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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) FEDERAL DO JUIZADO

ESPECIAL FEDERAL PREVIDENCIÁRIO DE.....

PROCESSO Nº

NOME DO CLIENTE, já devidamente qualificado nos autos do presente processo, vem


respeitosamente perante Vossa Excelência, através de seu procurador, inconformado
com a sentença proferida, interpor
RECURSO INOMINADO

Com fulcro no art. 1.009 e segs. do CPC, c/c 42 da Lei 9.099/95. Nessa
conformidade, REQUER o recebimento do recurso, sendo remetidos os autos, com as
razõ es recursais anexas, à Egrégia Turma Recursal, para que, ao final, seja dado
provimento ao presente recurso. Por fim, deixa de juntar preparo por ser beneficiá rio de
AJG.

Nesses Termos;

Pede Deferimento.

12 de setembro de 2023.

Advogado OAB N
RECURSO INOMINADO

Processo nº:

Recorrente:

Recorrido: Instituto Nacional do Seguro Social

Origem: Juizado Especial Federal Previdenciário de

Colenda Turma

Eméritos Julgadores

O presente recurso trata de açã o em que se postula a concessã o do benefício de


prestaçã o continuada, que foi julgado improcedente pelo Exmo. Juiz Federal a quo.

Com efeito, incorreu em equivoco o D. Magistrado, quando considerou a renda do


grupo familiar do Autor como sendo suficiente para prover seu sustento, deixando de
preencher o critério econô mico exigido pela LOAS.

Como se demonstrará neste recurso, Digníssimos Julgadores, das provas


elaboradas, está plenamente demonstrado que o Autor é hipossuficiente, nã o sendo sua
renda mensal suficiente para prover seu sustento e de sua família com dignidade.

Assim, se exporã o os motivos pelos quais deve ser reformada a sentença,


concedendo o benefício assistencial ao Recorrente.

DA SATISFAÇÃO DO CRITÉRIO ETÁRIO

De primeiro plano, pertinente mencionar que o Autor contava com XX anos


quando requerido administrativamente a benesse assistencial (evento XX), de modo que
satisfaz, portanto, o critério etá rio exigido pela legislaçã o inerente à matéria (artigo 2,
Lei 8.742/93; art. 34, Lei 10.741/03).
DO CRITÉRIO SOCIOECONÔMICO

Segundo referiu o D. Magistrado em sua decisã o, o Recorrente nã o faz jus ao


benefício de prestaçã o continuada uma vez que a renda mensal per capta familiar
ultrapassa ¼ do salá rio mínimo, o que desde já , nã o satisfaria o critério econô mico
exigido pela LOAS. Ademais, desconsiderou para fins de configuraçã o do grupo familiar
os dois filhos do Recorrente, que igualmente residem com o mesmo.

Note-se:

(INFORMAÇÕ ES)

Ora, é cediço que, muito embora a Lei 8.742/93 estabeleça em seu artigo 20, §3º
um patamar econô mico para a concessã o do benefício de prestaçã o continuada, a
jurisprudência vem considerando que este nã o é absoluto, ou seja, este critério legal nã o
pode excluir a aná lise das condiçõ es pessoais e sociais do Requerente, bem como deve
proporcionar a averiguaçã o do caso concreto e das condiçõ es em que se encontra
inserido.

Deste modo, demonstrar-se-á no presente recurso, de forma elucidativa aspectos


fá ticos e jurídicos relevantes e que nã o foram levados em consideraçã o na r. decisã o e
que sã o de suma importâ ncia para o deslinde da demanda.

DA RELATIVIZAÇÃO DA RENDA MENSAL:

Conforme se depreende da instruçã o processual, tem-se que o Recorrente reside


com sua esposa e dois filhos, sendo que a renda mensal é oriunda do trabalho da cô njuge
como empregada doméstica no valor de um salá rio mínimo, bem como, de trabalhos
esporá dicos realizados por um dos filhos, sendo tais valores variá veis.

