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ORTIZ, Renato.

A moderna tradição
brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.

Daniel Martins Valentini


O MERCADO DE BENS SIMBÓLICOS

“O advento do estado militar possui na verdade um


duplo significado: por um lado se define por sua
dimensão política; por outro, aponta para
transformações mais profundas que se realizam no
nível da economia.” (p. 113,114)
“Em termos culturais essa reorientação econômica traz
consequências imediatas, pois, paralelamente ao
crescimento do parque industrial e do mercado
interno de bens materiais, fortalece-se o parque
industrial de reprodução de cultura e o mercado de
bens culturais.” (p. 114)
“Evidentemente a expansão das atividades culturais se faz
associada a um controle estrito das manifestações que se
contrapõem ao pensamento autoritário.” (p. 114)

“Neste ponto existe uma diferença entre o desenvolvimento de


um mercado de bens materiais e um mercado de bens
culturais. O último envolve uma dimensão simbólica que
aponta para problemas ideológicos, expressam uma aspiração,
um elemento político embutido no próprio produto veiculado.
Por isso, o Estado deve tratar de forma diferenciada esta área,
onde a cultura pode expressar valores e disposições contrárias
à vontade política dos que estão no poder.” (p. 114)
“Durante o período 1964-1980, a censura não se define
exclusivamente pelo veto a todo e qualquer produto
cultural; ela age como repressão seletiva que
impossibilita a emergência de um determinado
pensamento ou obra artística. São censuradas as peças
teatrais, os filmes, os livros, mas não o teatro, o cinema
ou a indústria editorial.” (p. 114)
“O ato censor atinge a especificidade da obra, mas não
a generalidade da sua produção. O movimento cultural
pós-64 se caracteriza por duas vertentes que não são
excludentes: por um lado se define pela repressão
ideológica e política; por outro, é um momento da
história brasileira onde mais são produzidos e
difundidos os bens culturais. Isto se deve ao fato de ser
o próprio Estado autoritário o promotor do
desenvolvimento capitalista na sua forma mais
avançada.” (p. 114,115)
“Colocada nesses termos, a questão da censura pode ser
melhor compreendida. Os interesses globais dos
empresários da cultura e do Estado são os mesmos (...).
Como a ideologia de Segurança Nacional é “moralista” e a
dos empresários, mercadológica, o ato repressor vai incidir
sobre a especificidade do produto. Devemos, é claro,
entender moralista no sentido amplo, de costumes, mas
também político. Mas se tivermos em conta que a
indústria cultural opera segundo um padrão de
despolitização dos conteúdos, temos nesse nível, senão
uma coincidência de perspectiva, pelo menos uma
concordância.” (p. 119)
“A indústria cultural não escapa a este processo de
transformação; os capitães de indústria dos anos
anteriores devem ceder lugar ao manager (...). Nos
anos 60 e 70 os grandes empreendedores do setor
cultural são outros. Homens que administram
conglomerados englobando diversos setores
empresariais, desde a área da indústria cultural à
indústria propriamente dita.” (p. 134)
O POPULAR E O NACIONAL

“Num primeiro nível, o tema nos remete ao problema


da integração dos membros da sociedade no
capitalismo avançado, e se refere ao processo de
‘despolitização das massas’. Vários autores, oriundos de
tradições teóricas distintas, têm apontado para este
lado da questão.” (p. 149)
“Dentro desse universo é possível detectar um
conjunto de valores e comportamentos, práticas que
seriam vividas como uma receita de libertação pessoal
no quadro global de repressão da sociedade brasileira
(...). No com junto dessas práticas, ele considera
particularmente três delas: o uso da droga, a
desarticulação do discurso e o modismo na
psicanálise.” ( p. 156,157)
“No caso da moderna sociedade brasileira, popular se
reveste de um outro significado, e se identifica ao que é
mais consumido, podendo-se inclusive estabelecer uma
hierarquia de popularidade entre diversos produtos
ofertados no mercado. Um disco, uma novela, uma peça
de teatro, serão considerados populares somente no caso
de atingirem um grande público. Nesse sentido se pode
dizer que a lógica mercadológica despolitiza a discussão,
pois se aceita o consumo como categoria última para se
medir a relevância dos produtos culturais.” (p. 164)
DO POPULAR-NACIONAL AO INTERNACIONAL-POPULAR

“O resultado da pesquisa mostrou de maneira inequívoca


que a ideia de um ‘livre fluxo de informações’ que orienta as
premissas da UNESCO, era na verdade uma ideologia que
na verdade escondia uma realidade de desequilíbrio
mundial, na qual os países periféricos apareciam como
meros consumidores de programas realizados em outros
centros.” (p. 186)
“São análises que têm como eixo central a problemática do
‘colonialismo cultural’, da ‘alienação’ dos meios de
comunicação nacional diante da dominação estrangeira, e
que recuperam a antiga oposição entre colonizador/
colonizado.” (p. 187)
INCONCLUSÃO

“Tenho consciência que a nova ordem social não se


expressa como hegemônica, que ela encerra elementos
anteriores e diversificados, mão não tenho dúvidas de
que hoje ela é um ‘fato social’ e não mais simplesmente
uma vontade, uma aspiração.” (p. 211)

“(...) os sinais da ‘modernidade’ brasileira indicam que


realmente ‘somos’, e que por isso não mais devemos nos
rebelar na direção de um outro futuro. A modernidade
brasileira é, neste sentido, acrítica.” (p. 210)

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