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INSPEÇÃO PREDIAL
Arthur Ribeiro Torrecilhas

INSPEÇÃO PREDIAL
1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
© 2020 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
__________________________________________________________________________________________
Torrecilhas, Arthur Ribeiro
T689i Inspeção predial/ Arthur Ribeiro Torrecilhas, –
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
43 p.

ISBN 978-65-5903-079-8

1. Avaliação predial. 2. Inspeção predial. 3. Engenharia


de avaliações. I. Título.

CDD 069.2
____________________________________________________________________________________________
Raquel Torres - CRB: 6/2786

2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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INSPEÇÃO PREDIAL

SUMÁRIO
Metodologia da Inspeção Predial_____________________________________ 05

Elementos estruturais e sistemas de vedação _______________________ 20

Revestimentos e sistemas de impermeabilização____________________ 34

Sistemas hidráulicos, estruturais e elétricos das edificações_________ 52

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Metodologia da Inspeção Predial
Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas
Leitura crítica: Gisele V. de Oliveira Martin

Objetivos
• Apresentar os conceitos sobre as ferramentas da
engenharia diagnóstica prediais.

• Expor os termos e características que auxiliem na


compreensão do estudante quanto às ferramentas
diagnósticas prediais.

• Aprimorar o conhecimento sobre os temas


relacionados às metodologias de inspeção e técnicas
de planejamento.

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1. A engenharia diagnóstica

Nesta disciplina, ´partindo do conhecimento da existência de seis


principais ferramentas da engenharia diagnóstica (Consultoria,
Perícia, Auditoria, Inspeção, Vistoria e Avaliação), vamos esmiuçar
cada peculiaridade dessas ferramentas.

Primeiramente, é necessário entender que a engenharia diagnóstica


é a capacidade de criar ações proativas por meio de diagnósticos,
prognósticos e prescrições técnicas, buscando o melhor
entendimento das manifestações patológicas de uma edificação.

De acordo com Silva (2016), a aplicação da engenharia diagnóstica


é a base cientifica investigativa das manifestações patológicas
prediais, por meio das metodologias que possibilitam a obtenção
de dados técnicos que caracterizam, analisam, atestam, apuram
causas, prognosticam e prescrevem as manifestações patológicas das
edificações.

Nesse sentido, podemos dar continuidade com o detalhamento das


ferramentas diagnósticas, apresentando um resumo conforme a
Figura 1.

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Figura 1 – Componentes da Engenharia Diagnóstica

Fonte: elaborada pelo autor.

Como você pode notar, a ferramenta Avaliação não se encontra na


Figura 1, pois, ela pode empregar diferentes níveis de complexidades,
devendo ser aprofundada de maneira isolada das demais. Além disso,
há uma disciplina própria para abordar sobre a ferramenta avaliação,
portanto, focaremos nas demais ferramentas ao longo de nossos
estudos nesta unidade.

1.1 Vistoria

A vistoria é a constatação de forma técnica de certo fato, condição ou


direito relacionado a uma edificação. Segundo o Instituto de Engenharia
(2014), elas podem ser utilizadas de forma judicial (ações cautelares
antecipadas de provas) e de forma extrajudicial, como uma medida
preventiva à algum risco observado.

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Vistoria de vizinhança: trata-se da constatação técnica de propriedades
e condições físicas aparentes dos imóveis lindeiros (vizinhos) ou que
possam ser expostos às eventualidades do processo construtivo. Além
disso, ela também pode ser denominada de Vistoria de Cautela.

Vistoria de estágio de obra: é a apuração técnica dos serviços


executados e/ou em andamento, bem como os materiais estocados e/ou
empregados em uma obra, datados do dia da vistoria.

Vistoria de conclusão de obra: é a apuração técnica das características,


especificações e condições de desempenho da edificação.

Vistoria locativa: é a constatação técnica das circunstâncias de


funcionamento dos equipamentos, móveis e utensílios de uma
edificação. Normalmente, é empregada na entrega das chaves de um
imóvel para locação ou para seu recebimento na devolução.

1.2 Inspeções

A inspeção é a análise técnica de certo fato, condição ou direito a um


edifício, baseado em informações genéricas e interpretações baseadas
na experiência do profissional que a executou. Segundo o Instituto de
Engenharia (2014), a inspeção diagnóstica pode ser relacionada à análise
de anomalias, falhas por falta de manutenção das estruturas, aspectos
relacionados à qualidade, saúde e segurança das estruturas ou, ainda,
outros assuntos relacionados ao sistema construtivo em análise.

As inspeções apontam orientações técnicas simplificadas, buscando


indicar uma possível solução para os problemas relatados.

Inspeção predial: aborda os aspectos gerais da edificação, averiguando


tridimensionalmente: construção, manutenção e uso.

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Inspeção de vizinhança: busca verificar, por meio de análise técnica,
as características e condições aparentes dos imóveis adjacentes ao
local ou proximidades da obra a ser executada, buscando a segurança
e o resguardo de imprevistos em imóveis vizinhos. É uma medida de
segurança contra possíveis infortúnios.

Inspeção de estágio de obra: refere-se à análise técnica dos serviços


executados e/ou em andamento, bem como os materiais estocados e/ou
empregados em uma obra, datados do dia da vistoria.

Inspeção de conclusão ou recebimento de obra: trata-se da análise


técnica dos atributos, especificidades e condições de desempenho das
edificações, sob um olhar da qualidade e outros aspectos pertinentes
à fiscalização. Essa ferramenta é empregada quando o objetivo é
o recebimento de uma edificação recém construída, precedendo a
etapa de uso. Nela, deve ser verifico se a edificação está dentro das
conformidades legislativas e contratuais, de acordo com o construtor/
vendedor e o usuário/comprador.

Inspeção locativa: é a constatação técnica das circunstâncias de


funcionamento dos equipamentos, móveis e utensílios de uma
edificação. Normalmente, é empregada na entrega das chaves de um
imóvel para locação ou para seu recebimento na devolução.

Inspeção de obra em garantia: configura-se como a análise técnica


das anomalias que surgem nas edificações, ainda dentro do período de
garantia fornecida por lei pelo construtor.

Inspeção de falhas de manutenção: faz parte da análise técnica com


olhar voltado para as falhas de manutenção na edificação, ainda na fase
de uso. Nessa ferramenta, o objetivo é analisar se ocorreram falhas
na manutenção, podendo ser dentro ou após o período de vigência da
garantia.

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1.3 Auditoria

De acordo com o Instituto de Engenharia (2014), a auditoria é um


atestado técnico de conformidade, ou não conformidade, para um certo
fato, condição, direito a um edifício, que busca contestar ou confirmar
algo passível de confronto, com base em especificações técnicas
estabelecidas em normas, projetos, regulamentos, legislações, contratos
ou outros parâmetros a serem apurados.

Auditoria do planejamento: diz respeito ao atestamento técnico de


conformidade, ou não conformidade, de determinado planejamento de
uma edificação, tendo como base o plano contratual.

Auditoria do projeto: diz respeito ao atestamento técnico de


conformidade, ou não conformidade, de determinado projeto de uma
edificação, tendo como base o plano contratual.

Auditoria da obra: trata-se do atestamento de conformidade, ou não


conformidade, dos serviços e materiais executados em um edifício,
tendo como base o contrato entre as partes interessadas.

Auditoria da técnica construtiva de edificação: é o atestado de


conformidade ou não conformidade, da execução construtiva, tendo
como base os projetos, os memoriais descritivos do empreendimento,
as especificações, o processo construtivo, as normas e as legislações
pertinentes.

Auditoria da manutenção em edificação: é o atestado de


conformidade ou não conformidade, da manutenção das construções,
tendo como base o manual de uso, operação e manutenção ou,
até mesmo, o plano de manutenção do objetivo de estudo, em
conformidades com a NBR 14.037 ou 5.674 da ABNT.

Auditoria da segurança em edificação: trata-se do atestado técnico


de conformidade ou não conformidade, com relação à segurança da
edificação, baseando-se nas Normas Técnicas Brasileiras, Normas
Regulamentadoras, Instruções Técnicas do Corpo de Bombeiros da região.

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Auditoria da acessibilidade: trata-se do atestamento técnico de
conformidade, ou não conformidade, das condições de acessibilidade
das edificações, tendo como base os projetos e normas como a NBR
9.050, por exemplo.

Auditoria do uso edilício: é o atestado técnico de conformidade, ou não


conformidade, das condições de uso das edificações, tendo como base a
convenção do condomínio e o manual de uso, operação e manutenção
da edificação.

Auditoria do desempenho: trata-se do atestado técnico de


conformidade, ou não conformidade, do desempenho das edificações,
buscando como base a norma de desempenho 15.575 da ABNT.

1.4 Perícia

Segundo o Instituto de Engenharia (2014), a perícia é uma apuração


técnica que busca rastrear a origem, possível causa e mecanismos de
ação que desencadearam algum fato, condição ou que proporcionam
direitos relativos a um edifício.

Perícia de vizinhança: é realizada nos imóveis ou terrenos vizinhos à


edificação a ser construída ou já edificada, na busca de identificar as
manifestações patológicas e suas origens, causas, mecanismos de ação
das possíveis anomalias, suas relações e influências.

Perícia técnica de sistema construtivo: é a apuração técnica do


princípio, causa e agente causador de determinada manifestação
patológica relativa a certo sistema ou elemento da edificação. Nessa
ferramenta, busca-se os estudos dos diferentes níveis de qualidade
mediante o estabelecimento do diagnóstico e dos subsídios para a
prevenção, concerto e recuperação do objeto de estudo.

Perícia de edificação em garantia: é executada em edificações ainda


em fase de garantia, determinando a origem, causa e mecanismos que

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geraram as anomalias construtivas em estudo, sejam elas por falha de
manutenção, irregularidades de uso, dentre outros motivos que vieram
a prejudicar a edificação. Sua elaboração e análise deve ser isolada em
grupos distintos, como sistema, elemento ou componente, facilitando
uma possível posterior apuração de responsabilidades.

