI in + MIDI out nível também fazem falta. Mas aí eu já tô sendo chato.
Sample Rate Até 96 kHz
No geral, pelo preço, eu achei um ótima interface. Há
Bit Depth Até 24 bits
muitas concorrentes hoje no mercado, mas a Firepo-
Bus-Power Sim wer FCA610 se sobressai. •

Lucas Ramos é tricolor de coração, engenheiro de áudio, produtor musical e professor do iATEC. Formado em Engenharia de Áudio pela SAE (School
of Audio Engineering), dispõe de certificações oficiais como Pro Tools Certified Operator, Apple Logic Certified Trainer e Ableton Live Certified Trainer.
E-mail: lucas@musitec.com.br

áudio música e tecnologia | 35


CAPA | Rodrigo Sabatinelli

Gol
de Placa
estúdio audioarena: música e
futebol num mesmo ambiente

36 | áudio música e tecnologia


Divulgação
Um estúdio de gravação musical localizado no interior de um estádio de fute-
bol. Até bem pouco tempo, mesmo pensando globalmente, a frase acima po-
deria ser vista como uma grande utopia, ou melhor, uma grande brincadeira.
Mas desde o início do segundo semestre do ano passado, com a fundação do
AudioArena, passou a ser realidade.

Projetado pelo engenheiro Carlos Duttweller, da ProStudios Design, debaixo das


arquibancadas do Morumbi, histórico estádio que pertence ao São Paulo Futebol
Clube, o estúdio dos sócios Luiz Fernando Vieira – também sócio e vice-presi-
dente de mídia da agência de publicidade África – e Daniel Chalfon já sediou
gravações de nomes como os das bandas República, do próprio Luiz, e Sepul-
tura, que produziu, na casa, a trilha sonora do seriado global Dupla Identidade.

Composto por uma técnica de 20 metros quadrados, suspensa em um me-


zanino, e uma enorme sala, que mede aproximadamente 100 metros qua-
drados e é utilizada como ambiente de gravação e lounge e tem vista para
o gramado do estádio, o AudioArena conta ainda com um camarim para uso
de músicos, produtores e técnicos, banheiros privativos, área de serviço com
entrada independente e até mesmo uma cozinha profissional.

Dentre os equipamentos do estúdio estão um console SSL AWS 948, moni-


tores Genelec 1038B e 8040B e Avantone Mix Cube, microfones Neumann
SKM 184, U87 e TLM49, AKG C414 e D112, Shure SM57 e SM58, Royer
R121 e Peluso 2247 L.E., pré-amplificadores Ruppert Neve Portico 517, 1073
LB e API 512C, equalizadores Kush Audio Electra e Clariphonic, distressors
EL8X-S e processadores de efeitos TC Electronics TC 2000 e TC 3000. Além
destes, também estão disponíveis amplificadores de baixo Ampeg B15, Har-
tke System L1000 e GK 1001 RB-II, amplificadores de guitarra Marshall
JVM410H, Mesa Boogie Mark V, VOX AC30HW2 e Fender Twin Reverb 65
Reissue e sistemas de sonorização Bose L1 System II e Midas Venice U24.

Divulgação

Andreas Kisser solando: Sepultura gravou no estúdio a


trilha sonora do seriado Dupla Identidade, da TV Globo áudio música e tecnologia | 37
CAPA
Divulgação

controlar o vazamento sono-


ro de dentro para fora e vice-
-versa. Não acreditavam que
teríamos qualidade acústica em
um ambiente debaixo de uma
arquibancada e não entendiam
como um estúdio poderia ser,
também, camarote e espaço
para eventos”, completa.

aPRoVeitaNdo
a eStRutuRa
O projeto de acústica do estú-
dio, desenhado por Duttweller,
conta com elementos da própria
estrutura do estádio, como, por
exemplo, algumas paredes de
No detalhe, a SSL do AudioArena: mesa foi um entre tantos 35 cm, usadas originalmente
investimentos pesados feito pela dupla de sócios do estúdio como colunas de sustentação das arquibancadas.

SoNHo X ReaLidade Partindo delas, o engenheiro acrescentou paredes adi-


cionais, fabricadas em drywall, com chapas de gesso
O estúdio foi construído em tempo recorde: apenas sete cartonado e lã de rocha de alta densidade para absorção
meses. No entanto, para que o trabalho fosse realizado de impactos, e, por cima do drywall, construiu uma pa-
neste curto período, se fez necessário planejar bem as rede em madeira autoclavada e lã de rocha.
etapas de criação e, principalmente, as de apresenta-
ção do projeto e negociação com a direção do São Paulo Os painéis de acabamento foram customizados para
Futebol Clube, algo que demandou, ao todo, cerca dois cada ambiente do estúdio. Feitos basicamente com uma
anos de muito trabalho.

De acordo com Luiz Fernando, “o


maior desafio enfrentado foi, sem
dúvida, conseguir a autorização do
pessoal do clube, além, claro, de
conquistar sua confiança, entretan-
to, desde os primeiros contatos eles
se mostraram altamente receptivos à
ideia e decidiram apostar nela, pas-
sando, com isso, a carregar o status
de primeiro clube no mundo a ter um
estúdio em seu interior”.

O executivo lembra ainda que du-


rante as obras a realização do pro-
jeto foi mantida em sigilo, compar-
tilhada somente com poucos e bons
amigos. Muitos deles, no entanto,
questionavam o plano do sócio.
Divulgação

“Eles achavam uma grande loucura.


Perguntavam como faríamos para

Amplificadores Mesa Boogie e Vox são


captados diante do gramado do Morumbi

38 | áudio música e tecnologia


Divulgação

espécie de mezanino. Em sua


parte traseira foi instalado um
difusor difractal para controle de
eventuais ondas estacionarias.

Em todos os pisos da técnica e do


estúdio foram utilizadas placas de
fibra mineral compostas de alta
densidade para contenção das
vibrações do piso. Para acaba-
mento, a opção se deu pelo piso
vinilico de alto tráfego, resistente
a riscos e humidade. Pelo fato de
o teto do estúdio ser a própria ar-
quibancada do estádio, todas as
suas características, como, por
exemplo, desníveis de degraus
e o uso de materiais super resis-
Luiz Fernando e Daniel, sócios do estúdio, o primeiro tentes, capazes de suportar a vi-
do mundo dentro de um estádio de futebol. Amigos da bração de dezenas de milhares de torcedores, foram levados
dupla achavam que o projeto era uma grande loucura. em conta na hora da criação do projeto.

estrutura em MDF, lã de vidro e revestimento em tecido “Toda vez que precisávamos fazer um furo em uma
sintético, eles controlam as frequências médias e agudas de suas paredes, era uma verdadeira operação de
e mantêm o equilíbrio da reverberação na sala. Por ter guerra. Acho que quebramos umas cinco furadeiras
uma ampla area envidraçada – norma do estádio para durante a obra”, brinca Luiz.
manter a visibilidade total do campo, já que se trataria
de um camarote para assistir a jogos e shows também Confira mais fotos do AudioArena em www.musitec.
–, foram projetados painéis acústicos para controle das com.br. •
reflexões dessas áreas.

Divulgação
Para controle das expansão das
frequências graves dentro da sala,
foi instalado no teto, aproveitando
os desníveis das arquibancadas,
um sistema composto por deze-
nas de caixas (bass traps), que,
por sua vez, também exerceu o
papel de “maquiar” a inclinação
da arquibancada. Algumas des-
sas caixas, por exemplo, também
foram utilizadas para a instalação
de iluminação com painéis de LED,
que podem ser programados para
mudar as cores ou fazer uma se-
quência de movimentos.

Devido às condições do local, a


equipe gerenciada por Duttweller
foi levada a construir a técnica no
piso superior do estúdio, em uma

Duttweller, de camisa verde, gerencia as obras do AudioArena

áudio música e tecnologia | 39


Capa
Bola na rede
Luiz Fernando Vieira revela detalhes da vitoriosa negociação com
o clube paulista e do minucioso projeto de Duttweller
AM&T: O estúdio não é o único estabeleci-

Divulgação
mento dentro do Morumbi. Fale sobre a ini-
ciativa da direção do São Paulo de transfor-
mar uma área teoricamente inutilizada em
um verdadeiro ambiente de negócios.

Luiz Fernando: O AudioArena está localizado em


uma área do estádio chamada de Concept Hall. Essa
área é uma inovação do clube, que criou um espaço
no qual empresas das mais diversas atividades fun-
cionam nos dias em que não são realizados os jogos.
A ideia deles é simples: por que um estádio de futebol
deve abrir suas portas apenas uma ou duas vezes por
semana? Considerando isso, hoje o Concept Hall abri-
ga diversas frentes comerciais, como, por exemplo, a
academia de ginástica Cia Athletica, o restaurante ja- Fernando Quesada e Conrado Ruther, a seu lado, na mesa, pilotam
ponês By Koji e o buffet Infantil Fantastic World, além uma gravação sob a coordenação de Luiz e Daniel, ao fundo
de outros camarotes para eventos, como o Unyco.
vação, mixagem, masterização e produção de vídeo, além de
workshops de produção de áudio e vídeo. Também temos pa-
AM&T: O AudioArena é mais do que um estúdio de
cotes de gravação diferentes dos que o mercado oferece, como,
gravação. Fale sobre os demais serviços prestados
por exemplo, o Rock Star Weekend, no qual a banda literal-
pela casa, além, claro, dos serviços que concernem
mente “se interna” no estúdio e, em um final de semana, sai
à sua atividade de origem.
de lá com CD, clipe, making off, fotos promocionais etc. Enfim,
tudo o que precisar para começar a divulgar seu trabalho.
Luiz: Oferecemos um confortável e seguro camarote no
qual o público pode assistir aos jogos e aos shows realiza-
AM&T: Fale sobre o trabalho realizado por Carlos
dos no estádio e curtir música ao vivo antes, nos interva-
Duttweller e pelos demais profissionais envolvi-
los e depois dos eventos esportivos. Além do funcionar no
dos no projeto.
formato All Inclusive, que comporta ingressos, comida e
bebida, nele nós realizamos eventos corporativos, decora-
Luiz: Trata-se de um dos mais respeitados engenheiros do
dos por LEDs customizáveis e móveis que transformam o
mundo, que, no Brasil, já assinou mais de 600 projetos de
nosso lounge em um espaço totalmente flexível.
estúdios de médio e grande portes. Ele conseguiu transfor-
mar em realidade, por meio de sua empresa, a Prostudios
Na parte de produção, oferecemos opções de serviços de gra-
Design, tudo aquilo que eu e meu sócio planejamos.
Além dele, contamos com o talento de Conrado Ru-
Divulgação

ther, um dos melhores engenheiros de som do Brasil,


que fez um trabalho primoroso voltado para o fluxo de
sinais, conexões, patch bay e demais ligações. Nessa
parte, contamos também com a assessoria do Arman-
do Marinelli, que fez as configurações e instalações
dos softwares e hardwares.

AM&T: O estúdio tem uma ampla área. De que


formas ele pode ser bem aproveitado?

Luiz: Aqui podemos ter desde uma banda tocando ao


vivo, gravando instrumentos individuais, a uma orques-
tra inteira tocando. O espaço tem um aproveitamento ex-
celente. Com o revestimento acústico que fizemos, con-
seguimos um bom isolamento e uma boa acústica. Além
A torcida são-paulina no espaço em dia disso, temos esse visual único, que permite que músicos
de jogo: estúdio tem múltiplas funções e técnicos trabalhem diante de um campo de futebol.

40 | áudio música e tecnologia


Saulo Brandão
EVENTO | Rodrigo Sabatinelli

HoLidaY
FeStiVaL
Line nacional sonoriza evento em Salvador
Realizado nos dias 7 e 8 de dezembro no Estádio

Saulo Brandão
de Pituaçu, em Salvador, Bahia, o Holiday Festival
reuniu mais de 50 mil pessoas, que assistiram a
shows de nomes como Psirico, Jorge & Mateus, Os
Travessos, Aviões do Forró e Harmonia do Samba,
entre outros.

Sonorizado pela locadora Vigor Som, que pertence a


Anderson Franco e é a empresa à frente da sonoriza-
ção de festivais como Villa Mix, Sauipe Folia e Arena
Bahia Music, o Holiday contou com equipamentos de
ponta, tais como um line array LS Audio e consoles
Yamaha, DigiCo e Avid.

PotÊNCia e autoSSuFiCiÊNCia
O sistema principal, usado por todos os artistas
presentes no evento, foi montado da seguinte
forma: no L/R, por lado, estiveram 15 elementos
Slinpec 4612 empurrados por amplificadores Lab
Gruppen FP 1000Q. No outfill, ao lado deles, po-
rém mais abertos, voltados para as laterais do pal-
co, foram destinadas, também por lado, mais nove
caixas do mesmo modelo.

No detalhe, uma das colunas do line


principal, fornecido ao evento pela Vigor Som

42 | áudio música e tecnologia


digitais nele e mandar o
Saulo Brandão

L/R para o Dolby e, a par-


tir dele, enviar o sinal L/R
para o outfill, os subs, o
front e os delays, levando
os técnicos das bandas a
pensarem em mixar so-
mente o L/R, esquecen-
do todo o restante”, disse
Anderson.

