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DE INVENTÁRIO E PARTILHA
Jaíra Monteiro Silva1
Virgínia Muniz de Souza Cruz2
RESUMO
ABSTRACT
The purpose of this paper is to show the benefits of mediation if applied to the Succession Law.
The litigious culture that had been cultivated for a long time in Brazil brought with it the
slowness of the judiciary, wich is crowded with demands whose resolutions, many times,
remain impaired. This reality provoked interest in the study of the institution of mediation,
presented in this work, and whose purpose is to expose that this reality can be transformed.
Mediation began to be recognized by the Civil Procedure Code of 2015, with the advent of
Federal Law 13.140 / 2015, as a new method of treatment appropriate to the process. The
methodology used through bibliographic reviews found that mediation has been shown to be
very beneficial in conflict resolution, both for the parties and for the judiciary. Being used in
several demands in Brazil, mediation effectively ends conflicts, being fully applicable and
recommended in matters of succession law, specifically at the time of inventory and sharing of
assets as a way to reduce bureaucracy the procedure by making it faster, less costly and more
effective for those involved.
1
Bacharel em direito pela Faculdade Cathedral, advogada, especialista em Direito Processual Civil pela
Faculdade Damásio de Jesus. E-mail: jairamonteiroadv@gmail.com
2
Bacharel em direito pela Faculdade Cathedral, advogada, especialista em Direito Processual Civil e
Direito de Família e Sucessões pela Faculdade Damásio de Jesus. E-mail: virginiadesouzacruz@
gmail.com.
2
INTRODUÇÃO
Atualmente o Brasil conta com mais de 100 milhões de processos judiciais, restando
claro que o poder judiciário brasileiro está sobrecarregado de demandas. Esse número tem feito
com que a credibilidade na eficácia do poder judiciário brasileiro caia cada vez mais. Na
maioria dos casos despende-se tempo e dinheiro para que, no final da demanda, o resultado seja
insatisfatório.
Por esse e outros motivos, iniciou-se a busca por métodos adequados de resolução de
conflitos. Muito embora a conciliação e a arbitragem já sejam reconhecidas como métodos
adequados há muito tempo, com o advento da Lei de Mediação tem-se tentado mostrar para a
sociedade que o processo judicial não é a única forma de resolução de conflitos.
A mediação se destaca por demonstrar ser um procedimento menos burocrático, mais
célere, menos oneroso e mais satisfatório. No que se refere aos métodos autocompositivos
percebe-se que o diferencial da mediação é possuir muito evidente a característica da
informalidade e garantir facilidade para que as partes resolvam o conflito de forma
independente. Existe um terceiro imparcial que atuará como facilitador do diálogo entre os
conflitantes, porém, não é imprescindível que um processo judicial a anteceda. Ainda que
também seja possível a utilização desse método após a judicialização da lide.
Nesse prisma, o Direito contemporâneo tem expressado que o processo convencional há
muito deixou de ser o melhor método de resolução de conflitos. Nos tempos da Lei de Talião –
olho por olho, dente por dente – o processo judicial realmente foi um método de resolução de
conflitos mais civilizado. Ocorre que hoje, claramente, existe uma exaustão desse método. Esse
foi, por décadas, o único método utilizado para resolver qualquer imbróglio nos
relacionamentos advindos da vida em sociedade.
O caos vivido pelos tribunais congestionados de demandas alimentou o interesse por
métodos adequados de tratamento de conflitos, mais eficazes e, nesse ínterim, a mediação tem
se mostrado bastante vantajosa, por ser menos burocrática, realmente pondo fim ao conflito e
não apenas encerrando o processo.
Diferente do processo judicial, o procedimento da mediação tem trazido às partes
economia de tempo e dinheiro, maior autonomia no momento das escolhas para a resolução do
conflito e maior satisfação com o resultado.
Seguindo essa linha de pensamento, a presente pesquisa analisa a possibilidade de
aplicação e os benefícios do uso da mediação nas questões de Direito Sucessório.
durante muito tempo reconhecido como o melhor método para os conflitos advindos do
convívio em sociedade.
