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PODCAST 1:
HISTÓRIA DAS POLÍTICAS ECONÔMICAS
E CULTURAIS NO BRASIL
AULA 1:
POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ECONOMIA
DA CULTURA NO BRASIL
PROFESSORA:
CLÁUDIA LEITÃO
Cláudia Leitão: Digamos que a partir da década de 1930 até 1964, época do golpe
militar, se inicia digamos um pequeno mecenato espontâneo no país, nesses 30 anos.
A gente vai ver que o estabelecimento das grandes indústrias tradicionais que chegam
ao país, especialmente em São Paulo, figuras como Francisco Matarazzo, como Franco
Zampari, como o próprio Assis Chateaubriand, são exemplos de grandes empresários
que têm interesses culturais e que funcionam como grandes mecenas, no sentido de
construírem equipamentos culturais, de apoiar, portanto, as primeiras grandes ações
de cultura no país.
Bom, esse quadro até o golpe militar, que acontece em 1964, nos leva a pensar
ainda na construção de um outro grande período de 1964 até a redemocratização
de 1985, período em que o Estado define em nome de uma Segurança Nacional,
que é um conceito fruto exatamente da ditadura militar, é partir daí que vai se rever
os significados e os limites da atuação da Cultura. A Cultura vai se submeter a esse
conceito de Segurança Nacional.
Mas, no entanto, digamos que nessa década de 1970 até chegarmos à década de 1980,
os orçamentos para a cultura não correspondem às necessidades dessas estruturas
que vão crescendo, que de certa forma teriam que dar conta de um país continental
como o Brasil.
Em 1985, acontece exatamente uma conclusão desse período difícil dos anos de
chumbo da ditadura militar brasileira e no processo de redemocratização era bem
possível que isso acontecesse, que o Ministério da Educação e Cultura fosse pensado
na perspectiva de um desmembramento e que a Cultura saísse de dentro da Educação,
onde era uma secretária forte para se tornar um ministério.
Esse é um primeiro grande desafio das políticas culturais brasileiras. É exatamente essa
autonomia, porque ganhamos um ministério em 1985, primeiro com passagens breves
de José Aparecido e Aluísio Pimenta, mas com uma chegada muito importante, quase
inaugural do Ministério em 1986, que é a chegada do economista Celso Furtado.
Então, a Lei Sarney, que foi a primeira lei de incentivo à cultura também foi revogada
pelo Governo Collor, na gestão do secretário Ipojuca Pontes, o ministério torna-se uma
secretaria e, em seguida, chegará ao ministério o ministro Sérgio Paulo Rouanet cujo o
nome já nos lembra a importante legislação de incentivo à cultura, que vem depois da
Lei Sarney, que é a lei de incentivo à cultura chamada e reconhecida como Lei Rouanet.
Esses aspectos aqui levantados nos fazem perceber que a Lei Rouanet tem um papel
que vai ser cada vez mais importante para o incentivo à cultura. E gostaria um pouco
de me referir exatamente à Lei Rouanet, que vai crescer exatamente porque ela é
promulgada em 23 de novembro de 1991, portanto, já no início do Governo Collor, e, em
seguida, em 1993, surge uma outra lei importantíssima para pensarmos as políticas de
economia da cultura.
Portanto, de 1991 até 2002, no momento em que o Estado vai se burocratizando, onde
parte da produção cultural vai manter uma relação sempre com o público consumidor
mais culto, que é capaz de decodificar e de fruir bens e serviços culturais de qualidade,
enquanto de outro lado, há uma grande massa da população brasileira, que será
instrumentalizada na direção de mercados que vão produzir bens e serviços de massa,
nem sempre com qualidade, ou com caráter educacional.
Esse período do crescimento da Lei Rouanet, e onde o financiamento e o fomento da
cultura ficam exatamente na mão dos departamentos de marketing das empresas, dos
bancos, das grandes empresas brasileiras que vão decidir para onde vão os recursos,
para o apoio a projetos culturais, é exatamente o que faltava para as indústrias culturais
para que elas ganhassem cada vez maior hegemonia no território brasileiro. É aí que
acontece um elemento muito importante entre 2003 e 2010, que é a chegada do
Governo Lula e, portanto, de uma mudança de rumos muito interessante de uma visão
liberal da cultura, do mercado também regulando as políticas de cultura, entramos
num período onde o governo assume a sua responsabilidade diante da formulação,
implantação e monitoramento de políticas culturais.
De 2011 até 2017, o que temos é uma situação bastante paradoxal. De um lado no
Governo de Dilma Rousseff, após o Governo Lula, e com a chegada da ministra Ana
de Hollanda, há um fato novo e muito interessante que é a criação da Secretaria
da Economia Criativa. Essa Secretaria dá, pela primeira vez na história das políticas
de economia da cultura, ou de economia criativa na história do ministério, uma
institucionalidade, um vigor, uma presença, um plano e uma série de conquistas.
A criação da Secretaria da Economia Criativa traz com clareza desde sua própria
estruturação, o seu próprio planejamento, além do fato de que a articulação da
secretária levará até a presidenta Dilma Rousseff uma proposta da criação de um plano
interministerial chamado de Plano Brasil Criativo.
No entanto, no mesmo Governo Dilma, onde a secretaria foi criada pela ministra
Ana de Hollanda, ela acabará sendo desarticulada adiante, primeiro com a ministra
Marta Suplicy, que considera que as questões da economia da cultura não têm uma
importância estratégica para o ministério. E chegamos então, ainda no Governo
Dilma, já no seu segundo mandato, com a presença de um novo ministro, o ministro
Juca Ferreira, a decisão política do ministro de desarticular a Secretaria da Economia
Criativa, que é trocada, entre aspas, por uma Secretaria de Educação para as Artes.