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Universidade de Brasília

Faculdade de Comunicação
Introdução às Teorias da Comunicação
Docente: Tiago Quiroga

Caroline Mesquita da Fonseca Cardoso – 16/0004152

ARTE, INFLUÊNCIA INTERPESSOAL E SUA RELAÇÃO COM A


COMUNICAÇÃO:
Arte e comunicação podem reforçar a inclusão no Brasil

Brasília – DF
2019
INTRODUÇÃO

A arte é um tema bastante subjetivo que permeia o território de origem do


Brasil desde a pré-história, sendo as primeiras manifestações dela datadas em
13000 a.C., as pinturas rupestres, no Piauí. Essas manifestações continuaram
acontecendo e evoluindo ao longo do tempo e de todas as etapas que o território
brasileiro e seu povo - nativo e não nativo - passaram para formar a cultura que
conhecemos atualmente.
Além disso, o papel desta arte sempre foi crucial para formar os diferentes
tipos de comunicação que aconteciam e explicam grande parte dos costumes e da
forma que os assuntos são relacionados atualmente no Brasil. Hoje, certamente, é
um instrumento chave da comunicação.
Com isso, o intuito do presente trabalho é analisar esta evolução das
manifestações artísticas, seus motivos e particularidades atrelados ao
comportamento do povo e dos acontecimentos que passaram pelos os cantos do
que hoje chamamos de Brasil, dando enfoque, principalmente, no papel da própria
arte na comunicação e na influência interpessoal afetiva e histórica.
Após revisões bibliográficas e reflexões sobre a integração destes três temas
(comunicação, arte e influência), trarei percepções, exemplos e desenvolverei ideias
para falar sobre a importância da relação entre arte e comunicação no Brasil.

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A ARTE NO BRASIL E SEU PAPEL

Como citei na introdução, as primeiras manifestações artísticas e de


comunicação humana surgiram há mais de 15 mil anos em alguns lugares como no
Piauí, Paraíba e Minas Gerais. Posteriormente, encontraram vestígios de arte
indígena na Amazônia em vasos de cerâmica e pinturas corporais. No âmbito das
artes cênicas, o início foi marcado com teatros dos jesuítas, que evoluiu para outras
formas e se propagou durante o império e, depois, o cinema, que foi fortemente
influenciado por referências inglesas e principalmente americanas.
Além disso, a literatura, as artes plásticas e a arquitetura, mesmo que ainda
com influências externas, criaram sua própria identidade e muita relevância com
grandes artistas de diversas fases como Machado de Assis, Clarice Lispector,
Aleijadinho e outros.
A partir desses fatos, percebo que, desde o início da colonização, a arte e
seus momentos têm uma influência direta no comportamento das pessoas e nos
assuntos mais relevantes. As arquiteturas e literaturas religiosas colocavam o tema
relevância e quase que onipresente na cultura da época, o que também representou
muita opressão da cultura nativa. Posteriormente, no realismo, por exemplo, as
pessoas eram mais duras e frias, enquanto que no romantismo era quase o oposto.
Ou seja, a arte certamente tem grande influência no comportamento cultural das
pessoas porque de uma sociedade no momento e, por isso, a comunicação deve se
atentar a ela para cumprir seu papel social de reduzir a imposição de ideologias
elitistas enviesadas.

As elites dominantes [...] Além de utilizar recursos de informação


abertos, são também adotadas medidas secretas. Tomam-se
precauções para impor ‘segurança’ sobre tantos assuntos políticos
quanto forem possíveis. Ao mesmo tempo, a ideologia da elite vê-se
reafirmada e são reprimidas as ideologias contrárias. (Lasswell, 1948, p.
112).

Essa influência das artes no comportamento das pessoas perpassa toda a


história do Brasil até os dias atuais, sendo o cinema e a música as mais consumidas
atualmente. As novelas brasileiras, por exemplo, têm uma grande influência e dita
referências que serão consumidas por grande parte da população brasileira, não
somente as novelas, mas grande parte dos programas e conteúdos que perpassam

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o canal da Globo, cujo alcance é gigantesco. Seguem alguns dados oficiais que
compilaram em um vídeo interno da Rede Globo:

[...] A cada 10 pessoas falando sobre TV nas redes sociais, 9 falam da


Globo. As pessoas passam 3,4 vezes mais tempo na Globo do que no
YouTube. O BBB19 gerou 13 vezes mais comentários que as séries
originais da Netflix juntas. (Vídeo disponível em:
https://twitter.com/SamTadeu/status/1141880809470795776?s=20)

Dito isso, passo a pensar que a repercussão de assuntos relevantes para as


diversas pessoas de uma sociedade depende da forma como são comunicados por
meio dessas artes influentes: Quem, diz o quê, em que canal, para quem, e com que
efeito?
Um exemplo que deu mais visibilidade para a causa LGBTQ+ é a aparição de
beijo gay em horários com maior audiência nas novelas da Globo. Isso faz com que
as pessoas tomem conhecimento de outras realidades, tenham mais empatia e
passem a aceitar essa comunidade.

