Você está na página 1de 13

UNIVERSIDADE CATOLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE GESTÃO DE RECURSOS NATURAIS E MINERALOGIA

GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

De:

Joselina Madeira Barratt

Jusceline Adelino Jose Chiwewa

Lígia Inácio João cossa chamboco

Mariano Domingos Mafalanjala

Nelia Moiss Nadava

A DIVERSIDADE LINGUÍSTICA EM MOÇAMBIQUE: A ESCOLHA DA LÍNGUA


PORTUGUESA COMO OFICIAL E SUAS IMPLICAÇÕES NA IDENTIDADE
CULTURAL E EDUCACIONAL

Trabalho em grupo da cadeira de Tecnicas de expressão e comunicação, 1º ano, 2º semestre


orientado pela Docente Palvina Manuel Nhambi.

UCM

Tete, Setembro de 2023


Índice

1. Introdução...........................................................................................................................3

1.1. Objectivos....................................................................................................................4

1.1.1. Objetivo Geral......................................................................................................4

1.1.2. Objetivos Específicos...........................................................................................4

1.2. Metodologia.................................................................................................................4

2. A Diversidade Linguística em Moçambique: A Escolha da Língua Portuguesa como


Oficial e Suas Implicações na Identidade Cultural e Educacional............................................5

2.1. A Diversidade Linguística em Moçambique...............................................................5

2.2. Contextualização histórica, político-ideológica e sociolinguística de Moçambique...5

2.3. Razões que favoreceram a escolha da língua Portuguesa como oficial em


Moçambique...........................................................................................................................6

2.4. As influências das línguas locais na língua oficial......................................................8

2.5. Os prós e contras do uso das línguas locais nas escolas moçambicanas.....................8

2.5.1. Prós do Uso das Línguas Locais..........................................................................9

2.5.2. Contras do Uso das Línguas Locais.....................................................................9

2.6. A língua como identidade de um povo......................................................................10

2.6.1. Discussão e debate..............................................................................................11

3. Conclusão.........................................................................................................................12

4. Bibliografia.......................................................................................................................13
1. Introdução

Moçambique é um país caracterizado por uma rica diversidade linguística, com mais de 20
línguas diferentes faladas em todo o território. Essa diversidade linguística é um reflexo da
pluralidade étnica e cultural do país, que abriga uma variedade de grupos étnicos e
comunidades. Neste contexto, o uso da língua portuguesa como língua oficial de
Moçambique é uma questão relevante e complexa. Este trabalho se propõe a explorar os
aspectos que envolvem a escolha da língua portuguesa como língua oficial, as influências das
línguas locais, os prós e contras do uso dessas línguas nas escolas moçambicanas e o papel da
língua como identidade cultural.

A diversidade linguística de Moçambique é um verdadeiro tesouro cultural, refletindo a


riqueza das tradições e histórias de diferentes grupos étnicos que habitam o país. Com mais
de 20 línguas distintas, Moçambique é um mosaico linguístico que ecoa a pluralidade étnica e
cultural que o caracteriza.

No entanto, a escolha da língua portuguesa como língua oficial de Moçambique é um tema


que transcende fronteiras linguísticas e culturais. Ela está enraizada em um contexto histórico
que inclui o período colonial e a luta pela independência. Compreender os motivos
subjacentes a essa escolha, bem como suas implicações na educação, identidade cultural e
coesão nacional, é fundamental para uma análise aprofundada da sociedade moçambicana.

Iremos investigar as razões históricas e políticas que favoreceram a escolha do português


como língua oficial, examinar as influências das línguas locais no desenvolvimento da língua
oficial, explorar os benefícios e desafios do uso das línguas locais no sistema educacional e
refletir sobre como a língua desempenha um papel crucial na construção da identidade
cultural de um povo. Este estudo busca lançar luz sobre questões complexas e importantes
que envolvem a linguagem e a cultura em Moçambique, contribuindo para uma compreensão
mais profunda da sociedade moçambicana e de seu contexto linguístico.

