Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
- Tropicalismo.
“(...) não foi uma ruptura radical com a cultura política forjada naqueles anos, apenas um de
seus frutos diferenciados, modernizador e crítico do romantismo racionalista nacional-popular,
porém, dentro da cultura política romântica da época, centrada na ruptura com o
subdesenvolvimento nacional e na constituição de uma identidade do povo brasileiro, com o
qual artistas e intelectuais deveriam estar intimamente ligados.” (p. 238)
- Massificação da cultura.
- Modernismo caracterizava da seguinte forma: resistência do academicismo nas artes;
emergência de novas invenções industriais que tivessem efeito no cotidiano;
proximidade imaginava da revolução social.
“[assim como levantado por Perry Anderson, na sociedade brasileira] havia luta contra o poder
remanescente das oligarquias rurais e suas manifestações política e culturais; um otimismo
modernizador com o salto na industrialização a partir do governo Kubitschek; e também um
impulso revolucionário, alimentado por movimentos sociais e portador de ambiguidades nas
propostas de revolução brasileira, democrático-burguesa (de libertação nacional), ou socialista,
com diversas gradações intermediárias.” (p. 240)
- Ainda que fossem expressões culturais diferentes, surgindo em mídias diversas, ocorria
uma tentativa de democratização do acesso à cultura.
- Tropicalismo, 1967-1968, MPB. Gilberto, Caetano, Tom Zé, Gal Costa, Torquato Neto,
Os Mutantes. Glauber Rocha, Hélio Oiticica.
- Glauber Rocha, diretor de Terra em transe, era tropicalista? Não se sabe. De acordo
com Carlos Coutinho, suas ideias deram um empurrão ao que seria o tropicalismo:
Brasil como país caótico, contraditório. Valorização do irracional.
- Tropicalismo se ligava à contracultura, ao Pop Art, uma espécie de americanização da
cultura brasileira.
“Vale dizer, Glauber prezava no tropicalismo o que ele tinha de inventivo, anticonvencional e
irracional em sua brasilidade e autoafirmação cultural do Terceiro Mundo – mas combatia o
que achava ser a americanização também presente no movimento.” (p. 241)
“Os tropicalistas abriam suas portas e janelas para o mundo, para arejar o ambiente impregnado
do caldo de cultura do chamado nacional-popular; mas as janelas estavam instaladas no coração
do Brasil, abertas também ‘para que entrem todos os insetos’ do exterior.” (p. 244)
- Antropofagia cultural.
- Críticas ao nacionalismo popular.
- Identificação do tropicalismo com a esquerda armada. Cita músicas como Soy loco por
ti, America; Divino, maravilhoso; Enquanto seu lobo não vem.
“(...) nos anos 1960 ficava mais uma vez evidente (...) que a produção cultural é ao mesmo
tempo política e vice-versa, ainda que nem sempre seja possível estabelecer precisamente a
articulação entre arte e vida sociopolítica.” (pp. 250-251)
“No plano das escolhas políticas individuais, a maioria dos tropicalistas era crítica da ditadura
militar, bem como dos grupos de esquerda, preferindo apostar em posições políticas
alternativas, um misto de contracultura, anarquia e deboche, tendo no máximo simpatia em
relação a grupos de esquerda que lhes pareciam, à distância, ter afinidade com a contestação
tropicalista.” (p. 253)
- O público as vezes fazia interpretações das letras, mesmo que não fosse o caso. Artistas
eram cobrados por seus fãs por um posicionamento. Confundiam estética com posição
política.
- Autor faz analogia com o pêndulo.
1) pêndulo radical. “buscava-se revolucionar radicalmente a cultura brasileira, lutar contra seu
congelamento nas raízes tradicionais conforme a leitura que se fazia da proposta nacional-
popular, cuja suposta redução das artes a mero meio de conscientização da realidade social era
combatida pelos tropicalistas, que tomavam ao pé da letra o conselho do poeta revolucionário
russo Maiakovski: sem revolução na forma, não há revolução na arte.” (p. 254)
- Frustração.
- O pêndulo que era radical, durante a redemocratização, se torna moderado e
conciliador. Pêndulo social-democrata ou pêndulo integrador.
“O pêndulo então seria entre duas vertentes atualizadas de um velho conflito na política
brasileira, entre trabalhismo e liberalismo, ambos modernizantes. O primeiro com ênfase na
ação do Estado nacional, o segundo com destaque para os mecanismos do mercado. (...)
Desapareceu a utopia tropicalista de romper com as estruturas, latente nos anos 1960.” (p. 261)
Cabeça do brasileiro
“Caetano colocava-se explicitamente contra o que chamou de nacionalismo populista,
identificado com certas posições que recusavam a incorporação de novas influências externas
na cultura brasileira. Mas isso (...) não significaria o abandono da discussão sobre nosso destino
como povo e nação, com uma contribuição cultural a dar ao mundo (...).” (p. 263)
- Sua utopia não se resumia a um projeto partidário. Livre das amarras políticas.
“As eventuais posições de esquerda dos tropicalistas conviviam contraditoriamente com sua
posição ambígua diante do mercado capitalista.” (p. 266)
“O mercado seria [para Caetano], então, ao mesmo tempo: 1) o inevitável monstro a expandir
seus tentáculos, banalizando as artes; e 2) uma conquista nacional para o Brasil, necessária para
seus artistas competirem em escala internacional.” (p. 266)
“[nem de direita nem de esquerda, dizia Caetano] Elas revelariam que a autoimagem de
Caetano, como a de muitos tropicalistas e outros artistas, pode ser caracterizada como a de um
intelectual livremente flutuante – no sentido mannheimiano – que, pela sua posição peculiar,
poderia ter uma visão de conjunto mais esclarecida sobre o todo do país, verdadeira consciência
crítica a pairar sobre a sociedade (...).” (p. 267)
“(...) não é surpresa que a identidade possível seja a de baiano, ou ainda de brasileiro, com toda
a indefinição e ambiguidade que esses termos comportam. (...) Essa indefinição de identidade
de classe e a utopia da brasilidade como portadora de uma nova civilização seriam marcas de
vivência, da produção artística e do pensamento social brasileiro nos anos 1960, produzido pela
intelectualidade emergente e engajada de classe média, buscando sua própria representação
política como classe, chegando, no limite, a ensaiar uma socialização da cultura.” (p. 270)
“A ideia de cruzamento fertiliza a canção Sampa do começo ao fim. Cruzamento entre: passado
e presente; presente e futuro; passado e futuro; frieza e sentimento; realidade e sonho; arcaísmo
e modernidade; pobreza e riqueza; criação e destruição; espoliação e fruição; estrelas e fumaça;
as avenidas Ipiranga e São João, entre outras esquinas.” (p. 274)
“A abordagem de Caetano nessa canção - e mesmo em outras – tem parentesco com a visão de
Berman da modernidade: valorização do cotidiano, das minorias sociais, da autodestruição
inovadora, centrando-se especialmente no ‘eu’ moderno e no autodesenvolvimento ilimitado
do indivíduo.” (p. 277)