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WBA0825_V1.

ENGENHARIA REVERSA E
PROTOTIPAGEM
2

Isabelle Therezinha Simão

ENGENHARIA REVERSA E PROTOTIPAGEM


1ª edição

São Paulo
Platos Soluções Educacionais S.A
2021
3

© 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A.

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
_________________________________________________________________________________________
Simão, Isabelle Therezinha
S588e Engenharia reversa e prototipagem / Isabelle Therezinha
Simão, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A.,
2021.
44 p.

ISBN 978-65-89965-39-8

1. Engenharia Reversa. 2. Métodos e equipamentos na


engenharia reversa. 3. Prototipagem e desenvolvimento de
um produto. I. Título.

CDD 620
____________________________________________________________________________________________
Evelyn Moraes – CRB-8 SP-010289/O

2021
Platos Soluções Educacionais S.A
Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César
CEP: 01418-002— São Paulo — SP
Homepage: https://www.platosedu.com.br/
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ENGENHARIA REVERSA E PROTOTIPAGEM

SUMÁRIO

Engenharia Reversa: Conceitos e Aplicações__________________ 05

Métodos e Equipamentos na Engenharia Reversa ____________ 18

Prototipagem Rápida__________________________________________ 30

Prototipagem e o Desenvolvimento de Produto_______________ 42


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Engenharia Reversa: Conceitos e


Aplicações
Autoria: Isabelle Simão
Leitura crítica: Guilherme Fernando Ribeiro

Objetivos
• Compreender os principais fatores relevantes à
Engenharia Reversa: conceitos, etapas de processo e
principais aplicações.

• Conhecer a abordagem da Engenharia Reversa no


âmbito legal.

• Entender o cenário da Engenharia Reversa dentro da


Indústria 4.0.
6

1. Engenharia Reversa

O termo Engenharia Reversa, também conhecido em inglês por Reverse


Engineering, está relacionado a um conjunto de variadas práticas
tecnológicas em constante evolução e que envolvem diferentes setores
disciplinares. A origem desse termo, que pode ser definido como
Reconstrução ou, até mesmo, Recuperação, é desconhecida, porém,
para a comunidade científica existem diversas definições para expressá-
lo. De modo geral, trata-se de um processo em que se objetiva gerar
um modelo conceitual a partir de informações coletadas de um modelo
físico já existente (AVIZ, 2010; LIMA, 2003).

Diferentemente da Engenharia Convencional, na Engenharia Reversa,


como o próprio nome sugere, o processo ocorre de trás para frente.
Nesse caso, o modelo físico já existe e necessita-se de um modelo virtual
para que as etapas da engenharia possam então ser reestruturadas
(ULBRICH, 2003).

Segundo Raja e Fernandes (2008), alguns dos motivos para utilizar a


Engenharia Reversa são:

• Criar um modelo, objeto, produto ou ferramental a partir de um já


existente.

• O item original não é mais concebido pelo seu fabricante.

• A documentação original de um projeto, seja ele de produto,


protótipo ou processo, não existe mais ou está inadequado.

• Inspeção e/ou Controle de Qualidade.

• Algumas regiões de um produto podem estar danificadas ou, até


mesmo, com desgaste excessivo e necessitam ser eliminadas.
7

• Analisar aspectos relevantes em produtos concorrentes de forma a


filtrar características boas e ruins.

• Criação de animações em jogos e filmes a partir de dados 3D


adquiridas por meio de objetos físicos.

• Documentação e medição arquitetônica e de construção.

• Geração de dados para planejamento de procedimentos cirúrgicos


ou criar próteses dentárias e cirúrgicas, a partir de tecidos ou
partes do corpo.

• Documentação e reprodução de cenas de crime.

Ao longo dos anos, a Engenharia Reversa vem se transformando e


mudando os processos de dimensionamentos ou rastreamentos que,
anteriormente, se faziam de forma manual e extremamente trabalhosos,
para uma poderosa ferramenta de engenharia que utiliza equipamentos
de ponta tanto para a etapa de aquisição (digitalização) quanto para a
etapa de modelagem pelos sistemas CAD/CAM (Computer Aided Design/
Computer Aided Manufacturing).

1.1 Etapas da Engenharia Reversa


A divisão do processo de Engenharia Reversa pode ocorrer em três
principais fases: a digitalização do objeto ou produto, criação de seções
e, finalmente, a reconstrução do modelo CAD a partir das informações
coletadas e dos dados digitalizados.

• Digitalização dos dados tridimensionais.

• Criação de seções.

• Reconstrução tridimensional.
8

É muito comum que a etapa de aquisição dos dados geométricos seja


o primeiro passo do processo. Nesse contexto, muitos pesquisadores
denominam com o termo digitalização e, por sua vez, ela contribui com
uma diversidade de equipamentos dimensionais para esse fim, que vem
evoluindo com o passar dos anos, conforme ilustra a Figura 1. Destaca-
se que os principais fatores críticos para o sucesso do processo são:
evitar qualquer estrago no modelo físico e a velocidade de trabalho
(SOKOVIC; KOPAC, 2006; PUNTAMBEKAR et al., 1994).

Figura 1 – Exemplos de sensores de digitalização–da esquerda para a


direita: sensor com contato e sensores ópticos

Fonte: Sokovic e Kopac (2006, p. 10).

Os dados obtidos na etapa de aquisição são denominados conjunto


de pontos, ou também o termo comumente empregado como nuvem
de pontos. É muito importante que ocorra a perfeita captação dessa
nuvem, pois a distância entre esses pontos definirá a qualidade das
imagens, em específico nas regiões onde há mudanças acentuadas de
curvaturas, cantos vivos ou detalhes bastante específicos.

Dessa forma, capturar informações de um modelo físico a partir


de pontos definidos em um espaço tridimensional é o conceito de
digitalização construído por Souza e Ulbrich (2009). Além disso,
a segunda etapa é caracterizada pela interpretação dos dados
digitalizados, ou seja, o sequenciamento dessas informações e a criação
de seções para, posteriormente, serem devidamente editadas dentro
de uma ferramenta CAD. Outras informações como cortes e medições
podem ser extraídas diretamente da malha de triangulação ou também
9

conhecida como nuvem de pontos, conforme o esquema apresentado


na figura a seguir (LIMA; 2003; SOUZA; ULBRICH, 2009).

Figura 2 – Esquema simplificado da Engenharia Reversa

Digitalização Criação das seções Modelo CAD

Fonte: adaptada de Aviz (2010).

Sequencialmente, a terceira fase do processo se trata da reconstrução


tridimensional ou criação do desenho em plataformas CAD a partir dos
arquivos de digitalização. Nesse caso, o CAD reconstrói a superfície
de uma região específica e combina essas superfícies em um modelo
completo até originar aquilo que representará a peça ou protótipo
digitalizado. Além disso, essa é uma etapa extremamente manual, pois
a geometria deve ser reconstruída sobre os pontos fornecidos pela
digitalização. Toda interação e ajustes são realizados pelo operador do
software CAD, sendo essa uma das etapas mais trabalhosas, visto que,
dependendo do tamanho e detalhes da peça física, resultará em uma
expressiva densidade de pontos no espaço a serem retrabalhadas.

Por meio de muita pesquisa e de troca de informações com engenheiros


especializados em ferramentas CAD/CAM, percebe-se uma grande
evolução no desenvolvimento de softwares e aplicativos responsáveis
por realizar todo o procedimento de reconstrução das geometrias de
forma automática e sem qualquer intervenção manual, principalmente
para objetos de forma complexa. Entretanto, ainda existem muitas
particularidades que devem ser analisadas por projetistas mais
10

experientes, inclusive para que erros não afetem o dimensional do


produto final (AVIZ, 2010; LIMA, 2003).

