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RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS

Sumário
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 2
CAPÍTULO 1 – DEFINIÇÃO DE CONCEITOS: RAÇA, ETNIA, IDENTIDADE
CULTURAL E INDENTIDADE NACIONAL ........................................................................ 3
CAPÍTULO 2 – UM POUCO DE HISTÓRIA SOBRE A ÁFRICA LUSÓFONA ........... 10
CAPÍTULO 3 – A IDENTIDADE CULTURAL ENTRE A ÁFRICA LUSÓFONA E O
BRASIL................................................................................................................................... 13
CAPÍTULO 4 – HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA INDÍGENA ....................................... 18
CAPÍTULO 5 – SITUAÇÃO CONTEMPORÂNEA DOS POVOS INDÍGENAS ........... 22
CAPÍTULO 6 – POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE AÇÕES AFIRMATIVAS E SOBRE
OS CURRÍCULOS ESCOLARES ...................................................................................... 26
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 31
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................................... 32
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INTRODUÇÃO

No presente estudo, abordaremos a formação da nossa identidade nacional e as


relações étnico-raciais atuais de nosso país. O Brasil passou por muitos conflitos
e muitos dramas em sua história, foi formado por inúmeras características
culturais e sociais que ajudaram a construir nossa identidade nacional, por isso,
descrever a formação dessa identidade é algo complexo, delicado e trabalhoso.
A partir de 1500, o nosso território se tornou uma colônia de exploração da
monarquia portuguesa. Durante todo o período em que foi colonizado, não
tínhamos uma identidade nacional, ao contrário, havia um conflito violento entre
duas identidades: a dos portugueses e a dos nativos indígenas. Esse conflito
exterminou boa parte da população indígena para poder se apoderar de suas
terras, mas os indígenas ainda permaneceram vivos o suficiente para se tornar
uma das bases na nossa identidade.
Além do Brasil, os portugueses mantinham colônias de exploração em países da
África e lá também houve violência e mortes, como veremos em nossos estudos.
Muitos africanos eram capturados e escravizados pelos portugueses e levados
para fora de seus países de origem para servirem aos portugueses. Por volta de
1550, os portugueses passaram a trazer africanos escravizados para o Brasil
para trabalharem nas lavouras de cana-de-açúcar. Embora fossem maltratados,
violentados, mortos cruelmente, e mesmo depois de libertos ainda sofressem
exclusão e violência, os povos africanos sobreviveram. Eles mantiveram o que
conseguiram de sua cultura, suas tradições, suas artes e religião, se tornando
parte importante de nossa cultura.
Com a abolição da escravatura em 1888, a mão-de-obra negra é substituída pela
dos imigrantes, principalmente europeus, o que fortalece nossa diversidade.
Podemos dizer que a identidade nacional brasileira só começou a ser construída
a partir de 07 de setembro de 1822, quando Dom Pedro I declarou oficialmente
a independência do Brasil em relação a Portugal.
Claro que o processo de construção dessa identidade foi lento, ou melhor, ainda
é, pois somente no século XX nossa consciência de nação começou a ser mais
concreta (FIORIN, 2009). Atualmente, somos um país cheio de diversidade
étnica e cultural, e isso faz parte de nossa cultura, como veremos nesse estudo,
mas também causa muitos conflitos sociais. Pensaremos em como contornar as
diferenças e conviver de forma saudável e pacífica.
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CAPÍTULO 1 – DEFINIÇÃO DE CONCEITOS: RAÇA, ETNIA, IDENTIDADE


CULTURAL E INDENTIDADE NACIONAL

Uma nação é formada por uma série de características comuns aos seus
habitantes, como o espaço físico e geográfico, os símbolos e a língua. Além
dessas características, alguns países também possuem uma grande diversidade
cultural e étnica, o que faz parte de sua identidade também, como é o caso do
Brasil. Para entendermos como é formada nossa identidade nacional e cultural,
explicaremos a seguir como estas se formam, e em seguida, esclareceremos as
diferenças entre raça e etnia, que são as bases da formação humana.
Sabemos que o processo de construção da identidade nacional do Brasil se
iniciou no ato de independência, de modo oficial, mas muitos ideais nacionais já
estavam estabelecidos em nosso território. Já havia influência cultural, além da
dos portugueses, dos povos indígenas e africanos. Após a libertação dos
escravos, em 1888, o país passa a receber uma grande quantidade de
imigrantes. Italianos, alemães, espanhóis, ingleses, holandeses, são muitos os
povos que começam a se estabelecer em nosso território.
Obviamente, a influência cultural e política de Portugal ainda permaneceria forte,
assim como a dependência econômica em relação à Europa. A cultura e a língua
portuguesa eram majoritárias, mas se misturavam a outras bases culturais como
a africana, indígena, italiana, alemã, entre outras. A língua portuguesa, adotada
como língua nacional, ensinada em todas as escolas, passou a ser um dos
fatores de coesão nacional. Embora haja variações e influências de outros
idiomas, a língua portuguesa prevalece no vasto território nacional.
A proclamação da república em 1889 estabelece a política federativa e fortalece
os movimentos culturais regionais, devido à descentralização do poder e da
grande extensão do território nacional, assim, a diversidade cresce e passa a ser
uma característica notória de nossa nação. O século XX se inicia com
industrialização e fortalecimento dos meios de comunicação. As artes se
destacam, principalmente na Semana de Arte Moderna. O Movimento
Modernista de 1920, com Mário de Andrade (autor de Macunaíma), Oswald de
Andrade e Di Cavalcanti, entre outros artistas importantes, organizou uma
semana cultural extremamente representativa e símbolo da nossa
nacionalidade. Como exemplo, temos as pinturas de Tarsila do Amaral, de Anita
Malfatti, obras literárias, poemas, entre outras manifestações artísticas.
Politicamente, o governo de Getúlio Vargas, iniciado na década de 1930, faz com
que o nosso processo de construção da identidade nacional se expanda, do
aspecto social e cultural, para o aspecto político. Para que haja coesão suficiente
para a existência de um Estado, é preciso que a unidade nacional seja formada,
através de uma identidade forte e uma identificação com os símbolos nacionais.
Para que isso ocorresse, o governo investia em propaganda e um discurso
fortemente nacionalista e populista (SOUSA, 2020).
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Essa identidade nacional buscada pelo governo, porém, não englobava a


diversidade. Getúlio pretendia uma nação homogênea, o que não era possível
em um país construído por povos diversificados e com tamanha extensão
territorial. Apesar disso, as políticas públicas de Getúlio Vargas foram
embasadas na uniformidade nacional. A escola pública foi um exemplo disso.
Vargas criou escolas padronizadas, currículo engessado e comum a todo o país,
composto por conteúdo relacionado a um padrão cultural comum (SOUSA,
2020).
Na década de 1950 o país vive um crescimento cultural e econômico,
principalmente no governo de Jucelino Kubitschek. No esporte, sediamos a Copa
do Mundo de futebol, mas a final, perdida para o Uruguai causa uma grande
tristeza no povo. O futebol já havia se tornado um símbolo nacional, sendo
acompanhado pelo rádio e pelas primeiras televisões. Nessa década, inclusive,
é fundada a TV Tupi, emissora que promove a telenovela, um entretenimento
que se tornaria uma marca da nação. Na cultura, destaca-se a realização da
Bienal Internacional de Arte de São Paulo.
Durante as décadas de 1950, 1960 e 1970, temos o surgimento de tendências
musicais que se tornam também símbolos de nosso país: Bossa Nova, Jovem
Guarda e Tropicália. As décadas seguintes foram marcadas pela retomada da
democracia e mudanças na área social, tais como: inclusão social e escolar,
defesa dos direitos das minorias, combate à violência contra os pretos,
homossexuais e as mulheres, proteção à criança, entre outras lutas importantes.
Culturalmente, o país está marcado pela diversidade e pela variação de hábitos,
tradições, religiões, costumes e comportamentos, sendo assim, um país de
pluralidade, étnica e racial.

