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16 de Maio de 2022

2º Grau

Superior Tribunal de Justiça STJ - RECURSO


ESPECIAL: REsp 1946269 SP 2021/0199743-6 -
Decisão Monocrática

Publicado por Superior Tribunal de Justiça há 8 meses

Processo
REsp 1946269 SP 2021/0199743-6

Publicação
DJ 01/09/2021

Relator
Ministro SÉRGIO KUKINA

Documentos anexos

Decisão Monocrática
RECURSO ESPECIAL Nº 1946269 - SP (2021/0199743-6)

RELATOR : MINISTRO SÉRGIO KUKINA

RECORRENTE : MARIA JOSE GONCALVES

ADVOGADO : DIANNA MENDES DA SILVA E OUTRO(S) - SP311085

RECORRIDO : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL


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DECISÃO
Trata-se de recurso especial manejado por MARIA JOSÉ GONÇALVES ,

com fundamento no art. 105, III, a, da CF/88, desafiando acórdão proferido


pelo Tribunal

Regional Federal da 3ª Região, assim ementado (fls. 154):

PREVIDENCIÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. APOSENTADORIA POR IDADE.


TRABALHADOR RURAL. INÍCIO DE PROVA
MATERIALINSUFICIENTE. EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DE MÉRITO.
RESP REPETITIVO 1352721/SP. INVERSÃO DO ÔNUS
DASUCUMBÊNCIA.
1. O STJ, no RE 1352721/SP, decidiu que nos processos em que se pleiteia a
concessão de aposentadoria por idade, a ausência de prova material apta a
comprovar o exercício da atividade rural caracteriza carência de
pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo a ensejar
a extinção da ação sem exame do mérito.
2. Inversão do ônus da sucumbência. Exigibilidade condicionada à hipótese
do §3º do artigo 98 do CPC/2015.
3. De ofício, processo extinto sem resolução de mérito. Apelação
prejudicada.

Não foram opostos embargos de declaração.

Nas razões do recurso especial, aponta o recorrente violação do art. 106, da

Lei 8.213/91 e sustenta, em síntese, que a certidão de nascimento dos


filhos, bem como

certidão de casamento, são documentos suficientes a serem considerados


como início de

prova material de sua condição de rurícola.

Sem contrarrazões.

É O RELATÓRIO. PASSO À FUNDAMENTAÇÃO.

O labor campesino, para fins de percepção de aposentadoria rural por


idade,

deve ser demonstrado por início de prova material e ampliado por prova
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testemunhal,
ainda que de maneira descontínua, no período imediatamente anterior ao
requerimento,

pelo número de meses idêntico à carência ( AgRg no REsp


1.309.591/SP, Rel. Ministro

NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em


05/06/2012,

DJe 29/06/2012).
Nesse diapasão, são considerados, como início de prova material,

documentos de registros civis que apontem o efetivo exercício de labor no


meio rural, em

nome de outros membros da família, inclusive cônjuge ou genitor, que o


qualificam como

lavrador, desde que acompanhados de robusta prova testemunhal ( AgRg


no AREsp

188.059/MG , Rel. Ministro Herman Benjamin, DJe 11/09/2012).

Consigna-se que, mesmo para o trabalhador rural boia-fria, necessária se


faz

apresentação de início de prova material, ainda que diminuta, conforme


jurisprudência

desta Corte firmada em recurso especial repetitivo:

RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E


RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE
CONTROVÉRSIA. SEGURADO ESPECIAL. TRABALHO RURAL.
INFORMALIDADE. BOIAS-FRIAS. PROVA EXCLUSIVAMENTE
TESTEMUNHAL. ART. 55, § 3º, DA LEI 8.213/1991. SÚMULA 149/STJ.
IMPOSSIBILIDADE. PROVA MATERIAL QUE NÃO ABRANGE TODO O
PERÍODO PRETENDIDO. IDÔNEA E ROBUSTA PROVA
TESTEMUNHAL. EXTENSÃO DA EFICÁCIA PROBATÓRIA. NÃO
VIOLAÇÃO DA PRECITADA SÚMULA.
1. Trata-se de Recurso Especial do INSS com o escopo de combater o
abrandamento da exigência de produção de prova material, adotado pelo
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acórdão recorrido, para os denominados trabalhadores rurais boias-frias.
2. A solução integral da controvérsia, com fundamento suficiente, não
caracteriza ofensa ao art. 535 do CPC.
3. Aplica-se a Súmula 149/STJ ("A prova exclusivamente testemunhal não
basta à comprovação da atividade rurícola, para efeitos da obtenção de
benefício previdenciário") aos trabalhadores rurais denominados "boias-
frias", sendo imprescindível a apresentação de início de prova material.
4. Por outro lado, considerando a inerente dificuldade probatória da
condição de trabalhador campesino, o STJ sedimentou o entendimento de
que a apresentação de prova material somente sobre parte do lapso
temporal pretendido não implica violação da Súmula 149/STJ, cuja
aplicação é mitigada se a reduzida prova material for complementada por
idônea e robusta prova testemunhal.
5. No caso concreto, o Tribunal a quo, não obstante tenha pressuposto o
afastamento da Súmula 149/STJ para os "boias-frias", apontou diminuta
prova material e assentou a produção de robusta prova testemunhal para
configurar a recorrida como segurada especial, o que está em consonância
com os parâmetros aqui fixados.
6. Recurso Especial do INSS não provido. Acórdão submetido ao regime do
art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.
( REsp 1321493/PR , Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA
SEÇÃO, julgado em 10/10/2012, DJe 19/12/2012)

No tocante à contemporaneidade da prova material, esta Corte, no

julgamento do Recurso Especial Repetitivo n. 1.348.633/SP , da


relatoria do Ministro

Arnaldo Esteves Lima, examinando a matéria concernente à possibilidade


de

reconhecimento do período de trabalho rural anterior ao documento mais


antigo

apresentado, consolidou o entendimento de que a prova material juntada


aos autos possui

eficácia probatória tanto para o período anterior quanto para o posterior à


data do

Conteúdodocumento,
copiado! desde que corroborado por robusta prova testemunhal.
Confira-se a ementa do julgado:
PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DA
CONTROVÉRSIA. APOSENTADORIA POR TEMPO DE SERVIÇO. ART.
55, § 3º, DA LEI 8.213/91. TEMPO DE SERVIÇO RURAL.
RECONHECIMENTO A PARTIR DO DOCUMENTO MAIS ANTIGO.
DESNECESSIDADE. INÍCIO DE PROVA MATERIAL CONJUGADO COM
PROVA TESTEMUNHAL. PERÍODO DE ATIVIDADE RURAL
COINCIDENTE COM INÍCIO DE ATIVIDADE URBANA REGISTRADA
EM CTPS. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
1. A controvérsia cinge-se em saber sobre a possibilidade, ou não, de
reconhecimento do período de trabalho rural anterior ao documento mais
antigo juntado como início de prova material.
2. De acordo com o art. 400 do Código de Processo Civil "a prova
testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso". Por
sua vez, a Lei de Benefícios, ao disciplinar a aposentadoria por tempo de
serviço, expressamente estabelece no § 3º do art. 55 que a comprovação do
tempo de serviço só produzirá efeito quando baseada em início de prova
material, "não sendo admitida prova exclusivamente testemunhal, salvo na
ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, conforme disposto no
Regulamento" (Súmula 149/STJ).
3. No âmbito desta Corte, é pacífico o entendimento de ser possível o
reconhecimento do tempo de serviço mediante apresentação de um início
de prova material, desde que corroborado por testemunhos idôneos.
Precedentes. 4. A Lei de Benefícios, ao exigir um " início de prova
material", teve por pressuposto assegurar o direito à contagem do tempo de
atividade exercida por trabalhador rural em período anterior ao advento da
Lei 8.213/91 levando em conta as dificuldades deste, notadamente
hipossuficiente.
5. Ainda que inexista prova documental do período antecedente ao
casamento do segurado, ocorrido em 1974, os testemunhos colhidos em
juízo, conforme reconhecido pelas instâncias ordinárias, corroboraram a
alegação da inicial e confirmaram o trabalho do autor desde 1967.
6. No caso concreto, mostra-se necessário decotar, dos períodos
reconhecidos na sentença, alguns poucos meses em função de os autos
evidenciarem os registros de contratos de trabalho urbano em datas que
coincidem com o termo final dos interregnos de labor como rurícola, não
impedindo, contudo, o reconhecimento do direito à aposentadoria por
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tempo de serviço, mormente por estar incontroversa a circunstância de que
o autor cumpriu a carência devida no exercício de atividade urbana,
conforme exige o inc. II do art. 25 da Lei 8.213/91.
7. Os juros de mora devem incidir em 1% ao mês, a partir da citação válida,
nos termos da Súmula n. 204/STJ, por se tratar de matéria previdenciária.
E, a partir do advento da Lei 11.960/09, no percentual estabelecido para
caderneta de poupança. Acórdão sujeito ao regime do art. 543-C do Código
de Processo Civil.
( REsp 1.348.633/SP , Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 28/08/2013, DJe 05/12/2014)

