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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de História

Revolta étnica-tribal dos Hutu e os Tutsi

Glória Luciano Escrivão: 51200128

Chimoio, Agosto, 2022


INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de História

Revolta étnica-tribal dos Hutu e os Tutsi

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura em
Ensino de História da UnISCED.
Tutor: Mestre, Nazir Gani

Glória Luciano Escrivão: 51200128

Chimoio, Agosto, 2022


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Índice

1.Introdução................................................................................................................................2

1.1 Objectivos.............................................................................................................................2

1.1.1 Objectivo Geral..................................................................................................................2

1.1.2 Objectivos Específicos.......................................................................................................2

1.2 Metodologias.........................................................................................................................2

2. Ruanda, sua história e a situação antes da revolta étnica-tribal dos Hútu e os Tutsi..............3

3. Origem dos grupos étnicos: tutsis e hútus...............................................................................4

4. As Causa da desigualdade Social entre tutsis e hútus.............................................................5

5. Contraste entre os hútus e tutsi...............................................................................................7

6. As consequências da Revolta étnica-tribal dos Hútu e os Tutsi.............................................9


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1.Introdução
Este trabalho tem o intuito de abordar o assunto: Revolta étnica-tribal dos Hutu e os Tutsi,
tema inserido na linha de pesquisa na Disciplina: História da África Central e Oriental: Sec.
XVI-XVIII, na área de estudo em ensino de História.

Portanto, importa dizer como nota introdutória, que o Ruanda é um Estado, que desde cedo
conheceu clivagens entre os hutus e os tutsis, que apesar destas, não eram as etnias originárias
da região, sendo os primeiros, os twas. As clivagens entre eles provinham da superioridade
financeira dos tutsis, que eram pastores, face aos hutus, que eram agricultores. As relações
entre elas eram, ora pacíficas, ora conflituosas. Mas, ainda assim, as duas, coabitavam num
território regido por normas que os regulavam. Os maiores problemas entre as duas etnias,
começaram com os primeiros contactos com os europeus, especificamente, os alemães,
ocorrido após a Conferência de Berlim.

1.1 Objectivos

1.1.1 Objectivo Geral


O presente trabalho tem o objectivo geral de, analisar a Revolta étnica-tribal dos Hútus e os
Tutsi, abordando seus antecedentes, suas causas e suas consequências.

1.1.2 Objectivos Específicos


Este trabalho tem por objectivos específicos:
 Entender quais as motivações que levaram a a revolta étnica-tribal dos Hútu e os
Tutsi, sua conceituação;
 Conhecer a história do por detrás da revolta étnica-tribal dos Hútu e os Tutsi

1.2 Metodologias
O procedimento metodológico adoptado foi a pesquisa bibliográfica. No decorrer da
elaboração do trabalho de Pesquisa foi observada a ausência de livros sobre o assunto que
resultou na necessidade de procurar em outras fontes de informação na internet, como em
Trabalho de Conclusão de Curso, artigos científicos, revistas e jornais electrónicos, que se
mostraram em número suficiente e confiáveis.
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2. Ruanda, sua história e a situação antes da revolta étnica-tribal dos Hútu1 e os Tutsi
Oficialmente chamado de República de Ruanda, este pequeno território está localizado na
porção centro-oriental africana, na região dos Grandes Lagos. Seu território montanhoso é
pouco maior que o estado de Alagoas, com 26.338 km² de extensão territorial. Faz fronteira
com República Democrática do Congo (a Oeste), Uganda (ao Norte), Burundi (ao Sul) e
Tanzânia (a Leste) (Gourevitch, 2000).

