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CURSO DE CONCILIAÇÃO E

MEDIAÇÃO JUCIAL –

CENTROMEDIAR
RELATÓRIO TEÓRICO

DIOGO HENRIQUE LEMOS | 2023/2024


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO________________________________________________________3

1. DAS POLÍTICAS PÚBLICAS .............................................................................................4

1.1 DAS AÇÕES IMPLEMENTADAS.............................................................................4

2. DA LEGISLAÇÃO ATUAL................................................................................................5

3. DOS METODOS ALTERNATIVOS DA SOLUÇÃO DE


CONFLITOS___________________________________________________________6

4. BREVE HISTÓRICO DA MEDIAÇÃO_______________________________________7

5. HISTÓRICO DA MEDIAÇÃO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO_________________8

5.1 SÍNTESE____________________________________________________________9

6. ESCOLAS E MODELOS DE MEDIAÇÃO_____________________________________9

6.1 Escola de Harvard_____________________________________________________9

6.2 Negociação cooperativa de Harvard________________________________________9

6.3 Escola Transformativa ou Mediação sob viés transformativo______________________10

6.4 Escola de Mediação Circular Narrativa ou Mediação Sob viés Circular Narrativo_______10

7. TEORIA DOS JOGOS__________________________________________________11

8. CONFLITO_________________________________________________________13

8.1 MAPEAMENTO DO CONFLITO_________________________________________14

8.2 PERGUNTAS ORIENTADORAS_________________________________________14

9. RISCOS DO GRÁFICO DE LEONARD RISKIN_______________________________14

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10. NEGOCIAÇÃO_____________________________________________________15

10.1 PERFIL DO NEGOCIADOR___________________________________________17

10.2 CONCLUSÃO_____________________________________________________18

11. AMBIENTE NA MEDIAÇÃO____________________________________________18

12. PARTES NA CONCILIAÇÃO___________________________________________19

13. TÉCNICAS USADAS NA CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO______________________20

14. ETAPAS DA MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO________________________________22

15. AS DOZE FERRAMENTAS DA MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO__________________23

16. PRINCÍPIOS ETICOS_________________________________________________25

17. O ACORDO_______________________________________________________26

18. COMO TRATAR O ADVOGADO? _______________________________________27

19. DADOS ESTATISTICOS DO CNJ________________________________________28

20. DECLARAÇÃO DE ABERTURA EFICAZ___________________________________30

20.1 EXEMPLO PRÁTICO DE DECLARAÇÃO DE ABERTURA______________________32

CONCLUSÃO_________________________________________________________35
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS___________________________________________36

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INTRODUÇÃO

O presente relatório tem como propósito oferecer uma análise aprofundada


sobre o curso de mediação judicial, destacando as principais abordagens, aprendizados
e a relevância desse treinamento para a prática no sistema judiciário.

Ao longo deste documento, exploraremos os fundamentos teóricos e práticos


adquiridos durante o curso, destacando sua importância na formação de profissionais
aptos a lidar com conflitos de maneira eficiente e colaborativa.

A mediação judicial emerge como uma ferramenta crucial na busca por soluções
consensuais, promovendo a agilidade e a humanização nos processos judiciais.

Nesse contexto, este relatório visa compartilhar insights valiosos e reflexões


sobre a experiência enriquecedora proporcionada pelo curso de mediação judicial pela
CENTROMEDIAR.

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1. DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

As políticas públicas são instrumentos utilizados pelo poder público para regular
e implementar a resolução de conflitos por vias alternativas, tais como a conciliação e a
mediação. No caso da justiça brasileira, foi entendido que a regulamentação desses
meios alternativos de resolução de disputas era necessária, uma vez que sua previsão
legal crescia desde a década de 1990 e que a sobrecarga processual no poder judiciário
continuava sendo agravada.

Para amplificar o uso de meios alternativos na solução de disputas e


regulamentar seu uso, foi estabelecida a resolução 125 do CNJ em 2010. Estabelecer
políticas públicas que versam sobre mediação, conciliação, arbitragem, entre outras,
vem como remédio para uma situação crítica. Isso porque a impossibilidade de o estado
cumprir uma função de pacificação social quando suas decisões geram insatisfação
plena de uma das partes, como em uma causa civil que seja resolvida diante do juizado.
Nesse tipo de caso, uma parte sairá vitoriosa, outra "perdedora", e a relação social
permanecerá conflituosa, mesmo com a inexistência de uma lide.

Optar por fórmulas diversas das não previstas exclusivamente na lei objetiva
alcançar resultados cuja justiça contenciosa resta incapaz de atingir. A implementação
de mecanismos processuais e pré-processuais no nosso ordenamento jurídico-
processual tem por finalidade complementar efetivamente o sistema instrumental.

1.1 DAS AÇÕES IMPLEMENTADAS


Entre as ações desenvolvidas pelo CNJ, destacam-se o acompanhamento do
planejamento estratégico dos tribunais, bem como o contato direto com os presidentes
dessas instituições para sensibilizá-los quanto à necessidade de suporte orçamentário.
Adicionalmente, o CNJ tem capacitado instrutores em mediação e conciliação,
fornecendo completo material pedagógico, incluindo arquivos de PowerPoint, vídeos,
manuais de mediação judicial, exercícios simulados e formulários de avaliação.
Não apenas isso, o CNJ também tem prestado consultoria na estruturação dos
núcleos e centros de mediação e conciliação, mantido diálogo constante com
coordenadores dessas unidades e envolvido os instrutores em formação na elaboração
de novos materiais pedagógicos, tais como cadernos de exercícios e guias temáticos
de mediação em áreas específicas, como mediação de família e mediação penal.

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Ademais, o CNJ tem se empenhado em auxiliar os tribunais a treinar empresas
para que seus prepostos possam negociar de forma mais eficaz, contribuindo assim
para a disseminação da cultura de resolução alternativa de conflitos em nossa
sociedade.

Com essas iniciativas, o CNJ busca fomentar o uso de meios alternativos na


solução de disputas, complementando o sistema jurídico-processual brasileiro e
viabilizando a realização de seus escopos fundamentais, além de atingir metas não
diretamente relacionadas ao processo heterocompositivo judicial.

2. DA LEGISLAÇÃO ATUAL
A Mediação e a Conciliação têm se tornado cada vez mais relevantes no cenário
jurídico do Brasil. O país tem avançado na regulamentação dessas práticas, tendo em
vista que podem oferecer resultados mais ágeis, econômicos e satisfatórios do que a
resolução de conflitos pelas vias judiciais tradicionais.
A principal norma que regulamenta os meios autocompositivos de resolução de
disputas é Lei 13.140/ 2015, promulgada pela então presidenta da república, Dilma
Roussef. A lei dispõe sobre a mediação como um meio de solução consensual de
controvérsias entre particulares e, sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da
administração pública.
A definição legal de mediação é "a atividade técnica exercida por terceiro
imparcial sem poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e
estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia". Desse
modo, se estabelece ainda que mediação deve ser um processo voluntário, realizado
de maneira imparcial por terceiro capacitado.
Outra norma essencial é Resolução nº 125/2010 do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), que dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de tratamento adequado
dos conflitos de interesses no âmbito do Poder Judiciário. A resolução rege que os
tribunais devem implantar centros de conciliação e mediação, bem como criar núcleos
permanentes de métodos consensuais de solução de conflitos.
Além disso, na lei 13.105, ou Código de Processo Civil, há também a previsão
do uso de meios alternativos de resolução de disputas. Estabelece ainda o CPC, que o
juiz deve incentivar a utilização desses meios, podendo inclusive suspender o processo
por até 30 dias para que as partes possam buscar a solução consensual do conflito.
Ainda, em 2019, foi sancionada a Lei nº 13.994, que dispõe sobre a política
pública de resolução consensual de conflitos no âmbito da administração pública. A lei

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estabelece a obrigatoriedade de criação de setores de conciliação no âmbito dos órgãos
e entidades da administração pública federal, estadual, municipal e do Distrito Federal.
Observa-se diante disso um crescimento exponencial na importância dos meios
autocompositivos de solução de disputas e seu reconhecimento pelo ordenamento
jurídico brasileiro, que tem buscado estimular a mediação e conciliação como meio
alternativo e eficaz de resolução de conflitos. Cabe aos profissionais do direito e à
sociedade em geral conhecer e utilizar essas ferramentas para a promoção da justiça,
da pacificação social e, mesmo um avanço pessoal sobre como lidar com o conflito.

3. DOS METODOS ALTERNATIVOS DA SOLUÇÃO DE CONFLITOS

Os métodos alternativos para resolução de conflitos são: a arbitragem, a


negociação, a conciliação e a mediação.

A arbitragem consiste basicamente nas partes voluntariamente submeter o


poder decisório sobre uma lide a um terceiro habilitado, que não o juiz. Em essência, a
arbitragem seria um processo convencional que se abstém da presença do juiz como
julgador. O poder do árbitro é estabelecido por vontade das partes e não por força de
lei. Vale lembrar que a sentença arbitral possui força de trânsito em julgado.

