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Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Revisão Textual:
Prof. Ms. Claudio Brites
Arte e Literatura Transformando a
Política e Sociedade
• Introdução
• Os humanistas
• O berço do renascimento
• A consciência da mudança
Procure ler, com atenção, o conteúdo disponibilizado, lembre-se que ele é a base para as
questões e avaliações. Para saber mais sobre o assunto leia o material complementar. Não
esqueça: a leitura é um momento oportuno para registrar suas dúvidas, por isso não deixe
de registrá-las e transmiti-las ao professor-tutor.
Para que a sua aprendizagem ocorra em um ambiente mais interativo possível, na pasta de
atividades, você também encontrará a atividade de sistematização, o fórum de discussão.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Contextualização
Explore
Viagem na Itália Renascentista 1
• http://www.youtube.com/watch?v=XO0C5Q5Up8g
Viagem na Itália Renascentista 2
• http://www.youtube.com/watch?v=Lza552HllN8
Viagem na Itália Renascentista 3
• http://www.youtube.com/watch?v=Vr2_sxqUGAM
O Príncipe (Nicolau Maquiavel)
• http://www.youtube.com/watch?v=l0-eUiUOoJc
A Vida de Leonardo da Vinci - Parte 1/2
• http://www.youtube.com/watch?v=gk1XeiyhXXI
A Vida de Leonardo da Vinci - Parte 2/2
• http://www.youtube.com/watch?v=b-jpRG4YMWU
Arte Medieval e Renascentista - Parte 1
• http://www.youtube.com/watch?v=X-az2ijSqAg
Arte Medieval e Renascentista - Parte 2
• http://www.youtube.com/watch?v=Tgczi_lw90A
Renascimento cultural
• http://www.youtube.com/watch?v=lbBhAwarP20
O Renascimento - A Era dos Médici
• http://www.youtube.com/watch?v=536jg55cB30
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Introdução
A título de breve introdução aos estudos sobre o Renascimento, pretendemos deixar claro
que o recorte para esta análise será de cunho intelectual, cultural e moral – apresentaremos
o que emerge com os pensadores humanistas em contraposição aos pensadores escolásticos
medievais. Esta posição se dá por haver dúvidas se existiu ou não alguma política ou economia
que caracterizou esse período que, a grosso modo, situa-se entre a segunda metade do século XIV
e o final do século XVI. O Renascimento teve como berço a península itálica com suas grandes
e ricas cidades, celeiro de famílias abastadas, ávidas por perpetuar suas memórias através da
arte e da literatura. Foi também um período com um Papa lembrado mais pelo desempenho
político do que religioso, e um dos maiores mecenas da época. Portanto, quando falarmos do
Renascimento, estaremos nos referindo a uma etapa da história cultural e intelectual europeia.
A Renascença, de súbito, nos parece que foi um movimento cultural e intelectual que surgiu
de um círculo acadêmico capaz de revolucionar, da noite para o dia, a literatura e as artes. Mas,
como em outros eventos históricos de grande porte, a Renascença, ou Renascimento, foi um
processo histórico gradual. Os renascentistas foram surgindo no século XIV e apresentavam
como característica a busca pela cultura clássica antiga, suas referências são os literatos e artistas
latinos e gregos. Porém, o interesse e o amor pelas obras gregas e romanas também pulsaram
nas veias dos intelectuais medievais, Virgílio e Aristóteles foram as bases do pensamento de
Dante e de Tomás de Aquino.
Para definir o termo renascimento nunca houve uma resposta fechada. Existem diversas
características para se descrever o que foi a Renascença. Um aspecto nítido desse
período foi a busca pela erudição através de referenciais clássicos da Antiguidade.
