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Raças humanas
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Raça pode ser entendida como um constructo social, usado para distinguir pessoas em termos de uma ou mais
marcas físicas.[1][2] Em outras palavras, raça é uma categoria usada para se referir a um grupo de pessoas cujas
marcas físicas são consideradas socialmente significativas. Desse modo, raça é um importante instrumento analítico
para a sociologia, pois entende-se que as percepções e concepções de raça podem afetar e organizar a vida social das
pessoas, sendo responsável principalmente pela criação e manutenção de um sistema de desigualdade social.[3][4][5]
Usado em primeiro lugar para se referir a falantes de uma idioma comum e, posteriormente, para denotar filiações
nacionais. No século XVII, iniciou-se o uso do termo para relacionar os traços físicos observáveis das pessoas. Tal uso
promoveu hierarquias favoráveis a diferentes grupos étnicos. A partir do século XIX, o termo passou a ser usado
frequentemente, em um sentido taxonômico, para designar as populações humanas geneticamente diferentes,
definidas pelo fenótipo. As concepções sociais e agrupamentos de raças variaram ao longo do tempo, envolvendo
taxonomias populares[6] que definem tipos essenciais de indivíduos com base em traços observáveis. Os cientistas
consideram o essencialismo biológico obsoleto, e, geralmente, desencorajam explicações raciais para diferenciações
coletivas em relação a traços físicos e/ou comportamentais.[7][8][9]
Mesmo que haja um amplo consenso científico de que conceituações essencialistas e tipológicas de raça em humanos
sejam insustentáveis, cientistas de todo o mundo continuam a conceituar o termo "raça" de maneiras muito diferentes,
algumas das quais com implicações essencialistas. Embora, por vezes, alguns pesquisadores usem o conceito de "raça"
para fazer distinções entre conjuntos difusos de traços físicos, outros na comunidade científica sugerem que a ideia de
raça muitas vezes é usada de uma maneira ingênua ou simplista e argumentam que, entre os seres humanos, o termo
não tem importância taxonômica, apontando que todos os humanos vivos pertencem à mesma espécie (Homo
sapiens) e subespécie (Homo sapiens sapiens).
Desde a segunda metade do século XX, as associações do conceito de raça com ideologias e teorias que se
desenvolveram a partir do trabalho de antropólogos e fisiologistas do século XIX, tornou o uso da palavra "raça" em si
problemático. Apesar de ainda ser usado em contextos gerais, a palavra raça tem sido muitas vezes substituída por
outras palavras que são menos ambíguas e emocionalmente carregadas, como populações, povos, grupos étnicos ou
comunidades, dependendo do contexto[10][11]
Índice
Conceito
Histórico
Antiguidade
Era clássica
Era moderna
Século XIX
Considerações linguísticas
Racialismo
Raça e biometria
Vallois: uma taxonomia descritiva tardia
Críticas e abandono do termo
https://pt.wikipedia.org/wiki/Raças_humanas 1/12
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Conceito
Concepções de raça (em taxonomia, raça é o mesmo que subespécie), bem como as formas específicas de agrupá-las,
variam de cultura em cultura e através do tempo, e são frequentemente controvertidas por razões científicas, sociais e
políticas. A controvérsia, finalmente, gira em torno da questão de se as raças são ou não tipos naturais ou socialmente
construídos, e o grau no qual diferenças observadas em capacidade e realizações, categorizadas em bases raciais, são
um produto de fatores herdados (isto é, genéticos) ou de fatores ambientais, sociais e culturais.
