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UNIVERSIDADE PÚNGUÈ

Extensão de Tete

Antropologia cultural

Licenciatura em Ensino de Matemática

Edma Meque Starque


Delírio Capelo Alfinete
Nilton Bracionilio Ézio

Tete

Outubro de 2023
Edma Meque Starque
Delírio Capelo Alfinete
Nilton Bracionilio Ézio

Características da cultura: relação entre cultura, educação e sociedade em Moçambique

Trabalho de investigação a ser apresentado à


Faculdade de Ciências Exatas e Tecnológicas da
Universidade Púnguè na cadeira de ACUM como
requisito de avaliação parcial.

Docente: Gildo Massaua

Tete

Outubro, 2023
Índice

1. Introdução................................................................................................................................4

2. Características da cultura..........................................................................................................5

3. Diversidade cultural em Moçambique............................................................................................6

4. Hibridização(fusão ou união) cultural e educação....................................................................8

5. Relacao entre cultura e educacao na sociedade mocambicana................................................10

6. O etnocentrismo e relativismo cultural na escola..........................................................................13

7. Conclusao...............................................................................................................................15

8. Referências.............................................................................................................................16
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1. Introdução
No presente trabalho vamos falar das características da cultura e a relação entre cultura,
educação e sociedade em moçambique onde teremos como foco conhecer as características da
cultura e a relação que esta tem com a educação e a sociedade em Moçambique. Se tratando
particularmente de Moçambique abordaremos a questão da diversidade cultural sabendo que
Moçambique neste país e a hibridização da cultura. A cultura tem uma serie de características
que a engrandece no contexto humano, ela também tem uma grande importância ou relaciona
se bastante com a educação e a sociedade, visto que uma cultura só é cultura se pertencer ou
for aprendida por uma sociedade.

O trabalho esta organizado em três partes ou capítulos, onde no primeiro capitulo estão os
elementos pré-textuais (capa, contracapa, índice e introdução), o segundo capitulo temos o
desenvolvimento onde temos o desenrolar dos conteúdos (elemento textuais) e por ultimo
temos os elementos pós textuais a conclusão e as referencias bibliográficas.
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2. Características da cultura
Quando falamos em Cultura, evidenciamos a vivência histórica de significados que um grupo
conjuga e com o qual distinguem seus componentes, as linguagens com as quais se
manifestam, os identificadores e as técnicas significativas, os valores, a fé e o gosto com os
quais se coligam e a história que colectivamente constroem.

A cultura tem uma série de características muito próprias, que revelam a sua grande
importância no contexto humano, tais como:

A cultura é aprendida. É aprendida, porque existe graças a um processo de transmissão de


geração em geração e não existe independentemente dos indivíduos. A aprendizagem da
cultura começa a partir do nascimento, e dá-se essencialmente por imitação dos outros;

A cultura também é simbólica, pois todas as culturas possuem símbolos que são
compreendidos de modo semelhante por todas as pessoas que as integram. É uma forma de
comunicação, é uma rede de sentidos que torna possíveis as relações pessoais. Tudo nas
culturas é de caráter simbólico. A cultura também domina a natureza, pois sobrepõe-se ao que
há de biológico em nós. Cada necessidade biológica é expressa e saciada de forma diferente,
consoante a cultura. Por exemplo, a necessidade de alimento é comum a todos os seres
humanos, mas que é satisfeita é de modo diferente (difere no tipo de comida, no modo como
se toma a refeição, as horas…);

A cultura mostra-se como geral e específica ao mesmo tempo, visto que todos os homens, em
qualquer sociedade, têm uma determinada cultura (não há ninguém que não tenha cultura,
nasça ou exista sem ela), mas também porque as culturas são diferentes, têm características
próprias, que a individualizam;

Também é dito que a cultura abarca o todo. É simples; acultura está presente em todos os
aspectos da vida humana(sociais, organização do tempo e do espaço, biológicos); ou seja, a
cultura está presente em tudo a nossa vida e nada está fora da cultura, pois existem normas,
regras, padrões de comportamento em todas as atividades humanas;

Outro aspecto da cultura, é o facto de esta ser partilhada, porque não é propriedade de um
indivíduo, é de todas as pessoas de uma sociedade, a sociedade e a cultura são inseparáveis,
elas são a forma de viver do ser humano;

A cultura é adaptam-te e desadaptam-te. Adaptam-te , porque o Homem modifica a


natureza, de modo a satisfazer as suas necessidade; transforma-a para se adaptar a ela.
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Também é desadaptam-te, porque o Homem coloca-se em perigo ao efetuar determinadas


transformações na natureza; devido à cultura a natureza pode ser destruída (como é, por
exemplo, o caso do buraco na camada do ozônio).

A cultura é passada de geração em geração de acordo com um processo designado por


Enculturação (necessidade da constituição de uma cultura nacional, que unifique o mercado e
centralize o poder), passando por um outro denominado de Socialização, que é durável na
vida do homem. Não basta, portanto, ao ser humano estudar, mas é preciso, antes de tudo,
escolher aquilo que estuda, de modo a se conhecer coisas úteis. As actividades didácticas em
sala de aula devem compreender, além da leitura de textos, a apreciação de materiais
procedentes da Mídias (televisão, jornais, revistas, vídeo, internet, etc.), proporcionando aos
alunos a possibilidade de ponderação acerca dos problemas contemporâneos a partir do
instrumental teórico oferecido. Ainda é necessário preparar os educadores para uma mudança
de postura.

Para falar da relação da cultura com a educação e sociedade moçambicana temos de ter em
conta a diversidade cultural em mocambique e a hibridizacao cultural e educacao.

3. Diversidade cultural em Moçambique

A diversidade significa pluralidade, variedade e diferenciação, conceito que é considerado o


oposto total da homogeneidade. Actualmente, devido ao processo de colonização cultural
entre a maioria das nações do planeta, quase todos os países possuem a sua diversidade
cultural, ou seja, um "pedacinho" das tradições e costumes de várias culturas diferentes.

Diversidade cultural são os vários aspectos que representam particularmente as diferentes


culturas, como a linguagem, as tradições, a culinária, a religião, os costumes, o modelo de
organização familiar, a política, entre outras características próprias de um grupo de seres
humanos que habitam um determinado território.

Um dos aspectos considerados de maior relevância no novo currículo do Ensino Básico


relaciona-se com a questão da diversidade cultural. O Ministério da Educação no seu Plano
Curricular - MINED/ PCEB (1999, p. 8) refere que “a educação tem de ter em conta a
diversidade dos indivíduos e dos grupos sociais, para que se torne num fator, por excelência,
de coesão social e não de exclusão”.

Uma das característica mais preciosas de Moçambique é a sua diversidade cultural que, por
coincidência, acompanha também a sua diversidade biológica. Takahashi (2006, p. 3) afirma
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que há uma significativa correlação entre as diversidades biológica e cultural, as áreas que
têm grande diversidade biológica também reúnem grande diversidade cultural.

A sociedade moçambicana é multilíngue, pluriétnica, multirracial e socialmente estratificada.


Existem em Moçambique várias formas de organização social, cultural, política e religiosa, há
várias crenças, línguas, costumes, tradições e várias formas de educação. A principal
característica do patrimônio cultural moçambicano é a sua diversidade. As manifestações e
expressões culturais são ricas e plurais, sobretudo as ligadas às camadas “populares”.

A língua oficial em Moçambique é a língua portuguesa, mas ela é uma língua minoritária que
foi escolhida para oficial por razões políticas relacionadas com a unidade nacional e com o
fato de não haver à altura da Independência nenhuma língua que estivesse suficientemente
“modernizada” para ser capaz de veicular a Ciência, a Tecnologia e ser capaz de servir de
língua franca em todo o território nacional.

De acordo com dados do INE/ NELIMO (2000, p. 108) estão presentes no país 30
agrupamentos linguísticos. A maior parte das línguas são de origem bantu (24), mas também
se fala, para além do Português, línguas européias (Inglês, Francês, Espanhol, Italiano,
Russo,Alemão), outras línguas africanas (Árabe, Sutho) e línguas asiáticas (Hindi, Gujurati e
Chinês). O Português é falado, como língua materna, por 6% da população, enquanto as
línguas bantu são faladas por 93% da população que reside das zonas urbanas, 55% conhece o
Português, contra 45% nas zonas rurais. Dos falantes do Português, 61% são homens (a maior
parte). As línguas bantu são as que são faladas com mais frequência [90%] relativamente ao
Português.

A matriz cultural do povo moçambicano é diversificada. A cultura moçambicana foi sempre


marcada pela miscigenação cultural que advém das migrações bantu e do contato que estes
vão ter com outras civilizações, sobretudo a árabe e a asiática. A colonização portuguesa
(iniciada em 1498) vai trazer influências européias que vão ser acrescidas pelas culturas de
comunidades imigrantes da Índia e da China que se vão fixar em vários pontos de
Moçambique. Após a Independência, os moçambicanos vão também adquirir valores
culturais, éticos e morais que nos vão ser transmitidos pela política socialista e pelo contato
com “cooperantes” russos, cubanos, búlgaros, norte-coreanos, chineses, alemães [RDA].

Os valores éticos e morais do Socialismo encontravam-se enunciados em princípios do


comportamento revolucionário como, por exemplo, a pontualidade; a disciplina e obediência,
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o asseio e limpeza; o espírito coletivo e de organização, de iniciativa, de sacrifício e de


economia; o respeito mútuo, pelo trabalho manual, o respeito pelos símbolos nacionais e pelos
responsáveis; a vigilância revolucionária e a prática constante da crítica e autocrítica.

Com a queda do socialismo, Moçambique adere às reformas do FMI e do Banco Mundial e


passa a defender valores morais completamente contrários ao Socialismo como a supremacia
do setor financeiro, a privatização, a desregulamentação do setor financeiro, a
desnacionalização das riquezas naturais, integração nos mercados internacionais.

4. Hibridização(fusão ou união) cultural e educação


O ensino em situação de multilinguismo e de multiculturalismo como é o caso de
Moçambique convive com várias tensões e enfrenta muitos desafios, sendo de destacar o
processo de hibridização cultural, a tensão entre a homogeneização e a diversidade cultural e a
tensão entre saberes locais e saberes universais. A política educacional e a cultural esforçam-
se em proteger e valorizar a diversidade cultural hoje em dia vários educadores
moçambicanos defendem uma educação “diferenciada” na qual a escola deveria ter o
compromisso ético e político de preservar e reafirmar valores, crenças, costumes e formas de
organização cultural, social, política e religiosa (considerados saberes locais), sem prejudicar
o acesso e a apropriação dos saberes e conhecimentos universais.

Hoje rejeita-se a tese do “choque de civilizações” e defende-se que a diversidade cultural é


um património tão importante para a humanidade tal como a biodiversidade e que a
interculturalidade e o respeito pelas diferenças são as melhores formas de garantir a paz e o
desenvolvimento. Os educadores moçambicanos enfrentam o desafio de pensar em
concepções e modelos educacionais que tenham em conta a questão da diversidade e do
multiculturalismo na educação que se propõem a encontrar formas de convivência na escola
entre indivíduos de várias culturas. As propostas de educação multicultural sugerem que a
escola deve saber respeitar e considerar as diferenças étnico-culturais, que devem ser
promovidas relações fundadas no diálogo, na democracia, no respeito ao outro. A educação
multicultural traz à discussão também a questão da interculturalidade que pode significar
apenas o respeito do “outro”, ou então podemos entender interculturalidade como sendo a
mistura, a mestiçagem das culturas. Para além do multiculturalismo e da interculturalidade, os
educadores moçambicanos devem também colocar nas suas agendas as questões da
transculturalidade que tem a ver com os elementos universais que estão presentes nas várias
culturas. A transculturalidade deve ser seriamente tomada em consideração, pois a cultura
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urbana moçambicana caracteriza-se por ser culturalmente híbrida, possuindo elementos


culturais que se foram fixando sócio e historicamente durante séculos cujas matrizes culturais
básicas são a bantu e a portuguesa.

Estudos efetuados por Dias (2002) mostram que a “hibridação cultural” surgiu como uma
forma muito particular de identidade cultural dos moçambicanos bilingues, falantes da língua
portuguesa e língua bantu ou de monolingues em Português com a aprendizagem do
Português durante a colonização. Julga se que o falante de língua portuguesa quer seja
monolingue ou bilingue já não possui uma identidade cultural “genuína” e “autenticamente”
africana como os seus ascendentes e antepassados que só falavam a língua bantu. A
aprendizagem da língua portuguesa promove o surgimento de um processo de aculturação que
integra características culturais do mundo ocidental. Julga se que o bilinguismo em vez de
criar um biculturalismo, produz uma hibridação cultural, Quer dizer que os falantes não
adicionaram a cultura portuguesa à cultura bantu, eles misturaram as duas culturas e criaram
uma nova cultura que não é tipicamente portuguesa e que também não é genuinamente bantu.
Ela é “híbrida”, pois junta de forma muito particular as duas línguas e culturas. É a tal
hibridação cultural que caracteriza a cultura urbana moçambicana.

Um dos autores que mais se debruçou sobre a questão da hibridação cultural foi Stuart Hall
(2006), Este autor afirma que as identidades culturais estão em declínio, “fazendo surgir
novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito
unificado”(HALL, 2006, p. 7). Um novo tipo de identidade está surgindo, modificando as
“paisagens culturais de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade” (HALL,
2006, p. 9). Tais modificações estão a mudar as identidades pessoais e provocando a perda de
um sentido de si estável que é chamada , algumas vezes, de deslocamento ou descentração do
sujeito. É esse deslocamento que constitui uma “crise de identidade” para o indivíduo.

O mesmo autor afirma que as culturas híbridas constituem um novo tipo de identidade
produzido na “modernidade tardia” , as pessoas pertencentes a essas culturas renunciam à
ambição de redescobrir qualquer tipo de pureza cultural perdida ou de absolutismo étnico,
eles devem aprender a habitar, no mínimo, duas identidades e a negociar entre elas”. (HALL,
2006, p. 89). A cultura urbana moçambicana encontra-se ao mesmo tempo fora e dentro da
cultura ocidental e da cultura autenticamente africana. A questão da hibridação cultural
preocupa a muitos intelectuais moçambicanos visto que é necessário pensar num currículo
que tenha em consideração a cultura africana local e que integre também a cultura universal.
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Tal preocupação já se encontra refletida no atual currículo do Ensino Básico em que se


incluem e se mesclam discursos pedagógicos, políticas educacionais e linguísticas várias.

A grande vitória da nova visão educacional e cultural é que aparentemente a sociedade


moçambicana enfrenta a questão das diferenças culturais com menos tabus e subterfúgios. Já
se discute com maior abertura as assimetrias regionais, as desigualdades de oportunidades de
sexos (questões de gênero) e de classes sociais, a estigmatização de algumas práticas culturais
(como os ritos de iniciação, a prática da medicina tradicional, a crença no sobrenatural, etc), a
incorporação do saber local e do conhecimento popular, do senso comum na escola.

Diferentes classes sociais podem exibir traços culturais distintos dependentes da sua situação
sócio-económica. A origem regional, étnica e racial, muitas vezes, pode estar associada à
condição de classe social, Por exemplo, os indivíduos analfabetos do meio rural possuem uma
cultura africana mais ancestral e são mais pobres do que os alfabetizados do meio urbano que
possuem valores culturais de carácter mais universal.

5. Relacao entre cultura e educacao na sociedade mocambicana


A cultura é tudo o que o homem adiciona à natureza. Tudo o que o homem faz na vida e que
lhe não é inato ao nascimento pode ser considerado como acção de cultura. Cultura é
construção. Assim, dentro de uma mesma sociedade, distintos grupos (classes sociais,
associações profissionais, etc.) podem dar significados diferentes para um mesmo
acontecimento ou dado. Portanto, desenvolvem atitudes distintas de visão e reacção. A
organização de significados e métodos de um grupo social é o que chamamos de cultura.

A cultura é o alimento da educação. A Educação é transmissora da cultura. A escola é um


espaço de trocas culturais, é um lugar de propagação e interacção da cultura e do
conhecimento. A educação não é apenas transmissão de informações, mas ampliação da
capacidade de relacionar os conteúdos e construção de interpretações pessoais.

Educação é o conjunto das ações, processos, influências, estruturas, que intervêm no


desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação ativa como o meio natural e
social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais. É uma prática
social que atua na configuração da existência humana individual e grupal, para realizar nos
sujeitos humanos as características de "ser humano".

Existe uma intrínseca relação entre cultura e educação, visto que a própria educação é
considerada como sendo parte da cultura. A cultura pode ser entendida como fruto da
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inventividade humana, só existe cultura porque existe o homem, e a educação está incluída
neste meio. Pois é sabido que desde os primeiros homens houve a necessidade de repassar os
costumes aos mais jovens, bem como o modo de caça, preparar determinado objecto, a
maneira de ser, etc.

Um povo que perde a sua cultura perde sua alma, fica sem identidade. Hoje, os meios de
comunicação estão entre os principais transmissores da cultura de um país. Lógico que, como
pano de fundo está todo um conjunto cultural, oferecendo uma maneira diferente de se viver,
em resumo, um padrão cultural diferente. O termo cultura tem sido tratado, muitas vezes,
como o campo de saberes peculiares e de base científica. Classificando cultura como tudo que
o homem faz, vamos encontrar incluída a maneira de falar (língua), a maneira de vestir, de
morar, de comer, de trabalhar, de rezar, de se comunicar, de se interagir, etc.

Com as transformações ocorridas na transição do século XIX para o século XX, com a
sociedade industrializada os estudos voltados para compreender os diferentes modos de vida e
a cultura de cada povo teve maior aprofundamento. Para VALENTE, (1999,p.16)a relação
entre cultura e educação está relacionada da seguinte forma: o processo de criação e
transmissão contínuas do conhecimento conforme aquilo que chamamos de processo cultural.
Tal processo é inseparável da condição social do homem, é histórico Porque se transforma ao
longo do tempo, e por ser comum a todos, é considerado universal Porque implica o
conhecimento e o aprendizado, é um processo educacional.” Cultura não é algo definido,
acabado, deve sim ser compreendida como algo que se constrói coletivamente e que esta em
constante transformação, sendo um processo que atinge todas as sociedades, portanto é
considerado universal. Podemos ver claramente que a educacao (conhecimento) de um de
nada servia para o outro devido o seu contexto de vida.
Assim como afirma Forquin (1993,p.144) que “[...] é necessário que o que se ensina vala à
pena”, é necessário que os elementos devam estar articulados com o que se considera
significativo para uma dada realidade e um dado sujeito. Da mesma forma os conceitos
culturais e suas manifestações devem estar bem articuladas para melhor se relacionar entre
escola e alunos. O interculturalismo propõe que a escola não pode ser entendida, dissociada,
separada da sociedade em que ela está inserida.

Quando se pensa na relação entre cultura e educação que se estabelece dentro da escola,
existem, aspectos essenciais que requerem reflexão. O primeiro, e importante ponto de
partida, refere-se à relação da escola com a cultura do lugar onde ela está situada. Se
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partirmos do principio de que o lugar é um espaço vivo, carregado de memórias e


significações, a abertura à comunidade é fundamental e permite que alunos e suas famílias se
enxergem em seu território, nutram o sentimento de pertencimento, de enraizamento e se
sintam reconhecidos no conhecimento que a escola produz e transmite a seus estudantes. Isso
independe de datas comemorativas. A educacao consiste sim em uma ampliação do sentido
cultural, sem reduzi-lo a "folclorização" de manifestações presentes no dia-a-dia das
comunidades. É fundamental que a escola (um equipamento de enorme impacto na vida das
crianças e dos jovens) construa uma ponte entre o conhecimento estabelecido, o patrimônio
cultural da humanidade, e aquele conhecimento cultural que está ali presente, circulando na
localidade. Espera-se que a escola consiga articular esse patrimônio com a cultura das pessoas
que vivem no seu entorno e que a freqüentam a medida que também propicia a relação entre
os saberes do passado e do presente do território onde se situa, e todo um conhecimento
globalizado que está circulando na nossa sociedade contemporânea, a escola permite que os
alunos e suas famílias não só nutram o pertencimento temporal a este momento histórico,
como reconheçam o seu papel como sujeitos históricos naquele lugar.

Um segundo ponto a ser considerado na relação educação e cultura é o currículo escolar, isto
é, a seleção dos saberes que os educadores transmitirão. A escola tem o poder e a legitimidade
para selecionar os saberes que serão passados às crianças e aos adolescentes e pode dar voz ou
não a determinados personagens.

Forquin (1993, p. 12) nos diz que se referindo à educação, cultura significa “um patrimônio
de conhecimentos e de competências, de instituições, de valores e de símbolos, constituído ao
longo de gerações e característico de uma comunidade humana particular, definida de modo
mais ou menos amplo e mais ou menos exclusivo”. O autor ainda ressalta que na educação
escolar sempre há uma seletividade no “interior da cultura” e reformulação para, assim, ser
transmitida na forma de conteúdo escolar.

A relação existente entre educação e cultura é que proporciona a realização da Uni cultural,
que objectiva fomentar a inserção das mais diversificadas culturas dentro do contexto
académico científico, para que, com isso, seja possível disseminar nos académicos, os
diversos meios de percepção sobre a multiculturalidade que vive a sociedade nos tempos
atuais. Uni cultural é um evento anual promovido pela Faculdade de Bolsas desde o ano de
2008. O evento busca valorizar a cultura local e regional com apresentações teatrais, música,
dança, literatura, exposições, etc. vinculadas à temática que é escolhida a cada ano.
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6. O etnocentrismo e relativismo cultural na escola


Na medida que o homem e consequentemente as sociedades primitivas evoluíam a
necessidade de passar à geração mais nova os conhecimentos construídos socialmente e
historicamente acumulados aumentava. E a escola surge como difusora da cultura dominante
do conhecimento, na mesma medida em que passa a difundir as ideias de uma cultura
etnocêntrica. Na visão tradicional o que há é uma cultura homogeneizadora, com concepção
de cultura ideal, cheia de estereótipos, portanto, etnocêntrica.

O etnocentrismo é compreendido como o ato em que uma cultura é posta como o centro, em
determinado grupo ou mesmo sociedade, passado a servir de padrão para julgar todas as
demais formas de cultura, em geral de modo depreciativo a cultura dos demais, Isto é, seus
modos de ser, seus costumes, valores são vistos como inferiores, Como exemplo temos os
antigos romanos, que consideravam os demais povos como bárbaros, pois não tinham os
mesmos costumes que eles, a cultura helenista. Também tomamos como exemplo os europeus
que se consideravam civilizados, cultos, mais inteligentes que os nativos da nova terra recém
descoberta. Da mesma forma que todos os países europeus que fixaram colônias na África.