3
1.1. Objectivos

1.1.1. Objetivo Geral

 O objetivo geral deste trabalho é analisar o papel da língua portuguesa como língua
oficial em Moçambique e suas relações com as línguas locais, considerando as
implicações sociais, culturais e educacionais dessa escolha linguística.

1.1.2. Objetivos Específicos

 Investigar as razões que favoreceram a escolha da língua portuguesa como língua


oficial em Moçambique.
 Analisar as influências das línguas locais na língua oficial e a interação entre elas.
 Avaliar os prós e contras do uso das línguas locais nas escolas moçambicanas.
 Examinar a língua como um elemento importante na construção da identidade cultural
moçambicana.

1.2. Metodologia

A metodologia do presente trabalho é uma metodologia bibliográfica, pois a pesquisa


bibliografia é uma importante metodologia no âmbito da educação, a partir de conhecimentos
já estudados, o pesquisador busca analisá-los para responder seu problema do objeto de
estudar ou comprovar suas hipóteses, adquirindo novos conhecimentos sobre o assunto
pesquisado.

4
2. A Diversidade Linguística em Moçambique: A Escolha da Língua Portuguesa
como Oficial e Suas Implicações na Identidade Cultural e Educacional

2.1. A Diversidade Linguística em Moçambique

A diversidade linguística em Moçambique é um fenômeno notável que reflete a riqueza


cultural e étnica do país. Como afirmou Luis de Brito em seu estudo "A Diversidade
Linguística em Moçambique" (2006), "Moçambique é uma nação multilíngue por excelência,
com mais de 20 línguas reconhecidas e uma miríade de dialetos e variações linguísticas." Isso
evidencia a complexidade linguística que caracteriza o cenário sociolinguístico
moçambicano.

Esta diversidade étnica e linguística é resultado da convivência de diferentes grupos étnicos,


cada um com sua língua e tradições culturais únicas. A língua étnica ou materna desempenha
um papel crucial na identidade cultural de cada grupo, proporcionando uma conexão
profunda com as raízes culturais e étnicas.

No entanto, a diversidade linguística também é um desafio em termos de unificação e


comunicação em todo o país. Isso levou à escolha da língua portuguesa como língua oficial
de Moçambique, um legado do período colonial. O português se tornou um fator de unidade
nacional e uma ferramenta de comunicação entre grupos étnicos diversos.

Assim, a diversidade linguística em Moçambique é um testemunho da riqueza cultural do


país, mas também levanta questões sobre a coexistência de línguas étnicas e a escolha de uma
língua oficial para fins de administração e educação. A compreensão dessa diversidade é
fundamental para a construção de uma sociedade inclusiva e respeitosa de suas raízes
culturais e identidades linguísticas.

2.2. Contextualização histórica, político-ideológica e sociolinguística de


Moçambique

O atual território de Moçambique resulta do processo de ocupação efectiva exercida por


Portugal, com o “auxílio” de algumas potências europeias e das companhias majestáticas que
as delegou poderes para tal, em conformidade com as deliberações saídas da Conferência de
Berlim (1884-1885), na qual as potên- cias coloniais europeias dividiram entre si o continente
africano e, por consequência, os destinos dos seus povos. É neste sentido que, para
compreendermos as políticas linguísticas de Moçambique, afigura-se essencial uma incursão
na sua história e na ideologia por detrás da sua libertação e da construção do Estado-Nação.

5
Ocupado por quase 500 anos por Portugal, aquando da chegada dos primeiros navegadores
liderados por Vasco da Gama, em 1498, e formalmente colonizado, de forma efetiva, a partir
de 1930, depois de sucessivas lutas de resistência protagonizadas por moçambicanos ao longo
do processo histórico de negação à dominação imperialista, o país sucumbiu às políticas
segregacionistas do colonizador o objetivo de dividir para reinar e garantir a manutenção e
reprodução da dominação.

