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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

INSTITUTO DE ARTES E DESIGN


DISCIPLINA: SEMINÁRIOS DE TEMAS TRANSVERSAIS

Georgia Luna Rodrigues Teixeira - 202195011

SÍNTESE CRÍTICA: “Carência Cultural no Brasil”

Juiz de Fora
Julho de 2023
"Enquanto se discute como enfrentar o desafio da inclusão digital, muitas cidades
brasileiras não passaram sequer pelo processo de inclusão cultural. Milhões de cidadãos
estão distantes não só dos computadores, mas também dos livros, discos e filmes."
Wolffenbüttel (2004), em seu artigo denominado “Falta acesso à Cultura”, para a revista
Desafios do Desenvolvimento explicita um dos principais problemas estruturais
encontrados no Brasil e escolhidos como temática desta síntese crítica: a Carência
Cultural.
O estopim para o desenvolvimento desse texto se deu a partir do evento e das discussões
ocorridas pós shows da banda britânica Coldplay durante sua passagem no Brasil no ano
de 2023 por causa de uma ação beneficente realizada pela ONG SP Invisível no mês de
março. A instituição beneficente, em parceria com o movimento Love Button – que conta
com voluntários e realiza ações de impacto social positivo nas cidades por onde a banda
passa – se organizaram para a distribuição de refeições aos moradores de rua da cidade.
A ONG, recebeu quatro ingressos para assistir aos shows e, internamente, optou por
presentear algumas pessoas em situação vulnerável com essa experiência.
Essa ação desencadeou diversas discussões nas redes sociais e veículos de mídia por
proporcionar o acesso dessas pessoas marginalizadas a uma vivência cultural, com
comentários fervorosos como “Essa pessoa não tem um teto onde dormir e está no
show!”; “Não se preocuparam em trazer acesso à alimentação, mas ele está lá!”, entre
outros, fazendo com que alguns fatores acerca da distribuição, consumo e estudo de
objetos culturais viesse à tona.
Entretanto, desde os anos 1990, os estudos das políticas culturais como objeto de pesquisa
acadêmica vêm aumentando, sendo estas classificadas entre políticas de dimensão
política ou políticas públicas. A primeira, diz respeito às ideologias estatais, como
populismo, fascismo ou a social democracia. Já a segunda, sobre a geração de políticas
públicas que visem a formação de identidade e preservação do patrimônio; intervenção e
regulação econômica ou; produção e difusão cultural.
Porém, existem concepções divergentes em relação às primeiras políticas culturais
implementadas no país, onde os autores citados por ANDRIETTA (2017), fazem um
balanço das ações executadas desde o Segundo Império, no século XIX. Apenas a partir
da Era Vargas (1930-1940) que há a criação de um aparato estatal e de condições para a
institucionalização da cultura no país. Essa idealização acaba por se cascatear em três
tradições que vão se mantendo ao longo da história da cultura no Brasil: A ausência desta,
por sua idealização e formulação se dar de forma tardia; seu avanço só ocorrer
expressivamente em momentos onde o autoritarismo está presente no governo e, também,
por sua instabilidade e descontinuidade ao longo dos anos.
Percebem-se altos e baixos, onde no momento pós movimento populista, autoritarista e
apelo nacional observados em 1930-74, vemos um domínio das áreas de políticas voltadas
a identidade e patrimônio nos anos de 1974-85 em ápice, com a reformulação da estrutura
pública e institucionalização da cultura no Governo Sarney, seguido pelo declínio nos
anos de 1990, com Collor, que extingue diversos órgãos criados anteriormente - para
imediatamente dois anos depois serem reintegrados. Quando avançamos para os governos
de Lula, Dilma, Temer e Jair Bolsonaro, percebemos ainda essa oscilação das ações
voltadas à cultura, com seu total desprezo e envolvimento com polêmicas no último
mandato citado.
É de conhecimento comum que os Direitos Culturais, além de serem direitos humanos
previstos expressamente na Declaração Universal de Direitos Humanos (1948), no Brasil
encontram-se devidamente normatizados na Constituição Federal de 1988 devido à sua
relevância como fator de singularizarão da pessoa humana. Como afirma Bernardo
Novais da Mata Machado, “os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos,