YAMAHA, AVID E
RCF NO PALCO
A monitoração dos artistas
foi feita, em muitos casos
e apesar do uso maciço de
earphones, por monitores
de chão amplificados e pro-
cessados RCF TT 45 e RCF
TT 25, sendo, ao todo, 16
unidades. Para controle das
À esquerda, suspensa como o line, a coluna do outfill: caixas foram caixas, estiveram disponí-
usadas como complemento para cobrir toda a área a ser sonorizada veis os consoles Yamaha
MP5D RH e AVID Mix Rack.
Os subs, empurrados por amplificadores Power-
soft K10, foram feitos com 16 elementos LS Au-
dio 218, enquanto que o front recebeu oito caixas VOLUME NO SHOW TRAVESSOS
4260 da marca, e os delays, posicionados a cerca
de 50 metros do palco, ficaram com oito elemen- Leandro Villah, técnico de PA dos Travessos, utili-
tos 210, sendo quatro por coluna. zou microfones de marcas como AKG, Sennheiser e
Shure para captar instrumentos e vozes do grupo de
Na house mix, posicionada a 40 metros do pal- pagode liderado pelo vocalista Rodriguinho.
co onde rolaram as apresentações, estiveram, à
disposição dos técnicos de PA, consoles como os No bumbo da bateria, por exemplo, ele usou um
DiGiCo SD8 e Avid Profile. Para uso do locutor e AKG D112. Na caixa do instrumento, a opção do téc-
do DJ do festival, a opção foi por um Avid SC 48. nico se deu por um par de Shure SM57, usados em
cima e abaixo da peça. Nos tons e nos surdos, ele
PROCESSAMENTO DETALHADO lançou mão dos Sennheiser E 604, enquanto que no
contratempo e nos overs usou os Shure SM81.
Ainda na house, à disposição dos gerentes técnicos
do evento, estiveram um rack drive com dois pro- Nas percussões, para os surdões, ele dispôs dos
cessadores Dolby Lake e quatro Lake LM 26, além de Shure Beta 52, bem como utilizou, nos pandeiros e
um splitter ativo XTA DS800. O dolby foi destinado tantans, os já citados Shure SM57, ficando os ba-
ao processamento do PA principal e do outfill, en- cking vocals com os Shure SM58, as vozes dos can-
quanto que os LM 26 se voltaram ao processamento tores do grupo captadas por diversos modelos sem
dos subs, do front e dos delays. fio da Shure e da Sennheiser, e demais instrumen-
tos, tais como guitarras, baixos, samplers, teclados
“Com a função Mesa Eq conseguimos ter oito en- e violões, sendo captados por direct boxes ativos.
tradas digitais e 16 saídas digitais. Assim, se pre-
cisássemos, poderíamos ligar até quatro mesas Admirador dos consoles DiGiCo, Leandro come-

áudio música e tecnologia | 43


EVENTO

da empresa é realmente um de seus diferenciais,


além, claro, do que ela oferece a técnicos, como
sistemas bem alinhados, novos, prontos para
serem usados, dentre outras coisas”, destacou,
referindo-se ao line array LS Audio, que trabalhou
com volume confortável.

PouCoS eFeitoS PaRa


oS aViÕeS do FoRRÓ
Mauro Sérgio “Marujo”, técnico de PA que há dez
anos viaja com o grupo Aviões do Forró, usou, ba-
sicamente, os mesmos microfones que o amigo
Leandro para captar os instrumentos da banda.
“AKG D112 no bumbo, Shure SM57 na caixa, Sen-
nheiser E 609 nos tons, Shure SM81 no contra-
tempo e nos overs...”, disse, atentando para o uso
do sistema Shure Axient, “que serviu às vozes da
dupla de frente do grupo”.

O técnico, que operou seu show em um console


Avid, disse ainda que sua mixagem tem como obje-
tivo ser a mais limpa possível. Em função disso, ele
utiliza poucos efeitos. Reverbs, muito comuns em
shows de forró, somente com tempos curtos e nas
Saulo Brandão

vozes, “para não embolar e indefinir a mix. Quando


se coloca efeitos como reverb e delay, o som tende
a ficar meio robótico”, explicou.
Empilhados no rack, os processadores usados no
sistema de sonorização do Holiday Festival Ainda que tenha recebido o sistema muito bem

morou o fato de, no festival,

Saulo Brandão
haver uma unidade da mesa
à disposição dos técnicos. De
acordo com ele, “a mesa tem
um som único, que dispensa
o uso de plug-ins, pois seus
prés, compressores e equali-
zadores são autossuficientes.
Ela é prática, do ponto de vis-
ta operacional, e permite que
o técnico monte seu show
com muito conforto. Pena que
não é tão fácil encontrá-la por
aí”, disse.

Leandro também destacou a


qualidade do atendimento da
Vigor Som, algo que, para ele,
é cada vez mais raro nos dias
de hoje. “O profissionalismo

Acima, as mesas Yamaha e Avid usadas nos monitores

44 | áudio música e tecnologia


Saulo Brandão

Leandro Villah (de boné), técnico do grupo Os


Travessos, diante da DiGiCo com a qual operou o show

alinhado, como também destacou Leandro, Marujo optou


por fazer algumas correções. Segundo ele, “o ideal é
sempre deixar [o line] o mais plano possível, mas, em
alguns casos, é preciso mexer um pouco, cortando uma ou
outra frequência indesejada ou que soe fora do conceito
sonoro do show em questão”, encerrou. •
Saulo Brandão

Mario Sérgio “Marujo”, o homem à frente do som do Aviões do Forró

áudio música e tecnologia | 45


PROJETO DE PRODUTO | Homero Sette e Mauro Ludovico

CRiaNdo o SubWooFeR
H.Sette 2X18” SW6000Nd
Novas etapas da construção do equipamento (PARTE 3)

aJuSteS No PRoCeSSadoR digitaL FiLtRo PaSSa aLtaS


Em virtude da sua resposta naturalmente plana, a partir A utilização de filtro passa altas, implementado no proces-
de 35 Hz, aproximadamente, o subwoofer SW6000nd não sador, traz grandes benefícios no que diz respeito a redu-
precisa de nenhum reforço ou correção para apresentar um zir significativamente o deslocamento do cone, podendo
belo desempenho. No entanto, configurar adequadamente ainda produzir reforço na região de baixas frequências,
o processador é importante para garantir a qualidade sono- conforme vemos nas figuras 1, 2 e 3.
ra e a proteção de todas as vias do sistema de som.
Especificamente para o SW6000nd, o filtro que apresen-
CRoSSoVeR tou melhores resultados foi um High Pass de segunda or-
dem (taxa de atenuação de 12 dB/8ª), em 42 Hz, com Q
Recomendamos crossover do tipo Linkwitz-Riley, de 24 igual a 1,2, conforme a figura 1.
db/8ª, com o corte superior no máximo em 200 Hz (tí-
pico 120 Hz). Isso para melhor timbre, embora a frequ- Este filtro não está normalmente disponível na seção
ência de corte superior possa chegar a até 500 Hz, com Crossover do processador digital, e sim nos equaliza-
resposta relativamente plana, sem processamento. dores. Caso não exista esta opção, use um passa al-
tas Butterworth, de 24 dB/Oitava, em 35 Hz, este sim
A frequência de corte não poderá ser menor do que a existente na seção do crossover. A resposta deste filtro
de resposta inferior das caixas que se seguem ao sub. é plana, não proporcionando reforço. Apenas atenua o
O uso de filtro passa altas na via do sub é altamente deslocamento nas baixas frequências, o que é impor-
recomendado, conforme veremos a seguir. tantíssimo, conforme vemos na figura 2.

Fig. 1 – Filtro passa altas em 40 Hz, com Q = 1,2

46 | áudio música e tecnologia


Fig. 2 – Roxo: deslocamento do cone, sem filtro; verde: deslocamento com o filtro passa altas sugerido

A redução do deslocamento do cone reduz a distorção, Para maiores detalhes a respeito de como calcular com
impedindo que a bobina excursione em regiões com fluxo precisão os ajustes de limiter no processador digital,
magnético variável e diminui o risco de danos mecânicos recomendamos a leitura do trabalho “Cálculo dos Níveis
nas partes móveis. Por esses motivos consideramos indis- Aplicados nos Limiters dos DSPs”, apresentado na AES
pensável o uso de tais filtros em sistemas profissionais. 2012 e disponível através do email 4vias@4vias.com.br.

LIMITER Faremos, a seguir, um resumo dos conceitos funda-


mentais no sentido de utilizá-los especificamente na
O ajuste dos limiters nos processadores digitais é funda- programação dos limiters a serem usados na proteção
mental para a proteção do sistema, evitando que sinais do subwoofer SW6000nd.
de amplitude excessiva sejam enviados para os amplifica-
dores, o que provocaria distorção por ceifamento, degra- O subwoofer SW6000nd comporta-se, sob o ponto de
dando a qualidade do áudio e colocando em sério risco a vista do amplificador, como se fosse um falante de 4
integridade dos transdutores. ohms especificado para 3.000 watts. Desse modo, po-

Fig. 3 – Roxo: resposta simulada de frequência, sem filtro; verde: resposta com filtro passa altas

áudio música e tecnologia | 47


PROJETO DE PRODUTO

tabela 1 – Variáveis e equações utilizadas no cálculo dos limiters

demos alimentar um subwoofer por canal, com ampli- O primeiro passo é determinar o fator de crista máxi-
ficador de 4 ohms, ou dois subwoofers por canal, no mo capaz de ser proporcionado pelo amplificador es-
caso de amplificadores com impedância nominal igual colhido. Um fator de crista em torno de 2 é bastante
a 2 ohms. recomendado.

tabela 2 – Cálculo do fator de crista máximo e da tensão no


limiter, em função do fator de crista especificado

48 | áudio música e tecnologia


Tabela 3 – Níveis em dB, em função da potência por canal,
para FC = FCM e amplificadores com Es = 0,775 V

Na Tabela 2 temos as equações necessárias para os cálcu- Como podemos constatar, caso seja usado o fator de crista
los e nas tabelas 3 e 4 o fator de crista máximo é forneci- máximo disponível no amplificador, a tensão a ser aplicada
do para amplificadores de diversas potências, respectiva- no limiter será sempre igual a Es , acontecendo algo seme-
mente com sensibilidades Es iguais a 0,775 e 1,55 volts. lhante com os níveis expressos em dB, conforme a seguir.

Tabela 4 – Níveis em dB, em função da potência por canal,


para FC = FCM e amplificadores com Es = 1,55 V

áudio música e tecnologia | 49


PROJETO DE PRODUTO
Caso deseje utilizar um fator de crista menor que o máximo, os valores a serem aplicados no treshold serão dados pela

equação , em função do fator de crista escolhido e da sensibilidade do amplificador.

O cociente pode ser expresso como o headroom do sistema, conforme a seguir:

eXeMPLoS
Com base nas especificações do amplificador K20, da Powersoft, operando em mono (bridge), em 4 ohms, foram calcu-
lados os níveis a serem aplicados nos limiters para um fator de crista igual a 3.

vezes; FC = 3 vezes;

vezes;

tabela 5 – Parâmetros sugeridos para os processadores abaixo

Na próxima parte da série, mais sobre como foi desenvolvido o subwoofer H.Sette 2x18” SW6000nd.

Até logo!

Homero Sette é gerente de desenvolvimento e aplicações da 4ViAS Pro Audio (homero.sette@4ViAS.com.br). Mauro Ludovico é gerente de plane-
jamento da companhia (4ViAS@4ViAS.com.br).
Tabela 6 – Exemplos de cálculo dos níveis a serem aplicados no limiter em função do fator de crista

áudio música e tecnologia | 51


DESAFiANDO A LÓGiCA | André Paixão

CiNCo VídeoS
Que MeReCeM
Sua ateNÇão
Preciosidades do Youtube para você
aprimorar seus conhecimentos em
Logic Pro X (e treinar seu inglês!)

editaNdo Áudio No editoR de correção de áudio danificado por cliques indeseja-

de aRQuiVoS (editiNg audio dos. Basta dar um zoom adequado e desenhar a onda
sonora de acordo, ou, ainda, simplesmente deletar a
iN tHe FiLe editoR)
região problemática.

(Link: http://tinyurl.com/logic-video1)
Para tanto, a dica é selecioná-la, clicar com o bo-

Produzido pelo genial compositor, professor, produ- tão direito e, na janela de menu, selecionar a opção
tor e engenheiro de áudio Joshua Carney, do canal “Snap Edits to Zero Crossings”. Com isso, o Logic
MusicTechHelpGuy, este vídeo mergulha no ambiente “camufla” o trecho do áudio que foi deletado, unindo
de edição do Logic Pro X e nos ajuda a compreender as extremidades de cada onda Sonora adjacente em
melhor a importância desse recurso caprichado ofe- seu “ponto zero” e evitando qualquer possibilidade
recido pelos desenvolvedores. Ele explica detalha- de novos cliques. Genial é pouco.
damente cada uma das ferramentas
e funções dispostas nos menus com
exemplos claros e de fácil compre-
ensão. Muitas delas estão presentes
no nosso dia a dia, mas não tenho
dúvidas de que a percepção muda
– ao menos em alguns aspectos –
após assistir ao vídeo. No meu caso,
a diferença entre edição destrutiva e
não destrutiva no Logic X, incluindo
suas vantagens e desvantagens, fi-
cou muito mais transparente.

grande sacada

Imagine ter descoberto uma falha na


captação de um vocal que dificilmente
você conseguirá gravar novamente por
um motivo ou outro qualquer (como
no caso de o cantor morar em outro
país etc.). Com a ferramenta “Lápis”
você adquire excepcional capacidade

Aprenda a utilizar o Editor de Áudio do Logic X e


resolva problemas como cliques em canais de voz

52 | áudio música e tecnologia


gate RítMiCo e eFeitoS
“gagueJaNteS” (RHYtMiC gatiNg
aNS StutteR eFFeCtS)
(Link: http://tinyurl.com/logic-video2)

Essa é uma técnica muito utilizada em música eletrônica, mas


pode ser aplicada criativamente em diferentes gêneros musicais.
Aprenda a dominá-la a partir de uma instância do sintetizador
ES2 com inserção de Noise Gate. A partir do recurso de sidechain,
o sinal de um loop influencia diretamente o pad criado no synth,
gerando essa personalidade “gaguejante”. Muito divertido!

Aprenda a dominar a técnica de gate rítmico no Logic X


a partir de um plugin Noise Gate com sidechain ativado

CoMo CRiaR batidaS CoM dRuMMeR


e dRuM Kit deSigNeR (HoW to MaKe
beatS WitH LogiC PRo X’S dRuMMeR
aNd dRuM Kit deSigNeR)

(Link: http://tinyurl.com/logic-video3)

Produzido pelos editores da Computer Music, uma das melhores revis-


tas de produção musical do mundo, esse vídeo é dedicado ao Drum-
mer, um criador de batidas revolucionário implantado no Logic X. Mes-
mo que você não abra mão de gravar com um baterista “humano”,

áudio música e tecnologia | 53


DESAFiANDO A LÓGiCA

zenas de hits radiofôni-


cos, mas nunca descobriu
como criá-lo. Veja como é
fácil criar o efeito robotica-
mente afinado em vocais,
a partir do plug-in Pitch
Correction, do próprio Lo-
gic, sendo automatizado
apenas em determinadas
sílabas da linha vocal.