É neste contexto que, em conformidade com a necessidade de uma presença mais efetiva,
Portugal, para além de consolidar os esforços militares para garantir a ocupação e domínio
territorial de Moçambique, investiu fortemente na presença da sua máquina administrativa.
Com isso, estabeleceu novas fronteiras físicas, jurídicas e simbólicas, destruíndo as
anteriormente existentes, com destaque para as simbólicas de matriz étnico-tribal e
sociocultural pré-existentes à ocupação e implementou políticas separatistas que
hierarquizaram as pessoas de acordo com a cor da sua pele e utilidade nos esforços de
colonização.

Estes fatos permitem-nos perceber que o ensino e aprendizagem da língua portuguesa


constituía, também, um meio ideológico de dividir para reinar, sucedendo ao que Bourdieu
(2007, p. 10) chama de produções simbólicas como instrumento de dominação para a
legitimação dessas distinções cujo objetivo é a “integração fictícia da sociedade no seu
conjunto, portanto, à desmobilização (falsa consciência) das classes dominadas; para a
legitimação da ordem estabele- cida por meio do estabelecimento das distinções”, razão pela
qual o autor defende que (op. cit., p. 11), “a cultura que une (intermediário de comunicação) é
também a cultura que separa (instrumento de distinção)”, tendo em conta que, ao legitima-
rem-se as distinções, consagra-se o marco hierárquico entre a cultura dominante e a cultura
dominada e, com isso, perpetuam-se as correlações de força deixando-se crer que existem
culturas e línguas mais importantes que outras.

2.3. Razões que favoreceram a escolha da língua Portuguesa como oficial em


Moçambique

A escolha da língua portuguesa como língua oficial em Moçambique está relacionada a uma
série de fatores históricos, políticos e práticos. Durante o período colonial, Moçambique foi
uma colônia de Portugal, o que resultou na disseminação da língua portuguesa como língua
de instrução e administração. Após a independência em 1975, o português permaneceu como

6
língua oficial devido à necessidade de unificação nacional e comunicação entre grupos
étnicos diversos.

Essa imposição linguística colonial teve profundas implicações na sociedade moçambicana.


Como destacado por Samora Machel, o primeiro presidente de Moçambique independente,
em seu discurso de independência em 1975, a herança colonial deixou uma marca indelével
na língua, cultura e identidade moçambicanas. Machel afirmou: "O colonialismo trouxe-nos o
português e com ele a destruição de nossas línguas e culturas tradicionais."

No entanto, após a independência de Moçambique em 1975, o português permaneceu como


língua oficial do país. Essa escolha linguística não foi apenas uma questão de continuidade,
mas também uma decisão pragmática. Moçambique é uma nação diversificada, com uma
miríade de grupos étnicos e línguas locais. A manutenção do português como língua oficial
foi vista como um meio de unificar o país após décadas de divisão colonial, bem como um
meio de comunicação eficaz entre grupos étnicos diversos.

A língua portuguesa também desempenhou um papel importante na inserção de Moçambique


na comunidade internacional.

Como observado por Antunes em seu estudo "A Política Linguística em Moçambique"
(2003), o uso do português permitiu ao país participar ativamente em fóruns internacionais e
estabelecer relações diplomáticas com nações ao redor do mundo. A manutenção do
português como língua oficial ajudou a abrir portas para o comércio, colaboração política e
desenvolvimento econômico.

No entanto, essa escolha linguística também trouxe desafios. A coexistência do português


com as línguas locais levou a uma complexa dinâmica sociolinguística. Muitas comunidades
continuaram a valorizar suas línguas étnicas como parte integral de sua identidade cultural.
Isso levantou questões sobre o equilíbrio entre a promoção do português como língua oficial
e o respeito pela diversidade linguística do país.

A escolha da língua portuguesa como língua oficial em Moçambique é resultado de uma


interação complexa de fatores históricos, políticos e práticos. Ela reflete a necessidade de
unificação nacional, comunicação eficaz e inserção internacional, mas também levanta
questões sobre a preservação das línguas locais e a identidade cultural moçambicana. A
compreensão dessa escolha linguística é fundamental para uma análise mais profunda da
sociedade moçambicana e das questões relacionadas à linguagem e cultura.

