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ESCOLA SUPERIOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Licenciatura em Relações Internacionais e Diplomacia

Trabalho de Conclusão de Licenciatura

TEMA:

CONTRIBUTO DA ONU NO PROCESSO DE RESOLUÇÃO DO CONFLITO


TERRITORIAL NO SUDÃO DO SUL (2011-2018)

A Candidata: O Supervisor:
Olga Júlio Sitoe Carmona Bila, M.A.

Maputo, Novembro de 2022


ÍNDICE
1.Tema: Contributo da ONU no Processo de Resolução do Conflito Territorial no Sudão do Sul
(2011-2018)..................................................................................................................................1
2.Delimitação...............................................................................................................................1
2.1.Delimitação no Tempo...........................................................................................................1
2.2.Delimitação no Espaço...........................................................................................................1
3.Contextualização.......................................................................................................................1
3.1.Contexto.................................................................................................................................1
3.2.Justificativa............................................................................................................................3
4.Problematização........................................................................................................................3
5.Objectivos de Pesquisa..............................................................................................................5
5.1.Objectivo Geral......................................................................................................................5
5.2.Objectivos Específicos...........................................................................................................5
6.Questões de Pesquisa................................................................................................................5
7.Hipóteses...................................................................................................................................5
8.Identificação de Variáveis.........................................................................................................5
9.Metodologia de pesquisa...........................................................................................................6
9.1.Método de abordagem............................................................................................................6
9.2.Métodos de procedimento......................................................................................................7
9.3.Técnicas de pesquisa..............................................................................................................7
10.Referencial Teórico.................................................................................................................8
10.1.1.Paradigma Pluralista das Relações Internacionais.............................................................8
10.1.2.Precursores........................................................................................................................9
10.1.3.Pressupostos......................................................................................................................9
10.1.4.Críticas............................................................................................................................10
10.1.5.Aplicabilidade.................................................................................................................10
Resultados Esperados.................................................................................................................11
Lista de Referências...................................................................................................................12
1. Tema: Contributo da ONU no Processo de Resolução do Conflito Territorial no

Sudão do Sul (2011-2018)

2. Delimitação

2.1. Delimitação no Tempo


Em relação à delimitação temporal, o estudo abarca um período compreendido entre os anos
de 2011 a 2018. A escolha de 2011, prende-se com o facto de ter sido o ano em que foi
declarada oficialmente a separação da parte sul do Sudão, para a construção do mais novo
Estado do mundo, a República do Sudão do Sul ou Sudão Meridional, essa separação é fruto
de uma divisão histórica entre etnias no país, seguindo-se a nomeação de Salva Kiir (de etnia
Dinka) primeiro presidente do Sudão do Sul, Riek Machar (de etnia Nuer) no cargo de vice-
presidente e o Partido Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLA) como o exército
oficial do país (Bunay 2019: 90).

Por seu turno, a escolha do ano 2018, deve-se ao facto de ter sido neste ano em que foi
assinado o Acordo Revitalizado sobre a Resolução do Conflito na República do Sudão do Sul
(R-ARCSS), prevendo um sistema de compartilhamento de poder e a instituição de um
Governo de Transição Revitalizado de Unidade Nacional.

2.2. Delimitação no Espaço


Em termos espaciais, a pesquisa enquadra-se no território que compreende República do
Sudão do Sul, pelo facto de, ser o local no qual ocorreram os acontecimentos e factos
principais inerentes ao conflito intra-estatal naquele Estado e o subsequente processo de
resolução do mesmo pela ONU.

3. Contextualização
3.1. Contexto
A pesquisa insere-se num contexto que pode ser traduzido em três níveis de análise,
nomeadamente: Nível Internacional, Nível Regional e o Nível Doméstico.

A presente pesquisa, a nível internacional insere-se num contexto marcado pela conferência
de Berlim realizada entre 1884/5, na qual fez-se a partilha de África, o que consequentemente
gerou movimentos de resistência, por ter sido realizada de maneira arbitrária, não
considerando as características culturais de cada povo, facto que reflecte-se nos conflitos
actuais que ocorrem no continente africano. Neste sentido, as discrepâncias e rivalidades

1
entre os próprios grupos africanos foram utilizadas a favor dos colonizadores, que exploraram
a rivalidade para dominar. No Sudão, o domínio da Grã-Bretanha e do Egipto na região
sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, que marca o início do processo de descolonização do
continente africano (Guimarães, 2010: 15).

