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Declaração de Honra
Declaro que esta Monografia Científica intitulada Impacto Psicopedagagógico e Sociocultural
do Ensino Bilingue: Caso da 1ª classe, turma “E” na EP do 1º e 2º Grau de Massalane é
resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu supervisor.
O seu conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no
texto, nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que este não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de
qualquer grau académico.
__________________________________
(Vitória Inácio)
4
Lista de Gráficos
Gráfico 1. Aproveitamento Pedagógico do ano lectivo 2017--------------------------------------30
5
Dedicatória
À minha família.
7
Agradecimentos
À minha família pelo apoio que me tem incansavelmente proporcionado ao longo da minha
formação académica.
Ao meu supervisor, o Me. Gundane, pela orientação que me concedeu durante a elaboração
desta Monografia Científica.
Aos docentes da Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia, que me ajudaram bastante
durante toda a minha formação.
Aos meus colegas, que sempre mostraram-se abertos para me ajudarem, o meu muito
obrigado.
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Resumo
A presente monografia, intitulada Impacto Psicopedagagógico e Sociocultural do Ensino Bilingue:
Caso da 1ª classe, turma “E” na EP do 1º e 2º Grau de Massalane , visa fundamentalmente avaliar o
impacto psicopedagagógico e sociocultural do ensino bilingue. Numa acepção tipológica, o nosso
trabalho enquadra-se na pesquisa qualitativa, obedecendo ao modelo descritivo. Neste sentido, para a
efectivação dos propósitos da nossa pesquisa servimo-nos da pesquisa bibliográfica. Os dados foram
analisados e interpretados com recurso à análise de conteúdo e ao método descritivo. A análise do
nosso corpus levou-nos a constatação de que, por um lado, do ponto de vista psicopedagagógico, o
impacto do EB é positivo, na medida em que este modelo de ensino garante a melhoria de qualidade de
interacção entre o professor e aluno; a melhoria significativa do desempenho dos alunos no que diz
respeito a comunicação, assimilação e compreensão dos conteúdos e matérias leccionados; a elevação
da auto-estima e motivação do aluno em relação a aprendizagem e uma maior extroversão ao aluno,
uma vez que da continuidade a língua que fala em casa. Por outro lado, do ponto de vista sociocultural,
o seu impacto é igualmente positivo na medida em que este modelo de ensino contribui para a
valorização, preservação e desenvolvimento das línguas Bantu; promove o multilinguismo e o
multiculturalismo; contribui na melhoria da qualidade de educação, afirmação e respeito pelo direito
dos alunos de aprenderem na língua do seu conhecimento e domínio e promove o património
sociocultural e linguístico do aluno, etc.
0. Introdução
Moçambique é um país multiétnico, multicultural e multilinguístico, ou seja, para além da
existência de várias manifestações culturais, consuetudinários e étnicos, predomina no nosso
país a coexistência de múltiplas línguas distintas. Dentre elas, as línguas de origem Bantu
(Xitswa, Xichangana, Citxopi, etc.), as línguas asiáticas (Urdo, Gujarati, etc.), o português e
outras línguas de origem europeias (Inglês, francês, etc.).
Dentro do quadro acima descrito, a Língua Portuguesa assume uma categoria privilegiada de
língua oficial, apesar do facto de que a maioria da população deste país, mas do que não a
terem como língua materna, não falam fluentemente o português, como sustenta Firmino
(2005:3), “o conhecimento da língua portuguesa circunscreve-se a uma parte reduzida da
população de Moçambique. O português é conhecido como língua materna por 6 % e usado
como língua falada com mais frequência apenas por 9 %”.
É dentro deste contexto que emerge o Ensino Bilingue com vista à melhoria da qualidade do
Ensino Básico em Moçambique. Entretanto, mesmo depois de tantos anos de experiência, o
ensino bilingue, não só continua com grandes desafios, como também tem sido um dos temas
mais debatidos na actualidade, e tendo ganho um grande interesse e motivação em
comparticipar na edificação deste modelo de ensino, comprometemo-nos a trabalhar em torno
do tema desta pesquisa: Impacto Psicopedagagógico e Sociocultural do Ensino Bilingue: Caso
da 1ª classe, turma “E” na EP do 1º e 2º Grau de Massalane.
O objectivo deste trabalho consiste em avaliar o impacto psicopedagagógico e sociocultural do
EB a partir do caso em apreço.
Do ponto de vista estrutural, este trabalho, apresenta três capítulos. Sendo que primeiro
apresentamos a justificativa, os objectivos, o problema de pesquisa e as hipóteses. No primeiro
capítulo fazemos a revisão da literatura, na qual abordamos os seguintes temas: Educação
Bilingue, modelos de Educação Bilingue, o Ensino Bilingue em Moçambique, os desafios do
Ensino Bilingue em Moçambique e a reflexão sobre o modelo do Ensino bilingue adoptado em
Moçambique; no segundo descrevemos as metodologias de pesquisa, no qual abordamos os
procedimentos de recolha de dados e os métodos de análise de dados, no terceiro apresentámos
a análise e interpretação de dados e, finalmente, apresentámos a conclusão e as referências
bibliográficas.
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0.1. Justificativa
A motivação para a escolha deste tema emergiu, primeiro, do facto de este ser um tema
polémico e académica, social e politicamente muito discutido nestes últimos tempos.
Segundo, pelo facto de querermos aprofundar, cada vez mais, os conhecimentos sobre este
modelo de ensino e dar a nossa contribuição para que estejamos cada vez mais próximos de,
não só reduzir as inúmeras dificuldades e problemas de aprendizagem associadas a questão
linguística (a falta do conhecimento da língua português pela maioria das crianças ao
iniciarem a escolarização), como também, cada vez mais próximos de uma educação de uma
qualidade excepcional e desejável.