1.2 Aplicações da Engenharia Reversa


Devido à alta competitividade crescente, as empresas buscam
constantemente aumentar a qualidade de seus produtos e baixar seus
custos, por esse motivo, elas optam por utilizar a Engenharia Reversa
como um grande recurso beneficiador. Na indústria, suas aplicabilidades
estão diretamente ligadas à criação de novos objetos, melhoria ou, até
mesmo, correções em modelos já existentes, inspeção de qualidade
e documentação de itens, bem como cópia de modelos já criados. A
seguir são descritos com maiores detalhes algumas dessas etapas e suas
respectivas ilustrações.

• Criação de um novo produto ou objeto: ocorre quando um novo


modelo é originado a partir de um objeto físico já existente. Na
indústria é muito comum a criação de modelos físicos manualmente
baseados em funcionalidades e necessidades que precisam ser
digitalizadas e, posteriormente, reconstruídas. Isso ocorre também
nas primeiras fases de desenvolvimento de produto, na concepção
do modelo. As regiões muito complexas e superfícies arredondadas
podem ser convertidas em um modelo computacional por meio de
mecanismos de Engenharia Reversa, conforme exemplo a seguir.

Figura 3 – Criação de um novo produto ou objeto

Fonte: Lima (2003, p. 13).


11

• Correção/Melhoria de um modelo danificado: o emprego da


Engenharia Reversa combinado com técnicas de reconstrução, que
não deve conter erros geométricos oriundos do modelo original,
em sistemas computacionais permitem a confecção de um modelo
substituto ao que se encontra danificado. Como exemplo, pode-se
citar o caso de ferramentais antigos que com o passar do tempo
sofrem desgastes ou, até mesmo, quebras e avarias.

• Inspeção de peças/produto: realizar a digitalização de superfícies


de modelos pode promover a comparação entre o modelo
computacional e o modelo físico original. Existem diversos
produtos e objetos difíceis de inspecionar através de métodos
convencionais, como o para-brisas de um automóvel ou a espuma
de um acento (Figura 4). Nesse caso, em que não se pode utilizar
um método com contato para inspeção, pois a espuma deformaria
ocasionando erros dimensionais e defeitos bem evidentes,
uma inspeção sem toque se faz necessária, garantindo que as
tolerâncias sejam controladas. Digitalizar um modelo possibilita
a comparação entre o modelo computacional e o modelo físico,
dessa forma, é possível relacionar os erros geométricos existentes
no objeto real e no projeto CAD e gerar relatórios incluindo regiões
com desvios geométricos, a partir de tolerâncias preestabelecidas
no projeto.

Figura 4 – Inspeção de peças


12

Fonte: Lima (2003, p. 13).

Documentação através de desenhos: comumente em indústrias ou


organizações mais antigas, os dados técnicos necessários para manter
e reparar equipamentos ou ferramentais não estarem finalizados. Além
disso, ocorre que a informação atual ou simplesmente necessária dentro
de um projeto foi perdida ou, até mesmo, encontra-se desatualizada.
Por meio da Engenharia Reversa, é possível gerar essas documentações,
pois, adequações como essas representam um problema global
bastante recorrentes.

Figura 5 – Documentação de desenhos

Fonte: Lima (2003, p. 13).

• Reprodução de um modelo já existente: em alguns casos, não


existem desenhos ou quaisquer informações sobre um modelo.
Na indústria automobilística, por exemplo, alguns modelos
de carros mais antigos tiveram seus ferramentais construídos
artesanalmente, com pouca ou nenhuma documentação eletrônica
computacional, e continuam produzindo peças até hoje. Caso haja
necessidade de inserir novos detalhes na produção, é necessário
um novo ferramental idêntico ao original, no entanto, a Engenharia
13

Reversa pode reconstruir todas as características do molde,


auxiliando na confecção de novo ferramental, conforme observa-
se exemplo a seguir.

Figura 6 – Cópia de um modelo existente

Fonte: Lima (2003, p. 13).

1.3 Aspectos Legais da Engenharia Reversa

Stefanelli (2020) afirma que as intenções da Engenharia Reversa estão


diretamente relacionadas com a apropriação estratégica de novos
conceitos a partir da reconstrução de um conceito já existentes.

Desse modo, não existe uma lei específica sobre Engenharia Reversa
no Brasil, entretanto, quando se utiliza a Engenharia Reversa é possível
proceder de duas formas: não a considerar um crime caso a Engenharia
Reversa não tenha como intuito a pirataria ou a infração de algum
direito autoral. Porém, caso contrário, seus autores serão protegidos
pela Lei de Software e, também, de Direitos Autorais.

Para algumas aplicações, a Engenharia Reversa é vista como detentora


de “melhores práticas”. Nas comunidades científicas, inclusive, ela
pode ser considerada uma ferramenta de grande eficácia para o
desenvolvimento tecnológico, sobretudo quando vista como um
fenômeno sem ideais (STEFANELLI, 2020).

Por meio da redução de custos, a Engenharia Reversa permite acelerar


o processo de desenvolvimento, além de criar estímulos para o
surgimento e crescimento de novas tecnologias. Além disso, segundo
14

Stefanelli (2020), ela estimula fortemente a criação e a invenção e,


por isso, muitos autores relacionam a Engenharia Reversa como um
permanente vai e vem entre o que é legal e o que é ilegal.

1.4 Engenharia Reversa na Indústria 4.0

A globalização traz com ela uma nova geração de usuários da Era


Digital preparados para o acesso a um mercado inovador e cada vez
mais competitivo. Com as melhorias da internet, todos os setores são
afetados e estão se “virtualizando”, por meio dos bancos de dados
e mídias sociais, tais como tablets, smartphones e, principalmente,
acessos remotos na internet (CARMONA, 2017).

Toda essa transformação digital teve início na feira de Hannover, na


Alemanha, no ano de 2011, e seu conceito está relacionado ao Plattform
Industrie 4.0, um projeto da indústria alemã com o intuito de transformar
os modelos industriais de produtividade da atualidade e torná-los mais
competitivos (TELES, 2018).

Então, observou-se que tudo que está ligado à tecnologia da informação


ou com os meios de telecomunicação eram os maiores responsáveis
pelo suporte e alimentação das linhas de produção. A partir disso,
iniciou-se pela Europa o entendimento das vantagens de haver
implantação dessa metodologia para renovar a partir da criação de
uma nova estrutura para a produtividade e economia dos processos
industriais do futuro (SACOMANO; SÁTYRO, 2018; TELES, 2018).

Quando se fala em Indústria 4.0, a palavra de ordem certamente é


digitalização, inteligência artificial, conectividade e internet das coisas.
O principal objetivo da inovação dentro dos meios industriais pela
manufatura digital é eficiência, minimização de erros referentes a custos
durante os processos, além de possibilitar a integração de sistemas
automáticos. Assim sendo, antes mesmo de dar início a produção,
é preciso realizar o planejamento, em seguida, faz-se a simulação e,
15

na sequência, a sua validação para finalmente dar início à produção


manufaturada. Nesse contexto, a Engenharia Reversa está intimamente
ligada à filosofia da Indústria 4.0.

Todo esse novo modelo de avanço tecnológico passa a envolver distintas


tecnologias que podem ser intercaladas ou combinadas entre si e são
formadas por outras onze tecnologias, de acordo com Teles (2018):

• Rastreabilidade.

• Realidade aumentada.

• Nuvem de dados.

• Criptografia aumentada.

• Big data e data analytics.

• Simulação.

• Visão artificial.

• Internet das coisas (IOT).

• Sistemas cyber-físicos.

• Manufatura aditiva.

• Robô colaborativo.

Esse novo molde de cenário industrial requer muita dedicação quando


se fala na dinâmica dos produtos oferecidos pelas empresas, em
seus respectivos valores, investimentos ligados aos processos de
treinamentos, tecnologias e, acima de tudo, sobre o retorno econômico
que tudo isso pode ofertar. Inevitavelmente, essas mudanças
exigem desenvolvimento de equipamentos, mudanças no layout das
16

empresas, inclusive alterações nos processos de relacionamento entre


colaboradores e clientes, a fim de aproximá-los cada vez mais da
tecnologia na Indústria 4.0 (ROCHA; VENDRAMETTO, 2016).