A cultura renascentista foi se desenvolvendo gradualmente. Os autores latinos da
antiguidade nunca foram desprezados na Idade Média – Virgílio, Ovídeo e Cícero
estiveram presentes nas obras desse período. Na Idade Moderna, outros autores foram
redescobertos e valorizados, tais como: Tito Lívio, Tácito e Lucrécio. Outra importante
redescoberta dos renascentistas foram as obras literárias de filósofos gregos como
Platão – um ilustre desconhecido dos latinos medievais.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Os humanistas
Segundo Silva, o Humanismo, “dependendo do historiador que o defina, foi uma filosofia ou
uma reforma acadêmica, que consolidou novas ideias acerca do homem e do conhecimento”. Os
humanistas, apesar de serem um grupo heterogêneo e seguirem diferentes referenciais teóricos2,
tinham grande preocupação com a erudição, isto os levou ao desenvolvimento de certo cuidado
tanto com a crítica histórica e com a linguística de documentos quanto com a expansão da
educação, pois, para eles, o pensamento crítico deveria ser alcançado pela instrução.3
O termo Humanismo sintetiza os ideais dos pensadores renascentistas e apresenta dois
significados distintos, embora complementares: o sentido mais técnico se refere a um programa
de estudos que visava substituir a ênfase escolástica medieval, presa à lógica e à metafisica,
pelo estudo da linguagem, da história, da literatura e da ética. Os humanistas, em sentido mais
estrito, buscavam sua inspiração na literatura antiga, onde a regra era o estudo do latim clássico
e do grego. Para os humanistas, a lógica escolástica era demasiadamente árida e irrelevante
para a vida prática, preferindo as “humanidades”, que tinham o propósito de tornar as pessoas
mais virtuosas e preparadas para desempenharem bem as funções públicas do estado.
De forma mais ampla, o termo Humanismo coloca seu acento na dignidade do homem,
considerando-o o mais excelso das criaturas de Deus, abaixo apenas dos anjos. O homem é
capaz, segundo alguns autores da Renascença, de chegar ao conhecimento de Deus. Outros
autores acreditavam ainda que o homem pudesse dominar o seu destino e viver com felicidade
neste mundo. Mas, tanto um grupo quanto o outro, eram otimistas em relação à raça humana,
apesar de, como de hábito, relegarem a mulher a um segundo plano. Mesmo assim, algumas
mulheres da aristocracia recebiam a educação humanista para se tornarem mais polidas.4
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O Humanismo alicerçou as bases que definiu e afirmou o novo papel do homem na sociedade.
Ele e a Renascença proporcionaram à Europa a renovação necessária para a entrada em uma
nova fase de sua existência: a Idade Moderna.
Durante os séculos XIV e XV, houve uma renovação cultural sob o signo do retorno aos clássicos
gregos e latinos. Escritos ético-políticos, hoje consagrados como clássicos da literatura, proliferaram
nas cidades-estados italianas, criações de escritores, filósofos, poetas, estadistas e diplomatas
como: Francesco Petrarca, Giannozzo Manetti, Lorenzo Valla, Marsilio Ficino, Giovanni Pico della
Mirandola, entre outros. Esses intelectuais foram posteriormente chamados de humanistas. O
Humanismo refere-se genericamente a uma série de valores e ideais relacionados com a celebração
do ser humano enquanto centro da criação.
Como dito, esse movimento intelectual iniciado na Itália e depois
difundido por boa parte da Europa rompeu com a influência da
Igreja e do pensamento religioso da Idade Média. Enquanto base
intelectual, o Humanismo procurou afirmar o novo papel do
homem no universo: o antropocentrismo. O Humanismo forneceu
os fundamentos ideológicos do Renascimento e da reforma ao
romper com o paradigma teocêntrico ditado pelo modelo de mundo
judaico-cristão.
Fonte: O homem vitruviano, 1490, Leonardo
da Vinci.
A ideia que os italianos tinham da divindade perdeu sua consistência, a religião e sua moral
estavam enfraquecidas, suas incertezas buscaram apoio nas superstições da antiguidade, do
Oriente, como a astrologia e a magia.7 Mas o homem moderno não se despiu de suas crenças,
apenas não se deixou governar por elas e pelas pessoas que institucionalizavam o sagrado – a
religião e sua influência na sociedade não deixaram de ser preocupação dos humanistas.
O Humanismo, por ser um movimento de elite, não teve penetração consistente na sociedade
pobre e camponesa de seu tempo. Segundo Heller, o Humanismo é uma corrente de pensamento
ético e acadêmico do Renascimento, portanto, a religiosidade e os temores às leis de Deus
impostos pela religião não se dissiparam como pretendia a elite em sua disputa de poder com
o papado e sua corte.8
Atenção
Na história da humanidade, os movimentos intelectuais que revolucionaram
costumes, em geral, foram sendo assimilados de forma mais lenta pelas massas do
que pelas elites – o Humanismo é um desses exemplos.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Esse “novo homem” idealizado no Renascimento passou a ser protagonista de sua história, o
antropocentrismo suplantou o mundo teocêntrico na literatura e nas artes, antes dominadas pela
igreja, pelos reis, e pelos senhores feudais. As hierarquias “espiritual” e “temporal” passaram a
ser questionadas e surgiu, desse questionamento, uma nova visão de mundo, na qual o ideário
humanista dominava a produção artística e cultural – ironicamente tendo como mecenas os atores
que estavam de certa forma sendo questionados.