Esta pesquisa é, do ponto de vista social, um contributo vigoroso, pois poderá incentivar cada
vez mais o debate aceso e maior compressão sobre a legitimidade (que nalguns casos tem sido
questionada) e importância do ensino bilingue.
0.2. Objectivos
É neste contexto, ou seja, diante de todos estes questionamentos em torno deste modelo de
ensino, que nos impele a formulação da seguinte questão de partida: Qual é o impacto
Psicopedagagógico e Sociocultural do Ensino Bilingue no caso em apreço?
0.4. Hipóteses
Nesta fase, fazemos o prognóstico das possíveis respostas ao problema colocado. Deste modo,
para o caso em análise, diante do problema acima formulado, afirmamos hipoteticamente que:
Do ponto de vista Psicopedagagógico, o impacto do EB é positivo, na medida em que este
modelo de ensino garante:
A melhoria de qualidade de interacção dos intervenientes do PEA (professor e alunos)
na sala de aulas;
A melhoria significativa do desempenho dos alunos no que diz respeito a
comunicação, assimilação e compreensão dos conteúdos e matérias leccionados;
A elevação da auto-estima e a motivação do aluno em relação a aprendizagem;
Maior extroversão ao aluno, uma vez que da continuidade a língua que fala em casa.
Do ponto de vista sociocultural, o impacto do EB é positivo na medida em que este modelo
de ensino:
Contribui para a valorização, preservação e desenvolvimento das línguas Bantu (a L1
dos alunos);
Promove o multilinguismo e o multiculturalismo;
Contribui na melhoria da qualidade de educação, afirmação e respeito pelo direito dos
alunos de aprenderem na língua do seu conhecimento e domínio (L1);
Promove o património sociocultural e linguístico do aluno.
12
Capítulo II
1. Revisão de Literatura
Tal com afirma Silva (2001:221), a revisão da literatura é uma componente essencial de toda
investigação, pois ela abarca a reflexão em torno de todos os assuntos basilares da pesquisa.
Este capítulo aprecia criticamente a literatura relacionada com a problemática do ensino
bilingue. Serão objecto da revisão vários tipos de literatura relativos a:
Educação Bilingue;
Modelos de Educação Bilingue;
O ensino EB em Moçambique;
Desafios do Ensino Bilingue em Moçambique, e
Reflexão sobre o Modelo Transaccional.
Esta revisão da literatura visa familiarizar-nos com estudos e experiências relacionados com o
objecto deste trabalho, os quais poderão fornecer elementos úteis à nossa discussão e análise.
Embora seja vasta e actual a literatura sobre o ensino bilingue, nem sempre podemos ter
acesso a ela, devido à sua falta nas livrarias locais e também a sua escassez nas nossas
bibliotecas locais.
1.2. Educação Bilingue
Harmes & Blanc (1989: 189) definem a educação bilingue “como um sistema de educação
escolar de uma forma simultânea ou consecutiva, planeada e dada em pelo menos duas
línguas”.
Na mesma perspectiva, o INDE (1997: 5) define educação bilingue “como sendo o ensino em
duas línguas, normalmente, na língua materna (L1) e na língua segunda (L2) ”.
Na asserção de Appel & Muysken (1987:64), a educação bilingue é um sistema em que uma
língua minoritária desempenha um papel específico diante de uma língua maioritária no
ensino.
As definições acima arroladas são unânimes na questão de que este modelo de ensino
pressupõe inevitavelmente a coexistência de duas línguas e o contacto entre ambas, fazendo
com que cada uma delas tome uma parte no processo de ensino-aprendizagem. Porém como
afirma Hornber (1991) apud Mello (2010:121), essas definições são limitadas e pouco
precisas, pois, na realidade, em muitos casos a instrução por meio de duas línguas limita-se à
fase inicial da escolarização, como ocorre nos programas do tipo transicional em
Moçambique.
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Outra questão que constitui relevante, mas muito preocupante é a definição trazida por Appel
& Muysken que evidencia uma situação de desigualdade e discriminação linguística, na
medida em que as línguas maternas que são categorizadas como minoritárias, pelo facto de
não gozarem do mesmo privilégio com a L2, estas servirão se não como simples línguas de
recurso, ou seja, apenas como aquelas que auxiliam no processo de aprendizagem das línguas
ditas maioritárias. Esta questão pode ser vista, do ponto vista sociocultural e linguística, como
negativa, na medida em que, não só, pouco promove o património sociocultural e linguístico
do aluno, como também nega a este o direito de aprender na língua do seu conhecimento e
domínio.
1.3. Modelos de Educação Bilingue
No âmbito da educação bilingue existem vários tipos de modelos. Contudo, nesta pesquisa,
falaremos apenas de quatro por serem os mais comuns e os mais estudados.
Na óptica de Baker (1993: 153), os vários tipos de modelos ou programas de ensino bilingue
podem ser agrupados em dois conjuntos:
i. Programas que promovem uma forma fraca de educação para o bilinguismo, e
ii. Os programas bilingues que promovem uma forma forte de educação para o
bilinguismo.
Dos dois grupos que acima nos referimos, fazem partem, em cada uma delas, dois tipos de
programas, sendo que do primeiro grupo fazem parte, a submersão e transição e do segundo
fazem parte os outros dois programas, a imersão e manutenção.
Segundo NHONGO (2009:31), estes programas também têm sido objecto de inúmeras
classificações ou tipologias. Estas variam segundo os autores, o objectivo do programa (de
transição e de manutenção), segundo a maneira como se usam as duas línguas, a sequência ou
concorrência no uso das duas línguas, a intensidade com que usam duas línguas, etc.
