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UNIVERSIDADE SALGADO DE OLIVEIRA


CURSO DE DIREITO

JULIANA MENDES BERQUÓ

ADOÇÃO NO BRASIL: EVOLUÇÃO HISTORICA E REFLEXOS NA


SOCIEDADE ATUAL 12.010/09

Goiânia
2013
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JULIANA MENDES BERQUÓ

ADOÇÃO NO BRASIL: EVOLUÇÃO HISTORICA E REFLEXOS NA


SOCIEDADE ATUAL 12.010/09

Monografia apresentada à Disciplina


Orientação Metodológica para Trabalho de
Conclusão de Curso, requisito imprescindível á
obtenção do grau de Bacharel em Direito pela
Universidade Salgado de Oliveira.

Orientador: Maria de Jesus Nunes Teixeira

Goiânia
2013
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JULIANA MENDES BERQUÓ

ADOÇÃO NO BRASIL: EVOLUÇÃO HISTORICA E REFLEXOS NA


SOCIEDADE ATUAL 12.010/09

Monografia apresentada ao curso de Direito da Universidade Salgado de


Oliveira como parte dos requisitos para conclusão do curso.

Aprovação em ___ de ________ de 2013.

Banca Examinadora

____________________________________________________
Professora Orientadora Maria de Jesus Nunes Teixeira
Professor orientador

____________________________________________________
Orientador

____________________________________________________
Orientador

Goiânia
2013
4

Dedico esta obra aos meus pais, João Maria


Berquó e Palmira Eliana Mendes Berquó e
minhas irmãs Elloisa Mendes Berquó e Eliana
Mendes Berquó, a minha eterna gratidão,
minha admiração por serem tão leias e por
estarem sempre ao meu lado, em todos os
momentos, principalmente nos mais difíceis,
onde com amor e determinação me encorajou
a seguir o meu caminho e a vencer as
barreiras.
5

Agradeço a Deus por todas as benção que me


proporcionou, por seu grandioso amor e
misericórdia que derrama sobre a minha vida.
Aos meus pais, pelo amor, dedicação,
compreensão e paciência.
6

Eu fazia do amor um cálculo matemático


errado. Pensava que somando as
compreensões, eu amava.
Não sabia que somando as incompreensões
que se ama verdadeiramente”.

CLARICE LISPECTOR
7

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo apresentar um estudo e uma analise das principais
mudanças da Lei n.º 12010/09, no processo de adoção. Pretendendo demonstrar a
evolução da adoção, sua dinâmica, até chegarmos aos dias atuais. A nova lei
reforça a priorização da família biológica em casos de adoção, além de reafirmar a
necessidade de afinidade e afetividade da criança com os parentes, elementos
fundamentais para a garantia de modo pleno, o direito à convivência familiar.

PALAVRAS – CHAVE: Adoção. Lei 12010/09. Mudanças. Alterações.


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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.............................................................................................................9

1. ADOÇÃO............................................................................................................... 11
1.1 Noções Gerais..................................................................................................... 11
1.2 Evolução Histórica............................................................................................... 13
1.2.1 Adoção na Antiguidade.....................................................................................13
1.2.2 Adoção na Idade Média....................................................................................14
1.2.2.1 Adoção na Idade Moderna.............................................................................14
1.2.2.2 Adoção no Direito Brasileiro...........................................................................15
1.2.2.3 Adoção, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente...........................17

2. REGIME JURÍDICO DA ADOÇÃO NA LEI 12.010/90...........................................19


2.1 Natureza jurídica..................................................................................................19
2.2 Requisitos Gerais para a Adoção........................................................................20
2.2.1 Requisitos relativos ao adotando......................................................................20
2.2 Consentimento do adotando................................................................................22
2.3 Consentimento dos pais ou do responsável legal................................................22
2.4 Requisitos Relativos ao Adotante........................................................................23
2.4.1 Idade do adotante.............................................................................................24
2.4.2 Diferença de idade entre adotante e adotado...................................................24
2.4.3 Cadastramento................................................................................................. 24
2.4.4 Proibição de adoção por parentes próximos.....................................................25
2.5 Outros aspectos da adoção no Estatuto..............................................................25
2.5.1 Adoção Unilateral..............................................................................................25
2.5.2 Adoção por Concubinos (Agora chamados Companheiros).............................26
2.5.3 Adoção por Divorciados ou judicialmente separados.......................................27
2.5.4 Adoção Póstuma...............................................................................................27

3. EFEITOS DA ADOÇÃO.........................................................................................29
3.1 A Constituição do Vínculo de Filiação..................................................................29
3.2.1 Parentesco com a família do adotante..............................................................29
3.2.2 Efeitos Patrimoniais..........................................................................................30
3.2.3 Obrigação alimentar..........................................................................................31
3.2.4 Administração e Usufruto dos Bens do adotado...............................................32

CONCLUSÃO............................................................................................................ 33

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 34
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INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é analisar a adoção, e as mudanças que a Lei


n.º 12.010/09 trouxe de benéficos para o processo de adoção, que são estes
prevenir o afastamento do convívio familiar e comunitário, desburocratizar o
processo e evitar o prolongamento de sua permanência em abrigos.
Os objetivos específicos são: Discorrer sobre o conteúdo histórico da
adoção, analisar sua natureza jurídica, as principais mudanças nos requisitos da
adoção, aqueles relativos ao adotante e ao adotado, abordar de uma forma clara e
objetiva a respeitos de assuntos polêmicos como adoção unilateral, adoção por
concubinos dentre outros temas que, pouco conhecidos do público geral, estão a
exigir a realização de novos e aprofundadores estudos e pesquisas.
A relevância do tema é saber quais os benefícios de uma nova lei que
tem como proposta aprimorar o instituto da adoção, com um texto baseado em
prevenir o afastamento do convívio familiar e comunitário, esgotando esta
possibilidade antes da adoção, desburocratizar o processo de adoção, mantendo os
cuidados necessários para a garantia da proteção integral à criança e ao
adolescente e ainda evitar o prolongamento de sua permanência em abrigos.
Temos o objetivo de enfrentar os desafios adoção no Brasil e promover o
surgimento de uma cultura voltada para a inclusão familiar de todas as crianças e
adolescentes um movimento de construção das adoções necessárias e de luta
contra o abandono, contribuir para o desenvolvimento de uma “atitude adotiva”
atuando como um elemento fundamental nas mudanças pretendidas, permitindo
reconhecer, na adoção o seu impulso utópico, e fazer surgir também, a consciência
de seus limites.
O abandono de uma criança reveste-se de diversas formas podendo ser
de cunho material, intelectual e até jurídico. A falta de afetividade representa uma
falta irreparável que faz com que o ser em desenvolvimento cresça e mostre uma
personalidade marcada pela falta de esperança e sentimento fraternos.
O homem por sua natureza e um ser instintivo e mesmo
inconscientemente busca a companhia dos pais no desejo de estar em família. No
entanto nem todas as família dão aos seus filhos o carinho e o amor que eles
necessitam, mas, mesmo assim, há a busca de estar em constante integração com
o seu grupo.
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Discorrer sobre a adoção é analisar a importância da inclusão da criança


em um núcleo familiar.
O método a ser utilizado será o comparativo, ou seja, comparar os
benéficos e as mudanças na Lei de adoção. Serão utilizados também, os processos
metodológicos, histórico, bem como pesquisas bibliográficas através de livros,
revistas, artigos.
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1. ADOÇÃO
1.1 Noções Gerais