Referências
AVIZ, D. Estudo da técnica de engenharia reversa para construção de
geometrias complexas focando erros de forma e métodos de digitalização
geométrica. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Sociedade
Educacional de Santa Catarina, Joinville, 2010.
BARDAL, E. de O. Indústria 4.0: estudo da aplicação em centros de distribuição.
Brasil Escola, 2020. Disponível em: https://monografias.brasilescola.uol.com.br/
engenharia/industria-40-aplicacao-logistica.htm. Acesso em: 26 abr. 2021.
CARMONA, A. L. M. Análise dos impactos da indústria 4.0 na logística
empresarial. 2017. Monografia (Bacharel em Engenharia de Transportes e
Logística) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico de Joinville,
2017.
FURTADO, L. B.; ASSAD, M. M. N. Engenharia reversa como ferramenta de melhoria
em processos de montagem de novos produtos. In: ENCONTRO NACIONAL
DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 32., 2012, Bento Gonçalves. Anais [...] Bento
Gonçalves: ABEPRO, 2012.
LIMA, C. B. S. Engenharia Reversa e Prototipagem Rápida – Estudo de Casos.
Dissertação (Mestrado de Engenharia Mecânica)–Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2003.
KULMAN, C. Desenvolvimento de um sistema protótipo de sinterização seletiva
a laser, visando a obtenção de componentes com gradientes funcionais. 2006.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2006.
MURY, L. G. M. Uma metodologia para adaptação e melhoria de produtos a
partir da engenharia reversa. 2000. Dissertação (Mestrado em Engenharia de
Produção)–Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, 2000.
PUNTAMBEKAR, N. V.; JABLOKOW, A. G.; SOMMER, H. J. Unified review of 3D
model generation for Reverse Engineering. Journal of Computer Integrated
Manufacturing Systems, [s. l.], v. 7, p. 259-268, 1994.
RAJA, V.; FERNANDES, K. J. Reverse engineering – an industrial perspective. UK:
Springe, 2008.
17

ROCHA, A.; VENDRAMETTO, O. Seleção de indicadores de eficiência da


competitividade industrial brasileira. São Paulo: Blucher, 2016.
SACOMANO, J. B.; SÁTYRO, W. C. Indústria 4.0: conceitos fundamentais. São Paulo:
Blucher, 2018.
SOKOVIC, M.; KOPAC, J. RE (reverse engineering) as necessary phase by rapid
product development. Journal of Materials Processing Technology, [s. l.], v. 175,
p. 398-403, 2006.
SOUZA, A. F.; ULBRICH, C. B. L. Engenharia Integrada por computador e sistemas
CAD/CAM/CNC: princípios e aplicações. São Paulo: Artliber, 2009.
STEFANELLI, E. J. Engenharia reversa: discussão a respeito de sua validade e
legalidade. 2020. Disponível em: https://www.stefanelli.eng.br/engenharia-reversa-
validade-legalidade/. Acesso em: 27 nov. 2020.
TELES, J. Indústria 4.0 – Tudo que você precisa saber sobre a Quarta Revolução
Industrial. Engeteles, 2018. Disponível em: https://engeteles.com.br/industria-4-0/.
Acesso em: 26 abr. 2021.
ULBRICH, C. B. L. Engenharia reversa e prototipagem rápida: estudos de casos.
2003. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica)–Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Engenharia Mecânica, Campinas, 2003.
18

Métodos e Equipamentos na
Engenharia Reversa
Autoria: Isabelle Simão
Leitura crítica: Guilherme Fernando Ribeiro

Objetivos
• Entender os principais fatores relevantes à etapa de
Digitalização.

• Conhecer exemplos de equipamentos utilizados no


processo de aquisição.

• Compreender alguns dos problemas operacionais


relevantes oriundas do processo.
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1. Digitalização

1.1 Conceito

A digitalização pode ser definida como o processo de aquisição de dados


matemáticos em um espaço tridimensional. Ou seja, as coordenadas da
superfície da peça são capturadas e ela deve ter seu referenciamento
em um sistema de coordenadas cartesiano. Segundo Lima (2003), o
resultado de todo esse processo é uma nuvem de pontos, uma espécie
de casca ou imagem em 3D, conforme a figura a seguir.

Figura 1 – Representação de um modelo físico e o mesmo modelo


digitalizado (nuvem de pontos)

Fonte: adaptada de Aviz (2010).

Os milhões de pontos coletados formam um conjunto de coordenadas


também classificados como (x, y, z); (x, y, z, c) quando o equipamento de
aquisição consegue absorver outras informações referentes ao modelo
físico, como a cor e a temperatura. Ainda, temos a classificação do tipo
(x, y, z, i, j, k) quando o digitalizador é capaz de gerar diversas inclinações
e elas são registradas (LIMA, 2003).

Outros aspectos como organização dos pontos, incerteza das


coordenadas e a velocidade de aquisição estão diretamente
20

relacionados à tecnologia utilizada no processo. Há vários métodos e


com o passar do tempo esses métodos estão ficando cada vez mais
robustos e atingindo diversas demandas de peças muito pequenas a
peças de volumes maiores (LIMA, 2003).

1.2 Métodos

Pode-se classificar como método de digitalização duas principais


categorias: a digitalização com contato e a digitalização sem contato.

A digitalização por meio de contato físico com a peça física tem como
objetivo obter pontos do modelo a ser medido por um componente
específico das tecnologias dessa categoria, que são os probes ou
apalpadores. Esse método necessita de um hardware específico para
realizar toda a operação, em que os mais utilizados são: Máquina
de Medição por Coordenadas (MMC), Braço de Medição e, até
mesmo, dentro de Centros de Usinagem CNC (Comando Numérico
Computadorizado) (AVIZ, 2010; WIMPENNY; KOBBELT; BOTSCH, 2009).

O método de contato físico apresenta ainda dois tipos de técnicas para a


aquisição: ponto a ponto e varredura (ou também chamado de scanning).
Na técnica ponto a ponto, o apalpador encosta na superfície da peça
e se desloca em diferentes direções, sucessivamente. Trata-se de um
procedimento bastante trabalhoso e que envolve muito tempo para ser
finalizado, quando se trata de superfícies muito complexas (AVIZ, 2010;
SAVIO; CHIFFRE; SCHMITT, 2007).

Já a metodologia via scanning, o apalpador permanece em contato


com o modelo físico e se desloca pela superfície em uma direção
preestabelecida pelo usuário. Nesse procedimento, o tempo de
aquisição é menor e o número de pontos é bem maior, em relação ao
método ponto a ponto (AVIZ, 2010; SAVIO; CHIFFRE; SCHMITT, 2007).
21

A digitalização por meio de sistemas que não utilizam contato físico


objetiva capturar vários pontos simultaneamente de forma rápida
e ágil. Nesse método, a nuvem de pontos é originada pelo princípio
de projeção de uma faixa de laser sobre a peça. A peça pode ser
facilmente rotacionada para que diferentes ângulos sejam digitalizados
possibilitando alta precisão e qualidade na varredura.

1.3 Etapas

As etapas que compreendem o processo de digitalização podem


ser definidas como: limpeza, estabilização térmica, planejamento de
medição e qualificação do equipamento ou apalpador de medição. A
seguir apresenta-se uma breve descrição de cada uma delas.

É primordial que haja controle na limpeza do modelo antes e durante


as medições, principalmente quando utilizar a medição com contato,
pois impurezas podem causar qualquer tipo de erro ou comprometer o
apalpador (SOUZA; ULBRICH, 2009).

Em seguida, orienta-se que a peça permaneça estabilizada termicamente


em um ambiente com temperatura próxima de 20 °C. Essa etapa está
relacionada com as variações dimensionais que diferentes materiais
podem sofrer e, consequentemente, afetar os dados de medição
(SOUZA; ULBRICH, 2009).

Após a estabilização térmica é necessário criar um esquema de fixação


da peça na mesa ou suporte em que será digitalizada. A fixação garante
que a peça permaneça firme e estável. Contudo, alguns tipos de peças
podem gerar deformações ou, se muito leves, podem mover-se do
sistema de coordenadas quando apalpadas (SOUZA; ULBRICH, 2009).