Alguns argumentam que embora "raça" seja um conceito taxonômico válido em outras espécies, não pode ser aplicada
a humanos.[12] Muitos cientistas têm argumentado que definições de raça são imprecisas, arbitrárias, oriundas do
costume, possuem muitas exceções, têm muitas gradações e que o número de raças descritas varia de acordo com a
cultura que está fazendo as diferenciações raciais; assim, rejeitaram a noção de que qualquer definição de raça
pertinente a humanos possa ter rigor taxonômico e validade.[13] Hoje em dia, a maioria dos cientistas estudam as
variações genotípicas e fenotípicas humanas usando conceitos tais como "população" e "gradação clinal". Muitos
antropólogos debatem se enquanto os aspectos nos quais as caracterizações raciais são feitas podem ser baseados em
fatores genéticos, a ideia de raça em si, e a divisão real de pessoas em grupos de características hereditárias
selecionadas, seriam construções sociais.[14][15][16]
Histórico
Antiguidade
A primeira diferenciação conhecida de grupos humanos fundamentada em
suas características físicas aparentes é, sem dúvida, a dos antigos egípcios:
Os Rot ou Egípcios, com cabelo crespo e pintados em vermelho (em
hebraico אדוםpodendo significar, ou aparecer em literatura antiga ruivo,
como David); os Namou, amarelos com nariz aquilino; os Nashu, negros
com cabelos crespos; os Tamahou, loiros de olhos azuis. Mas esta
classificação só se aplicava às populações vizinhas ao Egito.
Entre os gregos da antiguidade as divisões entre povos existiam, mas não eram fundamentadas em critérios biológicos
absolutos. Assim, o que faz a diferença entre um grego e um bárbaro não é sua origem, mas sim seu conhecimento da
cultura e língua gregas. Existem por exemplos filósofos gregos de origem semítica (como Zenão de Cítio, descrito como
um homem de pele morena), sem que isso tenha levado à discriminação (por mais que os gregos zombassem dos erros
no uso de sua língua).
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Era clássica
No final do século XV o fim da reconquista na Península Ibérica vê o surgimento da ideia de uma "pureza de sangue"
(limpieza de sangre) que deveria ser protegida da "sujeira" dos descendentes de judeus sefaraditas, e mouros árabes.
Outro debate surge ainda na época da descoberta das Américas, particularmente na controvérsia de Valladolid: onde
encaixar, nas teorias existentes, os indígenas do novo mundo? As primeiras "justificativas" da ideia de diferenças,
físicas e de civilização, levadas a uma inferiorização do estrangeiro, consistiriam em sustentar que eles não teriam
alma, e por conseguinte, não seriam seres humanos. O mesmo seria dito a seguir para justificar o tráfico negreiro.
Na era clássica a noção de "raça" faz sua aparição no discurso da "guerra de raças" estudado por Michel Foucault em
sua obra Em defesa da sociedade (1975-1976). Henri de Boulainvilliers (Essai sur la noblesse de France -- Ensaio
sobre a nobreza da França -- 1732) é um de seus representantes. Este discurso se distingue amplamente do racismo
biológico do século XIX pois concebe a "raça" como um dado histórico e não essencial. Além disso ele opõe no seio da
nação francesa duas raças, os Galo-Romanos (franceses do Sul e Sudoeste) e os Francos (franceses do Norte e
Nordeste). Membros da aristocracia, estes últimos reinariam na França em virtude do direito de conquista, e a história
da França seria a história do enfrentamento dessas duas raças, uma autóctone (os Galo-Romanos, considerados uma
raça inferior), a outra alóctone (os Francos, considerados superiores).
O termo "raça" era usado então de forma metafórica para designar uma ou outra população específica. Assim como em
Corneille ao escrever de futuras gerações nas suas Stances à Marquise:
Era moderna
A diferenças visíveis entre diferentes tipos físicos dentre os grupos
humanos, descendentes do Homo sapiens produziram, na era da ciência
moderna—correspondente à descoberta do "novo mundo" onde foram
descobertas novas populações—tentativas que visavam classificar a espécie
humana em função de "raças", descritas geralmente segundo a cor da pele.
Outros critérios apareceriam progressivamente, com a emergência da
antropologia física, da antropometria, etc.
Ainda que no passado os homens, sensíveis às diferenças visíveis entre os seres humanos os tenham classificado em
grupos usando essencialmente a divisão por cor da pele, a noção de "raça", entendida em termos biológicos, é bastante
tardia. Pertence a um período inicial da ciência moderna e deriva da prática de classificação em espécies e subespécies,
que inicialmente só era aplicada a vegetais e animais (Lineu, século XVII).