Nã o obstante as alegaçõ es contidas na exordial, informando sobre o grupo


familiar, além das subsídios acastelados pelo laudo socioeconô mico produzido ao
Evento XXXXXX, o Nobre Magistrado de primeiro grau considerou para o cô mputo da
renda tã o somente o casal, de forma que, o valor percebido pela esposa seria suficiente
para o sustento de ambos.
Ademais, considerou que, sendo contribuintes do INSS a esposa e o filho, estes
teriam totais condiçõ es de prover as suas necessidades bá sicas, nos termos da LOAS,
desconsiderando todos os subsídios trazidos pelo laudo destinado à aná lise fá tica da
situaçã o do Recorrente, detendo-se tã o somente no que concerne ao nã o preenchimento
do requisito da renda per capta imposto pela Lei.

Contudo, tal decisã o é por completo descabida, a priori, face a pacificaçã o do


entendimento de que para fins de aná lise de hipossuficiência, a verificaçã o da renda
mensal consubstancia elemento perfunctó rio para apreciaçã o do caso, devendo para
tanto que o contexto fá tico como um todo seja contemplado pela autoridade julgadora.

Isto porque, nã o obstante as inú meras decisõ es neste mesmo sentido, o Superior
Tribunal de Justiça em apreciaçã o ao REsp 1.112.557, tornou relativo o critério
econô mico previsto do artigo 20, §3º, da Lei 8.742/93, acolhendo a constataçã o da
miserabilidade da pessoa idosa ou com deficiência através de outros meios de prova que
nã o a renda per capta.

Ainda neste tocante, é reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, em regime de


repercussã o geral, a inconstitucionalidade do §3º do artigo 20 da Lei 8.742/93 (LOAS),
que institui critério econô mico objetivo, bem como, a faculdade de aceitaçã o de outros
meios de prova para a averiguaçã o da hipossuficiência do grupo familiar. Note-se:

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. MANDADO DE SEGURANÇA.


DILAÇÃO PROBATÓRIA. DESNECESSIDADE. PESSOA
IDOSA. CONDIÇÃO SOCIOECONÔMICA. MISERABILIDADE.
RENDA FAMILIAR. ART. 20, §3º, DA LEI 8.742/93.
RELATIVIZAÇÃO DO CRITÉRIO ECONÔMICO OBJETIVO. STJ E
STF. PRINCÍPIOS DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DO
LIVRE CONVENCIMENTO DO JUIZ. BENEFÍCIO DE RENDA
MÍNIMA. IDOSO. EXCLUSÃO. 1. Embora seja inusitada a
utilizaçã o do mandado de segurança em relaçã o a benefícios
previdenciá rios, aqui, excepcionalmente, é admissível tal
instrumento em face de que desnecessá ria a dilaçã o
probató ria. Precedentes. O direito ao benefício assistencial
previsto no art. 203, V, da Constituição Federal e no art. 20 da
Lei 8.742/93 (LOAS) pressupõe o preenchimento de dois
requisitos: a) condição de pessoa com deficiência ou idosa e b)
condição socioeconômica que indique miserabilidade; ou
seja, a falta de meios para prover a própria subsistência ou de
tê-la provida por sua família. O Superior Tribunal de Justiça,
ao julgar o REsp 1.112.557 representativo de controvérsia,
relativizou o critério econômico previsto no art. 20, §3º, da Lei
8.742/93, admitindo a aferição da miserabilidade da pessoa
deficiente ou idosa por outros meios de prova que não a renda
per capita, consagrando os princípios da dignidade da pessoa
humana e do livre convencimento do juiz. Reconhecida pelo
STF, em regime de repercussão geral, a
inconstitucionalidade do §3º do art. 20 da Lei 8.742/93
(LOAS), que estabelece critério econômico objetivo, bem
como a possibilidade de admissão de outros meios de
prova para verificação da hipossuficiência familiar em
sede de recursos repetitivos, tenho que cabe ao julgador,
na análise do caso concreto, aferir o estado de
miserabilidade da parte autora e de sua família,
autorizador ou não da concessão do benefício
assistencial. Deve ser excluído do cômputo da renda familiar
o benefício previdenciário de renda mínima (valor de um
salário mínimo) percebido por idoso integrante da família.
Aplicação analógica do art. 34, parágrafo único, da Lei
10.741/2003. (TRF4 5002469-19.2014.404.7202, Quinta
Turma, Relator p/ Acórdão Luiz Carlos de Castro Lugon,
juntado aos autos em 11/03/2015) (sem grifos no original).

