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CONSTITUCIONAL E PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. PESSOA DEFICIENTE. ART.

203, V
DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E ART. 20, CAPUT DA LEI Nº 8.742/93. ANÁLISE ECONÔMICA QUE DEMONSTRA A
MISERABILIADE NOS MOLDES ESTABELECIDOS PELO ORDENAMENTO JURÍDICO E EM CONSONÂNCIA COM O
POSICIONAMENTO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL EXPRESSA NO RE Nº 567.985/MT, QUE
DECLAROU A INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL DO ART. 20, § 3º DA LEI Nº 8.742/93, SEM PRONÚNCIA DE
NULIDADE. CONCEITO DE DEFICIÊNCIA. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA. LIMITAÇÃO FÍSICA DE LONGO PRAZO QUE
IMPOSSIBILITA A PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE EM CONDIÇÕES DE IGUALDADE. PREENCHIMENTO DOS
PRESSUPOSTOS LEGAIS. JUROS DE MORA INCIDENTES APENAS APÓS A CITAÇÃO E NA FORMA DA LEI Nº 11.960/09.
PRECEDENTES DO STJ. 1.O benefício de prestação continuada previsto na Lei de Organização da Assistência Social
(Lei nº 8.742/93) requer a conjugação de dois requisitos básicos previstos no caput do art. 20: deficiência ou idade
avançada de 65 (sessenta e cinco) anos ou mais e comprovação de não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família. 2. O valor constitucional aplicável à espécie exige do julgador um
exame mais amplo, não obstante a objetividade da norma citada, o que sem dúvida facilita a subsunção do fato à
norma legal, todavia, pode gerar injustiça em determinadas circunstâncias, tendo em vista as peculiaridades que
podem se apresentar caso a caso. Nessa esteira, o STF, no RE nº 567.985/MT, ao abordar a questão, declarou a
inconstitucionalidade parcial do art. 20, § 3º da Lei nº 8.742/93, sem pronúncia de nulidade, em virtude de "notórias
mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas dos patamares
econômicos utilizados com critérios de concessão de outros benefícios assistenciais por parte do Estado brasileiro)".
3. Diante da nova orientação da Corte Suprema, a jurisprudência fixou o valor médio de ½ salário mínimo per capita
para fins de constatação do requisito ligado à miserabilidade, o que não impede o juiz de analisar outros aspectos,
caso seja necessário. 4. O requisito conectado à deficiência sofreu modificação legislativa na esteira de aclarar o
real sentido e alcance da norma. Inicialmente, a previsão legal limitava-se à constatação da incapacitada para a vida
independente e para o trabalho. Mediante a edição das Leis nº 12.435/2011 e nº 12.470/2011, houve ampliação
conceitual do que se passou a considerar deficiência para fins de concessão do benefício de prestação continuada
contemplado na LOAS. Dessa maneira, para o preenchimento de tal pressuposto, há de se verificar a existência de
impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, podem obstruir a participação do indivíduo de forma plena e efetiva na sociedade em igualdade
de condições com as demais pessoas. 5. No caso concreto, o autor alega ser portador de alienação mental total
desde a nascença, apresentando durante toa sua vida problemas psicomotores ligados à sua disfunção neurológica.
De acordo com a perícia médica realizada, o autor encontra-se totalmente inválido e incapaz de exercer
normalmente atividade laboral e necessitando de ajuda de outra pessoa ou da família na vida cotidiana. 6. No que
tange à miserabilidade, o estudo sócio-econômico noticia que o núcleo familiar é composto pelo autor e seus
genitores. 7. Ao contrário do entendimento do juiz de 1º grau, tanto a aposentadoria da mãe no valor de 01 (um)
salário mínimo, quanto a aposentadoria do pai de mesmo valor, devem ser excluídas do cômputo da renda per

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capita (analogia ao art. 34, parágrafo único do Estatuto do Idoso) porquanto são idosos. Logo, considero o grupo
familiar do autor como composto tão somente por ele, o qual não possui renda. 8. Ademais, infere-se que embora
a casa em que o autor reside seja própria, é pequena, composta por quatro cômodos, poucos móveis, apenas o
básico. Entendo que a condição é de miserabilidade. 9. Sentença reformada para conceder ao autor o benefício de
prestação continuada previsto na LOAS, a ser implantado em 30 dias pelo INSS, com DIB em 01/04/2003 (data da
entrada do requerimento - fl. 19) e DIP em 03/09/2015. O crédito pretérito deverá ser corrigido monetariamente
conforme o Manual de Cálculos da Justiça Federal, aprovado pela Resolução do Conselho da Justiça Federal nº
267/2013, acrescido de juros moratórios de 1% a partir da citação até a publicação da Lei nº 11.960/2009 quando
passarão a incidir da forma nela descrita (juros aplicados à caderneta de poupança) (STJ - AgRg no REsp nº
1.248.259/SC - DJe de 23/02/2015). 10. Condenação do INSS ao pagamento de honorários advocatícios fixados em
10% sobre o valor da condenação, considerando-se, para tanto, as parcelas vencidas até a presente data (Súmula
nº 111 do Superior Tribunal de Justiça). 11. Apelação a que se dá provimento.

(TRF-1 - AC: 00004157620054013804, Relator: JUIZ FEDERAL GUILHERME FABIANO JULIEN DE REZENDE, Data de
Julgamento: 03/09/2015, 1ª CÂMARA REGIONAL PREVIDENCIÁRIA DE JUIZ DE FORA, Data de Publicação:
23/09/2015)

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