A negociação por outro lado é a autocomposição obtida pelos próprios litigantes,


de comum acordo. Pode ser feito até verbalmente, mas, ocasionalmente, pode adquirir
uma maior sofisticação a depender da complexidade, podendo as partes serem
assistidas por negociadores e/ou advogados, que podem também cumprir o papel
daqueles. Normalmente, é realizada pelas vias extrajudiciais, sendo que um acordo
consagrado, possui força de título executivo extrajudicial, mas pode ser homologado em
juízo, momento em que, passa a adquirir força de título judicial para fins de execução.

Sobre a conciliação, versa a melhor doutrina:

[ ] um processo técnico (não intuitivo),


desenvolvido pelo método consensual, na forma
autocompositiva, destinado a casos em que não
houver relacionamento anterior entre as partes, em
que terceiro imparcial, após ouvir seus argumentos,
as orienta, auxilia, com perguntas, propostas e
sugestões a encontrar soluções (a partir dalide) Que
possam atender aos seus interesses e as materializa
em um acordo que conduz à extinção do processo
judicial (BACELLAR, 2016, p 84-85).

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A conciliação pode ocorrer dentro ou fora do processo judicial. Quando realizada
no âmbito judicial, pode ser incentivada em qualquer etapa do processo, podendo ser
conduzida por tribunais de segunda ou terceira instância.

Conforme artigo 165, parágrafo 2º do CPC, há a predileção pelo uso da


conciliação para casos em que entre as partes conflituosas não há uma relação
pregressa ao objeto da lide ou do conflito; além disso, estabelece a abertura para o
conciliador propor soluções possível para o dilema ou conflito das partes, diferente da
mediação. Isso se verifica no referido dispositivo legal, conforme:

“O conciliador, que atuará preferencialmente


nos casos em que não houver vínculo anterior entre
as partes, poderá sugerir soluções para o litígio,
sendo vedada a utilização de qualquer tipo de
constrangimento ou intimidação para que as partes
conciliem.”

Além disso, mister destacar que a conciliação, como a mediação, é regida por
princípios que estão disposto no artigo 166 do CPC e, são eles: independência,
imparcialidade, autonomia da vontade, confidencialidade, oralidade, informalidade e, a
decisão informada.

O método da mediação, por fim, compartilha com a conciliação alguns princípios


de regências previstos no artigo 166 do CPC com o acréscimo da Isonomia, busca pelo
consenso e a boa-fé, previstos no artigo 2º da lei de mediação.

Ademais, a mediação consiste na atuação de um terceiro neutro e imparcial,


apto, elencado pelas partes para intermediar o diálogo, visando restaurar se possível a
relação e preservar no quanto for possível o interesse de ambos os mediando buscando
o consenso dos interesses. O método é amplamente utilizado quando existe vínculo
entre as partes anterior ao conflito.

Esses métodos integram uma linha de pensamento que preza pelo bem-estar e
pacificação social; trata-se da linha da justiça restaurativa, cujo objetivo não se resume
a encerrar uma disputa judicial, mas sim preservar as relações entre as partes, restaurar
a paz e harmonia entre os integrantes da lide e prevenir novas desavenças. Se
apresenta como uma solução mais eficaz e permanente para o conflito.

4. BREVE HISTÓRICO DA MEDIAÇÃO

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Os métodos de resolução de conflitos de maneira autocompositiva são
verificáveis em diversas culturas da antiguidade, como hebraica, chinesa, japonesa,
indiana, islâmica, cristã.

Um enfoque interessante recai sobre a cultura chinesa e o venerado filosofo


Confúcio com a ideia da possibilidade da construção de um paraíso na terra por meio
da harmonia natural e cultivo do consenso entre os homens. Há além disso, uma
aversão a métodos adversariais de resolução de conflitos.

Ainda, acreditava o filosofo que a paz só se consolida por meio do


convencimento moral e, nunca através de imposição.

Já no período mais atual, séculos XX e XXI, a implementação de meios


consensuais de solução de conflitos tiveram ascendência na cultura jurídica norte
americana a partir da década de 70 por causas coletivas de insatisfação popular com a
administração da justiça. Houve ainda questões de justiça comunitária e conflitos
trabalhistas que passaram a buscar por soluções consensuais. Em 1983 foi fundado o
programa de negociação – Harvard Law School.

5. HISTÓRICO DA MEDIAÇÃO NO ORDENAMENTO BRASILEIRO

Sabidamente, o conflito tem suas origens em questões fundamentalmente


subjetivas como emoções, vícios, desejos e interesses não se originando somente do
fato típico ou jurídico. Diante disso, já nas Ordenações Filipinas de 1603, isto é, a
legislação Luso-Brasileira do período colonial, existia a seguinte recomendação: "E no
começo da demanda dirá o juiz a ambas as partes que, antes que façam despezas e se
sigam entre elles os ódios e dissensões, se devem concordar, e não gastar suas
fazendas por seguirem suas vontades, porque o vencimento da causa he sempre
duvidoso..." (grafia da época).
(https://www.migalhas.com.br/depeso/327739/mediacao--a-ferramenta-salvadora-
do-seculo-xxi--vinte-e-um)

Posteriormente, na constituição outorgada de 1824 em seu artigo 161 versa


regra sobre a utilização mediação pré processual com o seguinte texto: "Sem se fazer
constar que se tem intentado o meio da reconciliação (rectius: mediação) não se
começará processo algum". É a primeira vez na legislação brasileira em que
efetivamente se tem o instituto da mediação como obrigatório ao aparato judicial,

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entretanto, um instituto ainda órfão de regulamentação e uma efetiva e ostensiva
implementação.

Só em 1995, em adjunto com a promulgação da Lei de Juizados especiais nº


9099 que se estabelece a figura do conciliador como auxiliar do juízo, constante no
artigo 7º da referida lei. (FALECK, Diego. TARTUCE, Fernanda. Introdução histórica
e modelos de mediação. Disponível em:
http://www.fernandatartuce.com.br/artigosdaprofessora)

5.1 SÍNTESE

A partir da observância de resultados positivos, ao redor do mundo todo, surge


um movimento pela maior integração dos meios alternativos das resoluções de conflito
aos sistemas judiciários de cada país, com o amparo dos respectivos poderes
legislativos.

Parte desse processo se deve ao engajamento maior de profissionais da área


da psicologia, sucessos muito mais expressivos nas relações familiares, sendo o direito
familiar uma das áreas mais expressivas na prática da mediação, mas, a maior
influência desse movimento se deve a necessidade crescente de maneira exponencial
de se descongestionar os sistemas judiciários.

Nessa Seara, como Escolas e métodos a serem implementados nas maneiras


autocompositivas de resolução de disputas, há que se dar o devido enfoque ao
surgimento de “Escolas” de mediação que se deram nos Estados Unidos da América.
Essas escolas serão abordadas no tópico seguinte.

6. ESCOLAS E MODELOS DE MEDIAÇÃO

Em relação as Escolas e Modelos de Mediação, 4 são as que merecem destaque


pois, foram as abordadas e pormenorizadas no decorrer do curso. São respectivamente:
o Modelo de Harvard; a Negociação Cooperativa de Harvard; a Mediação sob o
viés Transformativo e, Mediação sob o viés Circular Narrativo.

6.1 Escola de Harvard

A Escola de Harvard é uma das escolas de mediação mais conhecidas e


influentes. Também conhecida como Escola de Negociação de Harvard, ela surgiu na

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década de 1970, quando um grupo de professores da Harvard Law School começou a
estudar a resolução de conflitos. (FALECK, Diego. TARTUCE, Fernanda. Introdução
histórica e modelos de mediação. Disponível em
www.fernandatartuce.com.br/artigosdaprofessora)

A abordagem da Escola de Harvard se concentra em encontrar soluções


criativas que atendam aos interesses de ambas as partes envolvidas no conflito. O foco
não é apenas chegar a um acordo, mas criar valor para todas as partes envolvidas. Essa
abordagem é conhecida como negociação baseada em princípios ou "negociação de
ganha-ganha".

6.2 Negociação cooperativa de Harvard

O modelo de Negociação cooperativa de Harvard aparece como uma variação


da tradicional Escola de Harvard que se concentra em criar um relacionamento
cooperativo entre as partes envolvidas no conflito. Enfatiza-se por esse método a
necessidade de se construir confiança, comunicação efetiva e cooperação para que
atinja o resultado mais favorável para os envolvidos

6.3 Escola Transformativa ou Mediação sob viés transformativo

Esse modelo apresenta uma importante inovação em relação aos anteriores pois,
com enfoque prospectivo, visa a modificação, ou evolução dos envolvidos para que
apreendam e possam futuramente empregar uma melhor comunicação, gestão
emocional e outras ferramentas de resolução de conflitos sem a necessidade de
interferência do poder judiciário. Essa abordagem prioriza e enfatiza a autonomia,
empoderamento além de reconhecer a existência de uma desigualdade de poder entre
as partes de uma disputa.