Firmando esse pensamento, Humberto Theodoro Junior explica acerca da
importância da normatização para a vida em sociedade e para o Estado:
Ocorre que, com o passar do tempo e tantas modificações, é inegável que houve uma
exaustão desse procedimento como método mais adequado para a resolução de conflitos, tendo
em vista a quantidade de demandas que diariamente chegam ao judiciário, que tornou-se
moroso e, por muitas vezes, ineficaz.
As pessoas começaram a acionar o Poder Judiciário para dirimir toda e qualquer
insatisfação da vida em sociedade. De certa forma, os princípios de acesso à justiça e a garantia
de que lesão ou ameaça não seria excluída de apreciação do Poder Judiciário passaram apenas à
alimentar a cultura do litígio.
Dados apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Relatório Justiça
em Números, apontam que a quantidade de demandas tem aumentado a cada ano. Ainda
que em conjunto ao aumento da produção de sentenças, a crise vivida pelo judiciário
continua evidente.
1.1 MEDIAÇÃO
Sabe-se que o conflito é inerente ao ser humano, já que em convivência social sempre
haverá momentos em que a vontade de um entrará em choque com a vontade de outro.
Outrossim, há outros fatores que podem ensejar o conflito, que estão relacionados às
necessidades sociais, afetivas, espirituais, políticas, que são fatores que estão presentes no dia a
dia em sociedade.
Roberto Portugal Bacellar (2016, p. 106) sustenta que “todos os seres humanos têm
necessidades a serem supridas e, motivados a isso, terão conflitos com ouros seres humanos
também motivados a satisfazer sua escala de necessidades.”
Entretanto, é possível que esses conflitos sejam resolvidos por outros métodos além do
processo judicial, como por exemplo, com a mediação que se aplicada como método de
tratamento do processo para resolver um conflito apresenta inúmeras vantagens frente ao
processo judicial. É um procedimento mais flexível, menos burocrático, informal e que
demonstra claramente a satisfação das partes ao final do litígio.
Este método possibilita que as partes controlem todo o procedimento, na medida em que
têm maior autonomia no decorrer da sessão, na escolha da quantidade de sessões necessárias
para pôr fim ao conflito, data e hora da sessão mais flexível aos horários das partes. É um
procedimento mais célere e menos oneroso. Estas são características que garantem obter
acordos mais satisfatórios do que num processo judicial que é impositivo.
Num comparativo ao processo judicial, as vantagens percebidas nos novos métodos de
tratamento adequado ao processo são evidentes. O processo judicial é tido como um
procedimento formal e inflexível e a mediação um método autocompositivo flexível e informal.
Acerca desse pensamento expressa José Renato Nalini (2018, p. 34) sua visão sobre o
processo judicial e dessa forma é possível fazer a comparação entre os dois procedimentos:
solução, posto que encontrada de comum acordo, enquanto dá a possibilidade para o judiciário
estender seus cuidados para casos realmente relevantes para a sociedade econômica e política.
Nesse sentido, José Renato Nalini (2018, p. 35):
Enquanto isso, a justiça ordinária ficaria liberada para tratar dos casos mais
importantes, de interesse para a elite econômica e política. Permaneceria,
incólume e mais aliviada, a serviço exclusivo do establishment. Como
reforço a essa postura, as ADR freariam o ativismo judicial, que incomoda o
mesmo establishment, manifestando-se em lides que atendem aos
consumidores, por exemplo, e prejudicam o todo-poderoso mercado.
Acontece que está embutido na mente dos cidadãos a concepção de que conflito está
ligado, necessariamente, a situações negativas, como por exemplo, guerras, briga, combate,
agressividade e outros no mesmo sentido.
A partir daí é possível começar a entender qual é o papel da mediação em análise dessa
concepção de conflito. A mediação está para a resolução de conflitos que envolvem grande
carga emocional. Ou seja, na maioria dos casos, as pessoas que estão submetidas a uma sessão
de mediação estarão em estado de desequilíbrio, fragilizadas e, nesse momento, o mediador,
utilizando as técnicas de mediação, irá buscar estabilizar as emoções e tentar resolver o
conflito.