Com efeito, o programa de submersão agrupa crianças cuja LM/L1 é de pouco prestígio e
crianças cuja LM é dominante e é a língua de maior prestígio. Neste tipo de modelo, espera-se
que ambos os grupos de crianças e o professor usem a língua de maior prestígio dentro da sala
de aula.
O programa de transição, por seu turno, consiste em ensinar temporariamente a criança na sua
LM até que ela seja suficientemente proficiente na L2. Depois disto, faz-se a transição da LM
para L2, uma vez que se pensa que a criança domina suficientemente esta língua para
funcionar em todas as áreas do currículo (NHONGO, 2009:31).
No que concerne ao programa de manutenção, Baker (1993) refere que a LM não é vista
como um problema, pelo contrário, ela vale por si só, e é tão importante como a L2. Portanto,
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não é apenas usada como um meio de instrução nas primeiras classes, mas sim em todas as
classes.
Relativamente ao programa de imersão, o autor supracitado refere que é utilizado em grupos
de pessoas voluntárias cuja LM e L2 são de alto prestígios. Neste tipo de programa, a criança
é ensinada na L2, embora a sua LM seja usada na comunicação durante uma parte da aula.
No caso de Moçambique, como afirma Ngunga et al. (2007), o modelo adoptado foi o de
transição com características de manutenção, de forma a garantir o desenvolvimento de um
bilinguismo aditivo1 nos alunos.
No programa transicional “a língua local é apenas usada nos primeiros anos, uma vez que a
sua principal função é de fazer a ponte entre a casa e a escola” (Appel &Muysken, 1993: 65).
Neste programa de ensino, no modelo adoptado em Moçambique, a LM é apenas usada para
facilitar mais tarde a aprendizagem da L2 ou da língua oficial. Com efeito, na 1ª e 2ª classe, as
aulas são ministradas na LM do aluno 2, introduzindo-se gradualmente, a língua portuguesa no
início da 3ª classe3, como disciplina e meio de instrução.
Os alunos iniciam, na 3ª classe, a aprendizagem da leitura e escrita em Português, através de
um processo de transferência de habilidades adquiridas na sua L1. Esta classe funciona,
assim, como a classe de transição da LM/L1 para a L2 (língua portuguesa), o que em outras
palavras, e segundo Lopes (1997), favorece para a promoção de um bilinguismo adictivo.
Este modelo de educação bilingue, segundo INDE (1997), representa o “estado ideal” em
termos de ensino e aprendizagem, pois descreve o ensino da L2 desde o início, a transição da
L1 para a L2, e a manutenção da L1 como disciplina. Desta forma, Swain (1978) declara que
os programas de educação bilingue transicionais e de manutenção envolvem uma mudança da
língua do lar pela língua escolar.
Podemos a partir da explicação acima exposta, afirmar que a intersecção dos dois modelos
reside no facto de que ambos envolvem no início do processo a língua materna do aluno,
1
Lambert (1975) apud Roberts (1995:371) identificou dois tipos de bilinguismo: bilinguismo adictivo, em que os
alunos iniciam o ensino com a sua L1 e ao decorrer do tempo adquirem a L2; e subtractivo, em que os alunos
perdem a sua L1 e o processo de ensino-aprendizagem é conduzido pela L2.
2
Ou seja, no 1º ciclo, a língua materna do aluno é o único meio de ensino-aprendizagem; a língua materna e o
Português serão ensinados como disciplina, sendo o Português para desenvolver habilidades de oralidade para
preparar a aprendizagem da leitura e da escrita nesta língua no 2º ciclo (INDE/MEC, 2003: 112-113).
3
Na 3ª classe, o meio de ensino-aprendizagem ainda é a L1. As aulas serão dadas tanto na L1 como na L2,
funcionando esta classe como a de transição da L1 para a L2. Assim como na 1ª e 2ª classes, neste ciclo a L1/LM
e a L2 são leccionadas como disciplina. A L1/LM continuará a ser auxiliar do processo de ensino-aprendizagem,
principalmente em disciplinas como Matemática, Ciências Sociais, Ciências Naturais para explicar/clarificar
conceitos difíceis (INDE/MEC, 2003: 113).
15
podendo verificar-se algumas alterações ou mudanças numa fase mais avançada, na qual
verificar-se-á um fenómeno de continuidade ou descontinuidade em relação a língua materna.
1.4. A Educação Bilingue em Moçambique
Como já referimos na introdução, e como afirma Patel (2006), “a diversidade linguística de
Moçambique é uma das suas principais características culturais”.
O acervo linguístico de Moçambique é formado por línguas de origem africana (Bantu),
europeia, asiática e línguas do Médio Oriente, sendo as línguas de origem bantu as mais
faladas (Patel, 2006:58). Apesar da permeabilidade do uso das línguas bantu, o português é
até o momento actual a única língua oficial do país e foi durante muito tempo, a única língua
de ensino num país em que a maioria da sua população tinha como LM/L1 as línguas bantu, o
que começou a reflectir-se no ensino, com as recorrentes altas taxas de reprovação.
Diante deste fenómeno, e diante das pressões da sociedade, o governo moçambicano
introduziu o ensino bilingue com o objectivo de reparar e mitigar aquele problema. Como
afirma Sitoe (2014:66), “a educação bilingue é um projecto sério e único capaz de resolver os
problemas pedagógicos de que hoje o sistema de educação em Moçambique enferma”.
