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29.9.2023
INVESTIGADO
Por que Sergio Moro virou
alvo do CNJ e da PF
78
/ Capa
INVESTIGADO: POR QUE SERGIO
MORO VIROU ALVO DO CNJ E DA PF
4 | por Ivan Longo
20 | Documentos mostram que Moro
tentou grampear e investigar juízes
edição #78
/ Política
29 | Áudios mostram que general Heleno
conteúdo |
/ Global
44 | De Soros a Confúcio, os fantasmas
dos republicanos que tentam derrotar
Trump, por Luiz Carlos Azenha
/ Censura
50 | Johnny Hooker enfrenta a extrema
direita: "Não entendem nada e vivem do
pânico moral", por Marcelo Hailer
/ Música
63 | Gal Costa: o primeiro aniversário sem
nossa cantora mais feroz e delicada, por
Julinho Bittencourt
68 / Expediente
Foto capa: Edilson Rodrigues / Agência Senado
Foto Marcos Oliveira/Agência Senado
Capa
MORO
ALVO DO CNJ
E DA PF
por Ivan Longo
Ex-juiz será investigado por “gestão caótica”
de valores bilionários provenientes de
acordos de leniência com a Petrobras e
que, ao final, seriam utilizados para criar a
“Fundação Lava Jato”
O
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por
determinação recente do corregedor
nacional de Justiça, ministro Luis
Felipe Salomão, abriu uma investigação inédita
contra Sergio Moro para apurar possíveis
irregularidades da época em que atuava como
juiz na gestão de recursos bilionários oriundos
dos acordos de colaboração e de leniência
firmados pela Operação Lava Jato com a
Petrobras e homologados pela 13ª Vara Federal
de Curitiba.
A investigação tem como alvos, ainda, a juíza
Gabriela Hardt, que substituiu Moro na 13ª Vara,
e os desembargadores federais Loraci Flores
de Lima, João Pedro Gebran Neto e Marcelo
Malucelli, todos do Tribunal Regional Federal da
4ª Região (TRF-4).
Trata-se de um desdobramento da correição
extraordinária realizada pela Corregedoria
Nacional de Justiça na 13ª Vara Federal de
Curitiba e no TRF-4, que apontou uma “gestão
caótica” dos recursos de acordos de leniência
entre 2015 e 2019, período em que a Petrobras
era investigada nos Estados Unidos e Moro
comandava a referida
Vara, que homologou
tais acordos com a
petrolífera.
Segundo Luis
Felipe Salomão, Moro
autorizou o repasse
de R$ 2,1 bilhões à
Petrobras no período
investigado, e há, nessa
movimentação, “indícios
Foto CNJ
de violação reiterada
dos deveres de
transparência, de prudência, de imparcialidade
e de diligência do cargo”. O corregedor nacional
de Justiça aponta que esse repasse foi feito
“ao ímpeto de efetuar a execução imediata dos
termos estabelecidos nos acordos firmados pela
força-tarefa, o que terminava por consolidar
verdadeira dispensa do devido processo legal”.
Em outras palavras, Moro teria tentado,
atendendo aos seus interesses e aos da
Lava Jato, à época comandada pelo então
procurador Deltan Dallagnol, “fazer voltar” esses
recursos dos acordos de leniência para criar a
Os investigados
Foto Reprodução
Gabriela Hardt, Loraci Flores de Lima, João Pedro
Gebran Neto e Marcelo Malucelli
“Verificou-se a existência de um
possível conluio envolvendo os diversos
operadores do sistema de justiça, no
sentido de destinar valores e recursos no
Brasil, para permitir que a PETROBRAS
pagasse acordos no exterior que
retornariam para interesse exclusivo da
força-tarefa”, diz um trecho do relatório
elaborado por membros do CNJ.