Assim, é importante ressaltar que, a perícia, nesta etapa, deve ser


realizada com muito critério, pois, algumas atitudes dos usuários
podem prejudicar a edificação, essas atitudes incorretas podem estar
expressas no manual de uso das edificações e, caso o proprietário
tenha executando-as, ele perde o direito de garantia, por isso, devem
ser observados os contratos, manuais de uso, operação e manutenção,
fornecidos pelo construtor ou incorporadora, todos dentro das
conformidades da NBR 14.037 da ABNT.

Perícia de acidente: procede para a verificação e determinação das


razões e origem da ocorrência de sinistros, sejam eles por falhas em
mecanismos estruturais, execução, condição de uso, seja esse sinistro
com ou sem vítimas.

1.5 Consultoria

A consultoria é o parecer e a indicação técnica relacionada à um


fato, condição ou direito relativo de uma edificação. A consultoria,
em seu escopo, presumi que o diagnóstico da edificação já esteja
previamente determinado, possibilitando sua aplicação à analises das
situações preestabelecidas, documentos, elaboração de orçamentos,
cronogramas, editais, entre outros aspectos complementares e
solicitados em contratação (INSTITUTO DE ENGENHARIA, 2014).

Consultoria de vizinhança: a consultoria de vizinhança é aquela


executada para determinar os danos ocasionados em imóveis vizinhos
em decorrência de obras em construção ou em terreno de futura obra.

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Consultoria técnica de sistema construtivo: trata-se da consultoria
para apresentação das sugestões técnicas referentes a certo sistema ou
elemento estrutural da edificação, determinando as opções para sua
correta recuperação ou, até mesmo, a prevenção de reincidência de
anomalias ou falhas de manutenção.

Consultoria de edificação em garantia: são diagnósticos e medidas


prescritas para as edificações ainda dentro da garantia do construtor,
indicando os reparos das anomalias e falhas construtivas e de
manutenção, bem como as irregularidades de uso.

Ainda, nesta etapa, devem ser observadas com critério as intervenções


realizadas pelo usuário, para garantir que as medidas de uso tomadas
por ele não estejam fora das normalidades dos manuais de uso,
operação e manutenção da edificação, em conformidade com a NBR
14.037 da ABNT.

Consultoria de acidente: é a consultoria responsável pela identificação


e prescrição das anomalias e/ou danos referentes à sinistros ocorridos
nas edificações, sejam com ou sem vítimas.

2. A metodologia da engenharia diagnóstica

Com base item anterior, podemos observar que mais que algumas
características entre as diferentes ferramentas pareçam ser
semelhantes, o objetivo de cada uma é distinto. Por exemplo, segundo
o IBAPE (2014), observa-se que as vistorias e as inspeções buscam uma
verificação superficial do objeto de estudo.

As vistorias e as inspeções verificam apenas os sintomas da


edificação, por meio de análises visuais, não sendo necessário o uso e
aprofundamento com ensaios, amostras, orçamentos e outros.

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Enquanto isso, a auditoria apresenta um aprofundamento maior dos
fatos, devendo compara-los com uma norma, contrato, documentos ou
outros parâmetros.

Na perícia e consultoria, casualmente, pode ocorrer a necessidade de


empregar um ensaio, modelo, esquema ou protótipo, para simular e
confirmar o diagnóstico e as hipóteses apresentadas. Em alguns casos, é
utilizado outros estudos já consolidados como modelos de prova.

Tradicionalmente, a engenharia diagnóstica deveria seguir uma ordem


para realização de suas ferramentas conforme os problemas a serem
observados. Essa ordem pode ser observada na Figura 2, entretanto, na
grande maioria dos casos, são solicitadas soluções parciais, fato esse
que possibilita o uso de apenas uma das ferramentas.

Figura 2 – Fluxograma da Engenharia Diagnóstica

Fonte: elaborada pelo autor.

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Desse modo, podemos observar que a necessidade de ensaios e
protótipos, como já discutido anteriormente, tem seu início na perícia,
uma vez que a consultoria deve ser iniciada já com os aspectos
determinados na perícia. Caso seja necessário, a fase da consultoria
pode aplicar o uso de protótipos e ensaios.

Assim, você pode observar que a perícia tem como principal objetivo
apresentar a diagnose para facilitar a determinação jurídica dos
responsáveis e das responsabilidades das partes. Logo, a consultoria
tem como função, definir, com base em todos os outros estudos já
feitos, a melhor hipótese a ser tomada diante do problema estudado.
Por fim, ela deve determinar se serão tomadas medidas de intervenção
(demolição, recuperação e reforma) ou interdição do objeto de estudo
(IBAPE, 2014).

Além disso, vale ressaltar que para as ferramentas Perícia, Auditoria,


Inspeção e Vistoria são gerados, ao final, Laudos Técnicos. Enquanto a
Consultoria, o objeto final é um Parecer Técnico.

Embora pareçam sinônimos, o Laudo Técnico tem como finalidade


apenas indicar um diagnóstico do objeto de estudo, enquanto que o
Parecer busca apresentar uma solução para estes. Por sua vez, esse erro
é muito comum para leigos, invalidando muitos documentos perante
a justiça. O profissional que elaborar um Laudo não pode prestar
um Parecer. O Laudo deve ser imparcial, apontando apenas para as
manifestações patológicas e suas diagnoses.

2.1 Metodologia na prática

Na prática da engenharia diagnóstica, sua metodologia de aplicação,


normalmente, é desenvolvida na seguinte ordem:

1º. Identificação do objeto de estudo: procure pesquisar e


identificar o tipo de edificação será analisada, por exemplo, é uma

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edificação antiga ou nova? Sua localização é na cidade ou em zona
rural? É uma edificação multifamiliar?
2º. Definir os objetivos a serem cumpridos, questionamentos
a serem respondidos: quando extrajudicial, procure entender
quais os objetivos que o contratante procura atender, verifique
qual a finalidade para sua contratação. Quando judicial, muitas
vezes, é recebido uma lista de questionamentos, esses devem
ser respondidos em tópicos no documento final. Observar os
questionamentos pode definir a dificuldade do trabalho a ser
realizado, os equipamentos necessários, e qual ferramenta é
necessária para conclusão.
3º. Verificar documentação ou informações fornecidas
previamente: busque, antes da visita ao local, reunir o máximo
de informações possível, evitando o retrabalho de várias visitas
ao local para averiguar fatos antes não observados. Essa
documentação é levantada com base no 2º passo e completada
com o 4º passo.
4º. Questionar os usuários, proprietários, ou gestores do objeto
de estudo: procure reforçar o passo 2º com o questionamento
e a entrevista de membros, usuários, proprietários e gestores da
unidade verificada. Desse modo, busque por alterações passadas
ou possíveis futuras, projetos existentes, sinistros já ocorridos
no local, algum histórico que mereça atenção no momento da
Investigação.
5º. Diligência (execução do serviço, investigação): com todos os
passos anteriores executados (quando possível), vá até o local e
realize a diligência, para tal, procure realizar o agendamento com
as equipes e com o contratante.
6º. Classificação das manifestações patológicas observadas:
após levantamento das manifestações patológicas observadas,
classifique-as adequadamente, é uma fissura, uma trinca, uma
rachadura? São por problemas na execução, falta de manutenção
etc.?

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7º. Conclusões obtidas: com base no levantamento realizado no
local, faça a sua conclusão, apresentando o diagnóstico das
manifestações patológicas.
8º. Fundamentação: em alguns casos, é necessário que seu
diagnóstico seja fundamentado com base em algum modelo já
existente, com normas, legislações, outros padrões, testes, ensaios
ou, até mesmo, com a criação de modelos como fundamentação.

Esses passos constituem uma metodologia padrão para elaboração de


Laudos Técnicos e, até mesmo, Pareceres Técnicos. Desse modo, podem
ser adicionadas ou removidas etapas, não ocorrendo necessariamente
na ordem expostas anteriormente, ficando a critério do profissional
que as executa definir quais medidas devem ser executadas diante das
diferentes situações de trabalho que se encontram na vida profissional
(GOMIDE; FAGUNDES NETO; GULLO, 2009).

Para finalizarmos, é necessário o conhecimento de algumas informações


primordiais no documento técnico gerado, sendo elas:

• A identificação do contratante/solicitante: dados como nome,


documentos (CPF, RG e CNPJ), titulação (morador, proprietário,
administrador etc.).

• Classificação do objeto de estudo: apresente qual é o objeto a


ser analisado, por exemplo, é uma casa, um terreno, um sobrado,
um barracão, um apartamento ou um edifício como um todo?

• Localização: apresente a localização do objeto de estudo, rua,


número, CEP, cidade, estado e, em alguns casos, se cabível, pais.

• Data da realização das visitas: deve ser apresentada as datas das


visitas, caso necessário, alguns documentos utilizam jornais em
algum canto das fotos para marcação de tempo e comprovação de
data.

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• Descrição técnica do objeto de estudo: faça uma descrição do
objeto de estudo, por exemplo, uma residência unifamiliar, com
dois pavimentos, padrão médio, com sacadas etc.).

• Documentação analisada: descreva e notifique os documentos


utilizados como base para a investigação, por exemplo, planta
baixa, contrato de locação, contrato de construção, memorial
descritivo, memorial de cálculo, manual de uso da edificação etc.

• Critério da metodologia adotada: descreva como foi a sua


metodologia empregada na verificação e confecção do Laudo ou
Parecer.

• Informações coletadas e considerações técnicas: são as


informações coletadas ao longo da visita e as considerações com
os dados obtidos.

• Anexos: caso necessário, devem ser inseridos os anexos no


documento, como fotos extras não citadas anteriormente no corpo
do documento, mapeamento das fotos com base na planta baixa,
planta baixa, documentos auxiliares, dentre outros.

• Data da finalização do documento: geralmente, essa informação


é apresentada na capa e no final do documento, próximo das
assinaturas, destacando a completude do documento, número de
páginas totais e equipe técnica.

• Assinaturas: campos para recolhimento das assinaturas da


equipe, do solicitante, bem como os números de documentos,
CREA, RG, CPF, CNPJ etc.