Segundo (Gourevitch, 2000), Ruanda é um país paupérrimo, um pouco maior que Vermont,
estado americano, e um pouco menos populoso que Chicago, um lugar tão espremido pelos
vizinhos Congo, Uganda e Tanzânia que, na maioria dos mapas, seu nome, para ser legível,
tem que ser impresso fora dos limites de seu território, o pais está dividido em províncias que
são: Kigali maior cidade Ruanda, Gasabo, Gesoki, Kicukero, Nyarugenge; Norte, Burera,
Byumba cuja é capital da província, Gakenke, Ruhengeri e Rulindo; Oeste, Cyangugy,
Gasiza, Gisenyi, Kibuye cuja capital da província, Ngororero, Nyamasheke e Rutsiro; Leste,
Bugesera, Gatsibo, Kayonza, Kibungo, Kirehe, Rwamagara, cuja capital, Nyagatare; Sul,
Butare, Gikongoro, Gisagara, Gitamara, Kamonyi, Nyanza, cuja capital da província e
Nyaruguru.

A economia do país é rural, 90 por cento da população trabalha na agricultura. O país


sobrevive basicamente da exportação de café e chá, não existem ouro nem diamante em
Ruanda e o sector industrial são bastante pequenos. Os principais parceiros comerciais com o
país são: Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, Suíça, Tanzânia e Uganda (Gourevitch,
2000)

A população consiste em três grupos étnicos: pigmeus, hutus e tutsis. Actualmente, a


população ruandesa consiste em: oito milhões de pessoas, sendo 90 por cento hutus, nove por
cento tutsi e um por cento pigmeus, também chamados de povos twas. As línguas oficiais de
Ruanda são: francês, kinyaruanda; a língua de todos os ruandeses e também o suaíle ou
quissuaíle; língua africana e mais utilizada em centros comerciais (Araújo, 2012).

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O termo hutu significava „agricultor‟, ou „pobre‟ ou criado‟, enquanto tutsi se referia a „criadores de gado‟,
que em decorrência deste fato tinham que ser ricos e, portanto, os patrões. Os tutsis tinham um status social
superior devido à sua riqueza económica em termos de gado naquela época em particular.
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3. Origem dos grupos étnicos: tutsis e hútus


A tradição ruandesa consiste em relatar todos os fatos oralmente, desta forma, não existe
nenhum documento referente ao Estado pré-colonial. As histórias contadas no passado
tendem a ser ditas por aqueles que têm poder, estejam no governo, ou em oposição a ele

Segundo Fonseca (2016, p.226), existem três grupos étnicos que compõem a população de
Ruanda são os tutsis, os hútus e os tuás. Os principais grupos eram os tutsis, povo vindo do
norte e do leste, e os hútus, provenientes do sul e do oeste. Os hútus representam a maioria da
população, com cerca de 90%, e os tutsis que, apesar de serem apenas 9% da população,
assumiram as funções de liderança na sociedade por muitos séculos. Os tuás, jamais foram
mais que 1% da população, assim, nunca desempenharam um papel significativo dentro da
estrutura social do país, sendo marginalizados e destituídos de quaisquer direitos. A distinção
entre os elementos de um grupo e de outro estava basicamente ligada às funções sociais
exercidas por cada um.

Todavia, os hutus eram caracterizados pela pele escura, nariz achatado, lábios grossos e
mandíbulas quadradas. Os tutsis são mais altos e elegantes possuem rostos delgados e
compridos, pele não tão escura, nariz estreito, lábios finos e queixo estreito

De acordo com Paul J. Magnarella (2018), uma premissa geralmente aceita entre os
historiadores é que os primeiros habitantes do território de Ruanda foram os ancestrais dos
twas, um povo pigmeu que viviam em cavernas. Em seguida os hútus, um povo bantu, teriam
vindo do sul e oeste de Ruanda e por último um povo chamado tutsi, de origem nilótica (que
vem das margens do Rio Nilo), vindo do leste e norte.

