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AO ILUSTRÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO CONSELHO DE

RECURSOS DO SEGURO SOCIAL DA COMARCA DE SÃO LUÍS – MA.

REF. NOTA TÉCNICA/OFÍCIO Nº 1/2020/MC


NÚMERO DO BENEFÍCIO: 87/506.029.882-1

VANDERLUCE DE ALMEIDA SILVA, portadora da cédula de identidade


registrada sob o n. 022576382002-5 e inscrita no CPF: 571.524.623-72,
residente e domiciliada na Rua Um, Quadra A, n. 07, Residencial Filadélfia,
Aurora, CEP: 65060-275 São Luís – MA, vem perante o ilustríssimo Senhor
apresentar, com base no direito de petição o presente

RECURSO ADMINISTRATIVO

face um suposto indício de irregularidade apontado na Nota Técnica em epígrafe,


pelos motivos a seguir dispostos.

1. SÍNTESE:

Conforme narra o processo instaurado, trata-se de um suposto indício


de irregularidade no recebimento do benefício previdenciário, que não merece
prosperar, uma vez que o beneficiário atendeu rigorosamente os requisitos
legais para o seu recebimento, como passa a demonstrar.

2. DO DIREITO AO BENEFÍCIO:

O benefício de prestação continuada, previsto na Lei Orgânica de


Assistência Social (LOAS) em seu art. 20, que assim dispõe:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um


salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso
com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não
possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la
provida por sua família.

§ 1º Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta


pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na
ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos

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solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados,
desde que vivam sob o mesmo teto.

Assim, após preenchidos todos os requisitos que autorizam a


concessão do benefício, outra não poderia ser a decisão, senão o imediato
deferimento do pedido, afinal:

 O Segurado é portador de doença que o incapacita


para a vida independente e para o trabalho;

 O Segurado está impossibilitado de prover seus


próprios meios de subsistência ou tê-la provido pela
família, por possuir baixa renda per capta.

A constatação da incapacidade é incontroversa, conforme laudo e


atestados em anexo e confirmado por súmula do TNU: Súmula 48: "A
incapacidade não precisa ser permanente para fins de concessão do
benefício assistencial de prestação continuada."
Já a renda per-cápita não revela-se suficiente para manter as
necessidades básicas da Autora e de sua família, uma vez que as despesas do
Segurado são compostas de:

R$ 823,76 em casa financiada;

R$ 830, 00 em alimentação;

R$ 660,46 em estudo (Faculdade Pitágoras)

R$ 230,00 em remédios;

R$ 420,07 em luz;

R$ 51,29 em água;

R$ 1.129,77 em carro financiado;

R$ 1.254,14 em cartão de crédito

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Portanto, evidentemente que a renda do Segurado se enquadra no
perfil de miserabilidade exigido pela lei.

2. DA IRREGULARIDADE APONTADA E DA REALIDADE DOS FATOS

Alega o processo administrativo em questão que, o beneficiado


recebeu, indevidamente, valores entre o período de 25/04/2016 a
25/04/2021. Ocorre que, na realidade, não restam verdadeiras as alegações,
bem como os períodos apontados pois, em 2019 o benefício foi cessado,
como pode ser comprovado nos registros do INSS e a mãe do beneficiado
foi informada que deveria realizar o cadastro de todos os membros da
família no sistema do CadÚnico, no que foi atendido por esta, com sucesso.
Nesse período, a genitora do beneficiado, usando de boa-fé,
realizou a informação junto ao INSS da renda do genitor do beneficiado,
com o intuito único de informar a superação de renda, mas, por culpa
exclusiva do INSS, o benefício foi mantido.
Desta forma, se o benefício foi mantido durante esse período, o
beneficiado, tampouco sua genitora, poderá ser responsabilizada pelo
recebimento e, muito menos, ser obrigados a realizar qualquer tipo de
devolução ao INSS, por serem estes recebimentos considerados
indevidos.
Com relação aos anos de 2016 e 2017, a autora não confirma que
houve recebimento indevido, pois sempre esteve a disposição do INSS e,
a entidade poderia a qualquer momento comunicar que o benefício seria
cessado, mas, ao revés, deixou que passasse vários anos para que viesse
a realizar a devida comunicação, sendo assim, o beneficiado não pode ser
responsabilizada pela inércia do INSS.