Fonte: A Criação de Adão, 1511, Michelangelo Buonarotti.
O berço do renascimento
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Glossário
Doge (palavra vêneta, do latim dux, comandante) é a denominação de um magistrado eleito
nas antigas repúblicas de Gênova e Veneza. http://pt.wikipedia.org/wiki/Doge
Condottiero (plural: condottieri) era um mercenário que controlava uma milícia, sobre a qual
tinha comando ilimitado, e estabelecia contratos com qualquer Estado interessado em seus serviços.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Condottiero
Várias regiões eram dominadas por ricas famílias, como: a Casa Médici de Florença,
comerciantes donos da guilda arte della lana; Casa Visconti, nobres lombardos; Casa Sforza,
poderoso condottiero de Milão; Casa Este, nobres de Ferrara/Pádua; e Casa Gonzaga, nobres de
Mântua. Gênova e Veneza foram governadas respectivamente por doges como Doria e Foscari,
que fizeram grandes governos impulsionando a economia dessas cidades. Além do comércio,
essas cidades contavam com fortes casas bancárias.
Outro fator que favoreceu o renascimento intelectual e cultural na Itália, como aponta Green9
, foi a ameaça dos turco-otomanos ao império bizantino no século XV. Segundo a autora, essa
ameaça levou os imperadores bizantinos a procurarem apoio da Igreja de Roma, mesmo contra
a vontade de seu povo, na esperança de que a Europa Ocidental auxiliasse o império romano
do Oriente. Essa trégua fez com que houvesse contatos diplomáticos com frequência, para a
reunificação das duas igrejas cristãs separadas desde o cisma com o Oriente, em 1054. Esse
reduzido império contava com grandes intelectuais, além de Constantinopla fazer comércio a
vários anos com as cidades de Gênova e Veneza.
Motivados pela possibilidade desse acordo, intelectuais como Chrysoloras, após uma missão
política, estabeleceu-se em Florença para ensinar grego. O teólogo Bessarion ensinou sobre
Platão para os italianos, muitos italianos foram estudar em Constantinopla antes da invasão
turca à cidade10. A península itálica importou muito mais do que as finas especiarias do oriente,
os italianos importaram conhecimento.
A consciencia da mudança
O Renascimento foi visto por seus protagonistas como uma época de mudança, na qual
se concebeu um novo modo de entender o mundo e o homem e se desenvolveu a ideia do
humanismo, nascido no mundo literário do século XIV, depois influenciando pela primeira vez
as artes figurativas e a mentalidade política e social.
Os renascentistas usaram algumas expressões para definir o que estava ocorrendo em seu
tempo, entre as expressões usadas temos: “fazer reviver”, “fazer voltar ao antigo esplendor”,
“renovar”, “restituir a uma nova vida”, entre outros.
9 GREEN, Vivian H. H. Renascimento e reforma: a Europa entre 1456-1660. Lisboa: D. Quixote, 1984. p. 40.
10 GREEN, Vivian H. H. Renascimento e reforma: a Europa entre 1456-1660. Lisboa: D. Quixote, 1984. p. 40.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Fonte: Retrato de Petrarca, 1450, Andrea del Castagno.
Atenção
A Estilística é a parte dos estudos da linguagem que, como o próprio nome denota, preocupa-se
com o estilo. Nela, a linguagem pode ser utilizada para fins estéticos, conferindo à palavra dados
emotivos. A linguagem afetiva é representada por esse importante recurso, no qual podemos observar
os processos de manipulação da linguagem utilizados para extrapolar a mera função de informar. Na
Estilística, há um interessante contraste entre o emocional e o intelectivo, estabelecendo uma relação
de complementaridade entre seu estudo e o estudo da Gramática, que aborda a linguagem de uma
maneira mais normativa e sistematizada.
http://www.portugues.com.br/gramatica/estilistica/
11 REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia, v. 2. 3. ed. São Paulo: Paulus, 1990.
12 GREEN, Vivian H. H. Renascimento e reforma: a Europa entre 1456-1660. Lisboa: D. Quixote, 1984. p. 41.
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Renascimento: mudança ou continuidade?
