Você está na página 1de 27

BARBALHO, Alexandre.

Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a


politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a politização do campo cultural no


Brasil contemporâneo

DOI: https://doi.org/10.22409/pragmatizes.v12i23.53266

Alexandre Barbalho1

Resumo O objetivo deste artigo é apresentar a tese de que, a partir de 2003, com o início do governo
Lula, do Partido dos Trabalhadores (PT), e da gestão de Gilberto Gil à frente do Ministério da Cultura
(MinC), ocorreu um processo singular de politização do campo cultural brasileiro. Para tanto, aborda a
cultura política que sustenta o “modo petista de governar” e seus efeitos para a política cultural da era
petista. Na sequência, analisa o esforço do MinC em institucionalizar a cultura como objeto de
políticas públicas
úblicas de Estado. Por fim, analisa dois momentos paradigmáticos de expressão da
politização do campo cultural: a oposição à gestão da ministra da Cultura Ana de Hollanda no
primeiro governo Dilma e a reação à tentativa de extinção do MinC no governo Temer.
Temer

Palavras-chave:: campo cultural; campo político; política cultural; Brasil.

Sobre “fenómenos políticos curiosos”: la politización del campo cultural en el Brasil


contemporâneo

Resumen:: El objetivo de este artículo es presentar la tesis de que, a partir


partir de 2003, con el inicio del
gobierno de Lula, el Partido de los Trabajadores (PT), y la gestión de Gilberto Gil al frente del
Ministerio de Cultura (MinC), ocurrió un proceso de forma singular de politización del campo cultural
brasileño. Para tanto, aborda da la cultura política que sustenta la “forma de gobernar del PT” y sus
efectos en la política cultural de la época del PT. A continuación, analiza el esfuerzo del MinC por
institucionalizar la cultura como objeto de las políticas públicas del Estado. Finalmente,
Fina analiza dos
momentos paradigmáticos de expresión de la politización del campo cultural: la oposición a la gestión
de la ministra de Cultura Ana de Hollanda en el primer gobierno de Dilma y la reacción al intento de
extinción del MinC en el gobierno de Temer.

Palabras clave:: campo cultural; campo político; política cultural; Brasil.

About “curious political phenomena”: the politization of the cultural field in contemporary
Brazil

Abstract:: The purpose of this article is to present the thesis that, from 2003, with the beginning of the
Lula government and the administration of Gilberto Gil at the Ministry of Culture (MinC), a singular
process of politicization of the Brazilian cultural field took place. Therefore, it addresses the political
culture that sustains the “petista way of governing” and its effects on the cultural policy of the Workers
Party era. Next, it analyzes the MinC's effort to institutionalize culture as an object of State public
policies. Finally, it analyzes two paradigmatic moments
moments in the expression of the politicization of the

1
Alexandre Almeida Barbalho. Professor dos PPGs em Sociologia e em Políticas Públicas da UECE.
Líder do Grupo de Pesquisa em Políticas de Cultura e de Comunicação (CULT.COM). E-mail:
E
alexandrealmeidabarbalho@gmail.com - https://orcid.org/0000-0003-4612-6162

Recebido em 23/02/2022, aceito para publicação em 18/07/2022,


18 22, disponibilizado
disponibiliz online em
01/09/2022.

225
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

cultural field: the opposition to the administration of Minister of Culture Ana de Hollanda in the first
Dilma government and the reaction to the attempt to extinguish the MinC in the Temer government.

Keywords:: cultural field; political field; cultural policy; Brazil.

Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a politização do campo cultural no


Brasil contemporâneo

O objetivo deste artigo é populares3. O segundo concerne ao


sistematizar a tese, já esboçada em progressivo manuseio, por parcela
trabalhos anteriores2, de que, a partir considerável de agentes do campo
de 2003, com o início do governo de cultural, de mecanismos, valores,
Luís Inácio “Lula” da Silva, do Partido repertórios e controvérsias próprios
próprio ao
dos Trabalhadores (PT), e da gestão campo político, tais como “eleição”,
do músico e compositor Gilberto Gil à “representação”, “deliberação”,
frente do Ministério da Cultura (MinC), “participação”, “consulta pública”,
se iniciou um processo singular de “democracia direta”, “plebiscito” etc4,
politização do campo cultural brasileiro que passaram a circular no circuito
a partir de dois movimentos principais. interno ao campo constituindo uma
O primeiro refere-se
se à crescente nova doxa.
incorporação, desde aquele ano, de Se é possível falar que
setores da sociedade civil e suas princípios
rincípios de divisão ou de valores
agendas anteriormente pouco ou nada podem ser importados de outro campo
contemplados pelas políticas públicas ou importados por um campo, esse
de cultura, como, por exemplo, conjunto de “palavras de ordem” da
movimentos LGBTQIA+, negros,
3
Exemplar é a institucionalização das
feministas, indígenas e das culturas agendas culturais do movimento LGBTQIA+
via política cultural em âmbito federal (MUNIZ
JÚNIOR; BARBALHO, 2020).
4
Valores que, por sua vez, foram se impondo
2
Nessas primeiras reflexões, a principal chave como doxa dominante entre os políticos com o
analítica era a da crise que a política cultural retorno à democraciaia em 1984, após vinte
vivenciou a partir do primeiro governo de anos de regime militar, e à promulgação da
Dilma Rouseff à frente da Presidência da Constituição da República Federativa do Brasil
República (2011-2014).
2014). A esse respeito ver de 1988,, conhecida como “Constituição
Barbalho (2018; 2017a; 2017b). Cidadã”.

226
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

política foi introduzido no campo De modo que, como se verá nas


cultural e nesse campo híbrido ou próximas seções, esses agentes
submeta-campo estatal que é o da recém-chegados
chegados se empenharam por
5
política cultural , a partir da chegada implementar a proposta do candidato
no MinC de uma nova elite dirigente Lula para o setor expressa no
que conquistou o monopólio de documento de campanha “A
distribuição do poder público e do uso imaginação
ação a serviço do país” por
legítimo dos recursos políticos daí meio do “modo petista de governar”,
advindos, incluindo o de promulgar uma categoria nativa elaborada pelos
atos de Estado que pretendem exercer intelectuais do PT para designar o seu
efeitos sobre a soc
sociedade modus operandi de gestão da coisa
(BOURDIEU,, 1989; 2011; 2012), como pública.
é o caso dos diversos programas, O referido fenômeno se
ações e editais lançados pelo diferencia de outros quatro, que lhe
Ministério. são próximos e não excludentes. O
Esse submeta-campo
campo, tal como primeiro é o da participação dos
os demais campos e subcampos, deve intelectuais como agentes do meta-
meta
ser entendido como campo de forças e campo estatal,, desempenhando
de lutas que buscam transformar a funções administrativas como
relação
ção de poder que lhe confere a funcionários efetivos ou em cargos de
estrutura em determinado momento. confiança em órgãos não

5
necessariamente ligados à cultura6.
É fundamental levar em consideração os
necessários cruzamentos de interesses entre O segundo é o da configuração
agentes de ambos os campos (político e
cultural) e aqueles que os integram de um campo cultural politizado,
politizado ou
simultaneamente ao atuarem como
elaboradores das políticas culturais. Isso é seja, do posicionamento e atuação dos
possível porque o Estado, como detentor de agentes culturais na esfera pública a
meta-capital,
capital, concentra capital político,
econômico, social e cultural. Torna-se,
Torna assim, partir de pautas e agendas do campo
um espaço de convergência e embate entre os
diversos campos; um poder acima dos outros político como exemplifica o contexto,
poderes, um meta-campo
campo (BOURDIEU, 2012).
A relação do meta-campo
campo estatal com os no Brasil, dos anos 1950 e,
agentes culturais se dá por meio das políticas
governamentais de cultura e o controle desse principalmente,
te, 1960, com o
recurso fundamenta e ocasiona lutas
6
permanentes no interior dos campos político e A esse respeito ver, por exemplo, Miceli
cultural. (1979), Sevcenko (1983) e Pécaut (1990).