6.4 Escola de Mediação Circular Narrativa ou Mediação Sob viés Circular


Narrativo

Essa escola tem sua origem a partir da fundamentação e criação da professora


americana Sara Cobb. O enfoque dessa vertente, como o próprio nome sugere, se
concentra na busca pelo consenso no que concerne as histórias e relações pessoais

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que antecedem ou geram e retroalimentam a situação conflituosa. A partir da
compreensão de pontos de vista por todos os envolvidos é possível o entendimento
mútuo e a construção de uma solução colaborativa.

7. TEORIA DOS JOGOS

A Teoria dos Jogos consiste em um ramo da matemática e da economia


desenvolvidas a partir dos pensamentos de Émile Borel, John von Neumann com o
complemento essencial de John F. Nash em 1950 que veio a revolucionar o tema.

A princípio, a teoria aplicada ao conflito trata da observação de jogos de mesa


como objeto de estudo, a fim de estabelecer estratégias ótimas e menos ótimas no que
diz respeito a tratativa e negociação de conflitos.

O estudo dos jogos – ou dinâmicas- considera para análise jogos como por
exemplo o poker, entre alguns dos elementos essenciais das dinâmicas entre indivíduos
o blefe e as inferências, ou seja, nas suposições de um indivíduo sobre o pensamento
e posicionamento de seu “adversário” ou parceiro de jogo na forma: “eu penso que você
pensa que eu penso que você pensa...” (Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Manual
de Mediação Judicial. Pág 62, Brasília, DF: CNJ, 2016)

Outro grande nome para a consolidação da teoria dos Jogos abordada pelo
curso foi John von Neumann, Professor de John Nash que com o advento do livro
"Theory of Games and Economic Behavior", publicado em 1944, de autoria de John von
Neumann e Oskar Morgenstern, desempenhou um papel fundamental ao sistematizar e
formular de maneira profunda os principais fundamentos teóricos nos quais a teoria dos
jogos foi construída. Sua publicação foi considerada pela American Mathematical
Society como responsável por estabelecer a própria afirmação da economia como uma
ciência exata. Antes desse trabalho, não havia sido encontrada uma base matemática
suficientemente coerente para fundamentar uma teoria econômica de forma consistente.

Após isso, Nash estabelece uma revolução teórica e prática na resolução de


disputas com o advento de sua teoria que foi nomeada “O Equilibrio de Nash” que
estabelece, em contraponto ao seu predecessor que seguia a norma de competição
econômica, consagrada desde Adam Smith, a possibilidade de enxergar os jogadores
envolvidos na dinâmica como possíveis cooperadores. A partir da busca de um ponto
de equilíbrio entre as partes ao invés da busca pelo maior lucro em detrimento da maior

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perda de seu “adversário”, seria possível uma situação de vantagem mútua,
entendimento e satisfação entre os envolvidos na disputa. Essa combinação de
estratégias entre os participantes dos jogos tende a encontrar o melhor ponto de
satisfação entre os envolvidos, conforme:

“[...] o equilíbrio é um par de estratégias em que


cada uma é a melhor resposta à outra: é o ponto em que,
dadas as estratégias escolhidas, nenhum dos jogadores
se arrepende, ou seja, não teria incentivo para mudar de
estratégia, caso jogasse o jogo novamente. Por outra
perspectiva o equilíbrio de Nash seria a solução conceitual
segundo a qual os comportamentos se estabilizam em
resultados nos quais os jogadores não tenham remorsos
em uma análise posterior do jogo considerando a jogada
apresentada pela outra parte.” (Conselho Nacional de
Justiça (CNJ). Manual de Mediação Judicial. Pág 64,
Brasília, ,DF: CNJ, 2016)

Cabe ressaltar aqui o interessante experimento abordado na unidade a


dinâmica de Flood e Dresher, que exemplifica um interessante experimento entre dois
jogadores, um disposto a cooperação, outro voltado para o ganho individual. Esse
experimento demonstra o melhor resultado da cooperação na conquista de um resultado
positivo aos envolvidos em detrimento dos interesses individuais.

Um exemplo teórico clássico que apresenta a teoria dos jogos e


exemplifica os melhores resultados de uma abordagem cooperativa é o chamado
“Dilema do Prisioneiro” que merece explicação pois demonstra a busca pelo melhor
resultado para o individual, por meio da busca de cooperação de estratégias. Segue a
ilustração e explicação do dilema.

Imagine dois prisioneiros suspeitos de cometer um crime juntos. Eles são


mantidos em celas separadas e não podem se comunicar. O promotor oferece a cada
um deles um acordo: se ambos permanecerem em silêncio, receberão uma sentença
mais leve por falta de provas. No entanto, se um deles trair o outro, fazendo uma
confissão e cooperando com as autoridades, enquanto o outro permanece em silêncio,
o traidor receberá uma sentença ainda mais reduzida, enquanto o outro será condenado
severamente. Se ambos traírem um ao outro, receberão uma sentença moderada.

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O dilema surge porque, embora a escolha racional para cada prisioneiro seja
trair o outro, já que isso pode levar a uma sentença mais leve, a melhor solução para o
conjunto deles seria a cooperação mútua, ou seja, permanecerem em silêncio. No
entanto, como eles não podem se comunicar, cada um teme que o outro o traia, levando-
o a enfrentar uma pena mais severa se escolher permanecer em silêncio.

O dilema do prisioneiro ilustra a tensão entre o benefício individual de agir em


seu próprio interesse e o benefício coletivo de cooperar. É um exemplo clássico de como
a falta de confiança e a busca pelo interesse próprio podem levar a um resultado
insatisfatório para ambas as partes.

A teoria dos jogos é relevante para a mediação e outros processos


autocompositivos, pois oferece respostas a perguntas complexas, como se a mediação
depende apenas do comportamento ético das partes ou se funciona apenas quando há
boa intenção. O exemplo do exercício Flood-Dresher demonstra que as partes podem
iniciar com intenções individuais de maximizar ganhos, mas isso não implica falta de
boa intenção. A adoção de uma postura adjudicatória permite compreender que suas
estratégias podem ser ineficientes para atingir seus objetivos.

No caso de relacionamentos contínuos, a cooperação geralmente produz os


melhores resultados, mesmo que as partes acreditem que suas próprias condutas são
éticas e as do outro não. O mediador deve estimular a cooperação como forma de
otimizar resultados individuais. A teoria dos jogos indica que, nas relações continuadas,
a cooperação é racionalmente vantajosa, não necessariamente motivada por altruísmo.
O tópico seguinte visa elucidar a natureza do conflito e as razões para se empreender
métodos de resolução autocompositivos.

8. CONFLITO

Conforme apreendido nas aulas e segundo a melhor doutrina, conflito pode ser
compreendido da seguinte forma resumida: uma dissonância entre interesses, condutas,
afetos de duas ou mais partes envolvidas que se manifesta de maneira agressiva.
(BOARDMAN, Susan; HOROTITZ, Sandra. Constructive conflict management and
social problems: an introduction Journal of Social Issues, v 30, p 1-12, 1994.)

O conflito advém de diferentes fatores, como divergência de ideias, ideologias,


opiniões ou mesmo da incompreensão e interpretação.

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Parte essencial em relação a tratativa de conflitos é sua normalização,
reconhecendo sua inerência e inseparabilidade de relações humanas. O conflito nada
mais é do que um sintoma de desajustes em uma relação, podendo também vir a ser a
cura para a situação problemática original e ressignificação das relações e dos
obstáculos a partir de métodos eficazes de comunicação, como escuta ativa,
comunicação não violenta, e a transformação de aspectos negativos em positivos para
a construção prospectiva de uma relação melhor.

O Manual do conselho Nacional de Justiça sobre mediação ainda estabelece a


distinção, essencial para compreensão do conflito, entre posições e interesses.

A diferença entre interesse e posição é fundamental para a compreensão dos


conflitos e a busca por soluções satisfatórias. Enquanto a posição representa o que as
partes expressam de forma superficial, o interesse refere-se aos motivos, valores e
necessidades centrais que originam a disputa.

8.1 MAPEAMENTO DO CONFLITO

O mapeamento do conflito é uma ferramenta essencial para auxiliar o terceiro


facilitador a compreender a natureza e as dinâmicas do conflito em questão. Por meio
de uma série de perguntas estruturadas, é possível obter um melhor entendimento do
conflito, identificar sua origem, a questão central e os reais interesses e sentimentos
envolvidos.

8.2 PERGUNTAS ORIENTADORAS

Durante o processo de mediação, o terceiro facilitador pode formular uma série


de perguntas para si mesmo ou para os interessados, com o objetivo de obter um
mapeamento mais completo do conflito. Algumas dessas perguntas incluem:

“Qual é o objeto aparente do conflito?”