• O Conceito de Raça
Existem muitas diferenças físicas entre as pessoas, fruto da diversidade
genética, geográfica e cultural, mas o fato é que biologicamente somos uma
única espécie, a humana. Essas diferenças, porém, têm sido fontes de muitos
conflitos sociais, chegando ao genocídio. Atualmente, discutimos muito as
diferenças entre raça e etnia e se existem realmente raças diferentes na espécie
humana.
Historicamente, sempre houve um sistema de divisão, de segregação social nas
mais diversas culturas, seja por questões de poder, de nascimento, de cultura
ou posição social. Essa divisão pode ser mais sutil, baseada em preconceitos e
ações de discriminação, ou mais evidente e violenta, como nos casos de
escravidão humana, apartheid, etc. No mundo ocidental o cristianismo tem
difundido a ideia de igualdade, mas essa igualdade ainda não é total na maioria
dos países.
Biologicamente, ao longo do tempo, surgiram teorias chamadas Racialistas
(segundo a qual a espécie humana é composta por raças), que pregavam
acentuada diferença racial entre os humanos, salientando inclusive,
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superioridade de algumas em relação às outras, o que incitou muitas políticas


eugenistas (teoria segundo a qual as raças “inferiores” devem ser eliminadas)
como a de Adolf Hitler, na Alemanha, que assassinou milhões de judeus,
ciganos, homossexuais, deficientes, entre outros considerados inferiores e até
mesmo não-humanos. É preciso, portanto, muito cuidado ao se estudar e avaliar
esse tipo de teoria.
O surgimento e fortalecimento da Sociologia como ciência iniciou uma
contestação ao racialismo defendido por alguns teóricos. O alemão Karl Marx e
o francês Émile Durkheim dissertaram sobre o fato de que o homem não nasce
diferente, a sociedade o torna, histórico e culturalmente diferente, para melhor
ou pior segundo o paradigma social vigente. Os principais fatores que
influenciam a classificação e os estamentos sociais são: religião, condição
financeira, poder e intelecto. Ou seja, nada genético que justifique as diferenças
entre as pessoas.
Para o geneticista norte-americano Alan Templeton, não existe uma diferença
genética significativa entre os humanos que justifique uma classificação em
raças. Segundo um artigo da revisa Science, não se deve adotar o conceito de
raça para se estabelecer diferenças entre os humanos. “Acreditamos que o uso
do conceito biológico de raça na pesquisa genética humana, tão contestado e
confuso, é problemático na melhor das hipóteses e nocivo na pior. É hora de que
os biólogos encontrem uma maneira melhor”, afirmam os pesquisadores (Jornal
El País, 2021).
Para os pesquisadores, pensamos em raça como cor da pele, textura do cabelo,
cor dos olhos, entre outros detalhes físicos, mas estes não devem servir de base
para esse tipo de classificação. Para haver uma classificação da espécie
humana em raças seria preciso uma diferença genética significativa, como a que
ocorre entre os chimpanzés, por exemplo, que é sete vezess maior que as
diferenças encontradas nos seres humanos. As diferenças físicas entre os seres
humanos estão relacionadas às origens da hereditariedade das pessoas, ou
seja, relacionadas aos continentes aos quais seus antepassados pertenceram.
A evolução nos torna aptos a viver em determinados locais e isso modifica nosso
DNA e consequentemente nossa aparência, mas isso não significa que viramos
uma nova raça. Tampouco que torne nossos descendentes mais ou menos
inteligentes ou capazes. O pesquisador Salvador Macip, diretor do laboratório de
investigação dos mecanismos do câncer e do envelhecimento da Universidade
de Leicester, na Inglaterra, afirma que (JORNAL EL PAÍS, 2021),

Dá medo explorar diferenças entre raças porque se pode


alimentar o racismo, embora não haja nenhum estudo que tenha
encontrado diferenças de inteligência entre raças ou
subespécies. Também é verdade que não se buscam essas
diferenças intelectuais por causa desse mesmo medo.
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Sendo assim, atualmente é mais correto usarmos a palavra ETNIA ao falarmos


das diferenças físicas, culturais e sociais entre os seres humanos.

• O Conceito de Etnia
Após todas as discussões e controvérsias a respeito do conceito e definição de
raça nos seres humanos, antropólogos e sociólogos começaram a usar a palavra
Etnia para classificar grupos sociais diferentes cultural e biologicamente entre si.
Etimologicamente falando, a palavra se origina na língua grega e define o
conceito de tribo, de grupo. Um grupo étnico, além das características físicas,
tem em comum espaços geográficos, língua, costumes, religião, etc.
No Brasil, os principais grupos étnicos formadores de nossa cultura e sociedade
são os pretos, vindos do continente africano; os brancos europeus e os nativos
indígenas. Dentro destes três grupos, no entanto, também existe diversidade.
Quando os portugueses chegaram ao nosso território por exemplo, havia mais
de oito milhões de habitantes, divididos em mais de mil tribos. As principais eram:

 90 mil: Tupiniquim (SP, ES e BA)


 90 mil: Potiguar (Nordeste)
 60 mil: Tamoio (RJ)
 56 mil: Carijó (SP, PR e RS)
 35 mil: Charrua (RS)
 25 mil: Guarani (MS)
(Leia mais em: https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quantos-habitantes-havia-
no-brasil-na-epoca-do-descobrimento/)

Quanto aos pretos, trazidos escravizados da África, também havia diversidade.


Os principais grupos eram do Centro-Oeste e Sudeste da África, de países como
Angola (tendo como principais etnias os ovimbundos e os ambundos),
Moçambique (com as etnias do macuas, os nhanjas e os tongas) e do Golfo de
Benin, na Nigéria (fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/1319/as-origens-
dos-negros-do-brasil).

Já entre os grupos de brancos europeus, além dos portugueses, os principais


grupos eram originados da Itália, Holanda, Espanha, França, e leste europeu.
Na tabela abaixo, com dados do censo 2010, podemos ver os principais grupos
étnicos atuais:
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Fonte: Revista Brasil Escola, site UOL.

Pela tabela, notamos que a população indígena sofreu uma redução violenta
desde 1500. Também notamos que os pardos, mestiços entre pretos e brancos,
são bastante significativos. A diversidade étnica brasileira é bastante intensa,
graças à formação cultural e histórica do país. Assim, muitos conflitos podem
surgir nas relações entre os diversos grupos sociais que fazem parte da nossa
sociedade. Cabe a nós encontrarmos formas de diálogo, respeito e convivência
pacífica entre os grupos étnicos.

• A Identidade Cultural Brasileira


O Brasil é um país dividido em cinco regiões que têm hábitos, costumes e
comportamentos diferentes. Vejamos a seguir como são as características
dessas regiões:

 Região Sul: tem a presença forte da imigração italiana, da alemã e outras


culturas do leste europeu, por isso, tem as tradições e culturas desses
locais inseridas em sua cultura, isso se manifesta na culinária, na
arquitetura, nas danças e festas típicas. Um bom exemplo é a Oktoberfest
de Santa Catarina, festa da cerveja que é original da Alemanha. Uma
bebida símbolo da região é o chimarrão, feito com mate;

 Região Sudeste: a região sudeste é a mais populosa do país, altamente


industrializada, com grandes metrópoles, também possui cidades
interioranas com tradições agrícolas e rurais. Temos a cultura caipira,
mantida através da música, das feiras pecuárias e agrícolas, da culinária,
em cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais. Temos a cultura
carioca, com samba, carnaval, bossa nova, MPB e as tradições praianas.
Temos o multiculturalismo do Espírito Santo, que mistura tradições
europeias, africanas e indígenas. Na culinária, são símbolos da região a
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moqueca capixaba, a feijoada, o virado à paulista, a galinhada, o pão-de-


queijo, o cuscuz paulista, entre outros;

 Região Centro-Oeste: essa região é marcada pelo Pantanal, o Cerrado


e as influências dos povos indígenas. Com uma natureza tão rica e
variada, o centro-oeste tem manifestações culturais que mesclam as
tradições indígenas com as pecuárias. Existem muitos povos nessa
região, inclusive imigrantes bolivianos e paraguaios. A culinária tem
pratos à base de peixes e os pratos mais populares são o arroz com pequi,
a sopa paraguaia, o arroz carreteiro, o arroz boliviano, arroz maria-isabel
e o empadão goiano.

 Região Norte: a região norte é caracterizada pelas tradições amazônicas.


Existem muitas comunidades ribeirinhas que vivem em torno da pesca e
cultivam as lendas folclóricas locais, como a do boto (que sai da água
para engravidar moças desprevenidas). Os povos indígenas, suas lendas,
rituais e tradições também fazem parte da cultura dessa região. São
famosas as festas do boi-bumbá em Parintins e a procissão do Círio de
Nazaré. Também temos a congada, a folia de reis e a festa do divino. A
culinária tem a influência forte indígena com muito uso de peixes,
mandioca, tucupi, tacacá, jambu, camarão seco e pimenta-de-cheiro.

 Região Nordeste: segundo o site Mundo Educação (fonte:


https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/diversidade-cultural-no-
brasil.htm#:~:text=A%20diversidade%20cultural%20refere%2Dse,culturais%20entre%
20as%20suas%20regi%C3%B5es.), “Entre as manifestações culturais da região
estão danças e festas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos,
carnaval, ciranda, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo,
cavalhada e capoeira”. As religiões de matriz africana estão presentes em
todos os estados da região, sendo a festa de Iemanjá bastante famosa.
Outra característica popular é a literatura de cordel. Na culinária temos
como pratos típicos: “carne de sol, peixes, frutos do mar, buchada de
bode, sarapatel, acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce,
bolo de fubá cozido, bolo de massa de mandioca, broa de milho verde,
pamonha, cocada, tapioca, pé de moleque, entre tantos outros”.

Em um país com essa grande variedade de crenças, costumes e origens étnicas,


é preciso que se saliente a importância do respeito às pessoas e aos seus
costumes, o que nem sempre acontece. Muitas religiões sofrem preconceito,
principalmente as de matriz africana, então é preciso entender, que se pedimos
que respeitem nossas escolhas, temos que respeitar a dos outros. Outro ponto
a ser considerado é a questão étnica. Recebemos muitos imigrantes, desde os
primeiros séculos e atualmente recebemos refugiados. O refugiado foge da
fome, da miséria e da violência, não está fazendo turismo, por isso, precisamos
tratar as pessoas com humanidade.