CiNCo LiÇÕeS
Que MudaRaM
Meu tRabaLHo
PaRa SeMPRe
(FiVe LeSSoNS
tHat CHaNged
MY WoRK
FoReVeR)
(Link: http://tinyurl.com/
logic-video5)
Descubra como utilizar o revolucionário Drummer
Apesar de não ser diretamente relacionado ao
vale a pena ao menos matar a curiosidade e descobrir Logic Pro X, esse último vídeo provavemente
a genialidade desse plug-in
nativo, incluindo o recurso
“follow”, que faz com que o
seu baterista virtual mude a
intensidade e a dinâmica da
sua levada de acordo com
uma linha de baixo ou mes-
mo uma música inteira. É
realmente impressionante.

eFeito “auto-
tuNe” No LogiC
PRo X (auto-
tuNe VoCaL
eFFeCt iN LogiC
PRo X)
(Link: http://tinyurl.com/
logic-video4)

Você o escuta em tudo


quanto é lugar, em de-

Efeito Auto-Tune nos vocais: sua voz pode ficar parecida com a de muitos
sucessos radiofônicos, mesmo que isso seja apenas por pura diversão

54 | áudio música e tecnologia


é o que vai trazer mais benefícios se aplicado 4 - Desenvolva seu próprio gosto – Com tantas referên-
no seu dia a dia. Idealizador do excelente cias e conhecimentos espalhados pela rede, um grande
TheRecordingRevolution, Graham Cochrane é um desafio é encontrar e definir uma identidade própria.
dos mais admirados gurus da nova geração de
produtores e técnicos de áudio, juntamente com 5 - Seja humilde e continue sempre aprendendo –
Joe Gilder (HomeStudioCorner), Kendal Osborne O grande gênio está constantemente conversando
(TheRecordingLounge), entre outros. com pessoas próximas e sempre querendo
aprender mais sobre o que elas sabem, somando
Nesse vídeo ele fala sobre cinco lições que efetiva- e compartilhando conhecimento em seu universo.
mente influenciaram sua maneira de pensar e traba- Guarde essa lição para sempre.
lhar profissionalmente com áudio. Vou listá-las aqui,
pois eu, absolutamente, concordo com todas. Vale Até a próxima.
muito a pena conferir o vídeo e o canal de Graham.
Grande abraço! •
1 - Fator humano é mais
importante do que equi-
pamento – Hoje em dia
é possível produzir boa
música com um laptop e
uma interface de áudio
estéreo, assim como é
possível produzir música
ruim num estúdio com o
melhor equipamento, sala
e tratamento acústico
disponíveis no mundo.

2 - Estude boas músicas –


A melhor maneira de fazer
boa música é saber como
uma boa música é feita,
concorda? Pense em arran-
jos, técnicas de mixagem,
composição, estrutura, cola-
boração e criação em grupo
e estarás no caminho certo.

3 - Mixe em mono – Se sua


mixagem não soar bem em Graham Cochrane e suas cinco lições: vale a pena
mono, algo está errado. não apenas conhecê-las, mas também aplicá-las

André Paixão é produtor de trilhas sonoras para teatro, TV, publicidade e cinema. O SuperStudio é sua segunda casa, onde passa
grande parte de seu tempo compondo, arranjando e mixando. Faz parte das bandas Acabou La Tequila e Lafayette e os Tremendões.
Atualmente dedica-se à produção musical em seu estúdio, como o mais recente trabalho da banda Tipo Uísque. Contatos: andre@
suprasonica.com.br, www.facebook.com/DesafiandoLogic e www.facebook.com/SuperStudio

áudio música e tecnologia | 55


MiXAGEM | Fábio Henriques

PLug-iNS PRa LeVaR


PRa uMa iLHa deSeRta
Parte 2 – Compressores
Esta série de artigos realmente
levanta uma questão um tanto
polêmica: afinal, alguém que
escreve para uma revista pode
ter opinião própria, preferên-
cias de trabalho? Ou, mais
realisticamente falando, pode
manifestá-las abertamente?
Bem, acho que é necessário
analisar as coisas de um ponto
de vista menos apaixonado.

O que pretendo, ao levantar es-


tas questões aqui, não é dizer
que este plug-in é melhor ou
pior do que os outros, mas jus-
tamente mostrar ao leitor que
é perfeitamente normal que se
tenha preferência por alguns
modelos de sua confiança. Isso
não demonstra uma limitação
ou falta de dom para a expe-
rimentação. Na verdade, isso
revela objetividade, eficiência e
produtividade. A maioria de nós
trabalha com prazos, e o tempo
todo temos de colocar o prag- Bom e velho Maxim, da Digidesign/Avid: inseparável escudeiro
matismo em ação. Como falo exige certo cuidado ao ser usado insertado num canal
sempre aqui, se formos expe-
rimentar tudo o que temos em
cada canal, não terminamos nunca. o CaSo doS CoMPReSSoReS

Assim, continuemos nossa seleção de plug-ins Antes de mais nada, precisamos lembrar qual é a
para levar a uma ilha deserta, desta vez, ava- função de um compressor. Objetivamente falan-
liando os compressores disponíveis no mercado. do, um compressor visa diminuir a faixa dinâmica
A questão de qual seria, afinal, a utilidade de um de um canal. Ou seja, diminui a diferença entre
compressor em uma ilha deserta eu deixo propo- o volume mais baixo e o mais alto presentes no
sitalmente sem resposta. áudio. A primeira questão é por que diachos eu

56 | áudio música e tecnologia


iria querer isso. Primeiro,
comodidade. Com um volu-
me mais estável é mais fá-
cil estabelecer o ponto óti-
mo de volume de um canal
em uma mixagem. Segun-
do, com menores variações
de dinâmica fica mais fácil
manter o som de um canal
nítido em uma música, sem
que ele seja encoberto por
outros instrumentos (isso é
absolutamente importante
no caso da voz).

Este motivo importante,


mas meramente técnico,
não é, porém, o único.
Mixar envolve arte e arte
ultrapassa a objetividade
técnica e se aventura pelos
caminhos da experimen-
tação e do inusitado – é a
Xenon, da PSP Audioware, é um limiter que
parte mais divertida da coi-
oferece grande variedade de possibilidades
sa. Assim, da mesma forma
que acontece com os equa-
lizadores, temos o trabalho corretivo de um lado da Lexicon 480 com a compressão do master bus

e criativo do outro. da SSL – você certamente já ouviu dezenas de


“number ones” que usavam estes processadores,
Os diferentes circuitos usados ao longo dos anos e esse se tornou o som desejável.
para comprimir imprimiram suas características pró-
prias ao som obtido, e em muitas aplicações, ao lado A coisa, porém, não é estática, e as tendências vão
do controle da dinâmica, estamos buscando justa- mudando progressivamente, à medida que gente
mente o resultado desta identidade sonora. corajosa tenta coisas novas e se dá bem, como o
robozinho (vocoder) na voz da Cher (Mark Taylor e
Um fator extremamente importante nas mixagens, e Brian Rowling em 1998 usaram o Auto-Tune propo-
que, a princípio, não tem a menor justificativa técni- sitalmente para isso, mas tentaram esconder o jogo
ca, é o que chamo de “fator cultura”. Ou seja, músi- a princípio, dizendo que haviam usado o Talker, da
cas bem sucedidas comercialmente que apresentam Digitech), devidamente superutilizado logo depois
determinada sonoridade acabam se transformando e compreensivelmente abominado mais tarde, sen-
em paradigmas sonoros. Esta sonoridade acaba sen- do ressuscitado (em uma certa medida) pelo Daft
do buscada como algo necessário, embora o motivo Punk em 2013. [Nota do editor: Kanye West lan-
seja apenas artístico, e não técnico. çou em 2008 o incrível álbum 808’s & Heartbreak,
que tem todos os vocais processados no Auto-Tune,
Por exemplo, depois do Britpop, é praticamente mas vale destacar que o disco é uma obra-prima na
indispensável que se use sons de pianos pesa- opinião deste editor e na da gigantesca minoria dos
damente comprimidos e com drive substancial. críticos e fãs do artista.]
Isso deixa a sonoridade da música “moderna” e
“amigável”. Podemos dizer o mesmo dos reverbs Assim, em uma enorme maioria dos casos, as pes-

áudio música e tecnologia | 57


MiXAGEM

soas estão buscando não exatamente as caracterís- os sons percussivos (principalmente de bateria).
ticas de compressão de um determinado modelo, Uma coisa que tenho que admitir é que a fita ana-
mas seus efeitos colaterais, que aproximam a sono- lógica se comportava de um modo bem pareci-
ridade de algo já ouvido e já bem sucedido. do com o ouvido humano no que diz respeito ao
tempo de resposta. Sinais impulsivos acabavam
Se QueReMoS CoMPRiMiR devidamente “arredondados” e com seu volume
de ataque bem atenuado na fita, bem parecido
Muito bem. Partindo do princípio de que deseja- com o jeito que os ouvimos. Esse é um dos prin-
mos, antes de qualquer coisa, reduzir a faixa di- cipais motivos para o som da fita ser agradável a
nâmica de um sinal, existem três possibilidades muitas pessoas (apesar de tantos outros fatores
que não podemos descartar. que prejudicam, como o ruído de fundo).

Podemos, primeiro, usar funções do tipo “change O áudio digital, em sua precisão enorme, é capaz
gain” para atuar diretamente no áudio file, au- de representar fielmente estes sinais impulsivos. As-
mentando os trechos mais baixos e abaixando sim, picos que saturam o áudio gravado na verdade
eventualmente os mais altos. Essa suavização da não são ouvidos de modo tão alto, o que tende a
dinâmica é extremamente útil e nos permite usar deixar o som “artificial”, pois o que vemos no medi-
compressores de um modo muito mais suave. As- dor não é, efetivamente, o que ouvimos.
sim, o primeiro elemento absolutamente neces-
sário em termos de dinâmica é o plug-in de “gain” Entra em cena, então, o processador que talvez te-
(ou change gain, ou algo semelhante). Economiza nha sido o maior responsável pela grande revolução
horas de trabalho na mixagem. em termos de volume final dos trabalhos: o limiter.
Eles são compressores nada sutis, que formam uma
A seguir, seria bom se pudéssemos controlar os barreira acima da qual o volume não se aventura.
picos de alta intensidade e curtíssima duração Através deles podemos dar ganho nos trechos de
(que chamaremos aqui de “impulsivos”), como menor intensidade e manter os trechos mais altos
sem aumento, o que permite
um maior volume médio. Esse
tipo de processamento é fun-
damental nos sons de tambo-
res de bateria hoje em dia.

O próximo plug-in para nos


acompanhar no exílio seria,
então, o limiter. Para citar
exemplos, o meu insepará-
vel escudeiro é o bom e ve-
lho Maxim, da Digidesign/
Avid. Seu único defeito (se
pudermos chamar assim) é
que atrasa aproximadamente
1028 samples o sinal, exigin-
do um certo cuidado ao se
usá-lo insertado em um ca-
nal. Seu uso como processa-
dor em Audiosuite, porém, é
muito produtivo, e ele é um
habitante do meu master fi-
nal em 100% das ocasiões.

Pro-L, da Fabfilter, é um plug-in que pode ser útil em muitas aplicações

58 | áudio música e tecnologia


MiXAGEM

transparência (desde que


utilizado com parcimônia).

Outro belo exemplar de li-


miter é o Xenon, da PSP
Audioware, que possui uma
enorme variedade de pos-
sibilidades sonoras. Temos
ainda o ótimo Pro-L, da Fa-
bfilter, e os limiters da T-Ra-
cks, que podem ser úteis em
muitas aplicações.

Praticamente todos os fabri-


cantes têm modelos interes-
santes, mas todos exigem
muito cuidado para não se-
rem superutilizados.

CoNtRoLe da
diNâMiCa
VS. eMuLaÇão
Para voz e instrumentos como o sax, o R-Vox é Existem basicamente duas
insuperável pela praticidade e pela modernidade do correntes de compresso-
resultado. O que se ouve é algo bem comprimido, mas res em plug-ins: os que
que nós já ouvimos antes em situações bem sucedidas. objetivam a compressão
em si, ou seja, o controle
Se a gente deseja um plug-in de limiter para dei-
da dinâmica, e os que recriam equipamentos de
xar insertado no canal, o L1, da Waves, vem sen- hardware (normalmente antigos), que se carac-
do uma boa opção há muitos anos. Não é sutil, terizam pela sonoridade geral impressa, além do
mas é bem eficiente e “moderno”. Nas aplicações controle de dinâmica.
em que coloco um limiter em um master de gru-
po estéreo, prefiro o Waves L2 por sua clareza e Na primeira categoria podemos incluir o completís-

O dbx 160, compressor de hardware que eu mais gosto, tem poucas opções em plug-in.
Entre elas está o VC-160, da Native Instruments, que é muito bom.

60 | áudio música e tecnologia


simo compressor da Avid/Digidesign, que permite um controle fino de
todos os parâmetros envolvidos, mas que justamente por isso pode
ser pouco amistoso na hora de operar.

Dentre esses, o Pro-C, da Fabfilter, é praticamente insuperável para


quem domina os conceitos de todos os parâmetros envolvidos. É pos-
sível, por exemplo, deixar apenas os graves mais imunes à compres-
são ou só comprimir os elementos mono, e por aí vai. Possui, inclusi-
ve, um gráfico de volume x tempo que ajuda bastante. A exemplo do
compressor da Avid, pode se tornar bem complicado de ajustar para
os menos experientes.

No extremo oposto a esses dois temos os fantásticos R-Vox e Re-


naissence Axx, da Waves. Para voz e instrumentos com característi-
cas semelhantes a ela, como o sax, o R-Vox é simplesmente insupe-
rável pela praticidade e pela modernidade do resultado. O ajuste é
basicamente no threshold, e embora não se possa controlar attack
e release, o que se ouve é algo bem comprimido, mas que nós já
ouvimos antes em situações bem sucedidas. Já o Renaissence Axx
foca em sons impulsivos, como os típicos de violões e guitarras. É o
melhor jeito que conheço de trazer solos de violão em uma mix (a
variação de dinâmica em um caso destes é enorme).

Já no caso das sonoridades típicas ocorre algo mais ou menos único


nos compressores. Temos vários fabricantes emulando o mesmo mo-
delo clássico. Uma coisa comum neste tipo de equipamentos “vintage”
é que cada unidade específica tinha o seu som próprio, mesmo sendo
do mesmo modelo de outra. Assim, dependendo da qualidade da emu-
lação e das características próprias do equipamento emulado por cada
fabricante, há variações dentro de um mesmo modelo.

Talvez o mais emulado de todos seja o Urei 1176, do qual temos


vários exemplos, como o Bomb Factory, Waves, UAD, e por aí vai.
E, definitivamente, a sonoridade do 1176 é culturalmente bem in-
teressante. Apesar do que muitos imaginam, não há uma válvula
sequer dentro de um compressor destes (a fabricante se vanglo-
riava em 1968 justamente pelo fato do produto ser totalmente a
transistores e FETs). Seus controles de attack e release inéditos
na época e sua sonoridade dada pelos transformadores de entrada
e saída e pelo design classe A permitem até que muitos nem os
usem comprimindo, colocando os controles em off e usando-os
apenas como amplificadores de linha.