Entretanto, no caso, o Tribunal de origem deixou de considerar o início de


prova documental existente, nos seguintes termos (fl.154):

Para comprovar as suas alegações, a autora apresentou: I) declaração de


exercício da atividade rural; II) declaração de aptidão ao PRONAF , datada
de 2015, em nome dela; III) certidões de nascimento de filhos, nascidos em
1981, 1983 e 1985, nas quais figura como lavradora; IV) Cadastro da
Comunidade de Quilombo da Praia Grande, datado de 2007, no qual
constam os nomes dela e do atual companheiro, João Luiz de Moura.
A declaração emitida pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais não
homologada pelo INSS não serve como meio de prova do exercício de
atividade rural, a teor do que dispõe o artigo 106, inciso III, da Lei
8.213/91, com a redação dada pela Lei 11.718/2008.

É pacífico o entendimento dos Tribunais, considerando as difíceis


condições dos trabalhadores rurais, admitir a extensão da qualificação do
cônjuge ou companheiro à esposa ou companheira.

Assim, as certidões de nascimento apresentadas servem como início de


prova material, mas não para comprovar o regime de economia familiar.

Em se tratando de segurado especial, é necessário que a atividade seja


comprovada através de documentos que demonstrem o efetivo exercício do
labor rural em regime de economia familiar, como, por exemplo, aqueles
elencados no art. 106 da Lei nº 8.213/91, ou outros que sirvam a tal mister.
A declaração de aptidão ao PRONAF serve como início de prova material
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da atividade em regime de economia familiar.
Ainda que se considere também o Cadastro da Comunidade de Quilombo
da Praia Grande, que data de 2007, como início de prova material do
regime de economia familiar, verifico que não há início de prova material
do citado regime antes de tal data.

Tendo em vista que o conjunto probatório foi insuficiente para a


comprovação da atividade rural, em regime de economia familiar, pelo
período previsto em lei, de acordo com a técnica processual vigente, de
rigor seria a improcedência da ação.

Ao que se percebe, o acórdão recorrido destoou da jurisprudência desta


Corte.
Confira-se:

PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR


TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO. SEGURADO ESPECIAL. PROVA
TESTEMUNHAL. INVERSÃO. SÚMULA 7 DO STJ.
1. Conforme estabelecido pelo Plenário do STJ, "aos recursos interpostos
com fundamento no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de
março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de admissibilidade na
forma nele prevista, com as interpretações dadas até então pela
jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça" (Enunciado Administrativo
n. 2).
2. Na esteira do REsp n. 1.348.633/SP, da Primeira Seção, para efeito de
reconhecimento do labor agrícola, mostra-se desnecessário que o início de
prova material seja contemporâneo a todo o período de carência exigido,
desde que a eficácia daquele seja ampliada por prova testemunhal idônea.
3. Caso em que o Tribunal a quo considerou indevida a aposentadoria por
tempo de contribuição por concluir que o exercício de atividade rural foi
corroborado pela prova testemunhal apenas em parte do interregno de
tempo postulado, sendo certo que a inversão do julgado esbarra no óbice da
Súmula 7 do STJ.
4. Agravo interno desprovido.
( AgInt nos EDcl no AREsp 829.779/SP , Rel. Ministro GURGEL DE
FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 24/04/2018, DJe 29/05/2018 -
grifo nosso )
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Nesse contexto, necessário se faz o retorno dos autos ao Tribunal de


origem, a fim de que prossiga no julgamento da causa e analise se a prova
testemunhal é
capaz de ampliar a eficácia probatória desses documentos, atestando o
efetivo exercício de atividade rural, no período de carência legalmente
exigido para a percepção do benefício postulado pela recorrente.

ANTE O EXPOSTO , dou parcial provimento ao recurso especial, em


menor extensão ao pedido deduzido pela parte recorrente, a fim de que os
autos retornem ao Tribunal de origem, nos termos da fundamentação
supra.

Publique-se.

Brasília, 29 de agosto de 2021.

Sérgio Kukina

Relator

Disponível em: https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1273332646/recurso-especial-resp-


1946269-sp-2021-0199743-6/decisao-monocratica-1273332660

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