A função essencial da descendência é assegurar a continuidade. O


casamento, segundo os critérios religiosos é para em primeiro lugar, mesmo antes
do amor entre os cônjuges e sem dúvida para a continuação da prole, quando
determinam, segundo os mandamentos bíblicos, crescei e multiplicai. Os filhos
representam a continuidade dos pais e a adoção consiste na criação de um
parentesco civil equivalente ao de filho legitimo e que resguarde entre outros, todos
os direitos e a continuidade das gerações.
A evolução histórica que, nos primórdios, a adoção se voltava para a
proteção da pessoa do adotante. Com a evolução histórica, as codificações, as
normas, o interesse deslocou-se, para o adotado.
A segunda guerra trouxe o problema da criança sem família, nascendo à
preocupação com a criança privada de seus pais, logo depois a adoção passou a
ser vista como forma de integrar a criança à família.
A adoção, não é seja ela nacional ou internacional, solução para os
problemas que afligem a nossa infância e juventude, mas, sem sombra de dúvida, é
em determinadas situações a excepcional e única medida que remanesce, para que
uma criança ou adolescente possam ter assegurados, de forma efetiva, os direitos
que lhe são constitucionalmente atribuídos de forma prioritária.
A adoção Internacional ganha mais e mais importância, acompanhando o
fenômeno da Globalização. Devido ao desenvolvimento tecnológico e a
competitividade no trabalho entre homem e a mulher, principalmente nos países
desenvolvidos, onde a cada dia o número de filhos diminui, nesse aspecto surge
então à procura por crianças de países subdesenvolvidos, tais como: África, Brasil,
Etiópia, e outros. Por esse motivo a adoção internacional surgiu da necessidade da
continuação da prole de famílias que optaram pelo trabalho, em detrimento dos
filhos legítimos.
Devido ao grande número de raptos de crianças pobres do Brasil, levadas
para servirem de cobaias ou servirem como doadoras de órgãos em outros Países,
paralelamente começam a surgir fraudes e tráficos de crianças, obrigando a
legislação atual a prever certas limitações e intervenções das Autoridades Públicas,
com o intuito de preservar a vida e a integridade desses brasileiros marginalizados.
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Não há consenso ou unanimidade entre os autores, na definição de


adoção. A maioria dos autores busca um vinculo especial de parentesco, chamando-
o de civil, para distingui-lo do natural.
Emilio Pacifici-Mazonni conceitua a adoção como “ato jurídico que cria
entre duas pessoas relações de paternidade e maternidade e de filiação”. Caio
Mário, leciona que a adoção “é o ato jurídico pelo qual uma pessoa recebe outro
como filho, independente de existir entre elas qualquer relação de parentesco
consangüíneo ou afins”.
No Direito positivo convivem duas espécies de adoção: a estatutária e a
civil. A primeira destina-se ao menor de dezoito anos, enquanto a segunda, prevista
no Código Civil, destina-se a todos que sejam maiores de dezoito anos.
A colocação em família substituta deve levar em conta sempre que
possível à opinião da criança ou adolescente, sobretudo para a aferição da “relação
de afetividade e afinidade”.
Além disso, a adoção não é ato derivado exclusivamente da vontade dos
envolvidos diretamente, apenas as crianças recém nascidas e aquelas de
pouquíssima idade não são ouvidas no processo de adoção, aquelas a partir dos
doze anos de idade, na adolescência, são necessariamente interrogadas pelo
magistrado, antes de prolatar a sentença definitiva da adoção.
O Processo de Adoção Internacional, por envolverem pessoas residentes
em Estados diferentes e com legislações diversas, teve a necessidade de dar uma
maior proteção ao adotado, levou também à realização de acordos internacionais na
busca da melhor solução para a realidade das diversas crianças que buscam um lar.
Visando uma maior segurança, tanto para as crianças e adolescentes que
buscam uma família, como para as pessoas que esperam serem autorizadas a
adotar, são firmadas, em diversos países. Convenções para assegurarem Direitos e
inibir as Adoções Internacionais fraudulentas, o tráfico e a venda de crianças.
Devido aos cuidados com o tráfico, a venda e outras ilegalidades, no
Brasil ainda prevalece à idéia de que o processo de Adoção é extremamente
burocratizado o que favorece as Adoções à brasileira, tal como conhecida
mundialmente. Portanto o Estado tem o dever de cuidar das crianças e dos
adolescentes, coisa que não ocorre no Brasil e nos países subdesenvolvidos.
Por esse motivo, diversas crianças e adolescentes são procurados por
marginais para desenvolver um trabalho ilícito e que inclua no jovem a vocação para
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a criminalidade. Nesse contexto, seria um avanço o Brasil e os países de terceiro


mundo, facilitar à adoção, uma vez que as crianças que hoje vivem sobre a proteção
dos bandidos, passariam a integrar uma família substituta com potencial para
transformar esse indigente em um cidadão integro e com um futuro promissor.
O interessante seria que através de programas preventivos as crianças
continuem em suas famílias de origem, que se ampliem os programas de apoio à
família natural, no entanto não sendo possível deve-se tornar público que o
procedimento da Adoção é simples, tanto para brasileiros como para estrangeiros,
desde que estes últimos aguardem a possibilidade de integração da criança em um
lar nacional.
Observamos hoje, que a maioria das crianças e jovens abandonados por
seus pais, surge do fato de eles próprios, os genitores daquele individuo ser desde
sua infância, um desamparado pela sociedade e pelo Estado, com isso, jogam sua
prole na marginalidade para que, crescendo infiltrados no meio do crime, possam
lograr sucesso financeiro e poder entre os comandantes daquela comunidade, nem
que para isso possam pagar o preço de suas vidas, que convenhamos, para eles é
de pouca monta.