Tendo concluída as etapas de preparação de peça e de ambiente, o


planejamento das medições já pode ser iniciado. Esse planejamento é
22

de grande importância, pois compreende de fato o início da digitalização


(SOUZA; ULBRICH, 2009).

Primeiramente, deve-se realizar a qualificação do equipamento ou


apalpador de medição utilizando uma peça padronizada, calibrada,
muitas vezes fornecida junto com o equipamento de medição. Em
seguida, um sistema de coordenadas deve ser criado exatamente na
posição da peça em relação ao sistema de coordenadas da máquina,
para que ela possa reconhecer o modelo em seu envelope de medição
(SOUZA; ULBRICH, 2009).

Na sequência, as medições dos pontos na superfície da peça já podem


ser iniciadas. A representação do resultado da digitalização pode
ser visualizada através do software específico para o procedimento.
Finalmente, toda a varredura poder ser exportada em formato
apropriado e futuramente importado em um sistema CAD (SOUZA;
ULBRICH, 2009).

1.4 Tipos de equipamentos

Os braços articulados de medição, máquinas de medir por coordenadas


e centros de usinagem são alguns exemplos de equipamentos utilizados
na digitalização de superfícies (LIMA, 2003; AVIZ, 2010).

Nos equipamentos de medição por meio de contato, a superfície da peça


é apalpada e a informação tridimensional é expressa em um sistema de
referência pré-determinado. Já os desvios geométricos da peça, como
desvios de erros da forma, são facilmente identificados. A avaliação
de conformidade e inspeção da qualidade ocorre comparando esses
parâmetros com as especificações de projeto (LIMA, 2003; AVIZ, 2010).

Alguns centros de usinagem CNC (Comando Numérico


Computadorizado) permitem a utilização de um apalpador em vez de
uma ferramenta de corte e, ao longo da trajetória de fabricação, podem
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realizar medições definidas sobre o modelo físico, conforme a figura a


seguir. Quando o controle numérico não for dotado de funções para
digitalizar é possível utilizar um computador que recebe uma placa de
interface com o apalpador (LIMA, 2003; AVIZ, 2010).

Figura 2 – Digitalização em fresadora CNC

Fonte: Aviz (2010, p. 18).

Com 5, 6 ou 7 graus de liberdade são compostos os braços articulados


de medição, além de medidores angulares de precisão (encoders) para
reconhecer a posição de um apalpador ou de um sistema laser, no
espaço tridimensional. Entretanto, os braços apresentam algumas
limitações quanto a velocidade de aquisição, influenciada ainda por
parâmetros como força de medição e usuário que opera o equipamento,
conforme Figura 3.
24

Figura 3 – Braços articulados de medição

Fonte: Gonçalves (2006 apud AVIZ, 2010, p. 20).

As MMCs (Máquinas de Medição por Coordenadas) foram desenvolvidas


exclusivamente para uso em salas de metrologia, pois são equipamentos
que necessitam de temperatura controlada e oferecem incertezas de
medição muito pequenas, relativas a outros processos (Figura 4). Já os
braços são excelentes equipamentos para serem utilizados dentro do
chão de fábrica ou em locais de difícil acesso, com relativa facilidade
para o usuário.

Figura 4 – Digitalização por faixa de laser

Fonte: Weckenmann et al. (2009 apud AVIZ, 2010, p. 22).

Existem diferentes abordagens para classificar os equipamentos de


aquisição sem contato. Por sua vez, essa classificação está associada
a tecnologia de processamentos das informações digitalizadas.
Atualmente, três princípios são bem conhecidos perante a sociedade
25

cientifica para digitalização: digitalização por faixa de laser, digitalização


por fotogrametria e digitalização por luz branca estruturada.

• Digitalização por faixa de laser


Cabeçotes de digitalização que utilizam faixa de laser estão sendo
empregados de forma a substituir os tradicionais apalpadores utilizados
em MMCs (Máquinas de Medir por Coordenadas). Assim, seu princípio
de funcionamento está relacionado ao sistema que projeta um feixe de
laser perpendicular à peça e captura a informação da superfície da peça
por meio de uma câmera, empregando métodos de triangulação ou
time-of-flight, conforme Figura 5.

Figura 5 – Digitalização por faixa de laser

Fonte: Gestel et al. (2008 apud AVIZ, 2010, p. 25).

• Digitalização por fotogrametria


A técnica que determina o tamanho e a forma de um objeto por meio
da análise feita por duas câmeras ou mais imagens bidimensionais
gravadas em uma película ou por meios eletrônicos. A fotogrametria
é o inverso da fotografia, pois ela reconstrói a estrutura 3D a partir de
imagens em 2D em diferentes posições ou vistas. Diferentemente das
demais técnicas, a fotogrametria parte do conhecimento de imagens
26

capturadas em um mesmo ponto por câmeras diferentes e por meio da


triangulação as coordenadas tridimensionais são calculadas (Figura 6).

Figura 6 – Digitalização por fotogrametria

Fonte: Jouaneh, Giri e Stucker (2004 apud AVIZ, 2010, p. 32).

• Digitalização por luz branca estruturada


O princípio da luz branca estruturada utiliza um conjunto de uma ou
duas câmeras CCD (Charged Coupled Device ou Dispositivo de Carga
Acoplado) e um projetor de luz branca estruturada. O ângulo formado
por esses elementos é constante e, também, conhecido como ângulo de
triangulação, conforme a figura a seguir.

Figura 7 – Digitalização por luz branca estruturada

Fonte: Park e Chang (2009 apud AVIZ, 2010, p. 33).


27

O projetor emite a faixa de luz branca sobre a superfície da peça a ser


medida, então, a câmera CCD coleta as coordenadas referentes a esta
posição por triangulação. Esse processo ocorre repetidamente. Várias
tomadas de imagens são realizadas até completarem a nuvem de
pontos.

1.5 Limitações e dificuldades do processo de


digitalização

Algumas dificuldades e limitações podem surgir durante o processo de


digitalização. Esses problemas podem estar relacionados com calibração,
acessibilidade, oclusão, fixação, falhas e, também, quanto a superfície de
acabamento. A seguir são descritos cada um desses problemas (LIMA,
2003; AVIZ, 2010).

Calibração: todo equipamento ou somente o sensor de digitalização


deve ser calibrado para específicos parâmetros de precisão,
principalmente porque necessitam fornecer os dados dentro das
limitações de possíveis erros sistemáticos. Além disso, diversas outras
características contribuem para o acúmulo de erros, como as distâncias
a serem medidas e os detalhes móveis dos equipamentos.

Acessibilidade: esse quesito varia conforme as diferentes vistas


alcançadas para se fazer uma boa imagem. Mesmo assim, algumas
regiões são impossíveis de alcançar, por exemplo, furos muito pequenos
ou muito profundos.

Oclusão: esse problema ocorre na maior parte das vezes em


digitalizadores ópticos, porém, outros tipos também podem apresentar
esse tipo de bloqueio de sombra ou obstrução.

Fixação: o método de fixação pode acabar fazendo parte da peça,


durante as digitalizações. Para remover, é preciso muito trabalho
28

manual ou, até mesmo, múltiplas digitalizações e ela podem introduzir


ainda mais erros no processo.

Falhas ou dados incorretos: os ruídos ocorrem devido fortes vibrações,


reflexos, excesso de luz e deformações da peça causadas pelo apalpador
mecânico. Os atuais softwares específicos para esses procedimentos
apresentam diversas ferramentas e filtros para eliminar os ruídos
antes, durante e após o modelo ser construído. Para filtrar ruídos, usa-
se a suavização, porém, deve-se tomar muito cuidado e utilizá-los com
moderação para não deformar as imagens da peça.

Superfície de acabamento: o tipo de superfície a ser digitalizada é um


item muito importante. Objetos com cores específicas, muito rugosas
ou macias podem afetar no resultado final. Os métodos que utilizam
o princípio óptico ou através de apalpação podem sofrer mais e gerar
maus falhas. Um espelho é exemplo disso, pois necessita de um produto
específico para ser aplicado para deixá-lo branco e fosco. O cabelo
humano também é uma superfície bastante difícil de digitalizar.