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Século XIX
É somente no século XIX que se começa a falar de raças dentro da espécie humana. Foi o Conde de Gobineau que
popularizou, em meados do século XIX, um novo significado, em seu ensaio racista Essai sur l'inégalité des races
humaines ("Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas", 1853-1855), no qual toma partido a favor da tese
poligenista segundo a qual a humanidade poderia ser dividida em várias raças distintas, as quais seriam, outrossim,
passíveis de serem tratadas numa base hierárquica.
O racialismo ou racismo científico, tornou-se a partir daí a ideologia predominante nos meios eruditos, na
antropologia física etc, em conjunto com o evolucionismo, com o darwinismo social e com as teorias eugênicas
desenvolvidas por Francis Galton. A tentativa de prover um discurso científico para os preconceitos racistas (aquilo
que Canguilhem denominaria "ideologia científica"), seria fortemente desacreditado após o genocídio dos judeus da
Europa praticado pela Alemanha Nazista.
A segmentação artificial em "raças humanas" disseminou-se amplamente na época do nacionalismo inflamado, que
deu lugar à proclamação de ideologias racistas em nome da ciência. Certos trabalhos, tais como o Dictionnaire de la
bêtise et des erreurs de jugement, de Bechtel e Carrière, mostram que estes preconceitos eram exercidos
simultaneamente entre vários países europeus. Médicos franceses, por exemplo, "explicavam" que os Alemães
urinavam pelos pés!
Na segunda metade do século XX, esta ideia foi pouco a pouco sendo
abandonada sob três influências: ambiguidade do termo e ausência de base
científica (demonstradas graças ao avanço da biologia e da genética); papel
desempenhado por estas ideias nos quinze anos do regime nazista; obras
de Claude Lévi-Strauss e Franz Boas, os quais transformaram a
antropologia e lançaram luz sobre os fenômenos do etnocentrismo
inerentes a todas as culturas.
Estes preconceitos racistas também são encontrados entre certos partidários da sociobiologia, que visam demonstrar a
origem genética dos comportamentos sociais e dentro da nova direita francesa.[18]
Hoje em dia, o termo continua a alimentar debates "à volta" da biologia, embora a maioria dos cientistas prefiram o
conceito de população para qualificar um grupo humano, seja ele qual for. Também tende a desaparecer de outras
ciências, como antropologia e etnologia, a favor da noção predominantemente cultural de grupo étnico. Se falará,
assim, de populações geográficas em biologia e diferenças entre culturas em antropologia e etnologia. O conceito de
raça não possui hoje, 2007, nenhuma utilidade no que toca à humanidade. No entanto, continua a ser empregado no
mundo anglo-saxão e não desapareceu completamente do texto legislativo francês. Isto põe em questão o fenômeno da
"raça" enquanto construção social, problema que está no âmago dos race studies feitos nos Estados Unidos (estudos
relacionados às críticas ao pós-colonialismo) e aos gender studies (que estudam o gênero como uma construção
social).
Considerações linguísticas
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A expressão em inglês "the human race" é por vezes traduzida como "a raça humana" nas obras em português. Isso é
um contrassenso. A tradução correta desse falso cognato seria "A espécie humana" ou então "O gênero humano": não
existe nenhuma espécie conhecida que se desdobre em raças, uma delas sendo a humana. Em Le racisme expliqué à
ma fille Tahar Ben Jelloun escreveu:
“ A palavra "raça" não deve ser utilizada para dizer que existe diversidade humana. A
palavra "raça" não tem base científica. Ela foi usada para exagerar os efeitos das
diferenças aparentes, ou seja, físicas. Não se pode basear nas diferenças físicas --
a cor da pele, o tamanho, os traços do rosto -- para dividir a humanidade de
maneira hierárquica, ou seja, considerando que existem homens superiores em
relação a outros homens, que seriam postos em uma classe inferior. Eu te
proponho não mais utilizar a palavra "raça". ”
Isso estaria de acordo com a proposta feita pela UNESCO logo após a Segunda Guerra Mundial de utilizar o termo por
"grupo étnico", mais adequado cientificamente e que inclui os componentes culturais, em substituição ao termo vago e
confuso "raça", que não tem definição precisa.[20]
Desde as origens, a noção de "raça" servia para definir o estrangeiro, o outro, diferente e inferior, que pode ser por isso
maltratado sem mais consequências. O questionamento da noção de "raça humana", pretensamente científica porque
se apoiaria em classificações anteriormente instauradas para as espécies vivas, veio tardiamente. Recorrer a este termo
para os humanos sempre esteve ligado a questões políticas, com utilização dominadora.