1.2 Evolução Histórica


1.2.1 Adoção na Antiguidade

A adoção não é recente, desde a antiguidade já se encontram registros


da sua prática, era utilizada para perpetuar o culto doméstico e garantir maior
número de oferendas aos deuses da época. Pouco mais se sabe além do fato de ter
existido como transferência ou extensão da qualidade de pai.
Segundo Capelo de Souza:
O pai e a mãe, de mútuo consentimento, podiam dar o seu filho a uma
terceira pessoa, que fosse da mesma classe que o filho e lhe mostrasse
afeto, exigindo-se para tal um ritual próprio, que consistia em os pais
fazerem uma libação de água. (L. IX, n. 168)

O Código de Manu já dispunha que, aquele a quem a natureza não deu


filhos, pode adotar um para que as cerimônias fúnebres não cessem.
Os textos bíblicos relatam exemplos de adoção: Ester foi filha adotiva de
Mardoqueu; Jacó teria adotado Efraim e Manasses que eram filhos do seu filho
José.
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O caso mais falado de adoção no Egito foi o de Moisés, adotado pela filha
do faraó.
Os Gregos permitiam a adoção tanto de homens como de mulheres, no
entanto só os homens poderiam adotar e somente os cidadãos poderiam adotar e
serem adotados.
Em Roma embora a adoção fosse bastante difundida e também se
baseava n culto doméstico, embora servisse também para deslocar mão de obra de
uma família para outra.
No tempo de Justiniano, a adoção foi encarada também não só como
fator possível de aumentar o poder de uma família, mas, como forma de dar filho a
quem não os tivesse.

1.2.2 Adoção na Idade Média

Durante a Idade Média, a adoção é, em geral, desconhecida nos direitos


costumeiros da Europa ocidental. As estruturas da família medieval, fundada nos
laços de sangue no seio da linhagem, opunham-se a introdução de um estranho
nela.
Nesse período histórico, registram os autores que a adoção caiu em
desuso até que desapareceu, só ressurgindo com o Código de Napoleão, já na
idade moderna.

1.2.2.1 Adoção na Idade Moderna

Para Walter Moraes: “a Revolução Francesa, através das reformas das


instituições sociais, propiciou o ressurgimento da adoção, cujo regime veio a
consolidar-se no Código Civil”.
Liborne Siqueira, afirma que: “a Revolução Francesa, embora ditasse as
regras dos princípios humanistas e voltasse sua atenção para a criança, descuidou-
se, contudo de projetar uma regulamentação adequada para o processo adotivo”.
Os autores afirmam que a partir do Código de Napoleão, a adoção
ingressou nas Legislações Modernas. Tal código transformou o mundo, passando
então a outra era de desenvolvimento, trabalho e de distribuição de rendas.
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Em virtude da Primeira Guerra Mundial, a adoção passou a preocupar os


legisladores, visando amparar os órfãos da Guerra. Deu-se-lhe nova feição de cunho
caritativo, uma vez que diversas famílias foram dizimadas e este processo de
amparar seus naturais, de buscar no outro um dos seus, tornou-se assim uma
inclusão voluntária, de amor ao próximo e de amparo aquele que poderia ser um dos
seus, buscando no outro aquele eu ente querido desaparecido com os terrores pelas
guerras.
Logo depois a adoção se insere no movimento geral de proteção à
infância, sobretudo abandonada, denotando preocupação social. O caráter da
adoção se altera profundamente, pois passa a ser efetivada no interesse do
adotado, mas não se pode negar, também, certo sentido de atender as pessoas que
procuram a paternidade, pela via da adoção. Buscando conquistar através do Direito
o que lhes foi negado pela natureza. Neste contexto, a adoção é um ato que
entrelaça se completa muitas vezes ela não protege apenas uma, mais duas partes,
tanto a adotante quando o adotado.

1.2.2.2 Adoção no Direito Brasileiro

A adoção no Brasil foi trazida pelos primeiros colonizadores, uma herança


patriarcal portuguesa que possibilitava aos órfãos e às crianças abandonadas um
teto, no entanto, em posição inferior aos filhos legítimos. Os chamados filhos de
criação se imbuíam muitas vezes de características típicas de serviçais e essa
situação, infelizmente, ainda hoje pode ser observada no Brasil.
No Código Civil de 1.916 a situação do filho de criação foi disciplinada,
uma vez que se definiu claramente a diferença entre filho natural e adotivo,
especialmente no que se refere à herança.
O autor do projeto, Clóvis Bevilácqua conceitua a adoção como “ato civil
pelo qual alguém aceita um estranho na qualidade de filho”. Não era um modo
normal de constituir família, mas um meio supletivo de ter filhos.
Ao aceitar um estranho na qualidade de filho, pode ocorrer por diversas
circunstancias entre elas, quando um casal não consegue gerar filhos por causa
inerente a esterilidade de algum dos nubentes. Ocorre também, quando por ser o
casal, nem gesto de caridade, adota principalmente, algumas ou algumas crianças
desprezadas por suas famílias.
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Em 1957 surge o Estatuto da adoção que vem tratar do assunto com mais
profundidade, este com o tempo, foi também sendo modificado, eliminou-se a
determinação de que somente casais sem filhos poderiam adotar, também se
dispensou o prazo de cinco anos de casamento, além de criar uma equiparação
entre filho adotivo e natural no que tange a herança.
Foi com a efetivação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990
que as mudanças realmente se disseram efetiva, a partir dele desapareceram todas
as diferenças entre filhos adotivos e filhos biológicos, além de dizer claramente que
a adoção deve priorizar o interesse, as necessidades e os Direitos da criança e do
adolescente.
Segundo o Código Civil atual, existe apenas uma figura, a adoção
irrestrita; inclusive sendo possível constituí-la apenas em processo judicial (e não
mais por escritura pública, como antes previa o Código Civil de 1916), seja qual for à
idade do adotando.
O legislador procurou seguir o preceito constitucional de 1988 e
incorporar o adotado à família do adotante, como seu filho natural. Este contexto
acabou com algumas injustiças encontradas no Código Civil de 1916, que não
outorgava reciprocidade sucessória entre adotante e adotado.
Qualquer pessoa pode adotar, bastando que pelo menos um seja maior
de 18 anos (idade mínima para ser adotante), e haja diferença de 16 anos em
relação ao adotado. O tutor ou curador também pode adotar o pupilo ou o
curatelado, desde que tenha prestado contas de sua administração e saldado
eventual débito pendente.
De outro lado, qualquer pessoa pode ser adotada, exigindo-se
previamente o consentimento dos pais ou dos representantes legais, de quem se
deseja adotar, e da concordância deste, se contar mais de doze anos. A lei dispensa
o consentimento dos pais em relação à criança ou o adolescente, quando forem os
pais desconhecidos, desaparecidos ou tenham eles sido destituídos do poder
familiar sem que haja nomeação de tutor, ou ainda, quando comprovadamente
tratar-se de órfão que há mais de um ano não tenha sido procurado por qualquer
parente.
O consentimento é revogável, podendo arrepender-se quem o prestou,
desde que o faça até a publicação da sentença constitutiva da adoção.
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Com isso, a adoção atribuirá à situação de filho como se naturalmente o


fosse, desligando-se o adotado de qualquer vínculo com os pais e parentes
consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento, que preservam
até mesmo por razões genéticas e biológicas. O parentesco não é apenas entre
adotante e adotado, mas também entre aqueles e os descendentes deste e entre o
adotado e todos os parentes do adotante.