Outro clássico muito presente em diversos fabricantes é o LA-2A,


que possui uma sonoridade muito característica e uma dependência
da compressão com as características do sinal de entrada que pode
ser bem interessante.

Infelizmente, o dbx 160, compressor de hardware que eu mais gos-


MiXAGEM

Waves Puigchild 660: meu atual “compressor padrão”

to, tem poucas opções em plug-in. Existem o mo- sempre deixava ligados, mesmo que atuando su-
delo da UAD (que exige um ambiente dedicado) e tilmente em cada canal.
atualmente o da Native Instruments, VC-160, que
também é muito bom. O 160 não é nada sutil, po- Finalmente, o não menos importante master com-
rém mais uma vez é o caso de “já ouvi isso antes e pressor da SSL, que, como já disse, está presente
me soa muito bem”. em um número tão grande de mixagens de hits fa-
mosos que nem podemos imaginar.
Na categoria de “moderno porque é antigo”, talvez
as de maior destaque sejam as variações em tor- Como palavra final, apenas dois detalhes. O pri-
no do Fairchild 660 (mono) e 670 (estéreo). Atu- meiro é a gente não cair no conto da guitarra sig-
almente tenho usado como “compressor default” o nature. Ou seja, se a gente usa um plug-in cujo
Puigchild 660, da Waves, mas há várias opções de equipamento original gerou sucessos, não ne-
emulações desse equipamento, todas muito interes- cessariamente teremos sucesso garantido, assim
santes. Afinal, o equipamento original era realmente como um guitarrista não vira o Steve Ray Vaughn
algo único na história do áudio. só por ter uma SRV. O segredo é o que fazer com
os processadores, além da qualidade do material
No caso da Waves, foi usado como base para a original. Afinal, nós não conhecemos o número
emulação o equipamento do Jack Joseph Puig, e enorme de insucessos que também usaram estes
reconheço que mesmo eu particularmente não me equipamentos e não deram em nada.
identificando com o trabalho dele, tem uma so-
noridade muito interessante. É aquilo: quando a A outra coisa foi que acabei constatando que uma
gente o usa, ouve a compressão nitidamente, mas lista de plug-ins para levar a uma ilha deserta não
soa absurdamente moderno e culturalmente “in”. é necessariamente minimalista, tamanhas as possi-
Violões, guitarras, pianos, instrumentos de base bilidades existentes. O exercício de tentar priorizar
em geral – todos se favorecem do 660. ferramentas, porém, acabou se tornando muito efi-
caz na hora de escolher o que usar no dia a dia.
E não posso deixar de citar as diversas emulações
de compressor de channel strips de SSLs e Neves, Em nosso próximo encontro veremos o que mais le-
por exemplo, que no mundo do hardware a gente var, começando por reverbs e delays. •

Fábio Henriques é engenheiro eletrônico e de gravação e autor dos Guias de Mixagem 1, 2 e 3, lançados pela editora Música &
Tecnologia. É responsável pelos produtos da gravadora Canção Nova, onde atua como engenheiro de gravação e mixagem e produtor
musical. Visite www.facebook.com/GuiaDeMixagem, um espaço para comentários e discussões a respeito de mixagens, áudio e
música. Comente este artigo em www.facebook.com/GuiaDeMixagem.

62 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 63
PRODUÇÃO FONOGRÁFiCA | José Carlos Pires Jr.

gRaVaNdo uM gRaNde
MeStRe do VioLão
uma

Divulgação
coletânea
de obras
inéditas
de geraldo
Ribeiro

Há mais ou menos cinco me-


ses fui convidado para uma
reunião com um grupo de Geraldo Ribeiro: pioneiro em nosso país na execução
professores e artistas da ci- e gravação de repertório clássico para o violão
dade de Tatuí para discutir
um assunto de extrema importância para a mú-
CoNHeCeNdo geRaLdo
sica brasileira: o resgate da obra do violonista
e compositor Geraldo Ribeiro, conhecido como o
A carreira do virtuoso Geraldo Ribeiro, em seu mo-
pioneiro no Brasil na execução e gravação de re- mento de maior reconhecimento, iniciou-se no fim
pertório clássico para violão. dos anos de 1950. Baiano de Mundo Novo, Geraldo
Ribeiro, no início de sua carreira, era um autodi-
Até mudar-me para Tatuí, em 2008, confesso não data. Quando mudou-se para São Paulo, teve suas
ter ouvido falar do Professor Geraldo. Mesmo já primeiras orientações sobre teoria musical com o
tendo estudado violão, minhas principais referen- compositor Ascendino Teodoro Nogueira e aulas
cias nacionais eram Henrique Pinto, Fabio Zanon de violão com Oscar Magalhães Guerra. Em 1957,
e os irmãos Assad. Então, em 2010 tive a opor- Geraldo Ribeiro deu inicio à carreira de concertista
tunidade de produzir um vídeodocumentário sobre e passou a apresentar-se nas principais salas de
o Encontro Internacional de Violões, realizado pelo concerto do país, tocando, principalmente, trans-
Conservatório de Tatuí. Foi nessa semana que co- crições dos grandes compositores clássicos adap-
nheci e assisti, pessoalmente, um concerto do Pro- tadas para o violão.
fessor Geraldo e tomei consciência do quão respei-
tado ele é pelos violonistas consagrados. Em sua discografia encontram-se Geraldo Ribei-

64 | áudio música e tecnologia


ro Interpreta Nazareth e Barrios (1960), o álbum Na ocasião, foram discutidas as possibilidades de
duplo Violão em Noite de Gala (1962), Seis Brasi- relançar os discos já gravados pelo Professor Ge-
lianas de Theodoro Nogueira (1966), Geraldo Ri- raldo, lançar uma coletânea de partituras inéditas
beiro Interpreta Armando Neves (1967), Bach na e, principalmente, lançar um álbum com violonistas
Viola Brasileira (1967) e Concertino para violão e consagrados na atualidade executando peças com-
orquestra de Theodoro Nogueira (1972) Garoto postas pelo Professor Geraldo. A partir desse dia,
por Geraldo Ribeiro (1980). No auge da carreira, me comprometi, em nome do Curso de Produção
Geraldo Ribeiro foi considerado um dos melhores Fonográfica da Fatec Tatuí, a destacar uma equipe e
performers de violão que o Brasil já teve, e é reco- começar a agendar as gravações.
nhecido por ter transcrito as obras do compositor
Garoto a partir das gravações cedidas por Ronoel A seleção das obras a serem gravadas foi realiza-
Simões e Olavo Rodrigues Nunes. da pelo próprio Geraldo Ribeiro, em parceria com a
professora Marcia Braga, levando em consideração
Essa introdução é muito breve para descrever toda tra- as particularidades de cada músico convidado. Até o
jetória da carreira desse mestre, hoje mais conhecido momento, foram gravados o Duo Favoriti – formado
como Professor Geraldo. Porém, ela é importante para pelas violonistas Dagma Eid e Patricia Nogueira –,
entenderem como o meu caminho e o do grande mes- Ricardo Grion, Marcelly Rosa, Gilson Antunes, Edson
tre se cruzaram e quais foram os desdobramentos.
Lopes e a pianista Fanny de Souza Lima. Embora a
maior parte das composições do Professor Geraldo
PROJETOS SONOROS seja para violão, foram selecionadas, ainda, peças
para piano solo, canto e piano e flauta e piano.
Retomarei a história sobre a reunião, mencionada no
primeiro parágrafo. Em agosto de 2014, por iniciati-
PRÉ-PRODUÇÃO E
va da professora e violonista Marcia Braga, principal
responsável pela organização do legado de Geraldo
ASPECTOS TÉCNICOS
Ribeiro, realizamos um encontro com membros da
AMART (Associação dos Artistas de Tatuí), do Museu O processo de pré-produção da gravação foi pen-
Histórico Paulo Setúbal e da Fatec Tatuí para estudar sado de maneira a criar uma unidade sonora para
a possibilidade de criarmos ações de resgate da obra todas as peças. Para ter a mesma sonoridade em
musical do Professor Geraldo. todas as faixas do álbum, foi necessário adotar
um procedimento padrão de
captação. Assim, os músi-
Divulgação

cos estudaram as peças, sob


orientação do próprio Profes-
sor Geraldo, e, no momento
seguinte, agendamos a ses-
são de gravação na sala prin-
cipal do estúdio de Produção
Fonográfica da FATEC Tatuí.

Com relação aos procedimen-


tos técnicos de captação, optei
por usar um par de Neumann
KM 184 em close mic (um
abaixo do cavalete e outro
próximo ao espelho do vio-
lão), e dois AKG C214 como
overhead, para captar a am-
biência da sala principal do
estúdio. Para conter a rever-

Edson Lopes durante gravação de álbum que conta com violonistas


consagrados na atualidade executando peças compostas por Geraldo Ribeiro

áudio música e tecnologia | 65


PRODUÇÃO FONOGRÁFiCA
Divulgação

junto ao músico dando


as indicações de in-
terpretação e ouvindo
cada detalhe de sua
obra. Quando o músi-
co prefere dividir em
duas ou três partes a
peça, solicito que ele gra-
ve sempre três vezes a
Apogee Symphony 64: áudio foi enviado para mesma tomada, sem perder
o sistema e processado em 24 bits e 96 kHz a concentração. Mudanças de posição, pessoas
conversando ou mudança no “clima” do ambiente
beração excessiva próxima aos microfones KM184, prejudicam a concentração e fazem com que as
os músicos foram cercados por painéis absorvedo- tomadas sejam muito irregulares. A sessão termi-
res. Utilizei, ainda, uma placa modular de acrílico na na quando conseguimos a melhor performance do
frente para melhorar a reflexão de retorno para os músico, então ouvimos criteriosamente a grava-
violonistas. Decidi que os violonistas não ouviriam o ção, acompanhando a partitura, para confirmar se
som captado por meio de fones. Isso porque os mú- está tudo de acordo. Por fim, com a aprovação do
sicos estudaram e tomaram suas orientações de in- Professor Geraldo, encerramos o dia de trabalho.
terpretação ouvindo o som acústico dos instrumen-
tos. Portanto, mudar isso no momento da gravação Em 2015, músicos de reconhecimento internacional
seria desconstruir um trabalho de pré-produção que confirmaram participação na gravação do álbum: o
já havia sido realizado. Todo o áudio foi enviado para flautista Toninho Carrasqueira e os violonistas Guin-
nosso sistema Apogee Symphony 64 e processado ga e Sergio Assad. Além deles, ainda estamos estu-
em 24 bits e 96 kHz. Depois de tocar algumas ve- dando a possibilidade de incluir uma peça dedicada
zes, escutar o sinal gravado e com a aprovação do ao violonista da República Tcheca, Pavel Steidl, ou-
Professor Geraldo, começamos a gravar pra valer. tro grande admirador da obra do Professor Geraldo

A decisão em gravar a
peça na íntegra ou divi-
di-la em partes ficou a
critério dos músicos con-
vidados. O Professor Ge-
raldo é muito generoso
com essa escolha, mas
conta que seus discos
eram gravados em toma-
das únicas, ou seja, sem
cortes e edições. Disse,
ainda, que chegou a gra-
var um disco inteiro em
uma única sessão de gra-
vação, este fato confirma
a lenda de que ele era
impecável e tinha uma
precisão fora do comum.
Divulgação

Durante o processo de
gravação, o Professor Geraldo conta que seus discos priorizavam a precisão e
Geraldo permaneceu eram gravados em tomadas únicas, sem cortes ou edições

66 | áudio música e tecnologia


Divulgação

Ribeiro. Steidl concedeu um maravilhoso depoimen-


to, endossando a importância do Professor Geraldo
para a obra violonística brasileira.

Apesar das gravações estarem em curso, o projeto


completo não tem data prevista para lançamento,
porém quem quiser conhecer mais sobre a vida e
obra de Geraldo Ribeiro é só acessar o site www.
geraldoribeiro.com, ou, ainda, adicionar o perfil pes-
soal dele no facebook https://www.facebook.com/
geraldoribeiroviolao.

Um grande abraço a todos e até o próximo artigo. •

José Carlos Pires Júnior, músico e produtor fonográfico, é pro-


fessor das disciplinas de Técnicas de Gravação e Acústica Apli-
cada ao Instrumento. E-mail: cravelha@gmail.com.

Eu e algumas partituras: após conseguirmos a melhor FATEC Tatuí - Curso gratuito de Produção Fonográfica. Site:
performance do músico, ouvimos a gravação acompanhando http://tinyurl.com/fatec-prodfono
a partitura para confirmar se está tudo em seu devido lugar

áudio música e tecnologia | 67


SONAR | Luciano Alves

SoNaR
PLatiNuM
Começando a conhecer a
nova versão do programa
Anualmente a Cakewalk produz uma nova versão do So- Cakewalk, mas considere utilizar sempre a versão mais
nar. Geralmente, em meados de outubro já é possível poderosa, já que as mais leves, apesar de serem um pou-
adquirir o upgrade deste software tão cobiçado. É uma co mais baratas, são limitadas em termos de disponibi-
verdadeira corrida, já que a empresa brinda os usuários lidade de plug-ins de efeitos e de instrumentos virtuais.
com promoções especiais para os primeiros interessados
inscritos para adquirir a nova versão. Além das inovações implementadas no Sonar, tornando-o o
DAW (Digital Audio Workstation) mais avançado e flexível
Infelizmente, em outubro de 2014 não foi anunciada a do mercado, a Cakewalk reformulou totalmente a maneira
costumeira atualização do software, e, assim, ficamos como se relaciona com os usuários. Agora os associados
na expectativa. Mas, finalmente, a Cakewalk anunciou têm acesso ao novo Cakewalk Command Center, que facili-
os novos lançamentos em janeiro de 2015. Como sem- ta imensamente a rotina de baixar e instalar continuamen-
pre, com promoções para os que entrarem na fila, já te os updates e os upgrades para os softwares adquiridos.
que, oficialmente, os novos produtos ainda não estão no A associação é válida por 12 meses e está incluída no custo
mercado. Mas é só questão de tempo. Provavelmente, da aquisição de qualquer modalidade do Sonar.
na época em que esta matéria for publicada, as novas
versões do Sonar já estarão disponíveis. No meu en- Vale destacar que no Sonar Platinum foram incluídos:
tender, trata-se de uma estratégia da Cakewalk similar
à da Microsoft e da Apple: atrasam o lançamento das - Plug-in ProChannel Strip contendo nove efeitos
novidades para criar expectativa nos usuários, e, assim, - Plug-in VocalSync para alinhamento de vocais gravados
alcançam maior índice de vendas. - Addictive Drums 2 Producer Bundle
- 57 efeitos para instrumentos e mixagem
PRÉVia do NoVo SoNaR - 21 instrumentos virtuais

As últimas versões do Sonar, lançadas


em outubro de 2013, foram a X3, a X3
Studio e a X3 Producer. Agora estas
versões estão sendo substituídas, res-
pectivamente, pelo Sonar Artist, Sonar
Professional e Sonar Platinum.