Verifica-se, portanto, que “diante do compromisso constitucional com a dignidade


da pessoa humana, especialmente no que se refere à garantia das condições básicas de
subsistência física, esse dispositivo deve ser interpretado de modo a amparar
irrestritamente o cidadão social e economicamente vulnerável”[1]

Nos termos do entendimento jurisprudencial supra, para que o critério


socioeconô mico seja apreciado, se faz indispensá vel a verificaçã o do contexto fá tico em
que está inserido o grupo familiar, haja vista as peculiaridades atinentes a cada caso
concreto.

Logo, muito embora fossem desconsiderados do grupo familiar os dois filhos –


como assim fez a r. sentença, tem-se que a percepçã o de meio salá rio mínimo per capta,
por si só nã o possui o condã o de descaracterizar a condiçã o de miserabilidade apurada
pelo laudo socioeconô mico, bem como, pelas alegaçõ es trazidas na peça exordial.

Nesta esteira, frente a defasagem dos critérios financeiros preceituados pelo


artigo 20, §3º, passou-se a admitir novos parâ metros para a configuraçã o da
miserabilidade para fins da concessã o de benefício de prestaçã o continuada, utilizando
como parâ metro outros benefícios assistenciais concedidos pelo Governo Federal, como
o programa Bolsa Família. Senã o, vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS DE


DECLARAÇÃO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. RENDA PER
CAPITA FAMILIAR SUPERIOR A 1/2 DO SALÁRIO
MÍNIMO. OMISSÃO/OBSCURIDADE/CONTRADIÇÃO. 1.
A constatação de que, para diversos programas
assistenciais, o legislador passou a considerar a
renda per capita de ½ salário mínimo como
balizador apto para a verificação da situação de
vulnerabilidade econômica do grupo familiar,
ensejou a conclusão de que a já longeva
inflexibilidade normativa em relação ao
parâmetro estabelecido no dispositivo sob berlinda
o tornou incompatível com a regra constitucional
presente no art. 203, V, da CF/88, por ser ela
veiculadora do direito fundamental à assistência
social. 2. Quanto ao limite mínimo da renda per capita,
os rigores da lei devem ser mitigados, levando-se em
consideração a condição social do deficiente e seu
direito ao amparo constitucional, em face não só da
idade elevada, mas também do estado de
miserabilidade em que vive o núcleo familiar, situações
que devem ser analisadas caso a caso. 3. Na hipótese
dos autos, o grupo familiar efetivamente possui renda
per capita superior a 1/2 salário mínimo desde 2007 e,
embora comprovada a deficiência física do requerente,
não foi demonstrada situação que permita o
afastamento do limite mínimo da renda per capita. 4.
Deve ser pago o LOAS, desde a sua suspensão até
setembro de 2007, pois demonstrado que, à época, a
parte autora fazia jus à percepção do benefício 5.
Embargos de declaração parcialmente acolhidos. (TRF-
1 - EDREO: 200701990533709 MT 2007.01.99.053370-
9, Relator: DESEMBARGADORA FEDERAL NEUZA
MARIA ALVES DA SILVA, Data de Julgamento:
01/01/2014, SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: e-
DJF1 p.1377 de 14/03/2014) (sem grifos no original).

Deste modo, sendo a renda constitutiva do grupo familiar o valor de ½ de salá rio
mínimo per capta, nota-se que o montante percebido pelos mesmos encontram-se
dentro dos patamares admitidos, nã o havendo qualquer razã o para a improcedência da
demanda, nos termos da decisã o a quo, haja vista que pautada em critérios obsoletos e
nã o mais admitidos em virtude dos princípios constitucionais atinentes ao cidadã o.

DO LAUDO SOCIOECONÔMICO:

Primeiramente, vale referir que foi editado o Enunciado nº 50 no 3º Fó rum


Nacional dos Juizados Federais, a fim de agregar certo temperamento ao critério da
renda per capta de ¼ do salá rio mínimo previsto na Lei Orgâ nica da Assistência Social.
Veja-se sua redaçã o:

A comprovação da condição socioeconômica do autor pode ser feita por laudo


técnico confeccionado por assistente social, por auto de constatação lavrado por oficial de
Justiça ou através da oitiva de testemunhas.

