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Contextualização
O Filme “Eles não usam black tie” é uma adaptação da peça homônima e representa as
angústias e temores de uma sociedade em pânico com a repressão, as pessoas “comuns”
enfrentam no seu dia a dia as mesmas angústias de outras classes, como, por exemplo, a
classe artístico-intelectual que tratamos nesta unidade: “Cultura & Arte: Resistência e
Complacência no Período Ditatorial”. Assista ao filme e reflita criticamente com base na
unidade estudada.
Mais informações:
Explore http://www.cineplayers.com/filme/eles-nao-usam-blacktie/3977
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Introdução
Falar de Cultura & Arte é uma tarefa hercúlea, o Brasil é um país que apresenta uma das
mais ricas complexidades culturais do planeta, nossa formação inicial se deu com o encontro
das culturas nativa, africana e europeia, e o “desenvolvimento” cultural pelo afluxo de outras
nacionalidades que imigraram para cá, devido a nossa escassez de mão-de-obra para compor o
quadro laboral no século XIX e na primeira metade do século XX. Uma nova leva de europeus;
de asiáticos e de países do Oriente Médio, chegaram ao Brasil no início da segunda metade
do século XX, esses imigrantes vieram fugindo de conflitos regionais como, por exemplo, os
palestinos. Essas culturas influenciaram os costumes e a arte brasileira. Não proponho discutir
influencias e hibridismos culturais no Brasil, mas dizer que é um tema complexo, portanto nosso
recorte será sobre a resistência e ou as conivências e “isenções” artístico-culturais do período
ditatorial brasileiro. Para Aarão Reis e Rollemberg,
“Entre a ditadura, que não foi um monolito mudando segundo as circunstâncias,
e a cultura, extraordinariamente diversa no caso do Brasil e também mutante, as
relações foram muito complexas”.1
Durante a ditadura a vida artística e intelectual no país tinha uma relativa “organização”, mas
ainda não atingia a todos os grupos e todas as classes sociais, Marcelo Ridente diz que, “A vida
artística e intelectual brasileira já era expressiva no fim dos anos 1950 e no início da década de
1960, mas ainda limitada a círculos relativamente restritos”, segundo o mesmo autor, o que pode
ter mudado, e que deu maior expressão as manifestações artístico-culturais no período ditatorial
foi “o avanço do processo de modernização sob bases autoritárias no período da ditadura.
Novas relações sociais trazidas pela industrialização e urbanização crescentes conviveram com
a persistência de formas de sociabilidade não capitalistas”, Ridente faz uma analise ótima sobre
o que poderia ter provocado o amadurecimento desse processo no país, onde progresso e
atraso conviviam/convivem de forma indissociável, “o ‘moderno’ se combinaria com o ‘arcaico,
num emaranhado que teve consequências também no plano das artes e da cultura, com o
amadurecimento da indústria cultural, a integração e a resistência a ela”.
1 REIS, Daniel Aarão; ROLLEMBERG, Denise. A Ditadura, As Artes e a Cultura, Memórias reveladas. Disponível em: http://www.
memoriasreveladas.arquivonacional.gov.br/campanha/censura-nas-manifestacoes-artisticas/
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Num país onde as distâncias geográficas muitas vezes marcam acentuadas diferenças na
arte e na cultura, nas décadas de 1960/1970 as politicas culturais não foram prioridade para
o regime ditatorial. Com uma população jovem e em sua maioria analfabeta, na década de
1960 já tínhamos alguns centros urbanos modernos, em contrapartida, a maioria da população
ainda vivia na zona rural. Klein & Luna(2014, p. 3.) dizem que “O Brasil era um país dividido
não apenas entre uma minoria urbana moderna e uma maioria rural tradicional, mas também
apresentava diferenças profundas por região, classe social e raça”.
Atenção
Na antropologia, eram utilizadas várias classificações de grupos humanos, conhecidos
como “raças humanas”, mas desde que começou-se a usar os métodos genéticos para
estudar populações humanas, essas classificações e o próprio conceito de raças humanas
deixaram de ser utilizados, persistindo o uso do termo apenas na política.
Fonte: http://www.significados.com.br/raca/
Com tantas diferenças sociais e o descaso com as politicas públicas de incentivos à cultura,
houve uma população que foi praticamente alienada da situação político-econômica pela qual
o país atravessava. Mesmo numa cidade do interior paulista como Tupã, cidade onde nasci, há
uma referência à resistência comunista no ano de 1949, que com certeza até os dias de hoje é
desconhecida da maioria da população, segundo Magalhães(2012, p. 206), “A policia fuzilou três
comunistas (...) as vítimas reivindicavam carteira assinada no campo e outros direitos. A pintora
naïf Maria Aparecida Rodrigues, que se tornaria Aparecida Azevedo, foi presa na ocasião”.
Este relato que faço aconteceu mais de uma década antes da tomada do poder pelos militares,
no entanto, nele está presentes o fantasma do comunismo e a falta de informação sobre os fatos
da politica que acontecia de cima para baixo, em meio a uma precária rede de comunicação
social que afetou o país até praticamente a metade da década de 1970, nem mesmo a população
da cidade tomou conhecimento da realidade do fato, no máximo ficaram sabendo que a polícia
matou três bandidos e prendeu sua cumplice. A cultura e a informação correta não faziam/
fazem parte da cultural dos ditadores.