“Quem são os atores principais e secundários envolvidos no conflito?”

“Já foram feitas tentativas anteriores de resolver o conflito? Quais foram e


quando ocorreram?”

“Alguma pessoa ou fator contribuiu para agravar ou amenizar o problema? Quem


e por quê?”

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O mapeamento do conflito e a identificação dos interesses desempenham um
papel crucial no processo de mediação. Por meio de perguntas estruturadas e uma
escuta ativa, o terceiro facilitador pode obter um entendimento mais profundo do conflito,
permitindo que as partes percebam as perspectivas e necessidades uns dos outros.
Com uma comunicação mais eficaz e a abertura para a construção conjunta de soluções,
há maiores chances de se alcançar um acordo satisfatório para todas as partes
envolvidas.

9. RISCOS DO GRÁFICO DE LEONARD RISKIN

O tema é extenso, tanto a explicação do gráfico, quanto a problemática que o


envolve, de modo que a exposição será realizada de maneira a sintetizar o problema de
maneira superficial.

Em suma, o gráfico de Riskin estabelece quatro quadrantes para a atuação de


um mediador, atribuindo suas funções em dois grandes métodos sendo Avaliadora e
Facilitadora.

Apesar dos benefícios e avanços que essa sistemática oferece para orientação
de mediadores, o risco maior decorre da função Avaliadora atribuída a um terceiro
neutro, sendo que essa atividade seria mais bem atribuída a um terceiro julgador, como
seria o caso do próprio juiz ou de um arbitro constituído.

A função avaliativa do mediador, de acordo com Riskin, envolve atividades


essenciais, como estruturar a conversa para facilitar a compreensão mútua das partes,
explorar diferentes perspectivas e avaliações, desencorajar propostas prejudiciais e
incentivar o acesso a mais informações. Essa abordagem dificulta a construção
autocompositiva do acordo entre as partes pois, seria direcionada pelo próprio mediador.

Essa abordagem poderia inclusive abrir margem a imparcialidade por parte do


mediador, que melhor exerce seu papel como facilitador do diálogo e não como agente
ativo na tomada de decisões.

10. NEGOCIAÇÃO

Conforme verificado e abordado no decorrer do curso, a negociação é uma


constante na vida cotidiana, presente nos ambientes familiares, de trabalho e de

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convívio social. Consiste, de maneira resumida, entre o encontro de pontos de vista,
posições ou interesses, a princípio, diametralmente opostos, mas, que por meio do
diálogo, concessões e reivindicações se pode estabelecer um ponto de interesse em
comum, ou, no mínimo, uma proposta exequível e menos prejudicial a ambas as partes.
Em um cenário ideal de negociação, ambas as partes saem com o maior benefício
possível e o menor prejuízo possível.

Para uma negociação efetiva, se faz necessária uma efetiva capacidade de


leitura por parte do mediador sobre os seus assistidos, sobretudo, sobre o perfil
psicológico que venham a adotar em uma mediação, sua forma de se comunicarem,
linguagem corporal, maturidade, entre outras.

O objetivo passa a ser, em uma mesa de negociação, o distanciamento das


pessoas e o problema, além de suas posições, para que sejam orientadas a busca de
uma solução para a situação de conflito de maneira mais harmônica e cooperativa
quanto possível.

De modo geral, Kaufmann resume bem o procedimento, ilustrando sugestões de


ferramenta e linguagem para atingir uma negociação bem-sucedida, conforme:

“Outro detalhe importante é remover o peso do que


é falado- desapaixonar-se pelo tema, sem dar carga
exagerada ao mérito (grifos nossos). Uma frase costuma
ser mais bem assimilada em tom de pergunta que em tom
de afirmação, por isso é interessante perguntar em vez de
afirmar. Falar sobre si mesmo e não sobre o outro também
é de grande auxílio, buscando explicitar as suas
necessidades em vez das deficiências da outra parte. Da
mesma forma, é importante colocar-se no lugar do
interlocutor. A cada situação apresentada, é fundamental
deixar claro se esta foi compreendida. Frases como “deixe-
me ver se entendi”, ou “o que você quer dizer é que a taxa
de juros praticada lhe impossibilita de fechar o negócio?”
Facilitam a comunicação e favorecem um clima de
cooperação entre as partes. Tal feedback é
importantíssimo para minimizar distorções interpretativas.
Cada parte naturalmente possui percepções distintas
geradas pela distorção da realidade enxergada por cada

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um. É importante discutir as percepções de cada
parte. Esse é o caminho para tornar as propostas
compatíveis com os valores do outro. Uma vez que a outra
parte identifica em uma proposta o seu próprio ponto de
vista, o êxito é iminente. Por fim, outro conselho
fundamental é permitir que o outro lado participe da
formação do resultado. É importante que ambos se sintam
donos da ideia. Assim será mais fácil que ambos aceitem
eventuais concessões e considerem que não houve perda
significativa para ninguém.” (KAUFMANN, Marlonn.
Negociação: separe as pessoas do problema. São Paulo,
23 de julho de 2012. Disponível em: Negociação: Separe
as pessoas do problema | Marlon Kaufmann
(wordpress.com)/. Acesso em: 19 de maio de 2023.)

Dessa maneira, entende-se a negociação como, um primeiro momento uma


predisposição ao diálogo e a construção de um ponto de equilíbrio entre os litigantes,
além de ser o método empregado para a condução desse diálogo.

10.1 PERFIL DO NEGOCIADOR

No contexto da mediação, é importante observar os insights e conteúdo de


comunicação e personalidade das partes envolvidas. Para auxiliar o mediador na
reformulação e mudança de perspectiva em situações conflituosas, existem quatro tipos
diferentes de estilos de personalidades que podem ser considerados: apoiadores,
controladores, catalizadores e analíticos. Esses estilos representam características
estáveis das pessoas e não há um estilo melhor ou pior, apenas diferentes tendências
que as pessoas utilizam para atingir seus objetivos.

O estilo catalizador é guiado pelo reconhecimento e tende a ser animado,


agradável e interessante. No entanto, pode apresentar superficialidade, exclusivismo e
impulsividade, o que pode dificultar o andamento do processo de mediação.

O estilo controlador é guiado pela realização de seus objetivos e é caracterizado


pela objetividade, rapidez e energia. Porém, pode apresentar intolerância, arrogância e
prepotência, não se importando com as consequências de suas ações.

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O estilo apoiador é guiado pela associação com pessoas e grupos, e se destaca
pela cordialidade, ponderação e paciência. Porém, pode ser dissimulado,
excessivamente complacente e apresentar resistência passiva.

Por fim, o estilo analítico é guiado pela segurança e se caracteriza pela precisão,
organização e busca pela perfeição. No entanto, pode ser teimoso, detalhista, maçante
e evasivo, dificultando a tomada de decisões.

É importante destacar que todas as pessoas possuem esses estilos em menor


ou maior grau, emergindo com mais intensidade quando estão sob tensão. O
autoconhecimento do mediador em relação a si mesmo e às personalidades envolvidas
no processo é fundamental para um melhor entendimento e condução da mediação.

10.2 CONCLUSÃO

Em uma negociação, é imperioso destacar que devem ser aplicadas as


ferramentas típicas da mediação, como escuta ativa, leitura de cenário, distanciamento
dos assistidos do problema, a distinção entre interesses e posições, priorizando a
descoberta do real interesse, dentre outras que serão ainda abordadas nesse relatório.

11. AMBIENTE NA MEDIAÇÃO

Conforme as melhores práticas, o ambiente de negociação deve ser o mais


próximo do que se pode do conforto e acolhimento. Nesse sentido necessária atenção
acerca de limpeza, organização e iluminação em um momento inicial.

As palavras-chave referentes ao espaço físico devem ser Receptividade,


acolhimento, a presença de ventilação se possível, a presença de uma jarra e copos
com água, balas e outros artifícios que promovam alguma sensação de bem-estar entre
os negociantes e seus advogados.

Além disse, é interessante posicionar as partes estrategicamente para que não


fiquem tão divididas como ocorrem em uma audiência. A necessidade de um ambiente
organizado é evidenciada em inúmeros artigos. Segue a citação de um deles:

“Portanto, é indicado, analisada a necessidade de


cada caso, que as pessoas que participarão da mediação
sejam encaminhadas a sentar em locais estratégicos de

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forma a não ficarem tão separadas a ponto de se criar uma
divisória entre eles.

Não se pode deixar de lado a importância da


preparação do local em relação à limpeza, iluminação
adequada, local arejado e cadeiras suficientes para todos.

Além disso, é preciso disponibilizar alguns itens


como lenços de papel, caneta, papel, água, calculadora
etc.