Os hútus geralmente conseguiam alguma posição de poder, ainda que inferior, e


administravam os bairros, dentro desta estrutura hierárquica altamente controlada de Ruanda e
obedeciam às ordens vindas de cima, geralmente, provenientes de pessoas tutsis. E, muito
embora o grau de subjugação e opressão destes hútus nas mãos dos tutsis variasse de acordo
com a versão contada e aceita por cada um, a linha divisória entre um grupo e outro não era
tão rígida quanto se costuma pensar fora de Ruanda ou como os belgas fizeram destacar
séculos mais tarde.
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Para Rusagara (2009, p. 104), um outro traço que é possível apontar de forma segura quando
se lança um olhar para as relações do passado entre os dois grupos é que os tutsis, em razão de
suas posições hierárquicas superiores, costumavam ter terras e criavam gado enquanto os
hútus se dedicavam à agricultura. Portanto, é possível se falar que os grupos pertenciam há
classes económicas-sociais diferentes, mas não em etnias distintas propriamente ditas.

Outro ponto importante, destacado por Santiago (2011) é que não havia naquela época uma
rivalidade, muito menos um ódio extremo entre os grupos, que conviviam e se relacionavam
de maneira pacífica. Segundo ocorria até mesmo casamentos entre as etnias, dificultando
ainda mais a diferenciação dos grupos: toda a alta estrutura política de tal sociedade era
baseada nos tutsis (com algumas excepções pontuais) e, principalmente, na figura monárquica
do mwami2, responsável pela manutenção do equilíbrio político e também social de Ruanda.
Apesar dessa distinção entre os grupos e esta visão de superioridade, não havia o uso da força,
ou uma repressão física por parte dos tutsis para se manterem no poder.

4. As Causa da desigualdade Social entre tutsis e hútus


Com o término da 1ª Guerra Mundial, a Bélgica recebeu da Liga das Nações o controle
administrativo do Burundi e de Ruanda. Os belgas, utilizando-se da diferença étnica entre
tutsis e hútus, iniciaram um processo de discriminação entre os dois grupos, agora não apenas
baseado na classe social, mas também nas diferenças físicas (Araújo, 2013, p.306).

Para incentivar essa discriminação, os belgas passaram a distinguir os dois grupos baseados
em suas aparências físicas. Os hútus eram descritos como tendo feições mais rígidas e
arredondadas, pele escura, nariz largos, lábios grandes e mandíbulas quadradas. Os tutsis, por
outro lado, eram descritos como tendo feições suaves, pele mais clara, nariz, lábios e queixo
finos. Foram até mesmo enviados cientistas pelo governo belga para tirarem medidas da
população, que chegaram a conclusão de que os tutsis possuíam um porte naturalmente
aristocrático.

Assim, pertencer a uma categoria tutsi era sinónimo de prestígios, elegância, e superioridade.
Ser tutsi era sinónimo de riqueza, status, na época da monarquia era possível ao hútu de renda
financeira considerável se tornar um tutsi, da mesma forma um tutsi que tinha suas finanças
rebaixadas passavam a ser reconhecido como hútu,
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Divino Rei.
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Segundo Hatzfeld (2005), o processo de deterioração da nação prosseguiu. Os belgas, com o


apoio da Igreja Católica, derrubaram o governo, empossando Rudahigwa, membro da elite
tutsi que se converteu ao catolicismo e foi colocado como novo governante. Com isso,
Ruanda logo se tornou o país com maior índice de católicos da África, devido ao processo de
conversão em massa. Um censo foi realizado pelos belgas de modo a realizar a distribuição de
identidades étnicas, assim, eles aprimoraram o processo de segregação. Os cargos políticos e
administrativos e o acesso à educação passaram a ser de exclusividade dos tutsis. Esta
estratégia dos colonizadores fez surgir uma ideia de separação entre os dois grupos, motivada
pelas diferenças físicas e pelo entendimento de superioridade racial dos tutsis sobre os hútus,
com estes sendo cada vez mais explorados através da cobrança de tributos e do trabalho
forçado.

Segundo a análise de Mahmood Mamdani (2016) ainda na época que antecedeu a colonização
um hútu próspero poderia se tornar tutsis ao longo de várias gerações seja por meio do
casamento ou aquisição financeira, demostrando que a cisão tutsi e hútu versavam
principalmente como uma problemática social, ser tutsis estava ligado a poder aquisitivo,
status. Demostrando ser uma característica de desigualdade, assim reversível, condição de
estado e não ser.

Por outras palavras, antes da era colonial, os tutsis geralmente ocupavam as camadas mais
altas do sistema social e os hútus, os inferiores. Contudo, a mobilidade social era possível, um
hútu que adquirisse um grande número de gado ou outras riquezas poderia ser assimilado ao
grupo tutsi e os tutsis empobrecidos seriam considerados hútus.

Paul J. Magnarella (2018) se refere a um processo de enobrecimento existente na época, em


que os membros da realeza tutsi poderiam elevar o status de um hútu ao de tutsi, sendo o
inverso igualmente possível: os nobres tutsis podiam rebaixar outro tutsi à posição social dos
hútus, com base num fracasso económico ou se este se casasse com um hútu. No entanto,
apesar dessa maleabilidade social e do potencial que ela pode ter proporcionado para a
mobilidade de classes, o que permanece claro é que havia uma sociedade hierarquizada com
os tutsis constituindo a aristocracia de Ruanda e os hútus como seus vassalos.
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5. Contraste entre os hútus e tutsi


Os conflitos entre os dois grupos étnicos de Ruanda já existiam antes mesmo do
genocídio de 1994. A rivalidade e o ódio entrem hutus e tutsis estão relatadas desde a época
da
colonização alemã e belga. No entanto, a distinção no tratamento e regalias para povos
preferidos, tutsis, e os preteridos, hutus, era bastante visível em Ruanda, e esses sentimentos
dos
hutus eram transmitidos ao longo das gerações.

Devido ao ódio alimentado pelo processo discriminatório praticado durante as colonizações e


aos sentimentos hostis, o governo de Habyarimana resolveu adotar uma nova política
(Gourevitch, 2000).

Todavia, essa política consistia em unir todos os hutus com objetivo de purificar Ruanda e
fazer do país um lugar melhor para viver. Num primeiro momento, o intuito seria eliminar os
hutus que não concordavam com o massacre, os chamados hutus moderados; depois, eliminar
os tutsis

Segundo (Gourevitch, 2000), o massacre teve início em 06 de abril de 1994, quando o avião
do presidente Habyarimana, voltando de Dar es Salaam na Tanzânia, foi derrubado ao
sobrevoar Kigali, tendo se espatifado no terreno de seu próprio palácio. O novo presidente
hutu do Burundi e vários altos conselheiros de Habyarimana também estavam a bordo.

Hutus radicais mataram tutsis com armas de baixas tecnologias, tais como: porretes, facas,
facões, lanças e o tradicional masu, enorme clava com pregos espetados. Mais tarde, foram
acrescidos ao arsenal chaves de fenda, martelos e guidons de bicicleta (Hatzfeld, 2005)

Todavia, a arma mais utilizada no massacre foi o facão por ser mais barato e também por ser
um instrumento bastante utilizado pelos ruandeses na agricultura desde a infância O principal
objectivo era exterminar o mais rápido possível, não importando como eram mortos, mas sim
quantos estariam mortos em pouco tempo. Igrejas, escolas e casa eram invadidas pelas tropas
interahamwe. Os tutsis buscavam refúgio em igrejas, pântanos, hospitais e hotéis, e os relatos
mostraram que cerca de cinco mil refugiados tutsis foram mortos na igreja de Nyamata
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A Interahamwe3 realizava bloqueio de estradas, usava as carteiras de identidade étnica e


utilizava os dados do governo para obter informações sobre os endereços de todos os tutsis do
país. Deste modo era fácil localizar e eliminar suas vítimas, pois bastava apenas bater de porta
em porta. Quando encontrava uma casa vazia ela era inteiramente destruída (NOLLI e
ARMADA, 2013, p.703).

Na visão de Nolli e Armada (2013) Foi um período em que professores mataram alunos,
médicos mataram pacientes, padres mataram fiéis, irmãos mataram irmãos. As actividades do
quotidiano ficaram suspensas e o país transformou-se num gigantesco campo de morte a céu
aberto, num cenário em que a morte violenta, as pilhagens e violações se tornaram
absolutamente banais, como se de uma extensão do campo de batalha se tratasse.