A nível regional, o tema se insere num contexto complexo de vários conflitos na região, quer
em termos de actores implicados não apenas com dois protagonistas em oposição, mas com a
participação de grupos rebeldes, facções radicais ou terroristas, dos vários níveis a que se
desenrola o conflito com implicações e interligações regionais importantes e das causas
profundas dos conflitos, que envolvem vários factores interligados como a exclusão
estrutural, antagonismo entre determinados grupos sociais, as desigualdades na distribuição
da riqueza ou vários elementos de fragilidade do Estado (Ferreira, 2010: 1). Segundo Pessoa,
(2012: 8), esses eventos podem ser observados no contexto da primavera árabe na Tunísia em
2010, onde a acção de Mohammed Bouazizi, um vendedor de rua tunisiano de 26 anos,
colocou fogo em seu próprio corpo, como forma de protesto contra os altos preços dos
alimentos e contra a repressão do regime do presidente da Tunísia, Zine El Abidine Bem Ali.
Esse acto serviu de motivação para uma série de protestos que tiveram como resultados na
derrubada do poder em Janeiro de 2011, de Bem Ali, após uma permanência de 23 anos no
poder, onde este tinha amplo apoio dos Estados Unidos da América, o que cria um ambiente
de pânico e permanente alerta em relação aos eventos no nível regional e doméstico.

A nível doméstico, a pesquisa insere-se num contexto em que se observa guerras civis no
território do Sudão, resultando em instabilidades ininterruptas envolvendo questões de
autonomia regional, identidades étnicas e fundamentalismo religioso. Diante dos custos
humanos desse conflito civil no Sudão, decidiu-se por um novo processo de negociações
entre o governo central de Cartum e o Movimento Armado Popular de Libertação do Sudão
(SPLM), objectivando-se um referendo consultivo no Sul do Sudão, em 9 de Janeiro de 2011
e posteriormente, decidindo-se pela separação do país. Assim sendo, o Sudão do Sul
proclamou-se independente da República do Sudão no ano em epígrafe, tendo como capital, a
cidade de Juba (Bunay, 2019: 80).

É nesta perspectiva que emerge o conflito no Sudão do Sul que tem chamado atenção no
continente africano, assim como a nível internacional, as fronteiras do Sudão foram
estabelecidas sem levar em conta realidades étnicas e culturais da região. A nível interno a
maioria da população do norte é composta por uma população muçulmana e fala árabe e o sul

2
é composta de vários grupos étnicos de maioria cristã ou animista. Tal como advogam
Leriche e Arnold, (2012: 18), esses factores contribuíram fortemente para um alargamento
nas disparidades entre esses povos, especialmente no que se refere ao agravamento da
fronteira ideológica que cada vez mais passou a tomar um carácter religioso e étnico.

3.2. Justificativa
O desenvolvimento do tema considera-se relevante tendo em conta que nas Relações
Internacionais há reconhecimento sobre a primazia dos conflitos, devido a natureza anárquica
que as caracteriza, cujas consequências afectam a Comunidade Internacional. Considerando-
se o poder o elemento desestabilizador desses eventos, não apenas para as partes as primárias
do conflito, mas também para todo o Sistema Internacional. Em virtude desses factos, as
organizações internacionais e regionais têm empreendido esforços com vista a identificarem
mecanismos pacíficos1 de prevenção, gestão e resolução de conflitos. Nesta perspectiva, a
ONU que tem dentre seus principais objectivos a promoção da paz e segurança e a
consequente prevenção, gestão e resolução de conflitos, no caso vertente, importa reflectir do
seu real contributo no processo de resolução do conflito do Sudão do Sul.

Em termos científicos, a pesquisa está intrinsecamente ligada com o facto da mesma poder
contribuir como fonte bibliográfica para os mais interessados na matéria a ser estudada, mas
também para a sociedade em geral que poderá obter através dos resultados a serem colhidos
durante a pesquisa alguns subsídios sólidos em relação ao contributo que a ONU tem dado na
resolução dos conflitos em diversos Estados, em especial, o Sudão do Sul. Desta forma, a
pesquisa mostra pertinente tanto para os interessados dentro da academia (em relação ao tema
em alusão) assim como para a sociedade em geral.

Do ponto de vista pessoal, a escolha do tema justifica-se pelo facto de ser uma área que vem
despertando bastante interesse da autora no âmbito dos Estudos de Paz e Conflitos.