Nesse sentido explica Roberto Portugal Bacellar (2016, p. 106):
A mediação veio para mostrar que a paz social não se confunde com ausência de
conflito. Ao contrário, servirá para mostrar para a sociedade que o conflito pode ser algo
positivo. Dependendo de como a abordagem será feita às partes envolvidas no conflito, torna-se
possível mostrar que nem sempre o conflito é negativo. Tem como papel do mediador, através
de técnicas, mostrar que o conflito pode ser construtivo.
O direito contemporâneo tem o objetivo de extrair o que há de bom de cada conflito
para dar maior ênfase ao que realmente se mostra relevante para a sociedade. Tem buscado
apresentar métodos adequados de tratamento ao processo, para que o Estado-juiz despenda sua
atenção com demandas realmente relevantes para a sociedade.
A mediação tem como princípios norteadores o da imparcialidade do mediador,
isonomia das partes, oralidade, informalidade, autonomia da vontade das partes, busca do
consenso, confidencialidade e boa-fé. Ao analisar esses princípios que norteiam esse novo
método, compreende-se os motivos pelos quais a mediação tem se destacado como inovadora.
As partes sentem-se seguras por saber que o seu conflito, que por vezes podem
considerar constrangedor, estará sendo analisado por um terceiro imparcial que terá o dever de
garantir a isonomia das partes, as vontades, buscará o melhor consenso por meio da escuta ativa,
tratará o conflito de forma confidencial, assumindo o dever do sigilo.
O papel do mediador é de atuar com a imparcialidade perceber quais os interesses das
partes, encontrar soluções, controlar o diálogo, ampliar a discussão, abrir o leque de
possibilidades, facilitar o diálogo para que as partes compreendam seus verdadeiros interesses e
por elas próprias encontrar a solução adequada para aquele conflito.
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A mediação extrajudicial teve seu marco com a Lei de Mediação e assim, fica permitida
o seu uso independente de apresentação da lide ao judiciário.
Ainda que o Código de Processo Civil de 2015 incentive a mediação para as causas que
já exista um relacionamento entre as partes, a descrição que se extrai da Lei de Mediação é
cabível tanto para a mediação judicial como para a extrajudicial.
Na mediação judicial as partes serão convidadas pelo Poder Judiciário, para que
compareçam em audiência e expressem suas vontades. As partes não são obrigadas a aceitar o
método. A dita “obrigatoriedade” do artigo 334 do CPC/2015 deve ser interpretada apenas
como um incentivo para que haja a apresentação do método.
Na extrajudicial, o método funciona da mesma forma, a diferença é que o convite não
partirá do Poder Judiciário e sim de uma das partes, que poderá ser por qualquer meio de
comunicação e que deverá especificar qual objeto que será proposto para análise, bem como
deverá indicar data, local e hora.
Em resumo, tanto a mediação judicial quanto a extrajudicial possuem as mesmas
características, utilizam as mesmas técnicas para a resolução de conflito. O mediador assume
uma postura mais passiva, sem poder sugerir soluções e atuando apenas como facilitador e
controlador do diálogo. O papel do mediador é de perceber os interesses em comum, ter uma
escuta ativa e auxiliar para que as partes cheguem à solução do conflito sem a interferência de
terceiros.
Assim, aplicando a mediação e percebendo os seus benefícios para a vida em sociedade,
bem como para o Poder Judiciário, se extrai as possibilidades de aplicar em várias áreas do
direito, afim de resolver o conflito e não sobrecarregar o judiciário.
Ressalta-se que os precedentes dos Tribunais pátrios demonstram a possibilidade de
utilização da mediação nas ações que tratam de direito de família, senão vejamos:
Vê-se, portanto, o foco que a mediação confere às partes que podem transigir até mesmo
na ausência de advogados e em questões geralmente difíceis de serem resolvidas como é o caso
dos assuntos relacionados à direito de família.