• Anexo da ART: deve estar anexada ao final, a ART do documento


elaborado, dando a validade ao documento e a responsabilidade
técnica da equipe ou responsável pela elaboração.

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Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5.674: manutenção de
edificações: requisitos para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro:
ABNT, 2012.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9.050: acessibilidade a
edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT,
2020.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14.037: diretrizes para
elaboração de manuais de uso, operação e manutenção das edificações: requisitos
para elaboração e apresentação dos conteúdos. Rio de Janeiro: ABNT, 2011.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 15.575: edificações
habitacionais: desempenho. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.
GOMIDE, T. L. F.; FAGUNDES NETO, J. C. P.; GULLO, M. A. Inspeção predial total:
diretrizes e laudos no enfoque da qualidade total e da engenharia diagnóstica. São
Paulo: Pini, 2009.
IBAPE/SP. Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia. Norma de
Inspeção Predial. São Paulo: IBAPE, 2014.
INSTITUTO DE ENGENHARIA. Diretrizes Técnicas de Inspeção Predial. São Paulo:
Instituto de Engenharia, 2013.
SILVA, W. L. Inspeção predial: diretrizes, roteiro e modelo de laudo para inspeções
em edificações residenciais da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UFRJ/Escola
Politécnica, 2016.

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Elementos estruturais e sistemas
de vedação
Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas
Leitura crítica: Gisele V. de Oliveira Martin

Objetivos
• Apresentar os conceitos e principais manifestações
patológicas nos elementos estruturais.

• Apresentar os conceitos e principais manifestações


patológicas nos elementos de vedação.

• Aprimorar o conhecimento do estudante sobre


os temas relacionados para fins de investigações
patológicas.

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1. Elementos estruturais

Dentro de um sistema estrutural encontramos os elementos


estruturais que, geralmente, são representados pelas vigas, pilares,
lajes, vigas baldrames e fundações. Esses elementos, quando mal
executados ou projetados podem sofrer ações degenerativas,
denominadas de manifestações patológicas. Por sua vez, essas
manifestações tendem a reduzir a função estética, estrutural e
funcional das peças estruturais.

Além da falta de cuidados na execução e projeto, a falta de manutenções


preventivas pode acarretar no surgimento de manifestações patológicas.
Os elementos estruturais, de maneira geral, podem ser divididos em
três tipos: estruturas de concreto armado, estruturas de madeira e
estruturas metálicas.

1.1 Estruturas de concreto armado

Nas estruturas de concreto armado, quando há anomalias presentes,


são encontradas diferentes manifestações patológicas de diferentes
agentes causadores. Entre elas estão presentes fissuras ativas
e passivas, degradação química, flechas excessivas, ninhos de
concretagem (também conhecidos como bicheira), corrosão das
armaduras e manchas superficiais. Os percentuais médios de
incidências dessas manifestações patológicas estão apresentados na
figura a seguir.

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Figura 1 – Distribuição relativa da incidência de manifestações
patológicas em estruturas de concreto armado aparente

Fonte: adaptada de Helene (1994).

Nas edificações, as principais causas desses sintomas são decorrentes


de uma série de fatores, como: erros de execução, materiais de má
qualidade ou uso inadequado, erros de projetos, falhas no planejamento
das etapas construtivas e, também, o uso incorreto da edificação. A
Figura 2 apresenta os percentuais médios de influência dos diferentes
fatores nas anomalias patológicas de edificações.

Figura 2 – Origem das manifestações patológicas com relação às


etapas construtivas

Fonte: adaptada de Helene (1994).

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1.1.1 Corrosão em armaduras

Em armaduras, a corrosão ocorre por causa da oxidação do aço ao meio


exposto. Assim, quanto maior a agressividade do ambiente, maior a
deterioração da armação da peça. Por essas razões, o cobrimento do
concreto tem sua importância, a fim de proteger a peça das intempéries
da natureza e do ambiente onde ela está localizada. Na Figura 3,
apresentamos as características de peças com armaduras expostas e
com corrosão aparente.

Figura 3 – Elementos estruturais com corrosão da armadura

Fonte: adaptado de Helene (1994) e Oliveira et al. (2012).

Essas manifestações patológicas também podem surgir em elementos


ocultos, como blocos de fundação. Dessa forma, para sua identificação
é necessária uma inspeção invasiva, em busca da parte prejudicada
pela corrosão para eventuais reparos (CARRARO; DIAS, 2014). Por sua
vez, esses erros podem vir a ocorrer por causa das propriedades do
concreto, como alta porosidade e/ou permeabilidade, por exemplo,
cobrimento da armadura insuficiente ou má execução. Ainda, podem
vir a ocorrer o surgimento de manchas marrom-avermelhadas ou, até
mesmo, esverdeadas em toda a superfície do elemento estrutural. Isso
ocorre por pausa da presença de cloretos impregnados na estrutura ou
pela incorporação desses agentes agressivos durante o amassamento
do concreto.

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1.1.2 Ninhos de concretagem

Os ninhos de concretagem, ou segregação do concreto, são


caracterizados por pontos com ausência de preenchimento da peça
estrutural. Esses vazios na peça são denominados de ninhos, algumas
regiões denominam de bicheira. Esses ninhos podem impedir a
distribuição das cargas na peça, expor o aço aos intemperes da natureza
ou, até mesmo, impedir que o concreto preencha uniformemente a
peça, de maneira que fique uma parte com excesso de graduada e outra
com excesso de massa sem graduada, por exemplo.

Esse erro pode ocorrer por conta de uma dosagem inadequada dos
constituintes do concreto, erro no dimensionamento do tamanho do
agregado graúdo do concreto, formando filtros de retenção entre a
armadura. Além disso, pode vir a ocorrer por causa do lançamento e
adensamento inadequado ou, ainda, pelo fato de a taxa de aço da peça
estar superdimensionada, impossibilitando a penetração correta do
agregado graúdo entre os vãos do aço. Por sua vez, essas manifestações
patológicas podem ser observadas conforme figura a seguir.

Figura 4 – Elementos estruturais com nicho de segregação

Fonte: adaptada de Helene (1994) e Santos (2014).

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1.1.3 Flechas excessivas

As flechas, ou barrigas, como são chamadas, são curvaturas no


alinhamento das vigas ou lajes. Quando excessiva, essa curvatura pode
promover fissuras e, até mesmo, exposição do aço da peça, colocando
em risco a edificação. Essas manifestações podem ocorrer por causa
de sobrecargas não previstas, armadura e ancoragem insuficientes,
ou armadura mal posicionada no projeto ou na execução da peça. Na
Figura 5, podemos observas essas manifestações patológicas.

Figura 5 – Elementos estruturais com flechas excessivas

Fonte: adaptada de Pires et al. (2018).

Assim, podemos observar que, com o momento fletor no centro das


vigas, ocorre o surgimento de rachaduras. O estudo dessas rachaduras
pode auxiliar na determinação da causa da manifestação patológica, se
foi erro de projeto de estribos, erro de ancoragem, falta ou excesso de
aço, entre outros motivos que podem gerar flechas em vigas.

1.1.4 Fissuras ativas e passivas

Para entendermos melhor a evolução das fissuras, precisamos


apresentar algumas definições:

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- Fissura:

• A abertura é superficial, atinge a pintura, massa corrida e azulejo.

• A sua largura atinge até 1 mm.

• Menor gravidade.

• Estreita e alongada.

• Não possui problema estrutural, portanto, não é perigosa.

- Trinca:

• Sua espessura é de 1 a 3 mm.

• A abertura é mais profunda e acentuada.

• Ocorre a ruptura do elemento, separando-o em duas partes.

• Pode afetar a segurança dos elementos estruturais da residência.

- Rachadura:

• É muito perigosa e requer imediata atenção.

• Sua espessura é acima de 3 mm.

• Ocorre a ruptura do elemento, separando-o em duas partes.

• A abertura é grande, pronunciada, profunda e acentuada.

• É de fácil observação.

• A água, o vento e a luz são capazes de passar através da parede ou


teto danificado.

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Dessa maneira, podemos dizer que o surgimento de fissuras nas
estruturas pode se dar por diversos motivos, nem sempre apresentando
uma característica de risco estrutural. Além disso, eles podem ser
apenas fatores estéticos causados por retração química. Entretanto,
essas fissuras podem se desenvolver ao longo do tempo, demonstrando
ser mais do que um problema estético, sendo um problema de
sobrecarga, mal dimensionamento, fundação, recalque ou qualquer
outra manifestação patológica que indique necessidade de correção.

Quando essas fissuras se encontram estáveis, ou seja, não sofrem


modificações ao longo de certo tempo, elas são denominadas de
fissuras passivas. Por outro lado, quando elas passam a apresentar
modificações em sua estrutura ou, até mesmo, evoluem para uma trinca
ou rachadura, então, elas são denominadas de fissuras ativas.

As fissuras ativas são indicadores de possíveis problemas ocultos na


edificação, necessitando de maiores cuidados por causa do Engenheiro
de Diagnóstico. A Figura 6 apresenta um exemplo de fissuras passivas
localizadas acima do batente de uma porta, ocasionadas por conta da
dilatação térmica e pelo trabalho de retração da madeira, alvenaria e
argamassa.

Figura 6 – Fissuras passivas na argamassa acima do batente da porta

Fonte: acervo do autor.

27
Enquanto isso, a Figura 7 apresenta uma fissura ativa na parede de uma
residência, que foi ocasionada ao longo do tempo, tornando-se uma
rachadura.

Figura 7 – Fissuras ativa na alvenaria acarretando em rachadura

Fonte: acervo do autor.

Assim, é importante ressaltar que, quando houver dúvida sobre


qualquer tipo de fissura, recomenda-se sua medição e anotação em
um relatório, para futuras medições e verificações da atividade dessa
manifestação patológica.