227
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

engajamento desses agentes em torno reconhecimento. A culturalização do


da pauta do nacional
nacional- campo político nessa pe
perspectiva
desenvolvimentismo e das reformas assume, em geral, a forma de guerras
estruturais de base (reforma agrária, culturais,, tais como as que se dão no
reforma sindical etc.)7. Brasil contemporâneo e que têm no
O terceiro fenômeno, de ordem episódio do cancelamento da
estética, é o da produção cultural exposição Queer museu – Cartografias
politizada, quando oss artistas da Diferença na Arte Brasileira um
incorporam, de modo explícito ou caso emblemático. Tendo entrado em
implícito, mensagens políticas e cartaz no Santander Cultural em Porto
sociais nos conteúdos e nas formas de Alegre, capital do Rio Grande do Sul,
suas obras. Em alguns períodos em agosto de 2017, com previsão de
específicos, essa qualidade se ressalta permanecer por dois meses, a mostra
diante do fruidor, como, por exemplo, a foi encerrada um mês depois após
preocupação social expressa de modo manifestações contrárias, presenciais
recorrente nas artes visuais brasileiras e nas redes sociais, por parte de
entre os anos 1930 e 1970
70 (AMARAL,
(AMARAL vários movimentos, alguns auto
auto-
1984). definidos como “liberais”, a exemplo do
Por fim, o quarto fenômeno é o Movimento Brasil Livre (MBL) –
da culturalização do campo político,
político movimento que iria lançar candidatos
um movimento inverso, mas não para o poder legislativo nas eleições
contrário, àquele da politização do do ano seguinte.
campo cultural. Pode-se
se identificar
identific Aventa-se
se aqui a hipótese de
dois processos sob esse mesmo que o recrudescimento crescente das
fenômeno. Um é a incorporação pela guerras culturais vivenciado no país se
política de temas, questões e relaciona com a politização do campo
controvérsias próprias ao campo cultural8 e a visibilidade e autoridade
cultural como os debates ligados à
8
Para uma análise mais ampla das guerras
relação entre estética, moral e culturais no contexto brasileiro, inclusive em
sua relação com as políticas culturais, ver,
entre outros, Gallego, Ortellado e Moretto
7
A esse respeito ver, entre outros, Hollanda e (2017), Domingues, Paula a e Silva (2018),
Gonçalves (1986),
986), Coutinho (1979), Miceli, Domingues e Paula (2019), Domingues e
(1985) e Schwarz (1978). Lopes (2014) e Miguel (2018).

228
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

de agendas identitárias e de uma sociedade estruturada em rede e


reconhecimento próprias às políticas ambientada pela mídia ou seja, “na
ela mídia,
culturais das minorias (BARBALHO
BARBALHO, tentacular presença da mídia e das
2010), tais como legalização do redes midiáticas e na dimensão
aborto, cotas raciais e sociais, pública de sociabilidade conformada
expressão pública das sexualidades, por elas que se transforma no
casamento homoafetivo, demarcação ambiente, por excelência, da
de terras quilombolas, proteção atualidade e de sua experiência
jurídica das culturas indígenas, singular de vida” (RUBIM,
(RUBIM 2003, p. 14-
reconhecimento e consagração do 15).
saber e das artes populares etc. Esse Compreende-se
se que as
novo arranjo de forças, acredita-se,
a fronteiras que delimitam esses cinco
incomodou e provocou a reação de fenômenos (participação
participação dos
setores conservadores e até mesmo intelectuais como agentes do
liberais da sociedade brasileira. metacampo estatal;; campo cultural
O outro fenômeno subsidiário à politizado, produção cultural politizada,
culturalização do campo político ocorre culturalização do campo político e
quando seus agentes incorporam os politização do campo cultural)
cultu são
procedimentos da produção cultural ou bastante tênues, permitindo a
mais especificamente publicitária sobreposição entre eles e criando
visando atrair a atenção e adesão do zonas híbridas. Contudo, a tipologia
público, geralmente identificado como responde ao desafio de demarcar,
eleitor, às ideias e seus porta-vozes
porta para fins heurísticos, a singularidade
que estão em disputa no campo. Esse da politização do campo cultural,
cultural tal
fenômeno tem recebido várias como definido no início desta seção,
denominações, mas talvez a mais ante esses outros acontecimentos que
apropriada seja espetacularização da lhe são afins.
política.. Não se trata aqui da relação Para sustentar a tese da
inespecífica entre espetáculo e política politização do campo cultural, o artigo
que remete, no mínimo, à Grécia se organiza em quatro seções, além
antiga, como situa Albino Rubim, e sim desta introdução e das considerações
de seu formato contemporâneo em finais. Na primeira, aborda-se
aborda a cultura

229
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

política que sustenta o “modo


modo petista país: Programa de políticas públicas
de governar” e seus efeitos para a de cultura”. De acordo com o
política cultural do Governo Federal documento, as propostas
durantes os governos do PT (2003-
(2003 apresentadas se fundamentaram no
2016). Na sequência, analisa
analisa-se “acúmulo
acúmulo teórico e político realizado
algumas das ações fundamentais para pelo partido [dos Trabalhadores], da
esse processo e que se relacionam elaboração dos grupos culturais, das
com o esforço de institucionalizar a experiências concretas de nossas
cultura como objeto de políticas administrações
istrações populares e da
públicas de Estado, a saber, a colaboração voluntária de estudiosos
realização das Conferências, a das questões culturais” (PARTIDO
elaboração do Plano e a DOS TRABALHADORES, 2002, p. 18
implementação do Sistema Nacional – itálicos meus). Em outras palavras, o
de Cultura. Na terceira parte, discute-
discute programa relaciona-se
se a um conjunto
se a forma como se expressou a prévio de discursos competentes
politização do campo ainda na (CHAUÍ,, 1989) denominado
denomina “modo
vigência
gência do ciclo petista durante a petista de governar” que diferenciaria o
gestão da ministra da Cultura Ana de PT do restante do espectro político-
político
Hollanda no primeiro governo de Dilma partidário brasileiro.
Rousseff (2011-2014).
2014). Por fim, A construção desse modelo
analisa-se
se como o campo reagiu à iniciou-se
se no final do anos 1980,
tentativa de extinção do MinC no quando o PT assumiu a gestão de
governo de Michel Temer (2016-2018).
(2016 vários municípios, incluindo capitais,
com destaque para
ra a cidade de São
Seção 1 Paulo. Com o objetivo de sistematizar
As bases conceituais mais as experiências das gestões
imediatas das políticas do MinC a municipais petistas, organizou-se,
organizou em
partir do primeiro governo Lula (2003-
(2003 1992, um ciclo de seminários setoriais
2006) devem ser buscadas em seu e o de cultura foi coordenado pela
programa de cultura como candidato à filósofa Marilena Chau
Chauí, então
Presidência da República em 2002, secretária de Cultura de São Paulo, e
intitulado “A imaginação a serviço do

230
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

Luiz Roberto Alves9. Chau


Chauí tinha Constituição de 1988
88 no que diz
elaborado a noção de “cidadania respeito à cultura, colocando-a
colocando como
cultural”, considerada pelo petistas “direito fundamental”.
como a “primeira referência teórica A referência ao “modo petista
mais sólida que resultou de uma de governar” e ao documento de
experiência de gestão” (LIMA,
(LIMA 2016, p. campanha se justifica por serem
42), pois o que havia, até então, era indicativos dos valores da democracia
mais uma “pauta” derivada dos e da cidadania culturais que guiarão a
debates com os movimentos culturais. nova elite dirigente do MinC. Dessa
O documento que resultou forma,, o programa previa, entre outras
desse encontro recomenda alargar o acões, a implantação do Plano e do
conceito e o campo da cultura e Sistema Nacional de Política Cultural
entendê-la
la como “direito do cidadão” e por meio de uma gestão democrática,
apresenta um conjunto de propostas com criação de mecanismos de
que deveria fundamentar
ar a ação dos participação popular como os
governos do partido no setor, entre as conselhos gestores de política pública.
quais a criação de conselhos Os militantes do PT, agora
municipais de cultura (BITTAR, 1992). convertidos em dirigentes culturais10,
O “A imaginacão a serviço o país” trataram de implementar o programa e
funcionou, portanto, como uma foram, em grande parte, os
atualização e um ajuste do “modo responsáveis por fazer valer na lógica
petista de governar” a cultura ao de operação do MinC aqueles
contexto
xto federal. Na avaliação do mecanismos, valores, repertórios e
antropólogo Márcio Meira (2016), um controvérsias
érsias destacados na
dos redatores do programa, o introdução. Pode-se
se dizer, com
documento enfatiza a “gestão pública Bourdieu (2011), que as ações
e democrática” e o papel do Estado e idealizadas e implementadas por estes
é herdeiro de “condicionantes agentes tinham seu princípio no
históricos”, entre os quais o avanço da
10
É significativo que o PT realize nessa
9
Luiz Roberto Alves é professor da conjuntura (2003) sua primeira Conferência
Universidade de São Paulo (USP) e filiado ao Nacional de Cultura e que dela surja a
PT. Secretaria Nacional de Cultura do partido.

