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ALUNA: Maria Sinhá Granja Diógenes Neta

Disciplina: Política Cultural

Prof. Dr. Alexandre Almeida Barbalho

Questão: Fazer uma análise sobre a trajetória da política cultural no


Brasil de Vargas a Bolsonaro.

Enquanto na Europa, já havia um século, que esta passava por grandes


transformações ocasionadas pela Revolução Industrial, aqui dava-se início a um
processo tardio devido ao contexto histórico que envolve a formação da sociedade
brasileira.

Dentre outros fatores, o fato de o Brasil ter sido uma colônia de exploração com
mão de obra escravocrata, mesmo após a libertação dos escravos, o país ainda não
tinha um mercado consumidor,logo havia um desinteresse nos investimentos
industriais, pois a grande população negra encontrava-se desasistida, sem poder
aquisitivo e a elite brasileira consumia da industria exterior, não só produtos , mas
também ideias e cultura, não só este fator, mas outros aspectos que não vem ao caso
no objetivo do nosso trabalho constribuíram para essa participação tardia do Brasil no
processo conhecido como Revolução Industrial.

Portanto, pensar a cultura brasileira, a partir de seu povo, constituiu um


processo lento de reconhecimento , mas também, de ruptura com a cultura importada.
A partir do Governo Vargas, tivemos uma estruturação da Política Cultural no país,
porém, por se tratar de um governo militar, extremamente autoritário, percebemos que
todas as ações direcionadas à implementação da política cultural esteve sempre
permeada pelo real desejo de controle por parte do governo, desejo esse validado
através da preocupação de criar-se uma rede de comunicação que pudesse integrar o
país.
Na verdade essa rede permitiria o uso das manifestações culturais como um
meio de controle de contenção vindo assim a favorecer o fortalecimento de um governo
autoritário. Por reconhecer o poder que tem a cultura em tranformar os indivíduos, e
principalmente, pelo pontencial que tem em disseminar ideias, que surge a
preocupação em institucionalizar esse aspecto importante da sociedade como uma
forma de domínio, não apenas no aspecto repressor, mas também na própria produção
cultural.

Com a criação do CFC (Conselho Federal de Cultura) é concretizada a


preocupação por parte do estado em exercer o controle da política cultural no país
nomeando, assim, intelectuais alinhados com os interesses do regime militar. Em um
segundo momento dar-se o desenvolvimento da indústria cultural que está diretamente
ligada ao processo de Revolução Industrial, que apesar de tardia, conforme relatamos
anteriormente, vem impulsionar o mercado interno na área cultural.

A parceria entre estado e setor privado esteve durante o regime militar de certa
forma em uma relação de "mutualismo", em que ambos se beneficiavam, pois o estado
de certa forma usava como instrumento de controle , enquanto o setor privado ficava
com a parte rentável , ou seja com a parcela que rendia maior lucro.

Essa estratégia de controle perdura durante todo o regime militar vindo a ganhar
uma nova metodologia no governo Geisel (1974/1978) quando o Ministério de
Educação e Cultura (MEC), sob a gestão de Ney Braga intensifica essa demanda de
adequação entre as ações culturais e os objetivos do regime militar.

No ano de 1975, é divulgada a PNC (política nacional de Cultura) tendo, assim,


o primeiro plano de ação governamental onde serão discutidos os princípios
norteadores de uma política cultural.

Em 1985 é criado o Ministério da Cultura já no governo Sarney , tendo esse


passado por uma série de instabilidades referentes a permanência do ministro que
teve o então cargo ocupado por José Aparecido, Aluísio Pimenta, tendo esse último
como sucessor, Celso Furtado não vindo a desenvolver uma nova política cultural
conforme era esperado, mas mesmo perante toda essa instabilidade o ministro Celso
Furtado ainda adotou algumas medidas importantes, mas que não significaram a
totalidade dos seus ideais.

Nesse período surge a Lei Sarney que tem como embrião:

"a proposta apresentada pela primeira vez em 1972, em seu primeiro


mandato como senador. Devido às dificuldades de implementar uma
parceria público-privada em plena ditadura militar, não conseguiu
aprovação. No ano seguinte tentou mais duas vezes. Em 1980, fez mais
dois projetos similares, que também foram arquivados com a alegação de
que eram inconstitucionais. Mas a ditadura militar acabou, e o primeiro
presidente civil foi justamente José Sarney. Em 1986, 14 anos depois de
apresentar pela primeira vez seu projeto, pôde enfim transformar sua ideia
em realidade, por meio de decreto."

Fonte: Agência Senado

Posteriormente, temos a Lei de Incentivo à Cultura, também conhecida como


Lei Rouanet, foi publicada em 1991, durante o governo do ex-presidente Fernando
Collor.

No governo Lula (2003 a 2011) dar-se mais uma vez o resgate da valorização
da política cultural no país, a própria escolha do ministro já indicava que esse setor
teria uma certa priorização em seu governo pela magnitude da ocupação dessa pasta
por um dos maiores artistas da cultura brasileira.

Durante o governo Bolsonaro, houve um retrocesso em todas as áreas da


política nacional, portanto, na área cultural não seria diferente. Tal desvalorização dar-
se início com a própria extinção do Ministério da Cultura, tal medida já deixava claro a
falta de prioridade por parte do então presidente nessa área, mas como a gestão do
referido chefe do executivo na esfera federal foi na verdade marcada pela característica
da total falta de governabilidade por parte deste, e também pela sua trajetória política
era de se esperar tal conduta, na verdade foi um retrocesso lamentável, porém
previsto.

E para finalizarmos a nossa análise vamos concluir com a atual gestão do


governo Lula que já deu seu ponta pé inicial resgatando a valorização da cultura no
país: "no primeiro mês do ano, e apenas com a Lei Rouanet, a nova gestão deu
andamento a 597 projetos de captação de recursos que, juntos, totalizam R$ 610
milhões." (2023, Gazeta do Povo).

Portanto, baseado no histórico do atual candidato que nos revestimos da


certeza do resgate dessa valorização que se faz impressindível para a formação de
uma sociedade solidificada em valores consistente, pois a cultura de uma nação é sua
própria identidade e sem politicas públicas fortes não só voltada para proteção e
incentivos, mas acima de tudo políticas publicas culturais que possam assegurar a
inclusão de todos, ora como autores e protagonista da cultura ora apenas como
espectadores.

A cultura tem suas mais variadas formas de expressões, logo é impossível se


falar de cultura sem remeter a uma delas, a poesia é uma parte importante da cultura
moderna, portanto gostaríamos de encerrar nossa análise de políticas culturais com o
registro dessa forma de expressão que traduz o sentimento de que a cultura não pode
ser tratada como qualquer coisa, ela precisa ser, também, prioridade dentre as
politicas governamentais.

QUALQUER COISA

Qualquer coisa não serve!

Não tem número,

Nem tamanho.

"Qualquer coisa" pode ser


trágico,

mortífero.

Resvala e derruba.

Qualquer coisa não tem apego,

nada diz,

aceita tudo,

Reúne e separa.

Qualquer coisa se guarda,

se esquece.

Qualquer coisa não retorna,

diz até logo

e nunca mais,

Qualquer coisa cabe em tudo,

engana os sentidos,

não decide nada.

Qualquer coisa espera.

Qualquer coisa morre.

(Severo Garcia - livro:poesia do exílio)

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