1.2.2.3 Adoção, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente

Com as mudanças que se processam, tornou-se claro o conhecimento de


que adoção se faz, através de requerimento judicial.
É decisiva a divulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente nos
seus diversos aspectos uma vez que é segundo os termos desta lei é que se
proceda à adoção.
Quem quiser adotar terá que comprovar sua efetiva disposição, tanto
quanto as capacidades físicas, sociais, psíquicas e econômicas. Uma equipe
interdisciplinar entra em ação e só mediante o resultado das diversas diligências que
procede finalizando com um relatório é que virá o juízo do Ministério Público e
finalmente o deferimento mediante sentença que uma vez passada em julgado torna
a adoção irreversível.
O Estatuto Brasileiro adotou medidas para a proteção integral da criança
e do adolescente, esta considerada criança a pessoa de zero a doze anos e
adolescente, de doze a dezoito anos de idade.
A medida de proteção à criança e o adolescente surge exatamente
quando forem ameaçados ou violados direitos a eles afetos, assegurados na
Constituição Federal e reconhecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente.
A colocação em família substituta é medida excepcional, utilizada
somente quando se mostrarem comprovadas as impossibilidades de manutenção
em família natural. Os motivos que podem tornar impossível conviver com a família
natural são muitos, no entanto, o Estatuto é bem claro quando diz que a falta de
recursos financeiros não caracteriza motivo suficiente para a destituição do Poder
Familiar.
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O Estado tem o dever de corroborar com os cuidados inerentes a criança


e o adolescente, segundo preceitua a Constituição Federal de 1988. Nesse caso, o
Juiz determina a inclusão dessa família carente no programa de cestas básicas e
outros benefícios tais como moradia, em casas populares, creches, para crianças de
zero a seis anos de idade.
No Brasil o Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece que a
adoção é apenas uma das formas de colocar uma criança em família substituta, mas
deixa bem claro que isto só se dará mediante as normas do próprio estatuto.
O vínculo da adoção no Brasil se dá por sentença proferida por um juíza
da Vara da Infância e da Juventude, justiça especializada que tem competência para
conhecer dos pedidos de adoção, conforme estabelece a Lei n.º 8.069/90.
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2. REGIME JURÍDICO DA ADOÇÃO NA LEI 12.010/90


2.1 Natureza jurídica

Embora o ECA, já previsse, em termos de direito material, extensamente,


a adoção, ficando a desejar apenas no tocante ao seu procedimento, havia por parte
do legislador, grande interesse no assunto.
As discussões dos legisladores sobre esse projeto de lei mudaram
totalmente a perspectiva de uma nova lei da adoção, resumindo-se, portanto, a
nossa lei da adoção em simples alterações do Estatuto da Criança e do
Adolescente.
O texto se baseia em três pilares; prevenir, o afastamento do convívio
familiar e comunitário desburocratizar o processo de adoção e evitar o
prolongamento de sua permanência em abrigos.
Com efeito, estabelece o artigo 1º dessa lei:

Esta lei dispõe sobre o aperfeiçoamento da sistemática prevista para


garantia do direito a convivência familiar a todas as crianças e adolescentes,
na forma prevista pela Lei 8.069, de 13 -07- 1990, Estatuto da Criança e do
Adolescente.
§1º A intervenção estatal, em observância ao disposto no caput do artigo
226 da Constituição Federal, será prioritariamente voltada à orientação,
apoio e promoção social da família natural, junto à qual a criança e o
adolescente devem permanecer ressalvados absoluta impossibilidade,
demonstrada por decisão judicial fundamentada.
§2º Na impossibilidade de permanência na família natural, a criança e o
adolescente serão colocados sob adoção, tutela ou guarda, observada as
regras e princípios contidos na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, e na
Constituição Federal.

Diz o artigo 2º . A lei 8.069, de 13.07.1990, Estatuto da Criança e do


Adolescente, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 3º A expressão “pátrio poder” contida nos artigos 21, 23, 24, no
parágrafo único do artigo 36, no §1º do artigo 45, no artigo 49, no inciso X,
do caput do artigo 129, nas alíneas “b” e “d” do parágrafo único do artigo
148, nos artigos 155, 157, 163, 166, 169, todos da Lei 8.069, de 13.07.1990,
bem como na Seção II do Capítulo III do Título VI da Parte Especial do
mesmo Diploma Legal, fica substituída pela expressão “poder familiar”.

O objetivo do Estatuto é a proteção integral da criança e do adolescente,


conforme declara em seu artigo primeiro, sendo inovação marcante a colocação sob
a égide dessa lei de todo menor de dezoito anos e não apenas aqueles que
estivessem em situação irregular, como ocorria na lei anterior ao código de menores.
20

Ainda que o menor não esteja em situação de abandono e que a mãe ou


os pais expressem desejo de entregá-lo para adoção a uma pessoa determinada ou
a um casal escolhido, será indispensável a sentença judicial para que a adoção seja
efetivada. Antes de entrar em vigor o Estatuto, esses casos se resolviam através da
escritura pública, uma vez que regidos pelas normas o Código Civil.
A lei nova introduziu o §1º a esse artigo:

A adoção é medida excepcional e irrevogável, a qual se deve recorrer


apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou
adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do
art. 25 desta lei.

Ao enfatizar essa disposição legal a excepcionalidade da medida e a


obrigatoriedade de se esgotarem todos os recursos para se manter o adotado na
família natural, dando a este, ainda, uma extensão maior.
Artigo 25, parágrafo único:

Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para


além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes
próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos
de afinidade e de afetividade.

