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UNIÃO BRASILEIRA DE FACULDADES – UNIBF

SERVIÇO SOCIAL

MARLI MARQUES DA GAMA

OS PASSOS DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA REVISÃO


SISTEMÁTICA

VILA VELHA
DEZEMBRO, 2023
MARLI MARQUES DA GAMA

OS PASSOS DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA REVISÃO


SISTEMÁTICA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em forma


de Artigo Científico, como requisito parcial para
obtenção do título de Assistente Social, pela União
Brasileira de Faculdades – UNIBF

Orientador(a): Prof. Esp.Carlos Hoegen

VILA VELHA
DEZEMBRO, 2023
RESUMO

A presença de pessoas que moram nas ruas é uma realidade em todo o país e vem se
intensificando, essa situação vem crescendo de acordo com o crescimento sociedade
contemporânea. Ter a rua como moradia é um dos reflexos mais tristes da situação social
no Brasil e no mundo, onde a falha e a falta das políticas públicas eficientes que
envolvem, moradia, saúde, educação, assistência social, mostram o desleixo que o poder
público tem diante da garantia dos direitos do cidadão que estão nessa situação, que por
lei ter as condições mínimas de sobrevivência asseguradas. Tal trabalho busca analisar a
realidade de exclusão social e dos principais problemas enfrentados e a violação de
direitos e das estratégias de sobrevivência desenvolvidas. A justificativa para o presente
trabalho se dá a partir de uma análise da situação atual, na qual tem sido cada vez mais
criticada pela população em que a população em situação de rua é esquecida pelos
representando do povo em suas diversas especificidades, além do agravante de a própria
população não ter conhecimento e assistência dos seus direitos fundamentais. Como
base de pesquisa a metodologia utilizada se baseou em pesquisa bibliográfica baseando-
se em grandes estudiosos dos assuntos como De Lucca (2007), Stoffels (1977),
Rousseau (1989) entre outros, objetivando assim apresentar elementos, definições e
situações em que revelam a realidade vivida pela população em situação de rua no Brasil.

Palavras-chave: Brasil, Sociedade, População, Rua, Políticas Públicas.


1. INTRODUÇÃO
A sociedade do século XXI convive com várias questões sociais dadas pelo
processo de globalização e precarização das relações vivenciadas por tal e a situação de
rua é uma delas pois é motivo de debates nos diferentes segmentos em que as políticas
públicas dominam, onde são abordadas questões que dizem respeito sobre a
necessidade de intervenção na saúde, assistência social, moradia e educação.
Portanto o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, órgão do
Governo Federal responsável pelo Primeiro Censo Nacional e Pesquisa Amostral sobre a
População em Situação de Rua, realizado em 2008, adota a seguinte definição de
população de rua:
“Grupo populacional heterogêneo, caracterizado por sua condição de
pobreza extrema, pela interrupção ou fragilidade dos vínculos
familiares e pela falta de moradia convencional regular. São pessoas
compelidas a habitar logradouros públicos (ruas, praças, cemitérios
etc.), áreas degradadas (galpões e prédios abandonados, ruínas,
etc.) e, ocasionalmente, utilizar abrigos e albergues para pernoitar”
(Brasil, 2008, p. 8).
Então o contexto histórico sobre a população em situação de rua sempre foi
marcado por perdas, desemprego, exclusão social e envolvimento com atos ilícitos e
atividades ilegais, sendo assim rotuladas pela sociedade, como vagabundas, sujas,
loucas, perigosas e coitadas, contribuindo no aumento para atos violentos. Essas
definições dadas somente alimentam as barreiras e o distanciamento entre e população
em situação de rua com a população em geral, aumentando assim as práticas de atitudes
de preconceito, desprezo, hostilidade e perversidade contra ela, conforme noticiado
frequentemente pela mídia.
Por isso ter a rua como moradia é um dos reflexos mais tristes da situação social
no Brasil e no mundo, onde a falha e a falta das políticas públicas eficientes que
envolvem, moradia, saúde, educação, assistência social, mostram o desleixo que o poder
público tem diante da garantia dos direitos do cidadão que estão nessa situação, que por
lei ter as condições mínimas de sobrevivência asseguradas.
Esse assunto está se tornando cada vez mais visível sociedade e na mídia,
devido ao crescente número de pessoas em situação de miséria social.
A justificativa para o presente trabalho se dá a partir de uma análise da situação
atual, na qual tem sido cada vez mais criticada pela população em que a população em
situação de rua é esquecida pelos representando do povo em suas diversas
especificidades, além do agravante de a própria população não ter
conhecimento e assistência dos seus direitos fundamentais.