231
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

campo político e com isso operaram consulta pública etc.)) em detrimentos


mudanças de paradigmas e de visão e de outros (leis de incentivo, mercado,
de divisão na cultura. Ocupando marketing cultural, captação privada
privad
cargos
argos estratégicos de direção, de recurso etc.)) estabelecendo uma
alteraram os princípios de nova axiomática que demandava
pertencimento à política cultural e, se competências e tomadas de posição
não chegaram a desqualificar os específicas.
agentes que já faziam parte dela, Como lembra Bourdieu, “a
incluíram “companheiros” que, como política [e a política cultural,
eles, nunca tinham ocupado espaços acrescenta-se]
se] é uma luta em prol de
mbito federal11.
de poder no setor em âmbito ideias, mas um tipo de ideias
Isso implicou em uma absolutamente particular,
rticular, a saber, as
modificação dos limites da política ideias-força,
força, ideias que dão força ao
cultural e, por consequência, do funcionar como força de mobilização”.
acesso a esse sistema de políticas Deste modo, continua o autor, “se o
públicas. Ao permitir que os recém-
recém princípio de divisão que eu proponho
chegados pudessem exercer efeitos for reconhecido por todos, se meu
no campo, houve uma conjuntura nomos se tornar o nomos universal, se
favorável para o rearranjo das crenças todos virem o mundo como eu o vejo,
em jogo com o estímulo a terei atrás de mim toda a força das
determinados valores e práticas pessoas que compartilham
partilham minha
(participação, representação, visão” (BOURDIEU,, 2011, p. 203). Os
deliberação, democracia direta, agentes, portanto, colocaram no jogo
político-cultural
cultural novos princípios de
11
É bem verdade que nos governos de visão e de divisão transformando o
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002),
(1995 do estado do campo.
Partido da Social
cial Democracia Brasileira
(PSDB), a elite dirigente da cultura também
esteve sob liderança de intelectuais petistas, a
exemplo do próprio ministro Francisco Weffort Seção 2
e do seu principal secretário José Álvaro
Moisés, ambos cientista políticos e Mobilizados por e mobilizando
professores da USP. Contudo, licenciados do
partido para assumir os cargos, esses agentes essa nova doxa,, já em 2003 o MinC
não fizeram valer a cultura política do “modo realizou vinte encontros em vários
petista de governar”. A esse respeito ver
Barbalho (2022). estados do seminário “Cultura para

232
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

Todos” que, pensado para discutir um Conferências


onferências Nacionais de Cultura, o
novo modelo de financiamento cultural, Sistema Nacional de Cultura e o Plano
funcionou como uma espécie de Nacional de Cultura.
ausculta de várias outras demandas A realização da I Conferência
do campo. No ano seguinte, foram Nacional de Cultura (I CNC) em 2005
instituídas as Câmaras Setoriais que foi a primeira ação de maior alcance
resultariam nos colégios setoriais do desse esforço. Com o sugestivo
Conselho Nacional de Política Cultural subtítulo de “Estado e sociedade
soci
em sua reformulação em 2005. construindo políticas públicas de
Estabelecendo uma interlocução direta cultura” (BRASIL,, 2007), a I CNC foi
entre o ministério
io e os representantes antecipada por uma ampla mobilização
das linguagens artísticas (
(Música, nacional. Foram realizadas 376
Artes Cênicas, Artes Visuais e Livro e conferências municipais em todo o
Leitura),, as Câmaras Setoriais foram território nacional, com exceção do
fundamentais para a constituição de estado do Acre, com a participação de
vínculos internamente às e entre as 29.063
063 membros da sociedade civil,
áreas artísticas historicamente 8.441 representantes do poder público
caracterizadas pela
a desarticulação. e 5.866 convidados; e 67 conferências
Não é possível arrolar e analisar intermunicipais envolvendo 821
todas as políticas, programas e ações municípios, 6.537 membros da
que favoreceram a participação, a sociedade civil, 2.173 representantes
representação e/ou a deliberação dos do poder público e 1.087 convidados.
agentes nas decisões acerca das Em âmbito estadual,
adual, foram realizadas
políticas culturais em âmbito federal. 20 conferências, incluída a do Distrito
Desse modo, privilegia
privilegia-se na Federal12, com a participação de 4.797
apresentação que segue aquelas que membros da sociedade civil, 1.497
tinham o potencial não apenas de representantes do poder público e 801
abranger todo o território nacional, convidados. Ocorreram ainda 5
mas também de institucionalizar as
políticas para o setor de modo a 12
Não realizaram conferências os estados do
transformá-las
las em políticas de Estado Amazonas, Goiás, Pará, Rondônia,
Rondôn São Paulo
e Sergipe. Roraima realizou sua conferência
e não somente de governo, a saber: as estadual em 2006.

233
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

seminários setoriais de cultura, um em conferências livres com mais de 1.200


cada região do
o país (Norte; Nordeste; participantes e 143 pré-conferências
pré
Centro-Oeste,
Oeste, Sudeste e Sul), que setoriais com 743 delegados eleitos; e
mobilizaram 581 participantes. a Conferência Nacional reuniu 1.400
Segundo Meira, que assumiu a participantes.
Secretaria de Articulação Institucional Por fim, a III CNC, realizada em
(SAI) do MinC na primeira gestão de novembro de 2013, com o tema geral
Gil (2003-2006)13 e liderou a “Uma política de estado para a cultura:
realização da I CNC, a iniciativa
iniciativ desafios do Sistema Nacional de
representou, na esfera da gestão Cultura” (BRASIL,, s/
s/d), envolveu
pública federal de cultura, o aproximadamente 450 mil
reconhecimento da “participação direta participantes durante a realização das
da sociedade para a formulação de conferências municipais,
políticas públicas e a formação e a intermunicipais, territoriais, regionais,
consolidação de uma política
polít cultural estaduais e livres. Foram feitas 1.974
democrática” (MEIRA,, 2007, p. XIV). conferências preparatórias para a
A II CNC,
C, realizada em março nacional em 2.991 municípios assim
de 2010, com o subtítulo de “Cultura,
“ distribuídas:
ibuídas: 1.701 municipais, 170
diversidade, cidadania e intermunicipais, 41
desenvolvimento” (BRASIL
(BRASIL, 2010), territoriais/regionais, 35 livres e 27
apresenta números superiores em estaduais. A etapa nacional congregou
termos de engajamento por parte dos 953 delegados, 162 convidados e 391
agentes do campo: 3 mil cidades observadores.
realizaram conferências municipais Os dados do relatório final da III
com 206.400 participantes; todos os CNC (BRASIL,, s/d) sobre a
estados realizaram suas conferências repercussão do evento
vento nas redes
estaduais, envolvendo 10.400 sociais revelam seu amplo alcance,
participantes; foram realizadas 26 para além do público presencial.
Tomando como referência o Twitter,
13
Gilberto Gil foi ministro da Cultura de 2003 a
2008, quando foi substituído por seu secretário que foi o principal meio de
executivo, o sociólogo Juca Ferreira, que comunicação e integração da
permaneceu no cargo até o final do segundo
segund
governo de Lula (2010). Conferência, a penetração das

234
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

publicações ultrapassou os 15 milhões produção


o da decisão” (BOURDIEU,
(BOURDIEU
de internautas.
s. Com o s/d). É forçoso lembrar que a
compartilhamento da hashtag #3CNC, integração em um só momento de
o engajamento chegou a 833.616 procedimentos de inclusão de
perfis e o potencial de penetração foi diferentes vozes, de tomada de
de 16.959.933 perfis. O documento decisão após debate público e de
informa ainda o engajamento de eleição de representantes não é algo
diversas contas, tanto da sociedade usual mesmo em regimes
civil, quanto do poder público, democráticos (FAR
FARIA; PETINELLI;
estabelecendo
endo uma mobilização pelas LINS, 2012; POGREBINSCHI;
redes que resultou na participação de SANTOS, 2011).
mais de 1.000.000 de perfis ativos. Uma segunda linha de atuação
Como se observa, as três CNCs do MinC que promoveu a politização
mobilizaram milhares de pessoas em do campo cultural brasileiro foi o
todo o país em um espaço institucional processo de discussão, elaboração e
de participação e de construção implementação do Sistema Nacional
democrática da política
tica cultural onde de Cultura (SNC) e seus congêneres
congêne
puderam não apenas escolher estaduais e municipais iniciado em
representantes (delegados municipais 2003 e ainda em curso. O SNC é um
e estaduais), mas debater e deliberar instrumento que objetiva estabelecer,
no que diz respeito às resoluções sociedade um
em conjunto com a sociedade,
tomadas em cada uma delas. As sistema federativo de políticas públicas
CNCs assumiram, pela metodologia específico para a cultura, integrando
que adotaram e pelos fins que as esferas federal, estaduais e
perseguiram, feição participativa, municipais e que exige, dos entes que
deliberativa, normativa e aderirem ao Sistema, a criação de
representativa, vocalizando e mecanismos mínimos para o seu
agregando os interesses presentes na funcionamento (órgão gestor,
sociedade em escalas diferenciadas conselho, plano e fundo de cultura).
(municipal, estadual e nacional) A proposta do SNC, liderada no
(POGREBINSCHI;
POGREBINSCHI; SANTOS, 2011) e interior do MinC pela SAI, teve que
permitindo um outro “modo d
de conquistar a adesão dos agentes dos