cuja história remonta à Revolução Francesa e à sua Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão (1789), que sustentou serem os indivíduos portadores de direitos inerentes
à pessoa humana, tais como direito à vida e à liberdade.” (MACHADO, 2007).
Todavia, podemos levantar alguns questionamentos acerca desses direitos: O acesso à
cultura é para todos? Podemos classificar essa interação ente Acesso Físico, Acesso
Econômico ou Acesso Intelectual – sendo o primeiro a facilitação a locais específicos
para o consumo de cultura, o segundo, acerca do preço e das condições financeiras da
população, que não consegue arcar e encarar esse custo de vida como algo básico e, o
terceiro, como o entendimento daquilo que está sendo consumido como objeto de cultura.
Como podemos perceber pelo caso do show do Coldplay, esse direito não está
resguardado a todos.
A partir disso, sugerem-se alguns caminhos para a resolução desta problemática. O
primeiro deles, diz respeito ao incentivo à produção cultural, como o proposto pela Lei
de Apoio à Cultura (Nº 8.313 de 23 de dezembro de 1991) e Lei Paulo Gustavo (Lei
Complementar nº 195, de 08 de julho de 2022), mas, também, de fomento ao consumo.
Além disso, podem-se promover debates sociais acerca da importância da cultura no dia
a dia e meios de torná-la acessível às minorias. Além disso, é necessário ter uma ótica
para a valorização de culturas diversas, de forma a não reforçar estereótipos regionais e
possibilitar a produção e o acesso aos diversos cantos de diversidade do país.
Referências Bibliográficas
ANDRIETTA, Gabriela. Um breve balanço de uma revisão de literatura sobre políticas
culturais no Brasil. 2017.
ASSUMÇÃO, Jéferson. Por que a Cultura incomoda Michel Temer. Outras Palavras,
2016. Disponível em:https://outraspalavras.net/sem-categoria/por-que-a-cultura-
incomoda-michel-temer/. Acesso em: 09 de mai. de 2023.
BITTENCOURT, Lúcio Nagib; SOUZA, Paulo Roberto. Políticas públicas de cultura
no Brasil: revisão e análise da produção acadêmica de 2010 a 2017. Jerônimo Pellegrini
Cláudio Penteado Paulo Souza, p. 76.
BRASIL. LEI Nº 8.313, DE 23 DE DEZEMBRO DE 1991. Restabelece princípios da
Lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura
(Pronac) e dá outras providências. Brasília, DF.
_. Ministério da Cultura. Apresentação Lei Paulo Gustavo. [Brasília]Ministério da
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CÔRREIA, Douglas. Lula assina decreto com regras de apoio ao setor cultural. Agência
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https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-03/lula-assina-decreto-com-regras-
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LOVEBUTTON. Love Button Global Movement, c2023. Love Button World Tour.
Disponível em: https://www.lovebutton.org/world-tour/. Acesso em: 08 de mai. de
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PONTES, Marcos Miranda. A desigualdade do acesso à cultura no Brasil. SABRA,
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SARTORI, Caio; MARTINI, Paula. Bolsonaro rebaixou Cultura e a transformou em
trincheira ideológica. Valor Econômico, Rio de Janeiro, 24 de dez. 2022. Política.
Disponível em: https://valor.globo.com/politica/noticia/2022/12/26/bolsonaro-rebaixou-
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2023.
O direito de Acesso à Cultura e a Constituição Federal. Observatório da diversidade
Cultural, 2011. Disponível em:
https://observatoriodadiversidade.org.br/colaboradores/o-direito-de-acesso-a-cultura-e-
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ONG vai levar quatro pessoas em situação de rua para show do Coldplay em SP. G1,
São Paulo, 16 de mar. de 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-
paulo/noticia/2023/03/16/ong-vai-levar-quatro-pessoas-em-situacao-de-rua-para-show-
do-coldplay-em-sp.ghtml. Acesso em: 08 de mai. de 2023.
O tema é... Democratização do acesso à cultura. Via Parole, 2016. Disponével em:
https://viaparole.wordpress.com/2016/08/29/o-tema-e-democratizacao-do-acesso-a-
cultura/. Acesso em: 09 de mai. de 2023.
WOLFFENBÜTTEL, Andréa. Falta acesso à cultura. Desafios para o Desenvolvimento,
Ano 1, Edição 2, 1 de setembro de 2004.

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