Já que esta coluna sempre foi dedica-


da à análise da versão mais completa,
descrevo, a seguir, as novidades da ver-
são Sonar Platinum. Caso o leitor este-
ja interessado nas versões mais light,
poderá fazer uma pesquisa no site da O novo plug-in Vocal Sync, da Cakewalk

68 | áudio música e tecnologia


- Preço especial sionamento é
para clientes que possível aumen-
já possuem pro- tar ou diminuir
dutos Cakewalk o tamanho dos
ingredientes
do
A lista comple- Control Bar. Esta
ta dos recursos novidade possi-
encontra-se no bilita escolher as
O novo Control Bar, que inclui o agrupamento
final desta seção. dimensões dos
de recursos dispostos verticalmente
Vejamos, então, ícones do Control
algumas novidades importantes implementadas no novo Bar (small, medium ou large) de forma que os mesmos
Sonar Platinum. possam ser adaptados aos diversos tamanhos de moni-
tor ou mesmo a dois monitores usados conjuntamente.
VOCAL SYNC Os grupos de recursos podem, inclusive, ser alocados
na vertical, de forma a ocuparem menos espaço e pro-
Sincronização de vozes gravadas. O Vocal Sync é um porcionarem acesso imediato às funções do Sonar. Esta
poderoso plug-in que utiliza recursos de time stretching implementação agiliza o acesso aos recursos e minimiza
(elasticidade – alongamento ou compressão da duração). a necessidade de clicar no Menu a todo momento.
Utilizado para adaptar uma locução, melodia cantada ou
instrumento gravado, a uma nova duração. Através do MIX RECALL
time stretching é possível sincronizar duas pistas de áu-
dio para que soem ritmicamente corretas. Como já é sa- Recuperação dos ambientes do Sonar. Ainda no Control
bido, esticar ou encurtar a duração de um trecho de áu- Bar, foi introduzido o Mix Recall Module (módulo de recu-
dio pode trazer degradação do material sonoro. Portanto, peração dos ambientes de mixagem). Assim, é possível
mesmo com a Cakewalk anunciando que o Vocal Sync é
criar várias configurações de regulagens dos recursos e
especial, vale a pena ser prudente e utilizá-lo somente
de visualização e ativá-las rapidamente. Todas as posi-
em pequenas proporções.
ções de uma mixagem podem ser guardadas e recupera-
das instantaneamente. Desta forma, é possível comparar
NEW CONTROL BAR diversas mixagens realizadas em momentos diferentes.

Nova barra de controle. A barra de controle do Sonar


AUDIO SNAP
agora possibilita a visualização de todos os recursos ofe-
recidos pelo software. Através das opções de redimen-
Reposicionamento e sincronização do áudio. O Audio
Snap foi aprimorado para possibilitar
maior acuidade no reposicionamento
dos eventos de áudio. Agora, cada
nota pode ser reposicionada indivi-
dualmente, e, inclusive, sincroniza-
da com outras pistas de áudio. Isto
significa um grande avanço na edi-
ção dos ritmos tocados com impre-
cisão. O Quantize de áudio do Au-
dio Snap também foi melhorado. Os
novos algoritmos de ajuste do áudio
não produzem mais as degradações
indesejáveis tão costumeiras. Ago-
ra, aguardemos o lançamento do
software para verificar se isto é re-
almente verdade. Prometo uma aná-
O novo recurso Mix Recall lise específica deste tópico.

áudio música e tecnologia | 69


SONAR

Lista de instrumentos virtuais do Sonar Platinum


- Cakewalk Sound Center Piano
- Session Drummer 3 - Dimension Pro
- Square I - Rapture
- Roland Groove Synth
- Cyclone
- Cakewalk TTS-1
- PSYN II
- DropZone
- RXP
O novo Audio Snap, com mais recursos - SFZ Player
- Z3TA+ Classic
para sincronização entre pistas de áudio - Studio Instruments Drums
e edições de áudio individuais - Studio Instruments Bass - Lounge Lizard Sonar
- Studio Instruments Strings - Strum Acoustic Sonar
- Studio Instruments Electric - TruePianos Amber
addiCtiVe dRuMS 2
Bateria Addictive Drums 2. O Sonar Platinum e
Lista de efeitos virtuais do Sonar Platinum
Professional disponibilizam a versão 2 desta bate-
ria espetacular que havia sido introduzida no So- - Sonitus Compressor - Valve Driver ADR2S
nar X3. A Addictive é completamente diferente da - Sonitus Delay - Equalizer BQ2S
Session Drummer (bateria oficial do Sonar X2). Na - Sonitus Equalizer - Equalizer BX2S
Addictive são disponibilizados recursos primordiais - Sonitus Gate - Equalizer GEQ12
que a tornam muito real: microfonação do ambien- - Sonitus Modulator - Equalizer PEQ2B
te, microfonação overall, vazamento natural entre - Sonitus Multiband
- Equalizer PEQ322
as peças, efeitos individuais etc. Indo mais além, - Sonitus Phase
- BlueVerb RV-2080
é possível posicionar cada peça no estéreo, ende- - Sonitus Reverb
reçando-as para a saída principal, para a saída de - LP-64 Multiband Compressor
- Sonitus Surround
ambiente (room) e de overall. - LP-64 EQ
- Sonitus Surround Compressor
- Sonitus Wahwah - Boost 11
- AliasFactor - Channel Tools
- Chorus/Flanger - TH2 Producer
- HF Exciter - TH2 Sonar
- Classic Phaser - PX-64 Percussion Strip
- Compressor/Gate - VX-64 Vocal Strip
- Para-Q - TL-64 Tube Leveler
- Tempo Delay - TS-64 Transient Shaper
- Brickwall BW-2S - Tone2 Bifilter2
- Compressor CP-2S
- Analog TrackBox
- DeEsser
- Breverb
- Gate Expander GX622
A bateria Addictive 2 agora faz parte do pacote do Sonar - Tape Emulator
- Compressor FA770
- Console Emulator
- Limiter LM2S
- Analog Chorus CH2S - Softube Saturation Knob
No próximo mês, mais dicas do Sonar Platinum.
- Analog Phaser APH2S - QuadCurve EQ
- Oilcan Echo TLE2S - Tube Saturation
Boas gravações e sequenciamentos. •
- Tempo Delay 3D - PC4K S-Type Bus Compressor
- Stereo Imager ST2S - PC76 U-Type Compressor

Luciano Alves é tecladista, compositor e autor do livro Fazendo Música no Computador. Fundou, em 2003, a escola de música e tecnologia
CTMLA – Centro de Tecnologia Musical Luciano Alves (www.ctmla.com.br), que dispõe de seis salas de aula e um estúdio.

70 | áudio música e tecnologia


A LUZ DE
SEU JORGE
Os detalhes da prévia
do show que rodará o
Brasil em 2015
MEDIA COMPOSER
Edição em até 4K na nova
versão do programa

BRUNO & MARRONE


Dupla cai na estrada
com apresentação
cercada de tecnologia
áudio música e tecnologia | 71
 produtos
NOVO XLED 250 SPOT
A PR Lighting, uma das maiores fabricantes de ving head, o 250 Spot é de LED e possui tecnologia
equipamentos para iluminação profissional do CBT 90W. Desenvolvido para uso em clubes, ba-
mundo, teve recentemente mais uma novida- res, eventos corporativos e sociais, o novo item
de chegando ao mercado nacional: o XLED 250 tem disco de cor com oito cores, disco de gobo
Spot, que agora está nas prateleiras, a exemplo com 11 gobos e 11 canais DMX. Pesa 4,5 kg.

Divulgação
do moving head Solo 250.
www.pr-lighting.com
Além de herdar a maioria das vantagens do mo- www.proshows.com.br

UMA 4K PARA “BRIGAR” COM A GOPRO


Durante a CES 2015, superfeira tecnológica realizada cerca de 50 minutos, enquanto que em Full HD (1080p)
em janeiro em Las Vegas, a Sony apresentou sua nova o equipamento pode funcionar por até 2 horas e 20 mi-
4K Action Cam FDR-X100V – uma filmadora bem peque- nutos. No que diz respeito à memória, a 4K Action Cam
na que, a exemplo da GoPro, é, a princípio, destinada trabalha com cartões microSD (de até 128 GB) de alta
aos amantes de esportes e das filmagens radicais. No velocidade. Entre outros recursos que valem a citação
entanto, há um importante diferencial no novo produto: estão a filmagem com áudio estéreo e a conectividade
a possibilidade de com smartphones Android e iOS por meio do app Sony
Divulgação

captar imagens Play. É questão de tempo para produções profissionais


em 4K. serem realizadas com o novo “brinquedo”.

No modo 4K, a ba- www.sony.com


teria da câmera dura www.sony.com.br

PROLED PH-8,92MM: PRATICIDADE

Divulgação
E ECONOMIA OUTDOOR
O modelo outdoor da Proled que tem com altas taxas de contrastes e brilho.
conquistado cada vez mais espaço no
mercado é o PH-8,92mm Outdoor. Trata- Entre algumas outras características
-se de um painel leve, prático e versátil, do produto estão a densidade de Pi-
sendo uma excelente opção para aplica- xels/m² de 12.545, ângulo visual de
ções outdoor de alta definição. O painel 140/140° e refresh rate de 800 hz. O
de LED, que pode ser aplicado em modo gabinete mede 500 x 1000 x 71 mm
plano ou curvo, é ideal para estádios, e pesa 9,5 kg.
shows e aplicações que sofram interfe-
rências climáticas. Apesar de econômico, www.proled.com.br
o modelo proporciona imagens vivas, www.proshows.com.br

AJA TRAZ SUA CÂMERA CION AO BRASIL


A AJA Video Systems, empresa com sede em Grass vel dentro dos mais diversos ambientes.
Valley, Califórnia, recentemente introduziu no mer-
cado nacional sua nova câ- Com apenas 2,8 kg e detalhes em madeira e couro
mera Cion, que, de que garantem um charme extra ao produto, ela grava
acordo com repre- nos formatos 4K, UltraHD, 2K e HD. “Cion é a união de
sentantes da fabri- grande design e grande funcionalidade – uma enge-
cante, foi de- nharia estética que temos o orgulho de chamar de ‘A
senvolvida Ciência do Belo’”, afirma a empresa, em seu site oficial.
Divulgação

para ser
confortá- www.aja.com
vel e flexí- www.pinnaclebroadcast.com
72 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 73
em fo c o

NOVIDADES ROBE NO MERCADO MEXICANO


A MixPro é um de uma série de novos clientes da Vari

Divulgação
Internacional, distribuidor mexicano da Robe, que inves-
tiram em produtos Robe nos últimos meses. Sediada no
distrito de Xochimilco, na Cidade do México, a empresa
adquiriu 20 Pointes, que foram diretamente integrar a
turnê da cantora mexicana Alejandra Guzman, cuja ilu-
minação foi concebida por Martin Contreras.

O diretor comercial da MixPro, Ricardo Dabne, queria ex-


pandir a divisão de iluminação da empresa com uma nova
compra de luz em movimento, e fez sua escolha após pes-
quisa junto a conhecidos, incluindo o próprio Contreras,
que foi um dos primeiros LDs no México a usar Pointes. “Eu
realmente gosto da energia da lâmpada. As cores são gran-
des, bem como a gama de gobos e efeitos”, afirma Martin.

Equipe MixPro em destaque: empresa tem utilizado


"Nós fomos imediatamente atraídos pelo fato de que o Poin-
Pointes em grandes turnês e casas de shows
te funciona igualmente como um dispositivo elétrico spot,
wash ou feixe, e como isso nos dá uma enorme abrangência e muitas opções”, destaca Miguel Carmona, cuja empresa tem, entre
seus clientes regulares, artistas populares como Pepe Aguilar, Sasha, Benny & Erik e o mundialmente celebrado Cafe Tacvba. A MixPro
ainda cuida de toda a iluminação e dos requisitos de som de duas casas movimentadas: o Auditorio Blackberry e o Foro Indie Rocks.

WORKSHOP DE DOCUMENTÁRIOS
NO RIO DE JANEIRO
O Rio de Janeiro será palco, entre os dias 21 e 24 de fevereiro, do O workshop também pretende otimizar a participação de
Pic Doc, workshop que tem como objetivo, de acordo com comu- empresas produtoras de documentários durante o RCM. A
nicado oficial, o “desenvolvimento de projetos de documentários coordenação do treinamento será feita por Heidi Fleisher,
com potencial de exportação e internacionalização”. O evento é produtora e consultora na área de documentários, e pelo
um fruto de uma farceria entre a Brazilian TV Producers (BTVP) consultor de documentários do BTVP, Yves Jeanneau, pro-
– programa de exportação da ABPITV (Associação Brasileira de dutor de Le Mystère de la Disparition des Abeilles (2010),
Produtoras Independentes de Televisão) – e a Apex-Brasil. Secrets du Manga (2010), Anthrax War (2009) e Naked
Science (2008), entre outros, além de pro-
Divulgação

mover e realizar há 25 anos o mercado Sunny


Side of the Doc, um dos eventos internacio-
nais mais importantes do gênero. Jeanneau
também é criador do Asian Side of the Doc.
Ambos eventos estão no calendário de ativi-
dades internacionais do BTVP em 2015.

Serão selecionados até dez projetos de docu-


mentários para participação nos quatro dias
de treinamento. O processo de seleção será
feito por especialistas e consultores interna-
cionais, sob a coordenação de Yves Jeanne-
au. Mais detalhes podem ser encontrados no
site da ABPITV: http://abpitv.com.br.