Com o país voltado praticamente apenas para o massacre, o dia-a-dia dos hútus responsáveis
pelas atrocidades se resumia a reuniões no início de cada dia para o consumo de álcool e uso
de drogas para, em seguida, iniciarem as perseguições e mortes brutais. As pessoas deixaram
de trabalhar porque para eles “matar era menos cansativo do que plantar

Muitas mulheres tutsis foram abusadas sexualmente e depois mortas, principalmente as tutsis
grávidas de homens hutus. Alguns tutsis foram mortos em público, pois a intenção era
intimidar tanto hutus moderados quanto os fugitivos tutsis. Nem mesmo as crianças e os
recém-nascidos foram poupados das mortes, já que representavam a próxima geração e o
intuito dos hutus radicais era fazer o que eles consideravam como ‘limpeza étnica’ em
Ruanda.

Todavia,, a maioria das mulheres hutus ficava em casa com a responsabilidade de cuidar da
casa e fazer comida para a família, e também tinha o dever de informar esconderijodos tutsis
além de saquear os bens, tais como; dinheiro escondidos nos bolsos, saca de feijão, vacas,
rádios e folha de zinco

Portanto, para (Power, 2004), foi o massacre mais intenso tanto em Ruanda como também em
todo mundo, os mortos se acumularam numa velocidade quase três vezes maior a que o dos
judeus mortos durante o Holocausto, por isso tem sido considerado um dos mais importantes
assassinatos em massa desde os bombardeios atómicos de Hiroshima e Nagasaki, pois se
estima que pelo menos 800 mil tutsis foram mortos em apenas cem dias e durante a primeira
semana estima-se que dez mil pessoas eram mortas por dia.
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Aqueles que lutam juntos
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Todavia, o massacre não era visto como um crime em Ruanda antes era considerado a
aplicação da lei local, e cada cidadão era responsável pelo seu cumprimento. Era obrigatória a
participação de todos os hutus adultos, porém, os que não poderiam participar devido a idade,
pagavam uma multa para a milícia. Os assassinos matavam durante o dia todo e a noite, eles
bebiam cerveja e comiam churrasco com o gado de suas vítimas.

Segundo Rodrigues (2000), genocídio terminou em 15 de Julho de 1994 com a tomada de


Kigali pela FPR, liderada por Paul Kagame94e sua instalação da FPR no governo, tendo
assumido Pasteur Bezimungo como presidente, que pôs fim às disputas, reafirmando o
Acordo Arusha. Como resultado de todo processo, em 12 de julho, o Comitê da Cruz
Vermelha declarou que 1 milhão de pessoas haviam sido mortas no genocídio.

6. As consequências da Revolta étnica-tribal dos Hútu e os Tutsi


Cessados os conflitos, alguns problemas surgiram de imediato. O país, que há anos vinha
enfrentando crises económicas e sociais, estava devastado. Uma grande parcela de sua
população estava morta, outra estava sendo acusada e presa pelos assassinatos, além dos
sobreviventes, que estavam aterrorizados (Power, 2004).

Todavia, depois da revolta, os problemas de Ruanda eram desesperadores: um país


paupérrimo, sem grandes riquezas naturais, superpovoado (apesar do morticínio), com
milhares de órfãos, mutilados e retornados sem qualquer perspectiva, e uma economia
baseada quase que exclusivamente na agricultura, cuja estrutura só acentuava as dificuldades,
uma vez que o parcelamento excessivo da terra impedia a adoção de quaisquer medidas para o
aumento da produtividade

Os problemas, no entanto, não se resumiram apenas a Ruanda. O Zaire, actual República


Democrática do Congo, sofre a mais de vinte anos com uma sangrenta guerra civil, que tem
sua origem na fuga de cerca de 500 mil pessoas de Ruanda, que atravessaram a fronteira em
direcção ao Congo para não serem presos e julgados pelos seus crimes. Isso levou para o país
os conflitos étnicos vistos em Ruanda entre tutsis e hútus, dando início a uma crise que
perdura até os dias atuais. Ruanda tenta se reconstruir e superar seu passado.