235
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

campos cultural e político. Roberto estatísticas disponíveis pelo MinC e


Peixe, que foi secretário da SAI no pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
primeiro governo de Dilma Rousseff
Roussef Estatística,, 2.642 municípios aderiram
(2011-2014),
2014), avalia a implantação do ao SNC (47,4% do total); 2.351
Sistema como uma “batalha” que (42,2%) possuíam conselhos de
“progressivamente se espalhou por cultura; e 1.289
89 (23,1%) realizaram
todo o país (...) tornando-se
se ao
a longo conferências municipais entre 2014 e
dos últimos anos o principal desafio na 2018, ou seja, após a realização da III
área da cultura das administrações CNC (SEMENSATO; BARBALHO,
estaduais e municipais brasileiras”
brasileiras 2021).
(PEIXE, 2016, p. 222). Outra ação implementada pelo
A despeito da dimensão do MinC que envolveu um amplo
esforço envolvido, pode-se
se afirmar que engajamento dos campos político e
a tarefa resultou vitoriosa, pois se cultural foi a elaboração e aprovação
alcançou, entre
ntre 2003, início do do Plano Nacional de Cultura (PNC).
primeiro governo de Lula, e 2016, Seu transcurso demandou, desde o
quando a presidenta Dilma é impedida início, uma articulação do Ministério
de continuar no cargo, um razoável com o Congresso Nacional que
consenso em torno do SNC entre os resultou na aprovação em 2005 da
gestores públicos estaduais e Emenda Constitucional N. 48 que
municipais e agentes do campo acrescenta o § 3º ao art. 215 da
cultural em todo o país. Em outras Constituição Federal, instituindo o
palavras, ocorreu uma ampla PNC.
identidade dos agentes com esse No ano seguinte, 2006, se
instrumento por sua capacidade de iniciou a elaboração das diretrizes
articular a seu favor diferentes gerais do PNC por meio de audiências
posições político-culturais
culturais em torno de públicas na Câmara dos Deputados e
valores como “participação”, de consultas à sociedade, com a
“cidadania” e “democracia” realização de seminários nas
(BARBALHO,, 2019). Essa afirmação Assembleias Legislativas dos estados
est
se constata nos números mais e a disponibilização de uma plataforma
recentes acerca do SNC. Segundo as na internet para receber contribuições

236
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

diretamente dos cidadãos. separação entre profissionais e


Participaram dos 26 seminários profanos na política, Bourdieu ressalta
estaduais, mais o do Distrito Federal, que “las oportunidades de interesarse
cerca de 5 mil pessoas que debateram en la política están muy desigualmente
e sugeriram mudanças na redação da repartidas
tidas según todos tipos de
proposta. variables (...) La distribución, pues, del
Segundo avalia Lia Calabre, “o acceso a los medios de participar en la
processo contínuo de consultas política
ítica es muy desigual” (BOURDIEU,
(BOURDIEU
públicas e de envolvimento de s/d, p. 2). Em alguma medida, as
diversos atores e segmentos sociais CNCs, o SNC e o PNC aplainaram
tendeu a aumentar o grau de esse desnivelamento, diminuindo a
compreensão, a aproximação e a “concentração do capital político nas
garantir uma apropriação maior do mãos de um pequeno grupo” e
PNC pela sociedade”
ciedade” (CALABRE
(CALABRE, tornando menos “desapossados de
2013, p. 10). Avaliação próxima da de instrumentos materiais e culturais
Guilherme Varella (2014) para quem a necessários à participação
participa ativa na
versão final do PNC, materializada na política” os “simples aderentes”
Lei 12.343 de 2010, buscou (BOURDIEU,, 1989, p. 164).
contemplar a diversidade cultural Em outras palavras, a prática
existente no país ao internalizar das conferências, dos conselhos e de
demandas plurais por meio dos vários outros fóruns de participação e
momentos participativos
articipativos e deliberação promovidos pelo MinC,
deliberativos pelos quais passou. espaços políticos por excelência,
Todas essas políticas, entre foram formando oss agentes culturais
outras, não apenas otimizaram em um novo habitus,, um novo domínio
oportunidades de participação e de prático com seus saberes,
deliberação a todo um conjunto de capacidades e competências
agentes até então excluídos desse específicos. Na sua etnografia de
processo, como sensibilizaram outra instituições participativas na cultura em
parcela que não via a política, e muito âmbitos federal, estadual e municipal
menos a política pública, ao alcance que realizou entre 2011 e 2014,
de sua intervenção. Ao falar da Lorena
orena Muniagurria percebeu o

237
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

estabelecimento, entre os que Seção 3


circulavam por esses ambientes, de O primeiro governo de Dilma
sentidos estáveis acerca do “Estado”, Rousseff (2011-2014),
2014), ainda que
da “sociedade civil”, da “cultura representando uma continuidade dos
brasileira”, entre outras categorias. governos de Lula, trouxe mudanças
Nesses deslocamentos de agentes significativas no que se refere às
pelo país, participa
participando de políticas culturais. Não cedendo à
conferências, seminários, reuniões, pressão de vários setores pela
foram sendo instituídos permanência do então ministro da
“representantes e coletivos, demandas Cultura
tura Juca Ferreira, a presidenta
e agendas, identidades e nomeou para o cargo Ana de
pertencimentos, além de Hollanda. Reconfigurando a
entendimentos mais ou menos composição das forças políticas no
compartilhados do que seja cultura, interior do MinC, propondo novas
política e política cultural” pautas, dando continuidade a
(MUNIAGURRIA,, 2018, p. 54). programas anteriores e enfraquecendo
Uma vez indicados alguns dos ou mesmo extinguindo outros,
elementos que proporcionaram a Hollanda
da provocou um forte
cultural analisa-
politização do campo cultural, movimento de oposição, inclusive
se, nas seções seguintes, dois interno, à sua gestão que terminou por
momentos paradigmáticos de afastá-la
la do cargo em setembro de
expressão desse estado do campo, 2012.
quando seus agentes se mobilizaram Quando se deu o anúncio por
para se contrapor
ontrapor ao que entendiam sua escolha, a indicação foi bem
como uma mudança nos rumos de recebida, afinal tratava-se
tratava não de uma
atuação do MinC, durante a gestão da outsider e sim de alguém
algué do próprio
ministra da Cultura Ana de Hollanda campo, com longa atuação na gestão
(2011-2012),
2012), e para defender a cultural, além de deter capitais familiar,
permanência do ministério frente à sua social e cultural que a legitimavam
extinção no início do governo Temer. para o cargo14. Contudo, não tendo

14
Filha do sociólogo Sérgio Buarque de
Hollanda e irmão do cantor Chico Buarque,

238
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

formação partidária, nem vivido no encaminhadas pelo MinC ao


centro dos debates que mobilizaram o Congresso Nacional na gestão
MinC desde 2003, Hollanda
da não tinha anterior, sinalizando que deveriam ser
incorporado a politização do campo revistas.
evistas. Em reação, um grupo de
cultural e não conseguiu (re)conhecer agentes ligados à cultura digital,
o espaço das tomadas de posição, muitos deles vinculados a
presentes ou virtuais, que estava em universidades ou a coletivos e espaços
jogo e seus princípios de divisão. Ao culturais não governamentais, lançou
desconhecer os princípios que regiam uma “carta aberta” defendendo a
esse espaço, a ministra se
s revelou continuidade das políticas para o
uma “desavisada” (BOURDIEU,
(BOURDIEU 1989) setor15. Na sequência desse episódio,
e não soube se decidir pelas posições e já como ministra, um dos primeiros
que eram, naquele estado do campo, atos de Hollanda foi retirar o site do
convenientes e convencionadas, e ministério da licença Creative
optou por aquelas que a Commons.
comprometeram, em alguns aspectos, Com esses movimentos, de
com os que se opunham aos novos pouco alcance prático, mas de forte
valores vigentes. simbologia, pois revelavam seu poder
Hollanda começou a provocar de nomeação, a ministra se indispôs
controvérsias, ainda como indicada ao com os ativistas que tinham se
cargo, ao defender o Escritório Central mobilizado nas gestões anteriores e
de Arrecadação e Distribuição (ECAD), pautado a agenda no que diz respeito
um órgão privado responsável pela às culturas digitais e livres16.
arrecadação e distribuição dos direitos Configuram-se
se assim dois lados da
autorais das músicas aos seus disputa a partir de interesses e
autores,, e se posicionar contrária às
15
“Ministra
Ministra da Cultura enfrenta reações”.
mudanças das leis autorais Disponível em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq301
2201026.htm. Acesso: 01.jun.2021.
16
Ana de Hollanda é intérprete, compositora e A esse respeito, ver a coletânea
coletâ de
gestora cultural, tendo sido secretária de entrevistas Cultura digital.br,
digital.br publicada com
Cultura da cidade de Osasco (SP) no final dos apoio do MinC e que tem entre seus
anos 1980 e responsável
ponsável pelo Centro de entrevistados vários agentes ligados ao
Música da Fundação Nacional de Artes Ministério, inclusive o ministro Juca Ferreira
(Funarte), na gestão Gil. (SAVAZONI; COHN, 2009).