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Sobre o incentivo cultural na ditadura militar brasileira, Soares escreveu que, “Durante
o Regime Militar instaurado em 1964, já havia sido identificada a necessidade de criar um
documento que formalizasse as orientações doutrinárias e as linhas de atuação do Governo na
cultura”. Foram apresentadas algumas propostas de lei de incentivo à cultura, mas nenhuma
foi aprovada (1968, 1969, 1973). Em 1973 no governo do ditador Médici, houve mais uma
tentativa de se elaborar um programa de incentivo a cultura, era o documento, Diretrizes Para
Uma Politica Nacional de Cultura, mas Soares nos informa que o documento ficou sem efeito,
pois:
O ministro Ney Braga, da educação, após vários ensaios de se fazer uma politica cultural
para o país, definiu o que o Estado entendia por cultura e apresentou um plano de incentivo,
elaborado no ano de 1975 no governo do ditador Geisel, segundo o ministro as políticas
culturais do governo, “orientam e condicionam a ação governamental, não como dirigismo, mas
como instrumento de estímulo e formação. Respeita o Estado, a liberdade de criação e procura
incentivar e apoiar o desenvolvimento da cultura”.3
Não houve efetivamente uma politica cultural, “a coisa não andou”, o governo esboçou
alguns projetos, mas tinha receio de patrocinar autores, compositores, cantores e artistas que
apareceriam na mídia para fazer companha contra o regime, mesmo sendo “patrocinados” pelo
governo. Soares conclui seu texto com a interessante observação,
Com efeito, os documentos que formalizaram a institucionalização da
cultura nas décadas de 1960 e 1970 explicitaram as ambiguidades e
incoerências próprias do contexto no qual foram elaborados. Tanto no
que concerne a estruturação das instituições, às formas de ação, como a
própria concepção de cultura e sua criação. No entanto, a preocupação e
o interesse em regular essa área põe de manifesto a importância, que de
algum modo, o campo cultural representava para o governo dos militares,
o que pode ser constatado, entre outras, pela aproximação que procedeu
com o tema do folclore.4
2 www.casaruibarbosa.gov.br. SOARES, Ana Lorym. Folclore e políticas culturais no Brasil nas décadas de 1960/1970.
3 Ministério da Educação e Cultura. Política Nacional de Cultura. Brasília: MEC, 1975, p. 24.
4 www.casaruibarbosa.gov.br. SOARES, Ana Lorym. Folclore e políticas culturais no Brasil nas décadas de 1960/1970
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Apesar da aproximação com o tema folclore nos documentos oficiais, havia no país, dois
países, como definido por alguns economistas que analisaram as décadas de 1960-1970, por
causa das diferenças econômicas e sociais onde a pobreza do Norte-Nordeste era bem mais
elevada que no Sul-Sudeste, “o Nordeste era tão diferente das regiões Centro-Sul e Sul que
muitas vezes os economistas denominavam a nação de Belíndia – com o Nordeste apresentando
condições de vida similares às da Índia e o Sul-Sudeste se equiparavam à Bélgica”5.
Mas, isso não é tudo, grupos como o Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE, discriminavam
a arte “observável” junto às camadas populares, taxando essa arte de “alienada”. No “Anteprojeto
do Manifesto do CPC” da UNE, se fazia a distinção entre arte/cultura do “povo” de arte/cultura
“popular”. Para esse grupo o artista precisava se distinguir da massa consumidora, e na “arte/
cultura” do povo o artista não se distingue, pois vive nela integrado e anônimo, o artista não
é um elemento conscientizado que favoreça o crescimento intelectual da massa, “e o nível de
elaboração artística é tão primário, que o ato de criar não vai além de um simples ordenar os
dados mais patentes da consciência popular atrasada”6.
A arte/cultura do povo é vista de cima para baixo pelo grupo que compõe a UNE, ou seja, a
cultura do povo é tratada com preconceito e desprezo. No “anteprojeto” do CPC, diferente da
arte do povo, a arte/cultura popular que faz parte da indústria cultural, ou seja, produzidas por
um grupo de profissionais especialistas, apesar de mais “evoluída” também é alienante, esta
apesar arte apesar de mais elaborada,
Era vista, por outro lado, como ‘mais apurada e apresentando um grau
de elaboração técnica superior à primeira’. Não obstante, seu ‘objetivo
supremo consiste em distrair o espectador em vez de forma-lo, entretê-
lo e aturdi-lo, em vez de despertá-lo para a reflexão e a consciência de
si mesmo (...) Ela abre ao homem a porta para a salvação ao refugiá-lo
numa existência utópica e num eu alheio ao seu eu concreto’. Assim,
então, ambas possuem caráter ilusório e obscurecedor da realidade, pois
expressam ‘o povo apenas em suas manifestações fenomênicas e não em
sua essência’.7
10
pudesse ter consciência de sua real condição naquela sociedade e lutar por seus direitos, mas,
“nos anos de fechamento político subsequentes a 1964, esses trabalhos foram severamente
reprimidos e a questão ficou latente por mais ou menos 10 anos, nos debates públicos”9.
Foram realizadas algumas tentativas governamentais para se criar um incentivo à cultura no
período ditatorial. Soares indicou que nestes projetos que naufragaram estava incluso incentivos
ao folclore, o que já é um passo bem adiante do elitismo que se discutia no CPC-UNE, entre
os críticos do CPC, Arantes cita Marilena Chauí, que qualificou o trabalho do grupo como
“autoritarismo vanguardista e iluminado”10.
