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Sobre o autor: Carlos Moore nasceu e cresceu em Cuba. Doutor em Ciências Humanas e
Doutor em Etnologia da Universidade de Paris-7 na França, ele é atualmente Chefe de Pesquisa
(Sênior Research Fellow) na Escola para Estudos de Pós-graduação e Pesquisa da University
of the West Indies (UWI), Kingston, Jamaica. Ele foi consultor pessoal para assuntos latino-
americanos do Secretário Geral da Organização da Unidade Africana (atualmente União
Africana), Dr. Edem Kodjo, de 1982 a 1983, e consultor pessoal do Secretário Geral da
Organização da Comunidade do Caribe (CARICOM), Dr. Edwin Carrington, de 1966 a 2000.
Foi assistente pessoal do professor Cheikh Anta Diop, diretor do Laboratório de Radiocarbono
do Instituto Fundamental da África Negra, de 1975 a 1980, em Dakar, Senegal.
Autor de cinqüenta e cinco artigos publicados sobre questões internacionais, seus livros são:
Pichón: Race and Revolution in Castro´s Cuba (Chicago: Lawrence Hill Books, 2008); A África
que Incomoda (Belo Horizonte: Nandyala Editora, 2008); Racismo & Sociedade (Belo
Horizonte: Mazza Edições, 2007); African Presence in the Americas (Trenton NJ: Africa World
Press, 1995), redator principal; Castro, the Blacks, and Africa (Los Angeles, CA: CAAS/UCLA,
1989); This Bitch of a Life (London: Allison e Busby); Cette Putain de Vie (Paris: Karthala,
1982).
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Moore. Acesso em 15/08/23.
Com a expansão imperialista, a racialização passa a ser utilizada como fator relevante para que
os povos fossos subjugados e submetidos à escravidão:
Ambos, Grécia e Roma, existiram como impérios estritamente europeus no seu
início, tornando-se multirraciais a partir da conquista e da colonização de partes da
África do Norte e do Oriente Médio. Assim, é possível rastrear a evolução da visão
raciológica dos gregos e romanos, ao longo desse período, evidentes nos textos
produzidos pelas suas elites dominantes. Isso porque, antes de entrar numa relação
de conflito e dominação com o mundo africano, representado no primeiro momento
pelas grandes potências que foram Egito e Cartago, tanto gregos quanto romanos
formularam uma precoce visão racializada. (p. 56)
Essa ideia se refletia na literatura, na arte e na filosofia grega, e contribuiu para a justificação
da escravidão.
No que concerne às bases do pensamento helenístico e romano sobre a natureza
humana, o texto da Ilíada, de Homero, registra enigmáticas referências a lutas
violentas pela posse do Mediterrâneo, entre “xantus” (cor clara) e “melantus” (cor
preta), que supostamente se referem aos autóctones (pelasgos) e aos invasores
arianos (aquéos e dórios). Com toda probabilidade, trata-se de uma simbologização
(transformação em mitologia e fantasmas) de confrontações reais entre povos
europeus autóctones e sedentários de pele negra, por uma parte, e de invasores
ariano-europeus nômades provindos dum berço frio euro-asiático. (p. 57)
As transformações vividas pela Grécia entre a partir do século VII a.C. culminaram em
reorganização social-econômica, política e do espaço urbano, tendo Atenas como a principal
expoente desse novo conceito de sociedade na qual os genos deixam de ter um papel central na
organização da sociedade grega e o reestabelecimento do comércio com o Oriente leva ao
fortalecimento do modelo escravista.
A impulsão para o estabelecimento do forte sistema marítimo grego, que teve em
Atenas sua maior expressão, pode ter contribuído, sobremaneira, para a intensa
explosão demográfica ocorrida no século VIII, situação que gerou uma grande
instabilidade social, alimentou as violentas iniciativas coloniais gregas e provocou
o colapso da estrutura dos genos. “Procura de terra, procura de alimento, procura
também do metal, tal é o tríplice objetivo que se pode atribuir à expansão grega
através do Mediterrâneo”, explica Vernant (VERNANT, 1984, p. 50 apud MOORE,
2007, p. 59).
Em seguida, o texto aborda a relação dos gregos com a escravidão, que era vista como uma
forma natural de subordinação O autor discute a tese dos "escravos por natureza", elaborada
por Aristóteles, que defendia que algumas pessoas eram naturalmente destinadas à escravidão.