Cena do documentário Elena, de Petra Costa, vencedor de diversos


prêmio e pré-selecionado para indicação ao Oscar 2015

74 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 75
Capa Rodrigo Sabatinelli

FELIZ ANO NOVO Seu Jorge mostra prévia de


megaturnê que vai rodar o
país em 2015
William Alves

O cantor e compositor Seu Jorge se apresentou na lizou, no dia anterior à virada do ano, um ensaio de
Praia de Copacabana na virada do dia 31 de dezem- montagem dessas torres. E no dia do evento tudo
bro para 1 de janeiro, logo depois da tradicional saiu como esperado.
queima de fogos que ocorre anualmente num dos
mais importantes cartões postais da cidade. CeNaS MoStRaM
gRaNdioSidade
O rider de luz criado por Naldo Bueno, da KN Pro-
jetos, para atender ao cantor e a outros artistas, Durante o show de Seu Jorge, os equipamentos ci-
como, por exemplo, o grupo Titãs, contou com 24 tados atuaram da seguinte forma: os LED 600 e os
Robe Color Spot 2500; 30 Elation Beam 5R, sendo Color Wash, que contam com grande poder de cor e
seis deles ao chão, usados no contraluz; 12 Robe um zoom versátil, serviram à banda e ao cantor, en-
Color Wash 2500 fazendo as luzes laterais; 16 Robe quanto que os Elation, posicionados ao fundo palco,
LED Wash 600 também para laterais; 12 Martin Ato- surpreendiam quando eram acionados.
mic 3000 e 72 PAR LED LP 354, sendo 30 dentro dos
trusses e 42 divididas em palco e gargarejo. Responsável pela criação das cenas do show, o lighting
designer Erich Bertti disse que sua luz procurou refle-
Para a apresentação do ex-líder do Farofa Carioca tir o suingue e o ritmo dançante das canções do re-
foram adicionados 36 Elation Beam 5R, distribuídos pertório de Seu Jorge. De acordo com o iluminador, o
uniformemente em seis torres, instaladas durante a peso do naipe de metais e a marcação forte do cavaco
saída de palco dos Titãs, e a queima de fogos, para foram elementos que ajudaram muito na criação de
que o show do cantor e compositor se iniciasse logo alguns dos principais momentos do espetáculo.
após. A fim de garantir o sucesso dessa operação,
sua equipe técnica, dirigida por Tobé Lombello, rea- “Em hits como Burguesinha e Mina do Condomínio,

76 | áudio música e tecnologia


Seu Jorge foi iluminado por aparelhos como o LED 600 e os Color Wash

por exemplo, utilizei os brutes para sempre uma surpresa”, explicou ele.
jogar a plateia para cima, enquanto
que, nas músicas mais lentas, como Como complemento do rider, foram usados, ao
São Gonça, trabalhei com luzes la- fundo do palco, diversos módulos de LED de 7
terais e sombras contrastadas pro- mm de distanciamento entre pixels, que forma-
vocadas pelos Elation, que passavam ram um grande painel emoldurado por uma corti-
de um lado para o outro no rosto [de Seu Jorge]. O na de LED. Nesse painel, por meio de um Catalyst
mapa, na verdade, foi feito para impactar, e a cada PM 4.4 HD, foram exibidos conteúdos desenvolvi-
show atualizo mais e mais meus cue lists, trazendo dos por Menga Cruz. As luzes do show foram con-
troladas por sistemas gran-
dMA, pertencentes à LPL,
tendo, dentre eles, uma
Full Size II e uma Light II.

dVd aiNda
eM 2015
Inicialmente, a produção do
cantor desejava registrar em
DVD o show do réveillon, em
Copacabana. Na ocasião, Tobé
se reuniu com Erich e Menga
e, juntos, afinaram detalhes
sobre o projeto, que teria luz
assinada pelo segundo e con-
teúdo de imagens pelo tercei-
ro. No entanto, o projeto aca-
bou sendo adiado.

De baixo para cima, o rider criado para o Reveillon de Copacabana:


estrutura atendeu a nomes de peso como Seu Jorge e Titãs
Capa

eM CaSa
erich bertti reformula rider e dá vida nova a show
Luz & Cena: Erich, quem foi o responsável por adequar e aprimorar [as luzes] ao som ao vivo.
sua entrada na equipe de Seu Jorge?
L&C: O que mudou, do ponto de vista da luz nos
Erich Bertti: O produtor técnico Tobé Lombello, shows de Seu Jorge, desde que você assumiu
diretor da Freak House Productions, com o qual já o comando? Você repaginou todo o rider, de-
trabalhei por diversas vezes, em inúmeros shows senhou outra planta e outras cenas para suas
internacionais iluminados pela LPL. Em nossas con- músicas?
versas pelos bastidores da vida, sempre falamos do
desejo de realizar algo como essa tour: um projeto Erich: Mudou tudo. Um dia depois de receber o con-
que trouxesse um diferencial, um padrão “gringo” vite, peguei um lápis e um caderno e comecei a ra-
para um artista brasileiro. E calhou de ser o Jorge. biscar. Aprontei a planta baseado numa lista pré-de-
terminada devido a valores já combinados para essa
L&C: No momento em que recebeu esse convi- tour e para os shows já vendidos. Mas a estrutura
te, você estava à frente de muitos negócios da inteira foi modificada. O mapa ainda não está como
LPL. Fale sobre isso. imaginei, mas o resultado inicial ficou bem próximo
do que, de fato, será.
Erich: Recebi o convite com muito gosto. A LPL
sempre exigiu muito de mim. A responsabilidade lá L&C: É verdade que esse show, feito para gran-
é grande demais e creio que este seja o momento des espaços, também pode ser levado a peque-
para me voltar mais à arte da iluminação do que a nas casas de shows?
seu próprio business.
Erich: Acredito que as casas de shows tenham fato-
L&C: Quando foi sua estreia com o artista? res limitantes para a criatividade do designer brasi-
leiro, como, por exemplo, pé direito baixo, boca de
Erich: Meu primeiro show com ele foi no dia seis de cena pequena, estruturas inadequadas. Enfim, tudo
dezembro. Estava à frente das tours de KoL e Linkin ainda deixa um pouco a desejar, então o jeito é ter
Park, mas com a mente no Seu Jorge, ouvindo o som uma planta que se adapte a esses espaços e que,
dele nos vôos entre as cidades, fazendo o possível para mesmo assim, não perca a identidade. Nesse mo-
me familiarizer logo com o seu universo. Um dia antes mento, independentemente do local em que serão
desse show entrei no estúdio da LPL e programei uma realizadas as apresentações, viajamos com equipa-
base [de luz para o dia seguinte]. Daí em diante foi mentos da RGB Luz, do Alexandre Sanches.

Ao fundo do palco, grande painel de LED é usado para


exibir imagens pré-produzidas e captadas ao vivo
78 | áudio música e tecnologia
“A ideia era gravar já na vira-
da do ano, mas por motivos de
diversas ordens concluímos que
o ideal seria deixar para mais
à frente. É muito provável que
esta gravação saia ainda em
2015, pois, com o show rolando
na estrada, essa é a tendência
natural”, explica Menga, que vê
bons frutos na parceria com Eri-
ch. “Falamos a mesma língua,
pensamos muito parecidos, te-
mos uma sintonia bacana, prin-
cipalmente quando o assunto é
conceber e criar um espetáculo
de luz”, encerra ele. •
Seu Jorge promete um DVD para 2015: megaprojeto
deve ser gravado ainda no primeiro semestre do ano

áudio música e tecnologia | 79


Show Rodrigo Sabatinelli

aQui e agoRa
bruno & Marrone caem na
estrada com show tecnológico

Divulgação
A dupla sertaneja Bruno & Marrone, uma das mais adora- que juntos fazem com que os desenhos promovidos pe-
das do país, está em turnê com seu novo show, Agora, no los aparelhos sejam ainda mais marcantes, e, para o
qual apresenta músicas do disco homônimo, gravado ao contra dos músicos, seis aparelhos Wash LED, que pra-
vivo em 2014, sucessos de toda sua carreira e regravações ticamente não mudam de posição.
de importantes sucessos da música brasileira, tais como
Oceano, de Djavan; Alma Gêmea, de Fabio Jr., e Para os contras da dupla são lançados mais 12 aparelhos
Quando a Chuva Passar, de Ivete Sangalo.

Divulgação
Lighting designer que por sete anos caiu na estra-
da com os artistas, Guillermo Herrero é quem mais
uma vez assina o rider. Responsável pela criação
de mapas de shows da dupla como De Volta Aos
Bares, Sonhando, Juras de Amor e Pela Porta da
Frente, ele desenvolveu para o espetáculo um pro-
jeto “bem particular”, segundo o próprio.

Do ponto de vista da iluminação, o novo show


conta, basicamente, com seis linhas aéreas, seis
laterais e uma de chão. Nelas, equipamentos de
diversas marcas e modelos promovem efeitos
impressionantes, o que é uma das marcas do
trabalho do iluminador.

Para o contraluz geral, por exemplo, são des-


tinados seis pares de moving lights Beam 200,

Os Giotto fizeram as laterais do palco: potência e


precisão dos movings mostraram-se nítidas

80 | áudio música e tecnologia


Wash LED, que somados aos demais do mesmo
modelo criam um volume de luzes de cores for-
tes e contrastadas, deixando para os efeitos mais
cinco pares de Beam 200, seis MAC 2000 e seis
TW1 para a frente e, para a plateia, dez MAC 600.

Para as laterais, cobertas por linhas verticais,


são usados 12 Giotto divididos entre os mode-
los 400 e 400 CMY, e, por fim, ainda sobre o
que concerne ao rider, para iluminar o cenário,
formado por uma grande cortina de voal, es-
tão disponíveis diversas PAR LED de 3W e mais
uma grande quantidade de aparelhos Wash LED
600, todos pertencentes à dupla.

O rider, operado na estrada pelo iluminador Tinho


Cardozo, é controlado por um sistema grandMA
Ultra Light, do qual Guille se diz fã, “pois revolu-
cionou o mercado da iluminação, possibilitando
a programação virtual de luzes por meio do WY-
SIWYG com modelos de fixtures originais para,
posteriormente, substituí-los por cópias”, conta.

boNS e VeLHoS LedS


Além do rider, são dispostos ao palco alguns
painéis de LED. Ao fundo, por exemplo, uma
enorme tela, composta por módulos de 7 mi-
límetros de distanciamento entre pixels, serve
de base para a exibição de imagens de diver-
sos momentos da carreira da dupla.

Nela, conteúdos exclusivos, criados especialmen-


te para a turnê, imagens captadas por câmeras
ao vivo, manipuladas pelo mídia server Catalyst,
e trechos extraídos de vídeoclipes dos sertanejos
dialogam a todo tempo durante a apresentação.

Ainda ao fundo do palco, outros módulos – sendo


estes de 10 milímetros de distanciamento entre pi-
xels – compõem a cenografia. Dispostos em três
linhas horizontais e duas verticais, eles se apresen-
tam como verdadeiros artefatos de luz. De acordo
com Guille, estes módulos, especialmente, são usa-
dos em layers individuais com efeitos como in-out,
zoom, rotator e color.

“Uso muitos JPGs como bolas desfocadas, aros,


corações e muitos outros elementos visuais. No
show, em alguns momentos, temos os módulos de
LED com uma imagem replicada em todos eles. Em

áudio música e tecnologia | 81


Show

Em Amor de Carnaval, a opção pelo


Divulgação

grafismo se dá com destaque para


imagens de natureza. Ao longo de
toda a música, vídeos distintos com-
poem a cenografia. Dentre eles es-
tão o vídeo de uma caverna, que tem
uma espécie de fonte natural de água
a seu redor, além de vídeos de uma
lagoa ao entardecer, de árvores flori-
das e de um céu limpo, sem nuvens.
“Essas imagens são acompanhadas
pelas luzes, que seguem seus tons
mais fortes, como amarelo e azul,
dentre outras”, conta Guille.

Em Vida Vazia, canção mais densa


que as demais e que tem, na opinião
de Guille, um tom mais sombrio, são
usadas imagens em preto e branco
Conteúdo registrado ao vivo é exibido no painel de LED, ao fundo do palco de paisagens que refletem sensações
relacionadas ao seu clima. O desta-

outros, no entanto, a imagem do painel do fundo se junta à que do visual utilizado é o clipe de árvores secas com
dos demais e cria um um único painel”, explica, lembrando nuvens passando por cima, que somente reforçam o am-
que somadas a essas placas estão 12 ribaltas de LED do tipo biente soturno e fazem com que as luzes criem massas
Six Pack, usadas com o propósito de criar volumes de cor. em tons similares. Outra música que tem um clima mais
denso, Dormi na Praça, segue a linha de Vida Vazia e
CONTEÚDO RICO tem, além de imagens de luminárias de praças e par-
ques públicos, luzes de baixa intensidade, escuras, em
Os shows de Bruno & Marrone têm, por característica, o uso tons de congo blue, entre outros.
demasiado, no bom sentido, de conteúdos
gráficos, que fazem deles verdadeiros es-

Divulgação
petáculos visuais. E em Agora, atual turnê,
não poderia ser diferente. Idealizadas por
Menga Cruz, sócio de Guille na Image4U,
empresa especializadas em soluções para
grandes espetáculos, as imagens estão
presentes em 85% do repertório.

Na música Sem Compromisso, por exem-


plo, que, como o próprio título sugere,
conta a história de um homem que não
quer se envolver emocionalmente com
uma única mulher, são usadas imagens
de coquetéis, letreiros em neon, dança-
rinas de cabaré e corações, ou seja, ele-
mentos que são trabalhados em layers e
que dialogam com o tema, passando ao
público a ideia de que o tal personagem é
adepto da farra e da curtição.

Música Sem Compromisso conta com elementos gráficos


como corações, dançarinas de cabaré e coquetéis

82 | áudio música e tecnologia


Divulgação

Simulação das luzes do palco em 3D: obra do designer Guillermo Herrero

No hit Vou Te Amarrar na Minha Cama, 24 grandes corações são


manipulados ao vivo. Eles recebem efeitos de zoom e, por conta
disso, parecem pulsar nos painéis de fundo do palco. Com um
dimmer aplicado, passam ao público a sensação de estarem flu-
tuando, sempre emoldurados por tons harmoniosos de luz, como
vermelho, lavanda e branco.

Em Alma Gêmea, uma fusão de imagens é o destaque. Trata-se


de uma soma de layers contendo uma espécie de tecido rendado
translúcido e diversas flores metalizadas. Em harmonia com o
painel, a luz, composta por 12 aparelhos Beam, é afinada em
pontos distintos, marcando ações de Bruno e de Marrone, que se
movimentam pelo palco e são seguidos por tais movings.

“Eu gosto muito [das luzes de Alma Gêmea]. Gosto do conceito,


que também é adotado em um pout-porri de boleros, no qual
também usamos imagens de renda, exibidas no painel central, e
de babados, dispostos nos paineis de arremate. É, dos momentos
do show, um que me agrada bastante”, conta Guille.

“É difícil descrever [o show] todo do ponto de vista dos conteúdos.


