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Resumo
Ao longo dos estudos realizados no projeto de pesquisa “População em situação de rua em
Curitiba: perfil e vivências no território central da cidade”, uma questão que ganhou evidência
foi a reduzida quantidade de informações e produções acerca das mulheres que fazem
vivência de rua. Em revisão bibliográfica realizada nos portais Scielo e Periódicos Capes,
foram selecionados 55 artigos tratando da população em situação de rua no Brasil e apenas
um tratava da questão da mulher. Observando dados do Cadastro único de programas
sociais, observou-se que, em Curitiba, as mulheres representam 10% da população de rua
cadastrada (FAS, 2018). Em todas as fontes de consulta buscadas pelos alunos e professores
do grupo de pesquisa, confirma-se a escassez de informações precisas acerca da quantidade
e do perfil da população em situação de rua em Curitiba. Mas quando se refere à mulher, além
da ausência de informações, há também ausência de visibilidade na produção científica.
Considerando tal cenário, objetivou-se com este estudo compreender as especificidades das
demandas das mulheres em situação de rua, além de buscar conhecer as políticas voltadas
à mulher e em que medida estas se efetivam quando se trata da mulher em situação de rua.
A metodologia de pesquisa adotada foi de uma pesquisa bibliográfica que, segundo Lakatos
e Marconi (2001, p.183) “é [...]toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema
estudado,[...]”, assim pode-se dizer que “a sua finalidade é colocar o pesquisador em contato
direto com tudo o que foi dito, escrito ou filmado sobre determinado assunto”(LAKATOS e
MARCONI, 1996, p.66). A busca bibliográfica específica acerca de mulheres em situação de
rua não foi suficiente para alcançar o objetivo proposto, uma vez que se confirmou a escassez
de produções disponíveis sobre o assunto. Assim, os resultados da pesquisa compreenderam
a discussão acerca da situação de rua, compreendendo este fenômeno como uma expressão
da questão social e como resultante de sucessivos processos geradores de desigualdades
sociais (IAMAMOTO e CARVALHO, 1982; NASCIMENTO, 2000); a reflexão sobre as
desigualdades de gênero que amplificam as exclusões sociais presentes na sociedade
capitalista; e o debate acerca da violência contra a mulher, suas formas de proteção/defesa
e sua concretização no cotidiano da mulheres em situação de rua (BRASIL, 2006; OLIVEIRA
e PAIVA, 2007). Observa-se que a evidência da violência e das discriminações implica em um
status de perda da cidadania (GUSTIN, 2005; RODRIGUES e MIRANDA, 2011). A partir desta
pesquisa foi possível concluir que as mulheres são vítimas de uma exclusão histórica e cultural,
que ainda se reproduz com intensidade na atual sociedade brasileira. As exclusões sociais que
decorrem na situação de rua, tornam-se mais graves para as mulheres, potencializando
situações de risco para a violência. O Brasil ainda conta políticas frágeis para as mulheres, pois
volta-se mais para as questões da mulher-mãe ou da violência doméstica, sem constituir uma
legislação abrangente de proteção ao gênero feminino. Nesta conjuntura, as mulheres em
situação de rua encontram-se mais ameaçadas do que homens e menos assistidas pelas
políticas públicas do que outras mulheres, que possuam uma referência de domicílio.
INTRODUÇÃO
Ao longo dos estudos realizados no projeto de pesquisa “População em
situação de rua em Curitiba: perfil e vivências no território central da cidade”, uma
questão que ganhou evidência foi a reduzida quantidade de informações e produções
acerca das mulheres que fazem vivência de rua.
Em revisão bibliográfica realizada nos portais Scielo e Periódicos Capes, foram
selecionados 55 artigos tratando da população em situação de rua no Brasil e apenas
um tratava da questão da mulher. Observando dados do Cadastro único de programas
sociais, observou-se que, em Curitiba, as mulheres representam 10% da população
de rua cadastrada (FAS, 2018). Em todas as fontes de consulta buscadas pelos alunos
e professores do grupo de pesquisa, confirma-se a escassez de informações precisas
acerca da quantidade e do perfil da população em situação de rua em Curitiba. Mas
quando se refere à mulher, além da ausência de informações, há também ausência
de visibilidade na produção científica.
Considerando tal cenário, objetivou-se com este estudo compreender as
especificidades das demandas das mulheres em situação de rua, além de buscar
conhecer as políticas voltadas à mulher já que o Brasil ainda conta com políticas frágeis
e em que medida estas se efetivam quando se trata da mulher em situação de rua.