Tal como um homem livre, um grego jamais pode ser comprado como mercadoria
para ser mero objeto do trabalho, posto que isso é contraditório com a sua natureza;
os bárbaros, ao contrário, são “escravos por natureza”, uma propriedade da qual
seja possível se fazer ou desfazer de acordo com a sua utilidade. Assim, a
escravização de um grego é reversível, já que foi um homem livre na origem e pode
tornar a sê-lo, enquanto o escravo, mais do que por um outro povo, já está
aprisionado em si mesmo, no seu corpo, pelo lugar onde nasceu; seu destino é
irreversível. Numa frase: a linhagem e o lugar assumem a dimensão de critérios
fundamentais na interpretação do papel social dos indivíduos. (p. 65)
Para Hipócrates, há uma relação inerente entre traços físicos, o caráter dos
indivíduos e o clima onde vivem. Tratando das diferenças entre Ásia e Europa,
declara ainda: “Diferem completamente, em particular no que concerne à
morfologia dos povos que habitam esses continentes” (HIPÓCRATES apud
HARTOG, 2004, p. 108), sendo as poucas mudanças climáticas na Ásia as
responsáveis por seu povo pouco viril e amolecido, sem aptidões para a guerra e
dado ao prazer. (p. 69)
Percebe-se que o mesmo conceito foi ressignificado e utilizado durante a escravidão nas
colônias latino-americanas (termo que é amplamente criticado por Moore que afirma que a
América denominada latina, não tem nada de latina, é uma América fundada sob a cosmovisão
de outros povos).
O texto também discute a relação dos romanos com a escravidão, que era vista como uma forma
de punição para os inimigos derrotados em guerra. Os romanos tinham uma visão mais
pragmática da escravidão do que os gregos, e a utilizavam principalmente para fins econômicos.
Em resumo, discute a relação dos gregos e romanos com a escravidão, bem como a noção de
superioridade e inferioridade racial que se desenvolveu nesses povos.
Já o capítulo 3 do livro, intitulado “Racismo no Mundo Árabe-Semita e a Origem da Práxis da
Escravidão Racial” aborda a relação entre o racismo e a escravidão no mundo árabe-semita,
assunto pouco discutido e que tinha como protagonistas dos estudos apenas os europeus.
A captura vigorosa de seres humanos e sua total subjugação à vontade quanto menos
a dizer, melhor de outros seres humanos, além de toda a humilhação e degradação
envolvidas neste processo, não podem ser retratadas em termos positivos; ainda que
a comparação (melhor que “o contraste”) com outros sistemas de escravidão e,
particularmente a escravidão no Novo Mundo, não seja apenas inevitável, mas
essencial para um entendimento global da diáspora africana. (p. 83-84)
O Sura 33:50 evidencia que uma forma divinamente permissiva de obter mulheres
escravizadas – ao menos para o profeta– é pela captura em batalha. Essa deveria ser
a base legal primária para a obtenção de escravos, tanto masculinos quanto
femininos, apesar de, na prática, nunca ter sido a única forma de uma pessoa obter
um indivíduo escravizado. Atribui-se ao profeta a seguinte declaração: “Em
verdade, tornaremos legais as esposas que tenhas dotado, assim como as que a tua
destra possui (cativas) que Deus tenha feito cair em tuas mãos (como resultado de
guerra)”. (p. 85)
Ele também discute a relação entre o racismo e a guerra, argumentando que a expansão
territorial era muitas vezes motivada pela necessidade de adquirir mais escravos.
O autor ressalta o papel da arte como forma de expressão dos sentimentos dos escravizados e
do pensamento da época:
O estatuto inferior dos escravizados negros é ilustrado ainda por algumas anedotas.
Um árabe, procurando evitar a guerra civil entre muçulmanos, jura: “Preferiria ser
um escravizado etíope mutilado guardando cabritos no topo da montanha até minha
morte, do que ver uma única flecha atirada entre os dois partidos” (Idem,ibidem, p.
34). (p. 90)
Jahiz utilizava o seu grande humor na defesa dos negros, mas os escritores ulteriores
foram mais sérios e se preocuparam essencialmente com os Etíopes. Um dos mais
antigos entre eles, Jamal-al-Din Abul-Faraj ibn al-Jawzi (falecido em 1208), na obra
Luzes sobre a escuridão mantida sobre os méritos dos Negros e dos Etíopes, tenta
defender os dois grupos sobre as diversas acusações das quaissão alvo. Nota-se
também as obras do historiador egípcio Jalal al-Din al-Suyuti (falecido em 1505),
Reedificação do Estatuto dos Etíopes, entre outros (Idem, ibidem, p. 38). (p. 91)
Por fim, o autor discute a relação entre o racismo e a cultura árabe. Ele argumenta que o racismo
era uma ideologia profundamente enraizada na cultura árabe e que influenciou muitos aspectos
da vida social e cultural. Ele também discute a forma como os escritores árabes retrataram a
escravidão em suas obras, destacando as diferentes visões que existiam sobre o assunto.
A resistência dos povos africanos à escravidão árabe-semita é mencionada neste capítulo e tem
como revolução mais conhecida a dos Zanj: