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Ano Letivo:2019/2020
Universidade de Trás os Montes e Alto Douro
Índice
Introdução .............................................................................................................................................. 2
Cultura e educação: definição e conceito ............................................................................................ 3
Portugal nos séculos XVIII e XIX ........................................................................................................ 6
O ambiente cultural e educativo em Portugal nos séculos XVIII e XIX .......................................... 9
A cultura em Portugal: as influências francesas .................................................................................. 9
A educação na nobreza em Portugal: desenvolvimento e influências ............................................... 11
O Real Colégio dos Nobres e a Universidade de Coimbra................................................................ 12
Estudo biográfico................................................................................................................................. 14
Do Morgadio de Mateus a D. José Maria de Sousa Botelho Mourão ............................................... 14
Breve biografia de D. José Maria de Sousa Botelho Mourão ........................................................... 15
De Homem da matemática ao Homem das Letras: D. José Maria e a Edição Monumental de Os
Lusíadas ................................................................................................................................................ 18
Conclusão ............................................................................................................................................. 20
Bibliografia .......................................................................................................................................... 22
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Introdução
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Culture or Civilization, taken in its wide ethnographic sense, is that complex whole which
includes knowledge, belief, art, morals, law, custom, and any other capabilities and habits
acquired by man as a member of society (Edward B. Tylor, 1958, p.1)
A cultura é o que nos define, como ser humano, faz parte de nós e nela está o que
permite conviver e comunicar com a sociedade.
O desenvolvimento da cultura, tanto a nível intelectual, industrial, político ou moral,
segundo Edward B. Taylor corresponde, em grande parte, à transição entre o selvagem e a a
vida civilizada. É uma característica própria do ser humano que lhe permite adquirir um certo
nível de convivência e respeito entre os demais. Desta forma o ser humano consegue viver ou
sobreviver no meio dos seus pares sendo que a cultura é tão diversa quanto os próprios seres
humanos consoante a raça, o meio ou o local ao qual pertencem.
A herança cultural desenvolve – se de geração em geração, e o que parece fugir aos
padrões da sociedade, faz com que o ser humano reaja depreciativamente em relação a outros
grupos sociais. A forma como cada um vê o mundo influencia o modo de pensar em relação
aos outros. O ser humano está habituado a julgar que tudo aquilo que é diferente daquilo é que
está acostumado tecendo juízo de valor ou apreciações morais. Tudo aquilo que somos é fruto
da nossa herança cultural, a fala, a língua que falamos, o modo de pensar ou agir influenciam
todo o nosso comportamento. A postura corporal e os hábitos que nós adquirimos ao longo da
vida podem denunciar o lugar de onde provimos. A forma de vestir, o que comemos, a nossa
língua ou até o que nos faz rir, o nosso sentido de humor são adquiridos culturalmente, ou
seja, são caraterísticas influenciadas pela sociedade em que vivemos. Assim, o Homem tem
tendência a ser etnocêntrico, considerando que o seu modo de ser é o mais normal e natural.
Esta tendência incorre inúmeras vezes em conflitos sociais ao discriminar e rejeitar o que é
diferente. Estes comportamentos discriminam seres, atitudes ou crenças diferentes dentre da
mesma sociedade e daí surgem valores depreciativos como xenofobia, racismo, homofobia ou
até preconceitos de ordem religiosa.
A sociologia procura perceber os comportamentos que o ser humano vai adquirindo ao
longo da sua vida através da sua convivência em sociedade. O ser humano vai-se apropriando
de certas caraterísticas de forma natural e quase inconsciente sendo que estas vão refletir a
realidade social desses sujeitos.
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Considera-se cultura todo o objeto ou símbolos que fazem definem uma sociedade,
mas também, existem aspetos mais abstratos, não palpáveis como o comportamento, as
crenças, os valores ou normas.
Como já foi referido anteriormente, a cultura distingue-se pela diferença entre os seres
humanos. Não é igual para todos nem em todos os locais do mundo. Cada sociedade tem a sua
própria cultura, a sua maneira de ver ou fazer as coisas. Cada sociedade respeita ou crê em
coisas diferentes, cada sociedade é diferente e por isso a cultura é diferente. Até dentro da
mesma sociedade a cultura pode divergir entre seres humanos diferentes, isto porque,
independentemente da influência do meio, cada um adquire a sua própria personalidade e
interage à sua maneira com a cultura. Cada um compreende o mundo à sua maneira e assim
aparece a diversidade cultural.