Referências
AVIZ, D. Estudo da técnica de engenharia reversa para construção de
geometrias complexas focando erros de forma e métodos de digitalização
geométrica. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Sociedade
Educacional de Santa Catarina, Joinville, 2010.
GESTEL, N. V. et al. A performance evaluation test for laser line scanners on CMMs.
Journal of Optics and Lasers in Engineering, [s. l.], v. 21, p. 100-107, 2008.
GIRI, D.; JOUANEH, M.; STUCKER, B. Error sources in a 3-D reverse engineering
process. Journal of Precision Engineering, [s. l.], v. 28, p. 242-251, 2003.
GONÇALVES, C. R. Um estudo comparativo de sistemas de medição aplicáveis
ao controle dimensional de superfícies livres em peças de médio e grande
porte. 2006. Dissertação (Mestrado), Universidade Federal de Santa Catarina, 2006.
JOUANEH, M.; GIRI, D.; STUCKER, B. Error sources in a 3-D reverse engineering
process. Journal of Precision Engineering, v. 28, pp. 242-251, 2004.
29

LIMA, C. B. S. Engenharia Reversa e Prototipagem Rápida – Estudo de Casos.


Dissertação (Mestrado em Metrologia)–Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2003.
PARK, S. C.; CHANG, M. Reverse engineering with a stuctured light system. Journal
of Computers & Industrial Engineering, [s. l.], v. 57, p. 1377-1384, 2009.
RAJA, V.; FERNANDES, K. J. Reverse engineering – an industrial perspective.
Londres: Springe, 2008.
SAVIO, E.; CHIFFRE, L.; SCHMITT, R. Metrology of freeform shaped parts. Journal
of Metrology, [s. l.], v. 56, p. 810-835, 2007.
SOUZA, A. F.; ULBRICH, C. B. L. Engenharia Integrada por computador e sistemas
CAD/CAM/CNC: princípios e aplicações. São Paulo: Artliber, 2009.
WECKENMANN, A. et al. Multisensor data fusion in dimensional metrology. Journal
of Manufacturing Technology, [s. l.], v. 52, p. 164-194, 2009.
WIMPENNY, M.; KOBBELT, L.; BOTSCH, M. An interactive approach to point cloud
triangulation. Internacional Journal of Measurement, [s. l.], v. 39, p. 724-737,
2009.
30

Prototipagem Rápida
Autoria: Isabelle Simão
Leitura crítica: Guilherme Fernando Ribeiro

Objetivos
• Compreender os principais fatores relevantes ao
tema Prototipagem.

• Conhecer exemplos de equipamentos utilizados no


processo.

• Compreender suas etapas, aplicações e a relação da


prototipagem com a Engenharia Reversa.
31

1. Prototipagem

1.1 Conceito

O termo Prototipagem Rápida está relacionado ao grupo de tecnologias


que empregam a fabricação de objetos a partir de projetos gerados
em ferramentas CAD (Computer Aided Design ou projeto assistido
por computador). Todas as tecnologias que pertencem a esse grupo
possuem uma característica em comum, a capacidade de fabricação
camada por camada e, por esse motivo, são muito vantajosas em
diversas aplicações quando comparadas aos processos de fabricação
convencionais como fresamento e torneamento (LIMA, 2003; AVIZ, 2010).

Por meio da prototipagem é possível fabricar de forma rápida modelos


concretos e, muitas vezes, funcionais. Além disso, eles auxiliam
visualmente na tomada de decisões durante discussões de projeto.
Entretanto, o termo “rápido” é extremamente relativo, pois a fabricação
de alguns protótipos pode levar de 2 a 72 horas, a depender do
tamanho, complexidade da peça e do equipamento utilizado (LIMA,
2003; AVIZ, 2010).

Com o avanço e inovações das tecnologias de Prototipagem Rápida,


a própria nomenclatura evoluiu com o objetivo de normatizá-la. As
entidades como a ASTM (American Society for Testing and Materials),
nos Estados Unidos e a VDI (Verein Deutscher Ingenieure), na Alemanha,
propuseram o uso do termo Manufatura Aditiva, pois, assim, é possível
entender que as tecnologias empregadas não são aplicadas somente na
construção de protótipos e sim em diversos setores industriais (LIMA,
2003; AVIZ, 2010).
32

1.2 Tecnologias

A primeira técnica de RP comercial foi a Estereolitografia, porém,


atualmente, existem mais de 20 processos diferenciados e disponíveis
no mercado. De modo geral, os processos de RP são divididos em:

Prototipagem subtrativa ou também conhecida pela sigla SRP


(Subtractive Rapid Prototyping), em que as peças fabricadas são
originadas a partir do desbaste sucessivo em um bloco de diversos tipos
de matéria-prima, desde alumínio, ferro, polímeros e entre outros.

Prototipagem aditiva, onde as peças surgem a partir da adição de


matéria-prima, que também apresenta diversas opções.

Nos últimos anos, diversas tecnologias de prototipagem rápida, capazes


de construir modelos físicos a partir de desenhos CAD, vem sendo
cada vez mais popularizadas e utilizadas na indústria. Por exemplo,
Sinterização Seletiva a Laser (SLS), Estereolitografia (SLA), Manufatura
de Objetos em Lâminas (LOM), Modelagem por Deposição de Material
Fundido (FDM) e impressora tridimensional (3D Printing) tem como
característica em comum a construção de seus objetos através da
adição de matéria-prima, cama por camada. A seguir, apresenta-se uma
descrição desses principais sistemas.

Estereolitografia (SLA): em inglês, Stereolithography, trata-se de um


processo que fabrica modelos tridimensionais utilizando polímeros
líquidos sensíveis à luz, que se tornam sólidos quando expostos à
radiação ultravioleta. O modelo é construído sobre o equipamento
possui uma plataforma abaixo da superfície, me que se encontra a
resina epóxi ou acrílica líquida e por onde é construído o modelo. As
camadas são traçadas a partir da emissão de um raio laser ultravioleta
de alta precisão de foco e solidifica a seção transversal. Na sequência,
um elevador mergulha a plataforma no polímero líquido e o raio laser
traça a próxima camada de polímero sólido em cima da primeira
33

camada. Esse processo é repetido sucessivamente até que o modelo


seja finalizado e, assim, removido do banho de polímero e devidamente
lavado. Segundo Lima (2003), os suportes que sustentam a peça ou,
até mesmo, detalhes da peça podem existir e, nessa etapa final, são
removidos e levados para um forno de radiação ultravioleta, para
completar sua cura, conforme a figura a seguir.

Figura 1 – Processo Estereolitografia (SLA)

Fonte: Lima (2003, p. 39).

Manufatura de Objetos em Lâminas (LOM): em inglês, Laminated Object


Manufacturing, é a técnica que se baseia em depositar sucessivas
camadas de folhas de materiais, como filmes plásticos, papel, tecido
ou folhas metálicas material, conforme Figura 2. A matéria-prima se
encontra em tiras revestidas de adesivo que são coladas umas nas
outras formando o modelo. Por meio de uma fonte de raio laser de
alta precisão e foco, o contorno da primeira camada sobre o papel é
cortado e um rolo aquecido consegue unir a camada anterior, assim
sucessivamente até que o processo seja finalizado (LIMA, 2003).
34

Figura 2 – Processo Manufatura de Objetos em Lâminas (LOM)

Fonte: adaptada de Lima (2003).

Sinterização Seletiva a Laser (SLS): Em inglês Selective Laser Sintering,


nessa técnica uma camada fina de pó termo fundível é depositado com
o auxílio de um rolo aquecido sobre uma superfície. Por sua vez, um
feixe de laser do tipo CO2 sinteriza as regiões selecionadas, aderindo o
pó nas áreas que representam a peça naquela camada especificamente,
conforme Figura 3. Há várias deposições realizadas até que o processo
seja finalizado. De acordo com Lima (2003), o pó que não participa da
sinterização funciona como suporte para segurar a peça ou detalhes
dela e é removido ao final.
35

Figura 3 – Sinterização Seletiva a Laser (SLS)

Fonte: adaptada de Lima (2003).