Demonstra o legislador a preocupação em priorizar sempre a família


natural, deixando a adoção em segundo plano; considerando a medida excepcional.
O parágrafo §2º (anteriormente parágrafo único do artigo 39) veda a
adoção por procuração. Bem andou o legislador em impedir a adoção por
procuração, por interposta pessoa, “ao vedar a adoção por procuração, a lei traz à
frente do juiz todos os interessados na adoção até mesmo para julgador aferir com
mais convicção as vantagens ou desvantagens de uma filiação irrevogável.”

2.2 Requisitos Gerais para a Adoção


2.2.1 Requisitos relativos ao adotando

O adotando deve contar, no máximo, dezoito anos, ao se requerer a sua


adoção. É que dispõe o artigo 40 do Estatuto.
Assim, se o pedido for feito no dia imediato após completar o adotando
dezoito anos de idade, não mais poderá seguir as regras do ECA, mas, sim as do
Código Civil.
21

Excepcionalmente a segunda parte desse artigo, ao dispor que o pedido


pode ser feito depois dessa idade, se o adotando já estiver sob a tutela dos
adotantes.
Para atingir o fim colimado pela lei, parece-nos que a guarda ou tutela deve
ter sido iniciada antes dos dezoito anos porque se, depois não sendo a
idade abrangida pelo novo sistema valer-se do abrandamento seria um
mero artifício para burlar a proibição legal ou o escopo da regra.

Embora não estabeleça esse dispositivo legal um limite de idade para o


pedido de adoção, uma vez já estando o adotando sob a guarda ou tutela do
adotante, é indubitável que esse pedido deveria ser feito antes de o adotando
completar vinte e um anos.
De fato, ao dispor o parágrafo único do artigo 2º do Estatuto que este, só
excepcionalmente e nos casos previstos em lei, se aplica as pessoas entre dezoito e
vinte e um anos de idade deixam claro que depois dessa idade, não mais pode ser
requerido com base na lei.
Hoje, aquele que tiver dezoito anos ou mais, só poderá ser adotado com
base no Código Civil e não, com base no Estatuto.
E como se o artigo 40 tivesse ficado com a seguinte redação: “o adotando
deve contar com menos de dezoito anos, à data da adoção.”
A adoção do maior de dezoito anos, atualmente, está em uma espécie de
vicio, criado pela Lei n.º 12.010/09.
De fato, o artigo 8º dessa lei, revogou expressamente os artigos 1.620 a
1.629 do Código Civil, que cuidavam da adoção e deu nova redação aos dois únicos
artigos que sobraram no capítulo da adoção. Hoje, no artigo 1.618 assim se lê:

A adoção de crianças e adolescentes será deferida na forma prevista pela


lei n.º 8.069, de 13.07.1990-Estatuto da Criança e do Adolescente.
Art. 1.619. A adoção de maiores de 18 (dezoito) anos dependerá de
assistência efetiva do poder público e de sentença constitutiva aplicando-se,
no que couberem, as regras gerais da Lei 8.069, de 13.07.1990- Estatuto da
Criança e do Adolescente.

Conforme Eunice Ferreira Rodrigues Granato em seu livro Adoção


Doutrina e Prática:

Vê-se a confusão do legislador: A adoção do maior é tratada pelo Estatuto da


Criança e do Adolescente que, segundo afirma o seu artigo primeiro, ‘...
Dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente’, mas não é só.
Aplicam-se aos maiores as disposições do ECA, ‘no que couber’. Quais serão
essas normas aplicáveis à adoção de maiores?
22

2.2 Consentimento do adotando

Nos termos do artigo 45, §2º do ECA, é necessário o consentimento do


adotando maior de 12 (doze) anos, para que a adoção se concretize.
É razoável que se procure obter a decisão da vontade do adolescente ao
integrá-lo em uma nova família, já que seria muito difícil sua convivência ali, se não
estivesse ele satisfeito com a nova situação.
No entanto, comentadores do ECA, chamam a atenção para o fato do
consentimento não ser condição absolutamente necessária, como conceitua Kauss:

Entretanto, esse consentimento deve ter um valor relativo na apreciação a


ser feita pelo juiz na sentença.
A sua concordância ou discordância, por si só, não deve representar o
deferimento ou indeferimento da adoção.
O §2º do artigo 45 não pode ter uma interpretação divorciada daquela que
se deve dar ao artigo 43 que representa o ideal do sistema.
Portanto, a concordância ou discordância do menor deve ser confrontada
com as vantagens ou desvantagens para si, da adoção.
Pode concordar e adoção merece indeferida e, ao contrário, pode discordar,
e ser ela deferida.
Não se pode esquecer a cautela com que sempre se houve a justiça, nas
causas de família, com relação a depoimento de menores, nem se deve
considerá-los isoladamente, mas em conjunto com as outras provas ou
elementos formadores de convicção.
A adoção moderna é sempre conferida de acordo com os altos interesses
dos menores, que eles nem sempre sabem aquilatar.

2.3 Consentimento dos pais ou do responsável legal.

A adoção corta quaisquer laços do adotando com a família consanguínea,


salvo os impedimentos matrimoniais, os pais ou representante legal da criança ou do
adolescente devem manifestar o consentimento para tão importante ato, nos termos
do artigo 45 do ECA.
O artigo 21 do ECA estabelece que:

O pátrio poder será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela


mãe, na forma que dispuser a lei cível, assegurado a qualquer deles o
direito de um caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária
competente para a solução da divergência.

O novo Código Civil que substitui a expressão “pátrio poder” por “poder
familiar” dispõe no artigo 1.631: “Durante o casamento e a união estável, compete o
23

poder familiar aos pais. Na falta ou impedimento de um deles, o outro exercerá com
exclusividade”.
O Código Civil no artigo 1.634, determina quais são as atribuições dos
pais:
Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:
I – Dirigir-lhes a criação e educação;
II – Tê-los em sua companhia e guarda;
III – Conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem;
IV – Nomear-lhes tutor, por testamento ou documento autêntico, se o outro
dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder
familiar;
V – Representá-los, até 16 anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após
essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento;
VI – Reclamar-los de quem ilegalmente os detenha;
VII – Exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de
sua idade e condição.

No artigo 24, do ECA temos:

A perda e a suspensão do pátrio poder, serão decretadas, judicialmente, em


procedimento, contraditório, nos casos previstos na legislação civil bem
como nas hipóteses de descumprimento injustificado dos deveres e
obrigações a que alude o artigo 22.