Estando o mundo social em constante mudança e evolução, o que interessa hoje pode
não ser o mesmo que nos importa amanhã. Candau (2003) afirma que cultura é um fenómeno
criativo em constante transformação. Assim, a cultura, também, não é estática e vai-se
adaptando às mudanças adaptando-se às necessidades e contextos vividos pelas gerações mais
recentes. É importante salientar que hoje em dia o acesso à informação cresceu
exponencialmente e é muito fácil ter acesso a informação sobre outras culturas criando um
efeito de aculturação na qual os indivíduos de uma sociedade tendem a adotar caraterísticas de
outra cultura com a qual se identifiquem.
Émile Durkheim (2001), considera que o que nos diferencia do animal é o facto de
vivermos em sociedade. O ser humano é o único ser capaz de transmitir valores, costumes e
conhecimentos a outro ser semelhante. Este processo ocorre tanto a nível familiar como
institucional e desde o momento em que nascemos.
Forquin (1993, p.14) afirma que “a cultura é o conteúdo substancial da educação” e
que “a educação não é nada fora da cultura e sem ela.” A cultura e a educação estão
intimamente ligadas e uma com a outra são parte imprescindível do processo ensino-
aprendizagem. Todo o processo educativo é de extrema importância na construção da
formação de um individuo. Candau (2003) e Forquin (1993) salientam a relação evidente
entre cultura e escola buscam um melhor entendimento da importância da cultura no processo
ensino-aprendizagem.
Segundo Jerome Brunner (2000) “o aprender e o pensar estão sempre situados num
enquadramento cultural e sempre dependentes de recursos culturais” (p.20)
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Nos séc. XVII e XVIII, a arte e a emoção evoluíram profundamente O apreço pelo
exuberante e pelo movimento do Barroco, que veio a expandir-se por toda a Europa, ao longo
do século XVIII, vêm transformar os gostos clássicos do Renascimento. Considerado como o
estilo correspondente ao absolutismo e à Contrarreforma - movimento de resposta à Reforma
Protestante – o Barroco é considerado, por muitos pesquisadores, não apenas como um estilo
artístico, mas sim como um movimento sociocultural que marcou a época entre o final
do século XVI e meados do século XVIII, questionando a forma de entender o mundo e
Deus.
O reinado de D. João V e as remessas de ouro provenientes do Brasil levaram a um
período de opulência que conduziu à construção de inúmeros monumentos em Portugal. Os
maiores artistas estrangeiros são chamados para desenharem alguns dos monumentos mais
emblemáticos do país, entre os quais o Convento de Mafra projetado por Ludovice, arquiteto
alemão ou a Torre dos Clérigos a Norte, assinada por Nicolau Nasoni. Estes artistas trazem a
Portugal um novo estilo artístico – o Barroco – caraterizado por pela seu esplendor e
exuberância, como por exemplo, os trabalhos em talha dourada que caraterizam inúmeras
igrejas nortenhas procurando glorificar a religião e o Clero.
O dramatismo, a exuberância das formas, o movimento, a riqueza das cores ou os
contrastes de luz são algumas das caraterísticas principais deste estilo.
Conhecido como o Roi Soleil português, D. João V era um homem de educação e
cultura invejáveis, tanto a nível literário, científico ou artístico, conhecimentos, estes,
adquiridos com os Padres Francisco da Cruz da Companhia de Jesus, de grande prestígio à
época. A sua ambição enquanto rei era levar Portugal ao nível das maiores potências mundiais
e fundou a Academia Real de História, a Biblioteca do Paço da Ribeira e a Biblioteca da
Universidade de Coimbra bem como o Aqueduto das Águas Livres em Lisboa. A grande
riqueza da família real influencia o tipo de vida dos nobres e da alta burguesia que pretendem
estar mais ligados à corte construindo palácios – solares, de forma a se assemelharem ao
modo de vida da monarquia.
A partir do século XVIII, em Portugal existe uma falência entre o período seiscentista
ou barroco e o período setecentista, o dos iluminados. O Iluminismo foi uma corrente de
renovação cultural e intelectual que defendia a crença no valor da Razão em prol do progresso
do ser humano. Este movimento incentivou mudanças políticas, económicas e sociais,
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sustentadas nos direitos de liberdade, igualdade e fraternidade com algumas críticas ao regime
absolutista tornando este movimento da Luz e da Razão uma aliança ou um acordo com a
política vigente.