Citamos esses exemplos históricos, mas na atualidade o etnocentrismo está bem vivo e
presente, quando alguém ver, por exemplo, um documentário em que mostra os vietnamitas
comendo carne de cachorro (considerada uma iguaria no Vietnã), ou o fato de na Índia
considerarem um rio sagrado (rio Ganges), alguns podem julgar uma e outra como atitudes
impróprias, primitivas, pois esse juízo é pautado na comparação de uma cultura com a sua
própria: a cultura do eu (a melhor) comparada com a cultura do outro (inferior).Em uma
sociedade como a nossa está repleta de pensamentos etnocêntricos, pois existe uma cultura
dominante, a qual é amplamente difundida e sobreposta à outras formas de cultura. E a escola
é a agencia de perpetuação dessa forma de cultura, a dominante.

O relativismo cultural é a compreensão da cultura do outro em sua própria singularidade,


merecendo respeito e aceitação mesmo sendo divergente do modelo dominante. É o contrário
do que representa o etnocentrismo, visto que analisa e compreende as diversas culturas em
seus próprios âmbitos, em seus próprios contextos socio-históricos. A partir do memento que
se entende que cada cultura é singular, que não se deve compará-las entre si, é o começo para
superar o pensamento etnocêntrico.
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7. Conclusao
Tendo feito o trabalho notamos que existem varias caracteristicas da cultura, vimos a cultura é
aprendida não herdada, é simbolica entre outras caracteristicas presentes na segunda parte do
trabalho. Tambem vimos a questao da diversidade cultural em mocambique, ela preocupa os
educadores moçambicanos visto que na mesma sala temos alunos de gêneros diferentes que
pertencem a grupos linguísticos, étnicos e religiosos diferentes, com concepções, saberes,
temporalidades e espacialidades diferenciadas. A diversidade obriga-nos a refletir sobre
formas didáticas diferenciadas porque nem todos os alunos conseguem se adaptar aos padrões
didáticos monoculturais e hegemônicos. Conseguimos tambem perceber oque é a hibridizacao
cultural que neste trabalho usamos para referir ao surgimento de novas culturas e novas
identidades que são a mistura de outras culturas. E temos a relacao da cultura, educacao e
sociedade em mocambique onde conseguimos notar que a sociedade a educacao e a cultura
são inseparáveis, elas são a forma de viver do ser humano. A escola tem o poder e a
legitimidade para selecionar os saberes que serão passados às crianças e aos adolescentes e
pode dar voz ou não a determinados personagens. Por ultimo vimos a cerca do etnocentrismo
que é colocar a sua cultura como superior e a do outro inferior, e o relativismo cultural que é a
compreencao da cultura do outro na sua singularidade, e respeita-la.
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8. Referências
 CANDAU, Vera Maria. Interculturalidade e educação escolar. Disponível
em:http://www.dhnet.org.br>. Acesso em: jul. 2006
 DUSSEL, Inês. “O currículo híbrido: domesticação ou pluralização das diferenças?”.
In: LOPES
 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. 11ª Ed. Rio de Janeiro:
DP&a, 2006.
 INE/ NELIMO. Situação linguística de Moçambique. Dados do II Recenseamento
Geral da População e Habitação de 1997. FIRMINO, Gregório (org.). Maputo, INE,
2000.
 MINED (Ministério da Educação). Sistema Nacional de Educação. Maputo: MINED,
1985.
 MINED (Ministério da Educação). Plano curricular do Ensino Básico (PCEB).
Maputo:MINED, 1999.
 TAKAHASHI, Tadao. Diversidade cultural e direito à comunição. Disponível
em:<http://www.campus-oei.org>. Acesso em: jul. 2006
 Geografia social e cultural-Schier, Raul Alfredo.
 BRANDÃO, Carlos R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 1986.

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