A metodologia de pesquisa adotada foi de uma pesquisa bibliográfica que,
segundo Lakatos e Marconi (2001, p.183) “é [...]toda bibliografia já tornada pública em
relação ao tema estudado [...]”, assim pode-se dizer que “a sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que foi dito, escrito ou filmado sobre
determinado assunto”(LAKATOS e MARCONI, 1996, p.66).
Os resultados da pesquisa compreenderam a discussão acerca da situação de
rua, compreendendo este fenômeno como uma expressão da questão social e como
resultante de sucessivos processos geradores de desigualdades sociais (IAMAMOTO
e CARVALHO, 2000; NASCIMENTO, 2002); a reflexão sobre as desigualdades de
gênero que amplificam as exclusões sociais presentes na sociedade capitalista; e o
debate acerca da violência contra a mulher, suas formas de proteção/defesa e sua
concretização no cotidiano da mulheres em situação de rua (BRASIL, 2006; OLIVEIRA
e PAIVA, 2007).
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rua. Estas, ao perder tudo, como o emprego, o lar, a família; ao ter seus direitos
negados; e que, em muitas vezes, tem seus pertences limitados ao que cabe em suas
mãos, fazem parte de um segmento populacional crescente, que pode ser
reconhecido como uma expressão da questão social, das mais gritantes aos olhos da
sociedade contemporânea. Os fenômenos decorrentes das desigualdades originadas
pelo modo de produção capitalista implicam em risco para o exercício dos direitos
humanos.
Segundo o artigo 5° da Constituição Federal do Brasil de 1988, todos os
cidadãos são iguais perante a Lei e devem ser respeitados em seus direitos
individuais, sociais e políticos. Uma forma de afirmar e efetivar os direitos da
população em situação de rua é a implementação da Política Nacional para a
População em Situação de Rua (BRASIL, 1988, 2009).
A Política Nacional da População em Situação de Rua, foi instituída pelo
Decreto n°7.053 de 23 de dezembro de 2009. Esta considera população em situação
de rua como
“o grupo heterogêneo que possui em comum a pobreza extrema, sem
vínculos familiares ou fragilizados e a inexistência de moradia, e que utiliza
os espaços públicos como domicilio e dela retira seu sustento, temporária ou
permanentemente, utilizando esporadicamente unidades de acolhimento
para pernoite ou como moradia provisória.” (BRASIL, 2009)
a rua. Destaque-se, contudo, que um fator que se destaca, em conjunto com aqueles já
citados, é a violência sofrida pelas mulheres (PRATES, PRATES e MACHADO, 2011).
A Pesquisa Nacional Sobre População em Situação de Rua (BRASIL, 2009b)
aponta dados que apresentam o subgrupo das mulheres em situação de rua, ainda
que em números significativamente menores, se comparados ao público masculino. A
Pesquisa indica que 82% (22.669) das pessoas entrevistadas eram homens, e apenas
18% (isso equivale a 4.964) eram mulheres. Esta diferença não acontece por acaso.
A vida na rua apresenta desafios intensos para uma mulher. Em condições
extremamente adversas, a vulnerabilidade, a diferentes tipos de situações à qual está
exposta, estas se tornam invisíveis aos olhos da sociedade. (BRASIL, 2009b)
Esta diferença significativa não acontece por acaso. A vida na rua apresenta
desafios muito intensos para a vida de uma mulher, em função de suas
especificidades em relação aos homens. As obriga a lidar com uma realidade
profundamente masculinizada e cheia de preconceitos, situação esta que se
impõe de forma muito mais brutal do que os casos de violência e preconceitos
vivenciados cotidianamente por grande parte das mulheres que não estejam
em situação de rua (BRASIL, 2009b, p. 157).
desprotegida, não só pela falta de moradia em si, mas também pela falta de proteção
básica. (BRASIL, 2009b; IPEA, 2018)
Os diversos tipos de violência à qual a mulher em situação de rua convive pode
ser motivada por disputas de território, pontos de prostituição, pontos de tráfico de
drogas, entre outros.
Também na expectativa de sofrer menos violência, encontram companheiros
que muitas vezes farão uso de violências com as mesmas, como a violência sexual
por exemplo. Por medo ou submissão a seus companheiros, sujeitam-se a viver desta
forma, afim de evitar serem violentadas por diversos outros. Entretanto, a escolha de
um único companheiro, não as livra dos abusos e violências advindas dos mesmos.