No final do Reinado de D. João V, a situação económica de Portugal regredia e o país
entrou em crise. Sucede-lhe D. José I, rei absolutista, que chama ao governo Sebastião José de
Carvalho e Melo – Marquês de Pombal - como seu primeiro-ministro, figura-chave
do governo português entre 1750 e 1777. Marquês de Pombal acreditava no Poder da Razão e
adotou um governo despotista que vai de encontro ao absolutismo, impondo a sua autoridade
a todos os grupos sociais, mas, também, influenciado pelas ideias iluministas e a cultura
europeia que vai de encontro aos ideais de progresso e reformas políticas, económicas,
religiosas e educativas.
Em 1758, persegue a alta nobreza e o clero mandando executar os nobres acusados de
atentado à vida do rei por forma a mostrar o seu poder absoluto. A nível económico a reforma
deu bons resultados mostrando um bom desenvolvimento fundando grandes companhias de
comércio, vinho e pescas. As suas reformas estendem-se à religião com a expulsão dos
Jesuítas em 1759 e a reforma da Inquisição, mas também ao âmbito da Educação que pretende
atualizar a cultura portuguesa levando a profundas reformas no ensino.
No século XVIII, com as reformas Pombalinas acaba o domínio do método
educacional jesuíta por meio do Decreto de 28 de junho de 1759 e o sistema educativo torna-
se responsabilidade do Estado, culpando a Companhia de Jesus pelo retrocesso da Educação
Cultural e Escolar em Portugal.
As reformas pombalinas do ensino público constituem uma expressão altamente significativa
do Iluminismo Português. Neles, encontra-se materializado um programa pedagógico que,
por um lado, representa o reflexo das ideias que agitaram a mente europeia e, por outro lado,
traduz nas condições das motivações, preocupações e problemas peninsulares da vida
tipicamente portuguesa (CARVALHO, 1978, p. 25).
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Na primeira metade do século XVIII, foi realizada a primeira sistematização racional dos
estudos por Pina Proença nos Apontamentos para a Educação de um Menino Nobre. O livro
de Manuel de Andrade Figueiredo, publicado em 1718, foi cedido pela obra Nova Escola para
que estes pudessem aprender a ler, escrever e ensinar como atingir uma boa educação de um
determinado personagem, destinado a ocupar um lugar na hierarquia social: o menino nobre.
A educação proposta por Pina Proença, visava um processo que podia ser utilizado na
Universidade para ensinar a homens que fossem vantajosos para a República e para a
Religião. Para tal, as escolas deviam ser orientadas por pessoas que fossem de confiança real,
pois a educação era uma atribuição real, pelo que era necessário retirar a educação da Igreja
(em particular aos jesuítas).
A formação na escola era baseada no saber e na Ética de política, ou seja, o que a
sociedade civil espera e deseja dessa formação. Este tipo de educação foi concretizado através
da prática política de Pombal, quando foram implementadas várias reformas no sistema de
ensino, nomeadamente, a fundação de uma escola para nobres (Colégio Real dos Nobres).
Este Colégio era de acesso limitado, pelo que os únicos que podiam entrar rapazes entre os 7 e
13 anos e que tivessem pelo menos o estatuto de moço fidalgo. Estes aprendiam diversos
temas tais como: o ensino das primeiras letras, pesos das medidas, dos seguros, através de
reformulação dos métodos nos cursos preparatórios e de obras relevantes e até mesmo
introdução de novas variantes, para complementar este tópico e compreender como se deu o
contexto educacional dos nobres, entende-se necessário discorrer algumas linhas sobre duas
instituições importantes do período Pombalino: o Real Colégio dos Nobres e a Universidade
de Coimbra.
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O Real Colégio dos Nobres foi criado no reinado de D. José I por iniciativa do Marquês de
Pombal para colmatar a falta de estabelecimentos de ensino devido à expulsão dos jesuítas de
Lisboa. Com o intuito de criar um método de ensino ao abrigo do iluminismo mas sempre sob
o controlo do Estado soberano.
Este estabelecimento de ensino era reservado a jovens aristocratas portugueses com idades
compreendidas entre os 7 e os 13 anos, correspondendo, hoje em dia, à preparação ao ensino
secundário.