Foto Reprodução
EP.2
Festa da Selma
Documentos mostram
que Moro tentou
grampear e investigar
juízes ilegalmente
Ex-delator Tony Garcia entregou ao Supremo
Tribunal Federal documentos que estavam sob
sigilo dando conta das missões ilegais que
Moro teria designado a ele; ex-juiz nega
por Ivan Longo
O
ex-deputado estadual paranaense e
ex-delator Tony Garcia, que alega ter
desempenhado o papel de agente
infiltrado do senador Sergio Moro durante o
período em que o então juiz era o titular da 13ª
Vara Federal de Curitiba, entregou recentemente
ao Supremo Tribunal Federal (STF) um conjunto
de documentos explosivos. Esses documentos
revelam uma suposta tentativa de Moro de
investigar ilegalmente desembargadores, juízes
e ministros do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), incluindo o uso de grampos ilegais.
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Foto José Cruz/Agência Brasil
Política
Áudios mostram
que general Heleno
agiu por golpe
de Estado
Análise realizada por acadêmicos da UFABC
e da USP comprova que é do ex-chefe do GSI
a voz que ameaça a democracia
por Henrique Rodrigues
Q
uase um ano após integrantes das
Forças Armadas ligados ao governo do
então presidente Jair Bolsonaro (PL)
terem ameaçado romper com a democracia
no Brasil e instituir um regime autoritário
comandado pelo ex-capitão do Exército que
chegou ao Palácio do Planalto, e que de lá
se recusava a sair depois de ser derrotado
por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, a
Fórum recebeu um laudo técnico produzido
por acadêmicos da Universidade Federal do
ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo
(USP) que atesta que o general da reserva
Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) e uma das
principais personagens do séquito pessoal
do ex-presidente de extrema direita, de fato
é o autor de áudios golpistas e ameaçadores
que se espalharam pelas redes bolsonaristas
prometendo uma ruptura política no país. Foto Carolina Antunes/PR
Os áudios golpistas
No primeiro áudio atribuído a Heleno, o general
repete fake news conhecidas, como a do ministro
Luís Roberto Barroso, do STF, que teria dito
que “eleição não se ganha, se toma”, algo já
amplamente desmentido, sendo fruto de uma
descontextualização proposital de uma declaração
do magistrado em que ele narrava algo dito em
tom de piada numa conversa com um senador da
República que falava sobre os problemas eleitorais
históricos em seu estado natal. Na sequência,
o militar aposentado segue com bravatas e
ameaças explícitas, ataca Lula com ofensas e
insiste que o petista não será empossado.
Enganar a tecnologia
atual é quase impossível
Gazziro disse ainda que perícias desse
tipo, como a solicitada pela Fórum, vêm se
tornando cada vez mais precisas e que desde
já são essenciais para se juntar provas em
processos judiciais nos quais seja necessária a
identificação de alguém acusado de propagar
informações falsas. Para ele, o grande benefício
do avanço científico nessa área é deixar claro
que ninguém poderá sustentar uma mentira se
escondendo atrás do anonimato ou negando a
autoria de um ato.
“Nossa perícia tem o intuito, sobretudo, de
inibir as pessoas de fazer algo ilícito, fazendo uso
de uma imagem de alguém já conhecido, por
exemplo, para incitar as pessoas a realizarem
algo. Aqueles que agem assim precisam pensar
duas vezes antes de fazer tal coisa e saber que
há análises de áudio modernas que podem
identificá-los, podendo até eventualmente ser
juntadas a outras provas para um processo
judicial”, encerrou o perito acadêmico.w
Bomba numerada
que não explodiu em
Brasília pode ter sido uma
entre muitas
Fonte da PF dá detalhe assustador
não revelado no caso dos terroristas
bolsonaristas que tentaram explodir caminhão-
tanque no aeroporto do DF; entenda do que
o Brasil se livrou
por Henrique Rodrigues
E
ra 24 de dezembro, véspera de Natal,
e o Brasil ainda acordava e ia dormir
assustado com as ameaças golpistas
que não paravam de brotar e que pareciam
ter tomado forma pouco mais de uma semana
antes, no fim da tarde do dia 12, quando
uma horda de extremistas tentou literalmente
incendiar Brasília e invadir a sede da Polícia
Federal (PF), numa ação que tentava impedir
a diplomação do então presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na data mais
importante do cristianismo, os terroristas que
se dizem cristãos tentariam o mais ousado e
horrendo plano: explodir o Aeroporto Juscelino
Kubitschek, na capital da República.