Apesar da consciência de que algo estava mudando no contexto italiano do século XIV, e os
humanistas se manifestaram explicitamente a esse respeito, o mesmo não ocorreu a partir do
século XIX. Historiadores investiram na polêmica sobre o momento no qual começaram a ocorrer
o renascimento intelectual, cultural e moral. Existem algumas questões que são debatidas na
historiografia sobre o Renascimento, além da exata periodização, é debatido se o Renascimento
é um momento de mudança ou de continuidade da cultura medieval.
Konrad Burdach é um historiador alemão que sustenta a continuidade entre o período
medieval e o renascimento. Para Burdach, não houve nenhuma ruptura significativa entre esses
dois períodos, ao contrário, para ele existiu um processo de continuidade entre o medievo
e o Renascimento, pois o esse último remonta ao ano mil. Sua teoria se baseia no fato de
que o mundo clássico é a mesma fonte para a cultura medieval e renascentista. Nessa linha
de raciocínio também está o historiador e filosofo francês Étienne Gilson, neoescolástico e
especialista na obra de Tomás de Aquino. Outro estudioso, Eugenio Garin, que a princípio
defendeu a descontinuidade entre a cultura medieval e o Renascimento, reviu sua posição e
passou a atestar uma continuidade entre os períodos.
Jacob Burckhardt, historiador e filosofo suíço dos oitocentos, defensor da descontinuidade
entre a cultura renascentista e a cultura medieval, disse que o homem medieval só tinha sentido
dentro de uma coletividade e que o homem moderno apresentou o sentimento de liberdade
e individualidade perante o mundo e a política. Para Burckhardt, o homem medieval foi
transcendental, universalista e teocêntrico, enquanto que o homem moderno é imanentista,
antropocêntrico e individualista.
O recorte feito aqui não está sendo de continuidade, nem o da plasticidade temporal proposta
por Burdah, mas de uma ruptura que não está isenta de portar em si elementos do passado,
afinal a história é processual. O Renascimento é composto por literatos e artistas que buscaram
na Antiguidade clássica inspiração para romper com uma aparente acomodação intelectual
vivida nos últimos séculos nas cidades-estado da península itálica. A Antiguidade clássica foi
inspiração para a criatividade daqueles artistas e intelectuais e não uma camisa de força.
A Itália possuía a mais forte tradição clássica de todos os países da Europa Ocidental.
Em muitas cidades italianas, o sistema seguia a velha tradição romana de ensino em escolas
municipais, e sua cultura era mais secular do que na maioria das demais regiões da cristandade.
Nas universidades italianas, o que prevalecia era o ensino do Direito e da Medicina. Enquanto
que nas demais universidades europeias a Teologia e a Filosofia dominavam as cátedras.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Além dos artesãos que faziam a manutenção de igrejas e monumentos públicos, os escritores
também podiam ser sustentados por verbas públicas dos governos das cidades italianas. A
função desses escritores e historiadores – como, por exemplo, Maquiavel – era a de exaltar as
cidades, seus governantes e as instituições que patrocinavam seus serviços. A fórmula usual
para a exaltação das personalidades e da municipalidade eram as cartas e os discursos.
Apenas a partir de 1450 é que o mecenato privado dominou a cena e passou a patrocinar
artistas e escritores. O fim desse patrocínio era o mesmo do setor público: a exaltação das famílias
e de seus grandes feitos. Entre as famílias de mecenas, temos: os Médici, os Gonzaga, os Este,
os Sforza, entre outros citados anteriormente. As famílias italianas não eram as únicas famílias
abastadas da Europa, a grande diferença era que essas famílias sempre viveram nas cidades,
diferente de outras também ricas que, em geral, habitavam o campo em castelos afastados do
burburinho urbano europeu, onde circulavam os artesãos e escritores.
Essas famílias impulsionaram as artes e a literatura que deram origem ao Renascimento.