Os professores ou mestres que leccionavam no Colégio era, na sua maior parte, estrangeiros
que orientavam matérias relacionadas com as humanidades e as matemáticas. Com efeito, este
programa curricular foi criado para que estes jovens ficassem preparados para ingressarem na
Universidade de Coimbra com uma base educativa exemplar.
Entretanto, cabe aqui frisar que esta educação e esta cultura não eram para todos.
De acordo com o artigo V dos estatutos do futuro Colégio, publicados a 7 de Março de 1761,
os requerentes tinham primeiro de provar serem nobres de nascença, devendo possuir uma
Carta de Moço Fidalgo. Para obterem do rei autorização para os filhos frequentarem o
Colégio, os pais deviam apresentar o requerimento de acordo com um determinado modelo,
enquanto se comprometiam a pagar uma renda anual de 120 mil réis por educando. (Gallut,
2015. P.14)
Nota-se, portanto, que as oportunidades desde cedo eram direcionadas a uma elite, havia uma
separação e, nesta, incutida uma intenção em que a letra era para alguns e as atividades
braçais para os demais. Ao analisar essa dinâmica com os olhos atuais, ainda que por um viés
quase anacrónico, é possível refletir: atualmente, a cultura e a educação são para todos?
Esta reflexão não cabe neste momento uma vez que não é a espinha dorsal deste trabalho, mas
nos ajuda a compreender que a visão de governo do período pode não ter mudado tanto assim
em nossos dias e, isto nos leva a pensar que a reforma educacional setecentista ainda possui
resquícios.
Deste modo, não seriam estes resquícios o motivo de nos debruçarmos para uma investigação
rigorosa sobre o tema para diagnosticar onde chegamos?
Assim, por isto urge saber de onde partimos e neste caso em questão, a reforma educacional
do Marquês de Pombal e as influências na cultura.
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A representatividade de Marquês de Pombal é exposta por vários estudos, mas o que nos
interessa aqui é identificar o enquadramento teórico existente acerca da educação ou, no caso
que será exprimido, sobre algumas reformas da educação propugnadas por Pombal.
Um dos estudos sobre a referida matéria foi realizado por diversos autores através da obra da
Revista de História e Estudos Culturais de Sandra Aparecida Pires Franco.
Neste sentido, cabe aqui extrair os estudos realizados acerca do tema sob o prisma da Casa de
Mateus, a fim de contrapor estes estudos com os artigos, no caso em questão, reunidos por
Ana Cristina Araújo.
Ao passo que a bibliografia de Heloísa Liberalli Bellotto e Gallut nos leva a uma vertente
sobre o cenário de Portugal no cerne da Casa de Mateus e do movimento daquela família, o
artigo de Sandra Aparecida Pires Franco nos mostram o macro deste cenário, o que representa
uma mais-valia para questionarmos o trânsito da família no reino.
Assim, nas próximas linhas importa discorrer sobre este macro para que, posteriormente, seja
elucidado acerca do estudo biográfico de D. José Maria no contexto de seu seio familiar.
Em linhas gerais, os estudos acerca da reforma da educação Pombalina de 1760 têm o mesmo
consenso, “trazer a educação para o controle do Estado, secularizar a educação e padronizar o
currículo” (Maxwell, 1996, p. 102 apud Franco, 2007, p. 8).
A justificativa pombalina para a reforma alega que “[...] era um método destinado a ser útil
para a República e a Igreja na proporção do estilo e da necessidade de Portugal”.
MAXWELL, 1996, p. 104 apud Franco, 2007, p. 9).
Neste sentido, entende-se que D. José Maria frequenta duas entidades num momento de
transição e, se o Real Colégio dos Nobres exigia um rigor na seleção dos seus alunos face à
reforma, a Universidade de Coimbra estava pronta para receber os alunos deste Colégio e
formá-los a nível da educação superior, mas muito direcionado para algumas ciências, sendo
A reforma da Universidade de Coimbra, ocorrida em 1772, foi das mais importantes:
“as faculdades de teologia e de lei canônica, incorporar o estudo de fontes portuguesas no
currículo da faculdade de direito, atualizar a faculdade de medicina, fazendo voltar o estudo
de anatomia por intermédio da dissecação de cadáveres, antes era proibida por questões
religiosas… Entretanto, com seu sistema de “iluminismo português”, essencialmente
reformista e pedagógico, não revolucionário, mas progressista, nacionalista e humanista
Pombal provocou satisfação em grande parte dos intelectuais (Franco, 2007, p. 10, 14).