Se entre os adidos culturais dos ditadores não se chegou a um consenso de como financiar
Arte & Cultura no país nas décadas de 1960-1970, a título de exemplo expus, um caso onde
um grupo de intelectuais e artista (CPC), se arrogava o papel de fazer uma “arte popular
revolucionária”, esta arte seria para todos, porém ficamos presos à outra elite, não a econômica,
mas a intelectual, para “orientar” o povo. Como a arte ainda hoje é um luxo para poucos, o
que veremos da resistência cultural e artística durante a ditadura, se prende ainda a noção
piramidal, ou seja, num movimento de cima para baixo, seria mais ou menos como uma fórmula
matemática:
Esta “Fórmula” é apenas um elemento lúdico que criei para dizer que o povo da classe média
baixa e os miseráveis são vistos pelos intelectuais e artistas, como grupos incapazes de produzir
uma cultura conscientizadora, ficando para a elite intelectual o papel de salvador da pátria
contra a ignorância político-social. Esta não é a realidade, o cordel é um exemplo que contradiz
o preconceito academicista.
9 ARANTES, Antônio Augusto. O Que É Cultura Popular. São Paulo, Brasiliense, 2006, p. 55.
10 ARANTES, Antônio Augusto. O Que É Cultura Popular. São Paulo, Brasiliense, 2006, p. 56.
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Você Sabia ?
O termo mass media é formado pela palavra latina media (meios), plural de medium
(meio), e pela palavra inglesa mass (massa). Em sentido literal, os mass media seriam os
meios de comunicação de massa (televisão, rádio, imprensa, etc.). Porém, esta denominação
sugere que os meios de comunicação são agentes de massificação social, o que nem sempre
está de acordo com a realidade social observável.
Fonte : http://www.infopedia.pt/$mass-media
Até o final da década de 1960 a Rede Globo tinha duas fortes concorrentes, A Rede Tupi de
Televisão e a Rede Excelsior. As novelas neste período se caracterizavam pela importação de
modelos que faziam sucesso em outros países da América Latina. No ano de 1968 a TV Tupi
produziu a novela Beto Rockfeller, que foi um divisor de águas na teledramaturgia brasileira.
O motivo de tanto sucesso foi a quebra da formula “testada e aprovada” em outros países,
mas que estava distante do cotidiano do brasileiro médio, “o humor de Beto Rockfeller já
antecipa um caminho que se desenvolverá posteriormente como marca das novelas brasileiras
que dialogam com o velho estilo das chanchadas”.11
11 HAMBURGER, Esther. Diluindo Fronteiras: A Televisão e as Novelas no Cotidiano. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História
da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, p. 465.
12
O Sistema Globo de Comunicação se associou ao grupo americano Time Life no ano de
1962, para criar a Rede Globo de Televisão, além do aporte financeiro, que proporcionava aos
americanos 30% da sociedade, a Globo também recebeu “no-hall” técnico para instalação da
Rede Globo de TV, que adquiriu equipamentos de ponta, já utilizados pelo sócio americano,
e ainda indisponíveis no Brasil. Suas concorrentes perderam terreno, a Globo foi assumindo a
dianteira, e a novela passou na década de 1970 a ser o carro-chefe na captação de recursos
financeiros para o grupo, segundo Hamburger, como produto as novelas deveriam trazer
“novidades” e “provocar” o interesse do telespectador e dos articulistas de outras mídias, esta
era a estratégia para o produto novela alavancar outros produtos,
O consumo de produtos a ela relacionados, como livros, discos, roupas etc.
Essa ênfase no representar de uma contemporaneidade sucessivamente
atualizada é visível na moda, na tecnologia (...) Esse renovado senso
de contemporaneidade é fruto de uma estratégia de marketing dos
produtores, que se ajusta bem às pretensões criticas dos escritores, aos
objetivos econômicos desenvolvimentista dos militares, as suas ambições
de integração nacional. Essa quase obsessão pela conjuntura e a moda se
acomoda também à estrutura seriada e alternativa do folhetim, e mobiliza
repetidamente a matriz melodramática convencional.12
Na produção das novelas da Rede Globo, neste período, segundo Hamburger, “convivam
profissionais de ideologias e intenções diversificadas, trabalhando em condições desfavoráveis
sob forte censura e numa empresa que crescia a ponto de se transformar num conglomerado
competitivo em nível internacional”13. Desta frase deduzo que Hamburger se referiu ao arrocho
provocado pela censura do AI-5, mas acrescento a esta ideia as informações de Fabio Konder
Comparato e Carlos Eduardo Martins, para dizer que estes profissionais de matizes ideológicas
diversas sofriam também censura da própria Rede Globo, escolhida dos empresários e ditadores
para fazer parte do regime,
O golpe unificou as diversas frações da burguesia para impor um regime
de terror do grande capital e uma política de superexploração dos
trabalhadores, incrementando fortemente os níveis de desigualdade e de
pobreza no país. Aprofundou a desnacionalização da economia brasileira
e a penetração do capital estrangeiro no espaço nacional. A hegemonia
conservadora no processo de redemocratização vinculou-se à construção
do império midiático e ao monopólio das telecomunicações representado
pela Rede Globo, criada oficialmente em 1965 e beneficiada pela
associação ilegal com o capital estrangeiro por meio do grupo Time-Life,
do qual obteve financiamento e assessoria gerencial e técnica, entre 1962-
1971. Em 1967, o governo Costa e Silva baixou um decreto proibindo a
associação financeira, gerencial e técnica no setor de telecomunicações
com o capital estrangeiro, criando de fato uma situação de privilégio e
monopólio ao considerar que este não se aplicava à Rede Globo por seu
contrato com o Grupo Time-Life ser anterior à legislação.14
12 HAMBURGER, Esther. Diluindo Fronteiras: A Televisão e as Novelas no Cotidiano. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História
da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, pp. 465-467.