Cada música tem sua particularidade, seu grande momento, e é
exatamente isso que faz com que ele seja rico. Em uma [música]
trabalhamos com imagens de origamis coloridos. Em outra, um
caleidoscópio se movimenta. Com um media server como o Ca-
talyst é possível criar muito, e os resultados, em geral, são sem-
pre interessantes”, encerra Guille. •

áudio música e tecnologia | 83


Me dia Com po s e r Cristiano Moura

Resolution
independence
Nova versão do Media Composer permite edição
nativa em até 4K e oferece suporte a novos formatos

Não chega a ser uma novidade, pois a Avid já tinha antecipa- vídeo compatível. Caso esteja interessado, recomendo visi-
do seu trabalho em feiras durante 2014 e, mais recentemen- tar o site da Avid e confirmar quais os modelos e fabricantes
te, fez uma série de vídeos mostrando o que esperar da nova de hardware oferecem de fato esta possibilidade.
versão. Mais agora que está oficialmente lançada, podemos
mergulhar um pouco mais a fundo e entender o que temos a Ainda nas configurações do projeto, temos duas novidades.
ganhar com a versão 8.3 do Avid Media Composer. Primeiramente, há novas velocidades de quadros por segun-
do. O Media Composer 8.3 aceita vídeos filmados em 48p e
FIM DA RESTRIÇÃO AO 60p quadros por segundo (fig. 2).
FORMATO FULL HD
Em segundo, outras configurações com relação à distribui-
Já faz um tempo que o Media Composer permite que o usu- ção de cores. Além do padrão REC 709 e RGB das versões
ário faça um link de sua mídia de qualquer formato, mesmo anteriores, foi incluído o Bt/REC. O RGB 2020 é usado em
acima de 1920 x 1080. Era possível visualizar, cortar, editar broadcast para transmissão de Ultra High Definition e By/
e reduzir a área de interesse para o tamanho desejado em REC. O RGB DCI-P3 serve para projeção de filmes em 2K e
tempo real com FrameFlex (fig. 1), porém, sua timeline e a 4K em projetores adequados para este fim (fig. 3).
exportação do vídeo era limitada ao formato full HD.
TESTANDO O DESEMPENHO
Se levar em consideração que o Adobe Premiere Pro e o Final
Cut Pro já tinham este suporte faz algum tempo, não é de todo Como dito anteriormente, uma coisa é adaptar um código
errado afirmar que a Avid demorou para quebrar esta limitação. ou uma função às pressas e outra coisa é arquitetar do
Mas para tudo na vida há um motivo, e a implementação foi feita zero um novo codec otimizado. Testando num MacBook Pro
da melhor maneira possível, sem adaptações e quebra-galhos. com SSD, 16G B de RAM e processador Intel i7 2.6 GHz,
o desempenho foi muito satisfatório. Vamos, a seguir, en-
De fato, há uma nova família de codecs para este fim, chamada tender alguns aspectos que estão em torno desta questão.
de Avid DnxHR, que é um dos principais responsáveis pela per-
formance do sistema ao reproduzir arquivos nestes for-
matos. Em poucas palavras, como qualquer outro codec,
o Avid DNxHR tem como objetivos reduzir o tamanho do
arquivo e diminuir problemas com performance do siste-
ma, isso sem danos à qualidade da mídia.

O QUE MUDA NA CONFIGURAÇÃO


DE UM PROJETO
O usuário vai reparar que a lista de formatos agora
contém opções para os formatos 2K, Ultra HD e 4K
(fig. 2). Ou seja, desta vez a timeline estará nativa-
mente para importação, gerenciamento e entrega no
formato escolhido. Este suporte vai além da edição,
permitindo que a mesma resolução escolhida seja
vista no monitor do cliente com qualquer hardware de

Figura 1 – FrameFlex
84 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 85
Me dia Com po s e r

Ao trazer uma mídia em 4K via AMA Link, pode haver uma


frustração do usuário em ver que nem em todos os com-
putadores a reprodução será perfeita. Isto pode variar de
acordo com o codec, mas, de forma geral, ainda é muito
processamento para as máquinas atuais.

A boa notícia é que para resolver esta questão basta aces-


sar a aba “Format” na Project Window. Foi implementado
um novo campo, chamado “Proxy Timeline” (fig. 4), onde Figura 3 – Color Space
o usuário pode facilmente trabalhar com versões deste ma-
terial numa menor resolução, aliviando o processamento. FINALIZANDO E EXPORTANDO
Temos a opção de trabalhar em 1/4 ou 1/16 da resolução.
Logicamente, a questão visual fica um pouco prejudicada, Por enquanto existem apenas duas possibilidades para ex-
mas quando se está na fase de montagem, a única coisa portar seu conteúdo em formatos acima de HD. A primeira
que importa é ter todos os vídeos à sua disposição e uma opção é exportar um arquivo DPX, que funciona bem para
máquina rodando bem para manter seu fluxo criativo. usuários Windows ou Mac, e a segunda é exportar como ar-
quivos Quicktime utilizando o codec ProRes 444 (apenas para
Mas então fica uma pergunta no ar: e se o usuário não quiser usuários de sistemas Apple).
trabalhar numa menor resolução? E se ele quiser trabalhar
na resolução total da mídia? É aí que entra o novo codec Avid Apesar destes dois formatos serem mais que suficientes, a
DNxHR. Conforme já foi dito, uma vez que o usuário transco- empresa já informou que pretende adicionar outras opções
dificar sua mídia utilizando este codec, haverá uma redução durante o ano de 2015.
no tamanho do arquivo e uma performance mais fluida. O
usuário pode escolher entre quatro opções de compressão a Vamos ficando por aqui. Este artigo foi mais direcionado
seguir: DNxHR LB (maior compressão), DNxHR SQ, DNxHR aos aspectos principais do update, mas existem outros
HQ, DNxHR HQX (alta qualidade e 10-bit) e DNxHR 444. recursos valiosos nesta nova versão, como a possibilida-
de de filtrar master clips e bins, além da List Tool, que
Levando-se em conta que o Media Composer já tem incor- substitui a ferramenta EDL Manager.
porado a função de consolidate, transcode e renderização
em plano de fundo, há toda uma mudança e quebra de Abraços e até a próxima!
paradigma em torno da ferramenta.

Figura 2 – Formatos novos Figura 4 – Proxy Timeline

Cristiano Moura é produtor musical e instrutor certificado da Avid. Atualmente leciona cursos oficiais em Pro Tools e treina-
mentos em mixagem na ProClass-RJ.

86 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 87
Il um inando Rodrigo Horse

Layza Vasconcelos
iLuMiNaNdo
CoM CiÊNCia
unindo ciência e luz para criar conceitos
Fig. 1 – Cia. Sala 3 de Teatro (Espetáculo Maurice)

A partir de agora também estarei assinando esta coluna junto tada por Jay Vaquer, segurando seu guarda-chuva. Ele está com
ao amigo Prof. Dr. Farlley Derze. Tive o prazer de acompanhar seu pensamento longe, pensando sobre seus amores. Ele sente
seus trabalhos como leitor, depois como amigo e agora como o peso da chuva que cai sem parar, sons de raios estalando ao
colunista. É uma honra estar aqui, no caderno Luz & Cena, re- longe. Ele olha no horizonte, sentindo e analisando sua vida,
fletindo com vocês sobre a arte de iluminar. sua história, suas perdas... Poderíamos imaginar que essa cena
acontece com um amigo, na nossa vida, em um cinema, mas ela
Quero começar essa primeira conversa com vocês tratando da está no palco, neste recinto que nós podemos criar e imaginar
iluminação cênica. Muitas pessoas pensam que este tipo de ativi- diferentes situações para transpor ao público uma ideia que de-
dade se aplica somente aos espetáculos artísticos em suas várias sejamos. A iluminação pode criar efeitos e modificar espaços de
facetas, mas não podemos deixar acordo com a nossa vontade, como
de contemplar outras áreas, como em um casamento, em que simples
Gabriel Lotufo

o design de interiores e a arquite- flores usadas como decoração po-


tura. Nós, iluminadores cênicos, te- dem receber luz, e usando a ilumi-
mos a capacidade de criar e realizar nação podemos “pintar” o teto com
sonhos, transpor para os olhos de sombras e luzes (ver Figura 2).
todoso os conceitos e as ideias que
queremos para uma cena ou para São duas situações (homem na
um espaço. O grande iluminador Pe- chuva e o casamento) em espaços
ter Gasper já falava para os lighting diferentes, mas que contemplam
designers de interiores e arquitetos: conceitos e aplicabilidades com a
“Querem criar cenários de luz? Pro- luz, trabalhando espaço e profun-
curem conhecer o trabalho dos ilu- didade, claro e escuro, quente e
minadores cênicos”. Gasper foi um frio, trazendo sensações destes lu-
grande iluminador, que fez diversos gares que foram modificados pela
projetos voltados para a arquitetura, iluminação, buscando transpor
carregando com ele conceitos e apli- uma ideia do diretor ou pintar o
cações da iluminação cênica. teto com luz, fazendo do teto uma
tela branca para nossa “tinta” agir.
Vamos imaginar uma cena (veja a
Figura 1). Um homem na chuva ao Desde os tempos mais remotos os
som da música Boys Don’t Cry, can- homens procuram meios de ilumi-

Fig. 2 – Casamento
88 | áudio música e tecnologia
áudio música e tecnologia | 89
Layza Vasconcelos
Il um inando

nar seu espaço. Sejam os homens das cavernas usan-


do suas tochas, lucernas de pedra ou usando a luz de
LED de seu celular para iluminar as cadeiras de uma
sala escura de cinema. Tanto um como o outro usaram
o artifício da luz para descobrir seu espaço, para se
localizar. O conceito foi o mesmo, mas a situação e a
época são diferentes. Aproveito aqui para uma peque-
na observação: este mesmo homem das cavernas, que
muitos o chamam de homem primitivo, ainda persiste
em nós. Podemos usar como exemplo uma situação
simples de quando se acaba a luz em sua residência:
a que recorremos? Aos nossos ancestrais, ao “homem
primitivo”, que há mais de 300 mil anos já sabiam e já
utilizavam o fogo como forma não somente de caça, Fig. 4 – Espetáculo Dançadeira, do Grupo ¿por quá? de Dança
para se aquecer em uma noite fria, mas também para
iluminar onde ele está e para onde ele vai.
projetar a luz de um evento em que se tem que criar toda uma
Podemos até mesmo dividir nossa história em duas fa- estrutura física para realizar nossos conceitos, como palco,
ses: “Homem-Luz e Casa-Luz”, como fala Natale Bonali rotunda, escadas, moving heads, elispsos, painéis de LED...
em seu livro A História da Iluminação Artificial. Enquan- Somos “homens-luzes”, carregando nossa luz e criando luga-
to que no primeiro o homem fabrica sua própria fonte res e espaços para transpor ideias e conceitos, mas também
de luz e a leva para onde vai, na segunda a luz já toma trabalhamos com a ideia de modificar a “casa-luz”.
os espaços, como casas, igrejas, salões. A iluminação
é incorporada na “casa”. Temos, então, duas situações: Isso acontece quando vamos trabalhar com um espetáculo
uma em que o homem carrega sua luz e a outra em que em um teatro. É o local que possui a luz que precisamos.
o espaço já possui sua própria luz (Figura 3). Em vez de velas e tochas, temos refletores plano convexo,
setlights, elipsoidal, fresnel... Aqui a luz já se encontra, mas
O QUE FAZEM OS temos que modificá-la ao nosso favor, ao que desejamos em
ILUMINADORES CÊNICOS favor do trabalho que se vai realizar, como, por exemplo,
construir um caminho de luz para que o cavalheiro possa
Então, o que nós, iluminadores cênicos, fazemos? Carrega- chegar até a dama e a chamar para dançar (Figura 4).
mos os nossos conceitos ou ideias, que poderiam ser, por
exemplo, uma vela ou uma lamparina, as incorporamos ou Mas sabemos que isso é muito complicado. Levante a mão
criamos um espaço, modificando-o ao nosso pensamen- quem alguma vez teve a oportunidade de usar os mesmos
to do conceito cênico. Isso acontece muito quando vamos refletores, nas mesmas posições, mas em teatros diferen-
tes? Isso é quase impossível, e é o sonho de todo
iluminador. São disposições de varas de luz dife-
Reprodução

rentes, alturas diferentes, equipamentos que po-


dem ser os mesmos, mas de marcas diferentes
que vão nos proporcionar brilhos e aberturas di-
ferentes. Assim voltamos ao início do nosso bate-
-papo: manter o conceito, manter a ideia do que
queremos. Já vi trabalho de muito iluminador que
modificou totalmente sua luz porque não teve o
mesmo equipamento de luz. Mas se ele fez isso,
cadê o conceito de sua luz?

Sabemos que refletores diferentes produzem efei-


tos diferentes, mas se sabemos o que iluminar e
como iluminar, temos que “rebolar” para dar conta
de manter nossas mesmas ideias, independente-
mente do espaço que pegamos. Trabalhamos em
função do conceito e não em função do equipa-
mento. Temos que reavaliar como estamos lidan-
do com tantas mudanças tecnológicas sem perder
Fig. 3 – Casa-Luz: Quadro “Os comedores de batata”, de Vincent van Gogh nossas origens. A cada dia que passa surgem no

90 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 91
Layza Vasconcelos
Il um inando

mercado diversos ti-


pos de equipamentos “No princípio, Deus
tecnológicos que fa- criou os céus e a
cilitam o trabalho de terra. A terra esta-
iluminador, mas te- va informe e vazia;
mos que tomar cuida- as trevas cobriam o
do para não ficarmos abismo e o Espírito
criando “pisca-pisca”. de Deus pairava so-
Isso é bastante co- bre as águas. Deus
mum em shows pi- disse: 'Faça-se a
rotécnicos em que os luz!'. E a luz foi fei-
movies e os painéis ta. Deus viu que a
de LED fazem a festa. luz era boa, e sepa-
rou a luz das trevas.
Já ouvi profissionais
Fig. 5 – Espetáculo Balanço, do Grupo de Teatro Independente Deus chamou à luz
da luz falarem que dia, e às trevas noi-
não têm paciência ou não fazem iluminação de espetáculos te. Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro
cênicos porque “é muito chato” ou porque não têm paciên- dia.” (Figura 5 )
cia de pegar ensaios, pelo fato de normalmente não se usar
refletores LED ou moving head. Eles ficam presos às tecnolo- Desde o surgimento de nosso planeta a luz esteve presente
gias, e quando encontram um Fresnel na frente não sabem o de diversas formas e agindo em diferentes situações, defi-
que fazer com ele em mãos. Trabalhar com empresas de luz nindo dia e noite, claro e escuro, quente e frio, segurança e
que não têm esta preocupação de qualificar sua mão de obra medo. Assim a luz é de suma importância em nossas vidas e
e equipamentos voltados para a área cênica é muito comum a forma como a utilizamos pode mudar a perspectiva de um
de se achar hoje em dia. Já passei pela situação em que os espaço, alterando contra ou a nosso favor.
funcionários de uma empresa locadora de equipamentos não
sabia como fazer o endereçamento de seus próprios moving E por falar em iluminar, não podemos deixar de falar que es-
heads, quando cheguei na mesa e falei: tamos iniciando o ano internacional da luz. A Assembleia Ge-
ral da Unesco, realizada em novembro de 2013, determinou
- Vamos gravar a luz? – Os dois técnicos se olharam e depois que será celebrado ao longo de 2015, através de inúmeras
me falaram: atividades, a conscientização da importância da luz e das
- Hum, não sei como se faz, não. Pensei que o senhor fosse tecnologias ópticas na nossa vida. É uma boa oportunidade
fazer isso! de repensar a importância das aplicações da luz em várias
atividades, não somente artísticas, mas também no nosso
Eu havia trabalhado com a mesa em questão pouquíssimas dia a dia, no trabalho, na vida social, utilizando a mesma a
vezes, então tive que baixar o manual dela pela internet, nosso favor para produzir conceitos, efeitos e sensações para
estudar, aprender, gravar e ainda ensinar os técnicos como transmitir o que pensamos e o que queremos. Para mais in-
eles deveriam trabalhar com o material. formações, acesse o site www.light2015.org.