Deste modo, após essa breve compreensão sobre a reforma educacional, importa
esclarecer acerca da biografia de D. José Maria.
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Estudo biográfico
Muito embora, o foco deste trabalho ser os enredos da educação de José Maria,
cumpre, antes, entender o contexto cultural e educacional vivido pelo mesmo, e, para isto,
identificar as realizações dos seus pais, considerando que no âmbito da Casa de Mateus, D.
Luís António e D. Leonor de Portugal foram uma mais-valia para o desenvolvimento, o não
só da Casa com os contributos que devem, também, para a corte e para a sua colónia, Brasil.
Nesse sentido, entende-se que a educação de José Maria tem um contexto de diversidade
cultural angariado ao longo da sua vida pela família, por P. Manoel (ilegível de acordo com as
notas arquivísticas da Câmara Municipal). No colégio dos Nobres e sobretudo de forma direta
pelos países com quem tiveram alguma relação: Brasil e França.
Fruto de um casamento fidalgo arranjado, na segunda metade do século XVIII em
Portugal, como todos eram na época, carregado de interesses sociais e financeiros entre um
militar de altos postos de comando D. Luís António de Sousa Botelho Mourão, quarto
morgado de Mateus e governador da Capitania de São Paulo no Brasil e D. Leonor Ana Luísa
de Portugal Sousa Coutinho, uma nobre de Lisboa ligada a outras famílias nobres.
O casamento acontece no ano de 1756 e dura até 1798, data da morte de D. Luís
António. Esta relação foi marcada por longos períodos de ausência entre ambos. D. Leonor
tinha afazeres a nível político ou financeiro do casal e a sua família deslocava-se a Lisboa, à
Corte para cuidar dos mesmos. Por sua vez, D. Luís António permaneceu dez anos no Brasil
entre 1755 e 1775 como governador da capitania de São Paulo. Estes momentos criaram
períodos conturbados no relacionamento mas, ainda assim, marcado por uma extrema
cumplicidade e afeto no que concerne a vida familiar.
Devido à longa ausência de D. Luís António relativamente ao seu alto cargo de
comando como governador da Capitania de São Paulo no Brasil, D. José Maria ficou a cargo
de sua mãe, D. Leonor de Portugal, que foi quem mais cuidou dele.
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Entretanto, a fonte primária utilizada por Bellotto, bem como a sua produção, permite
recolher uma série de informações capaz de recuperar a memória mas, sobretudo, levantar
questões acerca de um dado específico. Neste caso, este material oferece informações sobre o
meio familiar, cultural e educacional de D. José Maria.
Durante este período foi sempre preocupação de D. Maria Leonor manter o seu
marido D. Luís António a par da educação de D. José Maria, enviando nas suas cartas, para o
Brasil, relatos da evolução do filho de ambos referindo-se ao cuidado que mantém na sua
educação “sempre o estou estimulando para que se adorne de virtude se de ciências para
agradar a seu Pai” (Bellotto, 2007, p.351).
Noutra carta, D. Leonor dá, ainda, conta do progresso de D. José Maria, ao seu pai
“Sabe muito bem latim, muito bem francês, inglês bastantemente, geometria, está mais com a
lógica, tem muita habilidade para o desenho, já tem mandado várias pinturas que tem feito…”
(Bellotto, 2007, p.366). Ao longo da leitura da obra de Bellotto, pode verificar-se o zelo
constante pela educação de D. José Maria. Entre 1772 a 1778 esteve registado nos arquivos da
Universidade de Coimbra, como estudante do Colégio de São Jerónimo, onde se formou em
Matemática, tornando-se assim “o primeiro nobre licenciado em matemáticas”, (Gallut, 2015,
p.16), palavras de D. José Maria em nota autobiográfica. Mais escolhe a carreira militar e
parte para Chaves.
Passou parte da sua vida no estrangeiro ocupando vários cargos diplomáticos como
embaixador e absorvendo a cultura desses países e uniu-se num primeiro casamento a D.
