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19 de Dezembro de 2023

2º Grau

Tribunal Regional Federal

da 5ª Região TRF-5 -
Recursos: 0501561-
97.2015.4.05.8504 - Inteiro
Teor
Publicado por Tribunal Regional Federal da 5ª Região
há 7 anos

Processo
0501561-97.2015.4.05.8504

Órgão Julgador
Primeira Turma

Publicação
Creta 10/08/2016 PP-

Julgamento
10 de Agosto de 2016

Relator
FÁBIO CORDEIRO DE LIMA

Inteiro Teor
PODER JUDICIÁRIO
INFORMACÕES SOBRE ESTE DOCUMENTO

Nr. do Processo
0501561-97.2015.4.05.8504

Data da Inclusão 23/08/2016 09:12:45

T\355tulo do Documento:
LOAS.Indeferido.Reforma
Nr. do Processo: 0501561-
97.2015.4.05.8504
CONSTITUCIONAL. SEGURIDADE
SOCIAL. BENEFÍCIO DE PRESTA-
ÇÃO CONTINUADA AO DEFICI-
ENTE (BPC). PORTADOR DE IM-
PEDIMENTO DE NATUREZA FÍ-
SICA. ANÁLISE CONJUNTA DA
PERÍCIA MÉDICA E CONDIÇÕES
SOCIOECONÔMICAS, CONCLUI-
SE RESTAR PREENCHIDO OS RE-
QUISITOS DO ART. 20, DA LEI Nº
8.742/93. SENTENÇA DE IMPRO-
CEDÊNCIA REFORMADA. RE-
CURSO DA PARTE AUTORA
PROVIDO.

1. A parte autora recorre da sentença

que julgou improcedente o pedido de
benefício de prestação continuada ao
deficiente/incapaz, em razão do não
cumprimento dos requisitos ensejadores
da concessão do benefício em questão.

2. A controvérsia dos autos encontra-se

apenas na verificação ou não de defici-
ência que implique impedimento de
longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial que obstrua a
participação plena e efetiva na socie-
dade em igualdade de condições com as
demais pessoas. Isso porque houve reco-
nhecimento expresso pela Administra-
ção previdenciária do preenchimento do
requisito renda mensal per capita infe-
rior a 1/4 (um quarto) do salário-mí-
nimo (anexo 5).
3. Nos termos do art. 20, da Lei
8.742/93, o benefício de prestação con-
tinuada será devido àqueles que pos-
suam alguma deficiência e ao idoso com
65 (sessenta e cinco) anos ou mais,
desde que, comprovem não possuir
meios de prover a própria manutenção
nem de tê-la provida por sua família.

4. O art. 20, § 2º da Lei nº 8.742/93, em

redação dada pela Lei nº 12.435/2011,
considera pessoa com deficiência, para
fins de concessão do benefício de presta-
ção continuada, “aquela que tem impe-
dimento de longo prazo de natureza fí-
sica, mental, intelectual ou sensorial, os
quais em interação com diversas barrei-
ras podem obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade em igual-
dade de condições com as demais pes-
soas.” Por conseguinte, o inciso II con-
ceitua impedimentos de longo prazo
como sendo “aqueles que incapacitam a
pessoa com deficiência para a vida inde-
pendente e para o trabalho pelo prazo
mínimo de 02 (dois) anos”.

5. Da análise das normas acima transcri-

tas, ressai a imprescindibilidade de se
satisfazer a dois requisitos para o reco-
nhecimento à percepção do beneficio as-
sistencial em tela, quais sejam: pri-
meiro, a caracterização da incapacidade
do requerente para exercer atividades
laborativas, em decorrência de sua defi-
ciência (incapacidade) e/ou o caráter de
idoso, segundo, a situação de penúria
em que ele se encontra (miserabilidade),
de sorte que, da conjugação desses dois
pressupostos, transpareça a sua impos-
sibilidade de prover o seu sustento e/ou
o de sua família.

6. Sobreleva recordar que desde a en-

trada em vigor das Leis nº 12.435 e
12.470 a condição de deficiente passou a
ser avaliada sob a perspectiva de impe-
dimento de longo prazo de natureza fí-
sica, mental, intelectual ou sensorial que
impeça a participação plena e efe-
tiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas,
ou seja, o paradigma atual é bem mais
abrangente que o anterior, o qual esta-
belecia um critério unicamente biomé-
dico de deficiência. Assim, o novo
conceito de deficiente centra-se no im-
pedimento de longo prazo que interfira
na participação plena do individuo na
sociedade; a incapacidade profissional,
portanto, não é mais o ponto central
para a definição da deficiência.