Mas esse movimento contou com outra força: o mecenato do papado de Roma. A influência
e riqueza do Estado pontifício alavancou a carreira de inúmeros artistas desse período. Essas
famílias de mecenas tinham um intuito claro ao tornarem-se protetoras das artes e da literatura:
glorificarem a si próprias, como faziam as instituições públicas e seus governantes.
Glossário
Mecenato é um termo que indica o incentivo e patrocínio de artistas e literatos, e mais amplamente,
de atividades artísticas e culturais. O termo deriva do nome de Caio Mecenas (68–8 a.C.), um
influente conselheiro do imperador Augusto, que formou um círculo de intelectuais e poetas,
sustentando suas produções artísticas.
Portanto, o mecenato se inicia na esfera pública das cidades e se transfere para a esfera privada.
Nesse período surgem os “papas renascentistas”, que marcaram a história da Igreja mais
pelos seus feitos mundanos do que por sua política religiosa. Com o interesse de fortalecer a
reputação de Roma e dos estados pontifícios, no governo do papa Nicolau V, a Igreja passou a
proteger artistas e estudiosos, e fundou a Biblioteca do Vaticano. Durante o reinado dos papas
renascentistas, a Igreja de Roma contratou o serviço dos mais celebres artistas da época, como,
por exemplo, Michelangelo e Rafael. Por esse motivo, Roma ficou conhecida por décadas como
a capital artística do mundo.
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O legado da pintura e da escultura renascentistas
As artes plásticas do renascimento italiano se sobressaíram aos progressos intelectuais e
literários de sua época. E, dentre todas as artes plásticas, a pintura é indubitavelmente a mais
espetacular. Na transição do século XII para o XIII, o pintor Giotto já apontava para o progresso
e para a maioridade da pintura italiana, que foi se solidificando e atingiu seu esplendor no
século XV com pintores como Da Vinci.
A questão da maturidade, alcançada apenas no século XV, deveu-se, acima de tudo, à
descoberta das leis da perspectiva linear, empregadas na arte de pintar para causar a impressão de
tridimensionalidade. Os artistas também estudaram cuidadosamente a anatomia e as proporções
do corpo humano, aliando esses estudos à técnica de efeitos de luz e sombra: chiaroscuro.
Davi e Golias, por Caravaggio. Técnica chiroscuro (luz e sombra)
13 BURNS, Edward M.; LERNER, Robert E.; MEACHAM, Standish. História da civilização ocidental. 42. ed. São Paulo: Globo, 2003. p. 350.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Alguns pintores italianos que se destacaram nesse período, por contado domínio dessas
técnicas e também pela inovação de temas, foram: Tommaso di Ser Giovanni di Mone Cassai,
ou simplesmente Masaccio (1401-1428), que viveu apenas 27 anos, mas inspirou outros
artistas contemporâneos a ele. Exímio na arte de “imitar a natureza”, transformou o tema em
valor fundamental do Renascimento. Ao utilizar as técnicas de chiaroscuro, obteve resultados
dramáticos e comoventes como, por exemplo, no quadro Expulsão de Adão e Eva do Éden,
onde deixa transparecer de forma convincente a culpa e a vergonha dos personagens.
A ressureição do filho de Teófilo, Masaccio. - Nesse quadro o pintor “insere” seu auto retrato
Sandro Botticelli, outro grande pintor italiano, teve influência direta de Masacio. Esse
florentino pintou temas clássicos e religiosos. As telas de Botticelli primam pela perfeição dos
detalhes e pela representação minuciosa da natureza. Os nus femininos estão entre as mais
belas pinturas de Botticelli. Para Burns, a contribuição desse pintor está relacionada ao fato do
artista dar fundamentação filosófica aos seus trabalhos. Para os Médici, Botticelli pintou muitos
retratos. Em Florença, ele se ligou a filósofos neoplatônicos, período em que pintou uma de suas
mais famosas telas: O nascimento de Vênus; ilustrando, nesse trabalho, conceitos neoplatônicos
relativos à deusa do amor. Botticelli aproximou-se de Savonarola no período em que este foi
governante de Florença e pregava contra a decadência moral e a vida mundana da cidade.
Pintou, nesse período, a Natividade Mística, pintura religiosa que retrata a visão do apocalipse
relatada em um sermão de Savonarola.