ARISTOCRACIA E A INFLUÊNCIA INTERPESSOAL NA ARTE


Sendo então a arte um meio efetivo e relevante de comunicar mensagens
importantes para a sociedade brasileira, é essencial que sejam bem utilizadas e
representativas. No entanto, não é exatamente assim que acontece no Brasil,
porque artista é uma profissão culturalmente desvalorizada, seletiva e elitista. A
maior parte das visibilidades artísticas acontece por contatos, influências
interpessoais e principalmente afetivas. E como funciona em qualquer indústria
artística, quem não é visto não é lembrando e não ganha espaço. Mas será que
todos têm as oportunidades de serem vistos?
A origem desse contexto vem desde o início da República no Brasil, quando
ocorria o fenômeno do Coronelismo. Ao passo que o voto censitário se encerrou e a
tendência seria aumentar a representatividade, as elites do império passaram a criar
esquemas para manipular as eleições e se manterem no poder. Desde então, as
influências interpessoais e afetivas se fizeram muito claras nas decisões dos
brasileiros e isso se instaurou como uma cultura que se estende até os dias atuais e
se configura como uma das principais causas para a corrupção generalizada que
vivemos. Portanto, apesar dos estudos mais anteriores da comunicação dizerem que
a influência de opinião nas pessoas de um mesmo contexto social para a tomada de
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decisão é irrelevante, no Brasil, essa influência vem de muitos anos e afeta decisões
e a seletividade de verdades individuais até hoje. O estudo de Katz (1978, p. 161)
pode ser aplicado nessa relação, quando diz que as influências pessoais exercem
maior efeito quando o indivíduo vai deliberar ou decidir algo.
Por isso, a seletividade aristocrática se estende para a arte em vários
âmbitos: quem consome, produz ou ganha visibilidade, que é propagada por
influências interpessoais. Então a arte é um instrumento de comunicação e
influência da cultura e do pensamento social no Brasil, mas por conta das condições
de privilégios que claramente favorecem o sucesso nesse meio, ela ainda não é
diversa o suficiente para que todas as pessoas se sintam contempladas e
representadas ou até mesmo para que a cúpula privilegiada tome consciência de
outras realidades periféricas, que é predominante na população brasileira.
Este trabalho para aumentar a diversidade dos assuntos por meio da
comunicação e arte tem acontecido pela cultura do funk, por exemplo, que cresceu
muito durante os últimos anos e deu espaço para artistas negros da periferia
transmitirem suas mensagens e compartilharem um pouco de suas realidade.
Certamente, ainda está longe de ser uma situação ideal para dizermos que o papel
da comunicação e da arte foi cumprido no sentido da inclusão. Um caso recente que
me lembra disso é o da Mc Rebecca e o lançamento da música “Combatchy” (2019),
em parceria com Anitta, Luísa Sonza e Lexa. Rebecca é a primeira cantora negra
brasileira a alcançar o top 100 mundial no Spotify e foi reconhecida por isso, no
entanto, ela ainda sofreu ataques racistas nas redes sociais, desmerecendo a
conquista. Quando algum indivíduo culturalmente oprimido ganha visibilidade e
relevância, a repercussão e a reação são baseadas nos mesmos critérios?
A globalização, de fato, mudou as estruturas sociais em vários cantos do
mundo, trouxe tecnologia e informação abundante. Como diz Milton Santos (2002, p.
14), esse fenômeno possibilitou saber o “acontecer do outro” de maneira fácil e
instantânea, seja esse outro povos, culturas ou pessoas em qualquer lugar do
mundo. Mas ainda assim vivemos um contexto em que pequenas elites dominam
informação, ditam referências e tendências para se favorecer.

Um escritor grego disse que a democracia só funciona quando os ricos


se sentem ameaçados. Caso contrário, a oligarquia toma o poder. De pai
para filho, de filho para neto, de neto para bisneto e assim
sucessivamente. Somos uma República de famílias. (DEMOCRACIA EM
VERTIGEM, Petra Costal, 2019).
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, concluo que por conta de todo o histórico do Brasil, desde a
escravidão e desvalorização e das minorias, nos trouxe a um contexto cultural em
que a influência interpessoal, principalmente quando se trata de elites brasileiras, é
extremamente forte e afetiva, sobreposta a qualquer senso critico necessário para
lidar com a diversidade do nosso país. Muito se leva em conta a opinião de quem
está no mesmo meio e compartilha valores semelhantes, mesmo que a opinião seja
completamente isenta de embasamentos ou análises. Desde o Coronelismo que se
percebe o poder concentrado em elites que tem o objetivo maior de manter ou
aumentar seus próprios privilégios.
A arte e a comunicação, portanto, são meios que, juntos, têm potencial
enorme de dar relevância em assuntos chaves para melhorar o bem estar social no
Brasil. Diversidade e inclusão são questões diretamente relacionadas a um dos
principais problemas estruturais no país: a desigualdade social. Assim como
desconstruir qualquer tipo de discriminação pode ajudar a quebrar a seletividade
movida pelas relações afetivas e status social que ainda hoje determinam quem tem
poder, lugar de fala e portanto possibilitam os inúmeros casos de corrupção.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LASSWEL, Harold D. A estrutura e a função da comunicação na sociedade.


Tradução de Gabriel Cohn. The Comunications of ideas, Nova York, Harper &
Brothers, 1948
DEMOCRACIA EM VERTIGEM. Direção: Petra Costa. 2019
KATZ, Elihu. O estudo da comunicação e a imagem da sociedade. In
Comunicação e indústria cultural. 4. ed. Gabriel Cohn (Org.). São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1978.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização: do pensamento único à
consciência universal. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002.
GAUDÊNCIO, Martha. O que é Coronelismo?. Politize, 2017. Disponível em:
<https://www.politize.com.br/coronelismo-entenda-o-conceito/>. Acesso em: 01 de
dez. de 2019.
CARVALHO, Paulo. Globo Destaca Números Impressionantes na Internet e Humilha
Netflix. RD1, 2019. Disponível em: <https://rd1.com.br/globo-destaca-numeros-
impressionantes-na-internet-e-humilha-netflix/>. Acesso em: 24 de nov. de 2019.
https://twitter.com/SamTadeu/status/1141880809470795776?s=20

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