Iluminar é uma arte. Somos artistas que trabalham a luz Quero terminar com uma frase de um grande romancista, o
para transbordar sentimentos e significados. Podemos mo- dramaturgo e filósofo alemão Johann Wolfgang Von Goethe:
dificar espaços com jogos de luzes e sombras, independen- “Jamais se origina uma ciência sem uma percepção poética”.
temente de qual trabalho vamos desenvolver – se é cênico,
arquitetural, do design de interiores ou urbanístico. De- A ciência e a poesia andam juntas no nosso trabalho. Para
vemos exercer nossa profissão com paixão e sensibilida- colocar seus conceitos em prática devemos conhecer nos-
de. Brinco falando que nós pertencemos à mais antiga das sos equipamentos técnicos, para assim transformar nossa
profissões, e, como prova, temos a descrição de nosso tra- luz em poesia.
balho na Bíblia, em que Deus foi o primeiro “iluminador”.
Seu trabalho está descrito na seguinte passagem de Gêne- Feliz ano novo a todos e que seu 2015 seja um palco ilumi-
se, capítulo I – As Origens: nado com aplausos calorosos!

Rodrigo Horse é graduado em Design de interiores pela Faculdade Cambury-GO, especialista em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Brasileira de
Educação e Cultura (FABEC-GO), com pós-graduação em andamento em Master em Arquitetura e iluminação pelo iPOG. É iluminador efetivo da Universidade
Federal de Goiás (UFG) e atua como iluminador cênico há 15 anos, tendo ainda produzido e dirigido curta-metragens premiados em festivais de cinema. E-
-mail: historiadailuminacao@rodrigohorse.com.br.
áudio música e tecnologia | 93
F i n al Cut Ricardo Honório

Trabalhando com
multiângulos em
arquivo Proxy
Edição mais fácil em equipamentos
com desempenho que deixa a desejar
O Final Cut Pro X conta com um recurso muito interessante,
que é a possibilidade de gerar arquivos proxy internamente
para facilitar a edição em equipamentos com baixo desem-
penho. Quer saber mais a respeito? Então confira a seguir!

O QUE É E QUANDO USAR?


Proxy é um arquivo com uma qualidade inferior, porém
que lhe dá maior performance para edição por ter a quan-
tidade de mbps (megabits por segundo) reduzida. Desse
modo, é ideal para trabalhar, por exemplo, com multicam
Figura 2
quando a quantidade de ângulos começa a prejudicar a Neste tutorial vamos aprender a gerar um proxy após o
performance de edição. Também é utilizado para trabalhar material ser capturado. Se em outros artigos falamos de
com formatos mais pesados de vídeo, que fazem com que proxy no Ingest de conteúdo, agora trataremos dele na
tanto a máquina quanto o HD que você possui não supor- geração em curso, o que significa que você capturou o
tem o play em tempo real. material e encontra problemas na execução da edição por
conta de performance de máquina.
Esse sistema de trabalhar em baixa e depois subir o ar-
quivo em alta já foi muito utilizado no passado. Hoje, com PASSO A PASSO
máquinas mais novas, não se usa muito como antes, po-
rém a tecnologia existe e está aí, caso você precise. Importe um vídeo com dois ou mais ângulos para dentro
do Final Cut Pro X. Após importar apenas os arqui-
vos originais, conforme você vê na figura 1, sem
as opções "Proxy" ou "Media Otimizada" marcadas
(figura 2), espere até que a importação esteja em
100% (figura 3).

Após esse passo, vamos à janela "Inspector". O


atalho para habilitar esta janela é "command +4",
no teclado.

Figura 1 Figura 3

94 | áudio música e tecnologia


áudio música e tecnologia | 95
F i n al Cut

Agora vá até a sub-sala


Info (confira na figura 4) e
verifique que na categoria
"Available Media Repre-
sentations" apenas o "Ori-
ginal" está ligado e a op-
ção "Proxy" conta com um
triângulo em vermelho, o
que significa que esta op-
ção não está disponível ou
não foi criada.

Vamos, então, criar esta


opção. Para isso basta
clicar no clipe desejado
com o segundo botão e,
em seguida, escolher a
opção "Transconde Me-
Figura 4 dia" e marcar a opção
Figura 7
"Proxy Media". Com isso você terá a opção "Proxy" dispo-
nível. Veja lá em "Info" (figuras 5 e 6). O software realiza-
rá o processo de gerar uma versão para você. Agora, um novo passo: habilitar a versão desejada para
trabalho na timeline. Pronto? Vá até a janela "Viewer"
e clique no botão "Viewer Display Options". Depois, se-
lecione a opção Media > Proxy (figura 7). Assim, você
passará a trabalhar nesta versão. Depois é só trocar
quando quiser.

Este processo de criar mídias proxy pode ser realizado


também no Ingest. Quando você opta por fazer nesta
etapa do trabalho, lembre-se de que o proxy também
ocupara uma fatia do HD, gerando mais uma versão dos
arquivos brutos. Se você conta com máquinas mais no-
vas e placas de vídeo com melhor capacidade, não se
faz necessário trabalhar em proxy.

Já na categoria de trabalhos com multiângulos, às vezes,


mesmo tendo uma boa máquina e uma boa placa de ví-
deo, o playback em determinados ângulos de câmera fica-
Figura 5 rá travando. Neste caso o proxy ajuda muito.

PaRa deLetaR aS MídiaS PRoXY


Caso não precise mais das mídias proxy, você poderá
ir no menu superior e clicar em "File", para, depois,
selecionar a opção "Delete Generated Library Files".
Assim você pode deletar do HD as mídias proxy que
Figura 6 não estiver utilizando mais.

Ricardo Honório é editor de vídeo e professor do Studio Motion, em São Paulo.


Envie suas sugestões e dúvidas para ricardo@studiomotion.com.br. Seu e-mail poderá ser publicado na revista.

96 | áudio música e tecnologia Até o mês que vem, com mais um caderno Luz & Cena!
ÍNDICE DE ANUNCIANTES

Produto/Empresa Pág Telefone Home-page/e-mail


Acme (Pro Shows) 83 11 3527-6900 www.proshows.com.br

AES 60 www.aesbrasilexpo.com.br

AH Lights 71 21 2242-0456 www.ahlights.com.br

Arena 59 71 3346-1717 www.arenaaudio.com.br

Attack 15 43 2102-0100 www.attack.com.br

Audio Systems 7 11 3228-8623 contato@audiosystems.com.br

Avolites (ProShows) 73 11 3527-6900 www.proshows.com.br

B&C Speakers 51 51 3348-1632 www.bcspeakers.com

Behringer (Pro Shows) 5 11 3527-6900 www.proshows.com.br

claer-con (Gobos) 21 11 4368-8291 www.gobos.com.br

CTMLA 65 21 2226-1033 www.ctmla.com.br

d&B Audiotechnik 3 11 3333-3174 www.decomac.com.br

DBX (Harman) 4ª capa 51 3479-4000 www.harmandobrasil.com.br

Decomac 17 11 3333-3174 www.decomacbrasil.com

Fábio Henriques 93 12 99776-5223 www.fabiohenriques.com.br

Firenze (Gobos) 3ª capa 11 4368-8291 www.gobos.com.br

Gobos 79 11 4368-8291 www.gobos.com.br

iATEC 39/95 21 2493-9628 www.iatec.com.br

iGAP 81 51 3029-4427 www.igaprs.com.br

João Américo 59 71 3394-1510 www.joao-americo.com.br

Kadosh 8,9,13,25,27 21 2111-3119 kadoshmusic.com.br

Lyco 2ª capa e 01 11 3675-2335 www.lyco.com.br

Ninja 19 11 3323-9125 www.ninjasom.com.br

Power Click 29 21 2722-7908 www.powerclick.com.br

Prisma Pro Audio 43 51 3711-2408 www.prismaproaudio.com.br

Pro Class 57 21 2224-9278 www.proclass.com.br

Projet Gobos 81 11 3868-3352 www.projetgobos.com.br

Robe (Tacc) 87 11 3357-4000 www.tacciluminacao.com.br/robin

SGM ( Hot Machine) 89 11 2909-7844 www.hotmachine.ind.br

Star Lighting 85 19 3838-8320 www.star.ind.br

Studio Motion 91 11 3825-6612 www.studiomotion.com.br

Synthcamp 33 www.synthcamp.com

Vibrasom 31 11 4393-7900 www.trusst.com.br

Waldman (Equipo) 11 11 2199-2999 www.waldman-music.com

áudio música e tecnologia | 97


lugar da verdade | Enrico De Paoli

Cópias x Réplicas
As perdas de gerações
Dentre infinitas facilidades que a revolução digital nos trouxe,
uma das mais notáveis foi a cópia idêntica de arquivos. O que Já quando lidamos com aúdio digital em forma real de arqui-
isso quer dizer? Bem, imagine a seguinte situação: você está vos, dentro do computador ou até mesmo no telefone celular,
produzindo um disco e quer gravar um guitarrista. Se ele gra- estamos lidando com um arquivo virtual, e não uma mídia fí-
vasse em seu próprio estúdio em uma outra fita, ao transcrever sica de leitura em tempo real. O áudio no computador é car-
o take de guitarra da fita dele para a fita do projeto, você per- regado para RAM e a execução dele é absolutamente perfeita.
deria uma geração. Isso porque não vou nem entrar nos méritos
de como se fazia para sincronizar uma fita com a outra! Quando copiamos um arquivos WAV de um hard disk para outro,
esta cópia é absolutamente perfeita. Não existe perda de gera-
Mas, voltando às gerações, quem gravou muitas fitas cassete ção. É uma réplica. O computador, durante a tarefa de cópia,
na juventude sabe do que estou falando. Uma fita copiada para verifica bit por bit do arquivo na origem e do arquivo no destino,
outra simplesmente soava bem pior. Por que? Pense no seguin- e somente conclui a cópia quando os dois arquivos são idênticos.
te: a fita por si só já tem o chiado dela. Além disso, na gra- Ou seja, mixar seus tracks que não estão no mesmo HD em que
vação ela tende a adicionar artifícios no som, como distorções foram originalmente gravados não tem o menor problema. Mas,
harmônicas e uma diminuição dos transientes. Logo, quando se estes arquivos forem transferidos em tempo real, podem
você grava de uma fita para outra, tudo isso passa a acontecer existir dois tipos de perdas de gerações: 1) se a transferência for
duas vezes. Daí o nome “segunda geração”. por cabos analógicos, obviamente haverá perda nas conversões
para analógico e depois de volta para digital; mas, além disso,
Com a chegada do digital, foi-se lentamente entendendo 2) lembre-se de que mídias como CD ou fita digital precisam de
que o som digital não é feito de ondas sonoras impressas algoritmo de correção de leitura enquanto elas tocam. Isso me
nas diferentes formas de mídia, normalmente magnéticas, faz alertar para uma questão comum nos dias de hoje...
mas sim o som passa a ser um arquivo digital representado
por sequências de 1s e 0s. O motivo simples para que esse Passamos meses, às vezes anos, produzindo um disco, usando os
fato demorasse tanto pra ser assimilado é que durante mui- melhores equipamentos ao nosso alcance. Mas, quando estamos
to tempo o áudio digital ainda era tocado em tempo real. na etapa final da master, geramos um CD audio master. Tá certo
Ou seja, nós não víamos um arquivo na tela do computador – este é o procedimento padrão. Mas, sim, a gravação deste CD
ou iPhone, mas sim um disquinho CD ou uma fitinha DAT. em tempo real gera um áudio que não é idêntico à master final, e
Apesar de já estarmos lidando com áudio digital, os pro- quando este mesmo CD master chega na fábrica para duplicação
cedimentos e logística ainda eram muito similares ao que de CDs, ele é lido também com algoritmos de correção de data. A
estávamos acostumados da então recente era analógica. E solução pra isso seria enviar os arquivos de áudio avulsos, mas,
que diferença isso faz? dessa forma, a fábrica não teria noção dos espaços e fades entre
as músicas, assim como os indexadores das faixas. Para isso sur-
Vamos lá. Fitas digitais tipo DAT ou ADAT, ou discos digitais giu o DDP (Disc Description Protocol). Na verdade, o DDP é um
tipo CDs, são mídias que tocam o áudio em tempo real. Ou formato que inclui uma pasta com os arquivos de áudio e todas as
seja, a máquina lê toda a informação digitalizada, os bits 1 outras informações da master, como espaços, fades, códigos ISRC
e 0, e então estas milhares de sequências de números são etc. Por ser um formato de arquivos de computador, as casas de
novamente convertidas para analógico para podermos ouvir. masterização e as fábricas mais atuais hoje em dia não usam mais
Porém, ainda assim o processo é feito a partir de mídias geração e leitura via CD Audio entre a masterização e a fabricação.
físicas. E a leitura dessa informação é suscetível a erros.
Sendo assim, estas máquinas de reprodução de CDs e fitas Toda cópia analógica tem perda de geração e degradação do
têm algoritmos de correção de erros e “arredondamentos”, áudio. Nem toda cópia digital é uma réplica idêntica. Nossa
de forma que todos aqueles números lidos voltem a fazer última página deste mês alerta para estas diferenças e clareia
algum sentido sônico, mesmo quando a leitura não é exata. o assunto. Bom trabalho pra todos! Divirtam-se!

Enrico De Paoli é engenheiro de música premiado com dois Grammys. Créditos vão de Djavan a Ray Charles. Enrico mixa e masteriza em
seu Incrível Mundo Studio. Para mais informações, visite www.EnricoDePaoli.com.

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