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REVISTA
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29.9.2023

INVESTIGADO
Por que Sergio Moro virou
alvo do CNJ e da PF
78
/ Capa
INVESTIGADO: POR QUE SERGIO
MORO VIROU ALVO DO CNJ E DA PF
4 | por Ivan Longo
20 | Documentos mostram que Moro
tentou grampear e investigar juízes
edição #78

ilegalmente, por Ivan Longo

/ Política
29 | Áudios mostram que general Heleno
conteúdo |

agiu por golpe de Estado, por Henrique


Rodrigues
37 | Bomba numerada que não explodiu
em Brasília pode ter sido uma entre muitas,
por Henrique Rodrigues

/ Global
44 | De Soros a Confúcio, os fantasmas
dos republicanos que tentam derrotar
Trump, por Luiz Carlos Azenha

/ Censura
50 | Johnny Hooker enfrenta a extrema
direita: "Não entendem nada e vivem do
pânico moral", por Marcelo Hailer

/ Música
63 | Gal Costa: o primeiro aniversário sem
nossa cantora mais feroz e delicada, por
Julinho Bittencourt

68 / Expediente
Foto capa: Edilson Rodrigues / Agência Senado
Foto Marcos Oliveira/Agência Senado

Capa

MORO
ALVO DO CNJ
E DA PF
por Ivan Longo
Ex-juiz será investigado por “gestão caótica”
de valores bilionários provenientes de
acordos de leniência com a Petrobras e
que, ao final, seriam utilizados para criar a
“Fundação Lava Jato”

O
Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por
determinação recente do corregedor
nacional de Justiça, ministro Luis
Felipe Salomão, abriu uma investigação inédita
contra Sergio Moro para apurar possíveis
irregularidades da época em que atuava como
juiz na gestão de recursos bilionários oriundos
dos acordos de colaboração e de leniência
firmados pela Operação Lava Jato com a
Petrobras e homologados pela 13ª Vara Federal
de Curitiba.
A investigação tem como alvos, ainda, a juíza
Gabriela Hardt, que substituiu Moro na 13ª Vara,
e os desembargadores federais Loraci Flores
de Lima, João Pedro Gebran Neto e Marcelo
Malucelli, todos do Tribunal Regional Federal da
4ª Região (TRF-4).
Trata-se de um desdobramento da correição
extraordinária realizada pela Corregedoria
Nacional de Justiça na 13ª Vara Federal de
Curitiba e no TRF-4, que apontou uma “gestão
caótica” dos recursos de acordos de leniência
entre 2015 e 2019, período em que a Petrobras
era investigada nos Estados Unidos e Moro
comandava a referida
Vara, que homologou
tais acordos com a
petrolífera.
Segundo Luis
Felipe Salomão, Moro
autorizou o repasse
de R$ 2,1 bilhões à
Petrobras no período
investigado, e há, nessa
movimentação, “indícios

Foto CNJ
de violação reiterada
dos deveres de
transparência, de prudência, de imparcialidade
e de diligência do cargo”. O corregedor nacional
de Justiça aponta que esse repasse foi feito
“ao ímpeto de efetuar a execução imediata dos
termos estabelecidos nos acordos firmados pela
força-tarefa, o que terminava por consolidar
verdadeira dispensa do devido processo legal”.
Em outras palavras, Moro teria tentado,
atendendo aos seus interesses e aos da
Lava Jato, à época comandada pelo então
procurador Deltan Dallagnol, “fazer voltar” esses
recursos dos acordos de leniência para criar a
Os investigados

Foto Reprodução
Gabriela Hardt, Loraci Flores de Lima, João Pedro
Gebran Neto e Marcelo Malucelli

“Fundação Lava Jato”, que seria sediada em


Curitiba e promoveria o “combate à corrupção”.
"O alegado combate à corrupção não pode
servir de biombo para se praticar, no processo
e na atividade judicante, as mesmas condutas
que se busca reprimir", escreveu Salomão no
despacho em que determinou a abertura de
investigação contra Moro.
"Durante a operação intitulada Lava Jato, foi
adotado pelo então juiz federal Sergio Fernando
Moro, juntamente com integrantes da força-tarefa
que se formou para executar aquela operação,
critério de destinação dos valores decorrentes
dos acordos de colaboração e de leniência
absolutamente distante do critério legal de
decretação de perda", prosseguiu o corregedor.

Como funcionava o esquema


Segundo o relatório parcial da correição
extraordinária realizada na 13ª Vara Federal de
Curitiba, que motivou a abertura da investigação
contra Moro, os repasses bilionários à Petrobras
foram feitos antes do trânsito em julgado de
parte das ações penais de que a empresa
era alvo. Moro e Gabriela Hardt teriam, ainda,
desconsiderado o fato de que a petrolífera
estava sob investigação de autoridades norte-
americanas desde novembro de 2014, na
condição de ré em processos que apuravam
suspeitas de corrupção.

“Verificou-se a existência de um
possível conluio envolvendo os diversos
operadores do sistema de justiça, no
sentido de destinar valores e recursos no
Brasil, para permitir que a PETROBRAS
pagasse acordos no exterior que
retornariam para interesse exclusivo da
força-tarefa”, diz um trecho do relatório
elaborado por membros do CNJ.

Esse “interesse exclusivo da força-tarefa”


citado na correição extraordinária se trata da
intenção de Moro, Dallagnol e companhia de
criar a chamada “Fundação Lava Jato”.
De acordo com o mesmo documento do
CNJ, a correição extraordinária identificou
ausência do “dever de cautela, de
transparência, de imparcialidade e de prudência
de magistrados que atuaram na Lava Jato,
promovendo o repasse de valores depositados
judicialmente e bens apreendidos à Petrobras
e outras empresas antes da sentença com
trânsito em julgado, que retornariam no
interesse de entes privados, como foi o caso
da intenção da criação da Fundação Lava Jato
com cerca de R$ 2,5 bilhões”.
Na prática, o esquema funcionaria da
seguinte maneira: a Lava Jato repassou R$ 2,1
bilhões à Petrobras e, depois, houve o “retorno”
de R$ 2,5 bilhões que seriam destinados ao
“interesse exclusivo” da operação, que seria a
criação da tal fundação.
O ministro Flávio Dino, da
Justiça, explica: “Foram dois
acordos. No primeiro, a
Petrobras aparece como vítima.
No segundo, a Petrobras
aparece como autora de danos,
com participação dos Estados
Unidos e da Suíça. Esse dinheiro teria dois
destinos, para a fundação e para pagar alguns
acionistas minoritários da própria Petrobras”.
A declaração de Dino veio após o ministro
receber o relatório parcial da correição
extraordinária realizada na 13ª Vara Federal.
Na ocasião, ele anunciou, ainda, que solicitou
à Polícia Federal que constitua um grupo de
trabalho junto ao CNJ para apurar o caso.
"[A PF vai] investigar a origem e o destino do
dinheiro, de onde o dinheiro veio, como veio, e
para onde foi. E se houve, na origem, no uso,
no destino, alguma ilegalidade", assegurou
Flávio Dino.
Braga Netto e o estudo golpista
Possíveis crimes
Consultado pela Fórum, o advogado
criminalista Berlinque Cantelmo
explicou que a investigação
aberta pelo CNJ contra Moro
se trata de uma apuração
“acerca da licitude das
devoluções [dos valores dos
acordos de leniência firmados
pela Lava Jato], sobretudo em relação ao
momento no qual foram realizadas. Isso
porque os processos de investigação não
haviam transitado em julgado, portanto, com
a possibilidade de reversão das decisões”.
“Os acordos de leniência visam promover
um compromisso de colaboração por parte
do infrator em determinada investigação, para
que, voluntariamente, forneça informações
úteis de modo a contribuir com o deslinde
da apuração, em troca do abrandamento
das sanções impostas. Ressalta-se que,
Foto Agência Brasil
Sede da Petrobras