Tudo o que for contribuir para deixar as partes


confiantes para falarem sobre os seus conflitos e seu ponto
de vista sobre a situação é importante na mediação, até
mesmo a forma pela qual as pessoas foram convidadas
para sessão de mediação.”
(https://direitoreal.com.br/artigos/a-sessao-de-mediacao-
organizacao-do-ambiente Acessado em 13 de outubro,
2023)

Desse modo, tem-se a necessidade do preparo do mediador, bem como


do ambiente, tanto esteticamente quanto emocionalmente, fornecendo alguma glicose,
abertura, suporte, organização de assentos de modo a evitar o enfrentamento e
estimular a colaboração. A mediação e a conciliação atingem melhores resultados
quando estimulado o lado humano de colaboração em detrimento do enfrentamento que
se inicia já na postura, ambiente, clima, temperatura e conforto.

12.PARTES NA CONCILIAÇÃO

As partes envolvidas em uma mediação são respectivamente os mediados, o


mediador/ conciliador e os advogados além da possibilidade de outros terceiros.

Os mediados muitas vezes se apresentam em uma mediação judicial com


conflitos internos e externos, principalmente em questões relativas a direito de família.
Mas não apenas pessoas físicas podem ser auxiliadas pela mediação, procedimento
mais rápido, menos sofrível, menos burocrático e menos custoso; também as
organizações, empresas, comunidades entre outras. Em suma, são as partes em
conflito, ainda incapazes de solucioná-lo.

O mediador ou conciliador, dentre suas muitas ferramentas de diálogo e de


“investigação” e atenção, tem o essencial dever de organizar a conversa. Identificar
pontos chave, encontrar caminhos de concílio e achar as raízes do problema que, por

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muitas vezes diferem das posições adotadas pelas partes. Além disso, deve-se ressaltar
o dever de confidencialidade a qual o conciliador está obrigado e, que o objetivo principal
é o diálogo, não havendo a obrigatoriedade de se atingir um acordo.

Os advogados têm o papel fundamental de instrução, preservação da legalidade


e orientação de seus clientes. Assim como outros possíveis consultores e especialistas,
eles têm na mediação o papel elucidativo. Nesse sentido:

Antes da mediação, o advogado pode ajudar na


escolha do mediador que irá participar do processo. Pode,
ainda, preparar seu cliente, pensando na melhor
alternativa ao acordo negociado (BATNA) e o ajudando a
ver a zona de possível acordo (ZOPA) durante a sessão.

Um advogado habituado com procedimentos de


mediação e técnicas de negociação, contribui muito para
boa condução dos trabalhos do mediador, zelando para
que seu cliente encontre soluções possíveis mais criativas,
cuidando da redação, exequibilidade do acordo e sua
possível homologação.
(https://www.mediacaonline.com/blog/o-que-e-
mediacao-entenda-mediacao-em-5-
passos/#:~:text=As%20partes%20s%C3%A3o%20as%
20protagonistas,media%C3%A7%C3%A3o%20e%20o
%20seu%20resultado. Acesso em:13 de outubro de
2023)

O reconhecimento das partes, a validação de seus respectivos papéis e sua


organização por um conciliador devidamente qualificado constituem os passos iniciais
essenciais para promover um diálogo eficaz e criar as condições necessárias para que
os envolvidos recebam a mediação de maneira receptiva. Ao terem seus papéis
reconhecidos, as partes se sentem valorizadas e, como resultado, tendem a se mostrar
mais dispostas à comunicação aberta.

13.TÉCNICAS USADAS NA CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

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A mediação incorpora várias técnicas fundamentais em seu processo, cada uma
desempenhando um papel essencial na facilitação do diálogo entre as partes envolvidas.
Essas técnicas incluem:

Rapport: O estabelecimento de um rapport eficaz com as partes é um passo


crucial na mediação. O rapport está intrinsecamente ligado à qualidade da comunicação,
à redução do desconforto das partes e à precisão da informação transmitida. Além disso,
ele reflete a aceitação do mediador e a confiança depositada pelas partes em seu
trabalho.

Escuta Ativa: A escuta ativa é uma técnica que incentiva as partes a ouvirem
atentamente uma à outra, permitindo a expressão genuína de emoções. Valoriza a
necessidade de expressão e compreensão mútua, em contrapartida à imposição de
conselhos, que muitas vezes é percebida como uma tentativa de domínio.

Parafraseamento: O mediador utiliza o parafraseamento para reformular as


declarações das partes, mantendo a essência, mas organizando e sintetizando o
conteúdo. Essa técnica é útil para neutralizar conteúdos emocionais e manter o foco na
resolução do conflito.

Formulação de Perguntas: O mediador emprega perguntas pertinentes para


aprofundar a compreensão do conflito e explorar soluções viáveis.

Resumo e Confirmação: O resumo é realizado após a manifestação das partes,


onde o mediador recapitula a controvérsia e identifica as questões centrais e os
interesses subjacentes. É essencial para direcionar a mediação e garantir que as
preocupações-chave sejam consideradas. A etapa de confirmação permite que as
partes verifiquem a precisão de suas declarações registradas.

Caucus: O caucus envolve reuniões privadas e confidenciais do mediador com


cada parte separadamente. Isso oferece às partes a oportunidade de expressar
preocupações que podem ser desconfortáveis de compartilhar na frente da outra parte.

Teste de Realidade: Esta técnica incentiva as partes a fazerem uma reflexão


objetiva sobre o que está sendo discutido e proposto, promovendo uma visão mais clara
da situação.

Essas técnicas, conforme artigo disponível em (http://www.ambito-


juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12368), são
adotadas pelo processo de mediação para garantir um atendimento eficiente e rápido
na resolução de disputas. Cada uma delas desempenha um papel fundamental na

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criação de um ambiente propício para a comunicação aberta e na identificação de
soluções mutuamente aceitáveis.

14. ETAPAS DA MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

As etapas essenciais são respectivamente, a título de organização:

1. Fase de Preparação

A etapa inicial de um processo de mediação é a fase de preparação, na qual são


estabelecidas as bases para o sucesso do procedimento. Isso envolve a escolha do
local adequado para a mediação, garantindo que haja assentos e recursos como blocos
de anotação, café e água disponíveis, se necessário. Além disso, essa fase incorpora
os princípios de qualidade técnica e ética, conforme preconizado pela Resolução 125
do CNJ, bem como os procedimentos e normas que regem a mediação. O mediador
desempenha um papel fundamental na garantia de que as partes estejam empoderadas
para tomar decisões e atua como um facilitador. Nesse momento, é crucial estabelecer
a qualidade da interação social e a maneira como o mediador trata as partes.

2. Sessão de Abertura

A sessão de abertura é o ponto de partida oficial da mediação, onde as regras


do processo são explicadas. Isso inclui detalhes sobre como a mediação ocorrerá,
quaisquer acordos prévios que tenham sido feitos, apresentações iniciais e informações
sobre quem falará primeiro e quanto tempo cada parte terá para se expressar. É
fundamental ressaltar o princípio de confidencialidade nesta fase. Além disso, é
importante destacar o papel do advogado, que pode orientar os acordos que sejam
interessantes para seu cliente.

3. Questões, Informações e Sentimentos

Nesta etapa, as partes envolvidas têm a oportunidade de compartilhar


informações relevantes, questões em disputa e expressar seus sentimentos. A
comunicação aberta e sincera desempenha um papel crucial na resolução do conflito.
O mediador atua como um facilitador, ajudando as partes a se comunicarem de maneira
eficaz e a se concentrarem nos interesses subjacentes.

4. Resumos

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Os resumos são ferramentas importantes usadas para acompanhar o progresso
da mediação. São realizados em diferentes momentos ao longo da sessão, geralmente
após cada intervenção das partes. Os resumos permitem verificar o que já foi discutido,
identificar as principais questões em pauta e os interesses subjacentes. Eles contribuem
para manter o foco e a organização do processo de mediação.

5. Convergência para o Consenso

A busca pelo consenso é um dos principais objetivos da mediação. Quando a


comunicação entre as partes está fluindo bem, essa etapa envolve trabalhar em direção
a um acordo mutuamente aceitável. O mediador desempenha um papel ativo na
facilitação desse processo.

6. Sessões Privadas ou Caucuses

Quando a comunicação entre as partes está prejudicada, ou em situações em


que a privacidade é necessária, o mediador pode conduzir sessões privadas,
conhecidas como caucuses. Isso permite que as partes expressem suas preocupações
de forma mais individual e confidencial, o que pode ser essencial para superar impasses.

Essas etapas são fundamentais para a eficácia do processo de mediação e a


busca por soluções consensuais em disputas. O mediador desempenha um papel
crucial na gestão dessas etapas e na facilitação da comunicação eficaz entre as partes.