13 HAMBURGER, Esther. Diluindo Fronteiras: A Televisão e as Novelas no Cotidiano. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História
da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, p. 468
14 MARTINS, Carlos Eduardo. O golpe militar de 1964 e o Brasil: passado e presente. In, http://blogdaboitempo.com.br/2014/04/01/o-
golpe-militar-de-1964-e-o-brasil-passado-e-presente/
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Voltando o foco para as novelas globais, Hamburger comenta que ao se tornar o produto mais
vendável do Sistema Globo de Comunicação, elas passaram a se ocupar da “problematização do
Brasil, das intimidades privadas às políticas públicas”, mas as novelas que tiveram a pretensão
de conscientizar seu público sobre a politica vigente foi censurada, em geral “a ótica pessoal e da
família continua a predominar em um universo em que, por exemplo, não interessam as filiações
ideológicas ou partidárias de personagens políticos”. 15
O autor de novelas Dias Gomes foi convidado por Boni para integrar a equipe de novelistas
da Rede Globo, casado com Janete Clair, outra grande autora de novelas da emissora, era
reconhecidamente um militante de esquerda, motivo pelo qual foi demitido da Rádio Nacional.
Dias Gomes escreveu a novela “Roque Santeiro” censurada pela ditadura no ano de 1975. A
televisão de Roberto Marinho sofreu alguns vetos em suas novelas, mas este caso é emblemático
por dois motivos, no dia da estreia de Roque Santeiro, o próprio Roberto Marinho leu um
comunicado que anunciava o veto à novela, que foi substituída pela reprise de “Selva de
Pedra” de autoria da mulher de Dias Gomes a também novelista Janete Clair. A novela Roque
Santeiro foi regravada em 1985, após a abertura democrática. No quadro abaixo,
outras novelas que foram censuradas total ou parcialmente na grade de programação da Rede
Globo de Televisão durante a Ditadura.
15 HAMBURGER, Esther. Diluindo Fronteiras: A Televisão e as Novelas no Cotidiano. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História
da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia. das Letras, 1998, pp. 469-470.
14
A telenovela no padrão global das décadas de 1970 e 1980 pode ser considerada um produto
genuíno do período ditatorial, tratando dos costumes sociais sem grandes implicações politicas
diretas com o cotidiano, as telenovelas globais não alertaram a população sobre os problemas
políticos vividos pelos adversários da ditadura, quando algum de seus autores/funcionários
passava do ponto e fazia alguma crítica aos costumes padrão da sociedade ou colocava um
tema mais “politizado” fugindo do script convencionado pelo regime, o Departamento de
Censura e Diversões Públicas (DCDP), vetava ou censurava partes do produto mais rentável
do conglomerado de mídia do Sr. Roberto Pisani Marinho, que acatava a censura e não se
indispunha com os ditadores. Desta forma a cultura da telenovela global foi complacente com o
regime dentro do qual ela foi gestada, a Ditadura Civil-Empresarial-Militar Brasileira.
15
Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
16 http://educacao.globo.com/historia/assunto/ditadura-militar/manifestacoes-culturais.html
16
O alcance e o poder das indústrias fonográficas e cinematográficas americanas começaram a
influenciar os jovens por todo o mundo, inclusive no Brasil. O movimento feminista e a luta dos
negros americanos pelos seus direitos despertaram o lado contestatório dos jovens pelo mundo.
Este modo de vida que condensava cultura e protesto chegou ao Brasil e influenciaram as artes
que ganharam coloridos contestatórios e revolucionários e, isso se deu principalmente no teatro,
no cinema e na música.
Durante o governo JK houve uma invasão cultural no país, o estilo de vida moderno e
americanizado estava por “toda” parte, a tecnologia invadia “todos” os espaços, além dos
utensílios domésticos, a classe média comprava também aparelhos de televisão, vitrolas,
guitarras elétricas, eram as grandes novidades, afinal não bastava ter uma panela de pressão
nova, era preciso consumir as novas tecnologias disponíveis que estavam invadindo o mercado,
despejado do Norte para o Sul. Apesar das tentativas de modernização e desenvolvimento, o
governo de Juscelino não conseguiu diminuir a miséria na “Belíndia”.
E o auge da Bossa Nova de Tom Jobim, Nara Leão, Maysa, Dóris Monteiro, Marisa Gata
Mansa, Silvinha Telles, Miltinho, Dick Farney, Nora Ney, Johnny Alf, Billy Blanco, João Donato,
Lana Bittencourt, Leny Andrade, Celly Campello, Os Cariocas, entre outros, esbarrou com o
início da Ditadura, e nesta transição de “Anos Dourados” para os “Anos de Chumbo” o país viu
nascer outro movimento, contestatório, além da “a Bossa Nova que envolveu um setor influente
da classe média e da crítica musical, com seu refinamento estético e a visão ipanemense de
mundo”17 , nascia a Tropicalia.
A tropicália foi além da música e influenciou outros campos da cultura como, por exemplo,
as artes plásticas, o cinema e a poesia, gestado já na ditadura, seu batismo foi no Festival de
Música Popular Brasileira da TV Record (1967). A inovação musical na tropicália se deu pelo
“sincretismo” entre vários estilos musicais: rock, baião, bossa nova, samba, bolero, entre outros.
Nas artes cênicas e plásticas o tropicalismo misturou estilos da cultura nacional tradicional com
as inovações estéticas da pop art. O tropicalismo foi influenciado pela cultura pop brasileira e
internacional e assimilou correntes de vanguarda como o concretismo.