1.1.5 Degradação química

A degradação química pode ocorrer por diferentes meios, reações


álcali-agregado e/ou ataque por íons agressivos (cloretos, sulfatos e
dióxido de carbono) e, ainda, com o ataque de certos tipos de líquidos
ácidos e gases, como é o caso do sulfeto de hidrogênio em processos

28
de biodigestão de estações de tratamento de esgoto. Outro exemplo de
ataque químico muito comum às estruturas são os efeitos da maresia,
ocasionando, quando em contato com o aço, a rápida oxidação da
estrutura.

Esses ataques químicos podem provocar estufamento da peça de


concreto, aumento da porosidade, perda de seção, corrosão do aço,
manchas de reações químicas, entre outras manifestações patológicas.

1.1.6 Manchas superficiais

As manchas ocasionadas no concreto podem ser indicativas de uma


série de manifestações patológicas, não necessariamente estruturais.
Por sua vez, suas origens podem ser fungos, bactérias, infiltrações ou
ataques químicos, como já expressado anteriormente. As Figuras 8 e 9
apresentam algumas dessas patologias.

Figura 8 – Formação de fungo sobre a superfície de concreto

Fonte: Silva (2016, p. 71-75).

29
Figura 9 – Formação de bolor (fungos) e bactérias em parede
argamassada

Fonte: acervo do autor.

Na Figura 8, podemos observar a formação de colônias de fungos na


peça de concreto, enquanto na Figura 9, em decorrência da infiltração
e da umidade excessiva, há o desenvolvimento de fungos e bactérias.
A presença desses microrganismos pode colocar a vida útil e a estética
da construção em risco, sendo necessárias medidas de remoção,
esterilização e proteção das peças.

Ainda, pode haver a ocorrência de eflorescência, que surge por causa


da quantidade de sais e da umidade nas peças de concreto, possuindo
como característica a formação de veios brancos e calcinados. Muitas
vezes, esse fato ocorre por conta da presença da água infiltrada
na estrutura, que age dissolvendo sais, como o hidróxido de cálcio,
presente no cimento e na cal.

30
1.2 Estruturas de madeira

As estruturas de madeira, por si só, não perdem resistência ao longo


dos anos, entretanto, suas características estruturais são afetadas por
conta de sua deterioração por agentes biológicos, físicos e químicos.
Por sua vez, esses agentes podem ser divididos em agentes bióticos
(seres vivos) e agentes abióticos (não vivos).

Como agentes bióticos, há as bactérias, fungos, insetos e os


perfuradores marinhos (por exemplo, moluscos e crustáceos). Além
disso, há os seguintes agentes abióticos: os agentes físicos (danos
mecânicos, vandalismo, sobrecarga etc.), agentes químicos (corrosão
das ligações), agentes meteorológicos ou atmosféricos (radiação
ultravioleta, vento, chuva, intemperismo etc.) e, ainda, os danos
causados pelo fogo.

1.3 Estruturas metálicas

Nas estruturas metálicas, a principal manifestação patológica é o


efeito da corrosão. Entretanto, temos outros efeitos patológicos,
como as manifestações patológicas nas ligações, que ocorrem por
causa de má soldagem, especificação de matérias inadequados,
mal dimensionamento de parafusos. Ainda, há as manifestações
patológicas ocasionadas devido ao mal dimensionamento das
estruturas, que podem acarretar em torção ou tombamento (perda
de estabilidade estrutural), por causa de efeitos naturais, como o
vento.

Ademais, outras patologias em estruturas metálicas podem vir a


ocorrer por causa da execução, como é o caso das manifestações
patológicas em lajes de fechamento, sejam elas lajes metálicas
maciças, pré-moldadas, nervuradas ou, até mesmo, pré-lajes.

31
2. Elementos de vedação

Os elementos de vedação são subsistemas da estrutura que têm


como função vedar a estrutura, compartimentar os ambientes, servir
de suporte para instalação de elementos hidráulicos e elétricos da
edificação e desenvolver condições apropriadas de habitabilidade.
Em muitos casos, os elementos de vedação são responsáveis por
desempenho térmico e acústico, além de proporcionar as características
estéticas da construção.

Entre os sistemas de vedação, como os mais usuais temos os blocos de


concreto não estrutural e a alvenaria cerâmica, conhecida popularmente
como tijolo, que funcionam intercalados entre si e revestidos com um
material argamassado, que fornece a junção entre as peças e a rigidez
do elemento de vedação. Além disso, temos o sistema de vedação
drywall, que são paredes de vedação em chapas de gesso acartonado
alocadas em um perfil metálico fixado nas extremidades, que serve
como guia. Essas chapas possuem variações quanto ao seu material,
dependendo do local onde serão empregadas, por exemplo, existem
drywalls para ambientes úmidos (resistente à umidade–RU) e para
ambientes secos (chapas standard–ST) e chapas resistentes ao fogo.
O material mais comum utilizado é o gesso acartonado de uma ou
mais camadas. Dessa maneira, nos elementos de vedação existem
diversas manifestações patológicas que podem ocorrer por causa da má
execução, falha de projeto, sobrecarga e, até mesmo, má qualidade nos
materiais utilizados.

Assim, compreender as manifestações patológicas dos elementos


estruturais, bem como dos elementos de vedação, ajuda o profissional
que realiza as inspeções de engenharia diagnóstica a executar seu
trabalho com precisão e eficácia. Portanto, saber identificar os
elementos e suas características patológicas, bem como determinar as
possíveis causas, efeitos, progressão da manifestação observada, análise

32
das condições da edificação e o tratamento de correção mais adequado
para cada tipo de manifestação patológica, seja ela de vedação ou
estrutural.

Referências Bibliográficas
CARRARO, C. L.; DIAS, J. F. Diretrizes para prevenção de manifestações patológicas
em Habitações de Interesse Social. Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 14,
n. 2, p. 125-139, abr./jun. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1678-
86212014000200009. Acesso em: 25 nov. 2020.
HELENE, P. Manual para reparo, reforço e proteção de estruturas de concreto.
São Paulo: Pini, 1994.
OLIVEIRA, K. C. de et al. Extensão da vida útil de uma estrutura de concreto armado
dos anos 60, que abriga 42 famílias num condomínio tipo cortiço vertical no centro
de São Paulo. Construindo, Belo Horizonte, v. 4, n. 2, 2 jul./dez. 2012. Disponível
em: http://www.fumec.br/revistas/construindo/article/view/1706. Acesso em: 25
nov. 2020.
PIRES, E. F. C. et al. Modos de ruptura e padrões de fissuração de vigas pré-
moldadas de concreto armado geopolimérico: estudo de caso. Matéria (Rio de
Janeiro), Rio de Janeiro, v. 23, n. 1, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/
s1517-707620170001.0318. Acesso em: 25 nov. 2020.
SANTOS, C. F. Patologia de estruturas de concreto. 2014. Monografia (Graduação
em Engenharia Civil)–Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014.
SILVA, D. M. da. Efeito de biocidas ao comportamento biodeterioativo de fungos
sobre argamassa de cimento Portland. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Edificações e Saneamento)–Centro de Tecnologia e Urbanismo–CTU, Universidade
Estadual de Londrina – UEL, Londrina, 2016.

33
Revestimentos e sistemas de
impermeabilização
Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas
Leitura crítica: Gisele V. de Oliveira Martin

Objetivos
• Apresentar os diferentes tipos de revestimentos nas
edificações.

• Apresentar os diferentes tipos de sistemas de


impermeabilização nas edificações.

• Contribuir para o conhecimento das diferentes


anomalias decorrentes dos sistemas de
impermeabilização e de elementos de
revestimentos.

34
1. Revestimentos

Entre os diferentes tipos de revestimentos, podemos classifica-los em


dois grandes grupos: os argamassados e os não argamassados. Para
entendermos melhor estes dois grupos é preciso compreender sua
composição, objetivos e conceitos. Além disso, precisamos considerar
que ambos revestimentos possuem funções voltadas à proteção das
estruturas e/ou estética.

1.1 Revestimentos argamassados

As argamassas são misturas que em sua composição são encontrados


um ou mais aglomerantes, agregados miúdos e água, que quando
juntos favorecem o endurecimento e aderência. Os aglomerantes são
materiais ativos, geralmente pulverizados, que facilitam a ligação entre
os grãos de materiais inertes (agregados). Por sua vez, aglomerantes são
amplamente utilizados para a formação de pastas (aglomerante + água),
quando adicionado algum agregado miúdo à esta pasta, então, obtemos
a argamassa (pasta + agregado miúdo). O concreto é obtido com a
adição de agregados graúdos, como as britas (MUSSE et al., 2020).

Há diversos traços de argamassas, e cada traço possui uma


empregabilidade específica. Por exemplo, o traço da argamassa de
assentamento é diferente do traço da argamassa de revestimento. A
definição do traço e de sua aplicação depende de diferentes fatores como:

• Aderência: trata-se de uma propriedade de se estabelecer fixada


à um substrato por meio da resistência de tensões normais e
tangenciais que atuam na argamassa e a base onde foi aplicada.

Alguns fatores que influenciam a aderência ainda no estado fresco


da argamassa são: a granulometria, teor de finos dos agregados,

35
a relação aglomerante/aglomerado e, principalmente, a relação
água/aglomerante.

• Absorção de deformações: é a capacidade da argamassa de


sofrer deformações sem apresentar fissuras ou ruptura. Essa
elasticidade permite que os demais elementos trabalhem com
a dilatação, retração e deformações higroscópica sem provocar
danos aos materiais mais rígidos que constituem o sistema, como
as cerâmicas.

Essas características dependem de alguns parâmetros, como: o


módulo de deformação da argamassa, a espessura da camada,
a presença de juntas de dilatação, do traço empregado e,
principalmente, da maneira como foi executada.

• Resistência mecânica: a resistência mecânica é a capacidade do


material de resistir às ações mecânicas e abrasivas de diferentes
naturezas, por exemplo, abrasão superficial, impactos, contrações
termo higroscópicas. Essa relação está ligada ao consumo e
natureza dos agregados e aglomerantes.

A resistência mecânica é relativamente aumentada quando há


redução na proporção do agregado na argamassa, e pode variar
reversamente na relação água/aglomerante.