Foi o massacre mais intenso tanto em Ruanda como também em todo mundo, os mortos se
acumularam numa velocidade quase três vezes maior a que a dos judeus mortos durante o
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Holocausto, por isso tem sido considerado um dos mais importantes assassinatos em massa
desde os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, pois se estima que pelo menos
O presidente Paul Kagame, que está no poder desde 2000, tenta criar uma mentalidade
ruandesa (power, 2004).

Todavia, a identidade étnica foi abolida; a população presta um dia de trabalho comunitário
por mês, segundo o governo, para incentivar a ideia de vida em comunidade; vários projectos,
que têm como meta levar a reconciliação entre aqueles que participaram do genocídio e
aqueles que foram vítimas, são mantidos por ONG

7. Considerações Finais
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Podemos concluir com base nas fontes analisadas que as diferenças em torno dos grupos
tutsis e hútus são características desde o tempo pré-colonial, que embora não seja
visivelmente fácies de relacionar no quesito traços físicos, era uma condição existente, da
mesma forma a diferença social.

No período que antecede a revolta, existia a possibilidade de uma determinada pessoa de um


grupo migrar para outro através da posse e vice-versa, agora a questão era racial, imutável,
uma vez tutsis, sempre tutsis, sistema que fortalecia a superioridade tutsi, tornando
virtualmente impossível aos hutus se transformar em tutsis, e aos belgas aperfeiçoar a
administração de um sistema de segregação enraizado no mito da superioridade tutsi

Durante a revolta as primeiras acções foram realizadas por militares hútus com armas de fogo,
porém, com o passar do tempo, as lideranças extremistas começaram a mobilizar civis com
facões e foices que se transformaram em instrumentos para matar. Esse fato fez com que o
massacre tomasse um rumo extremamente sangrento, pois o método utilizado gerou
assassinatos ainda mais brutais, com centenas de milhares de pessoas sendo mortas com
golpes de facões e foices. Não foi permitido a nenhum ruandês retirar-se de seu país, os que
tentaram asilo em países vizinhos tiveram seus pedidos negados e, até mesmo, os ruandeses
que possuíam influência e alto nível hierárquico deveriam permanecer em seu país.

8. Referências Bibliográficas
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ARAÚJO, C. R. de. O Genocídio de Ruanda e a Dinâmica da Inacção Estadunidense. São


Paulo. 2012.

BENY, E. A Paz e a Guerra nas Novas Relações Internacionais. Lisboa. Novo


Embondeiro. 2005.

BERNARDO, I. V. Genocídio de Ruanda: A Omissão Estadunidense sob as Lentes da


Comunicação. França. Unesp. 2011.

FERREIRA, P. M. O Conflito na Região da Grandes Lagos. Lisboa. Instituto Superior de


Ciências sociais e Politicas 1998.

FONSECA, D. F. Ruanda: Produção de Um Genocídio. São Paulo. Pontifícia Universidade


Católica de São Paulo. 2010.

GOUREVITCH, Philip. Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com


nossas famílias:
HATZFELD, Jean. Uma temporada de facões: relatos do genocídio de Ruanda. Tradução
de: Rosa Freire d’São Paulo: Companhia das Letras, 2000.
NUTTIN, Joseph. A estrutura da personalidade. Tradução de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1982.

PAUL J. Magnarella Ruanda: Uma Análise da Ingerência Internacional em seus


Conflitos Étnicos. Faculdade Damas. Caderno de Relações Internacionais. 2010.

POWER, Samantha. Genocídio: A retórica Americana em questão. Trad. Laura Teixeira


Motta. São Paulo. 2004.
RODRIGUES, Simone. Segurança Internacional e Direitos Humanos: A prática da
Intervenção Humanitária. 2000.
RUSAGARA, Frank K. Resilience of a Nation: a history of the military in Rwanda. Kigali:
Fountain Publishers Rwanda, 2009.

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