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Quanto ao engajamento político dos artistas que surgiram nas décadas de 1950 e 1960, não
é tarefa fácil defini-lo, colocando-o em compartimentos estanques, pois o(s) movimento(s) de
enfrentamento, ou não enfrentamento, e às vezes conivência de artistas com o regime ditatorial
foi fluído, havia sim alguma organização da classe artística em seus grupos musicais, teatrais
entre outros, mas nem todos os artistas que combateram a ditadura eram necessariamente
vinculados a algum partido político, alguns artistas simpatizavam com a esquerda, enquanto
outros queriam sua dignidade e liberdade de expressão respeitada pelos ditadores.
Para Roberto Schawrz, “para surpresa de todos, a presença cultural de esquerda não foi
liquidada naquela data, e mais, de lá para cá não parou de crescer (...) há relativa hegemonia
cultural da esquerda no país (...) nas estreias teatrais (...) as vezes ameaçadas de invasão
policial”.18 Houve também relatos de artistas famosos “engajados” secretamente na direita,
quando esta passou à perseguição sistemática com a edição do Ato Institucional n. 5, o AI-5,
que endureceu a censura no país.
No inicio da “Revolução de Março” – como denominou Almeida & Weis, na História da Vida
Privada no Brasil,
Um traço peculiar do regime imposto em 1964 gerou efeitos também
peculiares para a vida privada de seus opositores. A “Revolução de
Março” foi essencialmente uma ordem autoritária pouco institucional-
zada. Suas regras eram cambiantes, e móveis as divisas entre p proibido
e o permitido. Manteve, distorcidas, instituições e liturgias próprias do
sistema democrático (...) essa fluidez era mais acentuada aqui, dada a
institucionalização apenas parcial do regime, sobretudo nos quatro anos
e oito meses que transcorreram entre a posse do marechal Castelo Branco
e a edição do AI-5. Neste ambiente, fazer oposição podia significar uma
infinidade de coisas.19
Para Almeida & Weis, no país a música foi a porta voz do movimento de contestação,
grupos como os Novos Bahianos, adeptos da onda de contracultura que assolava os países
“desenvolvidos” – usavam cabelos longos, roupas coloridas, usavam drogar por prazer,
enfrentamento ou fuga em relação ao conservadorismo do regime que se instalou por aqui,
apoiado pelos EUA. O interessante é que muitos jovens de esquerda, apesar de combater a
politica apoiada pelos americanos, faziam uso de seus costumes. Na música como em outras
artes a censura não foi apenas política, segundo Fortes,
Alguns artistas usavam a própria música para protestar contra a censura.
Algumas destas músicas ganharam um caráter histórico dentro do
movimento da MPB. Por outro lado, algumas canções eram censuradas
apenas por não condizer com os valores morais da época (...) é famoso
o caso de censura à canção “Tortura de Amor” de Waldick Soriano,
lançada no auge da repressão. Outro caso conhecido de censura por
razões não políticas foi a imposta a Adoniran Barbosa, que compunha de
acordo com o dialeto caipira, obrigado a corrigir as letras de suas canções
de acordo com a Gramática, caso quisesse gravá-las. Adoniran preferiu
esperar pelo fim da censura prévia para voltar a gravar.20
18 http://tropicalia.com.br/eubioticamente-atraidos/visoes-brasileiras/cultura-e-politica
19 ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de; WEIZ, Luiz. Carro-Zero e Pau-de-Arara: o cotidiano da oposição de classe média ao Regime
Militar. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia.
das Letras, 1998, p. 327.
20 FORTES, José. Artistas censurados durante a Ditadura Militar (1964-1985) http://www.meionorte.com/blogs/josefortes/artistas-
censurados-durante-a-ditadura-militar-1964-1985-108690
18
Com o endurecimento do regime a partir de 1969 a censura poderia ser total ou veto de
parte da obra, Almeida e Weiz relatam que, “só em 1969, o primeiro ano da era AI-5, foram
censurados dez filmes e cinquenta peças teatrais (...) mesmo em 1976, quando o regime acenava
com a distensão, foram censurados 74 livros – uma em cada três obras examinadas – e 29
peças”21 a divulgação de canções eram censuradas, diferente das peças teatrais, filmes ou livros
que poderiam ter parte suprimida antes do lançamento, o rigor da censura era proporcional
à importância do autor/artista de uma obra onde o intuito era calar a personalidade mais do
que censurar sua obra, “a repressão as atividades artística foi proporcional à sai importância
como veículo de critica ao autoritarismo e expressão de ideias libertarias, bem como o prestigio
público do artista”22.
A arte/cultura estava mais acessível a partir da década de 1960 com a proliferação dos
aparelhos de televisão, havia até mesmo o teleteatro na televisão brasileira neste período, as
telenovelas ganham o grande publico a partir da década de 1970, os programas de auditório
ainda faziam muito sucesso e neles se apresentavam as personalidades artísticas da época, “era
a nova cultura de massa que se instalava no Brasil, com a força da TV, o crescimento da indústria
fonográfica, a popularização do cinema nacional e mesmo do teatro”.23
Uma parte interessante dessa história esta relacionada à censura ao cinema nacional,
segundo Simões, “A censura oficial se instalou nos anos de 1920 em São Paulo, logo depois do
episodio O Crime de Cravinhos, e o administrador público (...) indicou Antônio Campos, um
homem ligado à atividade cinematográfica, para a chefia do órgão”24 , ou seja, para a cultura
cinematográfica no Brasil a censura era uma velha conhecida, Simões cita em sua obra filme
censurados em todas as décadas a partir de 1920.