• Permeabilidade à água: a permeabilidade se refere à capacidade


de permitir a passagem de água pelo meio. Os revestimentos
devem ser o mais estanque possível, impedindo o processo de
percolação e capilaridade da água pela peça, entretanto, as peças
devem ser permeáveis ao vapor de água, favorecendo a secagem
de pontos com umidade de infiltração.

Os fatores que influenciam nessa propriedade são referentes


aos traços utilizados, a espessura da camada, a técnica como

36
foi aplicada, fissuras já existentes na base e o tipo de material
constituinte.

• Durabilidade: a durabilidade dos revestimentos se refere a sua


aptidão de manter sua funcionalidade com o passar do tempo.
Os principais fatores que podem comprometer a durabilidade
dos revestimentos argamassados são a movimentação de
origem térmica, higroscópica ou por alguma força externa
mecânica; espessura do revestimento provocando sobrecarga na
estrutura argamassada; proliferação de microrganismos como
fungos, bactérias e parasitas; e, por fim, qualidade dos materiais
empregados bem como a técnica utilizada em sua aplicação.

Em geral, os revestimentos argamassados em superfícies verticais são


constituídos por chapisco, emboço e reboco, conforme exposto na figura
a seguir.

Figura 1 – Diferentes camadas dos revestimentos argamassados

Fonte: elaborada pelo autor.

O chapisco é uma mistura de cimento e areia (aglomerante + agregado


miúdo), podendo vir com ou sem aditivos impermeabilizantes. Essa
mistura pode ser comprada já na forma de pasta pronta, sendo
necessário apenas a adição de água. O chapisco funciona como uma
massa de aderência, ou seja, sua funcionalidade é segurar o emboço
junto à alvenaria de vedação. Por essas razões é fundamental que o

37
chapisco seja leve e de espessura fina, evitando o acúmulo de peso na
estrutura. Nesse sentido, é importante salientar que para aplicação
do chapisco, a superfície precisa estar livre de poeiras e outros
contaminantes, para que a massa faça a aderência correta na superfície.

Após a aplicação do chapisco, deve-se aguardar o processo de cura por


no mínimo 7 dias, mas isso depende do traço da massa e dos aditivos
nela presentes, portanto, é recomendado a verificação do fabricante, caso
ele seja comprado na forma de pasta pronta. Após a cura desta primeira
camada, deve ser aplicada a segunda, denominada de emboço. O emboço
é uma argamassa grossa feita com areia, cimento, água e cal. Ele prepara a
superfície para a colagem do revestimento, seja ele argamassado ou não.

Nesse caso, considerando um revestimento argamassado, o emboço


prepara a superfície para recebimento do reboco. O reboco é uma
massa com acabamento de melhor qualidade, finalizada com uma
desempenadeira, possibilitando o alinhamento da superfície, sendo
finalizado com uma espuma para alisamento da massa. Esse procedimento
permite que o plano receba a pintura de acabamento, podendo ser lisa,
texturizada ou, ainda, receber o revestimento não argamassado.

O acabamento em pintura, dependendo o produto escolhido, pode


proteger contra ações de agentes externos, como mofo, umidade, acúmulo
de sujeira e contribui para parâmetros estéticos da edificação. Vale ressaltar
que, o emboço e reboco possuem idade mínima de até 28 dias, lembrando
de que isso pode depender dos componentes utilizados na argamassa,
assim, vale verificar as informações do fornecedor, caso industrializada.

1.2 Revestimentos não argamassados

Os revestimentos não argamassados são aqueles constituídos de


outros materiais, como pedras, cerâmicas, porcelanatos, entre outros
não argamassados. Para sua instalação e fixação na superfície vertical
é necessária um conjunto de camadas, esse conjunto, em geral, é

38
constituído de superfície ou base de aderência, camada de regularização
(chapisco + emboço argamassado), argamassa adesiva (camada de
fixação) e revestimento (MUSSE et al., 2020), conforme a Figura 2.

A camada de fixação tem como objetivo fornecer a aderências do


revestimento ao substrato e superfície de instalação. Outro elemento
de extrema importância na instalação de revestimentos são as juntas de
dilatação entre os componentes, elas também podem ser chamadas de
juntas de assentamento.

Figura 2 – Diferentes camadas dos revestimentos não argamassados

Fonte: elaborada pelo autor.

Com relação à camada de regularização, ela deve ser executada com


uma espessura mínima de 20 mm em paredes externas, devendo
ser sarrafeada, com acabamento desempenado e plano. Enquanto a
camada de fixação, em geral, argamassa colante deve ser executada
com espessuras entre 2 a 5 mm, essa medida depende do tardoz (parte/
lado tosco) do revestimento a ser instalado e condições do substrato.

1.2.1 Solicitação das estruturas e sua influência no


revestimento

Os revestimentos devem ser instalados nas estruturas o mais tardar


possível, pois, ao longo da edificação, a estrutura tende a receber

39
sobrecargas que geram deformações de serviço, de certa forma,
a estrutura se acomoda conforme os esforços são exercidos nas
peças. Consequentemente, essa movimentação pode acabar sendo
transpassada para as peças de revestimento, provocando fissuras,
trincas e até desplacamento. Um exemplo muito comum desta
situação é o assentamento do revestimento cerâmico logo após o
encunhamento da alvenaria.

Além disso, outro fator é o surgimento de trincas e deslocamento


por causa da execução incorreta das juntas de trabalho, que são
espaçamentos onde o revestimento irá trabalhar nos períodos em
que sofrer expansão e retração, seja devido as temperaturas ou pelar
presença de umidade na peça (SCHIMELFENIG et al., 2018).

1.2.2 Juntas de assentamento e movimentações de peças

As juntas de assentamento ou juntas de dilatação, ou juntas de trabalho,


são definidas com relação às características das peças e do material do
revestimento, além das solicitações que constituem a estrutura.

1.2.3 Elementos construtivos

Além dos revestimentos, outros elementos construtivos podem


auxiliar na preservação das edificações e promover longevidade aos
revestimentos, como pingadeiras, peitoris, lajes com ressaltos nas
fachadas, vergas e contravergas, entre outros.

2. Manifestações patológicas em revestimentos


argamassados

Entre as diversas manifestações patológicas nos revestimentos


argamassados estão as fissuras, os deslocamentos, a eflorescência, o

40
bolor e as manchas provenientes de sujeiras. Para entendermos melhor
cada uma destas manifestações, vamos explorá-las nos próximos
tópicos.

2.1 Fissuras

As fissuras ocorrem por diversos motivos nos revestimentos


argamassados, sejam eles executados em áreas internas ou externas.
Por sua vez, esses motivos podem ser quanto à execução e composição
da argamassa, solicitações higroscópicas e, ainda, retração hidráulica da
argamassa.

2.1.1 Fissuras mapeadas

As fissuras mapeadas são um determinado tipo de fissura, suas fissuras


formam um efeito de mapa geográfico na superfície, fator que justifica
sua nomenclatura. Essas fissuras ocorrem por causa da retração da
argamassa, podendo ser resultado do excesso de finos ou, até mesmo,
o desempenamento demasiado da argamassa (MUSSE; COELHO;
GONÇALVES; SILVA, 2020). Um exemplo dessa anomalia pode ser
observado na figura a seguir.

Figura 3 – Exemplos de fissuras mapeadas em argamassas

Fonte: adaptada de Musse et al. (2020).

41
Essa manifestação patológica afeta apenas parâmetros estéticos,
devendo atentar-se para a atividade de abertura das fissuras, pois, eles
podem representar problemas de infiltração e de desplacamento.

2.1.2 Fissuras horizontais

As fissuras horizontais são extremamente comuns em rebocos, em


geral, sua aparição é decorrente do assentamento da alvenaria. Quando
ocorre o assentamento da alvenaria, por causa do peso próprio das
estruturas e carregamentos da edificação, a argamassa sofre fissurações
por expansão da argamassa.

Outra possível explicação para essa anomalia são as reações químicas


que ocorrem devido aos constituintes da argamassa ou, até mesmo,
da relação destes com a superfície de assentamento, como pode-se
observar no exemplo na Figura 4.

Figura 4 – Exemplos de fissuras horizontais em argamassas

Fonte: elaborada pelo autor.

2.1.3 Fissuras de encunhamento

Quando é executada a estrutura e o levantamento da alvenaria de


vedação é iniciado, não é recomendado que a alvenaria seja fechada
até o encontro da viga superior nos primeiros dias após a desforma
da edificação. Isso se deve ao fato de que a estrutura ainda irá exercer
algum trabalho nos elementos estruturais, por causa de seu peso

42
próprio e carregamentos. Por estas razões, na última fiada, geralmente,
o bloco de vedação não consegue preencher por completo o vão entre
a penúltima fiada de alvenaria de vedação e a viga superior. Assim,
o executor tem duas opções: fazer o preenchimento desse vão com
argamassa plástica (para trabalhar com as deformações sem repassar a
carga para a alvenaria) ou usar a técnica do encunhamento com pedaços
da alvenaria de vedação (VAZ; CARASEK, 2019).

Esse encunhamento sofrerá deformações com as cargas da estrutura


até sua estabilização, por essas razões a execução do revestimento
argamassado deve aguardar que a estrutura se estabilize. Caso esse
procedimento não seja respeitado, pode ocorrer o surgimento de
fissuras ao longo da linha do encunhamento, ou seja, logo abaixo da
parte inferior da viga, conforme a Figura 5.

Figura 5 – Exemplos de fissuras horizontais em argamassas

Fonte: elaborada pelo autor.

2.2 Deslocamento

O deslocamento se trata do fracionamento das camadas do


revestimento, podem ser localizadas ou se estender por toda a
superfície do local revestido.

43
2.2.1 Deslocamento por empolamento

Esse tipo de manifestação patológica ocorre em regiões com elevado


teor de cal e, geralmente, ocorre o destacamento do reboco do emboço
e a formação de bolhas que sofrem aumento gradativamente. O
deslocamento pode ser identificado por meio do som cavo feito ao bater
no reboco (SCHIMELFENIG et al., 2018).