4. Problematização

O cerne do problema é a dificuldade inerente ao processo de resolução do conflito em apreço,


baseadas em identidades, uma vez que, tais conjunturas trazem à tona não apenas questões
tangíveis mas também, questões intangíveis como interpretações históricas, culturais, entre
outras que em sua génese são mais difíceis de negociar ou de alcançar algum compromisso

1
Diplomacia, Negociação, Mediação, Bons Ofícios, Conciliação.

3
entre as partes. No caso do Sudão, o conflito consiste em duas perspectivas culturais
concorrentes: a identidade árabe-islâmica, dominante no Norte e uma identidade cultural
africana no Sul Nantulya (2003: 82, citado por De Freitas, 2014: 74).

A mesma percepção é também partilhada por De Campo (2021: 43), que refere que, o
conflito armado que habita no Sudão do Sul, prolonga-se na sua história como parte do
carácter de um país ambicioso, seguro das suas crenças, mas com poucas capacidades para
administrar os seus recursos e se desenvolver política e economicamente. O conflito no
Sudão do Sul remete para um conjunto diversificado de frentes de tensão, mais
concretamente no que diz respeito ao antigo conflito com o Sudão, ao actual conflito interno
dentro do Sudão do Sul e às questões culturais, políticas e económicas pendentes entre os
dois países.

Neste contexto, o conflito no Sudão do Sul, constitui um desafio não só para a ONU mas
também para a comunidade internacional. Criando deste modo uma série de debates em torno
do contributo da ONU na resolução de conflitos. Dias (2010: 63-65) alude que a ONU
contribui para uma consciencialização da necessidade de entendimentos e equilíbrio na
correlação de forças e poder entre os Estados membros, na medida em que, através da
facilitação à O.I oferece aos Estados membros um marco estabelecido e permanente para o
diálogo. Assim, a redução de tensões, juntamente com a resolução pacífica de disputas, é uma
importante função deste órgão.

Todavia, como refere Oliveira, (2011: 25), as acções da ONU no processo de resolução de
conflitos têm sido limitadas, devido a incapacidade de mobilizar recursos financeiros,
logísticos e humanos e a sua dependência em relação à comunidade internacional.
Corroborando de Zeca, (2017: 211), aponta que na ONU falta legitimidade política e a
autoridade militar necessária para dirigir, formar e empregar de um modo competente uma
força militar significativa, ela improvisa a gestão das suas operações militares.

Diante das perspectivas apresentadas, é possível notar um paradoxo em relação ao contributo


da ONU no processo de prevenção, gestão e resolução de conflitos. Face à oposição
levantada pela discussão, torna-se imperioso questionar: Qual tem sido o contributo da
ONU na resolução do conflito territorial no Sudão do Sul?
2
Nantulya, Paul (2003), “The Machakos Protocol and Prospects for Peace in Sudan”. African

Centre for the Constructive Resolution of Disputes. South Africa.

4
5. Objectivos de Pesquisa
5.1. Objectivo Geral
 Compreender o contributo da ONU no processo de resolução do conflito territorial do
Sudão do Sul.

5.2. Objectivos Específicos


 Identificar as causas do surgimento do conflito territorial no Sudão do Sul;
 Explicar os principais interesses geoestratégicos e geopolíticos sobre o conflito do
Sudão do Sul;
 Analisar o contributo da ONU no processo de resolução do conflito territorial do
Sudão do Sul.

6. Questões de Pesquisa
 Que causas culminaram com o surgimento do conflito territorial no Sudão do
Sul?
 Quais são os principais interesses geoestratégicos e geopolíticos sobre o
conflito do Sudão do Sul?
 De que forma a ONU contribui no processo de resolução do conflito territorial
do Sudão do Sul?

7. Hipóteses
 A concentração de direitos políticos e recursos económicos podem ter sido as causas
para o surgimento do conflito territorial no Sudão do Sul;
 Os recursos naturais existentes no Sudão do Sul e a sua posição geográfica podem ter
constituído os principais interesses geopolíticos e geoestratégicos em torno de
revindicações do território;
 As acções diplomáticas da ONU no conflito territorial do Sudão do Sul podem ser
limitadas, devido a sua incapacidade financeira e técnica da organização.

8. Identificação de Variáveis
8.1. Variáveis da Primeira Hipótese
Variável Interdependente: A concentração de direitos políticos e recursos
económicos;

5
Variável Dependente: causas para o surgimento do conflito territorial no Sudão do
Sul.

8.2. Variáveis da Segunda Hipótese


Variável Interdependente: Os recursos naturais existentes no Sudão do Sul e a sua
posição geográfica.
Variável Dependente: interesses geopolíticos e geoestratégicos em torno de
revindicações do território.

8.3. Variáveis da Terceira Hipótese


Variável Interdependente: As acções diplomáticas da ONU no conflito territorial do
Sudão do Sul.
Variável Dependente: podem ser limitadas, devido a sua incapacidade financeira e
técnica da organização.

9. Metodologia de pesquisa
Toda a investigação científica depende de um conjunto de procedimentos intelectuais e
técnicos para que os seus objectivos sejam atingidos, que é o método científico- conjunto de
processos ou operações mentais que se devem empregar na investigação, que é a linha de
raciocínio adoptada no processo de pesquisa e que fornece as bases lógicas à pesquisa e
investigação (Gil, 1999: 26). A elaboração da presente pesquisa baseia-se no uso dos métodos
hipotético-dedutivo, histórico, comparativo e monográfico, auxiliados pelas técnicas
documental, bibliográfica e entrevista.

9.1. Método de abordagem


Para os efeitos da elaboração deste trabalho, recorre-se ao método hipotético-dedutivo.
Hipotético-dedutivo: Consiste na percepção de uma lacuna de conhecimentos, formula
hipóteses e pelo processo de inferência dedutiva, presta a predição da ocorrência de
fenómenos abrangidos pela hipótese (Gil, 1999: 26; Lakatos e Marconi, 1992: 49). Desta
forma, a relevância no uso deste método dá-se pelo facto de permitir a elaboração de
hipóteses na pesquisa, que por sua vez, guiarão o raciocínio da mesma, visto que, são
susceptíveis de serem testadas ou falseadas por intermédio de evidências empíricas.

9.2. Métodos de procedimento

6
No que tange aos métodos de procedimento, esta pesquisa apoia-se nos métodos histórico,
comparativo e monográfico.

Método Histórico: - “consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do


passado para verificar sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua
forma actual por meio de alterações de suas partes componentes ao longo do tempo,
influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época” Marconi e Lakatos, (2009: 91).
Para Lundin (2016: 123), este método consiste na investigação de acontecimentos, processos,
instituições no passado para a verificação da sua influência na actualidade. Este método
permite fazer uma reflexão sobre a evolução histórica do conflito territorial do Sudão do Sul
e das principais causas do mesmo.

Método Comparativo- Marconi e Lakatos, (2009: 92), referem que o método comparativo
consiste na realização de comparações com a finalidade de verificar similitudes e explicar
divergências. Na mesma lógica de raciocínio Lundim, (2016: 139), considera que este
método é útil para comparações de grupos sociais, existentes no passado e no presente, como
entre sociedades em iguais ou diferentes estágios de desenvolvimento. E neste trabalho, o
método comparativo é essencial para comparar as diversas abordagens sobre as causas do
conflito territorial do Sudão do Sul, tendo em conta os diversos contextos e momentos que
marcaram o conflito.

Método Monográfico- tem como princípio de que o estudo de um caso em profundidade


pode ser considerado representativo de muitos outros ou mesmo de todos os casos
semelhantes. Esses casos podem ser individuais, instituições, Estados, etc (Lakatos e
Marconi, 2003: 107). Com este método torna-se possível estudar com profundidade os
aspectos determinantes para a ocorrência do conflito territorial do Sudão do Sul. Em paralelo,
os dados colhidos permitirão fazer uma generalização para os outros casos similares da acção
da ONU no processo de prevenção, gestão e resolução de conflitos a nível do continente
africano.

9.3. Técnicas de pesquisa


Em relação aos procedimentos técnicos, esta pesquisa privilegia a técnica de pesquisa
documental, bibliográfica e a entrevista.
Pesquisa Documental que é realizada em documentos conservados no interior de órgãos
públicos e privados de qualquer natureza, ou com pessoas, registos, manuais, regulamentos,
circulares, ofícios, memorandos, balancetes, comunicações informais, filmes, microfilmes,

7
fotografias, informações em disquete, diários, cartas pessoais e outros (Moresi, 2003: 27). Por
seu turno, Marconi e Lakatos (2003: 173), compreendem que a técnica documental visa a
colecta de dados e está restrita a documentos, informações disponíveis sobre o tema em
estudo nos documentos oficiais na base de relatórios, papéis, planos bem como outras fontes
escritas Esta técnica permite fazer uma identificação, levantamento, exploração de
documentos referentes ao objecto pesquisado nomeadamente legislação, documentos
institucionais e estratégias.