21 ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de; WEIZ, Luiz. Carro-Zero e Pau-de-Arara: o cotidiano da oposição de classe média ao Regime
Militar. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia.
das Letras, 1998, p. 341.
22 ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de; WEIZ, Luiz. Carro-Zero e Pau-de-Arara: o cotidiano da oposição de classe média ao Regime
Militar. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia.
das Letras, 1998, p. 341.
23 ALMEIDA, Maria Hermínia Tavares de; WEIZ, Luiz. Carro-Zero e Pau-de-Arara: o cotidiano da oposição de classe média ao Regime
Militar. in, SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). v. 4. História da Vida Privada no Brasil: Contrastes da Intimidade Contemporânea. São Paulo: Cia.
das Letras, 1998, p. 341.
24 SIMÕES, Inimá Ferreira, A Censura Cinematográfica no Brasil. In, CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (Org.). São Paulo: Edusp, 2002, p. 350.
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Entre os casos de censura está a adaptação de Lucíola (1951), obra de José de Alencar
para o cinema, com Virginia Lane e Claudio Nonelli, com o título “Anjo do Lodo”, entre as
cenas censuradas, estão, a cena em que os personagens estão na cama, de roupa, teve que ser
extirpada porque a mão do ator estava a aproximadamente um palmo do seio da atriz, em outra
cena Virgínia, grande dama do teatro de revista, aparece nua sobre uma mesa.
Nas décadas de 1930 e 1940 a maioria dos filmes censurados foi por causa da moralidade
religiosa católica que tinha laços estreitos com Getúlio Vargas, o filme Martinho Lutero (1955)
foi censurado e não foi exibido pelo circuito comercial, as criticas se direcionaram ao governo,
pois o Estado “é” laico, outras obras censuradas se relacionam com o alinhamento da politica
externa do país, filmes ofensivos à politica dos aliados eram censurados, são inúmeros os
exemplos, o filme “Sacco e Vanzetti”, foi considerado ofensivo à justiça americana, e o filme “O
Grande Ditador” (1940), de Chaplin, ridicularizando Hitler foram censurados no Brasil.
Em 1995 o filme de Nelson Pereira dos Santos, Rio 40 Graus, foi censurado, o filme não
tratava das belezas naturais do Rio, era uma critica social, o filme era, segundo Simões,
Um cartão postal as avessas, de maneira geral a atuação da Censura
até 1964 só é percebida naqueles momentos em que as autoridades
consideram necessário evitar exibição de obras que possam prejudicar
a imagem institucional (...) ou quando são vistas como inadequadas à
moral da sociedade brasileira.25
Um filme considerado imoral para os censoros, “Os Cafajestes”, só pode ser exibido em
São Paulo e no Rio de Janeiro, mesmo assim só poderia ser visto por maiores de 18 anos,
assim como o filme francês, “Os Amantes” de Louis Malle. A diferença da censura pós 64 foi
a mudança do vetor de perseguição da ditadura que focava mais no “perigo vermelho” – os
comunistas eram a bola da vez – no entanto ainda estavam sob vigilância obras que atentavam
contra os bons costumes,
Uma pequena amostra dos novos tempos se ofereceu logo depois do
golpe, ainda em abril de 1964. O general Otávio Velho, da Agencia
Nacional, exibiu “Deus e o Diabo na Terra do Sol” de Glauber Rocha
para conhecer a reação de uma plateia seleta que incluía alguns militares.
Terminada a projeção, um oficial se levantou gritando. Ele pedia que se
queimassem os negativos daquele filme. O clima não estava favorável
aos jovens cineastas que entendiam o cinema como instrumento de
mobilização e conscientização da sociedade, propondo um cinema
distante daquele feito em estúdios, e mais adequado à realidade brasileira
e talvez por isso mesmo causando incrível impacto na cena mundial.26
O perigo vermelho foi a tônica da censura, mas a moral não sai de moda, o cineasta José
Mojica Marins, o Zé do Caixão, com seu cinema trash foi censurado pelo o filme Esta Noite
Encarnarei no Teu Cadáver, em que o ator negava a existência de Deus. Para a película ser
liberada o cineasta teve que acrescentar a frase “Deus, Deus... Sim, Deus é a verdade! Eu
creio em tua força! Salvai-me!... uma mudança radical, pois uma censora chegou a escrever no
parecer, “se não fugisse à minha alçada, seria o caso de sugerir a prisão do produtor”27.
Havia também uma grande intolerância aos trabalhos artísticos experimentais, a introdução
25 SIMÕES, Inimá Ferreira, A Censura Cinematográfica no Brasil. In, CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (Org.). São Paulo: Edusp, 2002, p. 357.
26 SIMÕES, Inimá Ferreira, A Censura Cinematográfica no Brasil. In, CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (Org.). São Paulo: Edusp, 2002, p. 360.
27 SIMÕES, Inimá Ferreira, A Censura Cinematográfica no Brasil. In, CARNEIRO, Maria Luiza Tucci (Org.). São Paulo: Edusp, 2002, p. 361.
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de novas propostas estéticas, como fez a geração da Tropicália. Os artistas eram tidos como
subversivos; a ditadura os considerava praticamente um atentado contra a moral e bons
costumes da família brasileira suas ousadias. Em tempos de mordaça, “a censura introduzia
a mais completa incerteza no cotidiano de quem fazia teatro, cinema, musica e literatura, pela
simples razão de ser arbitrária [e] imprevisível: o sinal verde podia mudar para vermelho onde
e quando menos se esperasse”28.