Como base de pesquisa a metodologia utilizada se baseou em pesquisa


bibliográfica baseando-se em grandes estudiosos dos assuntos como De Lucca (2007),
Stoffels (1977), Rousseau (1989) entre outros, objetivando assim apresentar elementos,
definições e situações em que revelam a realidade vivida pela população em situação de
rua no Brasil.

2. CONSTRUÇÃO SÓCIO-HISTÓRICA DA SOCIEDADE MODERNA EM FRENTE A


POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

Não há muitos documentos historiográficos que relatem fatos ou dados marcantes


sobre a história das pessoas em situação de rua no início da sociedade brasileira. Mas
podemos ver alguns momentos históricos, que foram importantes para o surgimento deste
fenômeno, como a Revolução Industrial e a implementação do capitalismo na sociedade
moderna.
De acordo com o De Lucca (2007), a população de rua,
[...] A população de rua, tal como é hoje, não existiu desde sempre,
sendo invenção social recente e bem datada em nosso país. Uma
reconfiguração daquele antigo mendigo – cuja imagem ligava-se
unicamente à prática circunscrita da mendicância nas ruas e ao
fracasso moral e individual – inicia-se na passagem para a década de
oitenta e consolida-se no início do novo século. Nestes anos vimos a
experiência das ruas ganhar outros contornos, novos indicadores e
evoluir velozmente. Junto a isso se estabelece uma complexa e
entremeada arena de interações na qual uma série de discursos,
práticas e instituições disputam e produzem valores específicos, mas
também propõem soluções para a crescente população que habita o
espaço público da cidade. Ao mesmo tempo em que aumenta o
número de pessoas vivendo nas ruas, todo um conjunto de atores
coletivos, ONGs, entidades religiosas, organismos estatais e figuras
políticas e intelectuais, começam a entrar em conexão e concorrência
pela definição e delimitação do que é população de rua, como se
deve tratá-los, quem deve tratá-los, quais técnicas adequadas de
tratamento, quem deve falar para eles, por eles e sobre eles, e qual o
papel de cada um destes agentes em tal dinâmico contexto. (De
Lucca,2007, p. 18-19)

A primeira pesquisa sobre vida dos moradores de rua que se tem conhecimento
no Brasil foi realizada por Stoffels e publicada em 1977.
Esta obra é a única pesquisa de caráter sociológico que se utiliza no vocábulo o
termo “mendigo”, expressão até hoje vem é utilizado para definir as pessoas que viviam
nas ruas.
O autor, portanto, realiza um importante estudo tanto por discorrer
sobre o fenômeno ao longo dos tempos, como também por caracterizá-lo na cidade de
São Paulo