239
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

tomadas de posição distintos: ativistas próprio


io MinC, com a criação, em
do copyleft versus defensores do fevereiro, no Twitter das hashtags
copyright,, estes congregando as #foraana e #foraanadehollanda.
associações de proteção aos direitos Em março, surgiu o blog “Fora
autorais, bem como artistas críticos Ana de Hollanda”, contrário ao
das gestões Gil e Juca17. Para os “conjunto das diretrizes e ações de sua
ativistas, a postura da nova gestão não gestão” que se configurava como uma
um
apenas sinalizava uma perspectiva “política conservadora”20.
política desastrosa e co
conservadora, como ia contra o Apesar de não se assumir como
incentivo ao desenvolvimento de “movimento organizado”, o blog
“modelos solidários de licenciamento funcionou como uma esfera civil digital
de conteúdos culturais”, previsto nas (ALEXANDER, 2008; GOMES, 2011;
metas do PNC18. MAIA, 2011), agregando e difundindo
Para neutralizar as críticas, diversas críticas e reflexões sobre a
Hollanda sinalizou o diálogo com os política cultural vigente. Em abril foi
ativistas do copyleft,, comprometendo-
comprometendo criado outro blog,, o “Mobiliza Cultura”,
se a chegar a uma “proposta que com sua hashtag #mobilizacultura, que
atenda à demanda da área criativa, se assumiu como uma “organização”
que é a que mais se mostrou reunindo instituições e grupos formais
insatisfeita com as mudanças e informais (Pontos de Cultura,
19
apresentadas” . No entanto, a coletivos, fóruns etc) para atuação
estratégia não se mostrou eficiente e a tanto virtual, quanto presencial
p e que
campanha contra a posição da reuniu 2,5 mil adesões21.
ministra continuou, inclusive dentro do Essas iniciativas podem ser
compreendidas como “mobilizações na
17
“Copyright: a batalha”. Disponível em:
em
esfera pública”, um dos três níveis
http://blogs.estadao.com.br/link/copyright
http://blogs.estadao.com.br/link/copyright-a-
batalha/. Acesso em: 01 jun. 2021.
2021
18 20
“MinC na contramão?”. Disponível em Disponível em:
http://blogs.estadao.com.br/link/minc
http://blogs.estadao.com.br/link/minc-na- http://foraanadehollanda.blogspot.com.br/.
http://foraanadehollanda.blogspot.com.br/
contramao/. Acesso em: 01 jun. 2021.
2021 Acesso em: 01 jun. 2021.
19 21
“Mudanças no Ministério da Cultura”. “Uma ministra isolada”. Disponível em:
em
Disponível em: http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bas
http://blogs.estadao.com.br/link/mudancas
http://blogs.estadao.com.br/link/mudancas-no- tidores-uma-ministra-isolada
isolada-e-em-busca-de-
ministerio-da-cultura/. Acesso em:
em 02 out. apoio-na-classe-cultural,716
cultural,716244. Acesso em:
2015. 01 jun. 2021.

240
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

identificados por Ilse Scherer-Warren


Scherer Presidenta Dilma” que foi amplamente
de organização da sociedade civil divulgada
gada na mídia e nas redes sociais
“para encaminhamento de suas ações digitais. O documento reivindicava a
em prol de políticas sociais e públicas, continuidade das políticas culturais
protestos sociais, manifestações implementadas nos governos Lula e
simbólicas e pressões políticas” seu modus operandi,, o que significava,
(SCHERER-WARREN,
WARREN, 2006, p. 110). entre outras coisas, maior participação
Esse tipo de mobilizações, mais da sociedade civil na formulação das
da
abrangentes e conjunturais e menos políticas.
institucionalizadas, resulta da Em maio de 2011, a ministra
articulação dos participan
participantes de tentou romper seu isolamento e se
movimentos sociais, ONGs, redes etc articular com diversos agentes do
e da realização de manifestações campo cultural, em especial com
objetivando a visibilidade midiática e aqueles atuantes em São Paulo, bem
os “efeitos simbólicos para os próprios como com os parlamentares da base
manifestantes (no sentido político
político- governamental. No mesmo período, a
pedagógico) e para a sociedade em presidenta Dilma nomeou Morgana
geral, como uma forma de pressão Eneile, então secretária nacional de
política das mais expressivas no Cultura do PT, assessora de Hollanda,
espaço público contemporâneo” como forma de ajudar nas articulações
(SCHERER-WARREN,
WARREN, 2006, p. 112). políticas. A função expressa da
Na análise de Prudêncio e “interventora”, como nomeou o jornal
Leite, a partir do “Mobiliza Cultura”, a Folha de São Paulo,, era “represar
“ a
mobilização voltada “principalmente disputa política,, debelar a crise e
para a queixa de rompimento da ação construir uma agenda positiva”,
cultura digital e da reforma dos direitos evitando assim a possível demissão da
autorais sofre novo processo de ministra22.
enquadramento, para se adaptar a
esse novo momento, ganhar mais
adesão e expansão” (PRUDÊNCIO;
PRUDÊNCIO; 22
“Planalto
Planalto intervém para conter crise na pasta
LEITE,, 2013, p. 451). A organização da Cultura”. Disponível em:
em
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/po1005
elaborou uma “Carta Aberta à 201102.htm. Acesso em::: 01 jun. 2021.

241
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

Fortalecida com essas programas apresentados nas gestões


indicações, a ministra afirmou à dos ministros Gilberto Gil e Juca
imprensa que as reuniões que estava Ferreira, uma vez que estaria
fazendo com diferentes setores do ocorrendo uma “decadência do
meio cultural não seriam “uma busca protagonismo” do MinC25. Para os
de apoio para a sua permanência no signatários, o primeiro ano da gestão
cargo”, mas a procura de diálogo23. Hollanda, incapaz de “gerar consensos
Em março de 2012, a deputada mínimos”, foi marcado por “hesitações,
Jandira Feghali do Partido Comunista conflitos e por mudanças de rumo”,
do Brasil, coordenadora da Frente frustrando os “inúmeros grupos
Parlamentar Mista em Defesa da envolvidos no processo de
Cultura, criticou a articulação política emancipação cultural”
ural” iniciado em
do MinC no Congresso, ao não atuar a 2003 que deu direito de cidadania e
favor das Propostas de Emenda à densidade política a vários conceitos
Constituição (PECs) de interesse da novos26. Os capitais político e cultural
pasta. A ministra rebateu afirmando dos que assinaram a carta, bem como
que não havia “descompasso entre a as argumentações expostas,
atuação da pasta e a dos intensificaram o sentimento de crise e,
parlamentares ligados ao setor”24. ao mesmo tempo, apontaram
apont para a
No mesmo mês, um grupo de sua solução: a escolha de um novo
intelectuais,
telectuais, alguns ligados ao PT, ministro. O que de fato ocorreu sete
lançou uma carta cobrando da meses depois com a nomeação da
presidenta Dilma um Ministério da senadora do PT Marta Suplicy para o
Cultura à altura dos desafios e cargo.

23
“Ana
Ana de Hollanda diz ter sido vítima de
25
'turbulências forjadas'”. Disponível em:
em Assinaram o documento Marilena Chauí,
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2011/05/91 Eduardo Viveiros de Castro, Suely Rolnik,
7432-ana-de-hollanda-diz-ter-sido
sido-vitima-de- Laymert Garcia dos Santos, Gabriel Cohn,
turbulencias-forjadas.shtml.
forjadas.shtml. Acesso em: 01 Manuela Carneiro da Cunha e Moacir dos
jun. 2021. Anjos.
24 26
“Ana
Ana de Hollanda rebate críticas em “Despreparo é dolorosamente
osamente evidente”.
audiência na Câmara”. Disponível em:em Disponível em:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2012/03/
om.br/ilustrada/2012/03/ http://Cultura.Estadao.Com.Br/Noticias/Geral,D
ttp://Cultura.Estadao.Com.Br/Noticias/Geral,D
1065180-ana-de-hollanda-rebate
rebate-criticas-em- espreparo-E-Dolorosamente
Dolorosamente-Evidente-Dizem-
audiencia-na-camara.shtml.
camara.shtml. Acesso em:: 01 Intelectuais-Sobre-Gestao
Gestao-Do-Minc,850226#.
jun. 2021. Acesso em: 01 jun. 2021.