2 A MEDIAÇÃO COMO MÉTODO MAIS EFICAZ SE APLICADO NOS PROCESSOS
DE INVENTÁRIO E PARTILHA
Notadamente o novo Código de Processo Cível buscou expressar em seu diploma legal
a busca pela celeridade processual. Ainda assim, não se percebe tão evidente a celeridade nos
processos de inventário e partilha.
Há muito o processo de inventário e partilha é sinônimo de demora e, por esse motivo,
buscam-se formas ditas “alternativas” para que haja a evolução dos procedimentos usados nas
resoluções de conflitos do Direito Sucessório.
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seguintes casos: i) se houver expressa autorização do juízo sucessório competente, emitida nos
autos do procedimento de abertura e cumprimento de testamento, sendo todos interessados
capazes e concordes; ii) nos casos de testamento revogado ou caduco, ou quando houver decisão
judicial, com transito em julgado, declarando a invalidade do testamento, observadas a
capacidade e concordância dos herdeiros (CAMBI; DOTTI; PINHEIRO; MARTINS;
KOZIKOSKI, 2017, p. 1278).
Ainda se faz importante salientar que, quando não houver menor, incapaz e todos os
herdeiros estiverem de acordo com a partilha de bens, a ação de inventario judicial poderá ser
extinta pelo juiz, em reconhecimento da possibilidade de aplicação do inventario extrajudicial.
O Código de Processo Civil de 2015 em seu artigo 659. A partilha amigável, celebrada
entre partes capazes, nos termos da lei, será homologada de plano pelo juiz, com observância
dos arts. 660 a 663.
Quanto ao inventario judicial, sendo por opção ou por imposição legal, é importante
destacar que há a possibilidade de celebração do negócio jurídico processual.
De acordo com o Código de Processo Civil, in verbis:
Art. 190. Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às
partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e
deveres processuais, antes ou durante o processo.
quanto a ser mais célere se o procedimento for mediado e, por conseguinte, o benefício da
resolução de conflitos para as partes.
Busca-se menores danos sentimentais, ainda que os ressentimentos perdurem. Com a
finalização do processo de inventário e partilha, não terá mais o que ser remoer, muito embora,
utilizando a técnica resolva o conflito daquele momento.
CONCLUSÃO
No decorrer desse artigo objetivou-se demonstrar os benefícios da mediação, novo
método de resolução de conflito autocompositivo reconhecido pelo novo Código de Processo
Civil e a Lei de Mediação, dando enfoque à sua aplicação do processo de inventario e partilha.
Para uma melhor compreensão acerca da evolução do Código de Processo Civil de
2015, do processo e dos métodos de tratamento adequados aos processos para a efetivação de
resoluções de conflitos de forma positiva, foi necessário fazer um breve adendo ao início da
civilização e a história do processo judicial.
O Estado passou a garantir para a sociedade não só o acesso à justiça, como também a
segurança para a sociedade de ter uma forma para dirimir seus conflitos através do processo que
permaneceu durante muito tempo como único método de resolução de conflitos.
Essa situação trouxe uma sobrecarga e consequente morosidade para o judiciário e,
assim, a busca por métodos de resoluções de conflitos se tornou evidente.
Nesse ínterim, diante da crise que o Judiciário vive, o legislador passou a enfatizar não
só as políticas públicas de resolução consensual de conflitos, como regulamentou a mediação
como método de tratamento adequado ao processo.
A mediação reconhecida como método de tratamento mais adequado para as resoluções
de conflitos, principalmente para os que já possuam uma real aproximação entre as partes, tem
plena possibilidade de aplicação nas ações de inventario e partilha, que são por demais
carregadas de emoções e, ao mesmo tempo, um procedimento extremamente demorado e
burocrático.
Para além de ser possível é recomendável a aplicação da mediação nesses casos, como
forma de desburocratizar o procedimento tornando-o mais célere, menos custoso e mais eficaz
para os envolvidos.
REFERÊNCIAS
CAMBI, Eduardo. et al. Curso de Processo Civil. Edição única. São Paulo. 2017.