dos anos 1970 diante do processo de urbanização, industrialização e consequente


constituição de um exército industrial de reserva.
O tema sobre a população em situação de rua ficou evidente durante a Revolução
Industrial (1760-1840), onde foi um período que surgiram os primeiros dados e estudos
sobre a população em situação de rua, pois os camponeses e pequenos produtores foram
obrigados a seguirem o novo sistema que estava surgindo, o capitalismo.
O capitalismo é um sistema em que os bens e serviços, inclusive as
necessidades mais básicas da vida, são produzidos para fins de troca
lucrativa; em que até a capacidade humana de trabalho é uma
mercadoria à venda no mercado; e em que, como todos os agentes
econômicos dependem do mercado, os requisitos da competição e da
maximização do lucro são as regras fundamentais da vida. Por causa
dessas regras, ele é um sistema singularmente voltado para o
desenvolvimento das forças produtivas e o aumento da produtividade
do trabalho através de recursos técnicos. Acima de tudo, é um
sistema em que o grosso do trabalho da sociedade é feito por
trabalhadores sem posses, obrigados a vender sua mão-de-obra por
um salário, a fim de obter acesso aos meios de subsistência. No
processo de atender às necessidades e desejos da sociedade, os
trabalhadores também geram lucros para os que compram sua força
de trabalho. Na verdade, a produção de bens e serviços está
subordinada à produção do capital e do lucro capitalista. O objetivo
básico do sistema capitalista, em outras palavras, é a produção e a
auto expansão do capital [por meio da exploração massiva dos
trabalhadores] (WOOD, 2014, p. 12)
Nesse período inúmeras famílias saíram de seus lares a procura de trabalho e o
número de vagas não eram proporcionais, a população então começou a viver em volta
das indústrias, fazendo de tudo para conseguir o sustento de sua família.
Entre os anos de 1840 e 1870, o progresso social, tecnológico e econômico
ganharam potência com a criação de novos meios para super manufaturar para ter
importância e crescimento financeiro, então o mundo novo do capitalismo triunfou e,
“[...] determina uma acumulação de miséria correspondente à
acumulação de capital [...] acumulação de riqueza num polo é ao
mesmo tempo acumulação de miséria [...]” (MARX, 1984, p. 749).
Com o desenvolvimento frenético de uma nova sociedade totalmente capitalista,
a compra de terras começou a sofrer fortes impactos sobre aqueles que não possuíam
renda e sem alternativas, passam a utilizar as ruas da cidade como moradia. Vendidos
todos os seus meios de produção e moradia, esses indivíduos se viram obrigados a
vender a sua mão de obra por salários indignos para poder sobreviver.
De acordo com Silva (2009), o aparecimento da população em
situação de rua se deu através de camponeses, onde eles não foram abrangidos pela
indústria, pela

dificuldade de adaptação a um ritmo frenético e massacrante de trabalho nas indústrias


que estavam crescendo rapidamente por conta do capitalismo.
Diante disso tudo as pessoas estavam sem moradia, sem dinheiro, famintas e
sem proteção alguma, por consequência atitudes imorais, como o roubo e a vadiagem,
começaram a crescer junto com a miséria.
Conforme estudos de Jean-Jacques Rousseau (1989) desigualdade em seu
tempo já estava presente desde o período medieval e poderia ser identificada facilmente
nas mazelas. Os senhores ou feudos viviam através dos esforços dos servos, onde
tinham apenas um dia na semana para produzir e colher alimentos para sua família.
Inúmeros impostos eram pagos aos seus reis e quando não conseguiam pagar perdiam
suas casas e terras tornando-os miseráveis. Ainda na Idade Média, os moradores de rua
eram dados como o caminho para salvação dos ricos, por serem os meios para a prática
da caridade, onde muitos pensavam que através da caridade iriam ser salvos no dia da
morte.
No Brasil, a sociedade nos anos 1930 a 1956 sofreu um impacto muito no setor
de industrialização, anos em que Getúlio Vargas inseriu uma política industrializante, onde
seu governo priorizou a implantação de indústrias estatais para atuarem em setores
estratégicos, especialmente na área de bens de produção e de infraestrutura.
Com o desenvolvimento dessa nova política houve a ausência de políticas
públicas voltadas para o setor agrícola, deixando os população rural à mercê da miséria e
por falta de opção houve a imigração da população rural para a área urbana, passam a
vender sua força de trabalho nas indústrias na cidade e
enfrentaram um mercado totalmente capitalista e consumidor e mão de obra
extremamente barata.
Esse sistema de industrialização no Brasil apresentou consequências negativas
para o país, como, desempregos em massa, exclusão social, condições miseráveis de
saúde e moradia, onde as pessoas começaram a se marginalizar tendo somente a rua
como moradia. Como essa população em situação de rua não teve a devida atenção
durante as décadas, a situação teve o crescente aumento visto que a cada
ano mais indivíduos utilizam as ruas como moradia.
Segundo Netto (2011), nesse período a pobreza, se tornou um novo fenômeno,
que foi a consequência dessa política de industrialização, que foi chamada de “questão
social” onde a pobreza “crescia na razão direta em que aumentava a capacidade social de