O processo para perda ou suspensão do poder familiar, está previsto nos


artigos 155 a 163 do Estatuto e será objeto de mais acurado exame no momento
próprio.
O Código Civil prevê no artigo 1.637, que os pais podem ter suspenso o
poder familiar, se abusando de sua autoridade, faltarem aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos. Essa suspensão, pelo parágrafo único
do artigo, também ocorre quando há condenação por crime de um deles, a pena
superior a dois anos, de prisão.
O caso mais grave, de perda do poder familiar, se dá como posto no
artigo 1.638, pelo Código, imoderado ao filho, o seu abandono, a prática de atos
contrários à moral e aos bons costumes ou a reiteração das práticas do artigo 1.637.

2.4 Requisitos Relativos ao Adotante


2.4.1 Idade do adotante

De acordo com a Lei 12.010/09 em seu artigo 42: “Podem adorar os


maiores de 18 (dezoito) anos, independemente do estado civil, diminuindo assim a
idade do adotante de vinte e um anos para dezoito anos”.
24

Como o artigo 42 estabelece, presentemente, que só os maiores de 18


anos podem adotar, desapareceu a primitiva redação do § 2º, não se permite mais
que um dos cônjuges ou companheiro tenha menos de dezoito anos.

2.4.2 Diferença de idade entre adotante e adotado

Nos termo do §3º do artigo 42, o adotante há de ser, pelo menos


dezesseis anos mais velho que o adotando.
Clóvis Beviloqua afirma: “tratar-se de uma diferença de idade suficiente
para da ao pai ou a mãe adotiva a distância que infunde respeito e pressupões
maior experiência e põe cada um em seu lugar próprio: o pai para velar e dirigir, filho
para venerar e confiar”.

2.4.3 Cadastramento

Embora o ECA já indicasse a obrigatoriedade de um cadastramento de


interessados em adotar e outro, de adotáveis em cada comarca ou foro regional, a
nova lei da adoção veio tornar indispensável à inscrição dos pretendentes à adoção
nesse cadastro, excepcionando apenas os casos do artigo 50,§13.
Assim, um dos requisitos exigidos para os adotantes, é o seu
cadastramento.

Art. 50, §13 Somente poderá ser deferida a adoção em favor de candidato
domiciliado no Brasil não cadastrado previamente nos termos desta lei
quando:
I – Se tratar de pedido de adoção unilateral;
II – For formulada por parente com o qual a criança ou adolescente
mantenha vínculos de afinidade e afetividade;
III – Oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal da criança
maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de
convivência comprove a fixação de laces de afinidade e afetividade, e não
seja constatada a ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas
nos artigos 237 ou 238 desta lei.

Para dar cumprimento ao § 5º do artigo 50 que determina a criação de um


cadastro nacional de pessoas interessadas na adoção e de crianças e adolescentes
aptos a serem adotados, o Conselho Nacional de Justiça baixou a Resolução 54/08,
criando o Cadastro Nacional de Adoção, sob a forma do Banco Nacional de Adoção.
25

Dente os considerados que elucidaram a resolução, ficou bem claro que


uma das finalidades ao cadastro nacional é permitir o cumprimento do artigo 31, do
ECA que determina que, antes de se dar o adotando à internacional, é necessário
saber-se não há qualquer interessado em sua adoção, domiciliado no Brasil.
Revelando dar uma importância imensa ao cadastro, houve por bem a
nova Lei 12.010/90 estabelecer todo um procedimento, tão complexo como uma
ação judicial, para ao fim e ao cabo, considerar o interessado apto a adotar, o que
não significa, porém, que não deverá deixar ele de comprovar, por ocasião da
adoção, tudo o que já foi comprovado na sua inscrição no cadastro.
Foi criada a seção VIII para tratar de Apuração de Infração Administrativa
às Normas de Proteção à Criança e ao Adolescente.

2.4.4 Proibição de adoção por parentes próximos

O § 1º do artigo 42 do ECA ao proibir a adoção por ascendentes e irmãos


do menor de dezoito anos, põe fim a uma disputa, que com uma certa freqüência,
desaguava na justiça.
Antonio Chaves discorre sobre o tema: “Tão incongruente como a adoção
do filho legitimo ou do reconhecido, é a adoção do neto, do bisneto ou do irmão do
adotante por este”.
A proibição de adoção de netos pelos avós, se refere aos menores de
dezoito anos, uma vez que o Código Civil não faz referência a essa vedação. Tal
afirmação, porém não prevalece após a Lei 12.010/09, que manda aplicar as regras
do ECA na adoção do Código Civil.

2.5 Outros aspectos da adoção no Estatuto


2.5.1 Adoção Unilateral

Esta é uma inovação introduzida pelo ECA: nos termos do artigo 41, § 1º,
um dos cônjuges ou um dos concubinos pode adotar o filho do outro, sendo que os
vínculos de filiação do cônjuge ou do concubino com o seu filho biológicos ficam
mantidos. Além do mais, não perde familiar.
A lei vem ao encontro da realidade, pois inúmeros eram os casos que se
apresentavam em nossos pretórios, com solicitação neste sentido.
26

O legislador teve como objetivo permitir que a criança registrada apenas


em nome da mãe, passasse a ter também um pai. Todavia, ao não especificar essa
intenção, alargou demais a possibilidade da adoção, permitindo que uma mulher
divorciada e com filhos dê em adoção ao marido do novo casamento os filhos do
primeiro casamento. Certamente, para isso, precisaria do consentimento do pai
daquelas crianças ou adolescentes, o que provavelmente, não obteria com
facilidade. Mas, e no caso de viúva com filhos? Perderia o falecido a sua
descendência sem que ninguém pudesse interceder por ele?

2.5.2 Adoção por Concubinos (Agora chamados Companheiros)

O artigo 42, §2º, do ECA dispunha: “a adoção por ambos os cônjuges ou


concubinos poderá ser formalizada, desde que um deles tenha completado vinte um
anos de idade, comprovada a estabilidade familiar”.
A nova redação que lhe deu a Lei 12.010/09 (Para adoção conjunta é
indispensável que os adotante sejam casados civilmente ou mantenha união estável,
comprovada a estabilidade da família) é resultado de grandes discussões que se
travaram no Congresso, entre aqueles que desejavam que a lei permitisse a adoção
por “casais” homossexuais e os que a isso se opunham.
No momento, pela redação vencedora, está vedada aquela adoção.
Todavia, se, no futuro, os homossexuais vierem a obter o direito de se casar, como
já acontece em alguns países, a letra da lei os atenderá, não precisando ser
modificada.
Constitui também uma inovação profunda do Estatuto, conseqüência
direta do artigo 226, § 3º, da Constituição de 1988 que reconhece como entidade
familiar a união estável do homem e da mulher.
Pelo artigo 370 do Código Civil de antes da entrada em vigor do ECA, não
se admitia que alguém pudesse ser adotado por duas pessoas, salvo se fossem
marido e mulher.
Com a modificação da realidade social e aceitação dos casais que vivem
em união estável, igualmente com referência à adoção houve mudança de posição
do legislador, admitindo que esses casais possam adotar crianças ou adolescentes.
27

Não há como se negar o direito de adotar crianças ou adolescentes a


pessoas que vivam em união estável digna e cercada de respeito pelo meio social
em que vivem.