uma vez transferidos os recursos para a


vítima (Petrobras), em caso de eventual
modificação da decisão no sentido de isentar
a responsabilidade das empresas investigadas,
não haveria possibilidade de restituição de
valores pagos na efetivação desses acordos.
Nesse sentido, as investigações visam apurar
eventuais irregularidades na atuação do ex-
magistrado para se constatar possíveis
violações relacionadas aos deveres de
imparcialidade e transparência ao proferir as
decisões que autorizaram o repasse de mais de
R$ 2 bilhões à Petrobras, violando o princípio
do devido processo legal”, detalha Cantelmo.
Sobre possíveis crimes e punições, Cantelmo
ressalta que, como Moro não ocupa mais o
cargo de juiz, não há mais como responsabilizá-
lo na esfera administrativa, mas destaca que o
ex-juiz pode sofrer consequências no âmbito
criminal — até mesmo pelo fato de que o
ministro da Justiça, Flávio Dino, colocou a
Polícia Federal para entrar no caso.
“No que diz respeito ao âmbito criminal,
faz-se necessária uma apuração robusta
acerca da destinação dos valores e eventuais
condutas tipificadas como criminosas durante
sua atuação. A partir de então, constatando-
se possíveis crimes de responsabilidade ou
improbidade, deve ser observado, ainda, o
prazo prescricional punitivo para se avaliar
possíveis sanções a serem aplicadas ao atual
senador”, explica o advogado.
Também ouvido pela Fórum, Michel Saliba,
advogado especialista em direito
eleitoral e membro da Academia
Brasileira de Direito Eleitoral
e Político (Abradep), vai na
mesma linha.
“As punições podem
ocorrer na esfera penal e cível,
por eventual caracterização de crime (em
tese) praticado, além da reparação do dano
e responsabilização por ato de improbidade
administrativa. No caso, não vislumbro o
cabimento de sanção administrativa disciplinar,
porque ele [Sergio Moro] deixou a magistratura
por vontade própria”, pontua Saliba.
Já com relação ao fato de a Polícia Federal
ter sido acionada por Dino para investigar
a gestão de recursos por parte da Lava
Jato, o advogado afirma que esta deve ser
a maior preocupação de Sergio Moro: “A de
mostrar lisura na sua conduta. Há indícios
divulgados pela imprensa apontando em
sentido diametralmente oposto, cabe ao (hoje)
investigado, (amanhã quem sabe) réu, provar a
sua inocência, a qual deve ser presumida em
favor dele”.

“Eu não acredito na absoluta


inocência do Moro, por todo o conjunto
da obra divulgado nos órgãos de
comunicação, que a cada dia que passa
mais surpreende a sociedade brasileira".

"Penso que a Lava Jato começou de


uma forma e foi se tornando um projeto de
servidores públicos federais ambiciosos, que,
conscientemente, sabiam estar usando do
poder e de toda a estrutura dos cargos que
ocupavam para atingir objetivos outros, para
além de simplesmente cumprir o dever imposto
pelo juramento que fizeram ao assumir as
funções de juiz federal e/ou procurador da
República”, atesta Saliba.
O advogado Berlinque Cantelmo, entretanto,
pondera que “a maior dificuldade ao vislumbrar
uma eventual responsabilização criminal de Sergio
Moro se dá na medida em que ele pediu sua
exoneração em novembro de 2018 para assumir
o Ministério da Justiça e Segurança Pública”.
“Ou seja, eventuais crimes próprios do
cargo cometidos durante a carreira como
magistrado não mais lhe podem ser imputados.
A responsabilização criminal depende do
delito imputado, principalmente no tocante à
prescrição. Uma eventual improbidade ainda
poderia ser apurada, mas prevaricação, não
mais”, ressalta.

Foto Reprodução

Crime para combater o crime?


O corregedor nacional de Justiça, Luis
Felipe Salomão, ao determinar a abertura de
investigação contra Sergio Moro, destacou
que o alegado combate à corrupção que
era pretendido pela Lava Jato não pode ser
usado para reproduzir as mesmas condutas
que se procurava reprimir. Segundo o
advogado Michel Saliba, a manifestação de
Salomão é “categórica”.
“Pouco importa a tipificação do delito, se
é crime de corrupção, peculato, apropriação
indébita, ou outro, o que está em jogo é
a mensagem clara do ministro corregedor
de que juiz não combate corrupção, juiz
julga, quem combate o crime é a polícia e o
Ministério Público, e que supostas práticas
criminosas não podem ser enfrentadas com
ações criminosas”, diz.
Em entrevista ao Jornal da Fórum, o
advogado criminalista Fernando
Hideo foi na mesma direção de
Saliba.
“O CNJ usou o termo 'gestão
caótica', um eufemismo, para
mostrar que eles não tinham
controle do dinheiro público de
que eles se colocaram na posição de
administradores. Isso é um grande absurdo. É de
uma gravidade comparável ao que imputavam
aos outros. É a gestão do dinheiro público de
forma obscura, sem transparência. Eles diziam
combater isso e estavam fazendo isso, a mesma
coisa. Há muito o que se revelar ainda sobre a
Lava Jato”, opina Hideo.

Cassação e inelegibilidade no radar


Para além de possíveis punições na esfera
criminal, a investigação aberta pelo CNJ
contra Sergio Moro pode gerar consequências
políticas. Isso porque o corregedor Luis
Felipe Salomão apontou, no despacho em
que determinou a instauração de reclamação
disciplinar contra o ex-juiz, “indícios de atuação
na magistratura com fins político-partidários”, o
que é vedado pela Constituição Federal e por
resolução do próprio CNJ.

Segundo Salomão, quando


Moro pediu exoneração
da magistratura para ser
ministro da Justiça no
governo de Jair Bolsonaro,
o ex-juiz respondia a
cerca de 20 procedimentos
administrativos no CNJ, e a
jurisprudência do órgão visa evitar que
magistrados deixem a carreira para se livrar
de eventuais punições administrativas
e disciplinares.