7
2.4. As influências das línguas locais na língua oficial

As línguas locais em Moçambique desempenham um papel significativo na influência e


enriquecimento da língua portuguesa. Muitas palavras, expressões e elementos culturais
foram incorporados ao português moçambicano, tornando-o distinto do português falado em
Portugal. Essa influência mútua entre o português e as línguas locais é uma demonstração da
riqueza linguística e cultural do país.

Como observado por Mia Couto, renomado escritor moçambicano, em seu livro "Terra
Sonâmbula" (1992), a língua é um espaço de encontro e fusão de diferentes culturas e
experiências.

No contexto de Moçambique, essa fusão ocorre de maneira especialmente vívida, à medida


que as línguas locais contribuem para a ampliação do léxico e a criação de expressões únicas
no português moçambicano.

Um exemplo notável dessa influência linguística é a incorporação de termos e conceitos das


línguas locais nas conversações cotidianas e na literatura moçambicana. Palavras de línguas
como o Changana, o Ronga, o Macua e o Shona têm encontrado seu caminho para o léxico
do português moçambicano, enriquecendo-o com nuances e significados que são específicos
da cultura moçambicana.

Além disso, as línguas locais também influenciam a pronúncia, a entonação e a gramática do


português moçambicano. Essa fusão de elementos linguísticos resulta em uma variedade
única da língua portuguesa que é facilmente identificável como pertencente a Moçambique.

É importante destacar que essa influência mútua não é um processo unidirecional. Assim
como as línguas locais enriquecem o português, o português também exerce influência sobre
as línguas locais, criando uma simbiose linguística que reflete a dinâmica cultural e social de
Moçambique.

2.5. Os prós e contras do uso das línguas locais nas escolas moçambicanas

O debate sobre o uso das línguas locais nas escolas moçambicanas é complexo. Alguns
argumentam que o ensino nas línguas maternas promoveria um melhor entendimento e
retenção de conhecimento, especialmente nas primeiras etapas da educação. No entanto,
também existem preocupações sobre a fragmentação do sistema educacional, a dificuldade de

8
padronização e a necessidade de preparar os estudantes para um mundo globalizado, onde o
português é amplamente utilizado.

O debate em torno do uso das línguas locais nas escolas moçambicanas envolve uma série de
argumentos a favor e contra, cada um com suas implicações e desafios. A decisão sobre o
idioma de instrução é crucial para o sistema educacional e o desenvolvimento das futuras
gerações em Moçambique.

2.5.1. Prós do Uso das Línguas Locais

 Facilitação do Aprendizado Inicial: O ensino nas línguas maternas pode facilitar o


processo de aprendizado nas primeiras etapas da educação. Crianças tendem a
compreender e reter informações com mais facilidade quando são instruídas em sua
língua materna, o que contribui para uma base sólida no desenvolvimento acadêmico.
 Preservação Cultural: Utilizar línguas locais no sistema educacional ajuda a
preservar e valorizar a diversidade cultural de Moçambique. Isso promove o respeito
pelas tradições e identidades étnicas das diferentes comunidades do país.
 Compreensão Mais Profunda: O uso das línguas locais pode permitir uma
compreensão mais profunda dos conceitos e da cultura local. Isso pode levar a uma
educação mais contextualizada e relevante para a vida dos estudantes.

2.5.2. Contras do Uso das Línguas Locais

 Fragmentação do Sistema Educacional: Moçambique é caracterizado por uma


grande variedade de línguas locais. O ensino em várias línguas diferentes pode
fragmentar o sistema educacional, tornando-o mais difícil de gerenciar e padronizar.
 Preparação para um Mundo Globalizado: O português é amplamente utilizado
como língua de comunicação internacional. Preparar os estudantes para um mundo
globalizado pode exigir que eles dominem o português desde cedo, o que pode ser
prejudicado pelo ensino inicial em línguas locais.
 Recursos Limitados: A implementação do ensino em várias línguas locais exigiria
recursos significativos em termos de material didático, treinamento de professores e
infraestrutura educacional. Isso pode ser um desafio em um contexto de recursos
limitados.