Como se vislumbra no Evento XXX do processo em epígrafe, foi realizada


avaliaçã o socioeconô mica na residência do Recorrente a fim de avaliar as condiçõ es de
vida em que se encontrava o grupo familiar do mesmo. Tal avaliaçã o deveria nã o só
verificar a renda familiar, mas preponderar todo o contexto fá tico apresentado pelo
mesmo.

Aí equivocou-se o D. Magistrado, pois, ao decidir a demanda deixou de avaliar o


Laudo realizado pelo Sr. Oficial de Justiça como um todo e de forma criteriosa, deixando-
se influenciar, mormente, pela renda auferida pelos componentes do grupo familiar.

De pronto, pertinente grifar que, a despeito das consideraçõ es feitas pelo Nobre
Magistrado de primeiro grau, o notado laudo foi claro ao apontar que o grupo familiar é
composto pelo Recorrente, a esposa e os dois filhos, sendo que, somente a esposa possui
renda fixa no valor de um salá rio mínimo. Além disso, aponta que um dos filhos incorre
atualmente em situaçã o de desemprego e o outro nã o possui renda fixa, sobrevivendo de
“bicos” que realiza como ...

Dessa forma, verifica-se que o grupo familiar é composto por 04 pessoas e,


nã o por 02 pessoas, como restou assentado na Sentença.

Tais referências ilustram, sem dú vida alguma o erro cometido pelo decisum,
porquanto, nã o obstante os fundamentos já suscitados quanto a relativizaçã o e processo
de inconstitucionalidade dos patamares econô micos estabelecidos pela LOAS, a renda
per capta fixa do grupo familiar encontra-se dentro dos padrõ es exigidos pela
mencionada legislaçã o.

Outrossim, ressalta-se que a renda eventual, obtida através da realizaçã o de


bicos – como ocorre no caso do filho do Recorrente, nã o pode ser incluída no cá lculo da
renda per capta, destaca-se o seguinte precedente:

CONCESSÃ O DE BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. CONDIÇÃ O DE


IDOSO. SITUAÇÃ O DE RISCO SOCIAL. REQUISITOS
PREENCHIDOS. CUMPRIMENTO IMEDIATO DO ACÓ RDÃ O. 1.
O direito ao benefício assistencial pressupõ e o
preenchimento dos seguintes requisitos: a) condiçã o de
deficiente (pessoa que tem impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em
interaçã o com diversas barreiras, podem obstruir sua
participaçã o plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condiçã o com as demais pessoas) ou idoso (neste caso,
considerando-se, desde 1º de janeiro de 2004, a idade de 65
anos); e b) situação de risco social (estado de
miserabilidade, hipossuficiência econômica ou situação
de desamparo) da parte autora e de sua família. 2. A
condiçã o de idoso do autor restou comprovada por meio de
documentos. 3. A situaçã o de desamparo necessá ria à
concessã o do benefício assistencial é presumida quando a
renda familiar per capita for inferior ao valor de ¼ (um
quarto) do salá rio mínimo. 4. Operada a exclusão da renda
eventual e incerta percebida pelo autor, a renda mensal
per capita é inferior ao limite estabelecido pelo art. 20, §
3º, da Lei n.º 8.742/93, configurando-se, assim, a
situação de risco social necessária à concessão do
benefício. 5. Comprovado o preenchimento dos requisitos
legais, deve ser concedido o benefício em favor da parte
autora, desde a data do requerimento administrativo. 6.
Determinado o cumprimento imediato do acó rdã o no
tocante à implantaçã o do benefício, a ser efetivada em 45
dias, nos termos do art. 461 do CPC. (TRF4, AC 0017768-
77.2011.404.9999, Sexta Turma, Relator Celso Kipper, D.E.
05/10/2012)