7. Diante desse novo paradigma, a aferi-

ção de deficiência para fins de concessão
de benefício assistencial deve considerar
outras questões sociais como ausência
de acessibilidade ao portador de defici-
ência, e não apenas àquela relacionada à
incapacidade para o trabalho. Entende-
se por acessibilidade, consoante o art.
9º da Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência, a derrubada
das barreiras sociais para a integração
das pessoas portadoras de deficiência à
sociedade.
Lançadas essas considerações, passa-se
a análise do caso concreto.

8. De acordo com o laudo médico judi-

cial, a recorrente, lavradora, com 54
anos de idade, analfabeta, foi submetida
a "tratamento cirúrgico de fratura
exposta de rádio esquerdo no
HUSE", o que acarretou "cicatriz ci-
rúrgica em região lateral do coto-
velo esquerdo + limitação da supi-
nação do antebraço esquerdo +
dor desproporcional com a palpa-
ção / movimentação do punho es-
querdo + amplitude articular nor-
mal do ombro / cotovelo / punho /
dedos da mão esquerda". Em que
pese à conclusão do perito médico no
sentido de que tais sequelas não acarre-
tam incapacidade ou mesmo limitação
significativa, segundo regras de experi-
ência, não é crível que uma senhora de
54 anos, com uma limitação do membro
superior esquerdo dessa natureza, possa
participar em igualdade de condições
com os seus pares na disputa por uma
vaga no trabalho agrícola.

9. Assim, verifica-se que o quadro fático

da recorrente se enquadra nos novos pa-
radigmas das Leis nº 12.435 e 12.470, o
que impõe o reconhecimento do direito
vindicado nestes autos.

10. Ante o exposto, CONHEÇO E DOU

PROVIMENTO ao recurso inominado
interposto, condenando o INSS a conce-
der o benefício assistencial de prestação
continuada à parte autora desde a data
do requerimento administrativo
((04/02/2015) – anexo 4), quando já
preenchidos os requisitos autorizadores
do benefício, e o pagamento das parce-
las vencidas, devendo ser apurada as
parcelas vencidas no Juízo de origem.

Sem custas e sem honorários advocatí-

cios por não se tratar de recorrente-ven-
cido (art. 55 da Lei n.º 9.099/95 e
Enunciado 57 do FONAJEF).

Consectários legais (juros e corre-

ção monetária).

Embora este Relator já tenha se mani-

festado o seu entendimento pessoal [RI
n.º 0502227-44.2014.4.05.8501] sobre
a questão afetada pelo STF sob o regime
da repercussão geral [RE n.º 870.947
SE, Rel. Min. Luiz Fux], entendo que a
solução a ser adotada deve ser de polí-
tica judiciária no sentido de prestigiar o
princípio da razoável duração do pro-
cesso. Assim, aplico o entendimento
exarado, por este Colegiado, em Questão
de Ordem no processo nº 0501511-
83.2015.4.05.8500, a qual consignou:

Quanto à correção monetária e

aos juros de mora devidos nas
ações em que a Fazenda Pública
for vencida, até que o Supremo
Tribunal Federal – STF julgue o
RE n.º 870.947/SE – RG (reper-
cussão geral), eles devem respei-
tar as seguintes diretrizes:

a) exceto nas ações tributárias, a

correção monetária e o juros de
mora deverão ser calculados de
 acordo com o vencimento das
parcelas originalmente devidas,
observando-se os seguintes
parâmetros:

a.1) até junho/2009, regramento

previsto para correção monetária
e juros de mora no Manual de
Orientação de Procedimentos
para os Cálculos na Justiça Fede-
ral para a classe da ação;

a.2) de julho/2009 e até

junho/2012, TR – Taxa Referen-
cial (correção monetária) e 0,5%
(meio por cento) ao mês de juros
de mora (art. 1º-F da Lei n.º
9.494/97, alterada pela Lei n.º
11.960/2009);

a.3) a partir de julho/2012, TR –

Taxa Referencial (correção mo-
netária) e a taxa de juros apli-
cada às cadernetas de poupança
(art. 1º-F da Lei n.º 9.494/97, al-
terada pela Lei n.º 11.960/2009
e Lei n.º 12.703/2012);

b) nas ações tributárias, a corre-

ção monetária e os juros de mora
serão calculados conjuntamente,
através da aplicação unicamente
da taxa SELIC, desde o venci-
mento da parcela devida.

É como voto.

ACÓRDÃO
Certificação do resultado e composição
da Turma conforme certidão de
julgamento.
FÁBIO CORDEIRO DE LIMA
 Juiz Federal Relator

Visualizado/Impresso em 11 de Setembro de 2020 as 08:19:34

Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/trf-
5/924840145/inteiro-teor-924840184

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