A sociedade cristã-ocidental passou a ser defendida pela ditadura, já que inúmeros bispos
estavam abençoando o regime, afinal o comunismo era ateu! Os censores preferiram errar pelo
excesso que pela negligencia, tudo e todos poderiam ser censurados.
No teatro, a peça “O homem do principio ao fim”, de Millôr Fernandes que continha
fragmentos da carta testamento de Getúlio Vargas e uma oração de Santa Teresa de Ávila,
além de peças estrangeiras como a montagem de “Um bonde chamado desejo” do americano
Tennessee Williams, também foram censuradas entre de outras tantas. Segundo Garcia, o teatro
produzido no Brasil a partir da década de 1950 teve como missão tirar o país do atraso cultural,
o objetivo foi “atualizar” a produção artística brasileira aos padrões estéticos do teatro produzido
no estrangeiro. Em cenas tínhamos importantes grupos teatrais que assumiram essa “missão”
como, por exemplo, os teatros: TBC, Arena, oficina e Opinião.
Na década de 1960, a discussão sobre a produção teatral encontrava-se polarizada entre
a concepção de um teatro da contracultura defendido pelo jornalista, escritor e roteirista Luiz
Carlos Maciel e o dramaturgo, ator e diretor Oduvaldo Vianna Filho, expoente do teatro nacional-
popular, Maciel criticava a geração de teatro “TBC” em contraposição ao teatro marginalizado
das décadas de 1930-1940, para Vianna deveria existir uma unidade no setor, que apesar de
existirem diferenças fundamentais entre eles, a união seria a única formula para se consolidar a
independência do teatro naquele contexto de restrições de políticas culturais.
Apesar de todas as diferenças práticas e teóricas que os grupos de teatro enfrentavam e
debatiam, na década de 1960, principalmente a partir de 1964, com o Golpe Militar, foi realizada
uma estratégia de enfrentamento aos ditadores, pois havia um inimigo comum ameaçando toda
classe artística; os artistas se articularam, e passaram a discutir questões relacionadas ao ofício
teatral,
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
A censura está presente no Brasil desde a colônia, as vezes mais e as vezes menos intensa,
também não foi o AI-5 que deu inicio a censura na ditadura, este ato institucional tornou a
censura explicita e violenta. Na década de 1960 o mundo vivia no clima das manifestações, a
classe artística brasileira no ano de 1965 elaborou uma carta manifesto endereçada ao governo
brasileiro contra a intervenção militar dos Estados Unidos na Republica Dominicana, o governo
de Castelo Branco estava apoiando os americanos. A atriz Isolda Cresta que estava encenando
na ocasião a peça “Electra” ficou incumbida de ler o protesto, ela foi presa no Departamento de
Ordem Política e Social do Rio de Janeiro.
Vários artistas da televisão, cinema e teatro assinaram um abaixa assinado contra a ação
da polícia, alegando violação dos direitos de liberdade de expressão e pensamento garantidos
pela constituição brasileira, houve vigília da classe artística em frente a carceragem do DOPS,
“nos meses que se seguiram, artistas do eixo Rio-São Paulo reagiram contra as
modificações da censura e as intervenções policiais no meio artístico”29.
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divergências acerca da manutenção da censura anunciava a tônica das
futuras interações entre os campos da política e da cultura de meados
da década de 1960 até a primeira metade da década de 1970, isto é,
o de embate direto dos governos milita¬res e representantes (in)diretos
com o setor artístico e o meio intelectual. Sem diálogo com o governo,
os artistas de teatro apostaram no apoio da sociedade e na intervenção
internacional.30
30 GARCIA, Miliandre. “Contra a censura, pela cultura”: A construção da unidade teatral e a resistência cultural (anos 1960). ArtCultura,
Uberlândia, v. 14, n. 25, p. 103-121, jul.-dez. 2012, p. 108.
31 GARCIA, Miliandre. “Contra a censura, pela cultura”: A construção da unidade teatral e a resistência cultural (anos 1960). ArtCultura,
Uberlândia, v. 14, n. 25, p. 103-121, jul.-dez. 2012, p. 109.
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Fonte : http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2014-08/comissao-da-verdade-suspeita-que-ditadura-planejava-morte-de
O que é História? Para Borges, se fizermos esta pergunta a qualquer pessoa, ela se sentirá
em condições de responder a nossa pergunta, mas se enrolará quando tentar definir o que é
história, uma definição curta e atraente que temos de Borges é que, “a história como outras
formas de conhecimento da realidade, esta sempre se constituindo: o conhecimento que ela
produz nunca é perfeito e acabado”32.
Como se faz a escrita da história? Entre os historiadores esta é uma questão muito importante,
podemos encontrar ótimos teóricos para a questão, mas na apresentação do livro de Michel de
Certeau, “A Escrita da História”, temos uma definição interessante, “Fazer história é estabelecer
uma relação com o tempo, esta relação não é nem a primeira nem a única possível”33.
Pois bem, nesta unidade, “Cultura & Arte: resistência
documentosrevelados.com.br
32 BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 9.
33 CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
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documentosrevelados.com.br
34 http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/12/envolvimento-artistas-ditadura-militar.html
35 BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 2007, p. 9.
36 CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense, 2002.
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Material Complementar
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1965 1967
Começa a era dos festivais Nova ruptura
No ano seguinte ao golpe militar, a TV Excelsior colocou nos Em certo momento, artistas passaram a planejar outra ruptura,
palcos jovens que incorporavam temas sociais em suas músicas, desta vez mais profunda. Era o tropicalismo, movimento que
destoando da bossa nova e da jovem guarda. Caetano Veloso, unia vários braços da arte e teve na música seu principal símbolo
Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Chico Buarque e outros compositores libertário.
que combatiam a ditadura são destaques.