242
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

Seção 4 Também foi lançada uma carta aberta


Se a extinção do MinC e sua elaborada pela Associação Procure
transformação em Secretaria no Saber e pelo Grupo de Ação
governo de Collor de Melo (1990-
(1990 Parlamentar Pró-Música
Música (GAP) que
1992) causaram uma reação tímida reúnem alguns dos mais reconhecidos
por parte do campo cultural – músicos brasileiros. A carta afirma que
insuficiente, inclusive, para reverter a a gestão de Gil teria ampliado o
decisão presidencial27 –,, o contrário alcance de atuação do Ministério com
ocorreu quando o então presidente a adoção do “conceito antropológico
antropoló
interino Michel Temer optou por de cultura” e de políticas voltadas para
acabar com o órgão no bojo de uma parcelas expressivas da população. O
reforma ministerial
erial e fundi
fundi-lo ao documento destaca, entre outras
Ministério da Educação e Cultura ações, a formação dos colegiados
(MEC). setoriais artísticos, a constituição do
Logo nos primeiros dias do Conselho Nacional de Políticas
governo interino (maio a agosto de Culturais e a elaboração do PNC29.
2016), começou a circular nas redes Na sequência, foram lançadas
sociais um abaixo-assinado
assinado contra a mais duas cartas de manifesto contra
anunciada extinção do MinC que a extinção do MinC, uma da Rede de
reuniu intelectuais, artistas das mais Festivais de Teatro do Brasil e a outra
diversas linguagens, produtores do Fórum Nacional de Secretários e
culturais e associações (Associação
( Dirigentes Municipais de Cultura das
de Produtores de Teatro do Rio e Capitais e Regiões Metropolitanas. No
Cooperativa Paulista de Teatro)28. primeiro
o documento, a Rede afirma o
MinC como o “principal órgão para o
27
Quando o o presidente Collor extinguiu o
MinC e quase todo o aparato institucional no
cultura-19295905#ixzz4CygdDbPl
19295905#ixzz4CygdDbPl. Acesso em:
setor construído ao longo de décadas, a
01 jun. 2021.
reação contrária ao ato foi reduzida, limitando-
limitando
29
se basicamente a manifestações localizadas A carta está disponível na íntegra em
nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro “Entidades
Entidades cobram restabelecimento do
(MENDES, 2015) Ministério da Cultura”:
28 http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/
“Artistas
Artistas e produtores reagem ao fim do
1770962-fim-do-minc-vai-gerar
gerar-economia-pifia-
Ministério da Cultura”. Disponível em:
em
dizem-artistas-em-carta-a--temer.shtml. Acesso
http://oglobo.globo.com/cultura/artistas
http://oglobo.globo.com/cultura/artistas-
em: 01 jun. 2021.
produtores-reagem-ao-fim-do-ministerio
ministerio-da-

243
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

desenvolvimento de políticas públicas ligados ao MinC se espalharam no


das artes” e de aprimoramento do resto da semana por várias capitais do
setor cultural. O segundo defende o país. Nesses espaços, observa-se
papel do ministério como uma confluência entre os que eram
“fundamental” para que “os
os mais de contra a extinção do MinC e os
cinco mil municípios do país possam contrários ao processo de
atuar de forma sistêmica, ao mesmo impedimento da presidenta Dilma,
tempo em que fomenta a arte e a expressa nas palavras de ordem “Fora
30
diversidade das expressões” . Temer” e “Fica MinC”, em uma
No dia 13 de maio de 2016, na demonstração de convergência entre
cidade de Curitiba, o prédio onde politização do campo cultural e campo
funciona a representação local do cultural politizado.
Instituto do Patrimônio Histórico e Por sua vez, é reveladora do
Artístico Nacional (IPHAN), autarquia fenômeno de culturalização do campo
vinculada ao MinC, foi ocupado por político,, coetâneo à politização do
artistas e integrantes de movimentos campo cultural,, a posição contrária ao
culturais em protesto contra a extinção MinC por parte dos líderes políticos
do Ministério. No dia 15, o mesmo evangélicos,, como Marco Feliciano e
ocorreu com o prédio da Fundação Silass Malafaia, que usaram as redes
Nacional de Artes (Funarte) em Belo sociais para desqualificar os artistas e
Horizonte. No dia seguinte, dezenas a causa do ministério31. Outras
de pessoas, entre políticos, artistas, expressões da guerra cultural travada
intelectuais e coletivos culturais, como naquele momento podem ser vistas
o Reage Artista
rtista e o Teatro pela nos textos dos colunistas José
Democracia, ocuparam o Palácio Henrique Mariante e Reinaldo
Capanema, sede da Funarte, e situado Azevedo, ambos da Folha de São
no Rio de Janeiro. Outras ocupações Paulo.. Para o primeiro, extinguir o
por tempo indeterminado de prédios
31
“Líderes
Líderes evangélicos tripudiam do fim do
MinC: seria cômico se não fosse trágico”.
30
As duas cartas estão disponíveis na íntegra Disponível em:
em: http://oglobo.globo.com/cultura/entidades-
http://oglobo.globo.com/cultura/entidades http://f5.folha.uol.com.br/colunistas/tonygoes/2
cobram-restabelecimento-do-ministerio
ministerio-da- 016/05/10002111-lideres-evangelicos
evangelicos-
cultura-19308200#ixzz4CyiXaVZ9
19308200#ixzz4CyiXaVZ9. Acesso em: tripudiam-do-fim-do-minc-seria
seria-comico-se-nao-
01 jun. 2021. fosse-tragico.shtml.. Acesso em:
em 01 jun. 2021.

244
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

MinC era a maneira do novo governo democratização cultural. O governo


de passar o recado de que “não interino acabou cedendo aos diversos
permitirá o entulho petista nem movimentos e mobilizações e
coletivos nem nada”32. Já Azevedo anunciou, no dia 21, a recriação do
qualificou as manifestações como órgão, reconhecendo que a decisão se
“crônica
crônica do berreiro anunciado”, uma deu por conta do “caráter
“balbúrdia”,
rdia”, pois “artistas atraem emblemático”
ático” do ministério e pelas
holofotes. É da profissão”33. reações contrárias à sua extinção34.
A oposição ao fim do MinC Contudo, a medida não influiu
permaneceu mobilizando os campos entre os grupos que ocupavam os
político e cultural, mesmo após o prédios públicos nas capitais
anúncio da criação da Secretaria brasileiras, pois o motivo da ocupação
Nacional da Cultura e do seu titular também era se opor e resistir ao
Marcelo Calero, advogado e diplomata governo interino, avaliado como
35
de carreira e então secretário ilegítimo . Além disso, as primeiras
municipal de Cultura do Rio de
34
Janeiro. No dia 19 de maio, foi a vez “Temer
Temer decide recriar Ministério da Cultura,
anuncia Mendonça Filho”. Disponível em: em
dos governadores da região Nordeste, http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/
1773764-temer-decide-recriar
recriar-ministerio-da-
dois, inclusive, governistas, criticarem cultura-anuncia-mendonca
mendonca-filho.shtml. Acesso
em: 01 jun. 2021; “Temer
Temer recua e decide
a decisão do presidente interino e recriar o Ministério da Cultura, com Marcelo
lançarem uma carta defendendo a Calero”. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/cultura/temer
http://oglobo.globo.com/cultura/temer-recua-
“integridade” do MinC e o decide-recriar-ministerio-da
da-cultura-com-
marcelo-calero-19351863.. Acesso em: em 01 jun.
fortalecimento de suas políticas, 2021.
35
destacando
ando o SNC e o PNC como “Mesmo com volta do MinC, ocupação do
Palácio Capanema será mantida”. Disponível
marcos institucionais e de em:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/
1773764-temer-decide-recriar
recriar-ministerio-da-
32
“Cultura
Cultura política”. Disponível em:
em cultura-anuncia-mendonca
mendonca-filho.shtml;
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/josehenri “Ocupações
Ocupações contra o fim do MinC persistem
quemariante/2016/05/1772720-cultura
cultura- para pedir a saída de Temer”. Disponível em:
politica.shtml. Acesso em: 01 jun. 2021. http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/20
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/
33 1773799-ocupacoes-contra
contra-fim-do-minc-
“Temer em 7 dias, acertos e erros”.
persistem-para-pedir-a-saida
saida-de-temer.shtml.
Disponível em:
“Com
Com apoio de famosos, ocupações do MinC
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/reinaldoa
seguem em ao menos 18 capitais”. Disponível
zevedo/2016/05/1773199-temer--em-7-dias-
em:
acertos-e-erros.shtml.. Acesso em:
em 01 jun.
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/
2021.
1774200-com-apoio-de-famosos
famosos-ocupacoes-