produzir riquezas”, porém nem todos conseguem se adaptar a esta mudança brusca,
sendo descartado da produção capitalista e como resultado passam a sobreviver nas
ruas, ficando as margens de toda injustiça em meio a falta de trabalho.
Até que em meados do século XIX, a assistência aos pobres e moradores de rua,
era feita por iniciativas individuais ou pela religião, mas, não pelo Estado. Com os passar
dos tempos com a crescente situação de pobreza e moradores de rua, surgiu a
Assistência Social e anos depois passou a ser disposto do Estado, onde ele tornou a
Assistência Social em um órgão filantrópico e pouco a pouco surgem as instituições
filantrópicas, onde recebiam apenas recebiam apoio financeiro do Estado, de acordo com
Máximo e Melo (2006):
“à assistência pública se constituiu, historicamente, como apoio e
subvenção às organizações filantrópicas que realizavam essas
iniciativas de assistência aos pobres. Esse modelo de assistência foi
predominante até os anos 1930 no Brasil” (MAXIMO E MELO, 2016, f.
117).
Portanto em junho de 1934, foi elaborada a Constituição de 1934 sendo a
primeira lei a prever assistência aos desvalidos, que assegura à Nação a unidade, a
liberdade, a justiça e o bem-estar social e econômico. Em 1938 é fundado o Conselho
Nacional de Serviço Social (CNSS), ligado ao ministério da educação e saúde pública e
tinha como objetivo receber, avaliar e fiscalizar o apoio financeiro estatal para entidades
filantrópicas.

3. PRINCIPAIS PROBLEMAS ENFRENTADOS PELA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE


RUA
Conforme o pesquisador do Ipea Marco Antônio Carvalho Natalino, autor do
estudo que analisou a evolução no quantitativo de pessoas em situação de rua até 2022,
aborda que:
“O crescimento da população em situação de rua se dá em ordem de
magnitude superior ao crescimento vegetativo da população. Além
disso, esse crescimento se acelerou nos últimos anos”, (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Portanto de acordo com os estudos realizados e explanados no
Encontro Nacional Sobre População em Situação de Rua, realizado em 2005 pelo
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome por meio da Secretaria Nacional
de Assistência Social e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a
população em situação de rua é caracterizada, como um grupo populacional heterogêneo,
composto