Caso, ao final das investigações, seja


constatado que Moro usou a oportunidade
Foto Lula Marques/Agência Brasil
O deputado cassado Deltan Dallagnol

de ser ministro para construir uma carreira


política e se livrar de eventuais punições,
o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pode ser
acionado e, nesse caso, a Corte já possui
uma jurisprudência de caso parecido: o de
Deltan Dallagnol, que foi cassado e declarado
inelegível por ter deixado o Ministério
Público Federal (MPF) para se candidatar a
deputado enquanto respondia a reclamações
disciplinares que tinham potencial para se
tornarem processos administrativos.
“A grande polêmica em torno dessa questão
relaciona-se ao fato de que efetivamente houve
a homologação do registro da candidatura
do ora senador por parte do Tribunal Superior
Eleitoral, levando a crer que o entendimento
foi pela inexistência de infrações, pelo menos
no momento da homologação. Todavia, a
rediscussão do caso é cabível à medida que
forem descobertos fatos novos, e uma eventual
cassação e inelegibilidade poderiam se utilizar
do precedente instaurado com a cassação do
mandato do ex-procurador Deltan Dallagnol, eis
que a base legislativa é a mesma, qual seja, a
Lei da Ficha Limpa, devendo, para tanto, restar
comprovado que Sergio Moro teria deixado a
carreira para se livrar de eventuais punições
administrativas e disciplinares”, explica o
advogado Berlinque Cantelmo.
“A cassação em razão de condenação
criminal ou por improbidade, ou, em exercício
mais elástico, até por quebra de decoro, não
estão descartadas após a conclusão do devido
processo legal do que será apurado”, pontua,
por sua vez, o advogado Michel Saliba.w

u Clique aqui e assista à entrevista do advogado


criminalista Fernando Hideo no Jornal da Fórum de
quarta-feira, 27.
FILMES

EP.2
Festa da Selma

Direção Luiz Carlos Azenha


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Capa

Documentos mostram
que Moro tentou
grampear e investigar
juízes ilegalmente
Ex-delator Tony Garcia entregou ao Supremo
Tribunal Federal documentos que estavam sob
sigilo dando conta das missões ilegais que
Moro teria designado a ele; ex-juiz nega
por Ivan Longo

O
ex-deputado estadual paranaense e
ex-delator Tony Garcia, que alega ter
desempenhado o papel de agente
infiltrado do senador Sergio Moro durante o
período em que o então juiz era o titular da 13ª
Vara Federal de Curitiba, entregou recentemente
ao Supremo Tribunal Federal (STF) um conjunto
de documentos explosivos. Esses documentos
revelam uma suposta tentativa de Moro de
investigar ilegalmente desembargadores, juízes
e ministros do Superior Tribunal de Justiça
(STJ), incluindo o uso de grampos ilegais.

Os documentos em questão fazem


parte de um acordo de colaboração
premiada firmado entre Tony Garcia e
Sergio Moro em 2004. Até recentemente,
esses documentos estavam sob sigilo na
13ª Vara Federal de Curitiba, mas o juiz
Eduardo Appio decidiu levantar esse
sigilo, permitindo que Tony Garcia tivesse
acesso a eles. Agora, esses materiais
foram entregues pelo ex-delator ao STF
com o objetivo de anular as ações de
Moro contra ele.

No conjunto de documentos, obtido pela TV


Globo, estão registradas cerca de 30 tarefas
que foram designadas a Tony Garcia por
Moro como parte do acordo para evitar sua
prisão. Essas tarefas incluíam investigações de
autoridades paranaenses com foro privilegiado,
utilizando métodos questionáveis, uma vez que
essas investigações estavam, legalmente, fora
Foto Divulgação/Justiça Federal do Paraná
O juiz Eduardo Appio

da alçada de atuação de Moro enquanto juiz.


O material entregue ao STF inclui até mesmo
registros de conversas telefônicas entre Moro
e Garcia, nas quais o ex-juiz pressiona pela
execução das tarefas consideradas ilegais.
Em um trecho do acordo, fica evidente
a intenção de Moro em obter informações
sobre um advogado paranaense e um
desembargador, mencionando a busca por
uma fita cassete que, supostamente, conteria
informações relevantes.
“O beneficiário [Tony Garcia] procurará obter
a fita cassete junto a Nego Scarpin, onde
constaria tal fato, podendo, neste caso, realizar
escutas externas”, diz um dos documentos.
Sergio Moro, por sua vez, nega todas
as acusações e ressalta que nenhuma das
gravações entregues por Tony Garcia ao STF
envolve pessoas com foro privilegiado.
Moro emitiu uma declaração afirmando: "Tony
Garcia é um criminoso que foi condenado, com
trânsito em julgado, por fraude e apropriação
indébita. Em 2004, fez acordo de colaboração
que envolveu a devolução de valores roubados
do Consórcio Garibaldi e a utilização de escutas
ambientais autorizadas judicialmente e com
acompanhamento da Polícia Federal e do MPF.
Essas diligências foram realizadas por volta de
2004 e 2005, e todas foram documentadas".

Tony Garcia para Moro:


"Sua prisão é questão de tempo"
Tony Garcia mandou um recado a Sergio
Moro na quinta-feira (28), logo após o ex-juiz
refutar as acusações que pesam sobre ele.

"O Sergio Moro, covarde, criminoso e


mentiroso contumaz, mente até sobre
o que assinou! Moro, tenha ao menos
um mínimo de hombridade ao cair perante
provas irrefutáveis. Vc jamais foi herói,
é bandido. Sua máscara acaba de cair de
vez, sua cassação e prisão é somente
questão de tempo", escreveu o ex-delator
por meio das redes sociais.

Foto Reprodução Twitter

Quem é Tony Garcia


O empresário e político paranaense Tony
Garcia decidiu se rebelar contra Sergio Moro
(UB-PR) e fazer revelações bombásticas
sobre a atuação do ex-juiz durante a
Operação Lava Jato.
O playboy paranaense era conhecido por
seus investimentos e por suas campanhas
políticas ousadas: ele quebrava a cabeça
de manequins em peças publicitárias e
chegou a concorrer à Prefeitura de Curitiba.
Na prática, foi deputado estadual em dois
mandatos pelo Paraná.
A vida luxuosa de Tony sempre foi
acompanhada de grandes figuras e
celebridades, como Ayrton Senna, Pelé e Xuxa.
Mais noventista que isso é difícil.
Mas Tony não ficou na memória dos eleitores
paranaenses. Na verdade, foi justamente em
2023 que talvez tenha tomado sua principal
decisão política.
Garcia era um delator da Lava Jato. Seu
primeiro contato com Moro e com os agentes
do Ministério Público foi em 2004, quando foi
preso após ser acusado de fraudes no extinto
Consórcio Nacional Garibaldi.

Considerado um "megadelator", Tony


esteve envolvido nas delações contra
Beto Richa, Eduardo Cunha e outros
figurões da política brasileira.

Contudo, em entrevista recente a diversos


portais de notícias, Tony decidiu revelar as
ilegalidades cometidas por Sergio Moro durante
a Operação Lava Jato.
“Eu fui agente infiltrado do Ministério
Público, eu trabalhei por dois anos e meio,
diuturnamente, com 24 horas tendo um
agente da inteligência da Polícia Federal ao
meu dispor para eu pedir segurança, para
pedir interceptação de telefones, de tudo que
colaborasse com a Justiça”, afirmou Tony em
entrevista à Veja.
Ele fez um depoimento à juíza Gabriela Hardt
na 13ª Vara Federal de Curitiba afirmando ter
criado provas ilegais contra diversas pessoas,
incluindo o ex-governador Beto Richa.
Além disso, também relata ter sido pivô em
um esquema que chantageou os juízes do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4)
com imagens de desembargadores de cueca
em festas (e que Moro teria se beneficiado
desses vídeos).
Agora, ele aguarda a possibilidade de
relatar suas denúncias contra o ex-juiz e atual
senador oficialmente. "Eu estou esperando
até agora que a PGR [Procuradoria-Geral
da República] ou que alguém de direito me
intime para eu poder falar", disse Garcia.
"Tem coisas que posso provar, mas o farei na
Justiça. Para cada desmentido deles, eu vou
mostrar duas verdades."
Garcia disse ser "agente infiltrado, que eu
recebia as ordens diretas do Moro, que ele
pedia para eu ir sem advogado. Eu fui 40
vezes ao MPF [Ministério Público Federal],
fiquei trabalhando para eles, me fizeram de
funcionário”, contou o ex-deputado, em
entrevista à CNN. “Ela [Hardt] passou por cima
de tudo", completou.
Depois, o juiz afastado da 13ª Vara Eduardo
Appio, que tem um caráter garantista, analisou
o conteúdo do depoimento e enviou a fala de
Tony para o STF. Segundo Garcia, Appio foi
retirado do cargo após essa relação.
O ex-governador Beto Richa (PSDB-
PR) afirma ter sido vítima de
um complô. "Em relação ao
contexto geral das declarações
do sr. Tony Garcia, resta mais
uma vez comprovado que
houve, como tenho dito desde
o início, um conluio de versões
para tentar criminalizar alvos pré-escolhidos.
Fui uma das vítimas dessas narrativas
criminosas produzidas no interior da Lava
Jato", completou.
Sergio Moro nega que as declarações de
Tony Garcia sejam verdadeiras e disse que
não existem provas que sustentam a ação do
empresário como um "agente infiltrado" da Lava
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Foto José Cruz/Agência Brasil
Política