Após o reconhecimento oficial da introdução do ensino bilingue no ensino básico, entre os
anos 1993 e 1997, o INDE desenvolveu actividades de experimentação do uso das línguas
bantu na educação, em duas províncias: Gaza - changana/português e Tete -
Nyanja/Português. Com esse arranque, o INDE desenvolve, a partir de 1997, um debate mais
contundente sobre a introdução e implementação do EB no Ensino Básico, envolvendo
instituições como o próprio Ministério da Educação, confissões religiosas, universidades
(UEM e UP), ONGs e outras organizações da sociedade civil. Como resultado, introduziram-
se mais de cinco línguas no EB (Emakhwa, Nyungwe, Sena, Ndau e Ronga).
Na sequência, as outras foram sendo incluídas gradualmente, até que em 2003, de acordo com
Patel (2006), a distribuição era a que figura no quadro que se segue.
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uma grande dificuldade aos professores envolvidos, uma vez que maioria destes tiveram
apenas uma formação regular, se não mais alguma capacitação em tempo muito curto que não
permite o desenvolvimento, de maneira alguma, da prática e maior mestria no uso das
estratégias metodológicas do Ensino Bilingue.
Ainda no âmbito da introdução e implementação da educação bilingue em Moçambique, Patel
(2006) faz o levantamento de alguns problemas deste modelo de educação:
i. Incredibilidade: Reina um clima de incredibilidade por parte da comunidade
dominante ou elite dominadora do Português, que continua a defender a visão de
que a educação bilingue dificulta a comunicação, a unidade e administração do
país. Por isso, para Patel (2006), há uma necessidade de negociação permanente
com os gestores da educação em Moçambique.
ii. Incapacidade: os gestores da educação apresentam frequentemente a justificativa
de que os custos para a formação dos professores e para a elaboração de materiais
para o ensino bilingue seriam altíssimos para os cofres do estado.
iii. Extremismo: há um desejo de levar a favor do uso das LB ao extremo, propondo-
se, por exemplo, que se deixe de usar o português no país, como forma de ressarcir
os moçambicanos, que durante muito tempo foram obrigados a usarem a língua do
colonizador. Essa posição tem entrado em choque com a dos que defendem a
nativização do português (FIRMINO, 2005), ou seja, os que defendem que a LP
falada hoje em Moçambique tornou-se também parte da pertença dos
moçambicanos e não é mais referência do ex-colonizador, pois os moçambicanos
apropriaram-se desta língua, e que por isso devem considerá-la umas das suas
línguas.
À luz de todos esses problemas podemos afirmar que hoje há uma maior intenção de estarem
a emergirem resultados, pesquisas, dicionários e mais cursos de formação e capacitação de
professores em matérias e metodologias do ensino bilingue. Um exemplo vivo desta corrente
é a introdução do Minor em Xitswa pela Universidade Pedagógica-Maxixe e de diversos
cursos em línguas bantu e ensino de línguas bantu pela UEM, o que concede-nos que alguma
forma a visão de um futuro promissor.
1.6. Reflexão sobre o Modelo Transaccional
Em Moçambique através do INDE, foi levado a cabo um projecto de experimentação do
ensino bilingue no ensino básico, denominado PEBIMO. A experimentação começou a ser
delineada em 1990, tendo iniciado a sua implementação em 1993 com a introdução da 1ª
18
Não é nossa intenção, nesta subsecção, descrever a implementação do EB, mas sim, fazer uma
reflexão crítica em torno do modelo transaccional, o modelo eleito em Moçambique.
De facto, com a introdução do EB, Moçambique optou pelo modelo de transição. Sobre o
funcionamento do modelo acima referido, conforme Patel (2006:66-67):
No 1º ciclo (1ª e 2ª classe), a língua materna do aluno (L1) é o único meio de
ensino-aprendizagem. A língua materna e o Português serão ensinados como
disciplina, sendo o Português para desenvolver habilidades de oralidade para
preparar a aprendizagem da leitura e da escrita nesta língua no 2º ciclo.
Esta proposta de Heugh vê o modelo de manutenção como sendo o ideal para o contexto do
nosso país porque permite que o aluno tenha mais tempo de interacção e aprendizagem tanto
da sua L1 como também da L2, não havendo desta feita a discriminação, o rebaixamento e
forma alguma de dar maior privilégio a uma língua e detrimento da outra, porém garantindo-
se um maior equilíbrio na aprendizagem das duas línguas.
21
Capítulo III
3. Metodologia de estudo
Neste capítulo abordamos os procedimentos de recolha de dados, os métodos de análise e
interpretação de dados bem como da amostra.
Assim, na perspectiva de LIMA (1995: 12) metodologia “é análise sistemática e crítica dos
pressupostos, principais e procedimentos lógicos que moldam a investigação de determinados
problemas sociológicos.” Este autor sublinha que as questões relacionadas com a estratégia de
pesquisa a adoptar em referência e adequação a certos objectos de análise e em ordem a
relacionar e integração dos resultados obtidos do uso das técnicas.
Na metodologia fazemos uma descrição detalhada dos procedimentos utilizados durante as
actividades de campo, os recursos humanos, materiais, universo da pesquisa, selecção da
amostra, instrumentos de colecta dos dados, entrevista e questionário.
3.1. Tipo e Modelo de Pesquisa
O presente trabalho desenvolveu-se por meio da pesquisa qualitativa, considerando que esta
abordagem proporciona resultados significativos na área educacional, no sentido de
oportunizar ao pesquisador uma visão mais ampla do quotidiano escolar, além de produzir
conhecimentos e contribuir para a transformação da realidade estudada. Assim,
RICHARDSON (1999: 90) postula que “a pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como a
tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção de medidas qualitativas de
características ou comportamentos”.
O modelo de estudo é descritivo, pois embora usemos aos dados estatísticos, estes servirão
apenas para a organização dos dados em tabelas. Assim, a análise e interpretação dos dados
tomará as características típicas do modelo acima mencionado.
Para a efectivação deste estudo privilegiamos o estudo de caso. Para YIN (2005) apud GIL
(2009:57) o estudo de caso é “um estudo empírico que investiga um fenómeno actual dentro
de um contexto de realidade quando fronteiras entre o fenómeno e o contexto não são
claramente definidas e no qual são utilizadas várias fontes de evidências”.
Assim, com esta pesquisa pretendíamos avaliar o impacto psicopedagagógico e sociocultural
do EB a partir do caso da Escola Primária do 1˚ e 2˚ grau de Massalane, que encontra
localizada no Distrito de Homoíne cujo ensino bilingue foi introduzido recentemente como
sendo fase de experimentação em uma turma da 1ª classe, esta que constitui o nosso objecto
de observação e estudo.
22
Neste caso, e segundo o autor acima mencionado, o universo desta pesquisa é constituído pela
única professora do ensino bilingue que opera naquela escola, pelos alunos e pelos
encarregados de educação.
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Abaixo segue um quadro que faz um sumário da amostra, esta que segundo Marconi &
Lakatos (2003:107), é uma parcela convencionalmente seleccionada do universo em estudo:
4
Todas as palavras de língua bantu que constam deste trabalho, a sua escrita, respeita a Padronização da
Ortografia de Línguas Moçambicanas proposta por Gunga & Faquir (2012).
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extensão com o decorrer do tempo e com a constatação de uma certa eficiência e êxito
daquela experiência.
Os alunos que integram aquela turma são na sua maioria naturais e residentes da localidade de
Massalane, uma região na qual predomina a língua citshwa (não obstante o facto de uma
pequena parte daquela comunidade ser bilingue, isto é, não só falam o citshwa, como também
falam o cicopi por causa da influência de Inharrime, um distrito vizinho). Sendo assim, é esta
que é usada junto com o Português no âmbito do ensino bilingue naquela escola.
A maioria destes alunos iniciam a sua escolarização apenas tendo como sua língua materna o
citshwa, língua falada em casa e na comunidade. Contudo, uma pequena parte destes alunos
caracteriza-se por ser bilingue, sendo que alguns para além do citswa, tem falado em suas
casas, o português ou o cicopi (vide em anexos). Mas estes últimos não constituem um grande
problema, pois todos os alunos têm em comum o citshwa como a sua L1.
A responsável por estes alunos é uma professora de 35 anos de idade. Ela tem formação
psicopedagógica regular (10+2) e algumas capacitações em matérias de Ensino Bilingue. Ela
tem o domínio da língua portuguesa e da língua citshwa nas dimensões de produção oral,
compreensão oral, produção escrita e compreensão escrita (vide em anexos).
4.2.2. Impacto Psicopedagógico do Ensino Bilingue
Reflectir em torno do impacto psicopedagógico constitui um exercício muito amplo que vai
integrar algumas questões de natureza didáctico-pedagógica, tais como as metodologias, a
interacção entre os intervenientes do PEA (essencialmente aluno e professore), a assimilação
dos conteúdos pelos alunos, o seu nível de motivação e participação, o seu aproveitamento
pedagógico, etc.
Nesta subsecção abordamos a questão do impacto psicopedagógico do ensino bilingue tendo
em conta a questão da interacção professor-aluno, assimilação e compreensão dos conteúdos,
nível de motivação para aprendizagem e o aproveitamento pedagógico no âmbito do ensino
bilingue no contexto da Escola Primária do 1º e 2º grau de Massalane.
a) Interacção Professor-Aluno
No tange a esta questão, a professora daquela turma afirmou que: “o ensino bilingue permite
uma boa interacção professor-aluno, uma vez que a língua usada para o ensino é do domínio
das crianças”.
Este posicionamento tomado pela professora evidencia o facto de que o domínio da língua em
que decorre o processo de leccionação permite com que os alunos sejam mais interactivos e
extrovertidos, o que constitui um comportamento positivo no processo de ensino-apredizagem
e principalmente quando se trata das primeiras classes, em que o aluno precisa desenvolver
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uma competência comunicativa básica para melhor prosseguir com as classes subsequentes
com maior êxito.
Ainda sobre esta questão, captamos a sensibilidade dos pais e encarregados de educação, estes
que também acompanham o dia-a-dia do processo de ensino e aprendizagem dos seus
educandos, pelo que deram os seguintes depoimentos:
E1: “[…] ele percebe o que sua professora lhe ensina e sabe responder o que lhe pergunta”.
E3: “[…] a criança entende as perguntas que a professora coloca e assim fala com ela
facilmente”.
E7: “[…] ajuda na boa interacção entre a professora e o aluno”.
E5: “Ele consegue interagir melhor com sua professora e tira notas positivas nas provas”.
E3: “Sim… entende melhor a matéria e eu consigo o explicar quando tem dificuldades em
casa”.
E4: “os alunos entendem rapidamente o que a professora ensina em citswa, pois, eles
dominam citswa”.
E9: “aprende bem os conteúdos, como se trata da sua língua materna”.
Os pais e encarregados de educação, como é evidente nos depoimentos acima descritos,
reforçam o facto de que seus educandos compreendem as matérias leccionadas, e mais
interessante, é o facto de que eles também associam este facto à questão de os alunos estarem
a frequentar as suas aulas na língua de seu domínio, que é também sua língua materna.
Este posicionamento tomado, tanto pela professora da turma, como também pelos
encarregados de educação é realmente legítimo porque se os alunos tivessem a fazer a
iniciação escolar numa língua que não fosse do seu meio ou desconhecida, eles teriam várias
limitações de ordem meramente linguística e expressiva, o que consequentemente culminaria
com o desenvolvimento de uma certa timidez e introversão associada a uma violência de
ordem simbólica (descontinuidade) que os colocaria em uma significativa desvantagem em
relação a outras crianças que tenham o português como sua língua materna (continuidade).
A nossa constatação não se limitou apenas nos depoimentos dos nossos entrevistados, como
também o método de observação que se materializou com a assistência às aulas permitiu-nos
confirmar estes comportamentos no contexto da sala de aulas, onde realmente podemos
observar e constatar que o nível de assimilação e compreensão dos conteúdos pelos alunos era
positivo (vide em anexos, a ficha de assistência de aulas).
c) Nível de Participação e Motivação do aluno
O método de observação que se materializou a partir da assistência às aulas (cuja ficha de
observação perfila nos anexos) permitiu com que avaliássemos o nível de participação e
motivação dos alunos em relação à aprendizagem, pelo que constatamos que realmente os
depoimentos positivos da professora são consentâneos a realidade observada.
Durante a aula da disciplina de língua citshwa, cujo tema era “Gondzo yo Tsala Magezu”
(Escrita de palavras), o uso de métodos interactivos (elaboração conjunta, diálogos, etc.)
favorecia um ambiente de uma fervorosa participação por maior parte dos alunos, que
mostravam-se muito motivados e activos, disputando sempre, entre eles, mais uma
oportunidade para manifestarem suas ideias diante da professora e dos colegas de turma.
O método de questionamentos que era recorrentemente usado pela professora permitia que os
alunos voluntariando-se, disputassem a chance de participar, pelo que, algumas vezes
29
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1 Trimestre 2 Trimestre 3 Trimestre
Claramente, todos e cada depoimento acima evidencia esta vantagem que socioculturalmente
é atribuída ao EB, o que faz com que os encarregados defendam a importância e necessidade
de continuidade deste projecto e modelo de ensino, na medida em que é consentânea a
31
realidade e necessidade dos alunos daquela comunidade cuja maioria tem como sua L1 a
língua citshwa e não tem o conhecimento e domínio do português.
Um ponto muito interessante foi levantado conjuntamente pelo E3 e E10. É o facto de o EB
abrir um espaço que permita uma real e activa comparticipação dos encarregados de educação
no processo de ensino-aprendizagem dos seus educandos ajuda-lhes sempre nas suas tarefas
escolares em casa, uma vez que a língua em uso é também do conhecimento e domínio dos
encarregados, o que se tornaria claramente muito difícil se o ensino fosse monolingue (apenas
em português), pois eles também tem como L1 o citswa e na sua maioria não tem domínio da
língua portuguesa.
Enfim, pensamos que é legítimo este posicionamento da professora e dos encarregados de
educação ao sustentarem este impacto positivo do ensino bilingue, e isto leva-nos a
confirmação de uma das nossas hipóteses, a de que o EB tem um impacto sociocultural
positivo na medida em que contribui para a valorização, preservação e desenvolvimento das
línguas Bantu (a L1 dos alunos); promove o multilinguismo e o multiculturalismo; contribui
na melhoria da qualidade de educação, afirmação e respeito pelo direito dos alunos de
aprenderem na língua do seu conhecimento e domínio (L1) e promove o património
sociocultural e linguístico do aluno.
4.2.4. Problemas e desafios encarados no Ensino Bilingue
Quando colocada a questão relativa aos problemas e desafios no âmbito do EB, a professora
não hesitou em afirmar que o maior problema enfrentado é a falta de material didáctico
diverso e essencialmente a falta do livro do professor que constitui, do ponto de vista
didatico-pegagógico, um instrumento basilar de auxílio ao próprio professor na sua prática
pedagógica.
A outra questão levantada é a necessidade da existência de uma formação mais consistente,
pelo que ao colocarmos a questão relativa a sua formação em estratégias e metodologias do
ensino bilingue, a professora limitou-se a afirmar que apenas algumas capacitações a
sustentavam, o que consideramos lamentável, pois como é que se deseja e se pode construir
uma ensino e educação de qualidade excepcional quando não há um investimento profundo e
sólido na formação do professor.
Atendendo e considerando esta situação, somos da opinião de que devia haver, não apenas
capacitações, mas a prior, uma formação mais profunda e consistente dos professores que se
propõem a trabalharem com o ensino bilingue, pois não mais se trata de ensino monolingue
em português, mas de um outro modelo de ensino que requer, por isso, novas estratégias e
metodologias.
32
A falta de uma formação, em estratégias e metodologias do EB, pode fazer com que muitos
professores afectos neste modelo de ensino, como defende Ngunga et al. (2010), usem as
metodologias do ensino de língua portuguesa (uma vez que foram estas que aprenderam na
sua formação regular). O que logicamente constitui, do ponto de vista didáctico, um erro de
procedimento, podendo, por isso reflectir-se na falta de êxito neste processo.
4.2.5. Avaliação do Ensino Bilingue no Contexto da EP do 1º e 2º grau de Massalane
Não perdemos a oportunidade de procurar saber dos nossos entrevistados sobre a opinião que
eles tinham sobre o EB no contexto da EP do 1º e 2º grau de Massalane, pelo que todos
davam uma apreciação positiva, apresentando as seguintes fundamentações:
Prof: “A avaliação é positiva porque os alunos de Massalane tem como L1 o citshwa, daí
existe boa interacção oral e escrita entre professor-aluno, levando ao sucesso escolar”.
E2: “ […] é positiva porque este ensino dá valor as línguas da na nossa comunidade e ajuda
os alunos a entenderem melhor os professores e os pais em casa”.
E5: “A avaliação é positiva porque dão continuidade de aprender a sua língua materna”.
E9: “ […] positiva porque valoriza as línguas moçambicanas e porque aprendendo na sua
língua, os alunos têm um melhor aproveitamento pedagógico”.
Atentando aos depoimentos acima, podes constatar que todos eles encontram uma intersecção
no facto de que este modelo de ensino é positivo pois mais do que facilitar o processo de
aprendizagem aos alunos, uma vez que dão continuidade a língua do seu domínio, também é
do ponto de vista sociocultural muito positivo porque valoriza a língua materna do aluno e da
sua comunidade.
Vejamos que a professora e o E9 levantaram uma questão muito fundamental, o
aproveitamento pedagógico e o sucesso escolar como sendo positivos no contexto da EP do 1º
e 2º Grau de Massalane na turma bilingue. Este facto pode ser comprovado com as cadernetas
de notas que claramente indicam o nível de aproveitamento destes alunos ao longo de todo o
ano lectivo, isto é, do 1º, 2º e 3º trimestre do ano lectivo 2017 (vide em anexos).
4.2.5. Estratégias e acções para a melhoria do Ensino Bilingue
Não podíamos terminar o processo entrevistas sem colocar esta questão que capta algumas
sugestões e opiniões que perspectivam algum melhoramento deste modelo de ensino.
Colocada esta questão, a professora deu a seguinte opinião:
Prof: “Há necessidade de uma formação mais eficaz dos professores que devem leccionar o
ensino bilingue. Deve haver a disponibilização do material necessário e uma selecção apenas
33
daqueles professores que tem o domínio de citshwa para trabalharem com o ensino
bilingue”.
Na sua abordagem, a professora enfatizou três pontos principais, a questão da formação, do
material e o critério de selecção dos professores. Estas questões que ela levanta em jeito de
sugestão são realmente legítimas e se fossem devidamente observadas constituiriam um
contributo vigoroso e uma garantia de êxito neste processo.
Por sua vez, os encarregados de educação deram o seu contributo no que concerne as acções e
estratégias para a melhoria do ensino bilingue, pelo que podemos acompanhar a sua
intervenção a partir dos depoimentos abaixo descritos:
E1: “Deve haver uma selecção de professores que tenham o domínio do citswa para que
façam parte deste modelo de ensino”.
E2: “ […] aumentar as turmas do ensino bilingue e dar continuidade do ensino bilingue nas
outras classes”.
E3: “Deve haver o incentivo dos encarregados de educação para deixarem os seus
educandos frequentarem o ensino bilingue e criar-se condições para que o ensino bilingue
continue nas outras classes”.
E6: “[…] é preciso estender-se o ensino bilingue para todas as turmas e classes até ao ensino
secundário e apostar-se mais na formação de professores”.
E8: “Preparar-se muito bem os professores para este ensino e comprar-se muitos livros de
língua citswa”.
Ao atentar aos depoimentos dos encarregados, podemos igualmente constatar que as suas
opiniões não se distanciam muito daquilo que foi a intervenção da professora, pois eles
também focaram na questão da formação de professores e do material, mas tendo
acrescentado alguns pontos tais como a necessidade do incentivo aos encarregados de
educação a aderirem a este modelo de ensino e a questão de extensão do ensino bilingue até
ao ensino secundário. Este último ponto é muito interessante na medida em que remete-nos a
uma mudança de modelo, pois estender o ensino bilingue até ao ensino secundário remeter-
nos-ia ao modelo de manutenção, que como afirma Baker (1993), neste modelo, a LM não é
vista como um problema, pelo contrário, ela vale por si só, e é tão importante como a L2.
Portanto, não é apenas usada como um meio de instrução nas primeiras classes, mas sim em
todas as classes.
34
Este posicionamento dos encarregados, que também representam comunidade, denota o seu
desejo de reivindicar e reclamar um lugar de prestígio às línguas bantu e concretamente
falando ao citshwa. Esta sua atitude demonstrar-se como sendo socioculturalmente positiva na
medida em que as duas línguas, tanto o português como o citshwa ganham um mesmo
tratamento, sendo que todas se tornam fundamentais em todo o processo educativo.
5. Conclusão
Este trabalho foi realizado na Escola Primária do 1º e 2º Grau de Massalane, com o objectivo
de avaliar o impacto psicopedagagógico e sociocultural do ensino bilingue. Uma professora e
dez encarregados de educação foram entrevistados para apurarmos a sua sensibilidade e
opinião a respeito deste assunto aqui em estudo. Suas opiniões e depoimentos foram
posteriormente confortados com a realidade concreta observada no contexto da sala de aulas.
Feita esta reflexão e à luz da nossa questão de partida, constamos que não obstante as críticas
de que este modelo de ensino tem sido alvo desde a sua emergência por vários críticos no que
diz respeito ao facto de ser subtractivo (visto que a partir da 8ª classe a língua materna deixa de
co-ocorrer com a L2, seja como meio de instrução, seja como disciplina, seja ainda como
língua de recurso), da ausência de material e pessoal devidamente formado, podemos concluir
que, por um lado, do ponto de vista psicopedagagógico, o impacto do EB é positivo, na
medida em que este modelo de ensino garante a melhoria de qualidade de interacção entre o
professor e aluno; a melhoria significativa do desempenho dos alunos no que diz respeito a
comunicação, assimilação e compreensão dos conteúdos e matérias leccionados; a elevação da
auto-estima e motivação do aluno em relação a aprendizagem e uma maior extroversão ao
aluno, uma vez que da continuidade a língua que fala em casa.
Por outro lado, do ponto de vista sociocultural, o seu impacto é igualmente positivo na medida
em que este modelo de ensino contribui para a valorização, preservação e desenvolvimento das
línguas Bantu (a L1 dos alunos); promove o multilinguismo e o multiculturalismo; contribui na
melhoria da qualidade de educação, afirmação e respeito pelo direito dos alunos de aprenderem
na língua do seu conhecimento e domínio (L1) e promove o património sociocultural e
linguístico do aluno, etc.
Em suma, apesar de ainda carecer de algumas modificações e melhorias, parece consensual
que este modelo de ensino é consentâneo a nossa realidade sociocultural e linguística, na
medida em que sua emergência vem dar resposta positiva a uma grande dificuldade que os
nossos alunos, na sua maioria residentes fora das cidades (que na sua maioria tem como L1
uma língua bantu e não tem conhecimento e/ou domínio da língua portuguesa) tinham de
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prosseguir com a sua iniciação escolar numa língua desconhecida e muito diferente com a sua
língua materna.
Este facto muitas vezes criava não só aos alunos, como também aos professores uma grande
preocupação e dificuldade de prosseguir com o processo de ensino-aprendizagem de modo
exitoso, uma vez que a falta de conhecimento e domínio da língua portuguesa tornava-se uma
autêntica barreira e violência de natureza simbólica aos alunos que se viam obrigados a
estudarem numa língua “estranha”, o que muitas vezes colocava sempre os alunos numa
situação de insucesso escolar e aproveitamento pedagógico negativo.
36
2. Referências Bibliográficas
APPEL, René & MUYSKEN, Pieter. Bilinguismo e Contacto Linguístico. Londres,
Edward Arnold, 1987.
BAKER, C. Fundaҫão do Ensino Bilingue e Bilinguismo. Londres, Multilingual Maters
Ltd., 1993.
BLANK, Michel & HAMERS, Josiane. Bilingualidade e Biinguismo. Cambridge,
Cambridge University Press, 1988.
BESON, Carol. Alguns Resultados da avaliação externa da experiencia de escolarização
bilingue em Moçambique. In Stound, C. Tonise, A.(Orgs). Uso das línguas Africanas no
ensino: Problemas e perspectivas. Caderno de pesquisa nº 26, Maputo, INDE, 1998.
CHIMBUTANE, Feleciano. Subprojecto de monitoria e avaliação da introdução do
Ensino Bilingue em Maputo e Gaza. In Projecto de avaliação educacional: Relatório
Anual. Maputo, INDE, 2003.
FIRMINO, Gregório. A Situação do Português no Contexto Multilingue de Moçambique.
Maputo, UEM, 2005.
FONSECA, João J.S. Metodologia de Pesquisa Cientifica. Fortaleza, UEC, 2002.
GIL, António Carlos. Como Elaborar Projectos de Pesquisa. 4ª.ed, São Paulo, Atlas,
2008.
GIL, António Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6ª.ed, São Paulo, Atlas,
2009.
HEUGH, Kathleen. Da Língua Materna ao Uso de uma língua internacional no processo
de ensino-aprendizagem: as limitações do modelo de transição no sistema escolar em
África. In CHIMBUTANE, F & STROUND, C. Educação Bilingue em Moçambique:
Reflectindo criticamente sobre politicas e práticas. Maputo, Texto editores, 2011,
INDE. Relatório do Debate sobre “Estratégias de Introdução e Expansão do Ensino em
Língua Moçambicanas. Maputo, INDE, 1997.
37
Apêndices
39
Universidade Pedagógica
Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia
Curso de Licenciatura em Ensino Básico
Entrevista dirigida ao Professor
A presente entrevista destina-se a colecta de dados para uma pesquisa cujo tema é " Impacto
Psicopedagagógico e Sociocultural do Ensino Bilingue: Caso da Escola Primária do 1º e 2º
Grau de Massalane". De referir que o tratamento das informações será feito salvaguardando o
anonimato do informante. Antecipadamente, agradece-se a sua colaboração.
I. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Sexo: ___Nível académico: ___________Idade:____L1:________ L2:___________Classe
que lecciona_______ Anos de experiência_______Formação psicopedagógica: Sim___Não__
3. Quais são os problemas e desafios que tem encarado no âmbito do Ensino Bilingue?
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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4. Os alunos têm tido algumas dificuldades? ______. Se sim, quais:
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
5. Acha que o ensino bilingue facilita/dificulta o processo de ensino-aprendizagem? Justifica
a sua resposta.
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
9. Que estratégias ou acções seriam necessárias para a melhoria Ensino Bilingue no Ensino
Básico?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
Universidade Pedagógica
Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia
Curso de Licenciatura em Ensino Básico
Entrevista dirigida ao Encarregado de Educação
A presente entrevista destina-se a colecta de dados para uma pesquisa cujo tema é " Impacto
Psicopedagagógico e Sociocultural do Ensino Bilingue: Caso da Escola Primária do 1º e 2º
Grau de Massalane". De referir que o tratamento das informações será feito salvaguardando o
anonimato do informante. Antecipadamente, agradece-se a sua colaboração.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
3. Acha que o ensino bilingue facilita/dificulta o processo de ensino-aprendizagem do seu
educando? Justifica a sua resposta.
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Universidade Pedagógica
Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia
Curso de Licenciatura em Ensino Básico
FICHA DE ASSISTÊNCIA DE AULAS
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