2.5.3 Adoção por Divorciados ou judicialmente separados

O Estatuto da Criança e do Adolescente, no § 4º do artigo 42, com a nova


redação da Lei 2.010, estabelece:

Os divorciados, os judicialmente separados e os companheiros, podem


adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o regime de
visitas, e desde que o estagio de convivência tenha sido indiciado na
constância do período de convivência e que seja comprovada a existência
de vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da guarda,
que justifique a excepcionalidade da concessão.

Também a Lei 6.697/79 (Cód. Menores), no artigo 34, conferia aos


cônjuges separados judicialmente a possibilidade de requererem a adoção plena,
desde que o estágio de convivência tivesse se iniciado na constância da sociedade
conjugal, sendo também indispensável o acordo sobre a guarda do menor, após a
separação.
Da mesma forma dispunha, no artigo 4º, a Lei 4.655/65, referindo-se aos
cônjuges desquitados. O artigo 42, § 5º dispõe: “Nos casos do § 4º deste artigo,
desde que demonstrado efetivo beneficio ao adotando, será assegurada aguarda
compartilhada, conforme previsto no artigo 1.584 da Lei 10.406, de 10.01.2002,
Código Civil”

2.5.4 Adoção Póstuma

Dispõe o §6º do artigo 42 do Estatuto: “A adoção poderá ser deferida ao


adotante que, após inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do
procedimento, antes de prolatada a sentença”.
Essa disposição legal demonstra respeito pelo sentimento humano,
supondo que uma pessoa decidiu adotar uma criança, encontrou-a, levou-a para seu
lar, iniciando o processo e o estágio de convivência e, por uma fatalidade, é colhida
pela morte. Com o processo de adoção já em curso, é justo que o desejo do falecido
possa ser realizado, legalmente, post mortem.
28

Os efeitos da adoção, neste caso, retroagem à data do óbito, coincidindo


com a abertura da sucessão, nos termos do artigo 47, § 7º, do Estatuto: “A adoção
produz seus efeitos a partir do transito em julgado da sentença constitutiva, exceto
na hipótese prevista no §6º do artigo 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa
à data do óbito”.
29

3. EFEITOS DA ADOÇÃO
3.1 A Constituição do Vínculo de Filiação

O principal efeito da sentença que confere a adoção é o desligamento do


vínculo de parentesco do adotando com a sua família biológica, e ao mesmo tempo,
a constituição de novo vínculo de filiação com os pais adotivos e de parentesco com
a sua família.
É o que estabelece o artigo 41 do Estatuto: “A adoção atribui a condição
de filho, inclusive sucessórios desligando-o de qualquer vínculo com os pais e
parentes, salvo os impedimentos matrimoniais”.
Nem mesmo a morte dos adotantes permite o restabelecimento do poder
familiar dos pais biológicos, nem retorna o vinculo do parentesco anterior, como
decorre o artigo 49 do Estatuto.
O dispositivo constitucional do §6º do artigo 227, repetido pelo artigo 20
do Estatuto, que equiparou a filiação decorrente da adoção, à natural, mas
estabelecendo impedimentos somente em relação ao matrimônio.
Estes impedimentos são aqueles, chamados de absolutamente dirimentes
do artigo 1.521, incisos I, III, IV e V, do Código Civil, que tornam o casamento nulo.
Não pode se casar, portanto, o filho adotivo com os seus ascendentes de sangue,
nem com os afins em linha reta, seja o vinculo legitimo ou ilegítimo e os irmãos
legítimos ou ilegítimo, germanos ou não e os colaterais, legítimos ou ilegítimos, até
terceiro grau.

3.2.1 Parentesco com a família do adotante

Os laços de sangue do adotado com sua família de origem são


definitivamente rompidos, a partir da decisão judicial que constituiu a adoção.
Há porém, uma exceção, que é aquela relativa à adoção unilateral,
quando um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do outro, são mantidos os
vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou concubino do adotante e os laços
de parentesco com os parentes biológicos (artigo 41,§1º do ECA). Ocorre então
dupla relação de parentesco: a antiga, através da mãe ou pai natural, e a nova,
através do adotante.
30

Manifesta-se, aqui a força do § 6º do artigo 227 da Constituição em


relação à filiação, para que nenhuma discriminação sofra o filho adotivo.
O parentesco do adotando com a família do adotante tem a mesma
abrangência, como se fosse gerado biologicamente pelos pais adotivos. Por esse
motivo também, os nomes dos avós maternos e paternos são inscritos no assento
de nascimento do adotivo.
O texto do artigo 48 reconhece o direito do adotado conhecer sua origem
biológica, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul já adotava tal postura,
conferindo ao filho adotivo a legitimidade para ingressas com a ação de investigação
de paternidade, na medida em que:

Os deveres erigidos em garantia constitucional à criança e ao adolescente,


na Carta de 1988, em seu artigo 227, se sobrepõem às regras formais de
qualquer natureza e não pode ser relegada a um plano secundário, apenas
por amor a suposta intangibilidade do instituto da adoção. Opor à justa
pretensão do menor adotado, em ver reconhecida a paternidade biológica,
com os que entenderem que alguém, registrado em nome de um casal, seja
impedido de investigar sua verdadeira paternidade, porque a filiação é tanto
ou mais irrevogável do que a adoção. No entanto, a todo o momento,
deparamos com pessoas registradas como filhos de terceiros, que obtêm o
reconhecimento da verdadeira paternidade e têm, por conseqüência, a
anulado o registro anterior.