15. AS DOZE FERRAMENTAS DA MEDIAÇÃO E CONCILIAÇÃO

As chamadas 12 ferramentas para a mudança na mediação, são para o uso do


mediador enquanto catalizador de diálogo e acordos, maneiras psicologicamente
eficazes para promover um ambiente mais convidativo a colaboração entre os
envolvidos. As ferramentas são:

1. Recontextualização. Essa ferramenta trata da filtragem de elementos


negativos; deve utilizar linguagem neutra com enfoque no positivo, privilegiando uma
nova perspectiva que organize acontecimentos e busque por construir novas soluções.
2. Audição de propostas implícitas. Essa ferramenta tem o objetivo de
identificar o que a parte deseja implicitamente com a posição que adota, por exemplo,
uma pessoa que se sinta injustiçada de alguma forma, pode agir de maneira muito
agressiva no intuito de punir a outra; a depender do caso, o reconhecimento combinado

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com um pedido de desculpas sincero é capaz de apaziguar esse ânimo pelo
enfrentamento.
3. Afago. O afago é particularmente útil pois ele reconhece o “valor”
atribuído a pessoa e a seu posicionamento, bem como estimula um comportamento que
venha a ser adequado para a boa gestão da sessão de mediação. É uma das
ferramentas mais importantes para a aceitação pois, não apenas estimula um
comportamento “adequado” como também serve de convite para a colaboração com a
mediação. Um exemplo de uma boa aplicação de afago seria o reconhecimento da
inteligência da parte ajustada com a sugestão de que a solução mais “inteligente”,
prática e menos dolorosa da situação conflituosa se daria por meio do diálogo e não
pela disputa.
4. Silêncio. Essa ferramenta é muito valiosa pois permite tanto a
observação do mediador quanto propicia o estímulo para que uma ou ambas as partes
falem e se abram, sem a necessidade de que seja feita uma pressão verbal. O silencio
possui o efeito psicológico de que as pessoas falem mais; que desejem preenchê-lo.
5. Sessões privadas. São o momento destinado a expressão individual de
sentimentos, situações e dores que não se sintam à vontade falando com a parte oposta.
Muitas vezes existe até mesmo o medo de que o que possam falar desencadeie nova
discussão, atrito ou agressão e, essas sessões privadas permitem ao mediador ou
conciliador compreender melhor os dois lados e saber como tratar melhor cada um.
Lembrando que a comunicação e conteúdo de uma sessão privada a outra parte deve
ser dado expressamente pelo mediando.
6. Inversão de Papéis. Essa ferramenta visa o estabelecimento de um
olhar empático. Levanta a questão: “se você estivesse no lugar da outra pessoa, como
se sentiria?”. É uma ferramenta particularmente eficaz para ajudar a ultrapassar
barreiras e bloqueios emocionais, quando as posições adotadas são notadamente
“autocentradas”.
7. Geração de Opções. Essa ferramenta, mais restrita a conciliação, não
deve induzir ou coagir as partes a um acordo, mas viabiliza o oferecimento de sugestões
de como resolver a questão, mais com o intuito de inspirar as partes sobre formas de
resolução do que decidir o melhor método.
8. Normalização. Essa ferramenta visa diminuir o estranhamento sobre as
posições, opiniões e sentimentos das partes pois o intuito é aproximá-las do diálogo ao
invés de repelir, recriminar e julgar condutas como certas ou erradas.
9. Organizações de Questões e Interesses. Essencial a utilização dessa
ferramenta para que se tenha a clareza do que está sendo discutido, negociado, qual o
direito envolvido e qual a vontade de cada uma das partes, mesmo as implícitas.

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10. Enfoque prospectivo. Trata-se de uma abordagem direcionada ao
futuro. Reconhecendo o passado como imutável, o ideal é apostar no presente e no
futuro para a possibilidade de reparação ou obtenção de soluções. O passado deve ser
usado a título de esclarecimento, mas é “de aqui para a frente” que serão alcançadas
soluções para o problema.
11. Teste de Realidade. Essa ferramenta de maneira simplificada significa
que o mediador deve buscar uma reflexão realista das partes sobre as sugestões
criadas para verificar a exequibilidade do acordo.
12. Apresentar perguntas orientadas para soluções. Essencial na
mediação, pois, reitera o caráter prospectivo da mediação distanciando dos problemas
originários do litígio, das preocupações e perspectivas das pessoas em disputa, traz os
envolvidos a uma busca conjunta para a solução do conflito.

Essas ferramentas, utilizadas, não em ordem, mas de maneira a atender as


especificidades do caso em questão são as ferramentas de que dispõe o mediador
habilidoso para catalisar o diálogo entre os mediados em conflito e eventualmente, atuar
como facilitador para um acordo que seja justo a ambas as partes.

16. PRINCÍPIOS ETICOS


A condução ética de uma conciliação ou mediação é alicerce fundamental para
o sucesso do procedimento bem como para a construção de relações confiáveis entre
as partes envolvidas. Os princípios éticos do mediador não são apenas diretrizes
formais; são os alicerces sobre os quais se ergue a integridade e a eficácia do processo
de mediação.

O Código de Ética de Conciliadores e Mediadores Judiciais, em seus artigos de


1º a 8º, juntamente com seus respectivos incisos e parágrafos, estabelece princípios
cruciais que devem orientar a conduta ética do mediador. Entre esses princípios,
destacam-se:

Confidencialidade: O mediador deve assegurar a confidencialidade das


informações compartilhadas durante o processo de mediação, proporcionando um
ambiente seguro para que as partes expressem suas preocupações.

Decisão Informada: As partes envolvidas têm o direito de tomar decisões


informadas e autodeterminadas. O mediador facilita esse processo, garantindo que as
partes compreendam plenamente as implicações de suas escolhas.

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Competência: O mediador deve possuir as habilidades, conhecimentos e
experiência necessários para conduzir eficazmente o processo de mediação,
assegurando um ambiente profissional e eficiente.

Imparcialidade: É imperativo que o mediador permaneça imparcial, evitando


favorecer qualquer uma das partes. Essa imparcialidade promove a equidade no
tratamento das partes envolvidas.

Independência e Autonomia: O mediador deve atuar de maneira independente,


garantindo que sua conduta não seja influenciada por interesses externos. A autonomia
do mediador é essencial para preservar a integridade do processo.

Respeito à Ordem Pública e às Leis Vigentes: O mediador deve conduzir a


mediação de acordo com os princípios legais e a ordem pública, promovendo a
conformidade com as leis em vigor.

Empoderamento: O mediador busca capacitar as partes, promovendo a


autonomia e a responsabilidade na resolução do conflito. Esse princípio destaca a
importância de empoderar as partes para que assumam o controle do processo.

Ao seguir esses princípios éticos, o mediador não apenas cumpre requisitos


formais, mas também contribui para a construção de um ambiente de mediação
baseado na confiança, integridade e eficácia. Esses princípios são basilares para a
atuação íntegra e humana de um mediador ou conciliador, de modo a respeitar as leis
e normas bem como a vontade, individualidade das partes, assim como atuar no longo
prazo para a solução de conflitos, instruindo às partes novas maneiras de lidar com o
conflito.

17. O ACORDO
O acordo, tido muitas vezes como o cerne da resolução de conflitos é
considerado o indicador principal de se uma mediação foi ou não frutífera, mas sua
inexistência de forma alguma representa fracasso da mediação, cujo principal objetivo
e metodologia é reestabelecer o diálogo, diferente da conciliação, cujo objetivo principal
é o próprio acordo

Ainda assim, o acordo é e costumar ser a maneira mais ágil e eficaz de resolução
do conflito, dando início ao fim das disputas.

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A mediação é, por natureza, um processo orientado para o acordo. Contrapondo-
se aos métodos judiciais, ela enfatiza a colaboração e a autonomia das partes na
construção de soluções personalizadas.

Nesse sentido, O mediador atua como facilitador, promovendo o diálogo e


fornecendo um ambiente seguro para a expressão de interesses. As partes detêm o
poder de decisão, fortalecendo seu papel na construção do acordo.

Com as ferramentas adequadas e o amparo da metodologia consagrada, o


mediador, com a mediação visa estabelecer uma compreensão mútua entre as partes.
Através da escuta ativa e do diálogo, busca-se criar empatia e promover a comunicação
eficaz.

Uma vez que haja um encaminhamento para a colaboração entre as partes e


sejam ambas ouvidas, consideradas e apaziguadas, as partes são encorajadas a
formular propostas que satisfaçam seus interesses. O mediador desempenha um papel
crucial na orientação desse processo, facilitando a criação de soluções aceitáveis para
ambas.

O acordo, uma vez elaborado com a presença de todos e com o auxílio dos
advogados, visando pela legalidade do documento, não é apenas uma solução imediata,
mas um instrumento para a resolução duradoura de conflitos. Estratégias são
exploradas para manter a sustentabilidade do acordo ao longo do tempo.

De maneira geral, o acordo se consagra como a maneira mais eficaz de colocar


a termo as animosidades prolongadas entre as partes e satisfazer a todos em suas
necessidades, além de evitar o longo e exaustivo caminho do litígio.

Em conclusão, o acordo na mediação não apenas encerra um conflito, mas


estabelece as bases para relações continuadas entre as partes. A abordagem
consensual destaca-se como um método eficaz para alcançar soluções duradouras e
satisfatórias.

18. COMO TRATAR O ADVOGADO?


Primeiramente, o advogado é um profissional integrante do processo de
mediação ou da conciliação e, como tal, deve ser reconhecido em sua importância.

“O advogado no exercício de suas atribuições tem o importante papel de defesa


da justiça e da paz social. Portanto, é forçoso reconhecer que a advocacia desempenha

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uma relevante função em nossa sociedade, conforme, inclusive, estabelece o artigo 2º,
Parágrafo primeiro do estatuto da advocacia.” (REVISTA BRASILEIRA DE
ARBITRAGEM, edição nº 62, link de acesso: https://cursomediacao.com.br/wp-
content/uploads/2021/01/A-NECESSIDADE-DE-PREPARACAO-DO-ADVOGADO-
PARA-O-AVANCO-DA-MEDIACAO-NO-BRASIL-1.pdf)

A participação ativa do advogado nos processos de mediação e conciliação é


crucial para a efetiva resolução de litígios. Sua atuação vai além do papel tradicional de
defensor, envolvendo-se colaborativamente nos meios alternativos de resolução de
disputas (ADR). Este tópico explora o papel do advogado na garantia da justiça por meio
desses métodos.

Reconhece-se o advogado não apenas como representante das partes, mas


como um agente que opera em prol da justiça. Sua função transcende a litigância
tradicional. Destaca-se a necessidade de uma abordagem colaborativa do advogado
nos ADR. Sua integração ativa promove a eficiência e eficácia desses métodos.

Além disso, o advogado, ao participar de sessões de mediação e conciliação,


confere validade jurídica aos acordos resultantes, essenciais para o reconhecimento
judicial. A presença do advogado não apenas fortalece o aspecto jurídico da mediação
e conciliação, mas também proporciona segurança e clareza às partes envolvidas.

Explora-se a importância da aceitação judicial dos acordos mediados. O


advogado, ao moldar esses acordos, facilita o reconhecimento e a homologação pelo
judiciário.

Destaca-se a colaboração entre o advogado e o mediador como um componente


vital. Ambos desempenham papéis complementares, buscando soluções justas e
equitativas. O advogado atua não apenas como defensor legal, mas como capacitador
das partes, permitindo que elas tomem decisões informadas e consensuais.

Aborda-se os desafios potenciais na integração do advogado nos ADR,


apresentando estratégias para superar barreiras e promover uma colaboração efetiva.

Conclui-se que a participação ativa do advogado nos ADR é essencial não


apenas para a resolução de litígios, mas para o fortalecimento do sistema de justiça
como um todo. Sua integração representa um avanço significativo na busca por
soluções eficazes e equitativas.

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19. DADOS ESTATISTICOS DO CNJ
O presente capítulo mergulha nas estatísticas fornecidas pelo Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) para proporcionar uma compreensão profunda do estado
atual da mediação no sistema judiciário brasileiro. Analisaremos os dados mais recentes,
extraindo insights sobre a eficácia, a abrangência e o impacto da mediação como um
método alternativo de resolução de conflitos.

A Resolução 125/10, em seus artigos 13 e 14, consagra a importância do


acompanhamento de dados para aprimorar e formular políticas públicas baseadas nas
estatísticas fornecidas. Os tribunais são instados a manter um banco de dados sobre as
atividades de cada Centro de Mediação, enquanto o CNJ compila informações sobre os
serviços públicos de solução consensual, conforme o Departamento de Pesquisas
Judiciárias (DPJ).

Art. 13. Os tribunais deverão criar e manter banco de


dados sobre as atividades de cada Centro, nos termos de
Resolução própria do CNJ. (Redação dada pela Emenda nº 2,
de 08.03.16)

Art. 14. Caberá ao CNJ compilar informações sobre os


serviços públicos de solução consensual das controvérsias
existentes no país e sobre o desempenho de cada um deles,
por meio do Departamento de Pesquisas Judiciárias (DPJ),
mantendo permanentemente atualizado o banco de dados.
(Redação dada pela Emenda nº 2, de 08.03.16).

Destacamos algumas estatísticas cruciais para entender o desempenho da


mediação em diferentes contextos. Conflitos familiares emergem como a área mais
frutífera, alcançando uma média de 70% de acordos, e notavelmente, até 85% de
sucesso em sessões pré-processuais.

No entanto, observa-se uma lacuna significativa em causas civis. Entre 2018 e


2019, apenas 48% das 13.000 sessões prévias de conciliação foram realizadas,
resultando em meros 6% de acordos. A taxa de acordos concretizados em relação às
audiências designadas é de 2.9%. Esse cenário sugere um desafio particular na
promoção da mediação em contextos civis, indicando resistência em buscar acordos,
especialmente entre grandes empresas. (Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
"Estudos apresentam dados sobre eficiência do uso de mediação e conciliação
na Justiça brasileira". Disponível em: <https://www.cnj.jus.br/estudos-apresentam-
dados-sobre-eficiencia-do-uso-mediacao-e-conciliacao-na-justica-

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brasileira/#:~:text=Os%20dados%20entre%20novembro%20de,ficou%20em%202%2C
9%25\>. Acesso em: 10, janeiro de 2024.)

As estatísticas revelam um panorama misto da eficácia da mediação no Brasil.


Enquanto se destaca nas questões familiares, a resistência em contextos civis,
especialmente entre grandes empresas, aponta para desafios significativos. A baixa
taxa de acordos nesse cenário sugere a necessidade de estratégias específicas para
promover a mediação e superar barreiras econômicas e culturais. Este panorama
destaca a importância contínua de avaliações e ajustes nas práticas de mediação para
promover sua aceitação e eficácia em diversas áreas do sistema judiciário brasileiro.

Especificamente em relação ao estado de São Paulo, o levantamento de


novembro de 2021 sobre a conciliação pré-processual demonstra que, durante o
período mencionado, foram designadas 1.540 audiências, das quais 740 foram
realizadas. Nesse contexto, 326 acordos foram homologados, totalizando um montante
de R$ 1.127.332,18.

No âmbito do artigo 334 do CPC, 8.912 audiências foram designadas, das quais
6.307 foram realizadas. Desse total, 1.309 acordos foram homologados, representando
um valor de R$ 33.096.888,65.

Em um escopo mais amplo, considerando todas as audiências designadas


(22.479) e realizadas (16.485), foram homologados 1.838 acordos, somando
R$ 39.913.931,00 em valores homologados.

No contexto penal, especificamente, 11.488 audiências foram designadas, com


8.453 sendo realizadas.

Embora em avanço e com eficácia considerável, fica evidenciado pelos dados


que os métodos alternativos de resolução de conflitos ainda têm muito espaço e respeito
a conquistar, conforme os dados disponibilizados pelo TJSP.
(https://www.tjsp.jus.br/Download/Conciliacao/SemanaNacionalConciliacao_202
2.pdf?d=1704905582936).

20. DECLARAÇÃO DE ABERTURA EFICAZ

Declaração de abertura, como o próprio nome sugere é oficialmente o primeiro


estágio da mediação em que o mediador deve apresentar as partes e seus advogados
os pormenores do procedimento, a metodologia utilizada, explicar os deveres, princípios

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éticos como por exemplo a confidenciabilidade, sendo a mediação um processo restrito
as partes envolvidas salvo as exceções de cometimento de crime ao longo da sessão.

A Declaração de Abertura transcende a formalidade; é uma oportunidade de


estabelecer uma conexão significativa entre o mediador e as partes envolvidas. A tríade
persuasiva de Aristóteles, composta por Ethos, Logos e Páthos, fornece uma estrutura
eficaz para a construção dessa introdução.

A abordagem inicia-se com uma recepção calorosa, enfatizando o contato visual


equitativo como um componente essencial para a construção da credibilidade. A seguir,
o mediador se apresenta como um facilitador imparcial, delineando claramente o
propósito da mediação - alcançar um acordo mutuamente satisfatório.

A persuasão eficaz na Declaração de Abertura é alcançada através da


combinação de confiança, lógica e emoção. O mediador busca estabelecer confiança,
destacando sua imparcialidade e confiança no sucesso da mediação. A lógica é aplicada
ao explicar o procedimento da mediação de maneira clara e compreensível, enquanto a
emoção é evocada ao destacar a possibilidade de resolução satisfatória para ambas as
partes.

O uso de storytelling e parábolas é introduzido como uma técnica persuasiva


adicional. Exemplos, como a parábola do Semanário Litúrgico, ilustram como histórias
podem penetrar nos pensamentos dos envolvidos, facilitando o processo educativo
necessário para a mediação.

A Declaração de Abertura é então desmembrada nos princípios fundamentais


representados por C.I.V.A.: Confidencialidade, Imparcialidade, Voluntariedade e
Autonomia da Vontade. Esses princípios são comunicados de maneira clara,
estruturada e envolvente, evitando repetições ou voltar a um tópico já explicado e,
estabelecendo as regras para a jornada de mediação.

A aplicação da retórica aristotélica, com ênfase em Ethos (Credibilidade), Páthos


(Emoção) e Logos (Lógica), é destacada como uma abordagem persuasiva e eficiente.
Cada elemento contribui para a construção de um ambiente propício à colaboração na
resolução de conflitos.

Em conclusão, a Declaração de Abertura é uma poderosa ferramenta para


estabelecer uma base sólida para a resolução eficaz de disputas. Ao aplicar a tríade da
persuasão e adaptar-se continuamente, os mediadores não apenas resolvem conflitos,
mas constroem relações duradouras baseadas na confiança e compreensão mútua.

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20.1 EXEMPLO PRÁTICO DE DECLARAÇÃO DE ABERTURA
Bom dia, meu nome é Diogo Henrique Lemos. Os senhores podem me chamar
pelo primeiro nome. Quero dar as boas-vindas a vocês a essa sessão de mediação.
acompanharei vocês como mediador dessa sessão. Sou advogado, mas afirmo a vocês
que minha profissão não vai interferir em nossa conversa. Estou aqui como um
facilitador do diálogo entre vocês, minha função não é julgar, mas sim, ajudar para que
tenhamos uma sessão produtiva para ambos os lados. Confirmando os nomes, Senhora
Maria da Silva e Senhor José da Silva, estou certo? Como os senhores preferem ser
chamados?

-Pode me chamar de Maria.

-José está bom.

É a primeira vez de vocês em uma mediação? Muito bem, vou explicar a vocês
o nosso modo de trabalho. Primeiramente, quero informar a vocês que tenho formação
e experiencia na área da mediação e estou aqui por livre e espontânea vontade porque
acredito na mediação como a melhor forma de solucionar falhas na comunicação e
resolver as diferenças de maneira pacífica.

A mediação é um procedimento que vou trabalhar com os senhores para ajudá-


los a resolver a situação que os trouxe até aqui. Cada um de vocês terá a oportunidade
de expor suas preocupações e manifestar seu ponto de vista de maneira respeitosa.

Minha tarefa aqui é ajudar a esclarecer os próprios objetivos e preferências de


cada um de vocês; além disso, pretendo organizar com vocês a avaliação opções e
ajudar a tomar decisões eficientes considerando a situação individual de cada um, bem
como proporcionar aqui a oportunidade para ouvir e compreender o ponto de vista da
outra parte.

Quero frisar com os senhores de que não houve nenhuma reunião prévia entre
mim e algum de vocês anterior a esse nosso encontro. Sei muito pouco sobre o que os
trouxe aqui, li brevemente os autos, mas, quero ouvir de cada um dos envolvidos o que
os trouxe aqui, o conflito e os interesses que buscam. Vou permanecer imparcial ao
longo de todo o processo e tudo que aqui tratarmos é de natureza confidencial, desse
modo, não comentarei com ninguém o que for dito entre as partes, portanto sintam-se
à vontade para falar abertamente e com sinceridade.

O nosso trabalho aqui não é decidir quem está certo, quem está errado, mas sim,
entender as motivações e o conflito que os trouxe aqui hoje. Não sou juiz, nem estou

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aqui para obrigar vocês a tomarem uma decisão, decidir por vocês ou pressionar para
que cheguem a algum acordo.

Cada um de vocês vai ter o momento para explicar sua posição sem interrupções
e depois disso, vamos trabalhar de modo a construir juntos uma solução e alternativas
para as questões enfrentadas nessa sessão.

Quero deixar claro a vocês que o resultado desse nosso encontro depende da
vontade de vocês e não temos a obrigação de chegarmos a um acordo.

Nosso primeiro passo para iniciar essa conversa da melhor maneira é ouvir cada
um de vocês sobre a situação que os trouxe aqui. Vou fazer perguntas para que
possamos melhor entender suas preocupações e seu ponto de vista. A partir desse
momento, vamos então orientar que se concentrem no futuro para resolver a situação
pendente e encontrarmos maneiras de prevenir a repetição desse problema no futuro,
garantindo uma melhor interação entre vocês daqui para a frente.

Se vocês chegarem a um acordo, podemos fazer um termo para que assinem.


Parece bom para vocês? O método que vamos utilizar atende suas necessidades?

Para que possamos trabalhar de maneira efetiva, tem algumas diretrizes que
vamos utilizar.

Cada um de vocês terá um momento para falar. Peço que enquanto uma parte
fale, a outra escute atentamente e que o tempo de fala seja respeitado, de modo que
cada um de vocês consiga expor tudo que precisa sem ser interrompido ou interrompida.
Vocês concordam em evitar interromper quando a outra parte estiver falando? Vou
fornecer a vocês papel e caneta para que possam tomar nota enquanto ouvem a outra
parte, seja de um fato que antes era desconhecido a vocês, seja de algum ponto que
acreditam que a outra parte precisa de esclarecimento.

Reitero com vocês nossa diretriz de confidencialidade. Tudo que aqui for
conversado diz respeito somente aos envolvidos e assumo aqui o compromisso de não
falar sobre os assuntos tratados ao longo da mediação com terceiros.

Durante o processo, pode ser que seja interessante uma conversa individual com
uma ou outra parte. A isso chamamos de sessão privada ou individual. Caso surja essa
necessidade, fiquem certos de que tudo que for confiado ao mediador será mantido em
sigilo.

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Alguma dúvida sobre o processo? José, você deu entrada no processo certo?
Pode nos contar o que o trouxe aqui hoje? Peço a Maria que por gentileza escute o que
José tem a dizer e em seguida você terá também a oportunidade de falar, certo?

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CONCLUSÃO

Em síntese, a elaboração deste relatório evidenciou a importância crítica da


mediação e conciliação judicial como meios alternativos eficazes na resolução de
conflitos. A análise das etapas do processo, com destaque às melhores práticas dos
mediadores, e conciliadores.

A fundamentação ética, respaldada pelos princípios da confidencialidade,


imparcialidade e voluntariedade, demonstra o comprometimento em assegurar a
integridade e efetividade do procedimento. A aplicação estratégica de técnicas e
ferramentas, não apenas esclarecem os participantes, mas também cria um ambiente
propício para a colaboração.

As estatísticas apresentadas, fundamentadas nos dados do CNJ, corroboram a


relevância crescente da mediação no contexto judicial brasileiro. Contudo, identificamos
desafios em áreas como mediação civil, sinalizando oportunidades de aprimoramento e
expansão.

Neste cenário, a atuação do advogado como integrante colaborativo assume


papel crucial.

Em última análise destaca-se não apenas a eficácia prática da mediação e


conciliação, mas sua essência na construção de relações duradouras e justiça
restaurativa. A busca contínua por aprimoramento, aliada a uma compreensão profunda
dos aspectos éticos, estatísticos e práticos, certamente fortalecerá o papel desses
métodos na resolução pacífica de conflitos no contexto jurídico brasileiro.

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BIBLIOGRAFIA:

Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Manual de Mediação Judicial. Pág. 64,


Brasília, DF: CNJ, 2016

(BOARDMAN, Susan; HOROTITZ, Sandra. Constructive conflict


management and social problems: an introduction Journal of Social Issues, v 30,
p 1-12, 1994.)

https://www.migalhas.com.br/depeso/327739/mediacao--a-ferramenta-
salvadora-do-seculo-xxi--vinte-e-um

Negociação: Separe as pessoas do problema | Marlon Kaufmann


(wordpress.com)

KAUFMANN, Marlonn. Negociação: separe as pessoas do problema. São


Paulo, 23 de julho de 2012. Disponível em: Negociação: Separe as pessoas do
problema | Marlon Kaufmann (wordpress.com)/. Acesso em: 19 de maio de 2023.)

https://www.mediacaonline.com/blog/o-que-e-mediacao-entenda-
mediacao-em-5-
passos/#:~:text=As%20partes%20s%C3%A3o%20as%20protagonistas,media%C
3%A7%C3%A3o%20e%20o%20seu%20resultado. Acesso em:13 de outubro de
2023

https://direitoreal.com.br/artigos/a-sessao-de-mediacao-organizacao-do-
ambiente Acessado em 13 de outubro, 2023

http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12368

REVISTA BRASILEIRA DE ARBITRAGEM, pg 47, edição nº 62, link de


acesso: https://cursomediacao.com.br/wp-content/uploads/2021/01/A-
NECESSIDADE-DE-PREPARACAO-DO-ADVOGADO-PARA-O-AVANCO-DA-
MEDIACAO-NO-BRASIL-1.pdf

https://www.cnj.jus.br/estudos-apresentam-dados-sobre-eficiencia-do-
uso-mediacao-e-conciliacao-na-justica-
brasileira/#:~:text=Os%20dados%20entre%20novembro%20de,ficou%20em%202
%2C9%25\>. Acesso em: 10, janeiro de 2024.

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https://www.tjsp.jus.br/Download/Conciliacao/SemanaNacionalConciliaca
o_2022.pdf?d=1704905582936

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