Os terroristas
“O curioso nessa
investigação é: quanto mais
a gente puxa o fio, mais
a gente vai descobrindo
outras pessoas
envolvidas nisso..."
De Soros a Confúcio,
os fantasmas dos
republicanos que tentam
derrotar Trump
Ex-presidente faltou ao debate
entre pré-candidatos do partido
republicano à Casa Branca
por Luiz Carlos Azenha
O
debate promovido pelas emissoras Fox
e Univision entre pré-candidatos à Casa
Branca, ao qual Donald Trump não
compareceu, deixou clara a guinada do Partido
Republicano ainda mais à direita.
O encontro, o segundo da temporada,
significativamente aconteceu na sede da biblioteca
de Ronald Reagan, que em 1980 se elegeu
prometendo uma "nova manhã na América".
O tom dos pré-candidatos, possivelmente de
olho na base mais radicalizada do partido, foi
o de pintar os Estados Unidos como um país
em declínio, ameaçado pelo crime na rua, pelos
imigrantes ilegais e pelos comunistas chineses.
Sobrou até para Confúcio: o
governador da Flórida, Ron
DeSantis, prometeu enfrentar
o suposto "expansionismo
cultural" da China fechando
os institutos que se dedicam a
disseminar os ensinamentos do
sábio chinês nos Estados Unidos.
Ele também baniria estudantes ligados ao
Partido Comunista Chinês de universidades
estadunidenses.
O fato de a China ter investido, segundo um
dos moderadores, US$ 12 bilhões na América
Latina foi apresentado como motivo de alarme.
Os chineses foram acusados de promover
destruição ambiental em larga escala no
planeta para extrair os minerais necessários às
baterias de carros elétricos que seriam ameaça
à tradicional indústria automobilística dos EUA,
que faliu em 2008 e teve de ser socorrida por
injeção maciça de dinheiro público.
Fotos Wikipedia
Ilustração do sábio chinês Confúcio e o investidor George Soros
Censura
A
o mesmo tempo que a Comissão
de Previdência, Assistência Social,
Infância, Adolescência e Família da
Câmara dos Deputados discutia o Projeto de
Lei 5.167/2009, de autoria dos deputados
Capitão Assumção (PSB-ES) e Paes de Lira
(PTC-SP), que visa proibir o casamento civil
LGBT+, o cantor Johnny Hooker era proibido
de se apresentar no festival Mormaço Cultural,
organizado pela Prefeitura da cidade de Boa
Vista, capital de Roraima.
Por meio de suas redes sociais, o prefeito de
Boa Vista, Arthur Henrique (MDB), publicou um
vídeo para anunciar o cancelamento do show de
Johnny Hooker. Entre os argumentos, Henrique
usou termos como "respeito" e "segurança".