245
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

indicações do ministro da Cultura reações contra a extinção do MinC”.


foram recebidas com críticas por parte De todo modo, seria um fenômeno a
36
dos agentes culturais . O movimento ser explicado, pois haveria “um certo
agora autodenominado “Ocupa MinC” ineditismo que não nos pode escapar”
(em clara referencia ao Ocuppy)
Ocuppy reagiu que seria a diversidade (regional, de
de forma contrária aos artistas e, classe, étnica, de gênero etc) dos
principalmente, entidades que agentes que defendiam a volta do
retomaram os canais de ligação com o MinC. E conclui: tal “fenômeno político
recém recriado ministério, lançando muito curioso, especialmente quando
nota onde afirmava sua posição de se pensa nos parcos recursos
resistência e qualificava a iniciativa de investidos no MinC, tem que ser
"oportunista e corporativista"37. explicado na observação e análise das
Por fim, é reveladora desse práticas do ministério nestes últimos
momento de expressão da politização 13 anos, no legado de seus projetos e
do campo cultural,, mas também do ações”38.
campo cultural politizado e da
político a
culturalização do campo político, Considerações finais
análise do ex-ministro
ministro da Cultura Juca A trajetória analítica traçada ao
Ferreira. Para Ferreira, quem longo do artigo buscou delimitar os
acompanhava a política cultural do contornos do fenômeno da politização
país “não se surpreendeu com
co as do campo cultural brasileiro –
resultado, entre outros fatores, do
do-minc-seguem-em-ao-menos-18 18- engajamento dos agentes culturais em
capitais.shtml. Acessos em: 01 jun. 2021.
36 debates, embates e deliberações que
“No PE, cineastas repudiam indicação de
novo secretário do Audiovisual”.”. Disponível se referiam à elaboração e
em: http://oglobo.globo.com/cultura/filmes/no-
http://oglobo.globo.com/cultura/filmes/no
pe-cineastas-repudiam-indicacao
indicacao-de-novo- implementação das políticas públicas
secretario-do-audiovisual-
19419240#ixzz4CypmjURr.. Acesso em: em 01 para o setor durante os governos Lula
jun. 2021.
37
“Restituição
Restituição do MinC e diálogo com novo
38
ministro dividem classe artística”. Disponível “A verdadeira recriação do MinC”. Disponível
em: em:
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/ http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2016/05/
1774682-restituicao-do-ministerio
ministerio-da-cultura- 1774682-restituicao-do-ministerio
ministerio-da-cultura-
divide-classe-artistica.shtml.
artistica.shtml. Acesso em:
em 01 divide-classe-artistica.shtml.
artistica.shtml. Acesso em:
em 01
jun. 2021. jun. 2021.

246
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

e Dilma – e de sua expressão por meio presença sistemática do Estado na


da ocupação do espaço público cultura por meio de políticas públicas,
presencial e virtual em defesa da conjunção esta ausente nos governos
manutenção não apenas dessas anteriores após a redemocratização
políticas,
icas, como ocorreu na gestão Ana (Collor e Fernando Henrique Cardoso),
de Hollanda, mas do próprio MinC, posto que abdicaram, em grande
como se observou no governo Temer. parte, do papel do governo na
Tratou-se
se de um fenômeno que condução de tais políticas, delegando-
delegando
não se localizou apenas nos principais as para o mercado, via leis de
centros de produção, circulação e incentivo
vo fiscal (CASTELLO, 2002;
consumo culturais do país, as cidades MENDES, 2015). Ao papel de maior
de São Paulo e Rio de Janeiro, mas se protagonismo do Estado – realidade só
fez presente em grande parte do vivenciada anteriormente em governos
território nacional como revelam, por autoritários, ou seja, no Estado Novo
exemplo, a realização de centenas (1937-1945)
1945) e no regime militar (1964-
(1964
conferências municipais de cultura em 1984) (BARBALHO,, 1998) –, soma-se
todas as regiões e a adesão de quase a cultura política de participação social
metade dos municípios brasileiros ao defendida e, de algum modo,
SNC, resultando,, entre outros dados, implementada pelo “modo petista de
na criação de dezenas de conselhos governar”.
municipais de cultura. Esse processo crescente de
Como se pôde perceber, a envolvimento de agentes
politização do campo cultural ocorreu historicamente excluídos dos
conectada com a atuação da política momentos decisórios de definição das
federal de cultura, provocando políticas públicas de cultura – setor
desdobramentos nos âmbitos estadual que, ao contrário de outros como a
e municipal,
pal, em um período saúde, não dispunha até então de
democrático. Este é o elemento novo conferências, câmaras setoriais,
que ajuda a explicar o “fenômeno conselhos deliberativos, entre outros
político muito curioso”, ao qual se instrumentos de democracia direta
referiu o ex-ministro
ministro Juca Ferreira: a e/ou deliberativa –,, levou-os
levou a se
conjunção de democracia e de

247
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

tornarem também agentes político-


político cultural em um
politização do campo cultural,
culturais. momento de avanço do
É oportuno observar que esse conservadorismo no campo político,
cenário não implicou necessariamente materializado, entre outras coisas, com
em alinhamento do campo cultural a eleição de Jair Bolsonaro para a
com o Governo Federal. Além das Presidência da República em 2018.
disputas que ocorreram ao longo dos
processos de participação Referências
(conferências, consultas populares, ALEXANDER, J. The civil sphere.sphere
Nova York: Oxford University,
Unive 2008.
conselhos) onde muitos ag
agentes
AMARAL, A. Arte para quê? A
puderam se opor, e se opuseram de preocupação social na arte brasileira
fato, aos interesses defendidos pelos (1930-1970).. São Paulo: Nobel, 1987.
gestores do MinC, vale lembrar a BARBALHO, A. “Acho Acho que o que eu
peguei foi uma coisa meio fora do
contestação que a ministra Ana de normal”: mobilização e crise na gestão
Hollanda enfrentou, ainda que se Ana de Hollanda. In: CALABRE, Lia;
LIMA, Deborah (orgs.). Políticas
tratasse de uma “continuidade” do culturais:: conjunturas e
mesmo grupo político. Ou a territorialidades. Rio de Janeiro: Casa
de Rui Barbosa, 2017a.
2017 p. 33-48.
pluralidade de interesses
teresses revelada nas
BARBALHO, A. Em tempos de crise: o
posições dos que defenderam a MinC e a politização do campo cultural
permanência do MinC no governo brasileiro. Políticas culturais em
revista, v. 10, p. 23-46,
46, 2017b.
2017
interino de Temer. Ou seja, aderindo
BARBALHO, A. Os Dirigentes da
ao “Fica MinC”, muitos não pactuaram Cultura: A Elite da Política Cultural na
com o “Fora Temer”, ou, somando-se
somando Era Weffort. Revista Tomo,
Tomo v. 1, p.
451-478, 2022.
às palavras de ordem “Fica MinC” e
BARBALHO, A. Política cultural das
“Fora Temer”, não compartilhavam
compartilha minorias. Verbete. In: Enciclopédia
com a bandeira do “Volta Dilma”. Comunicação São Paulo:
Intercom de Comunicação.
Intercom, 2010. p. 939-940.
939
Por fim, como já antecipado na
BARBALHO, A. Política cultural em
introdução, uma das frentes que se tempo de crise: o Ministério da Cultura
colocam para a continuidade da no Governo Temer. Revista de
UFMA v. 22, p.
Políticas Públicas da UFMA,
pesquisa é investigar as possíveis 239-260, 2018.
relações entre as guerras culturais em BARBALHO, A. Relações entre Estado
e cultura no Brasil.. Ijuí: Unijuí, 1998.
curso no país com o processo de

248
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

BARBALHO, A. Sistema Nacional de CASTELLO, J. Cultura. In:


Cultura: campo, saber e poder.
poder LAMOUNIER, B; FIGUEIREDO, R.
Fortaleza: UECE, 2019. (orgs.). A era FHC. Um balanço.
balanço São
BITTAR, J. (ed). O modo petista de Paulo: Culturaa Editores Associados,
governar. São Paulo: Teoria & Debate, 2002. p. 627-656.
1992. CHAUÍ, M. Cultura e democracia.
democracia São
BOURDIEU, P. A economia das trocas Paulo: Cortez, 1989.
simbólicas.. São Paulo: Perspectiva, COUTINHO, C. N. Cultura e
1992. democracia no Brasil. Revista
Encontros com a Civilização Brasileira,
Brasileira
BOURDIEU, P. O campo político.
Revista Brasileira de Ciência Política,
Política 17, p.19-48, 1979.
v. 5, p. 193-216, 2011. DOMINGUES, J., LOPES, G.
BOURDIEU, P. O poder simbólico.
simbólico Ministério da Cultura:
tura: entre o carisma
e a coalizão. Desigualdade &
Lisboa: Difel, 1989.
Diversidade,, v. 14, n.1, p. 4-38,
4 2014.
BOURDIEU, P. Sobre el campo
político.. s/d. Disponível em
em: DOMINGUES, J., PAULA, L. Esse tipo
de artista não mais se locupletará da
http://200.6.99.248/~bru487cl/files/BO
Lei Rouanet: políticas culturais e
URDIEU_campo-politico.pdf
politico.pdf. Acesso
sentidos em disputa no Brasil pós-pós
em: 14 set. 2020.
impeachment. In: Anais do XV
BOURDIEU, P. Sur l’État.. Paris:
Paris Seuil, Encontro de Estudos Multidisciplinares
2012. em Cultura.. Salvador: UFBA, 2019.
BRASIL. “Conferindo os conformes”, DOMINGUES, J., PAULA, L., SILVA,
Resultados da II Conferência Nacional M. Do ato fóbico ao ato mágico pós- pós
de Cultura.. Brasília: Ministério da político: o novo mercado discursivo do
Cultura, 2010. Ministério da Cultura”. Eptic, v.20, n. 2,
BRASIL. Anais, III Conferência p. 178-195, 2018.
Nacional de Cultura.. Brasília: FARIA, C.,, SILVA, V., LINS, I.
Ministério da Cultura, s/d Conferências de políticas públicas: um
BRASIL. I Conferência Nacional de sistema integrado de participação e
Cultura.. Brasília: Ministério da Cultura, deliberação?”. Rev. Bras. Ciênc.
2007. Polít., 7, p. 249-284,
284, 2012.

BRASIL. Sistema Nacional de Cultura, GALLEGO, E., ORTELLADO, P.,


Estatísticas. Brasília: Ministério da MORETTO, M. Guerras culturais e
Cultura, 2017. Disponível em
em:: populismo antipetista nas
https://bit.ly/3sbjumV. Acesso em: 15 manifestações por apoio à Operação
dez. 2020. Lava – Jato e contra a Reforma da
Previdência. Em Debate,
Debate v. 9, n. 2, p.
CALABRE, L. Participação social na 35–45, 2017.
construção
ução de planos setoriais de
políticas públicas: um estudo do Plano GOMES, W. Participação política
Nacional de Cultura. Anais do VI online: questões e hipóteses de
Congresso CONSAD de Gestão trabalho”. In: MAIA, R.; GOMES, W.;
Pública. Brasília, 2013. MARQUES, J. (orgs.). Internet e

249
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

Brasil Porto
participação política no Brasil. MIGUEL, L. O pensamento e a
Alegre: Sulina, 2011. p. 19--46. imaginação no banco dos réus:
HOLLANDA, A. Entrevista. Políticas ameaças à liberdade de expressão em
culturais em revista, v. 10, n. 1, p. 324-
324 contexto de golpe e guerras culturais.
revista v. 11, n.
Políticas culturais em revista,
372, 2017.
1, p. 37-59, 2018.
HOLLANDA, H., GONÇALVES, M.
Cultura e participação nos anos 60.
60 MUNIAGURRIA, L. Políticas da
cultura. Trânsitos, encontros e
São: Paulo, Brasiliense, 1986.
militância na construção de uma
LIMA, R. Um leitura petista da agenda política nacional. São Paulo:
da gestão pública da cultura. In: Humanitas, 2018.
RUBIM, A. (org). Política cultural e
Brasil São
gestão democrática no Brasil. MUNIZ JUNIOR, J. S.; S. BARBALHO, A.
Entre a diversidade e o antagonismo:
Paulo: Fundação Perseu Abramo,
2016. p. 37-54. práticas articulatórias da
discursividade LGBT no Ministério da
MAIA, R. Internet e esfera civil: limites Cultura. Revista brasileira de ciências
e alcances da participação política. In: sociais, v. 35, p. 1-18,
18, 2020.
MAIA, R.; GOMES, W.; MARQUES, J.
(orgs.). Internet e participação política
políti PARTIDO DOS TRABALHADORES. A
no Brasil.. Porto Alegre: Sulina, 2011. imaginação a serviço do Brasil:
Programa de políticas públicas de
p. 47-94.
cultura. São Paulo: Partido dos
MEIRA, M. Desafios para a cultura no Trabalhadores, 2002.
Brasil. In: I Conferência Nacional de
Cultura.. Brasília, Ministério da Cultura, PÉCAUT, D. Os intelectuais e a
política no Brasil. Entre o povo e a
2007. p. XVIII-XIV.
nação.. São Paulo: Ática, 1990.
MEIRA, M. Gestão cultural no Brasil:
PEIXE, J. R. Sistema Nacional de
uma leitura do processo de construção
democrática. In: RUBIM, A. (org.). Cultura: um novo modelo de gestão
Política cultural e gestão democrática cultural para o Brasil. In: RUBIM, A.
(org.), Política cultural e gestão
no Brasil.. São Paulo: Fundação
Brasil São Paulo:
democrática no Brasil.
Perseu Abramo, 2016. p. 17-36.
17
Fundação Perseu Abramo, 2016. p.
MENDES, H. O palco de Collor: A 221-246.
precarização da política a cultural no
POGREBINSCHI, T., SANTOS, F.
governo de Fernando Collor. Rio de
Janeiro: Multifoco, 2015. Participação como representação: o
impacto das conferências nacionais de
MICELI, S. Intelectuais e classe políticas públicas no Congresso
Congres
dirigente no Brasil (1920--1945). São Nacional. Dados, v. 54, n.3, p. 259-
Paulo: Difel, 1979. 305, 2011.
MICELI, S. Os intelectuais brasileiros e PRUDENCIO, K.; LEITE, W.
o Estado. In: SOARES, M. (org.). Os Comunicação e mobilização política na
intelectuais no
o processo político da campanha Fora Ana de Hollanda. Rev.
América Latina.. Porto Alegre: UFRGS, Estud. Comun.,, v. 14, n. 35, p. 445-
445
1985. p.124-129. 462, 2013.

250
BARBALHO, Alexandre. Acerca de “fenômenos políticos curiosos”: a
politização do campo cultural no Brasil contemporâneo.
contemporâneo PragMATIZES -
Americana de Estudos em Cultura, Niterói/RJ, Ano 12, n.
Revista Latino-Americana
www.periodicos.uff.br/pragmatizes - ISSN 2237-1508
23, p. 225-251, set. 2022.
(Fluxo contínuo)

RUBIM, A. Espetáculo, política e


mídia. In: FRANÇA, V. et alli al (orgs.).
Estudos de comunicação.
comunicação Porto
Alegre: Sulina, 2003. p. 85--103.
SCHERER-WARREN,
WARREN, I. Das
mobilizações às redes de movimentos
sociais. Sociedade e Estado,
Estado v. 21, n.
1, p. 109-130, 2006.
SCHWARZ, R. O pai de família e
outros estudos.. São Paulo: Paz e
Terra, 1978.
SEMENSATO, C.; BARBALHO, A. A
cultura em tempos de covid-19:
covid análise
das políticas estaduais de cultura
dirigidas para o contexto emergencial
da pandemia. In: FROTA, Francisco
H.; FROTA, M.; SILVA M. (orgs.). O
impacto do COVID-19 19 nas políticas
públicas.. Fortaleza: Edmeta, 2020. p.
171-194.
SEVCENKO, N. Literatura como
missão. Tensões sociais e criação
República São
cultural na Primeira República.
Paulo: Brasiliense, 1983.
SILVA, L. Conferências nacionais de
políticas públicas e democracia
participativa: conferências de políticas
para as mulheres e decisões
governamentais no período Lula
(2003-2010). Dissertação (Mestrado
em Ciência Política). Universidade
Federal de Pernambuco, Recife, 2012.
VARELLA, G. Plano Nacional de
Cultura. Direitos e políticas
icas culturais no
Brasil.. Rio de Janeiro: Azougue, 2014.

251

Você também pode gostar