Tal situação torna difícil a denúncia e o relato, pois o vínculo com o agressor torna a
mulher ainda mais vulnerável e também pelo fato de não haver legislação especifica
voltada para a proteção destas mulheres (DIAS et al, 2018; TIENE, 2004).
Tiene (2004) afirma que muitas das mulheres em situação de rua habitam nela
por opção, pois foram em busca , da tão sonhada liberdade, o que é confirmado nos
resultados da Pesquisa Nacional sobre população em situação de rua. Muitas optaram
pela rua para fugir dos maus tratos do marido, como também dos conflitos familiares.
No entanto, mesmo nas ruas elas continuam a buscar a tão esperada proteção
(BRASIL, 2009b; TIENE, 2004).
Nota-se que não há uma lei especifica que dê conta da violência sofrida pela
mulher em situação de rua. A lei Maria da Penha, reconhecida como a principal lei de
proteção à mulher no Brasil é bastante especifica, e não se aplica, de forma imediata,
aos casos de violência contra a mulher em situação de rua. Esta lei volta-se para as
questões especificas da mulher-mãe que sofre a violência num contexto de lar, tal
como se pode observar no seguinte trecho:
a violência doméstica ou familiar contra a mulher é toda ação ou omissão,
baseada no gênero, que cause morte, sofrimento físico, sexual ou psicológico
e dano moral e patrimonial, no âmbito da unidade doméstica, da família e em
qualquer relação íntima de afeto, em que o agressor conviva ou tenha
convivido com a agredida (BRASIL, 2006).
Embora parte das agressões ocorra por parceiros que convivem com a mulher
vítima na rua, há o limitador de que tais relações não sejam compreendidas como
familiares ou domésticas, excluindo estas mulheres da proteção legal que lhes seria
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necessária. Desta forma, se pode inferir que a Lei 11.340/2006 não constitui uma
legislação abrangente de proteção ao gênero feminino. Observa-se, então, que as
mulheres em situação de rua encontram-se mais ameaçadas do que homens e menos
assistidas pelas políticas públicas do que outras mulheres, por não possuírem uma
referência de domicílio/lar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo objetivou compreender as especificidades das demandas
das mulheres em situação de rua, além de buscar conhecer as políticas voltadas à
mulher e em que medida estas se efetivam quando se trata da mulher em situação de
rua.
A partir desta pesquisa foi possível concluir que as mulheres são vítimas de uma
exclusão histórica e cultural, que ainda se reproduz com intensidade na atual sociedade
brasileira. As exclusões sociais que decorrem na situação de rua, tornam-se mais
graves para as mulheres, potencializando situações de risco para a violência.
O Brasil ainda conta políticas frágeis para as mulheres, pois volta-se mais para
as questões da mulher-mãe ou da violência doméstica, sem constituir uma legislação
abrangente de proteção ao gênero feminino. Nesta conjuntura, as mulheres em
situação de rua encontram-se mais ameaçadas do que homens e menos assistidas
pelas políticas públicas do que outras mulheres, que possuam uma referência de
domicílio.
Observa-se, por fim, que a evidência da violência e das discriminações implica
em um status de perda da cidadania (GUSTIN, 2005; RODRIGUES e MIRANDA, 2011).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, CASA CIVIL. Lei Maria da Penha. Lei Federal nº 11.340, de 7 de agosto de
2006. Brasília: Casa Civil, 2006. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. <Acesso em
02 out 2018.>
CARMO, Karla Suyanne Nascimento do. ISCHIARA, Julio Cesar. CARNEIRO, Stania
Nágila Vasconcelos. A subjetividade feminina na atualidade: um levantamento de
como a mulher se percebe diante dos papéis assumidos por ela. Documento online.
Portal Psicologia.pt. 2011. Disponível em
http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0249.pdf. Acesso em 16 out 2018.
NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do. Juventude: Novo alvo de exclusão social. In:
BURSZTYN, Marcel (org.). No meio da rua: Nômades, excluídos e viradores. Brasília:
Garamond, 2002. p.57- 87.
SANTOS, Tânia Maria Silva. O perfil das mulheres atendidas no Centro Pop de
Vitória/ES. TCC. Bacharelado em Serviço Social. Vitória: Faculdade Católica
Salesiana do Espírito Santo, 2014.