Uma outra questão urgente é a dos povos indígenas. Não podemos esquecer
que eles estavam aqui quando os portugueses chegaram, tomaram suas terras,
foram mortos, escravizados e violentados. Temos uma dívida histórica com os
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indígenas. Além de dar a eles terras para viverem como quiserem, temos que
respeitar seus direitos de escolha, caso queiram se inserir na nossa sociedade
ou não, e respeitar suas tradições e seus limites. A escola precisa parar também
de tratar os indígenas de forma caricatural, fora da realidade. Vestir as crianças
como os indígenas é apropriação cultural e isso é um desserviço para o ensino.
Os alunos acabam por nunca conhecerem a verdadeira realidade dos povos
indígenas.
Outra questão urgente é o racismo estrutural de nossa sociedade. As questões
raciais nunca deixaram de ser importantes no nosso histórico social, pois, ainda
hoje, mais de um século depois da abolição da escravatura no Brasil, os
afrodescendentes ainda lutam pelo seu espaço na nossa sociedade. O
preconceito racial em relação às pessoas pretas está presente na sociedade, no
mercado de trabalho e na escola, mesmo que muito do racismo seja manifestado
de forma velada.
No mercado de trabalho, é comum as pessoas pretas serem preteridas em
alguns cargos em favor das pessoas brancas, por isso, em alguns casos é
preciso adotar o sistema cotas, em concursos públicos, para prover melhores
oportunidades a essas pessoas. Além do preconceito de cor, existe a exclusão
social, pois a maioria da população com baixa renda é preta ou parda, e tem
poucas condições de acesso ao nível superior de ensino, por isso, a política de
cotas para pessoas com baixa renda também ajuda a sanar a questão da
exclusão escolar de afrodescendentes.
O ensino da história dos africanos trazidos para o Brasil também precisa ser
expandido para além da escravidão, mostrando como, superando a
marginalização e a exclusão, muitos afrodescendentes se sobressaíram na
nossa cultura, na nossa sociedade e na nossa história. Contar a história de luta
de Zumbi dos Palmares e mostrar que ainda existem quilombos, onde se convive
cooperativamente, mantendo a cultura de várias regiões da África, seria
importante para contextualizar os alunos sobre a situação dos quilombolas
atualmente. Portanto, embora a pluralidade cultural seja algo positivo, em nosso
país ainda falta reflexão e mudanças comportamentais para tornar nossa
convivência mais pacífica.
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CAPÍTULO 2 – UM POUCO DE HISTÓRIA SOBRE A ÁFRICA LUSÓFONA

No capítulo anterior, compreendemos como a formação étnica e cultural do Brasil


resultou em uma grande variedade de comportamentos, pensamentos e
costumes, ou seja, nosso país é marcado pela pluralidade cultural. Também
apresentamos as origens geográficas dos negros trazidos escravizados para
Brasil, que vieram em sua maior parte de Angola, Moçambique e Nigéria
(ENDERS, 1997). Neste capítulo, iremos apresentar um pouco da história da
África, focando principalmente a parte lusófona, ou seja, explorada pelos
portugueses e que, consequentemente adotaram nossa língua.

• Os Países da África Lusófona e sua História


Os países africanos que tem a língua portuguesa como língua oficial são
chamados de África Lusófona, são eles: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau,
Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial. São países que têm
acordos de cooperação entre si, inclusive com projetos de criação de uma única
moeda (ENDERS, 1997). O mapa abaixo, do site Wikipédia, mostra a
localização dos países lusófonos:

Além da língua, esses países têm em comum um passado de exploração por


parte de Portugal. A dominação portuguesa se inicia no Marrocos, em 1415,
quando os mesmos tomam dos mouros a cidade de Ceuta. Essa tomada era
guiada pelas Cruzadas, movimento de cristãos para resgatar cidades cristãs
tomadas por outros povos e conquistar novos territórios para a igreja católica
(ENDERS, 1997).
Além disso, os portugueses por essa época começaram a empreender grandes
navegações, intensificaram o comércio com o oriente e em 1.500 acabaram por
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chegar à América. A cidade de Ceuta foi uma conquista importante por ser um
porto bem localizado de comércio com outros países africanos. Os portugueses,
mais do que expandir o cristianismo, se interessavam pelo lucro com o comércio
de especiarias africanas, marfim e ouro (ENDERS, 1997).
Após a conquista de Ceuta, os portugueses então se expandiram a outros
territórios como à ilha de Porto Santo, à Ilha da Madeira, aos Açores, às ilhas de
Cabo Verde, às ilhas de São Tomé e Príncipe, ainda desabitadas. Em 1446, os
portugueses alcançaram a Guiné- -Bissau, em 1483 chegaram a Angola e, após
Bartolomeu Dias cruzar o Cabo das Tormentas (renomeado para Cabo da Boa
Esperança, devido ao sucesso da empreitada), Vasco da Gama partiu em sua
viagem para a Índia (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016).
Assim, no desejo de estabelecer e fundamentar relações comerciais com os
países africanos que fossem as mais vantajosas possíveis, Portugal começa a
construir um império no continente. Contornaram toda a costa africana,
buscando novas rotas para o oriente, chegaram inclusive ao território brasileiro
em uma dessas tentativas e foram fundando cidades e colônias. Esses territórios
conquistados serviram de fundamento para o início da exploração humana, já
que muitas tribos e muitos cidadãos foram escravizados.
Primeiramente, esses escravizados eram levados às ilhas de São Tomé e
Madeira, para trabalharem em lavouras de cana-de-açúcar. Na África, os
portugueses fundaram as feitorias, algo parecido com fortes, que serviriam para
abastecimento de caravelas, escoamento de mercadorias (negociadas com os
nativos locais) e mais tarde escoamento de escravizados (ENDERS, 1997).
A partir do século XV o tráfico de humanos ganhou força, sendo usado na
América e também na Europa. Mais de 10 milhões de pessoas foram
escravizadas na África. Trabalhavam em lavouras e mais tarde na mineração.
Os principais fornecedores de mão-de-obra escrava foram a Angola, a Guiné e
Gana. Com a independência do Brasil em 1822, os lucros de Portugal começam
a sofrer queda. Ao mesmo tempo, outras potencias europeias como Espanha,
Inglaterra e Holanda desejavam e investiam na conquista de territórios na África.

Na Conferência de Berlim, de 1885, Portugal perdeu o Congo e


teve que se contentar com o enclave de Cabinda, região próxima
a Angola. No entanto, apesar desse recuo, Portugal é, no fim do
século XIX, senhor de dois milhões de quilômetros quadrados
no território africano (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016,
p.38).

Durante esse período de disputa entre os países europeus pelas colônias


africanas, os povos locais começaram a se organizar para poderem se defender
e se libertar. Em Portugal, crescia o movimento republicano, fruto da insatisfação
com a monarquia. Em 1908, o rei Carlos I e seu herdeiro Luís Filipe são
assassinados e um período de extrema violência se inicia no país. Após uma
tentativa final de continuar com a monarquia com a ascensão de Manuel II, o
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outro filho de Carlos I, ao grau de infante, a República é declarada (ENDERS,


1997).
A república portuguesa não foi duradoura. Primeiro houve um governo
provisório, liderado por Teófilo Braga. Em 1911, uma Constituição foi
promulgada. Mas a república não tomou rumos democráticos, em 1926 um golpe
foi articulado.

Em 1928, Antônio de Oliveira Salazar – um professor de


Coimbra – foi convidado a assumir a Pasta das Finanças do país
e a partir dessa data inaugurou-se um período difícil da história
de Portugal. É o início da ditadura salazarista, nome pelo qual
ficou conhecido o regime ditatorial em Portugal, que teve início
em 1926 e só terminou em 1974, com a Revolução dos Cravos
(AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016, p.42).

Salazar governou com extrema rigidez e em 1932 instaurou o Ato Colonial que
obrigava os nativos das colônias africanas a trabalhos forçados por um período
da vida. Isso gerou uma grande insatisfação nas colônias e, consequentemente,
foram criados grupos de resistência e de protesto. Inspirados em intelectuais
africanos, os grupos cresceram e se colocaram na luta pela independência de
Portugal, principalmente em Moçambique, Guiné e Angola. Salazar respondia
com violência, mas não conseguiu impedir os conflitos armados (ENDERS,
1997).
Em 1961 eclode uma guerra pelo controle da África, conhecida como Guerra da
Libertação e que duraria até 1974, acabando com a derrota de Portugal e o fim
da ocupação portuguesa na África. Essa guerra consumiu vidas de 10% da
população jovem masculina portuguesa e também um grande contingente de
jovens africanos. Enquanto se envolvia nessa guerra, o governo de Salazar
sofreu ataques internos e acabou enfraquecido. Oficiais do exército português
se uniram, especialmente os tenentes e os capitães. Esse movimento das forças
armadas iniciou a revolução dos cravos, em 1974, que derrubou o regime de
Salazar (ENDERS, 1997).
A guerra na África marcou o fim do Império Colonial Português e foi um dos
fatores que propiciou a queda da ditadura salazarista. Certos traços da cultura
portuguesa e a adoção e o uso da língua portuguesa nesses países, ainda que
modificada e enriquecida pelas diversas línguas locais, são exemplos de como
a cultura portuguesa enraizou-se nos territórios africanos anteriormente
ocupados. No século XX, a falta de investimento externo e uma série de conflitos
políticos, empobreceu a população de vários países africanos, o que foi
agravado pelas duas grandes guerras mundiais. Atualmente, a África Lusófona
tenta reestabelecer suas raízes culturais ao mesmo tempo em que convive com
o progresso e a chegada das novas tecnologias (ENDERS, 1997).
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CAPÍTULO 3 – A IDENTIDADE CULTURAL ENTRE A ÁFRICA LUSÓFONA


E O BRASIL

Com a vinda dos africanos escravizados para o recém descoberto território


brasileiro, por volta de 1550, a cultura desses povos passa a ser parte de nossa
identidade nacional e as etnias africanas passam a ser uma das bases de nosso
povo. Como vimos no capítulo anterior, os povos africanos foram explorados
pelos portugueses e posteriormente escravizados, para servirem de mão-de-
obra nas lavouras de cana-de-açúcar e na mineração. Assim, muitos habitantes
de Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e algumas outras nações, foram trazidos
para o Brasil.
A cultura trazida de várias regiões africanas pelos escravizados se tornou parte
da própria cultura brasileira, através das línguas, das tradições, da religiosidade,
das danças, etc. Neste capítulo, iremos abordar a história do povo africano desde
sua chegada no Brasil e essa influência em nossa formação étnica-cultural.