BENEFÍCIO ASSISTENCIAL AO IDOSO. PREENCHIMENTO DO


REQUISITO SOCIOECONÔ MICO. APLICAÇÃ O ANALÓ GICA DO
ART. 34, PARÁ GRAFO Ú NICO, DA LEI 10.741/03.
APOSENTADORIA POR IDADE. RENDA EVENTUAL DO
CÔ NJUGE IDOSO. EXCLUSÃ O DO CÁ LCULO DA RENDA PER
CAPITA. 1. O benefício previdenciá rio de valor mínimo
recebido por idoso deve ser excluído do cá lculo da renda
mensal para fins de concessã o de benefício assistencial, por
interpretaçã o analó gica do art. 34, pará grafo ú nico, do
Estatuto do Idoso. Precedente da Turma Nacional de
Uniformizaçã o: PU 2008.70.53.001213-4, Rel. Juiz Federal
José Antonio Savaris, j. 08.02.2010. 2. A renda precá ria e
auferida na medida das possibilidades físicas do cô njuge
idoso nã o pode prejudicar o acesso do requerente à
Assistência Social. (, RCI 2009.70.52.002600-1, Primeira
Turma Recursal do PR, Relator Erivaldo Ribeiro dos Santos,
julgado em 02/06/2010)

Frente a isso, nã o pode ser acolhida, sequer, a insurgência proferida pelo


Magistrado a quo quanto a possibilidade do Recorrente ser auxiliado pelos filhos, uma
vez que o primeiro se encontra desempregado e o segundo somente realiza atividades
laborais esporá dicas, que nã o podem servir nem mesmo como parâ metro da renda
mensal da família, quiçá , ser suficiente para o sustento de uma pessoa e servir de auxílio
para outra.

Ora, Excelências! Por completo descabido o entendimento firmado pela r. decisã o,


mormente porque, pautada em consideraçõ es impertinentes e sem qualquer relaçã o
com o caso concreto e o melhor entendimento jurídico, sem levar em apreço as
proposituras do laudo produzido nos autos.

Além das informaçõ es relacionadas ao grupo familiar, o referido levantamento


realizado pelo Sr. Oficial de Justiça, este também contemplou informaçõ es acerca da
residência e seu guarnecimento. Senã o, vejamos:

(INFORMAÇÃ O)

Como se percebe, o imó vel foi construído aos poucos (misto) e de forma simples,
inclusive dependendo do auxílio de terceiros. Ademais, o Recorrente é pedreiro, de
modo que, as condiçõ es mínimas de conforto de sua residência, evidentemente, se dã o
em virtude de sua qualificaçã o profissional e do esforço despendido para a construçã o
do imó vel. Tal entendimento já foi, inclusive, alvo de decisã o da Turma Recursal da
JF/RS (Recurso Cível nº 5001195-97.2012.404.7102).

De mesma banda, no que se refere aos mó veis que guarnecem a casa, de acordo
com as fotografias apresentadas é cristalino que todos eles sã o bastante antigos e alguns
até mesmo improvisados, entretanto, Excelências, nã o se pode confundir higiene e
organizaçã o com inexistência de miserabilidade!
Assim, as condiçõ es da residência do Recorrente nã o podem servir como meio de
descaracterizar a situaçã o de miserabilidade do mesmo, uma vez que, construída a
partir de seu conhecimento profissional na construçã o civil, bem como, através da ajuda
de parentes.

Do levantamento realizado, as condiçõ es de moradia do Recorrente, por si só já


ilustram sua situaçã o de miserabilidade, pois, as fotografias apresentadas nos autos dã o
conta da condiçã o miserá vel em que está inserido o mesmo e sua família, uma vez que, a
residência nã o possui qualquer conforto e nem mesmo condiçõ es mínimas de higiene e
infraestrutura para a moradia de um idoso, sendo inclusive, local de fá cil acesso a
animais como roedores e peçonhentos, visto se encontrar nas proximidades de matagais
e acú mulo de lixo, aliado a inexistência de forro no telhado e as frestas constantes em
toda a estrutura do imó vel.

Como se percebe das imagens, o Recorrente sobrevive em condiçõ es que nã o se


podem considerar, sequer, mínimas à sobrevivência de um ser humano, menos ainda de
uma pessoa com idade avançada e acometida de enfermidades!

Neste ponto, indispensá vel referir que os casos de Benefício Assistencial


deveriam ser tratados com zelo pela Autarquia Previdenciá ria, bem como pelo judiciá rio,
visto que, nã o se tratam de contribuintes buscando por seus direitos, mas de
indivíduos em situação degradante e sem quaisquer recursos de prover suas
necessidades básicas, como alimentaçã o adequada, higiene e vestuá rio.