por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza
absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados e falta de habitação convencional regular,
sendo obrigado a utilizar a rua como moradia e sustento, mesmo sendo de forma
permanente ou temporário.
O “morar na rua” não é apenas um problema social, mas também um
problema público: ele ocupa um lugar incontornável no espaço
público, midiático e político (regulamentar, legislativo) e nos espaços
públicos urbanos (ruas, praças, jardins públicos, espaços
intersticiais). Sua dimensão pública associa de forma inextricável os
desafios políticos e urbanos: a presença de pessoas sem abrigo nos
espaços urbanos interroga as capacidades das nossas democracias a
enfrentar a exclusão dos mais vulneráveis, seja pelas acomodações
cotidianas da urbanidade seja pela ação pública na qual estão
engajados associações e poderes públicos”. (Choppin, Gardella,
Jouve e Pichon, 2013, p. 101)
Os autores da citação acima, destaca tal fato social como problema de gestão
pública onde estão envolvidos diversos tipos de processos sociais e políticos, então a
definição do termo “morar na rua” é dada como um problema social, objeto de
preocupação, debate e ação.
Com o crescimento frenético da urbanização e sem um devido planejamento
trouxe como consequência vários problemas de ordem social, como, inchaço das cidades,
provocado pelo crescente acúmulo de pessoas e a falta de uma infraestrutura adequada
gera transtornos para a população urbana.
Como sabemos a população vive inúmeros problemas com a ausência de acesso
às principais políticas públicas, como, saúde, educação, assistência social,
programas de transferência de renda, moradia, segurança, cultura, esporte e lazer,
carência de programas de geração de emprego e renda e da rede socioassistencial de
atendimento à População em Situação de Rua, como, Centros Pop e abrigos e dificuldade
de acesso à documentação e com isso acabam utilizando as ruas da cidade como espaço
de moradia.
A educação de baixa qualidade também gera inúmeras
consequências, pois aqueles cidadãos que não conseguem se qualificar de acordo com o
que o mercado perde as chances de conseguir um emprego, aumentando assim as
atividades como vendedores ambulantes, coletores de materiais recicláveis, flanelinhas,
entre outras atividades que crescem a cada dia, sem nenhum tipo de lei os amparando.
Os serviços públicos relacionados a saúde, apresentam problemas
organizacionais e estruturais, com filas enormes e demoradas, insuficiência de aparelhos,
falta de medicamentos seja ele o mais básico, poucos funcionários incluindo médicos,

enfermeiros e assistentes sociais se tornando um total desrespeito com o cidadão que


necessita do serviço de saúde pública.
Outra situação preocupante é a violência, pois todos estão vulneráveis aos crimes
que ocorrem, principalmente nas grandes cidades do Brasil. Diariamente têm-se notícias
de assassinatos, assaltos, sequestros, agressões e outros tipos de violência, contribuindo
bastante para que a população fique com medo, pois não confiam na segurança pública e
isso ocorre em todas as Regiões, Estados, Cidades e Bairros, refletindo em aspectos
como a qualidade de vida, educação, segurança, situação financeira, raça, cor, etnia,
onde há um grande reflexo da grande desigualdade na distribuição de renda.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no ano de
2016, calculou mais de 101 mil as pessoas em situação de rua no Brasil, já nos anos
2019 a 2022, houve um crescimento de 38%, trata-se de uma expansão muito superior à
da população brasileira na última década, de apenas 11% entre 2011 e 2021, na
comparação com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As grandes cidades brasileiras enfrentam diversos problemas, tais como as
questões da moradia, desemprego, desigualdade social, saúde, educação, violência e
exclusão social por isso há inúmeros casos de pessoas em situação de rua.

4. AÇÕES ESTRATÉGICAS AO ENCONTRO DA POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE


RUA
Com base no que é exposto na Política Nacional para inclusão Social da População em
Situação de Rua, a qual tem por finalidade de:
Estabelecer diretrizes e rumos que possibilitem a (re) integração
destas pessoas às suas redes familiares e comunitárias, o acesso
pleno aos direitos garantidos aos cidadãos brasileiros, o acesso a
oportunidades de desenvolvimento social pleno, considerando as
relações e significados próprios produzidos pela vivência do espaço
público da rua. Para tanto, vale-se do protagonismo de
movimentos sociais formados por pessoas em situação de rua, entre
outras ações que contribuam para a efetivação deste processo
(BRASIL, 2008, p.4).
Tal documento apresenta propostas de como os gestores públicos e a sociedade
em geral possam realizar ações estratégicas através de projeto e planos que devem ser
executados pelos órgãos e Ministérios, isso se torna importante pois é uma questão
necessária e urgente para atender as demandas da população em situação de rua.