Se esta noção traz problemas é porque ela já foi utilizada, sob supostos fundamentos científicos, por alguns autores
que, ao confundir os registros do biologia e da cultura, desenvolveram no final do século XIX uma ideologia nova, o
racismo. É a suposta "teoria" de uma hierarquia de raças. Ela foi iniciada pelo Conde de Gobineau, em seu Essai sur
l’inégalité des races humaines (Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas, 1853-55) que prega a
superioridade da raça branca sobre os demais povos. Ali ele inventa o mito do Ariano e foi um dos primeiros a
fundamentar a classificação racial não nas taxas de melanina no corpo (a pigmentação da epiderme) mas sim nas
condições geográficas e climáticas. Para tanto ele dividiu a humanidade em três raças distintas, a "raça branca"
(Ariana), a "raça amarela" e a "raça negra" (e incluindo ainda a "raça degenerada"), e afirmava que toda mestiçagem
era nefasta. Gobineau visitou Wagner em Bayreuth e influenciou seu círculo de Bayreuth, enquanto sua obra fora
traduzida para o alemão desde 1898, antes de se tornar uma referência para o nazismo. Nos Estados Unidos ela foi
traduzida em 1856 por Josiah Clark Nott, um discípulo de Samuel George Morton e um dos chefes do movimento
polygéniste nos Estados Unidos, que afirmava a diferenciação, desde as suas origens, da humanidade em "raças"
distintas. Em sua obra The Descent of Man and Selection in Relation to Sex de 1871 Darwin responde aos argumentos
poligenistas e criacionistas lançados por Nott, sustentando a monogenia e criticando o darwinismo social.
A distinção entre uma teoria científica, no caso a biologia em seus diversos aspectos, e a utilização que dela pode ser
feita (ideológica e política) esta, em princípio, claramente estabelecida hoje em dia por trabalhos dos epistemólogos
tais como François Jacob e Georges Canguilhem (que chamam este tema de "ideologia científica") e dos filósofos e
antropólogos tais como Claude Lévi-Strauss.
Racialismo
O estudo pretensamente científico das raças, ou racialismo, só explode realmente na segunda metade do século XIX,
depois de ser iniciado no século das luzes pelos inventores da antropologia, da antropometria e da craniometria. Entre
os primeiros teóricos a tentar estabelecer cientificamente a existência de diversas "raças" biológicas em meio à espécie
humana podemos citar: Johann Friedrich Blumenbach (De Generis Humani Varietate Nativa 1775), Immanuel Kant
(Das diferentes raças humanas 1775), o zoólogo holandês Petrus Camper, o americano Samuel George Morton, Arthur
de Gobineau, Paul Broca, Francis Galton, Josiah C. Nott, George Gliddon (esses dois alunos de Morton), William Z.
Rippley, seu adversário Joseph Deniker, o eugenista Madison Grant, Georges Vacher de Lapouge, Lothrop Stoddard,
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Charles Davenport, etc. Essas ideologias científicas se popularizaram principalmente com a ajuda dos zoológicos
humanos (Madison Grant, por exemplo, exibe o pigmeu Ota Benga no zoológico do Bronx junto com macacos e um
escrito indicando "o elo perdido").
Vale lembrar entretanto que numerosas gerações de estudantes foram educados por esta teoria. A cartilha francesa de
1887,[21] na qual os franceses da época aprendiam história começava assim:
O demógrafo Hervé Le Bras se interessou pelas modalidades do racialismo e pela raciologia durante seu trabalho
sobre a ideologia demográfica. Entre os cientistas e homens poderosos que aprovavam esta ideologia ele destacou
Vacher de Lapouge (darwinista social e socialista), Ronald Fisher, (democrata e eugenista), Paul Rivet (que acreditava
na hierarquia das raças e era vice-presidente de Liga dos direitos do homem), Alexis Carrel (médico eugenista,
fundador de um instituto eugenista durante regime de Vichy).