3. DA APLICAÇÃO RELATIVA DO LIMITE LEGAL DA RENDA

Cabe ressaltar que o limite da renda, previsto no § 3º do art. 20 da Lei


n. 8.742/93, não deve mais ser encarado como um critério objetivo da condição
ou não de miserabilidade do beneficiário, mas apenas como valor de presunção.
Afinal, deve ser considerado se a renda mantém as condições

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mínimas de dignidade da pessoa humana, uma vez que o salário mínimo não
alcança o alto grau de inflação que assola nossa economia.
Isso porque o Supremo Tribunal Federal, ao analisar os recursos
extraordinários 567.985 e 580.963, reconheceu a inconstitucionalidade do §
3º do art. 20 da Lei 8.742/1993 bem como
o parágrafo único do art. 34 da Lei 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) que
previam o critério econômico objetivo como limitador do benefício.
Portanto, o fato a ser considerado é que a parte Requerente é
submetida a viver em estado de miserabilidade, cabendo outros meios de
provas, conforme entendimento dos tribunais:

ASSISTÊNCIA SOCIAL. APELAÇÃO CIVIL. BENEFÍCIO


ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. IDOSA.
RENDA SUPERIOR A ¼ DO SALÁRIO MINIMO. EXISTÊNCIA
DE OUTROS ELEMENTOS QUE INDICAM SITUAÇÃO DE
MISERABILIDADE. MISERABILIDADE COMPROVADA. -A
Constituição garante à pessoa portadora de deficiência e ao
idoso que comprove não possuir meios de prover sua própria
manutenção o pagamento de um salário mínimo mensal. Trata-
se de benefício de caráter assistencial, que deve ser provido aos
que cumprirem tais requisitos, independentemente de
contribuição à seguridade social. A autora tem 65 anos,
conforme demonstra a cópia de sua Cédula de Identidade.
Cumpre, portanto, o requisito da idade para a concessão do
benefício assistencial, nos termos do art. 20, caput da LOAS -
Quanto à miserabilidade, a LOAS prevê que ela existe quando a
renda familiar mensal per capita é inferior a ¼ de um salário
mínimo (art. 20, § 3º), sendo que se considera como "família"
para aferição dessa renda "o cônjuge ou companheiro, os pais
e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos
solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados,
desde que vivam sob o mesmo teto" (art. 20, § 1º) -Embora esse
requisito tenha sido inicialmente declarado constitucional
pelo Supremo Tribunal Federal na Ação Direita de
Inconstitucionalidade n º 1.232-1, ele tem sido flexibilizado
pela jurisprudência daquele tribunal. Nesse sentido, com o
fundamento de que a situação de miserabilidade não pode
ser aferida através de mero cálculo aritmético, o STF
declarou, em 18.04.2013, ao julgar a Reclamação 4.374, a
inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, e
do art. 20, § 3º da LOAS - Seguindo essa tendência foi incluído
em 2015 o § 11 ao art. 20 da LOAS com a seguinte redação:§
11. Para concessão do benefício de que trata o caput deste
artigo, poderão ser utilizados outros elementos probatórios
da condição de miserabilidade do grupo familiar e da
situação de vulnerabilidade, conforme regulamento - No
caso dos autos, pelo estudo social (fls. 101/102) compõem a
família da Sra. Nair ela (sem renda) o seu esposo, Sr. Mário de
Arruda, 72 anos, que recebe aposentadoria por invalidez no
valor de R$ 990,00. Portanto a renda per capita familiar mensal