Com base nos estudos de pesquisa, a Política Nacional para inclusão Social da
População em Situação de Rua (2008), foram citadas algumas estratégias de aplicação,
como podemos ver a seguir.
Direitos humanos: os policiais precisam ser preparados para atender de forma
humanizada a população que moram na rua e juntamente com a central de atendimento
fortalecer para denúncias de violação de direito, possibilitando os direitos da população
em situação de rua, diminuindo a impunidade em relação aos crimes que vitimiza tal
população e facilitar esta população a assistência jurídica.
Trabalho e emprego: deve-se dar acesso para moradores de rua para inserção no
mercado de trabalho, através de parceria com iniciativas privadas e públicas e cursos
profissionalizantes juntamente com a garantia dos direitos trabalhista.
Desenvolvimento humano e habitação: realizar por meio do governo reformas,
construções públicas ou utilização de espaços vazios nos centros das cidades para
moradia. garantindo que esta residência adquirida, seja digna para sua sobrevivência,
entre outras medidas relacionadas à habitação.
Assistência social: Propiciar a inclusão do cidadão ao Cadastro Único do governo
federal juntamente com programa de erradicação do trabalho infantil, inclusão do
benefício do programa Bolsa Família e aumentar o número de Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua conhecidos como Centros POP.
Educação: Dar acesso inclusivo à educação, possibilidade de estudar em lugares
abertos, para evitar o transtorno de ir até uma escola, oferecer a possibilidade de se
matricular em todas as fases educacionais em qualquer período do ano letivo, incentivar a
permanência para regular nas aulas, através de fornecimento de material escolar,
alimentação e transporte, objetivando a extinguir a discriminação, principalmente em
relação à população em situação de rua, trabalhar nas escolas temas como igualdade
social, gênero, raça e etnia e abordar as causa e consequência que leva uma
pessoa a viver em situação de rua.
Cultura: dar acessibilidade à população de rua, toda manifestação cultural, assim
como também propiciar a participarem e aprender práticas artísticas; apoiar iniciativas
com culturais viabilizando a possibilidade de renda a eles e a oportunidade de construir a
cidadania desta pessoa em situação de rua; conscientizar a população a comunidade
para ter outro olhar para a população de rua.

Segurança Alimentar e Nutricional e a Saúde: Proporcionar à população situação


de rua uma alimentação nutritiva através de restaurantes populares. Fortalecer o
atendimento e à prevenção a doenças como AIDS, tuberculose, hanseníase, hipertensão
arterial, problemas dermatológicos, entre outras, como também facilitar o acesso aos
Centros de Atendimento Psicossocial, capacitar todos os funcionários da saúde para
melhor atendê-los, para torná-los mais acessíveis e conhecidos os serviços de saúde
para a população em situação de rua.

5. CENTRO POP E SEU FUNCIONAMENTO


O Centro POP - Centro de Referência Especializado para População em
Situação de Rua foi desenvolvido através do decreto nº 7.053/2009, de 23 de dezembro
de 2009, constitui-se então a uma unidade de referência da Proteção Social Especial de
Média Complexidade, de natureza pública e estatal, com o objetivo de ofertar o serviço
especializado para pessoas em situação, oferecendo serviço especializado em
abordagem social e voltado exclusivamente para à população em situação de rua
podendo ser jovens, adultos, idosos e famílias, onde essas pessoas passaram a ter maior
atenção das instâncias governamentais.
Acolhida; escuta; estudo social; diagnóstico socioeconômico;
Informação, comunicação e defesa de direitos; referência e
contrarreferência; orientação e suporte para acesso à documentação
pessoal; orientação e encaminhamentos para a rede de serviços
locais; articulação da rede de serviços socioassistenciais; articulação
com outros serviços de políticas públicas setoriais; articulação
interinstitucional com os demais órgãos do Sistema de Garantia de
Direitos; mobilização de família extensa ou ampliada; mobilização e
fortalecimento do convívio e de redes sociais de apoio; mobilização
para o exercício da cidadania; articulação com órgãos de capacitação
e preparação para o trabalho; estímulo ao convívio familiar, grupal e
social; elaboração de relatórios e/ou prontuários. (TIPIFICAÇÃO
NACIONAL DE SERVIÇOS SOCIOASSITENCIAIS, 200, p.29)
O objetivo do Centro POP é assegurar atividades que possa
desenvolver sociabilidade, oferecer o serviço especializado em abordagem social
possibilitando o resgate e de fortalecer e construir vínculos com os familiares, para que
aos poucos a pessoa tenha a opção de sair da rua.
Como é caracterizado como um trabalho social é função do Centro POP constatar
e identificar o trabalho infantil, exploração sexual de criança e adolescente e outras
violações de direito e intervir o mais rápido possível, este trabalho deve ser realizado por
uma equipe técnica de educadores sociais do Centro POP, onde mesmo devem fazer