• História do Povo Africano no Brasil


Sabemos que os povos africanos chegaram ao território brasileiro escravizados
para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar, por volta de 1550. Esses
escravizados só obteriam liberdade em 1888, com a abolição da escravatura.
Passado mais de um século dessa data, a população afrodescendente, no
entanto, ainda luta pelo direito às suas terras, pela igualdade e pelo fim do
racismo.
A África, antes da chegada dos portugueses, foi explorada por outros povos e
sofreu com diversos conflitos territoriais. Por volta do século XV, havia uma
grande diversidade de grupos étnicos no continente africano. Eram grupos que
viviam de forma parecida, por conta do meio ambiente e também por uma cultura
baseada na ancestralidade e no respeito às tradições. Os grupos variavam em
tamanho e poder, desde pequenas tribos, vivendo em aldeias, até os grandes
reinos como os de Mali e do Congo. Também havia grupos nômades (AMORIM,
ARAÚJO & PALADINO, 2016).
O domínio de territórios e dos recursos naturais gerava conflitos entre os povos
africanos, que resultavam em dominação e até extinção de alguns deles. Um
outro resultado desses conflitos era a escravidão de quem perdia. Assim, quando
os europeus chegaram à África viram nesse sistema de dominação e exploração
uma possibilidade de negócios, o tráfico de pessoas. A escravidão humana aliás,
já era comum desde a antiguidade, tanto na Europa, como na Ásia e Oriente
Médio. Na África, o Egito utilizava trabalho escravo há vários séculos, e conforme
os árabes invadiam o continente, essa prática se intensificava (AMORIM,
ARAÚJO & PALADINO, 2016).
14

Os muçulmanos árabes desenvolveram um intenso comércio de escravos na


África. Centenas de pessoas eram comercializadas como mercadorias, dentro e
fora do continente africano. Os portugueses e outros povos europeus se
inseriram nessa prática ao iniciarem a dominação de povos africanos.
Os portugueses invadiram a África em busca de ouro, mas como não atingiram
esse objetivo começaram a explorar comercialmente tudo que encontravam:
marfim, especiarias e pessoas. Entre os séculos XV e XIX, mais de 11 milhões
de pessoas foram traficadas da África para as Américas.

Desse total, cerca de 4 milhões desembarcaram em portos


brasileiros e eles pertenciam, principalmente, a dois grandes
grupos étnicos: os sudaneses (oriundos da Nigéria, Daomé e
Costa do Marfim) e os bantos (oriundos do Congo, Angola e
Moçambique). Os bantos foram destinados especialmente a
Pernambuco, Minas Gerais e Rio de Janeiro, enquanto que os
sudaneses foram levados, em sua maioria, para a Bahia
(AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016, p. 54).

No Brasil, os portugueses espalhavam sua dominação e a escravidão dos


indígenas não estava correndo como esperavam (muitos indígenas morriam nos
combates ou por doenças transmitidas pelos portugueses, fora os que fugiam e,
conhecendo melhor o território, não eram mais encontrados), então, eles
focaram no tráfico de africanos. Esse tráfico, no entanto, não foi pacífico. Muitos
lutavam ainda no continente africano, ou durante as viagens de navio. Nessas
viagens, muitos se atiravam ao mar, para não viverem como escravizados.
No território brasileiro, a luta pela liberdade, travada pelos africanos
escravizados começou desde a chegada das primeiras levas da África. Alguns
africanos lutavam e morriam nos conflitos com os portugueses, outros fugiam e
iniciaram a formação dos quilombos.

Os quilombos foram locais de resistência dos escravos


refugiados e eles abrigavam uma comunidade com leis e
costumes próprios. O mais famoso desses quilombos foi o dos
Palmares, assim chamado por se situar em um local com muitas
palmeiras. O Quilombo dos Palmares, cuja extensa localização
abrangia parte do atual estado de Alagoas e parte do atual
estado de Pernambuco, chegou a abrigar, por volta de 1670,
cerca de 50 mil escravos refugiados (AMORIM, ARAÚJO &
PALADINO, 2016, p. 56).

A produtividade do quilombo de Palmares era grande. A terra fértil proporcionava


uma boa variedade de alimentos. O extenso território era guardado por
guerreiros armados e Ganga-Zumba era o rei dos quilombolas.
Entre os séculos XVIII e XIX, a região de Angola era a região que mais escoava
traficados para o Brasil, principalmente para o Sul e o Sudeste. Para a região
15

Nordeste, os traficantes foram buscar povos no Golfo de Benin, atual Nigéria.


Dessa região vieram as etnias dos jejes, bornus, tapas, nagôs, entre outras.
Esses traficantes se tornaram a elite do povo brasileiro e sua cooperação
financeira com a Igreja Católica fez com que esta fechasse os olhos para as
atrocidades do tráfico de africanos. Essa igreja também via os africanos
escravizados como infiéis e visava a conversão deles ao catolicismo.
No século XIX algumas mudanças sociais se desencadeiam no Brasil. Por essa
época, os escravizados somavam 1.930.000, sendo a maioria deles nascida na
África. A maior parte destes trabalhava nas lavouras de café e cana-de-açúcar.
A Inglaterra, que despontava como maior potência mundial e que mantinha uma
forte relação comercial com Portugal, começa a pressionar o Brasil a afrouxar as
rédeas em relação à escravidão.

Em 1850, proibiu-se o tráfico negreiro e os últimos


desembarques de escravos ocorreram por volta de 1856. Em
1871, promulgou-se a Lei do Ventre Livre que concedia a
liberdade a todos os filhos de escravos nascidos a partir daquela
data, em 1885, com a Lei dos Sexagenários, ficavam libertos os
escravos com mais de 60 anos e, finalmente, em 1888, assinou-
se a Lei Áurea, que libertava todos os escravos do Brasil
(AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016, p. 58).

Assim, em 1888, os povos escravizados na África e trazidos para o Brasil,


alcançaram a liberdade. Veremos, porém, que esta não trouxe a eles todos os
direitos e todo o respeito que mereciam, pois, a luta deles e de seus
descendentes por igualdade, apenas começava.

• A Luta pela Liberdade e o Nascimento da Literatura Brasileira


O processo social que envolveu a abolição da escravatura contou com a
participação ativa de homens letrados, intelectuais, escritores, artistas, políticos,
e isso, se mostrava não só em um clamor popular, mas também nas artes.
Destas, a mais marcante era Literatura, que começava a brotar no país com
características próprias.
Até o século XVIII, a literatura brasileira sofria muitas influências da cultura e dos
autores portugueses. Foi no período literário do Arcadismo, por volta de 1768 a
1808 que notamos textos com temas ligados ao contexto nacional. Seus autores
eram ligados ao movimento de independência do país chamado Inconfidência
Mineira. Nossa literatura, no entanto, só nasce genuinamente em 1836, com a
publicação da obra “Suspiros Poéticos e Saudades”, de Gonçalves Magalhães.
Essa obra inaugura o período do Romantismo.
O romantismo trouxe obras que representaram a condição dos
afrodescendentes em nossa sociedade. O romance “A Escrava Isaura” conta a
história de uma mestiça, filha de casal inter-racial e que sofre a perseguição e a
16

violência do filho do senhor de escravizados da fazenda em que mora. Além


desse livro, temos o poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves, a obra crítica e
satírica do jornalista Lima Barreto (ele mesmo um mestiço) e do poeta simbolista
Cruz e Sousa (apelidado Cisne Negro).

Outro nome de grande importância na literatura brasileira do


século XIX foi Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908),
um dos maiores romancistas em língua portuguesa. Nascido no
Rio de Janeiro, filho de um mulato e de uma açoriana, e neto de
escravos alforriados, Machado de Assis foi um escritor atento à
condição do homem no cotidiano dos meios urbanos do fim do
século XIX. Usando da ironia, o escritor tecia uma crítica fina e
lúcida à hipocrisia da sociedade brasileira finissecular (AMORIM,
ARAÚJO & PALADINO, 2016, p. 59).

A situação dos africanos escravizados era terrível. Uma vida de humilhações,


castigos físicos e psicológicos, fome e miséria. Essa situação não se modificou
muito com a liberdade. Muitos viraram indigentes e se viram marginalizados pela
sociedade. Essa sociedade, que se recusava a aceitá-los como iguais, não
reconhecia o valor do trabalho e da cultura dos africanos e de seus
descendentes.