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é de R$ 495,00, superior a ¼ de um salário mínimo (equivalente
a R$ 220,00).Entretanto, a autora reside em casa alugada, no
valor de R$ 500,00, com gastos de água e energia elétrica que
totalizam R$ 160,00 por mês. Embora não tenham sido
especificados outros gastos, apenas esses gastos básicos já
consomem 66% da renda do casal, que depende de doações
para prover sua alimentação - Além disso, conforme relato do
estudo social, o imóvel alugado não apresenta boas condições,
com problemas de fiação e infiltração de água. A assistente
social relata, ainda, que os utensílios e móveis da casa são
igualmente precários - Tanto a autora quanto seu marido são
idosos, ela com 66 anos e ele com 72 anos. Ambos necessitam
de medicamentos de uso contínuo, que recebem em sua maioria
da Farmácia Popular, mas consta que um deles, para a
circulação, não é fornecido gratuitamente e não pode ser
adquirido pela autora em razão de seu custo de R$150,00 -
Neste sentindo, apesar da renda familiar per capita da família da
autora ser superior a ¼ do salário mínimo, está configurada a
situação de miserabilidade, sendo de extrema necessidade o
benefício assistencial -Recurso de apelação a que se nega
provimento. (TRF-3 - Ap: 00240219820174039999 SP, Relator:
DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ STEFANINI, Data de
Julgamento: 19/02/2018, OITAVA TURMA, Data de Publicação:
e-DJF3 Judicial 1 DATA:19/03/2018).

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BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. POSSIBILIDADE DE
DEMONSTRAÇÃO DA CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE DO
BENEFICIÁRIO POR OUTROS MEIOS DE PROVA, QUANDO
A RENDA PER CAPITA DO NÚCLEO FAMILIAR FOR
SUPERIOR A 1/4 DO SALÁRIO MÍNIMO.Tese Firmada: A
limitação do valor da renda per capita familiar não deve ser
considerada a única forma de se comprovar que a pessoa não
possui outros meios para prover a própria manutenção ou de tê-
la provida por sua família, pois é apenas um elemento objetivo
para se aferir a necessidade, ou seja, presume-se
absolutamente a miserabilidade quando comprovada a renda
per capita inferior a 1/4 do salário mínimo.Anotações Nugep:
Para concessão do benefício assistencial de prestação
continuada à pessoa portadora de deficiência ou idoso, o
preceito contido no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993 (renda familiar
per capita inferior a 1/4 do salário-mínimo) não é o único critério
válido para comprovar a condição de miserabilidade preceituada
no art. 203, V, da Constituição Federal.Repercussão Geral:
Tema 27/STF - Meios de comprovação do estado miserabilidade
do idoso para fins de percepção de benefício de assistência
continuada. Tema 312/STF - Interpretação extensiva ao
parágrafo único do art. 34 da Lei nº 10.741/2003 para fins do
cálculo da renda familiar de que trata o art. 20, §3º, da Lei nº
8.742/93. (STJ, Tema nº 185, publicada em 13/09/2019)
PREVIDENCIÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. BENEFÍCIO
ASSISTENCIAL AO IDOSO. RENDA PER CAPITA. ART. 20, §
3º, DA LEI Nº 8.742/1993. CRITÉRIO OBJETIVO
CONSIDERADO INCONSTITUCIONAL.1.O Supremo Tribunal
Federal, ao analisar os recursos extraordinários 567.985 e
580.963, ambos submetidos à repercussão geral, reconheceu a
inconstitucionalidade do § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/1993,

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assim como do art. 34 da Lei 10.741/2003 - Estatuto do Idoso,
permitindo que o requisito econômico, para fins de concessão
do benefício assistencial, seja aferido caso a caso.2.Este
Tribunal já vinha adotando uma maior flexibilização nos casos
em que a renda per capita superava o limite estabelecido no art.
20, § 3º, da LOAS, agora dispensável enquanto parâmetro
objetivo de renda familiar.3.O fato de integrante do grupo familiar
auferir proventos não impede que outra pessoa da mesma
família possa habilitar-se ao benefício assistencial, desde que
verificada a situação de miserabilidade. (TRF-4, REMESSA
NECESSÁRIA CÍVEL 5049664-10.2017.4.04.7100, Relator(a):
ARTUR CÉSAR DE SOUZA, SEXTA TURMA, Julgado em:
14/11/2018, Publicado em: 16/11/2018).