O debate sobre o uso das línguas locais nas escolas moçambicanas continua a evoluir à
medida que o país busca encontrar um equilíbrio entre a promoção da diversidade cultural, a

9
eficácia do ensino e a preparação para um mundo globalizado. A decisão final deve
considerar cuidadosamente os prós e contras, bem como o contexto específico de cada região
de Moçambique.

2.6. A língua como identidade de um povo

No mundo moderno, o conceito de identidade é algo muito discutido. Esse debate acontece
pelo fato de a identidade estar imersa num processo muito complexo, onde as diversas
culturas encontram-se imbricadas e, por esse motivo, dão origem ao desafio de compreensão
entre o que pertence numa determinada cultura ou o que pertence a outra. Assim, outro
conceito que entra em cena é o de diferença, isto porque ao assumir determinada identidade,
acontece o processo de exclusão de uma outra, o que nos permite dizer que somos diferentes
desse ou daquele outro.

Silva (2000) defende que a identidade é exatamente o ponto que nos diferencia, o ponto em
que se origina as diferenças. Para Hall (p. 44) “as identidades, concebidas como estabelecidas
e estáveis, estão naufragando nos rochedos de uma diferenciação que prolifera”.

Portanto, pensar em cultura, é pensar em significações, multiplicidade, pluralidade, não há


como defini-la distante do seu potencial de fluidez. Embora, isso seja algo notório, os
processos de colonização, enquanto movimento de busca pelo poder, o desconsidera
completamente, o que permite o desconsiderar de todos os aspectos que constroem a
identidade do outro, o colonizado. Assim, dos aspectos culturais que entram no jogo de
demarcação de poder é a língua. Nesse sentido, ao provocar o processo de apagamento de
toda uma identidade, cultura e costumes Moçambicanos, a língua enquanto algo
extremamente demarcador da identidade, sofreu um vasto processo de desvalorização ao ser
forçosamente substituída pela língua do colonizador.

A língua desempenha um papel crucial na formação da identidade cultural de um povo. Em


Moçambique, as línguas locais são um elemento essencial da identidade étnica e regional.
Preservar e valorizar essas línguas é fundamental para manter a diversidade cultural e
promover o respeito pela herança cultural das diferentes comunidades.

A língua é, de acordo com Timbane e Santos (2020, p.307) “um bem imaterial que funciona
para os membros de uma determinada comunidade como fator determinante na construção da
identidade individual e coletiva, que intuitivamente os identifica e os localiza dentro do grupo
de pertencimento”. Desse modo, o estudo da obra de Mia Couto pode permitir a compreensão

10
da dimensão socio-histórica moçambicana, no sentido de que ela se perfaz na apropriação da
língua portuguesa de maneira a tornar possível nela a expressão da cultura desse povo,
tecendo-se assim como um elemento de afirmação da identidade moçambicana.

Em Moçambique, as línguas locais são um elemento intrínseco da identidade étnica de cada


grupo. Cada língua reflete a história, as tradições e a cosmovisão de uma comunidade
específica. Por exemplo, o Changana, falado na região sul, ou o Macua, na região norte, são
línguas que carregam consigo as experiências e narrativas culturais de seus falantes. Elas são
uma parte inseparável da herança cultural dessas comunidades.

2.6.1. Discussão e debate

As línguas locais também são fundamentais para a identidade regional em Moçambique.


Cada província ou região muitas vezes tem suas próprias línguas ou dialetos distintos, que
são usados como marcadores culturais e identitários. Isso contribui para a riqueza da
diversidade regional do país.

Preservar e valorizar essas línguas locais é essencial para manter a diversidade cultural
moçambicana. A perda de uma língua é frequentemente acompanhada da perda de tradições,
histórias e conhecimentos que são transmitidos oralmente de geração em geração. A
preservação das línguas é, portanto, uma maneira vital de manter vivas as tradições culturais
e garantir que as futuras gerações tenham acesso à riqueza do patrimônio cultural do país.

Bagno (2011) defende que a língua é o resultado de um processo histórico e cultural. Assim, a
língua expressa pelos falantes através de sua oralidade/escrita condensa as experiências e os
contextos pelos quais ele passou, são esses processos que dão origem a sua forma de falar que
também é fluída e vai se alterando ao longo dos tempos.

