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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Política e Planificação Linguística de Moçambique

Nome do aluno: Lídia Cristina Orlando Bata

Código: lbata@isced.ac.mz

Maxixe, Maio de 2023


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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Departamento de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Política e Planificação Linguística de Moçambique


Trabalho de Campo a ser submetido na
Coordenação do Curso de Licenciatura em
Ensino de Português do ISCED.

Nome do aluno: Lídia Cristina Orlando Bata

Código: lbata@isced.ac.mz

Maxixe, Maio de 2023


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Índice
1. Introdução .................................................................................................................................... 3
1.1. Objectivo do trabalho ............................................................................................................... 3
1.2. Estrutura do Trabalho ............................................................................................................... 3
2. Fundamentação Teórica ............................................................................................................... 4
2.1. Situação sociolinguística de Moçambique ............................................................................... 4
3. Conclusão .................................................................................................................................... 8
4. Referencias Bibliográficas ........................................................................................................... 9
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1. Introdução

Neste presente trabalho abordar-se-á a temática da “Política e Planificação Linguística de


Moçambique”, onde de forma breve e sucinta serão discutidos muitos pressupostos teóricos
relacionados com a Política e Planificação Linguística de Moçambique. Observamos que, tal
como acontece com a grande parte dos países multilíngues africanos, não se sabe ao certo quantas
línguas nativas podem ser contabilizadas em Moçambique. Mas existem estudos que apontam
para um conjunto vasto de cerca de vinte (20) línguas nativas do grupo bantu, que convivem
simultaneamente com o português, criando uma situação de diglossia que motiva o Estado a
implementar o ensino bilíngue, como forma de responder às adversidades linguísticas dos alunos
procurando abranger um número significativo de crianças, que ingressa na escola e que
encontram na língua portuguesa, uma barreira no acesso ao letramento escolar, nesses primeiros
anos de escolaridade.

1.1. Objectivo do trabalho

 Reflectir sobre Política e Planificação Linguística de Moçambique.

1.2. Estrutura do Trabalho

Quanto a estrutura, o trabalho apresenta elementos pré-textuais que são: a capa, a folha de rosto,
índice; elementos textuais que são: introdução, desenvolvimento e conclusão e elementos pós-
textuais que são as referências bibliográficas.
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2. Fundamentação Teórica

2.1. Situação sociolinguística de Moçambique

Moçambique é um país caracterizado pela diversidade linguística e cultural, onde, além das
línguas de sinais, a LP coexiste com as línguas bantas que são maioritariamente faladas pela
população, com línguas de origem asiática (Mandarim, Urdo, Gujarati, Indi e Memane) e com as
línguas das ex-colônias britânicas e francesas. Esta diversidade linguística faz de Moçambique
um país plurilíngue e pluricultural, resultado de convivências entre várias etnias, línguas e
culturas (NHAMPOCA, 2015; GUNDANE, 2019). Decorre, deste fato, que uma política
referente ao ensino de línguas atenda a essa diversidade, como um indicador importante a ter em
consideração, com vista à promoção de uma educação fundamentada por fatores linguísticos,
históricos, sociais, identitários e culturais.

Em Moçambique, a LP é língua oficial. Na óptica de Gundane (2019), embora não constitua LM


para a maioria dos alunos do ensino básico provenientes sobretudo das zonas suburbanas, ela é
usada nas escolas como meio de instrução logo na 1.ª classe. Por conseguinte, é uma língua alheia
às diversas realizações socioculturais dos alunos, i. e., não permite que eles expressem seus
valores sociais, culturais, atitudes, desejos, emoções, ideologias durante o PEA.

Em termos de variedade linguística, a escola usa o código linguístico „mais elaborado‟, o


Português „Padrão‟, favorecendo crianças provenientes dos grandes centros urbanos em
detrimento daquelas que provêm das comunidades rurais. Lembre-se que a língua, no seu sentido
mais abrangente, desempenha um papel importante nas sociedades e em diversos contextos
culturais. Não se pode falar da língua desvinculada da sociedade e/ou da cultura e, vice-versa.

2.2. Noções sobre o ensino bilíngue

A educação bilíngue teve, primeiramente, suas motivações nos EUA, no Canadá, na União
Soviética, na Índia, tendo se expandido para outras regiões do mundo após a declaração da
Unesco de 1951. Numa reflexão sobre o papel e função das línguas vernaculares na educação, em
conformidade com Unesco (1953, p. 11), “é axiomático que o melhor método de ensinar às
crianças é com base na sua LM, comparativamente a uma outra L2 que não lhes é familiar”.
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Porém, nem sempre é possível o uso da LM do aluno como meio de instrução devido a vários
factores que podem impossibilitar o seu uso. Trata-se de factores tais como: políticos,
linguísticos, educacionais, socioculturais, económicos, financeiros, práticos, entre outros.