Assim, admite-se a possibilidade de outros meios de prova para


verificação da hipossuficiência familiar, cabendo ao julgador, na análise do caso
concreto, aferir o estado de miserabilidade do autor e de sua família.

4. DA APLICAÇÃO RELATIVA DO LIMITE LEGAL DA RENDA

Cabe salientar que o limite da renda, previsto no § 3º do art. 20 da Lei


n. 8.742/93, não deve mais ser encarado como um critério objetivo da condição
ou não de miserabilidade do beneficiário, mas apenas como valor de presunção.
Afinal, deve ser considerado se a renda mantém as condições
mínimas de dignidade da pessoa humana, pois, o salário mínimo não alcança
o alto grau de inflação que assola nossa economia.
Portanto, o fato a ser considerado é que a parte Requerente é
submetida a viver em estado de miserabilidade, cabendo outros meios de
provas, conforme entendimento dos tribunais:

PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL.


REQUISITOS. renda familiar. flexibilização. assistência à
criança com deficiência. 1. O direito ao benefício assistencial
pressupõe o preenchimento dos seguintes requisitos: a)
condição de deficiente (incapacidade para o trabalho e para a
vida independente, de acordo com a redação original do art. 20
da LOAS, ou impedimentos de longo prazo de natureza física,
mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com
diversas barreiras, podem obstruir a participação plena e efetiva
na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas, conforme redação atual do referido dispositivo) ou
idoso (neste caso, considerando-se, desde 1º de janeiro de
2004, a idade de 65 anos); e b) situação de risco social (estado
de miserabilidade, hipossuficiência econômica ou situação de
desamparo) da parte autora e de sua família. 2. Atendidos os
pressupostos, e comprovado que a renda familiar é insuficiente
para a assistência necessária ao desenvolvimento da criança

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com deficiência, deve ser concedido o benefício. (TRF-4 - APL:
50289583920174049999 5028958-39.2017.4.04.9999, Relator:
PAULO AFONSO BRUM VAZ, Data de Julgamento: 01/03/2018,
TURMA REGIONAL SUPLEMENTAR DE SC).

ASSISTÊNCIA SOCIAL. APELAÇÃO CÍVEL. BENEFÍCIO


ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA.
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS NO CURSO
DA AÇÃO. - A Constituição garante à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprove não possuir meios de
prover sua própria manutenção o pagamento de um salário
mínimo mensal. Trata-se de benefício de caráter assistencial,
que deve ser provido aos que cumprirem tais requisitos,
independentemente de contribuição à seguridade social - Não é
possível extrair do conjunto probatório a existência de
impedimentos de longo prazo que obstruem a participação do
apelante na sociedade, em igualdade de condições com as
demais pessoas. O quadro apresentado se ajusta, portanto, ao
conceito de pessoa com deficiência, nos termos do artigo 20, §
2º, da Lei 8.742/93, com a redação dada pela Lei 12.435/2011 -
O autor completou 65 anos de idade após a citação, passando a
cumprir o requisito da idade para a concessão do benefício
assistencial, nos termos do art. 20, caput da LOAS. Observado
o teor do artigo 493 do Novo Código de Processo Civil (2015) e
em respeito ao princípio da economia processual, o
aperfeiçoamento deste requisito pode ser aqui aproveitado. - A
LOAS prevê que a miserabilidade existe quando a renda familiar
mensal per capita é inferior a ¼ de um salário mínimo (art. 20, §
3º), sendo que se considera como "família" para aferição dessa
renda "o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um
deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e
enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob
o mesmo teto" (art. 20, § 1º) - Com o fundamento de que a
situação de miserabilidade não pode ser aferida através de mero
cálculo aritmético, o STF declarou, em 18.04.2013, ao julgar a
Reclamação 4.374, a inconstitucionalidade parcial, sem
pronúncia de nulidade, e do art. 20, § 3º da LOAS - O benefício
assistencial já concedido a idoso membro da família não pode
ser computado para os fins do cálculo da renda familiar per
capita. A exclusão também deve se aplicar aos benefícios
assistenciais já concedidos a membros da família deficientes e
aos benefícios previdenciários de até um salário mínimo
recebidos por idosos. (RE 580963, Relator (a): Min. GILMAR
MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 18/04/2013, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-225
DIVULG 13-11-2013 PUBLIC 14-11-2013) - Compõe a família
do apelante (sem renda) apenas a sua esposa, que recebe
benefício de prestação continuada no valor de um salário
mínimo. Excluído tal benefício, a renda per capita familiar é
nula - inferior, portanto, a ¼ do salário mínimo. Deste modo,
é caso de deferimento do benefício, pois há presunção
absoluta de miserabilidade, nos termos da jurisprudência
consolidada do Superior Tribunal de Justiça - O termo inicial
do benefício deve ser fixado na data em que o apelante passou
a preencher os requisitos para a sua implementação, no seu
aniversário de 65 anos, ou seja, em 02/07/2011 - Apelação a que