• O Legado Cultural dos Africanos no Brasil


As contribuições dos africanos para nossa sociedade foram muitas. Eles
trouxeram técnicas agrícolas para cultivar nosso solo, ensinaram a lidar com a
pecuária e com a mineração, influenciaram na construção da língua portuguesa
brasileira, marcaram nossa culinária, nossa religião, nossa dança e nosso canto.
O Brasil tem em suas raízes a cultura africana.
A influência religiosa africana é muito presente na nossa sociedade. Temos duas
grandes religiões com essa matriz: a Umbanda e o Candomblé.

A primeira referência escrita à palavra candomblé (também


originária de Angola) é do início do século XIX e o termo designa
oração. As manifestações religiosas do Sudeste do Brasil – mais
precisamente do Rio de Janeiro e de São Paulo – originam-se
da região do centro-sul da África, onde se situa atualmente o
território de Angola. No Nordeste do Brasil, os povos diversos
originários do reino de Daomé (atual República do Benin),
conhecidos como jejes na Bahia e minas no Maranhão,
cultuavam deuses diversos que eles chamavam voduns. Já os
povos do reino Iorubá, na Bahia – os nagôs – cultuavam os
orixás (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016, p. 61).

Os deuses cultuados na África também passam a ser cultuados aqui, tais como
Oxossi, do reino de Ketu, Xangô de Oió, Oxum de Oxogbô. A religiosidade
17

africana se faz presente assim, através de um sincretismo com o catolicismo,


através dos santos, das festas e dos rituais. O sincretismo se iniciou como uma
prática que não despertasse a perseguição religiosa e hoje é uma marca cultural
em muitas cidades brasileiras, como Salvador, na Bahia, onde se dá todo ano a
Lavagem do Bonfim, seguida da festa para Nosso Senhor do Bonfim. Esse
ritual é patrimônio imaterial brasileiro.
Outra marca da cultura africana é o samba. As rodas de samba eram comuns
entre os escravizados nos momentos de lazer. O samba inclui dança, canto e
instrumentos de percussão de origem africana. No Brasil ele se diversificou e se
ampliou na cadência e nas festas. O Carnaval carioca se tornou famoso pelo
desfile das escolas de samba, que contam com luxuosas alegorias, fantasias e
com um ritmo musical mais forte e rápido.

Com a colonização portuguesa, o carnaval que havia no Brasil


era o entrudo (um desfile de foliões), porém, com a presença da
cultura africana, essas festas se modificaram paulatinamente
com a incorporação, por exemplo, de tambores, chocalhos e
ganzás, instrumentos muito usados por negros em suas festas
(AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016, p. 63).

As escolas de samba nasceram no século XX e os desfiles cresceram, se


tornando cada vez mais organizados. O Estácio e a Mangueira foram as
comunidades que viram nascer as primeiras organizações sambistas. A festa se
ampliou e atualmente é um espetáculo de sincronia e logística, que encanta as
pessoas não só pelo som poderoso, mas pela beleza dos desfiles. Mas não é só
o carnaval do Rio de Janeiro que tem origem nas festas africanas. Em
Pernambuco o carnaval é marcado pelo ritmo do maracatu, dança com batuque
de origem africana, e pelo frevo, dança inspirada na Capoeira. A Capoeira é uma
dança e ao mesmo tempo uma luta.

Inicialmente, a capoeira era praticada na metade do século XIX


pelos escravos libertos que usavam essa luta, em que entra em
cena a agilidade corporal, para se defender dos adversários.
Além disso, os capoeiristas usavam muitas vezes uma navalha
manejada com destreza em meio aos golpes com o corpo
(AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016, p. 63).

Por fim, temos na culinária uma forte presença da cultura africana com pratos
como o acarajé, o vatapá e a feijoada. Além das comidas, os povos africanos
também se fazem presentes na nossa cultura através da língua, com palavras
como dengo, cafuné, quitanda, moleque, fubá, cachaça, entre outras.
18

CAPÍTULO 4 – HISTÓRIA E HISTORIOGRAFIA INDÍGENA

Os povos nativos americanos viveram aqui por mais de 12 mil anos antes da
chegada de portugueses e espanhóis. As civilizações pré-colombianas, como os
maias, incas e astecas tinham uma organização social complexa e bastante
evoluída em algumas ciências. No Brasil, havia mais de 1400 povos indígenas,
somando mais de 8 milhões de habitantes, na época da chegada de Pedro
Álvares Cabral. Não era, portanto, um território pouco habitado. De qualquer
forma, o território que viria a ser o Brasil não foi “descoberto” pelos portugueses,
mas encontrado e, em seguida, explorado.

• A Exploração Portuguesa
A partir de 1500 então, após a chegada inicial das caravelas de Cabral, o
território indígena, atual Brasil, seria explorado e colonizado através da violência
e da escravidão pelos portugueses. Chegando ao litoral do atual estado da
Bahia, os portugueses conheceram a tribo tupi, que ocupava grande parte do
litoral. Nos primeiros contatos se estabelece uma troca comercial entre eles e
também algo que foi fatal para os indígenas: a contaminação por doenças
trazidas pelos europeus (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016).
Conforme os portugueses foram percebendo o potencial comercial do território
recém encontrado, começaram a explorar os recursos naturais e a colonizar as
regiões encontradas. A colônia começou a receber os jesuítas, que iniciaram a
catequização dos indígenas, almejando a domesticação desse povo para a
conversão ao cristianismo e para trabalhar para os portugueses sem oferecerem
resistência (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016).
A resistência, porém, aconteceu. Muitos indígenas se recusaram a trabalhar nas
lavouras, resistiram à escravidão e fugiram. Como conheciam melhor o território,
raramente eram capturados. As doenças também exterminaram boa parte dessa
população. Além disso, a conversão ao cristianismo não foi bem aceita nas
aldeias indígenas. Com essas dificuldades, os portugueses então começaram a
traficar africanos, como já estudamos em capítulos anteriores.
Os povos indígenas que conseguiram uma relação mais pacífica com os
portugueses passaram a fazer parte dos aldeamentos (lugares em que eram
segregados os indígenas escravizados ou submissos, para serem catequizados
e trabalharem para os portugueses) ou, mantendo as próprias aldeias,
comercializarem com os mesmos. Esses povos ajudaram na manutenção dos
aldeamentos através da produção de alimentos e criação de animais, defesa e
exploração do território ocupado.
19

O problema das epidemias, no entanto crescia conforme o contato entre


indígenas e portugueses se intensificava.

A política de concentração da população em aldeias praticada


por missionários e pelos órgãos oficiais favoreceu as epidemias,
como varíola, sarampo, coqueluche, catapora, difteria, gripe, e
peste bubônica. Fausto destaca que em 1562 uma epidemia
consumiu em três meses cerca de 30 mil índios na Baía de
Todos os Santos. Em 1564, veio a “fome geral”, pois nada se
plantara nos anos anteriores (FAUSTO, 2000, p. 70-71).

Eram muitos os problemas então que rodeavam a colônia portuguesa aqui.


Alguns indígenas, apesar de todos esses problemas, se aliavam aos
portugueses para conseguir ganhos e para derrotar tribos rivais. Os portugueses
tentavam conseguir lealdade com favores como doação de terras, de armas, de
alimentos e utensílios. Além da lealdade, os indígenas também precisavam se
converter ao catolicismo. Nessa troca, os jesuítas foram intermediários
importantes.
Nos aldeamentos viviam esses missionários jesuítas e os indígenas somente. A
escravização e exploração dos povos indígenas e mais tarde dos africanos era
totalmente justificada pela Igreja Católica. Eles afirmavam que estavam
“salvando” esses povos ao lhe darem a dignidade do trabalho e a oportunidade
da conversão a uma fé que resgataria suas almas de um possível inferno pós-
morte.
A legislação sobre a licitude da escravização dos indígenas se alterou diversas
vezes durante a colonização. Muitos aprovavam e viam como necessária essa
prática, mas outros defendiam que esses povos deveriam ter liberdade e
autonomia, para poderem servir melhor aos interesses dos portugueses.
Com a chegada do Marquês de Pombal ao comando da colônia, muitas coisas
mudariam nessa relação entre indígenas e portugueses.

O Marquês de Pombal comandou durante 27 anos a política e a


economia portuguesa. Ele reorganizou o Estado, protegeu os
grandes empresários, criando as companhias monopolistas de
comércio. Combateu tanto os nobres quanto o clero. Em
conformidade com uma política de consolidação do domínio
português no Brasil, Pombal aplicou o Tratado de Madrid, que
ampliava as fronteiras, tanto no Norte quanto no Sul, entrando
em confronto direto com as missões jesuíticas (AMORIM,
ARAÚJO & PALADINO, 2016, p.81).