Megale (2005, p. 7) refere que a “educação bilíngue pressupõe conceitos distintos em contextos
diferenciados em função de questões étnicas, dos próprios educadores e legisladores e de factores
sociopolíticos”. Em países africanos, por exemplo, espera-se que a criança desenvolva as suas
habilidades de leitura e escrita e aprenda matérias curriculares através de uma língua que ela
melhor entende. O ensino bilíngue tem sido sempre recomendado em paralelo com o ensino e
aprendizagem de uma língua ex-colonial, como é o caso do Português em Moçambique. As
recomendações incluem o uso da LM como disciplina e como meio de ensino e aprendizagem a
partir das classes intermediárias do ensino primário (HEUGH, 2011).

Para Mello (2010), entender educação bilíngue nem sempre é uma tarefa fácil, pois a sua
caracterização extrapola os limites da escola e inclui outros agentes socializantes como: a família,
os amigos, a vizinhança, a sociedade, os meios de comunicação, etc. A educação bilíngue tem
sido usada de maneira abrangente para caracterizar diferentes formas de ensino nas quais os
alunos recebem instrução (ou parte da instrução) numa língua diferente daquela que normalmente
eles usam no ambiente familiar (veja-se GUNDANE, 2017).

2.3. Integração das línguas bantu em vários domínios da vida sociocultural dos
moçambicanos

Em Moçambique, a língua portuguesa encontra-se em situação de contacto com línguas do grupo


Bantu, isto faz com que ela seja língua segunda (L2) para a maior parte dos falantes,
apresentando, assim, algumas variações sintácticas, morfológicas, fonéticas e fonológicas,
chegando, em alguns casos, a influenciar negativamente o aproveitamento escolar dos alunos
sobretudo, nos primeiros anos de escolaridade, (Ngunga, 2004)

O sistema Nacional de Educação Moçambicano é constituído por dois subsistemas de ensino, o


Ensino Técnico Profissional, voltado para a formação técnica, e o Ensino Geral, voltado para a
formação de componente geral e das ciências humanas. Esta reflexão assenta-se basicamente
neste último.
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O Ensino Geral é composto por doze anos lectivos, os primeiros sete anos correspondem ao
ensino básico que, no Brasil, é o ensino fundamental, e é composto por dois ciclos de ensino, o
primeiro comporta desde o 1° ao 5° anos, o segundo comporta o 6° e o 7° anos. Os últimos cinco
anos correspondem ao ensino médio, tendo a mesma designação no Brasil, sendo também
composto, em Moçambique, por dois ciclos de ensino, os primeiros três anos inerentes ao
primeiro ciclo, 8°, 9°, e 10° e os últimos dois inerentes ao segundo ciclo do ensino médio, 11° e
12° anos.

É, no entanto, possível que esta estruturação do ensino geral esteja susceptível a sofrer algumas
alterações, uma vez que nos últimos anos o governo tem implementado várias reformas na
estrutura curricular do país, como foi o caso da abolição dos exames finais em algumas
disciplinas nas classes transitórias de um ciclo para o outro em todos os níveis (básico e médio).

A língua portuguesa foi instaurada desde a chegada dos portugueses (nos finais do Séc. XV-
1498) até a conquista da independência, em 1975. A partir daí, o governo vem implementado
vários programas no sentido de reconstituição dos valores patrióticos e nacionais.

Um dos traços marcantes do colonialismo e do qual o Estado moçambicano não pode se


desprender é a língua, tendo, por isso, adoptado uma política exoglóssica2 por meio da
Constituição da República (CRM) de 1990, no seu artigo 5, reconhecendo a língua portuguesa
como língua oficial e declarando a valorização, promoção e desenvolvimentos das línguas
nacionais (bantu) como veiculares e de educação dos cidadãos.

Observamos que, tal como acontece com a grande parte dos países multilíngues africanos, não se
sabe ao certo quantas línguas nativas podem ser contabilizadas em Moçambique. Mas existem
estudos que apontam para um conjunto vasto de cerca de vinte (20) línguas nativas do grupo
bantu, que convivem simultaneamente com o português, criando uma situação de diglossia que
motiva o Estado a implementar o ensino bilíngue, como forma de responder às adversidades
linguísticas dos alunos procurando abranger um número significativo de crianças, que ingressa na
escola e que encontram na língua portuguesa, uma barreira no acesso ao letramento escolar,
nesses primeiros anos de escolaridade. Segundo o Instituto de Desenvolvimento da Educação -
INDE, (2003) dos anos 90 até à actualidade, muito se fez para a promoção das línguas Bantu em
Moçambique, culminando com a introdução da educação bilingue no ensino básico entre 1993-
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1997, numa fase experimental, nas províncias de Gaza (utilizando as línguas Changana e
Português) e em Tete (utilizando as línguas Nyanja e Português), (INDE, 2003, p.127).