Pesquisa Bibliográfica- que é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído


por livros e artigos científicos. Assim, assume-se a pesquisa como sendo bibliográfica porque
partiu-se da consulta de livros, relatórios, artigos electrónicos, jornais e legislação com o
intuito de aprofundar o conhecimento referente ao tema estudado, acompanhando-o em todas
etapas de elaboração do trabalho (Gil, 1999: 60).

Na óptica de Fonseca, (2009: 21), a pesquisa bibliográfica é a base de todo trabalho


científico, pois abrange toda a bibliografia já tornada pública em relação ao tema em estudo,
desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses,
material cartográfico, etc., não é mera repetição do que já foi dito ou escrito sobre
determinado assunto, mas propicia o exame de um tema sob novo enfoque ou abordagem,
chegando a conclusões inovadoras. Esta técnica permite fazer uma leitura crítica e
interpretativa em torno do tema em estudo com base na literatura existente.

Entrevista segundo Silvestre e Araújo (2012: 149), entrevista corresponde a um processo de


interacção face-a-face entre uma ou mais pessoas (que desempenham o papel de
entrevistador) e uma pessoa ou um grupo de pessoas (desempenhando o papel de
entrevistado). Não discordando desta tese Gil, (2008: 109), refere que o investigador
apresenta-se frente ao investigado e lhe demanda um conjunto de questões com o propósito
de obter informações que interessam a pesquisa ou monografia. Esta técnica será usada para
buscar informações e subsídios relacionados com o contributo da ONU no processo de
resolução do Conflito territorial do Sudão do Sul.

10. Referencial Teórico

8
10.1.1. Paradigma Pluralista das Relações Internacionais
O Pluralismo tem suas origens no pensamento político da Antiga Grécia, dos liberais dos
Séculos XVIII e XIX e, mais recentemente nos escritos académicos sobre o comportamento
de grupos de interesse e organizações (Zeca, 2013: 85). O Pluralismo surge nas relações
internacionais como abordagem teórica nos anos 60 do Século XX, na tentativa de responder
aos novos desafios colocados pela complexidade crescente das questões internacionais,
originando, deste modo a perspectiva pluralista das relações internacionais (Sousa, 2005:
142).
10.1.2. Precursores
No paradigma pluralista é difícil identificar os precursores tendo em conta que muitos dos
seus escritores não foram observadores das relações internacionais como tal, mas sim
economistas, cientistas sociais, teólogos ou cientistas políticos interessados em política
doméstica. No entanto, dentre eles Hugo Grotus (16253) e Edward Carr (19394) são os que
mais tiveram um impacto significante nos teóricos associados à imagem do paradigma
Pluralista sobretudo no campo das relações Internacionais. Importa ressaltar que para além
dos pensadores acima mencionados, existiu o impacto indirecto de outros teóricos que não
analisavam as relações internacionais per si (Zeca, 2013: 85).
10.1.3. Pressupostos
De acordo com Zeca (2013: 85 citando Viotti e Kauppi, 1993: 2295), identifica os seguintes
pressupostos básicos do pluralismo:
 Os Estados não são os únicos actores do Sistema Internacional, uma vez que existem
outros actores igualmente importantes. As organizações internacionais em alguns
aspectos podem ser mais importantes e independentes que os Estados. Os actores
transnacionais, como as Companhias Multinacionais, grupos de defesa dos direitos
humanos e grupos ambientalistas, têm um papel importante nas relações
internacionais;
 Os Estados não são actores unitários, uma vez que é composto por diferentes grupos
de interesse, burocracias e indivíduos em competição. Embora normalmente na
imprensa se diga a decisão tomada por um Estado, tal decisão reflecte o

3
Grotus, Hugo (1625), Law of War and Peace, Macmillan: London
4
Carr, Edward (1939), Twety Years 'Crisis, Macmillan: London.
5
Viotti, P e Kauppi M. (1993). International Relations World Politics, 5ª edição, Editora Pearson Education:
Boston.