1968 1969
Linha dura Prisões e exílio
O ano de 1968 ficou marcado pela grande repressão às ideias Depois de liberados, ainda em 1969, Gil e Caetano foram para o
contrárias ao regime. Mas, antes do decreto do AI-5, seria lançado exílio na Europa. A eles juntaram-se, em seguida, Chico Buarque,
o disco “Tropicalia ou Panis et Circensis”, reunião de Gilberto Gil, Jorge Mautner, Jards Macalé e outros artistas. Mesmo fora do Brasil,
Caetano Veloso, Os Mutantes e outros artistas fundamentais da continuaram a se manifestar contra a ditadura, com destaque
MPB. Seria, no entanto, o último suspiro do movimento. Caetano para Chico Buarque, símbolo maior da utilização de metáforas em
Veloso e Gilberto Gil foram presos pelos militares em 1969. canções que criticavam os militares. São dessa época hinos como
“Apesar de Você”, “Deus lhe Pague” e “Acorda, Amor”.
1973 1976
Espetáculo contra a repressão Supergrupo da MPB
Com alguns nomes importantes de volta ao Brasil, Jards Macalé A ditadura já dava sinais de decadência quando Gilberto Gil,
organizou um show ousado. Reuniu Chico Buarque, Gal Costa, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa uniram-se em um
Raul Seixas, Edu Lobo, entre outros, para o “Banquete dos único grupo, os Doces Bárbaros. A banda teve curta duração –
Mendigos”, espetáculo onde liam a Declaração Universal dos terminou naquele ano mesmo –, mas gravou um grande álbum
Direitos Humanos entre os números musicais. ao vivo e serviu de inspiração para a geração seguinte da MPB.
Fonte: http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2014/03/entretenimento/1482684-mpb-foi-importante-veiculo-de-contestacao-a-ditadura.html
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Artistas / Músicas censuradas durante a ditadura militar (1964-1985)
Caetano Veloso Canções-protesto
Chico Buarque
Elis Regina “Apesar de Você” ? Chico Buarque
Geraldo Vandré “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores” ? Geraldo Vandré
Gilberto Gil “Cálice” ? Chico Buarque e Gilberto Gil
Kid Abelha “É Proibido Proibir” ? Caetano Veloso
Milton Nascimento “A Banda” ? Chico Buarque
Raul Seixas “Acorda, Amor” ? Leonel Paiva e Julinho da Adelaide (Chico Buarque)
Taiguara “Que as Crianças Cantem Livres” ? Taiguara
Toquinho “Animais Irracionais” ? Dom e Ravel
Dom & Ravel “Sociedade Alternativa” Raul Seixas
Odair José
Torquato Neto
Fonte : http://www.dicionariompb.com.br/festival-nacional-de-musica-popular-brasileira-tv-excelsior/dados-artisticos
1966: II Festival da Música Popular Brasileira. Realizado no Teatro Record (SP). Prêmio Viola de Ouro.
1º lugar: “A banda” (Chico Buarque), com Chico Buarque e Nara Leão, e “Disparada” (Geraldo Vandré e Téo de Barros), com Jair Rodrigues, Trio Maraiá e Trio Novo
2º lugar: “De amor ou paz” (Luís Carlos Paraná e Adauto Santos), com Elza Soares
3º lugar: “Canção para Maria” (Paulinho da Viola e Capinam), com Jair Rodrigues
4º lugar: “Canção de não cantar” (Sérgio Bittencourt), com MPB-4
5º lugar: “Ensaio geral” (Gilberto Gil), com Elis Regina
1967: III Festival da Música Popular Brasileira. Realizado no Teatro Paramount (SP). Prêmio Sabiá de Ouro.
1º lugar: “Ponteio” (Edu Lobo e Capinam), com Edu Lobo, Marília Medalha e Quarteto Novo
2º lugar: “Domingo no Parque” (Gilberto Gil), com Gilberto Gil e Os Mutantes
3º lugar: “Roda-viva” (Chico Buarque), com Chico Buarque e MPB-4
4º lugar: “Alegria, alegria” (Caetano Veloso), com Caetano Veloso e Beat Boys
5º lugar: “Maria, carnaval e cinzas” (Luís Carlos Paraná), com Roberto Carlos e O Grupo
6º lugar: “Gabriela” (Maranhão), com o MPB-4
Outras premiações:
Melhor letra: Sidney Miller (“A estrada e o violeiro”)
Melhor intérprete: Elis Regina (“O cantador”)
Melhor arranjo: Rogério Duprat (“Domingo no parque”)
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Unidade: Cultura & Arte: resistência e complacência no período ditatorial
Outras premiações
Melhor intérprete masculino: Jair Rodrigues (“A família”)
Melhor intérprete feminino: Elza Soares (“Sei lá Mangueira”)
Melhor arranjador: Edu Lobo (“Memórias de Marta Saré”)
Outras premiações
Melhor arranjo: Paulinho da Viola (“Sinal fechado”)
Melhor letra: Luiz Gonzaga Jr. (“Moleque”)
Melhor intérprete: Antônio Marcos (“Tu vais voltar”)
Fonte : http://www.dicionariompb.com.br/festival-da-musica-popular-brasileira-tv-record/dados-artisticos
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