Neste ínterim, reportemo-nos aos gastos fixos da família, também aclarado pelo
laudo socioeconô mico e que igualmente demonstram a mazela social em que se
encontram. Note-se:

(INFORMAÇÃ O)

Neste ponto, vislumbra-se que as despesas mais triviais como á gua, luz e
alimentaçã o já abocanham valor considerá vel da renda mensal, nã o havendo meios de
arcar com despesas igualmente importantes como vestuá rio – que advém de doaçõ es,
saú de, transporte e lazer.

Aliá s, o Recorrente na condiçã o de pessoa idosa e portadora de enfermidades


como ..., bem como a esposa, que também sofre de ..., carecem de medicamentos nã o
fornecidos pela administraçã o pú blica, além de necessitarem de acompanhamento
médico que também gera ô nus financeiro que nã o pode ser arcado tã o somente com o
valor auferido pela cô njuge.

Diante disso, é inegá vel a necessidade do Recorrente em auferir o benefício


pretendido e que, equivocadamente fora barrado pelo Nobre Juízo de primeiro grau ao
desconsiderar o laudo elaborado pelo Oficial Avaliador.

Neste sentido, a jurisprudência é uníssona em seu posicionamento quanto a


necessidade da aná lise de outras provas que nã o a renda:

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO – PREVIDENCIÁRIO –


ASSISTÊNCIA SOCIAL – CONCESSÃO DE BENEFÍCIO DE
PRESTAÇÃO CONTINUADA (LOAS) – IDOSO – RENDA MENSAL
PER CAPTA SUPERIOR A ¼ DE SALÁRIO MÍNIMO –
POSSIBILIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA MISERABILIDADE
POR OUTROS MEIOS DE PROVA – RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. Trata-se de agravo contra
inadmissão de incidente de uniformização nacional, suscitado
pela parte autora, em face de acórdão de Turma Recursal do
Juizado Especial Federal da Seção Judiciária de Pernambuco.
Inadmitido o incidente pela Turma de origem, foi requerida,
tempestivamente, a submissão da admissibilidade à
Presidência desta Turma Nacional nos termos do art. 7º, VI do
RI/TNU. A matéria ventilada e a ser verificada no presente
caso é a possibilidade de se conceder o benefício assistencial,
previsto na Lei Orgânica da Assistência Social, a idoso em
casos de renda mensal per capta superior a ¼ do salário
mínimo, considerando outros meios de prova, como as
condições pessoais do beneficiário, para aferir a
miserabilidade. O núcleo familiar, composto pelo Autor e sua
esposa, obtém renda mensal de R$ 597,50 (quinhentos e
noventa e sete reais e cinquenta centavos), proveniente do
salário do cônjuge virago. [...] Recentemente, o Supremo
Tribunal Federal, em sede de julgamento de recursos
representativos da controvérsia (RE nº 567.985/MT e RE
580.963/PR), pela sistemática da repercussão geral,
pacificou sua jurisprudência e declarou, incidenter
tantum, a inconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei
nº 8.742/93, e do parágrafo único do art. 34 da Lei nº
10.741/03 (Estatuto do idoso). [...].DOU-LHE PARCIAL
PROVIMENTO, para anular o Acórdão impugnado e
determinar o retorno dos autos à Turma Recursal de origem,
com a finalidade de promover a adequação do julgado com o
entendimento da TNU, conforme a premissa jurídica ora
fixada, no sentido de se realizar novo julgamento
procedendo à análise de outras provas para aferição da
miserabilidade da parte suscitante, como suas condições
pessoais e sociais, visando à concessão de benefício
assistencial. (TNU - PEDILEF: 05006271420114058300 ,
Relator: JUIZ FEDERAL WILSON JOSÉ WITZEL, Data de
Julgamento: 12/11/2014, Data de Publicação: 23/01/2015)
(sem grifos no original).