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se dá parcial provimento. (TRF-3 - Ap: 00255341920084039999
SP, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ STEFANINI,
Data de Julgamento: 19/02/2018, OITAVA TURMA, Data de
Publicação: e-DJF3 Judicial 1. DATA: 19/03/2018).

Assim, resta indubitável que é perfeitamente possível outros meios de


prova para verificação da hipossuficiência familiar, sendo devido, na análise do
caso concreto, aferir o estado de miserabilidade do segurado e de sua família.

5. DO RECEBIMENTO DE BOA FÉ DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO:

Conforme disposto, o benefício foi concedido em razão da


comprovação de uma deficiência do Sr. Pedro Alexandre Silva da Silva e
da hipossuficiência da sua família. Assim, verifica-se que o recebimento do
benefício pela Recorrente não possui nenhuma ilicitude ou má-fé, motivo
pelo qual não cabe a devolução do benefício ao INSS no caso em apreço
haja vista o caráter alimentar da prestação.
Cabe destacar, que no julgamento do REsp 1381734/RN (Tema 979
do STJ), já houve expresso reconhecimento de que não se aplica o entendimento
do Tema 692/STJ, nos casos em tratam que valores recebidos de boa-fé, a título
de benefício previdenciário, por força de interpretação errônea, da má aplicação
da lei ou erro da Administração da Previdência Social.
Por tais motivos, fica afastada a tese do Tema 692 do STJ, neste
caso. Afinal, a Recorrente recebeu o benefício em nítida boa fé, e conforme clara
redação da Instrução normativa do INSS n. 77/2015, a BOA FÉ é presumida no
processo administrativo:

Art. 659. Nos processos administrativos previdenciários


serão observados, entre outros, os seguintes preceitos: I -
presunção de boa-fé dos atos praticados pelos
interessados; II- atuação conforme a lei e o Direito;

A jurisprudência, vem se firmando nesse mesmo sentido de que, nos


casos de valores recebidos de boa-fé, a título de benefício previdenciário, por
força de interpretação errônea, má aplicação da lei ou erro da administração
pública, tem-se a aplicação do princípio da irrepetibilidade, ou seja, inexigível a
cobrança, em observância aos princípios da confiança e da segurança jurídica.
Nesse sentido:

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PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. DEVOLUÇÃO DE
VALORES RECEBIDOS. TUTELA ANTECIPADA
POSTERIORMENTE REVOGADA. IMPOSSIBILIDADE NA
ESPÉCIE. BOA-FÉ. CARÁTER ALIMENTAR. DECISÃO
AGRAVADA MANTIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO
IMPROVIDO.1. Recurso conhecido, nos termos do parágrafo
único, do artigo 1.015, do CPC.2. Não se desconhece que a
matéria objeto do presente recurso foi decidida pelo Eg. STJ, em
sede de recurso repetitivo, REsp 1401560 / MT, no sentido de
que a reforma da decisão que antecipa a tutela obriga a parte
autora a devolver os benefícios previdenciários indevidamente
recebidos.3. O C. Supremo Tribunal Federal, em decisões
posteriores, decidiu no sentido de ser desnecessária a
restituição dos valores recebidos de boa fé, mediante decisão
judicial, devido ao seu caráter alimentar, em razão do princípio
da irrepetibilidade dos alimentos.4. É entendimento consolidado
da Egrégia 10ª. Turma desta Corte, que é defeso à Autarquia
exigir a devolução dos valores já pagos, pois, conforme acima
exposto, o C. STF decidiu que são irrepetíveis, quando
percebidas de boa-fé, as prestações previdenciárias, em função
da sua natureza alimentar.5. O recebimento de boa-fé de
valores a título de benefício previdenciário, pelo segurado
ou beneficiário, não são passíveis de devolução posto que
se destinam à sua própria sobrevivência, circunstância que
o reveste de nítido caráter alimentar. Não se mostra razoável
impor a agravada a obrigação de devolver a verba que
recebeu de boa-fé, em virtude de ordem judicial com força
provisória. Assim, ante a natureza alimentar do benefício
concedido, pressupõe-se que os valores correspondentes foram
por ela utilizados para a manutenção da própria subsistência e
de sua família.6. Agravo de instrumento improvido. (TRF 3ª
Região, 10ª Turma, AI - AGRAVO DE INSTRUMENTO -
5004783-61.2019.4.03.0000, Rel. Desembargador Federal
MARIA LUCIA LENCASTRE URSAIA, julgado em 17/07/2019,
Intimação via sistema DATA: 19/07/2019).

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. REVISÃO DE


BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. DEVOLUÇÃO DE VALORES.
DESCONSTITUIÇÃO POR POSTERIOR AÇÃO
ANULATÓRIA. CONSTATAÇÃO DE EXCESSO DE
EXECUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. APELAÇÃO IMPROVIDA.
TUTELA MANTIDA. (...) A questão controvertida se refere à
devolução dos valores recebidos pelo autor a título de revisão
de benefício previdenciário, posteriormente desconstituída por
força de ação anulatória, diante da constatação de excesso de
execução, com o cancelamento do precatório expedido. (...)
Quanto à devolução dos valores que já foram recebidos,
constitui entendimento jurisprudencial assente que, tratando-se
de verba de natureza alimentar, os valores pagos pelo INSS em
razão de concessão indevida de benefício não são passíveis de
restituição, salvo comprovada má-fé do segurado, o que não
ocorre no presente caso. O STJ tem entendimento no sentido
de que benefícios previdenciários têm caráter alimentar, o
que os torna irrepetíveis.- Não comprovada qualquer conduta

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processual norteada pela má-fé (desrespeito a boa-fé subjetiva),
muito menos, o exercício de qualquer posição jurídica
processual que pudesse ser "catalogada" sob a rubrica do abuso
do direito processual (desrespeito à boa-fé objetiva).- Não
comprovada a culpa do segurado ou a má-fé que resultou no
reconhecimento judicial do direito à revisão do benefício, inviável
a sua devolução, por se tratar de valores recebidos de boa-fé,
protegidos por cláusula de irrepetibilidade, diante de sua
natureza eminentemente alimentar.- Em razão do caráter
alimentar dos proventos percebidos a título de revisão benefício
previdenciário, conjugado com a falta de configuração da má-fé
do autor, a devolução e os descontos pleiteados pela autarquia
não se justificam, devendo ser mantida na sua integralidade a
sentença proferida.- Apelação improvida. Tutela mantida. (TRF
3ª Região, NONA TURMA, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 2225015 -
0007290-27.2017.4.03.9999, Rel. JUIZ CONVOCADO
RODRIGO ZACHARIAS, julgado em 01/08/2018, e-DJF3
Judicial 1 DATA:10/10/2018, #03235510).