mapeamento dos territórios e locais de vulnerabilidade pessoal e social, como também o


encaminhamento ao Serviço oferecido no Centro POP e realizar rondas diárias quando
solicitado por pessoas da comunidade ou de outros serviços.
Também deve-se oferecer orientação e apoio para obtenção de documentação
pessoal, encaminhamento para a rede de serviços socioassistenciais, encaminhamento
de usuários-dependentes de substâncias psicoativas para serviços da rede de saúde,
encaminhamento para outros serviços da rede de saúde, entrevista individual e/ou
familiar, acolhida e escuta inicial, encaminhamento para órgãos de defesa de direitos,
como, na Defensoria Pública, Poder Judiciário, Ministério Público, Conselho Tutelar,
estudo social, visitas domiciliares, mobilização e fortalecimento do convívio e de redes
sociais de apoio, busca ativa, ações/iniciativas voltadas ao acesso ao mercado de
trabalho, com encaminhamento para capacitação profissional/curso profissionalizante e
encaminhamento para programas de geração de trabalho e renda, entre outras.
Suas ações, portanto, são integradas aos demais serviços de Assistência Social e
outras políticas públicas, buscando promover a ressignificação de vivências e construção
de projetos de vida que contribuem para o processo de saída dos cidadãos das ruas.

6. METODOLOGIA
De acordo com Ferreira (2002), a pesquisa tem como objetivo conhecer o que
tem sido produzido em âmbito acadêmico sobre um tema específico e discutir essa
produção, pondo em consideração o tempo, o lugar e o contexto e possui caráter
“inventariante e descritivo das produções acadêmicas e científicas sobre o tema”
(Ferreira, 2002).
Para Zoltowski, Costa, Texeira e Koller (2014), a revisão sistemática
é definida por uma estratégia de busca das produções científicas, juntamente com uma
análise crítica e uma síntese do que foi encontrado.
Como uma fonte de pesquisa foi utilizado o Portal Capes, onde as palavras
chaves foram, “pessoas em situação de rua”, “morador de rua” e “Centro POP”, o que
resultou em 424 produções científicas entre, tese, dissertações e artigos científicos.

Este trabalho se constitui em uma pesquisa bibliográfica ou revisão sistemática,


foram utilizadas pesquisas via internet, como artigos, documentários, revistas digitais,
notícias e livros sobre a temática de pessoas em situação de rua.
Foram utilizados também sites do Governo Federal, Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, Senado Federal, Cartilhas do Sistema Único de Assistência
Social, objetivando assim apresentar elementos, definições e situações em que revelam a
realidade vivida pela população em situação de rua no Brasil.