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Considerado por muitos críticos de arte como o maior artista florentino do renascimento,
Leonardo da Vinci (1452-1519) foi muito talentoso e versátil. Da Vinci foi a personificação do
“homem do renascimento”. Além de pintor, também foi escultor, escritor, músico, arquiteto,
engenheiro e inventor. Começou a estudar muito novo com o artista florentino Verrocchio, de
boa reputação na época. Ao montar seu próprio estudo, ganhou a proteção dos Médici, na
figura de Lourenço, o Magnifico, que era o governante da cidade-estado nesse período.
Apesar de ser um gênio, Da Vinci também foi muito “genioso” e não aceitava trabalhar com
os prazos fixados por seus mecenas, o que causou atrito entre ele e os Médici, provocando sua
mudança para a cidade de Milão, onde esteve sob a proteção dos Sforza a partir do ano de
1482. Com os Sforza, conquistou mais prazo para se dedicar aos seus talentos. Viveu e trabalhou
em Milão até a invasão francesa no ano de 1499. Depois de perambular pela península itálica,
aceitou viver sob a proteção do monarca francês Francisco I, e foi assim até sua morte.
As pinturas de Da Vinci foram um divisor de águas e marcaram o período conhecido como
a Alta Renascença na Itália. Da Vinci acreditava que uma pintura deveria ser a exata imitação
da natureza, aproximando-se dela o máximo possível, até o limite da perfeição. Observava
com minucias desde as asas de um pássaro, ou os detalhes de uma cachoeira, até a anatomia
humana, chegando a dissecar cadáveres para sua observação, o que era proibido em sua época.
Todas essas observações serviam para aprimorar sua pintura e também seus inventos.
Outro grande pintor renascentista foi Rafael Sanzio de Urbino (1483-1520), artista que viveu o
apogeu e a decadência do Renascimento italiano. Bastante influenciado por Leonardo Da Vinci
e pelo Humanismo, é um dos mais populares artistas desse período. Rafael desenvolveu uma
arte ligada às concepções de uma humanidade espiritualizada e enobrecida. Sua representação
do homem trazia em si a imagem de equilíbrio, sensatez e dignidade. A representação alegórica
é uma marca de seu trabalho. Na tela Escola de Atenas, Rafael tenta descrever o conflito entre
a filosofia platônica e a aristotélica: é a disputa da “espiritualidade” platônica e a crença na
materialidade aristotélica. Rafael se tornou famoso também pelas pinturas de retratos e virgens.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
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Erudição e literatura renascentista
A história do renascimento literário com sua erudição humanista, no sentido técnico da
palavra, tem em Petrarca (1304-1374) o “pai” dessa corrente de pensadores. Para esse pensador,
cristão e erudito, a teologia e a filosofia escolástica estavam caminhando no sentido errado, por
concentrarem-se na especulação abstrata sem dialogar com a realidade de seu tempo. Para
Petrarca, a teologia e a filosofia escolástica não cumpriam o papel de ensinar ao ser humano o
caminho da salvação, segundo ele, o teólogo deveria ser “exemplo” a ser seguido pelas pessoas,
seus escritos deveriam conduzi-las ao bem – e esse modelo de reflexão deveria ser inspirado nos
clássicos antigos, que estavam impregnados de ética e sabedoria.
Petrarca era poeta e literato, escreveu tratados de moral baseados nos clássicos antigos, após
minuciosa busca de textos latinos ainda não descobertos por seus contemporâneos, dos quais
imitava a forma e fazia citações das frases copiadas. “Inaugurou, destarte, um programa de
estudos ‘humanistas’ que exerceria influência durante séculos”.14
Petrarca desenvolveu seu pensamento baseado em um ideal cristão de conduta ascética e
contemplativa. Porém, a geração posterior, representada pelos florentinos Leonardo Bruni (1370-
1444) e Leon Battista Alberti (1404-1472), denominados de humanistas cívicos, concordava
com Petrarca sobre o dever do humanista de ser eloquente e estudioso da literatura clássica;
mas, para essa geração, a natureza do homem estava apta a ação, devendo ser útil à família e
a sociedade, além de ter o dever de servir o Estado, “segundo entendiam, a ambição e a busca
da glória constituíam impulsos nobres que deveriam ser encorajados”.15
Para os humanistas cívicos, o êxito e o progresso faziam parte da história humana, e a
conquista de bens e o domínio da terra faziam parte dessa história, a qual não condenavam. Os
humanistas cívicos não eram antirreligiosos, apenas se preocupavam com os assuntos terrenos
em seus escritos – algo inaceitável na teologia e na filosofia medieval, pois o homem passava,
dessa forma, a dominar a natureza e planejar o seu destino.
Os humanistas cívicos do século XV descobriram muitos textos em grego clássico antigo,
inaugurando os estudos desses textos, diferenciando-se de Petrarca, que se ateve aos estudos
dos textos clássicos antigos latinos. Segundo Burns, essa busca, inclusive com viagens ao oriente
próximo para adquirir manuscritos, deveu-se ao incentivo dos sábios bizantinos, que imigraram
para a península itálica na primeira metade do século XV.
Os humanistas cívicos, a partir de 1450, foram gradualmente substituídos pela escola
humanista de caráter neoplatônico. Essa nova escola humanista mesclava a influência de Platão
e Plotino com as tendências do misticismo antigo e do cristianismo. Entre os humanistas que se
destacaram nesse período, podemos citar os mais importantes: Marsílio Ficino (1433-1499) e
Giovanni Pico della Mirandola (1463-1494).
Esses dois florentinos eram associados à academia de estudos neoplatônicos, fundada por
Cosino de Médici em Florença, onde seus membros se reuniam para fazer conferências e
ouvir leituras e discursos. O maior feito de Ficino foi traduzir para o latim os escritos de Platão,
colocando-os a disposição dos europeus ocidentais pela primeira vez. Ficino é questionado
14 BURNS, Edward M.; LERNER, Robert E.; MEACHAM, Standish. História da civilização ocidental. 42. ed. São Paulo: Globo, 2003. p. 347.
15 BURNS, Edward M.; LERNER, Robert E.; MEACHAM, Standish. História da civilização ocidental. 42. ed. São Paulo: Globo, 2003. p. 348.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
sobre seu enquadramento ou não na categoria de humanista, pois trocou a ética pela metafísica
e defendeu que o indivíduo deveria voltar-se para a vida além-túmulo. Em relação a Pico della
Mirandola, a única certeza é que ele não foi um humanista cívico, pois via pouco valor nos
assuntos públicos e mundanos, para ele não existia “nada mais maravilhoso do que o homem”;
no entanto, é certo que eles são considerados pela maioria dos críticos como pertencentes à
tradição dos humanistas italianos.16
16 BURNS, Edward M.; LERNER, Robert E.; MEACHAM, Standish. História da civilização ocidental. 42 ed. São Paulo: Globo, 2003. p. 348.
17 BURNS, Edward M.; LERNER, Robert E.; MEACHAM, Standish. História da civilização ocidental. 42. ed. São Paulo: Globo, 2003. p. 348.
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Maquiavel, ao julgar dessa forma a natureza humana, defendeu que o governante não
deveria confiar na lealdade dos súditos. Porém, esses governantes deveriam manter a segurança
e o poder dos países por eles governados, e não deveriam permitir que nenhuma cláusula de
justiça, misericórdia ou santidade nos tratados impedisse seus caminhos. O grande desejo de
Maquiavel foi o de ver unificada a Itália, sonho que se realizou apenas no século XIX.
No século XVI, a literatura italiana ainda produziu
alguns autores interessantes, como o diplomata
conde Baldesar Castiglione (1478-1529), autor
do livro O cortesão, obra que descrevia a corte
Fonte: Wikimedia Commons
Outro autor de epopeias desse período foi o poeta Ludovico Ariosto (1474-1533), mais
criativo que Castiglione e Guicciardini, escreveu o poema Orlando furioso, baseado nos
romances de aventura e nas lendas sobre Carlos magno. Ariosto conseguiu traduzir em sua obra
toda a desilusão da Renascença tardia e a tendência que procurava consolo no prazer estético,
a perda da fé e da esperança. Sua obra diferia radicalmente dos contos épicos medievais.
Inúmeros foram os literatos humanistas, mas colocamos aqui os principais autores renascentista.