Maria Teresa de Noronha na cidade de Lisboa, no ano de 1783. Fruto desse casamento,
nasceu D. José Luís Botelho Mourão e Vasconcelos cuja educação ficou a cargo de sua avó
D. Maria Leonor, mãe de D. José Maria após a morte de D. Maria Teresa.
Casa novamente em Paris, com D. Adelaïde Marie Emilie Filleul, Condessa de
Flahaut, romancista francesa mais tarde conhecida como Madame de Sousa, no dia 17 de
outubro de 1802.
D. José Maria regressa a Portugal após a morte de seu pai, quarto Morgado de
Mateus, Governador da Capitania de São Paulo, no Brasil para tomar conta dos assuntos
familiares pendentes. O Arquivo da casa de Mateus tomou parte das suas ocupações dando
continuidade à organização de documentos da administração da Casa já iniciada pelo seu pai.
Sempre foi de interesse familiar preservar toda a informação relativa à Casa e suas gentes de
forma a proteger todo o património da família. Mais tarde regressa a Paris onde viria a falecer
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no dia 1 de junho de 1825 sendo o seu corpo trasladado para a Capela da Nossa Senhora dos
Prazeres da Casa de Mateus.
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Conclusão
Qual a representatividade das bibliografias sobre D. José Maria de Sousa Botelho Mourão e
de todo o contexto histórico ao seu redor para a compreensão da cultura e da educação em
Portugal na segunda metade do século XVIII?
Não é sem algum propósito que a conclusão deste trabalho tem em sua premissa a pergunta de
partida posta na introdução, pois aqui cabe nos responder ou não responder plenamente, uma
vez que em alguns momentos, a execução deste estudo nos levou a caminhos que mais nos
trouxe reflexões do que respostas.
Contudo, as reflexões acabam por nos orientar mais do que muitas respostas em concreto.
Deste modo, a primeira parte deste trabalho, voltada para o estado da arte com a definição dos
conceitos dos termos educação e cultura nos permitiu entender a particularidade de cada
espaço, cada tempo e cada indivíduo, mas que tanto o espaço, quanto o tempo podem
influenciar no indivíduo e o contrário também acontece, caso o indivíduo seja dotado de
poder que possa ter autonomia para mudar tempo e espaço.
Esta reflexão levou nos aos capítulos seguintes que nos mostram as ruturas da educação e da
cultura em Portugal através das reformas pombalinas e como suas ações repercutiram na vida
de tantas pessoas que tiveram ou não acesso à educação, tão restrita aos moços fidalgos.
Na presunção desta restrição restou o moço fidalgo José Maria, 5º Morgado da Casa de
Mateus e dono de títulos favoráveis para a realização de tantos feitos capazes de repercutir nas
atividades de uma casa senhorial: a Casa de Mateus.
Além disso, capazes de repercutir em Portugal e tantos outros países que receberam a sua
Edição Monumental d’Os Lusíadas de 1817.
Assim, foi necessário apresentar uma breve nota biográfica que nos pudesse esclarecer a
relação de sua educação à cultura local e não só.
Deste modo, educação e cultura contribuem uma para a outra para o indivíduo, para o tempo e
para o espaço.
Esta educação e cultura firmada na reforma pombalina ainda perdura no Monumento
Nacional Casa de Mateus, esta memória está guardada e preservada. Educação e cultura,
estas, que foram restritas a uma classe mais elitista.
A questão final é como esta cultura e esta educação contemporânea de Portugal tem sido
levada a todos? Ambas estão a ser levadas a todos?
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Foi nítido neste trabalho os indivíduos que tinham direito à educação e cultura e, embora não
tivesse sido mostrado as personagens que não tiveram direito, a falta dos nomes, mostra-nos
que educação e cultura também são seletivas para preservar ou eliminar uma memória ou
personagens.
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Bibliografia
ADÃO, A. (1997), O Estado Absoluto e o ensino das primeiras letras. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian.
CALAFATE, P. (n.d.). Luís António Vernei. [online] Filosofia Portuguesa. Disponível em:
http://cvc.instituto-camoes.pt/filosofia/ilu5.html
CANDAU, Vera Maria Ferrão - Educação escola e Cultura(s): construindo caminhos. Revista
Brasileira de Educação, 2003.
GALLUT, A. (2015). O Morgado de Mateus Editor de Os Lusíadas. 1st ed. Alêtheia Editores.
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