Modelagem por Deposição de Material Fundido (FDM): em inglês, Fused


Deposition Modeling, esta técnica se baseia no aquecimento de uma
resina termoplástica e extrudada a partir de um bico que se move no
plano X-Y. O bico de extrusão deposita filetes muito finos da matéria-
prima em uma plataforma de construção, formando sucessivamente as
camadas (Figura 4). A plataforma é aquecida, menos do que a matéria-
prima, e é ela que faz as movimentações em Z (LIMA, 2003).

Figura 4 – Modelagem por Deposição de Material Fundido (FDM)

Fonte: adaptada de Lima (2003).


36

Impressão 3D: em inglês, 3D Printing. Essa é uma técnica que se refere


a classe inteira de equipamentos que utilizam a tecnologia de jato em
tinta. O processo se baseia em utilizar um cabeçote de jato de tinta que
junto à um líquido de função aglomerante, liga a matéria-prima em
pó a base de gesso ou amido situado em um recipiente, assim como
representado na figura a seguir.

Figura 5 – Impressão 3D

Fonte: adaptada de Lima (2003).

Conforme cada camada é criada, a plataforma é abaixada para que


uma nova camada possa ser depositada. Segundo Lima (2003), o pó
que permanece solto é utilizado como suporte do objeto fabricado,
conforme esquema representado na Figura 6.
37

Figura 6 – Esquema de fabricação por Impressão 3D

Fonte: adaptada de Lima (2003).

Fusão Seletiva a Laser (SLM): em inglês, Selective Laser Melting, é o


processo que produz peças em metal denso cujas propriedades
metalúrgicas são bem relevantes e em razoáveis velocidades de
fabricação. Nessa tecnologia ocorre o varrimento de um feixe de laser
sobre uma camada fina de pó já depositada sobre uma estrutura. O
processo de criação ocorre conforme a direção de varredura do laser
e as camadas da peça são sequencialmente preenchidas com filetes
38

alongados do pó da matéria-prima fundido, ou seja, modelos fabricados


pelo sistema SLM consistem na sobreposição de camadas e filetes (LIMA,
2003; SIMÃO, 2019).

Figura 7 – Modelagem por Deposição de Material Fundido (FDM)

Fonte: adaptada de Simão (2019).

1.3 Aplicações

Inicialmente, os modelos fabricados por meio da Prototipagem Rápida


foram explorados principalmente para avaliações visuais, tanto nas
etapas de projetos, no desenvolvimento de novas ferramentas ou,
até mesmo, na confecção de propostas e orçamentos. Porém, com o
desenvolvimento de novas tecnologias utilizando diferentes matérias-
primas, o leque de aplicações aumentou exponencialmente (LIMA, 2003;
LIRA, 2008).

Os processos de Manufatura Aditiva tem sido cada vez mais procurados


por empresas de diferentes setores. Desde a confecção de ferramentas
rápidas, para produção experimental até nas fabricações para utilização
final, devido sua boa qualidade; dos acessórios femininos até a indústria
automotiva, construção civil, moda, arquitetura, artes e diversas outras
áreas. Na medicina, importantes resultados se destacam utilizando as
39

tecnologias que vão da impressão de próteses, medicamentos e, até


mesmo, criação de tecidos e órgãos (LIMA, 2003; LIRA, 2008).

Nesse contexto, alguns autores afirmam que as barreiras para a criação


de novos produtos e negócios estão diminuindo cada vez mais, já que
na Manufatura Aditiva as máquinas são capazes de criar “quase tudo”
(LIMA, 2003; LIRA, 2008).

1.4 Etapas

Para a fabricação de um protótipo, a etapa inicial é definida como a


elaboração do desenho CAD, ou seja, a representação geométrica
em modelo sólido. Para a prototipagem, esses dados devem ser
armazenados em formato .stl. O formato .stl é a abreviação do termo em
inglês stereolithography tesselation language, que se trata de um formato
de arquivo de finitos triângulos (LIRA, 2008).

No software específico de processamento da máquina, os dados


geométricos são fatiados ou divididos em diversas camadas. Essa etapa
tem o objetivo de avaliar e corrigir erros que podem ter ocorrido no
processo de desenvolvimento do modelo sólido. Caso necessário, as
falhas encontradas devem ser tratadas. De acordo com Lira (2008), a
estrutura de suporte também deve ser gerada nesta etapa e fatiada
juntamente com o modelo.

Em seguida são definidos outros parâmetros referentes a tecnologia


escolhida, tais como trajetória de fabricação, matéria-prima, velocidade
de varredura, espessura de camada, potência de laser, entre outras
(LIRA, 2008).

De modo geral, pode-se resumir as principais etapas da Prototipagem


Rápida com a construção do modelo digital que em seguida sai do
software CAD e é fatiado em seções transversais digitalmente. As
40

camadas são construídas no equipamento de fabricação e, finalmente,


obtém-se o modelo físico.

1.5 A prototipagem e a Engenharia Reversa

A prototipagem está inserida nas etapas da Engenharia Reversa, de


modo que os modelos manufaturados podem ser desenvolvidos a partir
da modelagem via sistema CAD. Além disso, a integração da digitalização
3D com a Prototipagem Rápida acelera os processos relacionados
ao design e a manufatura de um item em desenvolvimento (RAJA;
FERNANDES, 2008).

Pelo rápido avanço das tecnologias, outras possibilidades vêm surgindo


nas diversas áreas que prototipagem e a Engenharia Reversa abrangem.
Na área biomédica, por exemplo, imagens realizadas pelos processos
de tomografia computadorizada e ressonância magnética podem
facilmente ser transformadas em imagens tridimensionais e aplicadas
de inúmeras formas (RAJA; FERNANDES, 2008).

Referências
AVIZ, D. Estudo da técnica de engenharia reversa para construção de
geometrias complexas focando erros de forma e métodos de digitalização
geométrica. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Sociedade
Educacional de Santa Catarina, Joinville, 2010.
LIMA, C. B. S. Engenharia Reversa e Prototipagem Rápida – Estudo de Casos.
Dissertação (Mestrado de Engenharia Mecânica)–Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2003.
LIRA, V. M. Desenvolvimento de processo de prototipagem rápida via
modelagem por deposição de formas livres sob temperatura ambiente de
materiais alternativos. 2008. Tese (Doutorado em Engenharia)–Escola Politécnica
de São Paulo, São Paulo, 2008.
RAJA, V.; FERNANDES, K. J. Reverse engineering – an industrial perspective.
Londres: Springe, 2008.
41

SIMÃO, I. Utilização de peças padrão para avaliação de erros geométricos


gerados em processos de fusão seletiva a laser. 2019. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Mecânica)–Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, 2019.
42

Prototipagem e o
Desenvolvimento de Produto
Autoria: Isabelle Simão
Leitura crítica: Guilherme Fernando Ribeiro

Objetivos
• Compreender os principais fatores relevantes
Desenvolvimento de Produtos.

• Entender a relação da Prototipagem Rápida com o


Desenvolvimento de Novos Produtos.

• Compreender o processo, suas etapas, aplicações e


a relação da prototipagem com o desenvolvimento
de produtos.
43

1. Desenvolvimento de Produtos

1.1 Conceito

O Processo de Desenvolvimento de Produtos, conhecido também pela


sigla PDP, está relacionado ao conjunto de diversos procedimentos que
procuram atender os desejos e necessidades dos clientes utilizando
soluções e ferramentas adequadas. De acordo com Volpato (2006),
essas metodologias devem contemplar os aspectos de modo geral, as
limitações e as restrições que estão relacionadas ao estudo do projeto.

O PDP é um processo de negócio que está cada vez mais inserido


no comércio nacional e internacional, pois visa a competitividade
entre empresas, abre as portas para a disseminação dos meios
tecnológicos e fortalece o aumento na oferta de produtos variados e,
consequentemente, na baixa do ciclo de vida (VOLPATO, 2006).

1.2 Etapas

A fim de englobar as áreas econômicas e técnicas, alguns autores


afirmam que diversas decisões devem ser tomadas dentro do projeto
e, por isso, de acordo com Rozenfeld (2006), ele pode ser dividido em 5
fases:

1. Avaliação de conceito: é a etapa de análise das possíveis


oportunidades daquilo que se quer gerar, ou seja, do produto.
2. Planejamento e/ou especificação: fase em que se obtém o produto
de forma clara, concisa e, acima de tudo, com as vantagens,
funções e viabilidades bem definidas.
3. Desenvolvimento: trata-se da fase de execução do planejamento e
do detalhamento do processo de projeto.
44

4. Teste e avaliação: nessa etapa realiza-se testes, bem como o


teste final. Além da preparação da produção e do lançamento do
produto.
5. Liberação do produto: essa é a fase final onde são verificados
todos os aspectos relevantes da produção, aos procedimentos
de marketing, a distribuição e, principalmente, ao suporte ao
produto.

A Figura 1 expõe um modelo referencial de definição para o


desenvolvimento de produtos. Nela estão representadas três
macrofases: o pré-desenvolvimento, o desenvolvimento e o pós-
desenvolvimento.

Figura 1 – Representação do processo de desenvolvimento de


produtos

Fonte: Rozenfeld et al. (2006, p. 52).

Inicialmente, compreende-se o pré-desenvolvimento, o qual comtempla


as atividades que darão origem ao produto a ser desenvolvido, tais
como escopo, avaliações relacionadas aos riscos e definição de um plano
de negócio (fase de Planejamento Estratégico dos Produtos). Nessa
45

primeira etapa, busca-se compreender e absorver todas as necessidades


do cliente bem como suas expectativas para que o planejamento possa
ser bem definido. Essa fase contempla pesquisas e benchmarkings e, ao
final, um cronograma com os principais marcos do projeto (ROZENFELD,
2006).

Já a fase de desenvolvimento abre espaço para mais atividades


relacionadas com o projeto de um produto e podem ser divididas em
mais cinco novas etapas: Projeto Informacional; Projeto Conceitual;
Projeto Detalhado, Preparação Produção e Lançamento do Produto.
É nesta fase que a construção de protótipos assume grande potencial
pois auxilia na detecção de problemas em fases iniciais. Além disso, de
acordo com Rozenfeld (2006), nessa fase itens críticos como problemas
nas importações, entrega de protótipos, capacidade de máquina e
equipamentos são detectados e ferramentas FMEA (Failure Model and
Effect Analysis ou Análise de Modo de Falha e Efeito) são utilizados para
analisar potenciais falhas.

Por fim, a etapa de pós-desenvolvimento permite a realização de


um planejamento da forma como o produto será acompanhado e,
consequentemente, retirado do mercado, denominadas de fases de
Acompanhar Produto/Processo e Descontinuar Produto. Além disso,
ele contempla outros aspectos como alterações, reparos de possíveis
falhas, propostas de melhorias e sugestões para descarte do material
para o meio ambiente, em caso de retirada do produto do mercado
(ROZENFELD, 2006).

Atualmente, os consumidores estão cada vez mais exigentes, por isso, o


desenvolvimento de produto se faz além de um processo de transformar
ideias em projeto de fabricação. Nesse contexto, os clientes estão
muito mais focados em outros aspectos como durabilidade, estética e,
principalmente, design (ROZENFELD, 2006).
46

O Design Thinking é o conceito que foca não somente no design, mas


também na inovação. A inovação, portanto, pode ser formada em três
fases:

1. Entendimento: que almeja observar e entender o problema.


2. Ideação: na qual ideias possíveis são geradas e seus respectivos
protótipos são construídos.
3. Implementação: etapa final onde a construção da solução/produto
final é realizada.

Figura 2 – Representação do Design Thinking

Fonte: adaptada de Guimarães (2019, [s.p.]).

Segundo Brown (2010), a prototipagem se faz com um dos processos


mais importantes no PDP que permite explorar o universo e abrir a
mente para novas oportunidade. Portanto, a construção do protótipo
se faz fundamental da concepção de um novo produto ou, até mesmo,
de soluções de cunho inovador. Dessa forma é possível realizar a
experimentação rápida e trazer aprendizado e grandes ideias, mas,
acima de tudo, interagir com o usuário final por meio do protótipo para
garantir o sucesso inovador (ROZENFELD, 2006; BROWN, 2010).
47

1.3 Representação do Produto

Os diferentes formatos de representação de um produto podem ser


utilizados ao longo do processo de desenvolvimento de produtos, tais
como de forma bidimensional (através de esquemas, sketchs, rendering,
layout, entre outros) ou de forma tridimensional. O intuito é fazer com
que a comunicação entre a equipe de projetos, os fornecedores e o
cliente sejam de forma fácil, ágil e integre o conhecimento de todos os
envolvidos no processo (VOLPATO, 2006).

As representações podem variar de acordo com o formato de


construção ou, até mesmo, o processo de fabricação adotado. Além
disso, no geral, seu papel é reduzir ao máximo as dúvidas no decorrer do
processo de desenvolvimento. De acordo com Volpato (2006), as formas
de representação podem ser divididas em dois grupos: representações
de produto em fase inicial do PDP e representações de produto em fase
mais adiantada do PDP.

1.3.1 Representações de produto em fase inicial do PDP

Nas fases iniciais do PDP, em que são realizados os estudos de


concepção, ergonomia, formas, entre outros. De acordo com Volpato
(2006), as representações mais utilizadas são:

1. Maquete: as maquetes são miniaturas reais da representação de


produtos ou serviços. Por meio das escalas reduzidas, a maquete
deve representar as dimensões mais importantes do modelo para
que ele possa ser testado e validado.
2. Modelos Volumétricos: representações construídas com
materiais mais simples como papel, papelão, massa de modelar,
recicláveis e entre outros. Além disso, também podem apresentar
pintura para simular, texturas, acabamento e cor do modelo a
48

ser fabricado. O seu objetivo é facilitar o entendimento definir


informações a respeito do produto.
3. Modelos de Apresentação: os modelos de apresentação, como
o nome já sugere, são destinados a demonstrações em eventos,
exposições, reuniões, clientes, enfim, devem aproximar-se
ao máximo da aparência final do produto. Os materiais mais
utilizados para essa abordagem são poliuretano, fibra de vidro,
MDF e diversos tipos de polímeros.
4. Mock-ups: semelhante a reprodução volumétrica que utiliza
matérias mais simples, porém, associado a testes preliminares e
de ergonomia. Dessa forma é possível avaliar possíveis mudanças,
sem grandes custos e investimentos.

1.3.2 Representações de produto em fase mais adianta do


PDP

Nas etapas de projeto preliminar e detalhamento, Volpato (2006) afirma


que se utilizam os protótipos e dentro desse contexto existem vários
tipos de protótipos:

a. Protótipo visual: modelo utilizado para representar visualmente e


volumetricamente o produto final. Com ele é possível fazer testes
rápidos de ideias, montagem e posição de componentes.
b. Protótipo virtual: diferentemente do protótipo visual, onde
se pode tatear o modelo, no protótipo virtual aspectos
importantes são avaliados de forma virtual, isto é, através de
um computacionalmente. Assim, é possível realizar montagens,
inserir componentes mecânicos e, também, eletrônicos, alterar
dimensões, ajustar furos, conectores, visores, entre outros.
c. Protótipo funcional: geralmente, trata-se de uma versão completa
do modelo final, composto por escala real e demais detalhes que
devem estar inseridos no produto. São utilizados para testes de
49

falha e nem sempre são fabricados pelo processo que realizará a


manufatura seriada.
d. Protótipo parcial: nesse caso, é a forma de representar uma parte
do produto ou, até mesmo, apresentar alguns dos atributos que
o produto irá apresentar. Pode ser fabricado com os mesmos
materiais do produto final, por exemplo, pode-se citar uma placa
eletrônica representando uma parte do sistema do produto final.

1.4 Técnicas de obtenção do Produto


No passado, os protótipos não eram utilizados até se chegar as últimas
etapas do Processo de Desenvolvimento de Produtos, pois a produção
poderia ocasionar muitas despesas ou demandar mais tempo para
executá-los. O surgimento das tecnologias de Engenharia Reversa
auxiliou no avanço da utilização de protótipos quando se fala em custo
e tempo de fabricação. De acordo com Volpato (2006), algumas das
técnicas utilizadas para representação física de produtos são:

• Manual: essa técnica se refere aos procedimentos realizados


artesanalmente, muito utilizados no passado e, atualmente,
pode ainda ser utilizado principalmente nas fases iniciais do PDP,
devido aos custos que acabam sendo muito baixos em relação a
outros métodos. Pode ser executado das mais diversas formas,
acrescentando ou subtraindo vários tipos de materiais, conforme
representação na figura a seguir.
50

Figura 3 – Modelo de apresentação de um automóvel

Fonte: Volpato (2006, p. 50).

• Prototipagem virtual: técnica baseada na utilização de tecnologias


como CAD/CAE/CAM para edição de modelos computacionais
geométricos, facilitando assim correções, alterações, análise
de diversos aspectos no produto antes de ser desenvolvido
fisicamente.

• Prototipagem por usinagem CNC: por meio técnica é possível


obter protótipos físicos mais complexos em menos tempo, em
relação aos outros métodos. Além de precisão dimensional, a
usinagem CNC (representada na Figura 4) pode proporcionar a
utilização de diferentes materiais. Entretanto, existem algumas
restrições relacionadas a geometria da peça como cantos retos ou
canais internos que podem exigir a utilização de outro método de
fabricação.
51

Figura 4 – Protótipo de um braço de guitarra fabricado por


usinagem CNC em madeira

Fonte: Volpato (2006, p. 52).

• Prototipagem rápida: técnica que utiliza deposição, camada por


camada, de diferentes materiais. Há diversas tecnologias de
prototipagem rápida para diferentes demandas, entretanto, elas
ainda não substituem os processos convencionais de fabricação,
como a injeção de polímeros ou fundição.

Figura 5 – Protótipo fabricado em FDM (Fused deposition modeling)

Fonte: Volpato (2006, p. 48).

• Prototipagem utilizando ferramental rápido: técnica utilizada


quando há necessidade de elaboração de um molde-protótipo.
Ocorre também quando se necessita que o protótipo seja 100%
funcional.
52

1.5 Prototipagem e a representação de produto no PDP

Apesar de já existir grande interesse em se utilizar simulações


tridimensionais virtuais de produtos por meio da computação gráfica,
os modelos físicos ainda são fundamentais. A decisão de compra de
um automóvel, por exemplo, necessita das impressões que um modelo
físico pode gerar. Por isso, pode-se afirmar que o PDP é multidisciplinar
integrando várias áreas (VOLPATO, 2006).

As representações tridimensionais são ferramentas de grande


importância, principalmente, em relação à sua capacidade de simulação.
É muito mais fácil assimilar uma informação com algo que possa
ser tocado do que através de desenhos ou ilustrações em um papel
(VOLPATO, 2006).

Portanto, de forma geral, Volpato (2006) cita algumas das várias e


diferentes finalidades da utilização da prototipagem nas representações
de produto dentro do processo de desenvolvimento de produtos:

• Aprendizado: as decisões ao longo do PDP, tomadas pelas equipes


de projeto, se baseiam nas representações construídas para
auxiliar nas respostas e questões de projeto, como ferramenta de
aprendizagem.

• Comunicação: por meio das representações a comunicação fica


mais fácil e rápida, pois, dessa forma, os entendimentos ocorrem
a fim de compartilharem ideias num ambiente composto por
pessoas com diferentes habilidades e opiniões.

• Integração: dentro de uma organização multifuncional, as


representações físicas podem gerar grande integrações.

• Identificação de erros: é muito importante que existam


as verificações antes que o produto passe para a fase de
investimentos em ferramental, por exemplo. Dessa forma, os
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modelos físicos representados podem auxiliar na detecção de


possíveis falhas e erros.

• Marco de projeto: a construção de modelos físicos pode ser


utilizada para representar os marcos de projeto de forma a
demonstrar o progresso de determinadas atividades e recursos.

• Redesign: através do redesign é possível desenvolver modelos


e compará-los ou, até mesmo, modificá-los. Nesse caso, a
representação física auxilia na visualização dos detalhes e
variações a serem realizadas.

• Publicidade: muitas empresas a fim de alcançar resultados


de sucesso para o seu empreendimento preferem utilizar a
construção dos modelos físico e, na sequência, a pesquisa de
mercado, para que possam avaliar o retorno daquilo que será
investido. Ocorre também a utilização da representação física para
propagandas publicitárias, onde o tempo de execução é o principal
vilão, por isso, a propaganda auxilia na realização antecipada de
encomendas e fechamento de contratos.

• Estudos ergonômicos: através de métodos perceptíveis, simulações


podem ser realizadas e testes de usabilidade em protótipos podem
auxiliar fortemente na análise de capacidade que um produto
deve ter, de acordo com as exigências de projeto. A ergonomia,
portanto, está focada em modificar algo para que ele se adeque de
forma a desempenhar a eficiência e a segurança.

A utilização da técnica de representação física, mais precisamente


da prototipagem rápida no âmbito dessa abordagem, é de grande
importância para o entendimento e comunicação dos requisitos do
produto final. O sucesso nas etapas do desenvolvimento do produto
está fortemente ligado na identificação das principais necessidades
que o cliente tem diante da sua ideia. Para alcançar objetivos, como
desenvolver um produto conforme especificações do cliente, e acima de
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tudo à custos competitivos, faz-se necessário o uso da prototipagem no


PDP (VOLPATO, 2006).

Portanto, a principal vantagem dessa integração é facilitar os processos


de decisões. Com a possibilidade de realizar avaliações, testes,
simulações e a integração entre cliente, fornecedor e equipe de projeto,
torna-se muito mais fácil explorar e avaliar soluções alternativas. Por
isso, pode-se afirmar que, para alcançar o sucesso no desenvolvimento
de produtos, essas integrações são o ponto-chave e de grande
potencialidade (VOLPATO, 2006).

Referências
AVIZ, D. Estudo da técnica de engenharia reversa para construção de
geometrias complexas focando erros de forma e métodos de digitalização
geométrica. 2010. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Sociedade
Educacional de Santa Catarina, Joinville, 2010.
BROWN, T. Uma metodologia poderosa para decretar o fim das velhas ideias
design thinking. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010.
GONÇALVES, C. R. Um estudo comparativo de sistemas de medição aplicáveis
ao controle dimensional de superfícies livres em peças de médio e grande
porte. 2006. Dissertação (Mestrado em Metrologia)–Universidade Federal de Santa
Catarina, Florianópolis, 2006.
JÚNIOR, V. S. Aplicação da Prototipagem Rápida no desenvolvimento de novos
produtos: um estudo de caso em uma empresa de tecnologia do estado do Ceará.
Produto & Produção, [s. l.], v. 19, n. 1, p. 19-33, 2008.
LIRA, V. M. Desenvolvimento de processo de prototipagem rápida via
modelagem por deposição de formas livres sob temperatura ambiente de
materiais alternativos. 2008. Tese (Doutorado em Engenharia)–Escola Politécnica
de São Paulo, São Paulo, 2008.
ROZENFELD, H. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma referência
para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006.
SIMÃO, I. Utilização de peças padrão para avaliação de erros geométricos
gerados em processos de fusão seletiva a laser. 2019. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Mecânica)–Universidade Federal de Santa Catarina, Joinville, 2019.
VOLPATO, N. Prototipagem rápida: tecnologias e aplicações. São Paulo: Edgard
Blucher, 2006.
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BONS ESTUDOS!

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