9
posicionamento de um determinado sector, instituição ou indivíduo, a decisão não é
tomada por uma entidade abstracta, como o Estado;
 Os Estados não são actores racionais uma vez que está sujeito a influências exteriores
que condicionam e moldam as suas acções. Atendendo que existem vários actores em
interacção e que o processo de tomada de decisão reflecte um exercício de
negociações entre os vários sectores e burocracias de um determinado Estado, a má
percepção ou estereótipos impedem que as decisões tomadas sejam as mais acertadas.
Em certos casos algumas decisões terão de parecer público, referendum;
 A agenda das relações internacionais é extensa e alargada. Apesar de reconhecerem a
importância dos assuntos relacionados com a defesa e segurança (high politics) o
pluralismo reconhece a importância dos assuntos económicos, sociais e ecológicos
resultantes da interdependência cada vez crescente entre os Estados. Salientam-se
também problemas de combate à pobreza, problema de gestão de recursos naturais,
por isso, rejeita-se a validade da dicotomia high/low politics.

10.1.4. Críticas
A maior crítica ao pluralismo reside no facto deste paradigma, diluir o papel do Estado no
sistema político internacional. Apesar da multiplicidade de actores internacionais, sem
dúvida, os Estados continuam a ter maior protagonismo na sociedade internacional. Em
relação a variedade das questões, as de high politcs – militares e segurança – podem não
constituir as questões mais importantes no cenário internacional, mas continuam sendo tema
central e fundamental nas discussões internacionais. A outra crítica ao pluralismo reside no
facto de, enfatizar a cooperação nas relações internacionais, mas que a tal cooperação é
guiada por interesses de Estados, e por último as relações internacionais continuam sendo
tabuleiro da política do poder por excelência.

10.1.5. Aplicabilidade
O paradigma pluralista pode ser aplicado ao tema, sobretudo tendo como base aos
pressupostos da multiplicidade de actores e assuntos nas relações internacionais.
Relativamente a multiplicidade de actores, o paradigma pluralista dá ênfase ao papel
desempenhado pelas Organizações Internacionais (OI's) na cena internacional. Tendo em
conta o tema em estudo, constata-se que as OI's, como é o caso da ONU, desempenha um
papel importante na resolução de conflitos, na medida em que vem mediando processos de
paz, com vista a dar término os conflitos intra e inter-estatais a nível continental.

10
Ademais, o pluralismo ajuda a explicar os diversos actores envolvidos no conflito do Sudão
do Sul, uma vez que para a sua resolução, precisa-se de todos os seguimentos da vida do
continente africano e do mundo no geral: Estados, líderes, académicos, políticos, religiosos,
ou seja, todas instituições e cidadãos africanos.

Quanto a multiplicidade de assuntos, os pluralistas não se limitam apenas nas questões de


high politics – militares e segurança – como também em questões de low politics, neste caso
as questões de economia, energéticos e culturais. Com efeito, este pressuposto aplica-se na
medida em que verifica-se que a resolução do conflito territorial do Sudão do Sul, não só é
pertinente para a independência do povo Sul Sudanês, como também pode alavancar a
economia daquele país, uma vez que, este território foi abençoado por ter nele grandes
quantidades de recursos minerais.

Por outro lado, os Pluralistas reconhecem a natureza anárquica que caracteriza as relações
internacionais. Por este prisma, advogam a cooperação entre os Estados, com vista a
minimizar a primazia dos conflitos no sistema internacional. Desta forma, esta concepção
aplica-se ao tema, considerando-se os esforços levados a cabo pela ONU em coordenação
com o governo sul sudanês e os seus opositores na tentativa de pôr fim ao conflito.

Resultados Esperados
Com a realização desta pesquisa, espera-se que irá contribuir para informar e criar uma discussão
mais ampla sobre o processo de prevenção, gestão e resolução de conflitos em África,
particularmente no Sudão do Sul. Por sua vez, estes resultados poderão ser usados pela sociedade
académica, sociedade civil e para todos os que demonstram interesse no assunto em epígrafe. Do
mesmo modo, espera-se que o trabalho possa ser um instrumento de reflexão no que refere ao
contributo da ONU no processo de resolução de conflitos territoriais.

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Lista de Referências

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Conflitos Armados e Construção da Paz Sustentável: Um Estudo Sobre A Guerra Civil Do
Sudão Do Sul (dissertação submetida como requisito parcial para a obtenção do Grau de
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Ciência e Conhecimento Científico; Métodos Científicos; Teoria, Hipóteses e Variáveis;
Metodologia Jurídica. 2ª Edição. Editora Atlas: São Paulo.

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