Além disso, a promoção das línguas locais contribui para o respeito e a valorização das
diferentes identidades étnicas em Moçambique. Isso pode ser um elemento-chave na
construção de uma sociedade inclusiva e harmoniosa, onde a diversidade é celebrada e
respeitada.

No entanto, é importante encontrar um equilíbrio entre a promoção das línguas locais e a


necessidade de comunicação e coesão nacional. O uso do português como língua oficial
permite a unificação e a comunicação em todo o país, mas é igualmente importante garantir
que as línguas locais não sejam marginalizadas ou negligenciadas.

11
3. Conclusão

A diversidade linguística em Moçambique é um reflexo vívido da pluralidade étnica, cultural


e geográfica que caracteriza o país. Com mais de 20 línguas diferentes e uma miríade de
dialetos, Moçambique é um mosaico linguístico que ecoa a riqueza de sua herança cultural e
étnica. Neste contexto, a escolha da língua portuguesa como língua oficial é um tema
complexo e multifacetado que levanta questões profundas sobre identidade, unificação
nacional, educação e inclusão cultural.

A língua portuguesa, uma herança do período colonial, desempenha um papel central na


unificação nacional e na comunicação entre grupos étnicos diversos. No entanto, essa escolha
também trouxe consigo desafios, incluindo a necessidade de equilibrar a promoção das
línguas locais com a necessidade de preparar os estudantes para um mundo globalizado.

As línguas locais, por sua vez, são um componente essencial da identidade étnica e regional
das diferentes comunidades em Moçambique. Elas são portadoras de tradições, histórias e
conhecimentos transmitidos de geração em geração. A preservação e valorização dessas
línguas desempenham um papel fundamental na promoção da diversidade cultural e no
respeito pelas identidades étnicas moçambicanas.

A complexa interação entre o português e as línguas locais enriqueceu a língua portuguesa


moçambicana, tornando-a distinta e culturalmente rica. Essa fusão linguística é uma
demonstração da capacidade das línguas de evoluírem e se adaptarem às realidades culturais e
sociais em constante mudança.

A diversidade linguística em Moçambique é um reflexo da diversidade e complexidade


cultural do país. Preservar e valorizar essa diversidade é um desafio e uma responsabilidade
compartilhada. Encontrar maneiras de equilibrar a promoção das línguas locais com a
necessidade de comunicação e educação eficazes é fundamental para o fortalecimento da
unidade nacional e para a construção de uma sociedade inclusiva e respeitosa de suas raízes
culturais e identidades linguísticas.

12
4. Bibliografia

Anderson, Benedict. Comunidades imaginadas. São Paulo: Companhia das letras, 2008.
Back, Eurico. Fracasso do ensino de Português: proposta de solução. Petrópolis: Vozes, 1987.

Bauer, Otto. A nação. In: Balakrishnan, Gopal (Org.). Um mapa da questão nacional. Rio de
Janeiro: Contraponto Editora, 1996.

Bortoni-Ricardo, Stella M. O professor pesquisador: introdução à pesquisa qualitativa. São


Paulo: Parábola Editorial, 2008.

Canclini, Néstor G. Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: UFRJ, 2009.

Castiano, José P.; Ngoenha, Severino E.; Berthoud, Gerald. A longa marcha duma Educação
para Todos em Moçambique. 2. ed. Maputo: Imprensa Universitária, 2006.

Couto, Mia. E se Obama fosse africano? e outras interinvenções. 2. reimp. São Paulo: Com-
panhia das Letras, 2011.

Machel, Samora. Consolidemos aquilo que nos une. Reunião da direção do Partido e do
Estado com os representantes das confissões religiosas. 14 a 17 de Dezembro, 1982. Coleção
Unidade Nacinal. Maputo: INLD, 1983.

Mazula, Brazão. Educação, cultura e ideologia em Moçambique. Maputo: Edições Afronta-

mento e Fundo Bibliográfico da Língua Portuguesa, 1995.

13

Você também pode gostar