Neste sentido, também é o entendimento da Turma Regional de Uniformizaçã o da


4ª Regiã o:

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃ O. BENEFÍCIO


ASSISTENCIAL. LOAS. APLICAÇÃ O QUESTÃ O DE ORDEM N.º
13 DA TNU. 1. A renda superior a ¼ do salário-mínimo
não impede a concessão do benefício assistencial,
quando outros fatores demonstrarem a miserabilidade
do requerente. 2. Hipó tese em que a decisã o recorrida
considerou todos os elementos do entendimento e afastou o
benefício pleiteado, tendo em vista que os elementos de
prova indicaram a ausência de miserabilidade. 3. Recurso
nã o conhecido, a teor do disposto na Questã o de Ordem n.º
13, TNU. ( 5001166-72.2011.404.7202, Turma Regional de
Uniformizaçã o da 4ª Regiã o, Relator p/ Acó rdã o Osó rio Á vila
Neto, juntado aos autos em 14/02/2014)
Ainda, vale assinalar o voto do Exmo. Relator no referido
julgamento, UNIFORMIZANDO ENTENDIMENTO sobre o assunto (com grifos nossos):

Ademais, registro que, em 18/04/2013, o Plenário do STF reviu o entendimento acerca da


constitucionalidade do dispositivo antes reconhecida na ADIN 1232-1. Ficou consignado
nos votos dos Ministros Relatores da RCL 4374 (Ministro Gilmar Mendes) e do RE 567985
(Ministro Marco Aurélio), a alteração da situação fática a ensejar o reconhecimento
de que esse limite de 1/4 do salário mínimo fica aquém do necessário para amparar
o idoso e o deficiente que não tem condições de prover sua subsistência nem de tê-la
provida por sua família. Embora não tenham modulado os efeitos da
inconstitucionalidade, é possível concluir deste julgado e das decisões monocráticas que o
STF vem proferindo (RCL 4374/PE, Min Gilmar Mendes), que, enquanto não estendida a
inconstitucionalidade do dispositivo erga omnes, a necessidade deve ser aferida no caso
concreto, de acordo com as reais condições de miserabilidade do grupo familiar,
quando a renda per capita ultrapasse o valor previsto na Lei, considerados outros
fatores indicativos do estado de penúria do cidadão. É justamente esse exame que
foi realizado no acórdão recorrido, em consonância com os entendimentos expostos
nos acórdãos paradigmas.

Assim, frente a aná lise das informaçõ es socioeconô micas abalizadas na instruçã o
processual, bem como, tendo por base o entendimento pacífico acerca dos critérios
estabelecidos pacificamente pela jurisprudência acerca da renda per capta prevista pela
LOAS, tem-se que, considerando ou nã o os dois filhos como membros do grupo familiar
(situaçã o fá tica comprovada pelo Oficial Avaliador ao verificar que ambos residem com
os pais), o Recorrente enquadra-se plenamente nã os requisitos atinentes ao benefício
assistencial, haja vista que é pessoa idosa e hipossuficiente.

É notó rio frente à s fotografias e os demais subsídios trazidos no laudo que a


renda auferida torna-se fator irrelevante frente à condiçã o de miséria e vulnerabilidade
em que está a família e o Recorrente.

Ora, Excelências, resta claro que o Magistrado a quo, ao se manter omisso a


detalhes importantes ao caso concreto, equivocou-se quando deixou de conceder a
benesse previdenciá ria ao Recorrente, uma vez que ao efetuar a aná lise conjunta dos
fatos é cristalina a situaçã o de miserabilidade deste e de sua família.
É uma afronta ao Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa Humana,
prestar-se a afirmar que um indivíduo, contando com idade avançada, possa conviver
com a esposa e os filhos em condiçõ es ao menos satisfató rias, com o valor ínfimo
recebido.

Deste modo, apó s tudo que já fora explanado, mostram-se satisfeitos ambos os
requisitos atinentes à concessã o do benefício de prestaçã o continuada, pois o
Recorrente é idoso e vive em situação de EXTREMA vulnerabilidade social.

Portanto, apó s a aná lise do caso em tela, o indeferimento do pedido apresentado


na exordial, é uma afronta tanto ao Princípio Constitucional da Dignidade da Pessoa
Humana, bem como, aos objetivos da assistência social, quais sejam: a proteção à
família; e a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a
promoção de sua integração à vida comunitária.

ASSIM SENDO, requer o provimento do recurso inominado, para o fim de


reforma da r. sentença proferida pelo Juiz a quo, julgando procedente o pedido
exordial, para conceder o benefício de prestaçã o continuada ao Recorrente, nos termos
da fundamentaçã o retro.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

12 de setembro de 2023.

LOCAL E DATA

ADVOGADO OAB

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