PREVIDENCIÁRIO. DEVOLUÇÃO DE PARCELAS PAGAS


INDEVIDAMENTE À BENEFICIÁRIA. BOA-FÉ. NATUREZA
ALIMENTAR DO BENEFÍCIO.
1. Com efeito, embora cassado o benefício em questão, tendo
em vista o caráter alimentar e social do benefício previdenciário,
assim como a boa-fé da parte autora, revela-se incabível a
devolução dos valores percebidos por força de decisão judicial.
(...) 4. Desse modo, é indevida a cobrança dos valores, tendo
em vista a natureza alimentar de tais verbas, bem como a
ausência de má-fé da parte autora no caso concreto. (...) 7.
Apelação parcialmente provida. (TRF 3ª Região, DÉCIMA
TURMA, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 2281359 - 0039546-
23.2017.4.03.9999, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL
NELSON PORFIRIO, julgado em 21/08/2018, e-DJF3 Judicial 1
DATA:29/08/2018 , #13235510).

PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. LOAS. IDOSO.


DEVOLUÇÃO DE VALORES INDEVIDA. RECEBIMENTO DE
BOA-FÉ. APELAÇÃO IMPROVIDA.- (...) O benefício foi
deferido à autora com DIB em 22/3/2006.- Administrativamente,
o INSS apurou um saldo devedor no valor de R$ 36.832,00,
decorrente do recebimento indevido do benefício após a ré
contrair matrimônio, tendo em vista ser o cônjuge beneficiário de
aposentadoria por idade, de valor mínimo.- A devolução dos
valores é indevida.- O fato de residir com o marido, beneficiário
de aposentadoria de valor mínimo, não impede o recebimento
de benefício assistencial por estar comprovado o requisito da
miserabilidade.- Constitui entendimento jurisprudencial assente
que, tratando-se de verba de natureza alimentar, os valores
pagos pelo INSS em razão de concessão indevida de benefício
não são passíveis de restituição, salvo comprovada má-fé do
segurado, o que não ocorre no presente caso.- O STJ tem
entendimento no sentido de que benefícios previdenciários têm
caráter alimentar, o que os torna irrepetíveis.- Não comprovada,
no caso, conduta processual norteada pela má-fé (desrespeito à
boa-fé subjetiva), muito menos o exercício de qualquer posição
jurídica processual que pudesse ser "catalogada" sob a rubrica

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do abuso do direito processual (desrespeito à boa-fé objetiva).-
Não comprovada a culpa da segurada ou a má-fé da qual resulte
o erro administrativo em questão, este não lhe poderá ser
imputado, sendo, portanto, inviável a devolução de valores
recebidos de boa-fé, pois protegidos por cláusula de
irrepetibilidade, diante de sua natureza eminentemente
alimentar.- Em razão do caráter alimentar dos proventos
percebidos a título de benefício assistencial, conjugado com a
falta de configuração da má-fé da ré, a devolução pleiteada pela
autarquia não se justifica, devendo ser mantida na sua
integralidade a sentença proferida.- Apelação improvida. (TRF
3ª Região, NONA TURMA, Ap - APELAÇÃO CÍVEL - 2217331 -
0004182-82.2015.4.03.6111, Rel. JUIZ CONVOCADO
RODRIGO ZACHARIAS, julgado em 01/08/2018, e-DJF3
Judicial 1 DATA:10/10/2018 )

Portanto, ausente qualquer demonstração de má fé por parte da


Recorrente, tem-se por indevida a cobrança realizada.

6. DOS PEDIDOS:

ISTO POSTO, requer o recebimento desta defesa para fins de que


seja arquivado o Processo Administrativo instaurado.

Nestes termos, pede deferimento.

20 de maio de 2021, São Luís – MA.

Vanderluce de Almeida Silva


CPF: 571.524.623-72

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