Ernest Renan se encarrega de dar uma definição cultural à nação, opondo-se à definição alemã, advinda de Fichte, da
nação como comunidade biológica a que se pertence:
“ A verdade é que não há uma raça pura e que apoiar a política na análise
etnográfica é fazer dela uma quimera. Os mais nobres países, a Inglaterra, a
França, a Itália, são aqueles com mais mistura de sangue. A Alemanha faria a esse
respeito uma exceção? Seria ela um país germânico puro? Que ilusão! Todo o sul
foi gaulês. Todo o leste, a partir do Elba, é eslavo. E as partes que se pretendem
realmente puras o seriam realmente? Tocamos aqui em problemas sobre os quais é
mais importante se ter as ideias claras e prevenir os mal entendidos. ”
Raça e biometria
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Graças a essa ferramenta foram definidas as raças humanas em função de "estudo" de antropologia
suas características físicas: pigmentação, formato do rosto, etc. Essa
definição implica, de certa maneira, na existência de uma "pureza racial",
ilustrada por indivíduos "típicos". A disciplina encantou os interessados na classificação das raças e quem era
persuadido de sua existência.
Os critérios usados então para identificar as raças humanas compreendem principalmente a pigmentação da pele, a
morfologia (especialmente a estatura e a forma do crânio). Alguns autores distinguem dezenas, se não centenas, de
"raças", mas todos dão lugar especial em suas descrições aos grandes grupos, de número limitado, baseados em sua
maioria na pigmentação da pele.
A grande variabilidade dos traços físicos traz um problema: é impossível definir raças fechadas onde os traços seriam
estritamente próprios de um determinado grupo. De fato, a grande maioria das características físicas são
quantitativas. Assim, definir uma raça se fundamentando na pigmentação da pele é um processo delicado já que todas
as nuances existentes na espécie humana, e mesmo dentro de determinados grupos (daí a discussão, na América
Latina e nos Estados Unidos sobre as diferentes tonalidades de "negro", ou a complicada classificação, desde a
colonização das Américas, a fim de hierarquizar os indivíduos mestiços de grupos étnicos distintos em função da cor
de sua pele).
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distinções, o fenômeno não é de forma alguma natural. Ele não deriva de estudo da biologia, mas da antropologia no
sentido amplo. O racismo consiste precisamente no contrário, em fazer de um fenômeno cultural um fenômeno
pretensamente físico, natural e biológico. Ele explica ainda em Raça e História (que foi também publicado pela
UNESCO) que a imensa diversidade cultural, correspondendo a modos de vida extraordinariamente diversificados,
não é em nada imputável à biologia: ela se desenvolve paralelamente à diversidade biológica. Essas análises foram
retomadas mais tarde uma obra mais detalhada, O olhar distante.
Em um relatório ao Presidente da República' datado de 1979, sobre as questões de ciências da vida e sociedade (título
da obra, do francês: sciences de la vie et société), François Gros, François Jacob e Pierre Royer abordam precisamente
as relações entre o conhecimento em matéria de ciências da vida e sociedade. Um trabalho envolvendo toda a
comunidade científica francesa -- os membros da academia de ciências, do CNRS, dos professores universitários, do
Collége de France, dos "Estudiosos" do "comité national de la Recherche" (comitê nacional da pesquisa) e interessados
em biologia que contribuíram e o seguiram -- diz o seguinte:
“ há mais de um século, e ainda nos dias de hoje, tenta-se por demais utilizar
argumentos tomados à biologia para justificar certos modelos de sociedade.
Darwinismo social ou eugenia, racismo colonial ou superioridade ariana, [...] as
ideologias nunca hesitaram em desviar o apanhado da biologia... ”
Isso quer dizer que a exploração indevida da biologia para uso das ideologias e políticas racistas é com certeza (mesmo
ainda hoje) algo que não pode ser ignorado, já que foi estabelecida e analisada pelos estudiosos de diversas disciplinas,
biólogos, historiadores da ciência, epistemólogos, filósofos, etc.