Mas o que levou o prefeito da cidade a
cancelar um show que já estava acertado? O
deputado federal Nicoletti (União-RR) resgatou
uma fala de Johnny Hooker de 2018 e a tirou
de contexto para incitar a extrema direita
Foto Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Foto Prefeitura de Boa Vista
Foto Divulgação
"Os ataques à
comunidade
LGBTQIA+
estão sendo
coordenados. É
um ataque à união
civil LGBT,
a artistas LGBT"
Foto Divulgação
vão da desigualdade social, as pessoas usam
os medos, a fé, as fragilidades das pessoas
como ferramenta para ganho político. É muito
triste. Eu acho o Brasil uma escuridão, uma
escuridão tão grande, tão grande. E lá no fim,
lá no finalzinho, tem uma luzinha, assim, que é
o quê? Os artistas, os políticos progressistas,
entendeu? Que é quem tá na crista da onda
dos movimentos e das coisas que vão levar
este país pro futuro. Mas, assim, daqui a
muito tempo, né? Eu acho legal essa coisa,
eu acho que me sinto orgulhoso de abrir esse
precedente, entendeu? Porque, na minha
declaração, estava nada mais nada menos
do que lutando contra a homofobia, contra a
homotransfobia. Eu não falo de religião nos
meus shows, como diz o deputado Nicoletti.
Meus shows não têm nada de religião. Aquilo ali
foi um caso isolado, porque estavam atacando
uma amiga minha. Dentro daquele mesmo
festival. Eles acham que podem falar. Nós,
pessoas LGBTQIA+, somos agredidos por
pessoas religiosas. Só pra gente desistir. Desde
que eu me entendo por gente que tem crente
olhando pra minha cara e falando que eu sou
o demônio. Porque eu sou uma bicha imunda,
entendeu? E nojenta. E eu vejo a mesma coisa
acontecer com os meus amigos. A gente
perde oportunidade de trabalho, a gente perde
espaços sociais. Muitas pessoas são rejeitadas
pela família, perdem as famílias por conta da
religião. E a gente não pode falar não, é? Epa,
a gente não tem direito ao sagrado não? O
sagrado é só de vocês? Vocês são donos
de Deus? É isso? Então, isso é deprimente.
Deprimente, mas estamos na luta.
apoie.revistaforum.com.br
Foto Thereza Eugenia /Reprodução
GAL Música
O primeiro aniversário
sem nossa cantora mais
feroz e delicada
por Julinho Bittencourt
Após muita tristeza e notícias conturbadas,
um sopro de alegria: finalmente vai estrear a
cinebiografia Meu Nome é Gal, com Sophie
Charlotte no papel da cantora
G
al Costa teria completado 78 anos
de idade na terça-feira (26). Esse é o
primeiro aniversário que passamos sem
ela. A cantora faleceu em novembro do ano
passado, em um caso envolto em diversos
mistérios, que vão desde a causa da morte em
si até sua relação com a viúva, Wilma Petrillo,
acusada por amigos e familiares da cantora de
assédio moral, golpes financeiros e ameaças,
que a teriam levado à falência.
A causa da morte foi divulgada apenas em
julho deste ano. Gal morreu em decorrência de
um infarto agudo do miocárdio, de acordo com
a certidão de óbito. O documento descreve
ainda como causa da morte uma neoplasia
maligna [câncer] de cabeça e pescoço.
Apesar de tudo, pelo menos uma boa
novidade envolve o nome dessa que foi uma
das maiores cantoras brasileiras de todos os
tempos. Estreia no próximo dia 19 de outubro,
com direção de Dandara Ferreira e Lô Politi,
que também assina o roteiro, e a atriz Sophie
Foto Divulgação
A atriz Sophie Charlotte no filme Meu Nome é Gal
e espaço.
Gal, assim como o país atolado nos
escombros da ditadura, amadureceu, cresceu
e se profissionalizou como poucas. Gravou
álbuns lindos, em diversos gêneros e para todos
os gostos. Todas as múltiplas fases da cantora
ficaram guardadas para sempre no consciente
coletivo dos brasileiros.
Fica, no entanto, ao menos para este que vos
escreve, uma predileção particular pela Gal que
ainda era quase Gracinha, que conseguiu nos
dar naquele começo de carreira tanta beleza,
ferocidade e ternura. E tudo ao mesmo tempo.w
Diretor de Redação
_ Renato Rovai
Editora executiva
_ Dri Delorenzo
Designer Revisão
_ Marcos Guinoza _ Laura Pequeno
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