Mais detalhes sobre esse rico período da arte e da literatura italiana, você pode pesquisar em
obras como A história social da arte e da literatura, de Arnold Hauser.18
18 HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
A arquitetura renascentista estava com suas bases muito mais profundas no passado do que
a pintura e a escultura. Seu estilo eclético buscou inspiração nos elementos construtivos da
Idade Média e da Antiguidade clássica. A inspiração para o estilo da arquitetura renascentista
foi o romano romântico. Esse estilo prevaleceu em detrimento dos estilos gótico e grego porque
encontrou ressonância nas tradições italianas e pela admiração à cultura latina.
Fonte: Wikimedia Commons
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Declínio da Renascença Italiana no Século XVI
O declínio da Renascença italiana foi um longo processo, aproximadamente cinquenta anos, e
deu-se na segunda metade do século XVI. Aos desastres políticos, que contaram com a invasão da
península itálica no ano de 1494 pelos franceses, somou-se o fim da prosperidade econômica que
vinha se desgastando ao longo do século XVI. Carlos VIII da França avançou sobre o domínio dos
Médici e estava pronto para tomar Nápoles, esse foi o erro do monarca francês, que despertou a
atenção da então poderosa Espanha, detentora da Sicília que, para defender seus interesses, aliou-
se aos estados pontifícios: Milão, Veneza e o Sacro Império Romano-Germânico. Essa ação forçou
o reino francês a desistir de seu projeto de dominar algumas cidades-estado da península itálica. No
entanto, com a morte de Carlos VIII, seu sucessor entrou em guerra contra a península itálica por
trinta anos, quase ininterruptamente. Nesse período, formaram-se alianças e contra alianças.
O pior desastre dessa longa guerra se deu no ano de 1527 com o saque de Roma, realizado
pelos soldados espanhóis e alemães sob o comando de Carlos V da Espanha, que não tinha o
controle sob seus comandados. Foi somente em 1529 que Carlos V conseguiu controlar seus
comandados e dar fim aos conflitos na península itálica, restaurando seus principados. O desvio
das rotas marítimas comerciais do mediterrâneo para o atlântico enfraqueceu economicamente
a península itálica, colocando um ponto final na supremacia das cidades italianas como centro
do monopólio do comércio mundial de especiarias vindas do oriente próximo.
Outro acontecimento que causou o início do declínio nas artes e no pensamento italiano foi
a reforma católica empreendida a partir do Concilio de Trento (1545-1563). Nesse período, as
únicas expressões artísticas que continuaram a ser estimuladas foram a arquitetura barroca e a
música, que ainda contavam com o forte patrocínio da Igreja Católica; ao contrário dos artistas
e pensadores que começaram a ser perseguidos pela Inquisição.
A península itálica foi o berço do Renascimento, alguns
críticos argumentam que sua expansão para o restante
da Europa se deu após as invasões e guerras no final do
século XV e início do XVI; e, mesmo assim, na sua forma
mais bruta e menos glamorosa, que foi o Maneirismo. Esse
movimento artístico do início do século XVI tentou fazer
uma revisão dos valores clássicos e naturalistas, valores do
humanismo renascentista. Esse movimento teve impacto
na Europa e tem quem defenda que ele chegou inclusive
à América na época dos “descobrimentos”, com os
espanhóis.
Enfim, a maioria dos críticos e historiadores defende
Fonte: Wikimedia Commons
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Material Complementar
Importante
Não se torna um historiador sem muita leitura e reflexão!
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Ciência e Vida Civil no Renascimento Italiano
• Autor: Garin, Eugenio
• Editora: Unesp
Conheça Florença - Berço do Renascimento
• Autor: Machado, Lucia Helena Monteiro
• Editora: Nova Fronteira
Figuras e Caminhos do Renascimento em Portugal
• Autor: Serrao, Joaquim Verissimo
• Editora: Fundação Oriente
Fogo Sobre a Terra - A Mentalidade Medieval e o Renascimento
• Autor: Manchester, William
• Editora: Ediouro
O Renascimento - Historia Essencial
• Autor: Johnson, Paul
• Editora: Objetiva
O Renascimento Italiano
• Autor: Burke, Peter
• Editora: Nova Alexandria
Religiao e Ciencia no Renascimento
• Autor: Woortmann, Klaas
• Editora: UNB
Renascimento e Humanismo - Coleçao História Geral em Documentos
• Autor: Acker, Maria Teresa Van
• Editora: Atual
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Unidade: Arte e Literatura Transformando a Política e Sociedade
Referências
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ocidental. 42. ed. São Paulo: Globo, 2003.
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