7. ANÁLISE DOS RESULTADOS


No presente trabalho foram pesquisados e analisados os seguintes aspectos, qual
o contexto histórico, quais motivos que levaram essas pessoas a viverem na rua, quais as
dificuldades encontradas, quem recorrer quando necessário, quais são as legislações que
amparam o morador de rua, entre outros.
Esses dados foram interpretados de acordo com as pesquisas realizadas e
constatou-se que os sujeitos apresentaram inúmeros fatores que atuam de forma
simultânea, favorecendo a permanência dessas pessoas nas ruas.
A análise dos resultados nos mostra que essa população ainda tem esperança de
resgatar o vínculo familiar, mas encontram uma série de dificuldades devido a situação de
fragilidade em que se encontram, pois, essas pessoas possuem em comum, na maioria
das vezes, um vínculo familiar frágil, desemprego e muito dos casos a dependência
química, o que acaba por preponderar o ingresso ou a permanência nas ruas.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presença de pessoas utilizando as ruas como moradia se tornou
como problema público em grande quantidade de cidades no mundo há muito tempo em
que tudo começou como uma questão social e territorial que acabou se tornando também
em uma questão humanitária., hoje não se trata mais de defender a sociedade, mas de
salvar o indivíduo, portanto agora se tornou uma questão de política, caridade políticas
sociais, dos direitos humanos e urbanos.
Contudo Mattos (2006) destaca a importância de compreender o processo de
saída das ruas para o delineamento de políticas públicas direcionada à população de rua,
entendendo este processo como uma forma criativa de estabelecer novos modos de viver
e enfrentar as dificuldades sociais.

Frente a presente situação social do Brasil, torna-se necessário e de maior


preocupação a efetivação dos direitos das pessoas em situação de rua. De acordo com o
que foi explanado no presente trabalho, os moradores de rua quase não têm acesso as
políticas públicas voltadas a eles, pois muitas vezes o Estado omite ações no que diz
respeito à saúde, emprego, moradia, saúde, cultura, alimentação entre outras.
Na atualidade com a implantação do Projeto de Lei 1.635/2022, onde criou o
Estatuto da População em Situação de Rua , estabelece reinserção das pessoas na
sociedade de modo que não haja mais brasileiros nessa situação, cita também que a
injustiça, desigualdade e discriminação enfrentada pelas pessoas que vivem nas ruas,
faz-se necessário maior esclarecimento de toda a população acerca de quem são essas
pessoas, de como esse segmento formou-se historicamente, além de que são titulares
dos mesmos direitos essenciais que qualquer outro cidadão.
Portanto essa lei como tantas outras juntamente com os representantes do povo,
tem a obrigação de amparar as pessoas que delas necessitam, pois elas tentam suprir as
necessidades básicas de sobrevivência nas ruas sem a mínima dignidade ou proteção,
onde os mesmo são tratados ora com compaixão, ora com repressão, preconceito,
indiferença e violência, sabendo que a Declaração Universal e a Constituição de 1988,
aborda claramente em seu Art. 5º que, todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade.

8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria de
Avaliação e Gestão da Informação. Pesquisa Nacional Sobre a População em
Situação de Rua. Brasília,2010. Disponível em:
https://aplicacoes.mds.gov.br/sagirmps/ferramentas/docs/Monitoramento_SAGI_Popul
acao_situacao_rua.pdf . Acessado em: 23.nov.2023

 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Política Nacional


para Inclusão Social da População em Situação de Rua para consulta pública.
Brasília, 2009. Disponível em: http://www.mds.gov.br/sites/banner-internas/politica-da-
populacao-emsituacao-de-rua-e-bpc-na-escola/politica-nacional-para-a-populacao-
em-situacao-de-rua-e-bpcna-escola/ . Acessado em: 09 nov. 2023

 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria


Nacional de Assistência Social, Secretaria de Avaliação e Gesta da Informação.
Relatório do I Encontro Nacional sobre População em Situação de Rua. Brasília,
2006. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/populacao-em-
situacao-de-rua/publicacoes/relat_pop_rua_digital.pdf . Acesso em: 23.nov.2023

 BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria


Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social PNAS
2004.Norma Operacional Básica NOB SUAS. Brasília, DF: MDS; SNAS, 2005.
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