Áudios mostram
que general Heleno
agiu por golpe
de Estado
Análise realizada por acadêmicos da UFABC
e da USP comprova que é do ex-chefe do GSI
a voz que ameaça a democracia
por Henrique Rodrigues

Q
uase um ano após integrantes das
Forças Armadas ligados ao governo do
então presidente Jair Bolsonaro (PL)
terem ameaçado romper com a democracia
no Brasil e instituir um regime autoritário
comandado pelo ex-capitão do Exército que
chegou ao Palácio do Planalto, e que de lá
se recusava a sair depois de ser derrotado
por Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas urnas, a
Fórum recebeu um laudo técnico produzido
por acadêmicos da Universidade Federal do
ABC (UFABC) e da Universidade de São Paulo
(USP) que atesta que o general da reserva
Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de
Segurança Institucional (GSI) e uma das
principais personagens do séquito pessoal
do ex-presidente de extrema direita, de fato
é o autor de áudios golpistas e ameaçadores
que se espalharam pelas redes bolsonaristas
prometendo uma ruptura política no país. Foto Carolina Antunes/PR

Nos momentos que antecederam o segundo


turno da eleição presidencial, e especialmente
nos dias após a confirmação daquilo que
todas as pesquisas mostravam, que Lula
venceria a disputa final, uma das figuras mais
destacadas do entourage de Jair Bolsonaro
a alardear um golpe que evitaria a posse do
petista era Augusto Heleno, que de dentro
do GSI comandaria um levante dissimulado a
partir de 12 de dezembro, usando mecanismos
psicológicos e de inteligência, na tentativa de
incendiar o Brasil, como a Fórum mostrou
numa série de reportagens exclusivas tendo
como fonte um servidor da Polícia Federal
lotado no Planalto.
Entre vários arquivos de áudio analisados
por acadêmicos da UFABC e da USP, a
pedido da Fórum, estão duas mensagens
que circularam a todo vapor no submundo
digital do bolsonarismo nos meses finais de
2022. Elas têm conteúdos semelhantes, mas
também pontos bastante distintos. A voz
inequivocamente se parece muito com a do
militar do círculo íntimo de Bolsonaro, mas era
necessário que uma perícia utilizando recursos
de última geração comprovasse isso. À época,
embora com pouca visibilidade na imprensa, a
autoria das mensagens foi negada por Heleno.
Mario Alexandre Gazziro, professor adjunto
de engenharia da informação da UFABC, que
é também pós-doutorando e pesquisador
visitante na Escola de Engenharia de São
Foto Divulgação
O perito Mario Alexandre Gazziro

Carlos (EESC), da USP, que assina o laudo,


explicou que o método empregado é um dos
mais modernos disponíveis até hoje, que utiliza
também inteligência artificial para encontrar
os pontos que comprovam a autoria de uma
mensagem de voz. Alunos de extensão das
duas universidades públicas, do grupo Ganesh,
da USP, e Green Team, da UFABC, participaram
da análise dos dados com Gazziro.
“O método pericial é realizado em duas
etapas. Na primeira, a gente usa uma técnica
chamada extração de características, gerando
coeficientes cepstrais. Nós, então, extraímos
uma característica do áudio, os sons da voz
da pessoa em gravações que realmente são
dela e transformamos num mapa gráfico. Já a
segunda etapa consiste em pegar esse mapa
e comparar com o outro, o dos áudios que
estão sendo investigados. Nessa segunda
etapa entra a utilização da inteligência artificial,
a ‘análise de vizinhança’. Nós pegamos muitas
falas oficiais do general Heleno, nos canais
oficiais do governo, e lá está a voz e a imagem
dele, oficiais. Precisamos de uma quantidade
grande de áudios oficiais para, na análise, não
existir a possibilidade de que o áudio periciado,
por exemplo, tenha sido editado num único
trecho. Os áudios são separados em trechos
de seis em seis segundos e têm ruído ambiente
removido, evitando assim que passe qualquer
trecho que tenha sido editado por deep fake,
ou por imitadores. Por fim, as análises de 40
partições mostraram que 87% de todas as
amostras apontam para a autoria do general da
reserva Augusto Heleno, o que é, em termos
de reconhecimento de padrão, algo muito alto.
Na prática, a inteligência artificial preferiu 87%
das vezes apontar os áudios investigados como
sendo do general Heleno do que os próprios
áudios oficiais dele”, explicou Gazziro.

De fato, o documento que atesta a


autoria de voz das mensagens afirma
em suas conclusões que “as evidências
indicam que os áudios pertencem ao
suposto autor, com intervalo de confiança
de 87%, em uma análise conclusiva
de confirmação de sua autoria, visto o
resultado estar acima de 85%”.

Os áudios golpistas
No primeiro áudio atribuído a Heleno, o general
repete fake news conhecidas, como a do ministro
Luís Roberto Barroso, do STF, que teria dito
que “eleição não se ganha, se toma”, algo já
amplamente desmentido, sendo fruto de uma
descontextualização proposital de uma declaração
do magistrado em que ele narrava algo dito em
tom de piada numa conversa com um senador da
República que falava sobre os problemas eleitorais
históricos em seu estado natal. Na sequência,
o militar aposentado segue com bravatas e
ameaças explícitas, ataca Lula com ofensas e
insiste que o petista não será empossado.

u Clique aqui e ouça o primeiro áudio.


Já no segundo arquivo difundido nas redes
bolsonaristas Heleno é ainda mais enfático
em sua retórica golpista e apela para mentiras
como uma imaginária fraude eleitoral e uma
surreal acusação contra Lula, que, segundo
ele, “não poderia ser candidato” e não teria
“apresentado certidão alguma” à Justiça
Eleitoral, algo totalmente falso. As ameaças
golpistas por meio das Forças Armadas são
diretas e claras. Ele chega a dizer que “nem
tudo está consumado”, mesmo passada a
eleição, e que “as coisas não estão bem e
não vão sair bem como aqueles que pensam
que ganharam”.

u Clique aqui e ouça o segundo áudio.