Exploração indevida e transferência de noções que não tinham nenhuma razão de ser senão traduzir os interesses ou
fantasias em propostas com pretensa base científica, mas que não passam de teorias racistas e discursos em termos de
raças que visam apenas fazer crer numa diferença e hierarquia racial.
Entretanto o que a biologia ensina pode ser resumido ainda pelo que dizem nossos três autores do relatório citado
acima:
Para R. Barbaud, a "diversidade cultural pode então ser tomada como um componente natural da biodiversidade,
como o resultado final de nossa própria evolução. Ela tem, por este ponto de vista, a mesma função da biodiversidade
para as outras espécies". A diversidade humana é portanto genética, com suas conseqüências fenotípicas, mas também
culturais. E faz-se importante distinguir bem os dois domínios para não recriar, mesmo involuntariamente, os
discursos racistas e não científicos.
Nessa ótica, as diferenças culturais aparecem como mais importantes, já que elas podem até mesmo modificar os
traços físicos (os pés pequenos das chinesas ou as mulheres girafa da África são exemplos de modificações culturais
dos traços físicos) e participam na dinâmica do grupo. Um dos elementos da questão é saber se um isolamento
geográfico ou cultural pode levar à seleção de genes específicos, e assim saber se um povo ou etnia pode constituir uma
raça.
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Cumpre assinalar, como assinala o biólogo Stephen Jay Gould, que fatores
culturais que favorecem ou, ao contrário, dissuadem certas uniões
conjugais, são, por sua própria natureza, circunstâncias que levam ao
desenvolvimento, a longo prazo, de um processo de "raciação". Por outro
lado, segundo Jacques Ruffié, do Collège de France, os grupos humanos
vêm convergindo nos últimos seis milhões de anos. O homem moderno
(homo sapiens) conheceu curtos períodos de isolamento de grupos étnicos,
mas também um sem número de mesclas. Somente grupos isolados e
De William Blake, Europe
numericamente muito pequenos (bascos e nepaleses, por exemplo)
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conseguiram diferenciar-se suficientemente em relação a outros grupos e
1796
manifestar populações estáveis desde um ponto de vista taxonômico, ou
seja, apresentar diferenças genéticas significativas e hereditárias. O
processo de globalização e mestiçagem das culturas e dos indivíduos reduziu fortemente a possibilidade de tais modos
de vida isolados e autônomos.
Na prática, a duração de uma sociedade (e consequentemente de uma cultura) humana parece, com efeito, bastante
curta em relação ao tempo que seria necessário à separação de características físicas. No ser humano, o impacto da
cultura não parece assim ser suficientemente grande para explicar uma diferenciação entre raças.
Ver também
Raça ariana
Cor da pele humana
Raça superior
Espécie
Raça branca
Etnia
Raça amarela
Grupo étnico
Raça negra
Homo sapiens
Racialismo
População
Racismo
Raça
Especiação
Referências
1. «Definition of race – ethnic group, anthropology, personal attribute» (http://oxforddictionaries.com/definition/englis
h/race--2). Oxford Dictionaries. Oxford University Press. Consultado em 5 de outubro de 2012. "a group of people
sharing the same culture, history, language, etc."
2. Keita, S O Y; Kittles, Royal, Bonney, Furbert-Harris, Dunston, Rotimi; Royal, C D M; Bonney, G E; Furbert-Harris,
P; Dunston, G M; Rotimi, C N (2004). «Conceptualizing human variation» (http://www.nature.com/ng/journal/v36/n
11s/full/ng1455.html). Nature. 36 (11s): S17–S20. PMID 15507998 (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/155079
98). doi:10.1038/ng1455 (https://dx.doi.org/10.1038%2Fng1455). "Religious, cultural, social, national, ethnic,
linguistic, genetic, geographical and anatomical groups have been and sometimes still are called 'races'"
