O documento discute o desenvolvimento do mercado de bens culturais no Brasil durante o regime militar entre 1964-1980. Aponta que o Estado promoveu o crescimento da indústria cultural ao mesmo tempo em que exercia controle rígido sobre manifestações contrárias ao pensamento autoritário. Também analisa como a ideia do "popular" está ligada ao que é mais consumido no mercado, despolitizando o debate sobre a relevância dos produtos culturais.
O documento discute o desenvolvimento do mercado de bens culturais no Brasil durante o regime militar entre 1964-1980. Aponta que o Estado promoveu o crescimento da indústria cultural ao mesmo tempo em que exercia controle rígido sobre manifestações contrárias ao pensamento autoritário. Também analisa como a ideia do "popular" está ligada ao que é mais consumido no mercado, despolitizando o debate sobre a relevância dos produtos culturais.
O documento discute o desenvolvimento do mercado de bens culturais no Brasil durante o regime militar entre 1964-1980. Aponta que o Estado promoveu o crescimento da indústria cultural ao mesmo tempo em que exercia controle rígido sobre manifestações contrárias ao pensamento autoritário. Também analisa como a ideia do "popular" está ligada ao que é mais consumido no mercado, despolitizando o debate sobre a relevância dos produtos culturais.
A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988.
Daniel Martins Valentini
O MERCADO DE BENS SIMBÓLICOS
“O advento do estado militar possui na verdade um
duplo significado: por um lado se define por sua dimensão política; por outro, aponta para transformações mais profundas que se realizam no nível da economia.” (p. 113,114) “Em termos culturais essa reorientação econômica traz consequências imediatas, pois, paralelamente ao crescimento do parque industrial e do mercado interno de bens materiais, fortalece-se o parque industrial de reprodução de cultura e o mercado de bens culturais.” (p. 114) “Evidentemente a expansão das atividades culturais se faz associada a um controle estrito das manifestações que se contrapõem ao pensamento autoritário.” (p. 114)
“Neste ponto existe uma diferença entre o desenvolvimento de
um mercado de bens materiais e um mercado de bens culturais. O último envolve uma dimensão simbólica que aponta para problemas ideológicos, expressam uma aspiração, um elemento político embutido no próprio produto veiculado. Por isso, o Estado deve tratar de forma diferenciada esta área, onde a cultura pode expressar valores e disposições contrárias à vontade política dos que estão no poder.” (p. 114) “Durante o período 1964-1980, a censura não se define exclusivamente pelo veto a todo e qualquer produto cultural; ela age como repressão seletiva que impossibilita a emergência de um determinado pensamento ou obra artística. São censuradas as peças teatrais, os filmes, os livros, mas não o teatro, o cinema ou a indústria editorial.” (p. 114) “O ato censor atinge a especificidade da obra, mas não a generalidade da sua produção. O movimento cultural pós-64 se caracteriza por duas vertentes que não são excludentes: por um lado se define pela repressão ideológica e política; por outro, é um momento da história brasileira onde mais são produzidos e difundidos os bens culturais. Isto se deve ao fato de ser o próprio Estado autoritário o promotor do desenvolvimento capitalista na sua forma mais avançada.” (p. 114,115) “Colocada nesses termos, a questão da censura pode ser melhor compreendida. Os interesses globais dos empresários da cultura e do Estado são os mesmos (...). Como a ideologia de Segurança Nacional é “moralista” e a dos empresários, mercadológica, o ato repressor vai incidir sobre a especificidade do produto. Devemos, é claro, entender moralista no sentido amplo, de costumes, mas também político. Mas se tivermos em conta que a indústria cultural opera segundo um padrão de despolitização dos conteúdos, temos nesse nível, senão uma coincidência de perspectiva, pelo menos uma concordância.” (p. 119) “A indústria cultural não escapa a este processo de transformação; os capitães de indústria dos anos anteriores devem ceder lugar ao manager (...). Nos anos 60 e 70 os grandes empreendedores do setor cultural são outros. Homens que administram conglomerados englobando diversos setores empresariais, desde a área da indústria cultural à indústria propriamente dita.” (p. 134) O POPULAR E O NACIONAL
“Num primeiro nível, o tema nos remete ao problema
da integração dos membros da sociedade no capitalismo avançado, e se refere ao processo de ‘despolitização das massas’. Vários autores, oriundos de tradições teóricas distintas, têm apontado para este lado da questão.” (p. 149) “Dentro desse universo é possível detectar um conjunto de valores e comportamentos, práticas que seriam vividas como uma receita de libertação pessoal no quadro global de repressão da sociedade brasileira (...). No com junto dessas práticas, ele considera particularmente três delas: o uso da droga, a desarticulação do discurso e o modismo na psicanálise.” ( p. 156,157) “No caso da moderna sociedade brasileira, popular se reveste de um outro significado, e se identifica ao que é mais consumido, podendo-se inclusive estabelecer uma hierarquia de popularidade entre diversos produtos ofertados no mercado. Um disco, uma novela, uma peça de teatro, serão considerados populares somente no caso de atingirem um grande público. Nesse sentido se pode dizer que a lógica mercadológica despolitiza a discussão, pois se aceita o consumo como categoria última para se medir a relevância dos produtos culturais.” (p. 164) DO POPULAR-NACIONAL AO INTERNACIONAL-POPULAR
“O resultado da pesquisa mostrou de maneira inequívoca
que a ideia de um ‘livre fluxo de informações’ que orienta as premissas da UNESCO, era na verdade uma ideologia que na verdade escondia uma realidade de desequilíbrio mundial, na qual os países periféricos apareciam como meros consumidores de programas realizados em outros centros.” (p. 186) “São análises que têm como eixo central a problemática do ‘colonialismo cultural’, da ‘alienação’ dos meios de comunicação nacional diante da dominação estrangeira, e que recuperam a antiga oposição entre colonizador/ colonizado.” (p. 187) INCONCLUSÃO
“Tenho consciência que a nova ordem social não se
expressa como hegemônica, que ela encerra elementos anteriores e diversificados, mão não tenho dúvidas de que hoje ela é um ‘fato social’ e não mais simplesmente uma vontade, uma aspiração.” (p. 211)
“(...) os sinais da ‘modernidade’ brasileira indicam que
realmente ‘somos’, e que por isso não mais devemos nos rebelar na direção de um outro futuro. A modernidade brasileira é, neste sentido, acrítica.” (p. 210)