Enganar a tecnologia
atual é quase impossível
Gazziro disse ainda que perícias desse
tipo, como a solicitada pela Fórum, vêm se
tornando cada vez mais precisas e que desde
já são essenciais para se juntar provas em
processos judiciais nos quais seja necessária a
identificação de alguém acusado de propagar
informações falsas. Para ele, o grande benefício
do avanço científico nessa área é deixar claro
que ninguém poderá sustentar uma mentira se
escondendo atrás do anonimato ou negando a
autoria de um ato.
“Nossa perícia tem o intuito, sobretudo, de
inibir as pessoas de fazer algo ilícito, fazendo uso
de uma imagem de alguém já conhecido, por
exemplo, para incitar as pessoas a realizarem
algo. Aqueles que agem assim precisam pensar
duas vezes antes de fazer tal coisa e saber que
há análises de áudio modernas que podem
identificá-los, podendo até eventualmente ser
juntadas a outras provas para um processo
judicial”, encerrou o perito acadêmico.w

u Clique aqui e assista à entrevista do perito


Mario Alexandre Gazziro no programa Fórum Onze
e Meia de quarta-feira, 27.
Foto Ricardo Stuckert / PR
Política

Bomba numerada
que não explodiu em
Brasília pode ter sido uma
entre muitas
Fonte da PF dá detalhe assustador
não revelado no caso dos terroristas
bolsonaristas que tentaram explodir caminhão-
tanque no aeroporto do DF; entenda do que
o Brasil se livrou
por Henrique Rodrigues

E
ra 24 de dezembro, véspera de Natal,
e o Brasil ainda acordava e ia dormir
assustado com as ameaças golpistas
que não paravam de brotar e que pareciam
ter tomado forma pouco mais de uma semana
antes, no fim da tarde do dia 12, quando
uma horda de extremistas tentou literalmente
incendiar Brasília e invadir a sede da Polícia
Federal (PF), numa ação que tentava impedir
a diplomação do então presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na data mais
importante do cristianismo, os terroristas que
se dizem cristãos tentariam o mais ousado e
horrendo plano: explodir o Aeroporto Juscelino
Kubitschek, na capital da República.

Os terroristas

Fotos Geraldo Magela, Jefferson Rudy/Agência Senado e CLDF

George Washington de Oliveira Sousa, Alan Diego dos Santos


Rodrigues e Wellington Macedo de Souza

A história, passados nove meses, é bem


conhecida. George Washington de Oliveira
Sousa, Alan Diego dos Santos Rodrigues e
Wellington Macedo de Souza, o trio aloprado de
bolsonaristas, viu sua funesta ação ir pelo cano
depois que o motorista de um caminhão-tanque
carregado com 60 mil litros de querosene
de aviação notou uma caixa, no qual estava
uma bomba com detonador remoto, presa ao
veículo. Ele largou a carreta numa área segura
da rodovia por onde trafegava, afastou-se e
acionou a polícia, que chegou rapidamente.
O inapagável capítulo de horror da história do
Brasil voltou à tona na quinta-feira (28) porque
um dos condenados pelo plano criminoso, Alan
Diego, compareceria à Comissão Parlamentar
Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, no
Congresso Nacional, para prestar depoimento
aos deputados e senadores que examinam
os intentos golpistas que quase liquidaram a
democracia brasileira.
Embora a investigação desse crime tenha
sido conduzida e concluída pela Polícia Civil
do Distrito Federal (PCDF), que apresentou
o inquérito ao Ministério Público, tendo já
levado à condenação de George Washington
e Alan Diego pela Justiça, enquanto Wellington
Macedo seguia foragido, um servidor da
Polícia Federal que atuava no Palácio do
Planalto no conturbado período da transição
governamental, e que revelou com exclusividade
à Fórum o envolvimento do Gabinete de
Segurança Institucional da Presidência da
República (GSI) na desordem golpista que
tomou o Brasil naquele momento, conta agora
um detalhe que pouca gente conhece sobre o
episódio da tentativa de mandar pelos ares o
aeródromo de Brasília lotado de passageiros.
Nas fotos que circularam na imprensa
mundial da caixa de papelão largada na via
pública, no qual uma bomba com um detonador
eletrônico repousava, aguardando um técnico
do esquadrão antibombas da PF chegar
paramentado, como nos filmes de Hollywood,
ou na vida real cotidiana de Israel, um adesivo
transparente, com um papel branco por baixo,
mostra o número “01”.
Mas por que diabos uma bomba levada por
três terroristas num carro, para ser colocada
num caminhão que explodiria um aeroporto na
véspera de Natal, teria uma numeração com
dois algarismos a identificando? A resposta é
simples e o agente da PF é direto: ocorreriam
outros atentados naquele 24 de dezembro.

“É certo que havia outros


artefatos explosivos
espalhados que seriam
detonados"

"O próprio depoimento do


George Washington e as investigações da
PCDF, além daquilo que chegou à PF até
agora, mostraram isso, assim como no relato
do outro condenado que foi preso, que aponta
para o fato de que haveria uma sequência
a ser executada de acordo com um plano
estipulado, debatido e construído lá dentro
do acampamento do QG [Quartel-General] do
Exército, do chamado Forte Apache, aqui em
Brasília. É um fato essa ideia de sequenciar os
atentados com base nesse plano gestado na
frente dos quartéis”, diz o servidor que estava
no Palácio do Planalto naquele período.
Para ele, quanto mais se avança sobre
esses condenados, assim como sobre outros
personagens especificamente desse caso, mais
a investigação se aproxima do GSI, comandado
à época pelo general Augusto Heleno, o homem
mais fiel e próximo de Jair Bolsonaro (PL).

“O curioso nessa
investigação é: quanto mais
a gente puxa o fio, mais
a gente vai descobrindo
outras pessoas
envolvidas nisso..."

"Foram pegos esses três indivíduos


inicialmente, que são a pontinha dessa operação,
mas por trás disso, e eu venho salientando isso,
dentro do acampamento, havia a utilização de
agentes de inteligência, e se presume que do
Fotos Reprodução
A bomba foi colocada em um caminhão-tanque carregado
com 60 mil litros de querosene de aviação

GSI, naturalmente, que não só monitoravam


em termos de inteligência, e é claro que falo
no sentido de inteligência para eles, do próprio
GSI, mas que faziam esse trabalho ininterrupto
de informação e de dissonância, agitando e
dizendo ‘ah, não pode deixar esse governo do
Lula assumir’, ‘ah, tá na hora de agir’... A bomba
foi só uma parte da operação desse pessoal lá
dentro, e de fato eram muito mais bombas, não
era só aquela do caminhão... Não à toa elas
estavam numeradas”, acrescentou o PF.
A fonte da Fórum pondera que, de fato, os
agentes do GSI não executaram pessoalmente
as ações envolvendo as bombas numeradas,
mas ela lembra que seria impossível um nível
de sofisticação como aquele encontrado nos
explosivos, sem contar nos insumos utilizados
nas engenhocas mortais, sem a ajuda direta de
profissionais habituados com esse universo, que
é, por lógica, militar.
“É evidente pelo que temos até agora que
eles não precisaram botar a mão na massa,
mas qualquer um sabe que para montar um
artefato daquele você precisa do conhecimento
de um especialista, isso é inevitável... Como
chegou explosivo lá dentro, como chegou
espoleta, detonador remoto, tudo...? Quem
sabe fazer uma bomba profissional daquela?
Essa bomba numerada, e da forma como
foi numerada, indica um sequenciamento
dos atos de terrorismo e o que corrobora
isso são os depoimentos desses detidos até
agora, que estão justamente nessa linha... Era
provavelmente uma sequência que envolvia a
explosão do caminhão-tanque no aeroporto,
a explosão de torres de transmissão de alta
tensão, da explosão da plataforma superior da
rodoviária, enfim... Mas logo no primeiro ataque
isso foi frustrado prematuramente, fazendo com
que essas ações fossem abortadas”, concluiu o
servidor da Polícia Federal.w
Montagem Marcos Guinoza
Global

De Soros a Confúcio,
os fantasmas dos
republicanos que tentam
derrotar Trump
Ex-presidente faltou ao debate
entre pré-candidatos do partido
republicano à Casa Branca
por Luiz Carlos Azenha

O
debate promovido pelas emissoras Fox
e Univision entre pré-candidatos à Casa
Branca, ao qual Donald Trump não
compareceu, deixou clara a guinada do Partido
Republicano ainda mais à direita.
O encontro, o segundo da temporada,
significativamente aconteceu na sede da biblioteca
de Ronald Reagan, que em 1980 se elegeu
prometendo uma "nova manhã na América".
O tom dos pré-candidatos, possivelmente de
olho na base mais radicalizada do partido, foi
o de pintar os Estados Unidos como um país
em declínio, ameaçado pelo crime na rua, pelos
imigrantes ilegais e pelos comunistas chineses.
Sobrou até para Confúcio: o
governador da Flórida, Ron
DeSantis, prometeu enfrentar
o suposto "expansionismo
cultural" da China fechando
os institutos que se dedicam a
disseminar os ensinamentos do
sábio chinês nos Estados Unidos.
Ele também baniria estudantes ligados ao
Partido Comunista Chinês de universidades
estadunidenses.
O fato de a China ter investido, segundo um
dos moderadores, US$ 12 bilhões na América
Latina foi apresentado como motivo de alarme.
Os chineses foram acusados de promover
destruição ambiental em larga escala no
planeta para extrair os minerais necessários às
baterias de carros elétricos que seriam ameaça
à tradicional indústria automobilística dos EUA,
que faliu em 2008 e teve de ser socorrida por
injeção maciça de dinheiro público.
Fotos Wikipedia
Ilustração do sábio chinês Confúcio e o investidor George Soros

Assim como no Brasil, onde militantes de


esquerda têm denunciado a influência de
George Soros, o financista também foi tema do
debate dos republicanos.
DeSantis, ao dizer que pretende jogar
duro contra o crime, disse que enfrentará
"promotores esquerdistas financiados pelo
Soros", que na versão dele pegam leve com
criminosos, mas não com abusos policiais.
O nome de Soros, que é de origem judaica,
frequentemente é apito de cachorro para
algo banido do debate público nos
Estados Unidos, mas que tem
apelo eleitoral subterrâneo: o
antissemitismo.
O empresário Vivek
Ramaswamy, de 38 anos de
idade, fundador de uma empresa farmacêutica,
apresentou-se como um Donald Trump
rejuvenescido.
Apesar de ser de família originária da Índia,
ele prometeu que se eleito acabará com o
direito à cidadania de filhos de imigrantes
ilegais. Assim como acontece no Brasil, quem
nasce em território americano tem direito
automático à cidadania.
Todos os candidatos, em graus distintos,
prometeram priorizar o combate à imigração ilegal,
à qual os conservadores associam a criminalidade.
Aqui, também, trata-se de apito de cachorro:
a ameaça é à suposta "pureza racial" da
América. Um dos temas mais caros ao eleitorado
republicano branco é o "risco" de que se tornem
minoria diante de negros e hispânicos.
Donald Trump, ausente, foi acusado de ter
pegado leve com a China quando estava na
Casa Branca e de ter construído
menos de 80 quilômetros do muro
na fronteira com o México.
Adotando um tom simplório,
o ex-governador de Nova
Jersey, Chris Christie, acusou
Trump de ter se escondido do
debate em clubes de golfe.
A suposta ajuda humanitária dos Estados
Unidos ao México e a países da América Central
Foto Univisión
A colombiana Ilia Calderón, moderadora do debate

teria fracassado em conter a imigração, razão


pela qual os candidatos enfatizaram planos
radicais para militarizar a fronteira.

Ilia Calderón, a moderadora indicada


pela Univision, nascida na Colômbia,
pegou os candidatos de surpresa quando
lembrou que 56% dos presos por traficar
fentanil para os Estados Unidos são norte-
americanos, não mexicanos.

Fentanil é a droga do momento nos EUA. O


anestésico tem causado muitas mortes ao ser
acrescentado a outras drogas para potencializar
seus efeitos.
Muito embora os candidatos tenham
discordado entre si em vários temas, chamou
atenção o tom alarmante adotado pela maioria
ao concordar que os Estados Unidos estariam
em decadência por conta de inimigos externos,
dos chineses a mexicanos, das ideias de
Confúcio à ação de narcotraficantes.
O único candidato negro, o
senador Tim Scott, atribuiu os
problemas humanitários dos
Estados Unidos aos programas
sociais que teriam tirado a
resiliência do cidadão comum, o
tradicional bordão que no Brasil se
traduz em "Bolsa Esmola".
Foi um debate que, em determinados
momentos, poderia perfeitamente ter sido
travado entre a ala mais radical do bolsonarismo
brasileiro, com propostas que fazem Trump
parecer um moderado.w
Foto Divulgação

Censura

Johnny Hooker enfrenta


a extrema direita: "Não
entendem nada e vivem do
pânico moral"
por Marcelo Hailer
Em entrevista à Fórum, o cantor e
compositor fala sobre a censura que sofreu e
analisa o momento político e cultural que
o Brasil atravessa

A
o mesmo tempo que a Comissão
de Previdência, Assistência Social,
Infância, Adolescência e Família da
Câmara dos Deputados discutia o Projeto de
Lei 5.167/2009, de autoria dos deputados
Capitão Assumção (PSB-ES) e Paes de Lira
(PTC-SP), que visa proibir o casamento civil
LGBT+, o cantor Johnny Hooker era proibido
de se apresentar no festival Mormaço Cultural,
organizado pela Prefeitura da cidade de Boa
Vista, capital de Roraima.
Por meio de suas redes sociais, o prefeito de
Boa Vista, Arthur Henrique (MDB), publicou um
vídeo para anunciar o cancelamento do show de
Johnny Hooker. Entre os argumentos, Henrique
usou termos como "respeito" e "segurança".
Mas o que levou o prefeito da cidade a
cancelar um show que já estava acertado? O
deputado federal Nicoletti (União-RR) resgatou
uma fala de Johnny Hooker de 2018 e a tirou
de contexto para incitar a extrema direita
Foto Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Foto Prefeitura de Boa Vista

O prefeito de Boa Vista Arthur Henrique (MDB) e


o deputado federal Nicoletti (União-RR)

fundamentalista a ir à página do prefeito de Boa


Vista exigir que o cantor fosse retirado do line-up.
Ao comunicar o veto a Johnny Hooker, Arthur
Henrique citou "manifestações públicas" contra
uma fala feita pelo artista em julho de 2018,
no Festival de Inverno de Garanhuns. Naquela
ocasião, Hooker protestou contra a tentativa da
prefeitura da cidade pernambucana de proibir a
exibição da peça O Evangelho Segundo Jesus,
Rainha do Céu, estrelada pela atriz trans Renata
Carvalho, que interpretou Jesus Cristo como
uma mulher transexual.
Em entrevista à Fórum, Johnny Hooker
lamenta o ocorrido e afirma que ele e sua
equipe foram pegos de surpresa. "A gente ficou
desolado, porque a atração já estava anunciada
há um tempo nas redes sociais da prefeitura e
Foto Luciane Pires Ferreira/Divulgação
A atriz Renata Carvalho no espetáculo O Evangelho
Segundo Jesus, Rainha do Céu

do Festival Mormaço", lamenta.


Passado o choque de tamanha violência
motivada por ódio, o artista revela que, com o
apoio da equipe jurídica da deputada federal
Sâmia Bomfim (PSOL-SP), tomará algumas
medidas judiciais contra o prefeito de Boa Vista e
o deputado Nicoletti, entre elas acionar o Ministério
Público de Roraima para que o prefeito seja
responsabilizado pelo crime de homotransfobia e
pelo ato de censura artística aplicado.
Além disso, também serão articuladas
medidas no Congresso Nacional: uma moção
de repúdio e solidariedade na Comissão
de Cultura e o apoio da Frente Parlamentar
LGBTQIA+, presidida pela deputada federal
Erika Hilton, com quem Sâmia Bomfim já está
em contato.
Para Johnny Hooker, o seu caso mostra que,
apesar de a extrema direita ter sido derrotada
na eleição presidencial de 2022, "a máquina de
fake news está mais viva do que nunca".
Confira a seguir a íntegra da entrevista.

"O que esse


prefeito e esse
deputado fizeram
é inconstitucional.
LGBTfobia e
censura. A censura
é inconstitucional
também"

Foto Divulgação

Fórum — Como vocês receberam a notícia


de veto ao show no festival Mormaço, em
Boa Vista?
Johnny Hooker — A gente ficou desolado,
porque a atração já estava anunciada faz um
tempo nas redes sociais da prefeitura e do
festival Mormaço. Estava tudo certo, até que
esse deputado, Nicoletti (União-RR), pegou
esse trecho, esse recorte de uma fala minha
de cinco anos atrás, que é um fato que já foi
julgado pela Justiça brasileira e no qual eu fui
inocentado de qualquer acusação. Ele pegou
esse fato e começou, e chamou o exército
de fanáticos, de extremistas religiosos que
seguem ele, que são a base de fanáticos
dele, para replicar isso e para trazer toda essa
máquina das fake news, que está mais viva do
que nunca. Apesar de não estar no governo
federal, os ataques à comunidade LGBTQIA+,
eles estão sendo coordenados. É um ataque
à união civil LGBT, é ataque a artistas LGBT,
censura. Então, a gente foi pego bastante de
surpresa, até porque esse caso já foi resolvido
na Justiça e eu fui inocentado.

Fórum — No discurso, o prefeito de Boa


Vista usa alguns termos como "respeito" e
"fazer o melhor pelas pessoas". O que você
acha de ele ter usado tais expressões?
Johnny Hooker — Eu acho que ele fala
sobre o respeito que ele tem aos evangélicos,
mas a população da cidade dele não é formada
só por evangélicos. Enfim, ele fala sobre
segurança também. Como se uma atração
LGBT, que era a única atração LGBT de todo o
festival, fosse ameaçar a segurança do evento.
Quer dizer, se a prefeitura da cidade não pode
garantir a segurança de um evento, realmente
tem alguma coisa muito errada. Nós LGBTs
devemos ser monstros, violentos, mas eu
acho que nós não somos. Eu acho que quem
perpetua essa violência é quem está falando,
quem está acusando.

Fórum — Ao mesmo tempo que tem


a proibição ao seu show, a Câmara
dos Deputados discute a proibição do
casamento civil LGBT+. Como analisa isso?
Johnny Hooker — Eles estão tentando criar
todo tipo de cortina de fumaça que eles podem
para manter a narrativa na mão. É basicamente
isso que está acontecendo. Eles perderam
a eleição do governo federal, mas ainda
são maioria no Congresso, então eles estão
tentando fazer todo tipo de cortina de fumaça
enquanto o líder supremo deles [ex-presidente
Jair Bolsonaro] não é preso. Não sei por que ele
não está preso, porque já gabaritou o Código
Penal. Então é realmente muito preocupante.
É muito preocupante que em 2023 a gente
esteja discutindo coisas que já são realidade,
que antes de serem até aprovadas já eram
realidade. A Idade Média já passou. As pessoas
vão ter que engolir que um novo tempo chegou.

Fórum — Você recebeu apoios importantes


da Gaby Amarantos, Xico Sá, Reinaldo
Azevedo e da deputada Sâmia Bomfim etc.
Como foi receber essas manifestações?
Johnny Hooker — Foi fundamental,
principalmente a fala do Reinaldo Azevedo,
que foi muito clara sobre o que aconteceu.
E da Gaby Amarantos, que é uma artista do
Norte também. E o apoio dos amigos também,
Pepita, Lia Clark, o ex-BBB Fred Nicácio, Erika
Hilton também se colocou à disposição. Sâmia
é uma amiga antiga e eu acho ela um arraso
de política. Ela escancara toda a hipocrisia a
que estamos submetidos neste Brasil velho
de guerra. E ela colocou a equipe legal dela à
disposição de a gente resolver isso.

Fórum — Quais medidas judiciais vocês


pretendem tomar?
Johnny Hooker — A gente está
protocolando uma ação contra a prefeitura,
contra o prefeito e contra o deputado Nicoletti.
Uma notícia-crime por calúnia, difamação,
incitação, ataques de ódio, homofobia,
LGBTfobia, censura. Estamos entrando com
essas ações na Justiça, apoiados pelo mandato
da Sâmia Bomfim também.

Fórum — Acredita que a extrema direita


estabeleceu uma guerra cultural em que
os principais inimigos são as LGBT+ e
feministas?
Johnny Hooker — Eles usam bodes
expiatórios, minorias como bodes expiatórios,
para tentar encobrir que eles não entendem
de economia, que eles não fazem nada pela
saúde. Só existem, continuam existindo através
do pânico moral, da manipulação da fé das
pessoas, da manipulação dos medos das
pessoas. Eles só continuam existindo com esse
mecanismo. Se esse mecanismo acabar, eles
não conseguem nem se eleger. Porque com
que pauta eles vão se eleger? Porque de saúde
não falam, de educação não falam, de cultura.
Cultura, então, para eles é coisa de vagabundo.
Só presta se for dos Estados Unidos. No Brasil,
o artista é vagabundo. O artista que não é
vagabundo é o artista de fora, americano. Isso
é um acinte. É um acinte à soberania da cultura,
do povo brasileiro. É um acinte ao bom senso, é
um acinte aos direitos humanos, à Constituição.
O que esse prefeito nesse caso meu e esse
deputado fizeram é inconstitucional. LGBTfobia e
a censura. A censura é inconstitucional também.

Fórum — Como é ser um artista LGBT+


engajado no Brasil?
Johnny Hooker — Sofro perdas todos os
dias. A gente entende e sente na pele que, para
fazer publicidade, se a gente tem pontos de
vista, se a gente se posiciona sobre as coisas,
é mais difícil fazer publicidade. É mais difícil, se
a gente tá lutando contra a opressão, é mais
difícil alcançar os lugares. O que é muito triste
é que o Brasil é um país muito, muito, muito,
muito atrasado mesmo em muitas questões
civilizatórias, sociais, né? E, nesse

"Os ataques à
comunidade
LGBTQIA+
estão sendo
coordenados. É
um ataque à união
civil LGBT,
a artistas LGBT"

Foto Divulgação
vão da desigualdade social, as pessoas usam
os medos, a fé, as fragilidades das pessoas
como ferramenta para ganho político. É muito
triste. Eu acho o Brasil uma escuridão, uma
escuridão tão grande, tão grande. E lá no fim,
lá no finalzinho, tem uma luzinha, assim, que é
o quê? Os artistas, os políticos progressistas,
entendeu? Que é quem tá na crista da onda
dos movimentos e das coisas que vão levar
este país pro futuro. Mas, assim, daqui a
muito tempo, né? Eu acho legal essa coisa,
eu acho que me sinto orgulhoso de abrir esse
precedente, entendeu? Porque, na minha
declaração, estava nada mais nada menos
do que lutando contra a homofobia, contra a
homotransfobia. Eu não falo de religião nos
meus shows, como diz o deputado Nicoletti.
Meus shows não têm nada de religião. Aquilo ali
foi um caso isolado, porque estavam atacando
uma amiga minha. Dentro daquele mesmo
festival. Eles acham que podem falar. Nós,
pessoas LGBTQIA+, somos agredidos por
pessoas religiosas. Só pra gente desistir. Desde
que eu me entendo por gente que tem crente
olhando pra minha cara e falando que eu sou
o demônio. Porque eu sou uma bicha imunda,
entendeu? E nojenta. E eu vejo a mesma coisa
acontecer com os meus amigos. A gente
perde oportunidade de trabalho, a gente perde
espaços sociais. Muitas pessoas são rejeitadas
pela família, perdem as famílias por conta da
religião. E a gente não pode falar não, é? Epa,
a gente não tem direito ao sagrado não? O
sagrado é só de vocês? Vocês são donos
de Deus? É isso? Então, isso é deprimente.
Deprimente, mas estamos na luta.

Fórum — Você foi um dos primeiros artistas


a declarar apoio à candidatura de Lula à
Presidência da República na pré-campanha
de 2022. Como avalia o governo até aqui?
Johnny Hooker — Eu acho que é um
ano de arrumação. Mas o problema é que o
Congresso ainda é muito reacionário. O Brasil é
uma grande fazenda, um grande descampado
ainda. Um grande deserto, o Velho Oeste. A
negociação é muito delicada com os outros
setores. Por mais que ele [presidente Lula]
tenha feito um megazord, um megagoverno de
coalizão, novamente, é muito complicado, mas
eu vejo muitos avanços já. Eu vejo muito mais
paz institucional pra gente discutir as coisas com
mais profundidade, com menos ódio, com mais
amparo das autoridades, entendeu? Então, eu
até clamo aqui, nesta entrevista, porque a gente
já entrou em contato com o Ministério da Cultura
e o Ministério dos Direitos Humanos e estamos
aguardando. Eu sei que é muito trabalho que
eles têm, né? Que é uma coisa que demora um
pouco. Mas estamos aguardando. As notas
de repúdio que já tivemos de partidos, que já
tivemos de celebridades, jornalistas. Estamos
aguardando a nota de repúdio também dos
institucionais, do governo brasileiro.w

u Clique aqui e assista ao clipe da canção Flutua,


de Johnny Hooker, com participação de Liniker.
A N O S
22JORNALISMO
DE
INDEPENDENTE

apoie.revistaforum.com.br
Foto Thereza Eugenia /Reprodução

GAL Música

O primeiro aniversário
sem nossa cantora mais
feroz e delicada
por Julinho Bittencourt
Após muita tristeza e notícias conturbadas,
um sopro de alegria: finalmente vai estrear a
cinebiografia Meu Nome é Gal, com Sophie
Charlotte no papel da cantora

G
al Costa teria completado 78 anos
de idade na terça-feira (26). Esse é o
primeiro aniversário que passamos sem
ela. A cantora faleceu em novembro do ano
passado, em um caso envolto em diversos
mistérios, que vão desde a causa da morte em
si até sua relação com a viúva, Wilma Petrillo,
acusada por amigos e familiares da cantora de
assédio moral, golpes financeiros e ameaças,
que a teriam levado à falência.
A causa da morte foi divulgada apenas em
julho deste ano. Gal morreu em decorrência de
um infarto agudo do miocárdio, de acordo com
a certidão de óbito. O documento descreve
ainda como causa da morte uma neoplasia
maligna [câncer] de cabeça e pescoço.
Apesar de tudo, pelo menos uma boa
novidade envolve o nome dessa que foi uma
das maiores cantoras brasileiras de todos os
tempos. Estreia no próximo dia 19 de outubro,
com direção de Dandara Ferreira e Lô Politi,
que também assina o roteiro, e a atriz Sophie
Foto Divulgação
A atriz Sophie Charlotte no filme Meu Nome é Gal

Charlotte no papel da cantora, a cinebiografia


Meu Nome é Gal.
O elenco traz ainda Rodrigo Lelis como
Caetano Veloso, Dan Ferreira como Gilberto
Gil, Camila Márdila como Dedé Gadelha,
George Sauma como Waly Salomão, Luis
Lobianco como Guilherme Araújo, Fábio
Assunção como um diretor de TV e Dandara
Ferreira como Maria Bethânia.
O longa conta os primeiros passos da
cantora Maria da Graça Costa Penna Burgos,
conhecida até então como Gracinha. Ela
acabou sendo batizada pelo empresário
Eduardo Araújo como Gal Costa e virou, em
um primeiro momento, a musa do movimento
tropicalista. Depois disso, como todos sabem,
transformou-se em uma das grandes divas da
nossa música.
A fase tropicalista, no entanto, que é a
em que se concentra o filme,
traz um frescor e uma
potência inigualáveis.
Gal fez vários outros
álbuns impecáveis ao
longo da sua carreira,
até mesmo com
produções internacionais.
Além disso, passou a cantar
cada vez melhor. Mas nada, nunca mais,
superou aquilo.

O sabor artesanal de seus primeiros álbuns,


o jeitão rebelde – uma espécie de fusão da
Janis Joplin com acentos de João Gilberto
–, parecia sintetizar como ninguém o que era
e significava a barafunda sonora proposta
por seus companheiros de movimento. Nada
nem ninguém conseguiu resumir como Gal a
inspiração antropofágica proposta ironicamente
por Oswald de Andrade na deglutição do bispo
Sardinha por nossos índios.
Gal era mesmo Fa-Tal. Com seus cabelos
assanhados, a rosa, o vestido curto, as pernas
entreabertas com o violão sobre elas, seu canto
ora gritado e ora ultrapassando todos os limites
da delicadeza, traduzia sobremaneira um tempo
Foto Reprodução Instagram
Gal e Sophie

e espaço.
Gal, assim como o país atolado nos
escombros da ditadura, amadureceu, cresceu
e se profissionalizou como poucas. Gravou
álbuns lindos, em diversos gêneros e para todos
os gostos. Todas as múltiplas fases da cantora
ficaram guardadas para sempre no consciente
coletivo dos brasileiros.
Fica, no entanto, ao menos para este que vos
escreve, uma predileção particular pela Gal que
ainda era quase Gracinha, que conseguiu nos
dar naquele começo de carreira tanta beleza,
ferocidade e ternura. E tudo ao mesmo tempo.w

u Clique aqui e assista ao trailer de Meu Nome é


Gal, com Sophie Charlotte no papel da cantora.
REVISTA

expediente | edição #78

Diretor de Redação
_ Renato Rovai

Editora executiva
_ Dri Delorenzo

Textos desta edição:


_ Ivan Longo
_ Henrique Rodrigues
_ Luiz Carlos Azenha
_ Marcelo Hailer
_ Julinho Bittencourt

Designer Revisão
_ Marcos Guinoza _ Laura Pequeno

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