3. Fernandes, Florestan (1978). A Integração do Negro na Sociedade de Classes. [S.l.: s.n.]
4. Guimarães, A. S. A. «Racismo e Anti-Racismo no Brasil» (https://web.archive.org/web/20160303202122/http://no
vosestudos.org.br/v1/files/uploads/contents/77/20080626_racismo_e_anti_racismo.pdf) (PDF). Arquivado do
original (http://novosestudos.org.br/v1/files/uploads/contents/77/20080626_racismo_e_anti_racismo.pdf) (PDF) em
3 de março de 2016
5. Hasenblag, Silva, C., N. V. «Relações Raciais no Brasil Contemporâneo»
https://pt.wikipedia.org/wiki/Raças_humanas 10/12
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6. See:
Montagu 1962
Bamshad & Olson 2003
7. Keita, S O Y; Kittles, Royal, Bonney, Furbert-Harris, Dunston, Rotimi; Royal, C D M; Bonney, G E; Furbert-Harris,
P; Dunston, G M; Rotimi, C N (2004). «Conceptualizing human variation» (http://www.nature.com/ng/journal/v36/n
11s/box/ng1455_BX1.html). Nature. 36 (11s): S17–S20. PMID 15507998 (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1
5507998). doi:10.1038/ng1455 (https://dx.doi.org/10.1038%2Fng1455)
8. Harrison, Guy (2010). Race and Reality. Amherst: Prometheus Books
9. Roberts, Dorothy (2011). Fatal Invention. Londres, New York: The New Press
10. "race". Oxford Dictionaries. April 2010. Oxford University Press.
http://oxforddictionaries.com/definition/english/race--2 (accessed July 31, 2012).
11. Keita, S O Y; Kittles, Royal, Bonney, Furbert-Harris, Dunston, Rotimi; Royal, C D M; Bonney, G E; Furbert-Harris,
P; Dunston, G M; Rotimi, C N (2004). «Conceptualizing human variation» (http://www.nature.com/ng/journal/v36/n
11s/full/ng1455.html). Nature. 36 (11s): S17–S20. PMID 15507998 (https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/155079
98). doi:10.1038/ng1455 (https://dx.doi.org/10.1038%2Fng1455). "Many terms requiring definition for use describe
demographic population groups better than the term 'race' because they invite examination of the criteria for
classification."
12. S O Y Keita, R A Kittles, C D M Royal, G E Bonney, P Furbert-Harris, G M Dunston & C N Rotimi, 2004
"Conceptualizing human variation" in Nature Genetics 36, S17 - S20 Conceitualizando a variedade humana (htt
p://www.nature.com/ng/journal/v36/n11s/full/ng1455.html)
13. Por exemplo, esta declaração que expressa o ponto de vista oficial da American Anthropological Association em
seu websítio (http://www.aaanet.org/stmts/racepp.htm): "Evidências obtidas com a análise genética (p.ex., DNA)
indicam que a maioria das variações físicas originam-se dentro dos assim chamados grupos 'raciais'. Isto
significa que há uma variação muito maior dentro de grupos 'raciais' do que entre eles."
14. Thompson, William; Joseph Hickey (2005). Society in Focus. Boston, MA: Pearson. 0-205-41365-X
15. Daniel A. Segal 'The European': Allegories of Racial Purity (http://links.jstor.org/sici?sici=0268-540X%28199110%
297%3A5%3C7%3A%27EAORP%3E2.0.CO%3B2-7&size=LARGE&origin=JSTOR-enlargePage) Anthropology
Today, Vol. 7, No. 5 (Out., 1991), pp. 7-9 doi:10.2307/3032780
16. Bindon, Jim. University of Alabama. "Post World War II" (http://www.as.ua.edu/ant/bindon/ant275/presentations/P
OST_WWII.PDF#search=%22stanley%20marion%20garn%22). 2005. 28 de Agosto de 2006.
17. Em meio a esta nova raça / Onde terei algum crédito / Você só será vista como bela / Quando eu o disser.
(Tradução livre)
18. "Un gène ne commande jamais un destin humain" (http://www.humanite.fr/journal/2007-04-04/2007-04-04-84896
1), Axel Kahn in L'Humanité de 4 de abril de 2007.
19. Tahar Ben Jelloun, Le racisme expliqué à ma fille, tradução livre.
20. "The Race Question" (http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001282/128291eo.pdf), UNESCO, 1950.
