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STRABON. Geographie, livre dix-sept, chapitre I: L'Egypte. Trad. française: Amédée Tardieu. T. 1.

Paris:
Hachette, 1867. Disponível em: http://remacle.org/bloodwolf/erudits/strabon/livre171.htm (Trad.
portuguesa: Regina Bustamante)

54. Os etíopes, no entanto, achavam que podiam aproveitar a fraqueza dos romanos, já que parte de suas
tropas havia sido retirada do Egito e seguido Gallus em sua expedição contra os árabes, e se jogaram sobre
a Tebaida e as três coortes acantonadas em Syene; eles conseguiram até mesmo, pela rapidez de seus
movimentos, tomar uma após outra, Syene, Elefantina e Filae, e, não contentes em ter feito muitos
prisioneiros, eles levaram como troféus as estátuas de César. Petrônio apressou-se e, com menos de dez
mil soldados de infantaria apoiados por oitocentos cavaleiros, não hesitou em atacar um exército de trinta
mil etíopes, a princípio jogando-os em desordem em Pselchis, do outro lado de suas fronteiras, e depois
lhes enviou emissários para exigir deles todo o espólio que tinham tomado e lhes pedir uma explicação
sobre os motivos de sua agressão. A resposta deles foi que eles tinham queixas dos nomarcas, para as quais
Petrônio objetou que os nomarcas não eram os senhores do Egito, e que o único soberano do país era
César. Eles então pediram três dias para deliberar; mas ficaram lá e como não fizeram nada que Petrônio
pedisse, ele foi até eles e os forçou a lutar. Petrônio logo colocou em debandada uma multidão tão mal
comandada quanto mal armada (sabemos que com seus longos escudos feitos de couro de boi, mesmo
despreparados, os etíopes têm para todos machados ou lanças como armas ofensivas e apenas alguns
adicionam sabres). Uma parte dos derrotados foi levada de volta para a cidade, outra fugiu para o deserto,
outros finalmente encontraram um refúgio não muito longe do campo de batalha em uma ilha do rio onde
eles puderam nadar contra a força da correnteza neste lugar infestado de crocodilos. Entre os fugitivos
estavam os generais da rainha Candace, aquela mulher viril que perdeu um olho devido a um ferimento
recebido em combate e que, em nossos dias, exercia o poder supremo na Etiópia. Mas, Petrônio, por sua
vez, fez seu povo atravessar o rio em balsas e barcos, e levar aprisionados todos os fugitivos que a ilha
havia recolhido; ele imediatamente os conduziu para Alexandria, e, marchando pessoalmente sobre
Pselchis, ele assume o ataque e a conquista. Se acrescentarmos aos prisioneiros da ilha o número dos que
morreram no combate, descobriremos que, na realidade, poucos inimigos escaparam. De Pselchis, Petrônio
foi para Premnis, outro lugar muito árido, e teve que atravessar para alcançar as mesmas dunas sob as
quais o exército de Cambises, surpreso com um redemoinho, havia permanecido há muito tempo engolido.
Atacado resolutamente, Premnis caiu em seu poder; então foi a vez de Napata, a capital da rainha Candace.
O príncipe real ali se enclausurou, quanto a ela, entrincheirada em uma fortaleza vizinha, tentou impedir o
conquistador por meio de uma embaixada encarregada de solicitar sua amizade e se oferecer para devolver
os prisioneiros feitos em Syene, bem como as estátuas de César. Mas, Petrônio, a despeito disso, atacou
Napata, entretanto o filho de Candace se salvou a tempo, e, uma vez mestre da cidade, ele arrasou a cidade
e reduziu todos os habitantes à escravidão. Feito isso, ele voltou com todo o seu espólio, tendo julgado que
deveria ser impraticável para o país formar um novo exército. Ele cuidara apenas, antes de ir embora,
tornar Premnis mais forte do que antes, e, para esse fim, colocou uma guarnição de 400 homens com
provisões por 2 anos. Foi então que ele partiu para retornar a Alexandria. Antes, ele se livrou de seus
prisioneiros, vendendo alguns deles para a casa de leilões e, restando mil, os envia a César, exatamente
quando este retornava de sua expedição contra os cantábricos. Quanto aos outros, todos morreram de
doença. Candace, no entanto, retomou a ofensiva e montou forças ainda maiores, com as quais ameaçou a
guarnição de Premnis. Felizmente, Petrônio teve tempo de vir em seu auxílio, chegou no local e o
guarneceu melhor do que antes. Candace tentou então negociar. Petrônio convidou seus emissários a irem
a César; e, como eles fingiam não saber quem era César e por quais caminhos eles poderiam alcançá-lo,
Petrônio lhes deu uma escolta. Eles, assim, seguiram a Samos onde César estava pronto para ir para a Síria
e já enviara Tibério à Armênia, viram-no e obtiveram dele tudo o que pediram, até a remissão do tributo
que ele próprio lhes impusera.

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