2.2.2 Deslocamento em placas

Por causa da falta de aderência das camadas de revestimento com sua


base, o revestimento pode se descolar da alvenaria, em partes ou por
completo. Por sua vez, argamassas com camadas espessas ou com
excesso de aglomerantes são as principais causas desta anomalia (VAZ;
CARASEK, 2019).

2.2.3 Deslocamento por esfarelamento

O esfarelamento da argamassa, ou tecnicamente denominada de


pulverulência, ocorre em revestimentos pintados. Isso acontece
devido ao destacamento da pintura, que por consequência acaba
carregando partículas do reboco. Essa manifestação patológica ocorre
por causa do tempo insuficiente de carbonatação da cal da argamassa,
principalmente na ocorrência da aplicação da pintura no revestimento
em um período inferior a 30 dias após a aplicação do reboco. Além
disso, outra possibilidade é o uso de pouco aglomerante na argamassa
(SCHIMELFENIG et al., 2018).

2.3 Eflorescência, bolor e manchas por sujeiras

A eflorescência é formada por depósitos salinos nas superfícies de


alvenaria, esse fator surge por causa da quantidade de sais presentes
no cimento da argamassa. Ele possui como característica a formação de
veios brancos e calcinados, e esses fenômenos afetam as características
estéticas da edificação, entretanto, caso seus sais sejam capazes de

44
penetrar profundamente na peça, podem provocar desagregação
profunda nos revestimentos argamassados. Além disso, a eflorescência
pode ser classificada em três diferentes tipos:

Tipo 1: é o tipo mais comum de eflorescência, caracteriza-se por ser


um depósito de sais de cor esbranquiçada, pulverulento e bem solúvel
em água. Esse tipo prejudica apenas aspectos estéticos da edificação
e possui uma fácil remoção. Desse modo, essa anomalia pode ocorrer
tanto em superfícies de alvenaria quanto na de argamassas.

Tipo 2: o segundo tipo é observado com menor frequência nas


edificações, caracteriza-se por um depósito de sais de cor branca e com
padrões de escorrimento na superfície, bem aderente e pouco solúvel
em água. Esse tipo de eflorescência, quando em contato com ácido
clorídrico apresenta efervescência. Nessas condições, a eflorescência
apresenta difícil remoção da superfície, podendo surgir em locais
como destacados no Tipo 1, tendo como efeito negativo apenas nas
características estéticas da edificação.

Tipo 3: extremamente raro nas edificações, esse tipo de eflorescência


ocorre como um depósito de sais entre as juntas das alvenarias de
vedação, ocorrendo, principalmente, por causa de fissurações por
dilatação ou trabalho da estrutura e pela expansão da argamassa de
assentamento.

Outra manifestação patológica são os bolores, esse fenômeno ocorre


por causa da presença de microrganismos pertencentes ao grupo dos
fungos nas superfícies. Ele se caracteriza por uma mancha de coloração
esverdeada, preta, avermelhada, branca ou verde escuro, a coloração
da mancha pode sofrer variações com o tipo de organismo, reações
químicas que ele pode realizar e pelas características do substrato onde
ele se encontra alojado. O desenvolvimento do bolor está diretamente

45
relacionado à presença de água, seja ela por conta de infiltração ou
até vazamentos. Ainda, a temperatura pode influenciar na proliferação
desses organismos. Essa manifestação, por sua vez, apresenta apenas
efeitos negativos à estética da edificação.

Por fim, outra manifestação patológica é o surgimento de manchas por


sujeiras na edificação. Elas ocorrem por causa da presença de terra,
poeira, fuligem e partículas contaminantes presentes no ambiente em
que a edificação se encontra. Como consequência, esses elementos
podem penetrar nos poros das peças argamassadas, manchando
permanentemente a superfície. Uma vez que isso ocorre, dificilmente
é possível remover o encardido da superfície, sendo necessário a
revitalização da superfície, seja com pintura ou refazendo novamente o
revestimento argamassado.

3. Revestimento não argamassados

A maioria das manifestações patológicas que observamos nos


revestimentos argamassados podem ser reaplicadas nos revestimentos
não argamassados, como é o caso do destacamento do revestimento,
trincas e fissuras, eflorescências, manchas por sujeira e bolor.
Entretanto, a diferença se trata de que esses fenômenos ocorrem em
superfícies de revestimentos não argamassados, como é o caso de
pedras, cerâmicas, porcelanatos, madeiras etc.

Os destacamentos de revestimentos não argamassados ocorrem por


causa da perda de aderência com a sua camada de fixação, ou entre
essa camada e seu substrato. Isso é ocasionado quando as tensões
que surgem nas peças ultrapassam as de capacidade das ligações de
aderência. Geralmente, essas manifestações patológicas ocorrem após

46
um ano de utilização da edificação e, comumente, em pontos localizados
da superfície instalada (PESSANHA et al., 2019).

Já as trincas e fissuras em revestimentos não argamassados ocorrem


devido aos esforços mecânicos, ocasionando na separação da peça.
As principais causas desses efeitos é a dilatação e retração das peças
por causa da variação térmica ou de presença e perda da umidade do
material, gerando tensões internas nas peças; deformação excessiva
da estrutura, colocando as peças de revestimento não argamassado
em situações de estresse por tensões, quando passadas da estrutura/
alvenaria para o revestimento (podendo haver destacamento do
substrato); e, também, ausência de detalhamento construtivo, como
espaçamento entre as peças (juntas de dilatação e características da
massa de rejunte), verga e contra verga, pingadeiras, entre outros
detalhamentos de projeto (PEREIRA; SILVA; COSTA, 2013).

O gretamento em peças esmaltadas apresenta características como


pequenas fissuras mapeadas, isso ocorre pelo fissuramento da
camada esmaltada do material. Essas fissuras aparecem devido ao
fato de a camada de esmalte não ser capaz de absorver as pequenas
deformações das peças, o gretamento pode ser do tipo imediato e
retardado. O gretamento imediato, por sua vez, acontece ao longo
do processo de fabricação da peça esmaltada, enquanto o retardado
ocorre após a instalação do material, e sua deformação (geralmente,
não excessiva) por causa de umidade e/ou retração e expansão da
peça. Esses movimentos provocadores de tensões no material podem
ser originados devido a cura da argamassa (retração do cimento por
falta de cura), movimentações higroscópicas, dilatação térmica ou,
até mesmo, pelo movimento da estrutura, conforme exemplificado na
figura a seguir.

47
Figura 5 – Exemplos de gretamento em revestimentos esmaltados

Fonte: acervo do autor.

4. Impermeabilizantes

Os impermeabilizantes são designados para proteção da edificação


com relação à água e intemperes da natureza, assim, eles podem ser
classificados em três principais grupos: os impermeabilizantes rígidos,
semiflexíveis e os flexíveis (Quadro 1). Em geral, eles são voltados para que
sejam evitadas as manifestações patológicas nas edificações, entretanto,
quando mal executados ou quando empregados em locais e finalidades
nas quais são foram desenvolvidos, a fim de não exercer suas funções
corretamente, ou apresentar problemas que, futuramente, ocasionam o
surgimento de patologias nas edificações (LIMA; PASSOS; COSTA, 2013).

Quadro 1 – Classificação dos impermeabilizantes e materiais utilizados


Classificação Tipo/Material
Concreto impermeável com aditivos
Concreto impermeável sem aditivos
Rígido Argamassa com hidrofugantes
Cimentos impermeabilizantes e polímeros
Cimentos impermeabilizantes e líquidos seladores

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Argamassa aditivadas com polímeros
Semiflexível Epóxi isento de solventes
Epóxi flexibilizado
Membranas asfálticas
Membranas poliméricas
Membranas
Membranas elastoméricas
Membranas acrílicas
Flexível
Mantas asfálticas
Mantas poliméricas
Manta
Mantas elastoméricas
Mantas plásticas
Fonte: adaptado de Freire (2007).

Os impermeabilizantes rígidos têm como principal característica baixa


capacidade de absorver deformações com relação a sua base de
instalação, especificadamente deformações localizadas como fissuras e
trincas. Enquanto os flexíveis suportam uma maior deformação da base,
pois, possuem propriedades elásticas, em geral, eles são reforçados com
materiais resistentes à tração.

A definição do tipo de impermeabilização que deve ser executada para


os diferentes sistemas estruturais, nos quais busca-se a estanqueidade,
depende essencialmente das condições estruturais e das forças atuantes
nos sistemas, por exemplo, pressão hidrostática, frequência da umidade,
exposição ao calor, movimentação das bases, cargas sob o sistema de
impermeabilização, entre outros.

A NBR que determina as diretrizes dos sistemas de impermeabilização


é a NBR 9.574, de 2008, Execução de impermeabilização. Nela são
apresentadas as exigências e recomendações com relação à execução
da impermeabilização com os requisitos mínimos necessários para
proteção da edificação contra a passagem de fluidos, bem como
aspectos voltados para o conforto e a segurança dos usuários da
edificação (ABNT, 2008).

49
De acordo com a norma, os principais pontos de uma edificação que
necessitam de impermeabilização são: nas fundações e cortinas de
estacas de contenção, reservatórios de fluidos (água por exemplo),
piscinas, coberturas e áreas externas expostas à umidade e calor, áreas
internas das edificações em que estão expostas à umidade (áreas
molhadas e banheiros por exemplo), vigas baldrames (fundação rasa) e
pavimentações (ABNT, 2008).

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 9.574: execução de
impermeabilização. Rio de Janeiro: ABNT, 2008.
FREIRE, M. A. Métodos executivos de impermeabilização de um
empreendimento comercial de grande porte. 2007. 72 f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Engenharia Civil)–Departamento de Construção Civil
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Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/0366-69132019653742508. Acesso em: 25
nov. 2020.

51
Sistemas hidráulicos, estruturais
e elétricos das edificações
Autoria: Arthur Ribeiro Torrecilhas
Leitura crítica: Gisele V. de Oliveira Martin

Objetivos
• Abordar os sistemas hidráulicos, elétricos e aspectos
estruturais relacionados a esses conceitos.

• Apresentar as diferentes manifestações patológicas


recorrentes nesses sistemas.

• Discorrer as possíveis soluções para as


manifestações patológicas identificadas.

52
1. Sistemas estruturais

Ainda que os conceitos sobre os sistemas estruturais tenham sido


apresentados em temas anteriores, precisamos voltar para uma parcela
desse conceito. Nesse contexto, devemos nos atentar quanto a sua
compatibilidade com os demais sistemas da edificação, em especial, os
sistemas hidráulicos e os sistemas elétricos. Dessa maneira, nota-se que
as estruturas, sejam elas de concreto armado, madeira ou aço, possuem
limitações quanto às suas capacidades estruturais quando é necessária
a redução de sua seção.

Por exemplo, uma tubulação hidráulica ou elétrica que necessite ser


transpassada por dentro de uma viga de concreto armado. Para passar
essa tubulação, através do elemento estrutural, ocorrerá a perda de seção
da peça estrutural, podendo afetar a estrutura a ponto de ocasionar o
surgimento de manifestações patológicas na edificação. Não que seja
proibida essa manobra de projeto, pois, ela é permitida dentro dos
conceitos adotados pela NBR 6.118 (ABNT, 2014), em seu item 21.3.3, mas
ela deve ser executada dentro das conformidades da referida normativa,
além dos devidos reforços de armação no local do transpasse.

Outro ponto que relaciona os sistemas estruturais com os demais


sistemas da edificação, refere-se às incompatibilidades de projetos,
portanto, reforçando a necessidade de fiscalização, nível de
detalhamento e comunicação entre todos os projetos de uma edificação.
Dessa forma, vale ressaltar a importância da comunicação entre os
sistemas, a fim de que erros em tais situações sejam evitados.

1.1 Compatibilidade de projetos

A compatibilização de projetos é um mecanismo que possibilita analisar


diversos projetos de um mesmo escopo em busca de sobreposições de
elementos, compatibilidade de sistemas e demais verificações. Ou seja,

53
verificar se todos os elementos da edificação e seus sistemas conversam
entre si, e se não apresentam nenhuma incompatibilidade que possa
a vir ocasionar um erro construtivo e uma possível manifestação
patológica à edificação. Por exemplo, uma tubulação de água fria
que passa no meio de uma janela de vidro, um ducto (ou conduíte)
corrugado de fiação elétrica que passa pelo centro de uma viga de
madeira, entre outros.

Para a compatibilização de projetos, podemos empregar metodologias


tradicionais, como o comparativo “olho a olho” ou podem ser
utilizados programas computacionais para a leitura e identificação de
conflitos na edificação projetada, como é o caso da tecnologia BIM
(Building Information Modeling), utilizada por Marsico et al. (2017) em
seu trabalho de pesquisa para identificação de erros provenientes
de incompatibilidade de projeto. Na Figura 1 podemos observar a
identificação desses erros.

Figura 1 – Identificação de erros de compatibilização com uso de BIM

Fonte: adaptada de Marsico et al. (2017).

54
Conforme a Figura 1, podemos notar que na imagem A ocorre a
intersecção de uma escada com o cruzamento de um box do banheiro
social do andar inferior. Enquanto na imagem B, podemos observar
a incompatibilidade com os projetos elétricos, sendo que um dos
componentes do sistema elétrico, nesse caso, o quadro de disjuntores,
encontra-se posicionado no centro de uma esquadria do pavimento.
Na imagem C, observa-se a tubulação de ventilação do sistema de
esgotamento sanitário passando por dentro de uma janela. Por
fim, na imagem D, observamos uma prumada elétrica no mesmo
alinhamento vertical que o elemento estrutural viga. Como apresentado
anteriormente, essa condição é usual, porém, apenas quando prevista
previamente em projetos estruturais, em caso contrário, deve ser
tratado como incompatibilidade e revisado.

Dessa maneira, podemos entender como os elementos estruturais


podem ser prejudicados por causa da má disposição de projetos, sendo
necessário sua verificação para evitar possíveis erros que podem vir a
ocasionar futuras manifestações patológicas na edificação. Ainda, além
do problema de compatibilização, os sistemas hidráulicos e elétricos
podem vir a calhar outros problemas nas estruturas, como é o caso de
incêndios, na questão de componentes elétricos, e infiltrações, como é o
caso dos componentes hidráulicos.

1.2 Sistema hidráulicos, elétricos e influências nos


sistemas estruturais

Além da compatibilização de projetos, podemos observar a influência


dos sistemas hidráulicos e elétricos nas estruturas. Com relação aos
sistemas elétricos, podemos notificar sua relevância principalmente
quando relacionado às estruturas de madeira, onde a falta de cuidado
com a execução e/ou emprego de materiais incorretos e/ou, ainda,
dimensionamento incorreto podem ocasionar uma sobrecarga no

55
sistema, provocando um curto circuito, nos piores casos, causando um
sinistro na edificação.

Pelo lado hidráulico, além dos problemas de compatibilização


observados anteriormente, podemos destacar vazamentos que
ocasionam a infiltração de fluidos na estrutura ou no solo, neste último,
provocando o recalque na edificação, ocasionando outras patologias
estruturais. Ainda, dependendo de como a impermeabilização
foi executada, pode-se gerar um bolsão de água entre a manta
de impermeabilização e o revestimento do piso, provocando
“ensopamento” (alagamento) do pavimento.

2. Sistemas elétricos

Com o passar dos anos, a capacidade elétrica de uma edificação sofre


alterações, como a quantidade de equipamentos energizados e a
sofisticação deles são maiores que quando comparados com anos
passados. Por exemplo, o uso de fritadeiras elétricas, fornos elétricos,
máquinas de lavar e secar, equipamentos que atualmente compõem
boa parte das residências familiares e, consequentemente, ocasionaram
um aumento na demanda energética das residências. Portanto, é
necessário o redimensionamento e readequação da capacidade elétrica
das edificações que sofreram aumento no uso de recursos energizados.

Entre esses desafios da construção civil, com relação aos sistemas


elétricos, podemos identificar uma série de agentes causadores, como:
dimensionamento incorreto, execução incorreta, material inadequado
ou com baixa qualidade e má utilização dos equipamentos por parte dos
usuários. Em decorrência desses fatos, há manifestações patológicas
como queda de disjuntores, descargas elétricas, incêndios, sobrecargas,
fuga de corrente, entre outras.

56
Em um estudo realizado por Rodrigues (2013), o autor relata que as
manifestações patológicas nas instalações elétricas representam 6,95 %
das reclamações nas edificações (resultado semelhante ao pesquisado
por Boscarriol Jr., em 2013). Desse percentual, 48% apresentam defeitos
com acabamentos, 20% cabos soltos, 20% falta de acabamento, como
falta de espelhos, e apenas 1% erro de fechamento de circuito.

Entretanto, ao observarmos esses dados podemos notar que muitos dos


apontamentos são aparentemente visíveis, sendo necessário um estudo
aprofundado com relação aos agentes defeituosos ocultos na edificação,
por exemplo, interferências hidráulicas, falta de isolamento e imperícias
na edificação, como apresentaremos nas páginas seguintes.

Ainda de acordo com Rodrigues (2013), 96% das instalações elétricas em


território nacional desenvolvem algum tipo de anomalia que coloque o
sistema elétrico da edificação em risco. Por isso vez, isso pode acontecer
por falta de manutenção, recomendações de projeto com falhas,
materiais de qualidade inferior, bem como o não cumprimento de
normas, como a NBR 5.410 (ABNT, 2004).

Nesse sentido, testar o sistema elétrico antes mesmo de realizar sua


conclusão é uma das diretrizes solicitada e recomendada pela NBR
5.410 (ABNT, 2004), que relata que o sistema deve ser testado antes
de realizar sua conclusão, por exemplo, verificação do isolamento
do cabeamento, conexões sem intersecções, verificações quanto à
resistência do eletrodo terra, verificação dos dispositivos de manobra e
dos dispositivos de proteção da rede.

Os problemas elétricos podem vir a ocorrer de diferentes maneiras,


como em componentes dos quadros de alimentação ou de distribuição;
partes expostas (partes vivas), como emendas isoladas de forma
incorreta e fios em processo de deterioração; em soquetes de lâmpadas,
por causa da interrupção do fio terra na chegada do equipamento; em

57
aparelho com ausência ou falta de aterramento, infiltração por umidade,
fuga de corrente, sobretensão, curto circuito, entre outros.

2.1 Manifestações patológicas

Segundo Bernardes et al. (1998), em um estudo sobre as patologias de


sistemas elétricos foi identificado que 32% deles estão relacionados com
interferências entre sistemas hidráulicos e elétricos, seguido de 37% de
isolamento inadequado. Nesses casos, consequentemente, falhas por
umidade tornam-se corriqueiras.

A Figura 2 apresenta um exemplo de interferência do sistema


hidráulico com o estrutural, esse fato provavelmente ocorreu por
causa da incompatibilidade de projetos. Além disso, pode-se observar a
dificuldade do acesso para futuras manutenções quando necessárias.

Figura 2 – Interferência entre sistema hidráulico e elétrico

Fonte: Rodrigues (2013, p. 83).

Ademais, outro problema que envolve não só a incompatibilização


de projetos, mas também o isolamento dos sistemas elétricos de
uma edificação, está relacionado à vedação e impermeabilização
dos componentes onde o sistema se encontra, seja ela uma caixa de

58
inspeção elétrica sem a devida proteção de umidade do solo, bem
como a fiação fora dos conduítes ou sem isolamento adequado. Na
Figura 3, você pode observar essas condições, em que em uma caixa de
passagem, com presença de umidade por infiltração, os cabos expostos
e sem adequada proteção podem sofrer deterioração, prejudicando o
sistema de eletricidade da edificação.

Figura 3 – Umidade em caixa de passagem e fios desencapado

Fonte: Rodrigues (2013, p. 83).