21. História da França, segundo o currículo oficial de 18 de janeiro de 1887 por C.S. Viator
22. Ernest Renan, Qu'est-ce qu'une nation ?, conferência proferida na Sorbonne, 11 de março de 1882. (Tradução
livre) Texto completo no wikisource
23. Rainer Knußmann, Lehrbuch der vergleichenden Anthropologie und Humangenetik, 2. ed.
24. Entrevistas (http://www.ldh-toulon.net/spip.php?article235) com André Langaney nos jornais L'Humanité e
L'Histoire, no sítio da Liga dos direitos do homem (Tradução livre)
25. Faut-il proscrire en biologie l'expression " races humaines " ? UNESCO 1950-51 Jean Gayon (Université Paris 1-
Panthéon Sorbonne) (http://www-ihpst.univ-paris1.fr/_sources/jgay_raceunesco.pdf) Arquivado em (https://web.ar
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2007, no Wayback Machine. versão não definitiva do texto publicada em L’Aventure humaine, n°12/2001, Paris,
Presses Universitaires de France, 2002, página consultada em 16 de abril de 2007
Bibliografia
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(em francês) John Maynard Smith, La théorie de l'évolution. PB Payot. 1962
(em francês) Georges Canguilhem, La connaissance de la vie. Vrin. 1967
(em francês) François Jacob (Prix Nobel de biologie), La logique du vivant. Une histoire de l'hérédité. Gallimard.
1970
(em francês) Georges Canguilhem, Qu'est-ce qu'une idéologie scientifique ? in Idéologie et rationalité dans
l'histoire des sciences de la vie. Vrin. 1977
(em francês) François Gros, François Jacob, Pierre Royer : Société et sciences de la vie. Rapport au Président
de la République. La Documentation française. 1979.
(em francês) Albert Jacquard, Éloge de la différence. La génétique et les hommes. Seuil. 1981.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Raças_humanas 11/12
08/11/2019 Raças humanas – Wikipédia, a enciclopédia livre
Leitura adicional
BARROS, José D'Assunção. A Construção Social da Cor. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.
PARADELA, Eduardo Ribeiro. PEREIRA, Marcela Saldanha. ANDERS, Quézia Silva. AGOSTINHO, Luciana de
Andrade. FIGUEIREDO, André Luís dos Santos.
PAIVA, Carmen Lúcia Antão. Poderiam os fundamentos da evolução humana e da genética desfazer discussões
entre "raça" e "inteligência"?. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 57, 30 de setembro de 2008 [Internet]. Disponível
em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=3119. Acesso em
27 de maio de 2011.
Ligações externas
New England Journal of Medicine , Les Noirs sont plus sensibles au tabac que les Blancs (http://fr.news.yahoo.co
m/26012006/5/les-noirs-plus-sensibles-que-les-blancs-aux-effets-nocifs.html)[ligação inativa]
Agence de santé publique de Canada, La densité minérale osseuse en fonction de sexe, race et hérédité (http://w
ww.phac-aspc.gc.ca/publicat/cdic-mcc/16-1/a_f.html);
U.S. Food and Drug Administration, Medicament pour les Noirs, en anglais (http://www.fda.gov/bbs/topics/NEWS/
2005/NEW01190.html);
Émile Durkheim et la taille des crânes (http://www.cndp.fr/RevueDEES/pdf/115/01903011.pdf);
Le projet Genographic sur National Geographic (https://web.archive.org/web/20051014135817/http://www.nationa
lgeographic.fr/genomeA.htm);
ankhonline.com Acquis récents de la recherche et histoire ancienne de l'Afrique (http://www.ankhonline.com/ankh
_acquis_10ans.htm): 1. La paléontologie, l'archéologie - la génétique et l'origine de l'homme ;
Origine de l'homme et paléoanthropologie (http://www.modernhumanorigins.net/) (em inglês)
(em inglês) Un article de C. David Kreger sur le concept de race humaine (http://www.modernhumanorigins.ne
t/anth372.html), d'un point de vue biologique, culturel et sociologique ;
(em inglês) Du même auteur, un article sur l'origine de l'homme moderne (http://www.modernhumanorigins.ne
t/anth588.html).
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