Em 1755, o Marquês de Pombal inicia, portanto, a reformulação da política na


colônia portuguesa no Brasil. Essa reformulação se inicia com a expulsão dos
jesuítas da colônia e subordinação das outras ordens ao poder dele. Os
aldeamentos e missões se tornam vilas e os indígenas são emancipados. Os
20

casamentos entre portugueses e indígenas passa a ser legalizado e muitos


indígenas se tornam senhores de terras com poderes similares aos dos
portugueses. Mendonça Furtado, irmão de Pombal criou o Diretório dos Índios,
para auxiliar os chefes indígenas na administração de suas terras.
A relação entre os nativos e os portugueses, porém não era tão consensual.
Muitos fugiam do controle português e se colocavam ostensivamente contra
eles. Para ajudar a controlar o povoamento e proteger suas terras, os
portugueses criaram as Sesmarias, espécie de loteamento para que os colonos
pudessem ter mais autonomia e poder. A luta entre esses povos continuaria
ainda por décadas.
Em 1808, o rei de Portugal, Dom João VI desembarcou com sua corte no Brasil,
fugindo do imperialismo de Napoleão Bonaparte. Para ampliar as terras da
colônia e concretizar o domínio português aqui, favoreceu guerras locais pelos
territórios dominados pelos indígenas. Essas ações violentas dos portugueses
continuaram mesmo após a Declaração da Independência do país em 1822.

A partir de então, se estabeleceu um vazio legal para a questão


indígena até 1845, quando se decreta o “Regulamento acerca
das Missões de catequese e civilização dos índios” (Decreto
426, de 24 de julho de 1845), e se impõe novamente o
aldeamento e o governo das missões, mas entendida como uma
transição para a assimilação completa dos índios.

A partir do século XIX a questão indígena deixa de ser uma questão de mão-de-
obra, pelo menos em sua maior parte, para se tornar uma questão de posse de
terras. E essa questão ainda persiste, marcada por muita violência, até os dias
de hoje.
Durante todo o período imperial todos os artifícios legais e ilegais possíveis foram
usados para tomar e/ou explorar as terras indígenas. Com a proclamação da
República, em 1889, tampouco trouxe grandes alterações nesse contexto.
Somente em 1910, foi criado o Serviço Social de Proteção ao Índio (SPI),
primeiro órgão destinado a proteger a população indígena. Durante o Estado
Novo, regime comandado por Getúlio Vargas, houve uma política de incentivo à
exploração e povoamento do Norte e Centro-Oeste brasileiros conhecido como
“Marcha para o Oeste” (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016).
Nesse movimento, os irmãos Villas-Bôas ficaram conhecidos por serem
sertanistas que estabeleceram um contato mais profundo com os indígenas, se
preocupando em preservar a cultura dos mesmos. Com a ajuda dos irmãos
Villas-Bôas, em 1961, foi fundado o Parque Nacional do Xingu, uma importante
reserva indígena. Em 1967, foi criada a FUNAI – Fundação Nacional do Índio,
para demarcar e preservar terras indígenas (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO,
2016).
21

• Questões Indígenas Atuais


Uma questão muito discutida é a da demarcação das terras indígenas. Como
vimos, a competência dessa demarcação cabe à FUNAI e a decisão final é do
poder executivo. Existe um projeto de lei, porém, que propõe uma mudança
nessa competência: a PEC 215.
Essa proposta de emenda à Constituição Federal (1988) propõe que a
demarcação seja feita pelo Congresso Nacional, o que pode sofrer interferência
de ideologias e posições políticas, como a da bancada ruralista, que almeja se
apossar das terras indígenas. Embora aprovada inicialmente, a discussão ainda
se estende atualmente (FREITAS, 2021).
Segundo o censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de
2010, 816 mil pessoas se declararam indígenas no Brasil. Dessas, 517 mil vivem
em território demarcado. Para essas pessoas, a questão da terra é muito
delicada e muito importante. Ao mesmo tempo que reivindicam a posse, também
reivindicam a autonomia sobre suas terras (FREITAS, 2021).
Outra questão atual é a da assimilação cultural. Muitos indígenas migraram para
grandes centros urbanos e ali pretendem viver e construir sua vida. Para isso, é
necessária uma política de acolhimento dessa população, oferecendo
oportunidades de estudo, de trabalho, de moradia, de acesso à saúde e
preservação de sua cultura. Por isso, existe a necessidade políticas públicas de
inclusão social dessa população. Valorizar a cultura indígena, preservar essa
cultura e suas terras, dar ao indígena autonomia e poder de decisão, são
questões que devem ser debatidas atualmente para que possamos sanar uma
dívida histórica com esse povo.
22

CAPÍTULO 5 – SITUAÇÃO CONTEMPORÂNEA DOS POVOS INDÍGENAS

Atualmente, não usamos mais a palavra índio, mas sim a denominação


indígena. São povos nativos do território nacional e que vivem aqui há milênios,
muito antes da chegada dos portugueses. Esses povos têm sua própria terra,
cultura, língua, religião, tradições e costumes, e lutam para transmitir essa
bagagem para seus descendentes. Dentro do termo indígena, no Brasil, existe
uma grande variedade cultural, religiosa, linguística e territorial. Apesar de todos
os reveses históricos, esses grupos étnicos estão se fortalecendo na defesa de
sua cultura, seus direitos, suas terras e sua preservação.
Desde a década de 1970, com o apoio de entidades civis, esse fortalecimento
tem se intensificado. A primeira grande vitória veio com reconhecimento de
aspectos legais, através da Constituição de 1988. Essa vitória significou
demarcação de terras, escolas bilíngues para a alfabetização nas aldeias,
ofertando também a continuidade da Educação Básica, postos de saúde e
projetos sociais e de desenvolvimento sustentável, entre outras coisas
(AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016).
Outro detalhe é a tecnologia. Muitas aldeias recebem notícias externas através
de rádio, telefone, televisão, e mais recentemente, pela internet. Esses recursos
não servem só para a comunicação, mas para registrar e divulgar a cultura
indígena. Cabe salientar aqui que ter contato com outros povos não tira a
identidade do povo indígena, ao contrário, permite a eles obter recursos e suprir
necessidades, além de mantê-los informados sobre a própria situação.
Quanto à densidade, a população indígena cresceu 4% nas últimas décadas, o
que começa a inverter uma queda gigantesca sofrida desde 1500. É um
resultado sutil, mas que representa uma luta intensa pelo resgate e manutenção
da cultura indígena no Brasil. É algo importante porque não se trata somente de
parar e tentar reverter uma queda da população indígena, mas de valorizá-la
para que seus membros não precisem mais negar sua cultura, para que
consigam sobreviver em suas aldeias e que tenham oportunidades e recursos
que lhe são de direito. Assim, muitos indígenas que precisaram sair de suas
tribos reassumiram sua identidade e suas ações diante dela (AMORIM, ARAÚJO
& PALADINO, 2016).
Sobre dados da população indígena no século XX, o antropólogo Darcy Ribeiro
calculou, em 1957, a existência de 143 etnias, com população entre 68.100 e
99.700 indivíduos. Os dados foram retirados dos relatórios da antiga SPI –
Serviço de Proteção aos Índios. Essas etnias estão distribuídas ao longo de todo
o território brasileiro (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


(IBGE), com base no censo de 2000, a quantidade de indígenas
ainda é maior. Estima-se um total de 740 mil e compõem 0,4%
23

da população brasileira. Essa diferença na quantidade de


população indígena ocorre em função dos diferentes métodos
utilizados para a obtenção de dados. A Funai e o ISA levan taram
dados dos habitantes localizados em aldeias de terras indígenas
reconhecidas oficialmente (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO,
2016, p.99).

Os dados da FUNASA – Fundação Nacional da Saúde, informa que “o


contingente populacional reconhecido pelo governo brasileiro e cadastrado pelo
sistema de saúde é de 374.123 índios, distribuídos em 3.225 aldeias,
pertencentes a 291 etnias e falantes de 180 línguas divididas por 35 grupos
linguísticos (FUNASA, Relatório Desai, 2003, p. 3, apud LUCIANO, 2006, p. 28)”.
Ainda sobre os dados da FUNASA, a maioria da população registrada é de
homens, e está concentrada na região Norte do país (49%). A contagem é bem
complicada, porque os grupos indígenas estão dispersos no país e existem
muitos grupos isolados, e em locais de difícil acesso. Existem, inclusive,
evidências de grupos ainda não conhecidos e sem nenhum tipo de contato com
outros povos (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO, 2016).
A emigração é outra importante característica das populações indígenas. Em
busca de estudo, trabalho, comércio, acesso à saúde e outras necessidades
urgentes, muitos indivíduos saíram de suas aldeias, eventualmente ou
definitivamente, para ter essas oportunidades e isso ajudou a diluir a cultura e
as populações indígenas. O Censo de 2010 mostrou que havia cerca de 817.892
indivíduos vivendo em áreas urbanas. Quanto às terras, cerca de 12% do
território nacional é demarcado como área indígena (AMORIM, ARAÚJO &
PALADINO, 2016).

Segundo dados do Departamento Fundiário da Funai, em agosto


de 2006, existem no Brasil 612 terras indígenas com algum grau
de reconhecimento por parte desse órgão, totalizando uma
extensão de 106 373 144ha, ou seja, 12,49% do território
brasileiro. A Amazônia Legal é a região brasileira que concentra
a maior parte das terras indígenas: 20,67% da região (LUCIANO,
2006, p. 105).

Apesar de muitas terras terem sido demarcadas como território indígena nas
últimas décadas, ainda existe disputa por terras entre povos indígenas e
posseiros e muitas reivindicações dos primeiros ainda precisam ser atendidas
nesta questão. E não são somente posseiros que tentam se apossar de terras
indígenas, latifundiários, madeireiros, caçadores, pescadores, garimpeiros,
todos querem explorar essas terras e esgotar seus recursos naturais.

• A Diversidade dentro da População Indígena


Como já mencionado, a cultura indígena é cheia de diversidade. Sua
expressividade se dá através da língua, da música, dos rituais, das danças, das
24

artes de uma forma geral. Essa cultura é fruto de muitos séculos de contato com
a natureza, de evolução em suas técnicas de exploração dos recursos do meio
em que vivem e das relações entre as aldeias.
Atualmente, ainda se falam mais de 180 línguas entre os povos indígenas, mas
muitas estão em risco de extinção. Muitos povos, embora vivam em reservas e
mantenham algumas tradições, só falam português.

Os linguistas classificam as línguas indígenas em troncos,


famílias, línguas e dialetos: há dois grandes troncos, o Tupi e o
Macro-Jê, e 20 famílias linguísticas que não apresentam graus
de semelhanças suficientes para poderem ser agrupadas
nesses troncos. Há, também, famílias de apenas uma língua, às
vezes denominadas “línguas isoladas”, por não se revelarem
parecidas com nenhuma outra língua conhecida (2009,
INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL, apud (AMORIM, ARAÚJO &
PALADINO, 2016, p.102.

Toda a cultura é passada, em grande parte, de forma oral, de geração para


geração. As relações de parentesco são muito importantes, portanto, na
manutenção das tradições indígenas. Existem muitas alianças entre as famílias,
através de casamentos, para vantagens políticas e econômicas que beneficiem
ambas as famílias, elas envolvem também trocas de terras e mercadorias.
Assim, através desses casamentos, muitas tribos se tornam parceiras.
As habitações variam, existem as ocas, pequenas ou grandes, podendo viver
uma ou mais famílias dentro das mesmas. Elas formam a aldeia. Estas, são
comandadas por lideranças locais, como os caciques, que podem ser escolhidas
democraticamente, passadas pela hereditariedade, serem baseadas na idade ou
na importância social, enfim, são várias as formas. Alguns representantes do
governo também circulam nas aldeias como lideranças, servindo de
intermediários entre os indígenas e o poder público.
Além dessas lideranças, também existem os líderes espirituais, como os pajés,
que são muito respeitados pelos indivíduos da aldeia, se sobrepondo, em alguns
casos, aos líderes políticos. Algumas tribos também conferem poder e destaque
a guerreiros e a membros da comunidade que sobressaírem em áreas como
pesca, artesanato, instrumentos, agricultura, etc.
A relação com a terra, aliás, é muito valorizada entre os indígenas. Durante
milênios esses povos vêm se aprimorando na exploração dos recursos naturais
para sua subsistência, sem prejudicar o meio ambiente.

O território é a base da vida dos povos indígenas, não apenas


por ser o meio onde se encontram os recursos naturais que lhes
garantirão sua subsistência econômica, mas também por ele
estar vinculado a seres, espíritos, valores e conhecimentos de
fundamental relevância para sua reprodução cultural. O território
25

representa o vínculo com a ancestralidade, com os


antepassados, com os mitos de origem e tem uma significação
que transcende o sentido capitalista de entender e de se
apropriar desse espaço (AMORIM, ARAÚJO & PALADINO,
2016, p.107).

Para muitos povos, portanto, o direito sobre a terra deve ser deles e não do
Estado, e essa é uma reivindicação atual de alguns deles, para poderem dispor
de suas terras como bem entenderem.
A vida espiritual da cultura indígena é bem representativa. Como já dissemos,
os líderes espirituais, sejam eles xamãs ou pajés, são valorizados, respeitados
e consultados periodicamente, guiando não só o aspecto individual, mas o
coletivo. A mitologia e o folclore indígena fazem parte de nossa cultura e devem
ser conhecidas e reconhecidas pelo povo brasileiro. As lendas, as histórias, são
representadas na música, nos contos orais, na pintura corporal, nas danças, é
rica e variada a expressividade indígena no aspecto ritualístico.
Por fim, no aspecto político e jurídico, atualmente, se debatem três questões
fundamentais, já comentadas e detalhadas no capítulo anterior: a demarcação
das terras indígenas (a quem cabe e a urgência dela), a preservação da cultura
e das tradições indígenas, e as garantias legais aos povos indígenas em relação
à terra, à saúde, à educação e à segurança. Essas questões precisam ser
debatidas, acolhidas e garantidas pelo poder público de forma urgente.
26

CAPÍTULO 6 – POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE AÇÕES AFIRMATIVAS E


SOBRE OS CURRÍCULOS ESCOLARES

Após todas nossas reflexões e nossos estudos sobre as questões étnico-raciais,


é importante que dediquemos agora um tempo para analisarmos e repensarmos
as políticas públicas sobre as questões raciais e as questões indígenas, e como
essas políticas estão influenciando o currículo escolar. Assim, a seguir, iremos
analisar, primeiramente, quais políticas públicas atuais promovem ações
afirmativas referentes às questões étnicas e raciais, e em seguida analisaremos
o que o currículo escolar contempla sobre esses temas.

• O que são Políticas Públicas?


Políticas públicas são ações do governo em relação a questões sociais e que
influenciam a vida e o cotidiano dos cidadãos do país. São as iniciativas do
governo em relação à demanda de medidas por parte da população. Essas
iniciativas e medidas são tomadas para resolver problemas e/ou para atender
apelo público por direitos, serviços, bens, etc. Podem ser implementadas pelo
governo federal, estadual ou municipal.
As políticas públicas devem se basear em quatro elementos básicos:
envolvimento do governo, percepção do problema, definição de objetivos e os
processos de ação. A demanda por políticas públicas pode ser nova, recorrente
ou reprimida, dependendo do envolvimento dos governos antecessores com a
questão demandada. Quanto aos tipos, podem ser (SECCHI, 2012):

 Políticas Distributivas: são políticas que beneficiam somente uma


parcela da sociedade ou um público específico, como liberar crédito para
pequenos produtores;

 Políticas Regulatórias: estabelece padrões de comportamento, serviço


ou produto para atores públicos ou privados. Por exemplo: o uso de
capacete ao andar de moto;

 Políticas Redistributivas: são políticas públicas universais, como


reforma agrária;

 Políticas Constitutivas: estabelecem regras para as próprias políticas


públicas e para o governo e seus sistemas.

Assim, o governo, em suas diversas esferas, pode implementar várias ações que
beneficiem a sociedade e resolvam questões mais urgentes, tais como as raciais
27

e as indígenas. As ações afirmativas são um exemplo destas, e veremos a seguir


como funcionam.
• O que são Ações Afirmativas?
Ações Afirmativas são políticas públicas que objetivam atender demandas de
grupos marginalizados, excluídos ou discriminados histórico-socialmente. São
medidas para combater discriminações religiosas, étnicas, raciais, de gênero, de
casta, ou de qualquer outro grupo social. Essas medidas promovem ações para
uma maior participação social destes grupos, tanto na política, como na
educação e no mercado de trabalho. Também visam melhorar a qualidade de
vida, o acesso a oportunidades e aos bens materiais, à saúde, ao transporte, à
proteção social, à segurança pública e à cultura.
A política de cotas para deficientes em concursos públicos, empresas públicas e
privadas e universidades é um exemplo de ação afirmativa, que visa promover,
no caso, uma maior participação desse público na educação e no mercado de
trabalho. Além das cotas para deficientes, temos as cotas étnico-raciais e de
gênero, que também são reservadas com o intuito de diminuir a discriminação,
o preconceito e a exclusão. Outros exemplos de ações afirmativas são:

 Bônus ou fundos de estímulo;


 Bolsas de estudo;
 Empréstimos e preferência em contratos públicos;
 Determinação de metas ou cotas mínimas de participação na mídia, na
política e outros âmbitos;
 Reparações financeiras;
 Distribuição de terras e habitação;
 Medidas de proteção a estilos de vida ameaçados;
 Políticas de valorização identitária.

Então, percebemos que as ações afirmativas objetivam não somente uma


reparação material, mas social e de direitos. Além disso, elas também podem
focar na valorização da cultura e do saber de determinados povos e etnias, como
a indígena. Isso demonstra um caráter não só reparador, mas preventivo
também (Fonte: http://gemaa.iesp.uerj.br/o-que-sao-acoes-afirmativas/ )

• Ações Afirmativas do Governo Referentes às Questões Étnico-


Raciais
Ações afirmativas referentes às questões étnico-raciais começam a ser
pensadas na década de 1980, mais especificamente em 1984 quando o
deputado Abdias do Nascimento propôs uma lei que reservava 40% das vagas
do Instituto Rio Branco (que forma diplomatas) para negros. A proposta, no
entanto, não chegou a ser votada. Em 1991, é promulgada a Lei 8.213, que
estabelecia cotas para deficientes nas empresas.
28

A década de 1990 trouxe eleições democráticas e um grande popular para que


os candidatos eleitos elaborassem mais políticas públicas para combater o
racismo e para garantir igualdade de direitos e de oportunidades para grupos
sociais excluídos e marginalizados.

Em resposta à mobilização, o governo Fernando Henrique


Cardoso institui, no Ministério da Justiça, o Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI) de Valorização da População Negra, com
o objetivo de propor ações integradas de combate à
discriminação racial e de recomendar e promover políticas de
“consolidação da cidadania da população negra”. Outras ações
foram tomadas pelo governo FHC no sentido de implementar
políticas de combate à discriminação racial (AMORIM, ARAÚJO
& PALADINO, 2016, p.127).

Nesta mesma década foi realizado o Seminário Internacional Multiculturalismo e


Racismo: uma comparação Brasil-Estados Unidos, organizado pelo
Departamento de Direitos Humanos da Secretaria dos Direitos e Cidadania.

Outra importante iniciativa, a assinatura do Decreto 1.904, de 13


de maio de 1996, institui o Programa Nacional de Direitos
Humanos (PNDH) e traz em seu subitem “População Negra” –
integrante do item “Proteção do direito e trabalho igualitário
perante a lei” – com propostas de ações afirmativas em
conformidade com o Programa de Superação do Racismo e da
Desigualdade Racial, entregue ao presidente FHC ao fim da
Marcha Zumbi dos Palmares.” (AMORIM, ARAÚJO &
PALADINO, 2016, p.127).

Após o governo de Fernando Henrique Cardoso, o presidente Luís Inácio Lula


da Silva também continuou a promover ações afirmativas para combater racismo
e desigualdade social. Em 2004, a Universidade de Brasília estabeleceu um
sistema de cotas para negros em seus processos seletivos. Também foi
aprovado o Estatuto de Igualdade Racial, o qual prescrevia ações que
promovessem a cultura negra e o acesso dos afrodescendentes ao estudo, ao
trabalho, à cultura, à saúde, etc.
No governo de Lula também foi criada a Secretaria de Igualdade Racial, que
ampliou o sistema de cotas e o programa de inclusão de pobres nas
Universidades com o ProUni – Programa Universidade para Todos. Essas
políticas públicas fizeram crescer significativamente o número de jovens negros
nas universidades, o que aumentou também a participação social dos mesmos
e deu oportunidade de ascender no mercado de trabalho.

• Currículo Escolar e as Questões Étnico-Raciais


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O currículo escolar reflete todas as teorias, paradigmas e concepções


educacionais que atuam dentro e fora da escola. Ele pretende refletir o
conhecimento reunido pela sociedade que deve ser passado aos alunos de
forma que estes se construam como pessoas, como cidadãos e como
profissionais. O currículo reflete então, o contexto histórico-social, a legislação
educacional vigente e os paradigmas em que se baseia. Atualmente, os
principais paradigmas educacionais podem ser encontrados nos PCN –
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais têm como um de seus temas transversais
a Pluralidade Cultural. Esse tema pode ser trabalhado em todas as disciplinas
e também fora delas, com projetos e ações afirmativas. Portanto, o trabalho
etnocultural irá focar tanto as questões raciais como as culturais e usará as
orientações dos PCN (1997) sobre Pluralidade Cultural.
As questões indígenas por exemplo, devem ser abordadas não como uma
disciplina à parte, mas de forma contínua e transversal. Dentro desse assunto,
algumas abordagens precisam ser feitas pelos professores, veremos a seguir as
orientações de trabalho por disciplina ou grupo de disciplinas:

 Matemática: as perdas humanas, materiais e de território são problemas


que os indígenas enfrentam desde que os portugueses chegaram aqui.
Para ajudar a refletir sobre isso, o professor de matemática pode propor
problemas com dados históricos e estatísticos e propor soluções lógicas
para essa questão;

 Linguagens: professores de línguas podem analisar múltiplos textos


sobre a cultura indígena e também textos jornalísticos sobre fatos atuais.
O professor de ensino médio deve propor textos dissertativo-
argumentativos para os alunos refletirem sobre as questões indígenas
atuais;

 Geografia: esse professor deve discutir duas questões urgentes da


atualidade, a demarcação das terras indígenas e o uso das mesmas para
a agricultura;

 História e Sociologia: devem discutir os aspectos culturais, como


influência da cultura indígena, preservação dessa cultura e a questão da
apropriação cultural;

 Ciências Naturais: toda a diversidade natural (fauna e flora) das terras


indígenas pode ser usada para as aulas de ciências, além de a disciplina
poder debater questões relacionadas ao meio ambiente e a preservação
das florestas;
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 Arte: estudo das manifestações artísticas indígenas como dança, cantos,


tradições. Também pode estudar esse tema na nossa literatura. Essa
disciplina pode ajudar a desmistificar a imagem caricatural que os povos
indígenas têm tido no espaço escolar;

 Educação Física: estudo das práticas esportivas indígenas, análise de


atividades físicas praticadas por eles, descrição dos movimentos de
danças, entre outras coisas.
Da mesma forma, as questões raciais também devem permear o trabalho de
todas as disciplinas. Podemos adaptar as discussões e práticas realizadas sobre
os temas indígenas para os temas relacionados aos aspectos da cultura africana
e dos afrodescendentes, vejamos:

 Matemática: as questões matemáticas relacionadas ao tráfico de


africanos, com suas quantidades históricas, dados estatísticos e
financeiros podem ser estudas e debatidas nas aulas;

 Linguagens: professores de línguas podem analisar múltiplos textos


sobre a cultura africana e também textos jornalísticos sobre fatos atuais,
relacionados à violência, ao racismo e a injúria racial. O professor de
ensino médio deve propor textos dissertativo-argumentativos para os
alunos refletirem sobre as questões raciais atuais;

 Geografia: estudar o continente africano, seus países e suas etnias, as


regiões de onde saíram os povos traficados, entre outras coisas;

 História e Sociologia: devem discutir os aspectos culturais, como


influência dos povos africanos na nossa cultura e na formação do povo
brasileiro, a história dos quilombos e os remanescentes;

 Ciências Naturais: a questão da raça e da genética pode ser debatida e


estudada à luz das teorias científicas atuais;

 Arte: estudo das manifestações artísticas dos povos africanos como


dança, cantos, a capoeira. Também pode estudar a presença dos pretos
na nossa literatura;

 Educação Física: estudo das práticas esportivas africanas, análise de


atividades físicas praticadas por eles, sua presença nas olimpíadas, seus
esportes, descrição dos movimentos de danças e práticas culturais. A
participação de destaque em uma tradição nossa, a corrida de São
Silvestre.
31

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade brasileira é composta por uma variedade muito grande de grupos


sociais. Sendo um país vasto geograficamente, com uma história de colonização
(mesmo que forçada e exploradora, em grande parte) e com uma política de
imigração flexível, nosso país tem como base formadora diversas culturas.
Durante toda sua história, o Brasil recebeu povos das mais diversas origens,
tendo sua base cultural e étnica formada por uma grande variedade de costumes
e tradições. Isso faz com que nossa sociedade seja permeada por vários
elementos, principalmente nas grandes cidades, onde se pode notar a
convivência lado a lado de vários grupos culturais, sociais e étnicos.
Em nossos estudos, pudemos entender que o conceito de raça tem um forte
componente genético, biológico, e que no caso dos seres humanos, não há uma
diferença significativa nesse aspecto de modo a classificarmos a espécie
humana em raças. O mais correto é o uso do conceito de etnia, que consegue
englobar questões físicas, biológicas, geográficas, culturais, entre outras.
Assim, notamos que das três etnias-base da nossa sociedade (europeia,
indígena e africana), duas precisam ser urgentemente resgatadas em nossa
escola, nossa cultura e na sociedade de forma geral: a indígena e a africana.
Esses povos tiveram sua história duramente atingida pela ação dos europeus, o
que resultou em escravização, violência, genocídio e exclusão.
Atualmente, essas etnias lutam pelo resgate do seu lugar na história, no contexto
social e pelo acesso as mesmas oportunidades que toda a população brasileira.
Para isso, são promovidas políticas públicas sobre ações afirmativas que visam
não só restaurar danos causados a esses povos, como combater e prevenir o
preconceito, o racismo, a discriminação e a marginalização social.
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BIBLIOGRAFIA

AMORIM, C. ARAÚJO, M.D. PALADINO, M. Relações étnico-raciais.


CURITIBA – PR: IESDE BRASIL S/A, 2016.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares


nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual/Secretaria de Educação
Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1997.

ENDERS, A. História da África lusófona. LISBOA: Editora Inquérito, 1997.

FAUSTO, C. Os índios antes do Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

FIORIN, J.L. A construção da identidade nacional brasileira. Revista


Bakhtiniana. São Paulo, v. 1, n. 1, p. 115-126, 1o sem. 2009.

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https://brasilescola.uol.com.br/brasil/o-indigena-no-brasil.htm. Acesso em 07 de
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JORNAL EL PAÍS. Devemos continuar usando o conceito de raça?


Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2016/02/05/ciencia/1454696080_059342.html.
Consulta em 20 de janeiro de 2021.

LUCIANO, G. S. O índio brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos


indígenas no Brasil de hoje. Brasília: Ministério de Educação Continuada,
Alfabetização e Diversidade, LACED/Museu Nacional, 2006 (Série Via dos
Saberes, nº1).

SECCHI, L. Políticas Públicas: conceitos, esquemas de análises, casos


práticos. São Paulo: CENGAGE Learning, 2012.

SOUZA, E. M., CARRIERI, A. P. A analítica queer e seu rompimento com a


concepção binária de gênero. In: Revista de Administração Mackenzie. Vol.
11. N. 3. São Paulo, mai/jun 2010.

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