No entanto, nem sempre as manifestações patológicas estão


relacionadas ao projeto e execução, podendo estar vinculadas à defeitos
em peças, mesmo que elas sejam de origem de um fabricante de
excelência, como é o caso da Figura 4, em que podemos observar um
interruptor com defeito em uma de suas teclas.

Figura 4 – Peça do interruptor com defeito

Fonte: Rodrigues (2013, p. 84).

59
Ainda, podemos destacar os problemas relacionados com o modo como
os usuários atuam no uso dos sistemas elétricos da edificação, em
muitos casos, ocasionado pelo planejamento incorreto do projeto. Por
exemplo, o projetista não considerou a quantidade de pontos de energia
(tomadas) o suficiente para atender a todos os objetos do cômodo da
edificação, consequentemente, o usuário, se mal instruído, irá utilizar de
maneira indevida os poucos pontos de energia disponíveis, gerando uma
sobrecarga no sistema elétrico, podendo levar a queda do disjuntor,
danificar aparelhos domésticos, curto circuito e, até mesmo, incêndios.

Nesse contexto, suponha que em sua sala de estar existe apenas um único
ponto de energia, em que você precisa conectar um telefone, uma televisão,
um rádio, um aparelho de som e muitos outros equipamentos eletrônicos.
A forma correta de lidar com essa situação seria com a utilização de um
filtro de linha com sistema de proteção contra picos de energia, nesse
caso, um fusível. Entretanto, muitos usuários, por desconhecer dos
perigos quanto as instalações elétricas, acabam fazendo uso de benjamins
(mais conhecido como tê ou adaptador, dependendo da regionalidade),
encavalados com inúmeras conexões, sobrecarregando o sistema elétrico
da edificação, conforme o exemplo da figura a seguir.

Figura 5 – Uso incorreto do sistema elétrico da edificação

Fonte: Nascimento (2014, p. 28).

60
Esses são os principais problemas causadores de manifestações
patológicas como fuga de corrente, curto circuito e sobretensão nas
redes elétricas. O curto circuito ocorre quando a corrente elétrica
assume uma intensidade elevada por causa da baixa resistência em
um circuito, normalmente, provocados pela perda de isolamento da
fiação ou algum outro elemento do sistema. Para que seja evitado
um curto circuito, recomenda-se o uso de fusíveis ou disjuntores para
distribuir a corrente elétrica. Os disjuntores interrompem a energia
por queda automática, ou seja, desligam a corrente quando detectadas
altas intensidades, já os fusíveis queimam por não resistirem à essas
elevadas cargas, impedindo a continuidade da corrente elétrica aos
demais equipamentos. A vantagem do uso de disjuntores é que eles,
quando isolados por trechos, são desarmados apenas no trecho onde
apresentou sobrecarga, possibilitando uma análise e reparo localizado e
não generalizado.

A sobretensão, por sua vez, se trada das diferenças de potencial


anormais que surgem em um circuito, danificando os componentes
energizados na rede. Elas podem ser classificadas de acordo com seu
tempo de duração, por exemplo, uma corrente de elevada amplitude
e curta duração se enquadra como uma descarga atmosférica. A
NBR 5.410 (ABNT, 2004) ressalva que, em zonas expostas à raios
é amplamente recomendada a instalação de dispositivos que não
provoquem curto circuito nas instalações, tendo como principal função
a proteção contra as descargas elétricas da atmosfera geradoras de
sobretensão no sistema, nesse caso, os para-raios.

Já as fugas de correntes ocorrem quando ela encontra um caminho


de resistência menor, sendo dissipada para a terra. Esse fenômeno
patológico ocorre por causa da má execução do isolamento dos
equipamentos e sistemas energizados. Como consequência, há o
aumento considerável no consumo, uma vez que a corrente está
sendo distribuída para a terra, gerando possíveis danos aos materiais
energizados e, até mesmo, incêndios.

61
Portanto, em resumo, nota-se a importância dos cuidados com o
projeto, execução, materiais aplicados e uso dos sistemas elétricos da
edificação, evitando possíveis surgimentos de patologias na edificação.

3. Sistemas hidráulicos

Nas edificações, a presença de manifestações patológicas nos sistemas


hidráulicos se torna cada vez mais recorrente, tanto por meio dos erros
de projetos, execução, material inadequado, quanto pelo uso indevido
dos equipamentos sanitários e/ou falta de manutenção.

Entre os sistemas hidráulicos podemos observar alguns subgrupos,


como o sistema de água fria, sistema de águas residuais, sistema
de água quente, sistema de coleta de água pluvial e sistemas de
armazenamento/reservatórios. Por sua vez, geralmente, nesses
sistemas ocorrem as patologias da edificação, sendo necessário seu
conhecimento e compreensão.

3.1 Sistema de distribuição de água fria

Há muitos elementos e acessórios que compõem o sistema de


distribuição de água fria em uma edificação, sendo responsáveis
pelo seu correto funcionamento. Entre as anomalias de maior
frequência nas edificações, podemos citar: pressão insuficiente,
mau funcionamento das válvulas e registros, rompimento de
tubulações, ruídos e vibrações excessivas, entre outras. As principais
manifestações patológicas identificadas em sistemas hidráulicos
de água fria são: níveis insuficientes de pressão; deformação
em tubulações aparentes ou ocultas; danos e entupimentos na
tubulação; vazamentos; danos em equipamentos e acessórios; ruídos
e vibrações; e, por fim, má qualidade da água.

62
3.2 Sistema de distribuição de água quente

Nas edificações que fazem uso do sistema hidráulico de água quente,


além das patologias que podem surgir nas tubulações de água fria,
existem aquelas relacionadas a temperaturas elevadas, levando em
verificação de cálculo o material empregado bem como suas tecnologias
de ligação. Para isso, a NBR 5.626 (ABNT, 2020), que diz respeito aos
sistemas prediais de água fria e água quente, exemplifica as diretrizes
quanto ao seu projeto, execução, operação e manutenção. Por
exemplo, as tubulações de água quente exercem temperatura e pressão
diferentes das demais tubulações de água fria, consequentemente, a
deformação é distinta da de água fria, bem como os materiais também
devem ser apropriados para altas temperaturas.

Assim, além das manifestações recorrentes em tubulações de água


fria, as principais manifestações patológicas identificadas em sistemas
hidráulicos de água quente são: deformação por dilatação térmica da
tubulação, perda de calor ao chegar no ponto de saída da água quente,
demora para chegada da água quente na tubulação de saída e corrosão
em tubulações.

3.3 Sistema hidráulico de águas residuais

Os sistemas hidráulicos de águas residuais são caracterizados pela


elevada concentração de material orgânico contaminante, por exemplo,
fezes, urina, gorduras de cozinhas, entre outros materiais. Nesse
contexto, vale ressaltar que o sistema de águas residuais deve ser
isolado com sistemas únicos para águas de cinzas e águas negras.
Por fim, entre as principais manifestações patológicas encontradas
nestes sistemas, podemos citar: fortes odores, retorno de espuma dos
ralos, ruptura de tubulações, entupimentos, deformações excessivas,
vazamentos, ruídos, entre outros.

63
3.4 Sistema hidráulico de águas pluviais

Os sistemas hidráulicos de águas pluviais são responsáveis pela


condução e/ou captação das águas meteóricas, ou seja, águas
provenientes de chuvas. Geralmente, essa água é coletada por
uma superfície, em geral, pelo telhado ou laje com certa inclinação
para escoamento até as calhas de canalização. Por sua vez, essas
calhas devem estar sempre limpas e desobstruídas, possibilitando
o escoamento livre do fluido, caso contrário, elas podem vir a
sofrer excesso de carga (por conta do material úmido). As principais
manifestações patológicas identificadas em sistemas hidráulicos de água
pluvial são: entupimento e/ou obstrução de ralos, grelhas, canaletas e
caixas de passagem; vazamentos, vazamentos por ruptura e ruptura
propriamente dita; e ruídos excessivos.

3.5 Sistema hidráulico de reservatórios de água

Por fim, os reservatórios possuem a função de acumular e armazenar


os fluidos, sejam eles para uso posterior ou futuro descarte. Desse
modo, um reservatório pode ter suas dimensões variando conforme
a necessidade da edificação e de seus ocupantes/usuários. Alguns
reservatórios, por trabalharem com grandes quantidades de água,
precisam ser edificados com concreto armado, diferentemente
dos pequenos reservatórios, como caixas d’água, que podem ser
confeccionadas em materiais plásticos. Em casos de reservatórios com
grandes volumes de fluido armazenado, eles podem apresentar esforços
diferentes nos quais geram possíveis manifestações patológicas na
edificação. Com relação aos diferentes tipos de reservatórios, entre as
principais manifestações patológicas podemos citar: qualidade da água;
sistemas de drenagem e boias de controle volumétrico; vazamentos
(fissuras e trincas) por diferenciais de pressões; transbordamento; e, por
fim, dimensionamento errado do volume necessitado.

64
3.6 Condições de habitabilidade

De acordo com a discussão desta disciplina, podemos observar que


esses sistemas, sejam eles hidráulicos, elétricos, estruturais e demais
sistemas, representam como um todo características que proporcionam
uma melhor qualidade na edificação, prolongando seu tempo de vida
útil e a habitabilidade destas. Entretanto, ainda, observamos que se trata
de uma via de duas mãos, em que tanto o projetista, executor e usuário
possuem suas obrigações bem definidas, por exemplo, de nada adianta
um excelente projeto, uma perfeita execução, se o usuário faz o mau
uso da edificação. O oposto também é válido, de nada adianta o usuário
fazer o uso correto da edificação, se os problemas são referentes à
execução e/ou projeto.

Dessa maneira, cabe a você, profissional responsável pela análise do


ambiente edificado, a identificação dessas anomalias, classificação e, é
claro, prescrição das possíveis soluções para correções.

Referências Bibliográficas
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5.410: instalações elétricas
de baixa tensão. Rio de Janeiro: ABTN, 2004.
ABNT. Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 5.626: sistemas prediais de
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Portugal: ENaSB, 2010.

66
BONS ESTUDOS!

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