3.2.2 Efeitos Patrimoniais

Como mandamento constitucional do § 6º do artigo 227 e mais o artigo 20


do Estatuto que o repete, não deixa duvidas sobre a aquisição do direito do adotado
em suceder ao adotante.
A integração do filho adotivo na nova família é completa, com todos os
direitos e deveres, inclusive os sucessórios.
O artigo 41, § 2ª do Estatuto dispõe que: “É recíproco o direito sucessório
entre o adotando, seus descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes
e colaterais até o 4º graus, observada a ordem de vocação hereditária”.
Ocorrendo a hipótese prevista no § 1º do artigo 41 do Estatuto, a
chamada “adoção unilateral”, onde um dos cônjuges ou concubino adota o filho do
outro, permanecendo os vínculos de filiação entre o adotando e o cônjuge ou
concubino do adotante e seus parentes, o adotando será chamado à vocação
hereditária de ambas as partes, quando um ou outro falecer. É a hipóteses, por
exemplo, de uma mulher que teve um filho, é mãe solteira e se casa ou vive em
31

concubinato com um homem, que resolve adotar essa criança. O adotado mantém
os vínculos de filiação com a sua mãe biológica e o parentesco com a família de sua
genitora, ao mesmo tempo esta vinculado ao adotante e seus parentes, pela
adoção.
É de se notar a disparidade de tratamento entre adoção do antigo Código
Civil e a do Estatuto, no tocante à herança, sendo que, se, naquele, há largo debate
a respeito, neste, como filho legitimo que é considerado o adotando, discussão
alguma pode haver.

3.2.3 Obrigação alimentar

Como conseqüência da constituição do vínculo paterno-filial, gerado pela


sentença de adoção, surge à obrigação de prestar alimentos. Não havendo distinção
entre filiação biológica e adotiva, por força da regra constitucional, foram ampliados
os feitos do vínculo de descendentes, seus ascendentes e o adotante e seus
ascendentes e descendentes e o adotante até o 4º graus, observada a ordem de
vocação hereditária.
A obrigação de prestar alimentos é recíproca entre adotante e adotado,
no mesmo grau de obrigatoriedade, como se fossem pai e filho biológico.
Assim, o adotado pode pleitear alimentos do pai adotivo, se necessitar,
também pode exigi-los dos membros de sua família adotiva. Da mesma forma, o pai
adotivo pode pedir alimentos ao filho, se o necessitar.
Por alimentos, não se deve entender, apenas a comida, mas tudo que é
indispensável ao sustento, habitação, vestuário, o atendimento médico e no caso do
menor, instrução e educação.
Entretanto, mais valioso que o apoio material, é o respaldo de verdadeiro
amor paterno-filial que deve caracterizar as relações pais e filhos, diante dessa
afirmação dispõe Liberai:

Apesar de o termo “alimentos” referir-se à manutenção biológica, vestuário,


atendimento médico, segurança, transporte, lazer, etc., do adotado, outro
sentido de maior profundidade, pode circundar e completar o seu
significado: de nada adianta o adotante oferecer toda essa satisfação
biológica ao seu filho adotivo se não lhe proporcionar o alimento do respeito,
da solidariedade, da compreensão, da presença, do afago, do carinho, da
honestidade, da retidão, do companheirismo, do amor. Esses são os
alimentos que realmente, sustentam e dão vida às pessoas.
32

3.2.4 Administração e Usufruto dos Bens do adotado

Como conseqüência o adotado se torna filho legitimo dos adotantes,


incumbe a estes administrar e usufruir dos bens daquele, como diz o artigo 1.689,
inciso I e II, do Código Civil:

O pai e a mãe, enquanto, no exercício do poder familiar:


I – são usufrutuários dos bens dos filhos;
II – têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade.

O Professor Ney de Melo Almada relata sobre a matéria:

A percepção do usufruto legal dos bens dos filhos é inerente ao exercício do


pátrio poder, declara o Código Civil, artigo 389. Lendo tal dispositivo, o
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro sustentou que o usufruto um prol do
pai que exerça a guarda do filho. É plausível assim seja, pois a
fundamentação que justifica o embolsametno do usufruto descansa no ônus
do sustento do menor. Em tal hipótese, o cônjuge não guardião ficará
eximido de prestar alimentos ao filho, salvo se o produto do usufruto não
bastar à sua subsistência, quando, então responderá pelo déficit alimentar.
33

CONCLUSÃO

A adoção, hoje é uma realidade, juntamente como enorme, número de


crianças que buscam uma família e o enorme número de pessoas que por algum
motivo desejam adotar.
A adoção deve ser encarada como uma chance para que crianças sejam
incluídas em famílias que desejam verdadeiramente dar a elas um lar saudável e
feliz. Esse deve ser o espírito da adoção, algo generosamente grandioso cujas
precauções devem ser tomadas, mas não se esquecendo de dar a chance a quem
dela necessita.
O processo para a adoção deve ser transparente, claro, tratando todos
com igualdade, sem preconceitos ou dificuldades que só venham a prejudicar as
próprias crianças envolvidas.
É preciso reconhecer e valorizar a evolução do conceito de adoção no
Brasil, os benefícios trazidos com o surgimento do Estatuto da Criança e do
Adolescente e agora com as mudanças com a Lei 12.010/09, que de uma forma
ampla e dinâmica vem fortalecendo e renovando o movimento nacional da Adoção.
Assim conclui-se que idealizando uma sociedade, poderíamos pensar em
um lugar cujas crianças, sem distinção, estivessem no seio de suas famílias, sendo
amadas, educadas, alimentadas, no entanto, olhando à nossa volta, é extremamente
visível que tal realidade se encontra distante. O que vemos são crianças sem
família, sem amor, sem educação e sem esperança.
Assim a Lei 12.010/09 tem como principal objetivo a desburocratização do
processo de adoção e assim proporcionar a milhares de crianças que esperam por
um lar, de forma segura, com respeito às exigências legais e afetivas, o direito a
família.
34

REFERÊNCIAS

ALMADA, Wery de Melo. Direito de Família. São Paulo: Brasiliense. Coleções v.2.
Tribuna da Justiça, 1978.

Código Civil. Senado Federal: Brasília, 2008.

FERREIRA, Ruy Barbosa Marinho. Editora Edijur, 2008.

GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção Doutrina e Prática, com


comentários a nova Lei da Adoção 12.010/09. 2ª Ed. Revista e Ampliada, Editora
Juruá, 2010.

KAUSS, Osmar. Goma Bem. Op. Cit.

LIBERATI, Wilson Donizete. Adoção Internacional. São Paulo: Malheiros, 1995.

MARIO, Kaio. Os Direitos da Criança e do Adolescente. Belo Horizonte: Del Rey,


1994.

MAZZONI, Emilio Pacifici. Adoção Internacional. Belo Horizonte. Del Rey, 1994.

Vade Mecum. Saraiva, Constituição Federal, 3ª Ed. 2010.

Estatuto da Criança e do Adolescente. Senado Federal: Brasília, 2008


Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12010.htm

Tribunal do Rio Grande do Sul, 8ª Câmara Cível. Acórdão. Relator Desembargador


Eliseu Gomes Torres, em 09/11/1995, na JRS 176/766
Fonte: http://mercadantee.com.br/noticias/ultimas/propostainova-conceito-de-familia-
extensa-e-fortalece-a-adoçaolegal

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