Fato que importa frisar na fase inicial da implementação experimental da educação bilíngue em
Moçambique é que foram selecionadas 16 línguas nacionais (bantu) que já possuíam uma
padronização, sendo: Emakhuwa, Cinyanja, Cinyungwe, Cisena, Cindau, Xichangana, Xironga,
Xitshwa, Ciyao, Shimakonde, Echuwabo, Elómwe, Kimwani, Cicopi, Citonga e Cishona. De entre
elas, destacam-se: o Emakhuwa e o Echuwabo que são as duas línguas bantu faladas na província
da Zambézia e que têm as suas variedades a medida que vão se expandindo pelos dezoito (18)
distritos que a constituem: Quelimane, Inhassunge, Nicoadala, Namacurra, Chinde, Mocuba, Alto
Molócue, Lugela, Maganja da Costa, Mopeia, Milange, Gilé, Luabo, Gurue, Ile, Morrumbala,
Namarrói e Mulumbo.

A educação bilíngue foi implementada em Moçambique como forma de criar uma oportunidade
de maior integração de alunos com a língua materna diferente do português no contexto do ensino
e aprendizagem. Para além desse fato, esta modalidade de ensino espelhava uma visão positivista
e que, ao mesmo tempo, garantiria a revalorização das línguas nacionais no contexto do processo
de ensino e aprendizagem e contribuiria para a melhoria da qualidade da educação no país, com
enfoque principal para as zonas rurais, onde o português é segunda língua para parte significativa
da população.

Neste sentido, no âmbito da avaliação da implementação de educação bilíngue em Moçambique,


vários linguistas moçambicanos com destaque para Chimbutane (2003), (2011); Ngunga et al.
(2010), (2011); Nhampoca (2015); Gundane (2017), (2019) têm apresentado alguns problemas
inerentes a este modelo como, p. e., (i) adopção de metodologias e utilização de materiais de
ensino que não são adequados à educação bilíngue; (ii) nalguns casos, os professores ensinam a
leitura/escrita em línguas bantas com base em metodologias de ensino do Português; (iii)
ausência de pessoal formado para tal metodologia; (iv) existência de problemas psicomotores e
de destreza manual que vão desde o treino básico da criança no simples pegar do lápis, passando
pelo desenhar riscos e curvas, círculos, até chegar ao grafema, depois da sílaba, a seguir à palavra
e, finalmente, à frase.
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3. Conclusão

Concluímos neste trabalho que em Moçambique, a língua portuguesa encontra-se em situação de


contacto com línguas do grupo Bantu, isto faz com que ela seja língua segunda (L2) para a maior
parte dos falantes, apresentando, assim, algumas variações sintácticas, morfológicas, fonéticas e
fonológicas, chegando, em alguns casos, a influenciar negativamente o aproveitamento escolar
dos alunos sobretudo, nos primeiros anos de escolaridade. A educação bilíngue foi implementada
em Moçambique como forma de criar uma oportunidade de maior integração de alunos com a
língua materna diferente do português no contexto do ensino e aprendizagem. Para além desse
fato, esta modalidade de ensino espelhava uma visão positivista e que, ao mesmo tempo,
garantiria a revalorização das línguas nacionais no contexto do processo de ensino e
aprendizagem e contribuiria para a melhoria da qualidade da educação no país, com enfoque
principal para as zonas rurais, onde o português é segunda língua para parte significativa da
população.
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4. Referencias Bibliográficas

CHIMBUTANE, F. “Sub-projecto de monitoria e avaliação da introdução do ensino bilingue em


Maputo e Gaza”. In: Projecto de avaliação educacional: Relatório anual. Maputo: INDE, 2003.

CHIMBUTANE, F.; STROUND, C. (Orgs). Educação bilingue em Moçambique: reflectindo


criticamente sobre políticas e práticas. Maputo: Textos Editores, 2011.

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Maputo: Imprensa Nacional de


Moçambique, 1990.

GUNDANE, L. “Política linguística: educação inclusiva em contextos de diversidade linguística


e cultural em Moçambique”. In: Revista científica da UEM: Série. Ciências Sociais, vol. 1, n.° 2,
2019, p. 112-125.

___________________. Didáctica das Línguas Bantu. Maputo: CEAD, 2017.

HEUGH, K. “Da língua materna ao uso de uma língua internacional no processo de ensino e
aprendizagem: as limitações do modelo de transição no sistema escolar em África”. In:
CHIMBUTANE, F.; STROUND, C. (Orgs). Educação bilingue em Moçambique: reflectindo
criticamente sobre políticas e práticas. Maputo: Textos Editores, 2011, p. 53-74.

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO DE EDUCAÇÃO (INDE). Plano Curricular do


Ensino Básico. Maputo: MINED (Ministério da Educação), 2003.

NGUNGA, A. Introdução à Linguística Bantu. Maputo: Imprensa Universitária. Faculdade de


Letras e Ciências Sociais U.E.M, 2004.

NHAMPOCA, E. “Ensino bilingue em Moçambique: introdução e percursos”. In: work. Pap.


Linguíst., nº. 16, v.2. Florianópolis, 2015, p. 82-100.

SEVERINO, A. J. Metodologia de Trabalho Cientifico. 23ª ed., São Paulo: Cortez, 2007.

UNESCO. The use of vernacular languages in education. Paris: Unesco, 1953.


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