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Análise do Impacto da Implementação do Ensino Bilingue em

Moçambique: caso da Escola Primária Nambauane- Mocuba

Sónia Armando Benzane

RESUMO
O estudo “Análise do Impacto da Implementação do Ensino Bilingue em Moçambique” tem como
objectivo geral analisar o impacto da implementação do ensino Bilingue concretamente no distrito de
Mocuba na Escola Primária Nambauane na turma da 3ª classe. O processo de educação em
Moçambique foi evoluindo ao longo dos tempos, acompanhando a dinâmica do desenvolvimento
socioeconómico do país, melhorando as suas técnicas e tornando a educação mais abrangente e
acessível a cada vez mais crianças. O ensino bilíngue é introduzido na educação básica em Moçambique
em 2004, com o objectivo de assegurar a rápida aprendizagem das crianças não falantes da língua
portuguesa e que vivem no meio rural, bem como, assegurar a valorização das línguas maternas. Para o
alcance dos objectivos do estudo, foi profundamente necessário recorrer a uma abordagem qualitativa;
quanto aos procedimentos de colecta de dados, recorreu-se à consulta bibliográfica e análise de
conteúdos. Assim, o estudo constatou que a forma em que o programa está a ser implementado, não vai
muito de acordo com o planificado, e no fim do programa vamos nos deparar com crianças que não
terão mínima noção da língua portuguesa, pós, desde já, as crianças estão apresentando algumas
dificuldades em comunicar-se com a língua oficial e passando mais tempo a comunicar-se na língua
materna.
Palavras chaves: educação, ensino, língua, educação bilingue, língua materna.
Abstract
The study "Impact Analysis of the Implementation of Bilingual Education in Mozambique" has as general
objective to analyze the impact of the implementation of bilingual education concretely in the district of
Mocuba in the Nambauane Primary School in the 3rd class. The education process in Mozambique has
evolved over time, following the dynamics of the country’s socio-economic development, improving its
techniques and making education more comprehensive and accessible to more and more children.
Bilingual education is introduced in basic education in Mozambique in 2004, with the aim of ensuring the
rapid learning of children who are not speakers of the Portuguese language and live in rural areas, as
well as ensuring the enhancement of mother languages. To achieve the objectives of the study, it was
deeply necessary to use a qualitative approach; as for the procedures of data collection, we used
bibliographic consultation and content analysis. Thus, the study found that the way in which the program
is being implemented, does not go much according to the plan, and at the end of the program we will
come across children who have no idea of the Portuguese language, post, children are already
presenting some difficulties in communicating with the official language and spending more time
communicating in the mother tongue.
Keywords: education, teaching, language, bilingual education, mother tongue.

1. Introdução
1.1. Contextualização
A educação Bilingue é um novo desafio na educação em moçambique que com a sua
especificidade, responde de forma genérica ao problema de desperdício escolar, tendo em
atenção a diversidade linguística e cultural do país e, sendo moçambique um país com grandes
ambições no âmbito dos objectivos de desenvolvimento sustentável, a ideia da introdução do
ensino bilingue é cumprir com a meta global de acabar com o analfabetismo. Pensou-se que

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com a implementação do ensino bilingue, a maioria da população reduziria a ineficácia do
sistema educativo, podendo de certa forma o ensino abranger todas as crianças em idade
escolar, considerando que maior parte dos moçambicanos está em zonas rurais.
O processo educacional, em qualquer sociedade, só terá sucesso se for conduzido através
duma língua que o aprendente melhor conhece, o que remete à necessidade de se introduzir
as línguas moçambicanas, possuindo uma significação muito especial no currículo
moçambicano.
É necessário que se invista mais na formação dos recursos humanos, e se encontre um
mecanismo de unificar uma única língua bantu, desta forma poderá se verificar uma redução
dos recursos que já são escassos.
Neste contexto, o artigo tem como objectivo geral analisar o impacto da implementação do
ensino Bilingue em Moçambique; sendo assim, o estudo está estruturado em cinco capítulos,
da seguinte forma: o primeiro reservado a introdução, no qual contém os seguintes itens:
contextualização, problematização, objectivos (geral e específicos) e justificativa; o segundo
capítulo contém a revisão da literatura; o terceiro reserva-se aos procedimentos metodológicos
da pesquisa; o quarto faz uma análise e a devida discussão dos dados e, finalmente o quinto,
que apresenta a conclusão e respetivas fontes bibliográficas consultadas.

1.2. Problematização
Actualmente, a necessidade de aproximar a escola às realidades rurais e de estender a
possibilidade de uma educação básica às populações mais isoladas dos centros urbanos, trouxe
a implementação do ensino bilingue; o processo de ensino e aprendizagem denota uma nova
variável que é a integração das línguas bantu locais, colocando em causa o desenvolvimento
psicomotor da criança, que recebe o ensino da 1ª e 2ª classe com a língua bantu local e a
língua portuguesa como disciplina e ao progredir para 3ª classe passa a ter a língua bantu
como disciplina e a língua portuguesa como oficial, iniciando a aprender a escrita e como não
bastasse, o mesmo, na 5ª classe é submetido ao exame nacional em língua portuguesa. Com a
implementação do bilingue, os alunos deste sistema passaram a apresentar mais dificuldades
na interação com os colegas que se beneficiaram do ensino monolingue e, também
apresentam dificuldades na assimilação da matéria da 3ª classe colocando em causa a
eficiência e qualidade do ensino, visto que, a língua portuguesa passa a substituir a língua
bantu, e pela variedade linguística, o país continuará a ter dificuldades na implementação
eficaz do método.
Por outro lado, verifica-se também falta de domínio da língua local que se pretende
implementar no ensino bilingue, por parte de alguns professores que não são nativos; ademais
nota-se fraco envolvimento da comunidade local, que nalgum momento pensa que o ensino
bilingue retarda a aprendizagem dos seus educandos.
Tendo em conta o papel fulcral da educação para uma sociedade e os aspectos descritos
anteriormente, nos vem a seguinte questão de partida:
Até que ponto a implementação do ensino bilingue influencia na aprendizagem dos alunos
da 3ª classe?

1.3. Objectivos
1.3.1. Objetivo geral
 Analisar o impacto da implementação do ensino Bilingue em Moçambique;

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1.3.2. Objectivos específicos
 Descrever o funcionamento do ensino bilingue;
 Verificar a qualidade dos alunos formados no contexto do ensino bilingue;
 Identificar os principais desafios na implementação;
 Propor melhorias do modelo do ensino bilingue.

1.4. Justificativa
De acordo com ipea (2019) a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu em 2015 (até
2030) os Objectivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), destacando a educação - ODS 4:
assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade; sendo Moçambique membro da
ONU e signatário da agenda 2030, tem a responsabilidade de melhorar os indicadores com
vista a atingir as metas, em prol do desenvolvimento sustentável.
A língua materna determina a identidade do indivíduo e da comunidade linguística a que
pertence, e por essa razão, a sua preservação e desenvolvimento são encarados como um
direito humano; o ensino bilíngue não é uma tarefa fácil pela sua caracterização, a escola inclui
agentes de socialização como família, amigos, vizinhança, comunidade e os meios de
comunicação. Pela sua relevância na melhoria da qualidade de ensino no país, julga-se
necessária pesquisar sobre esta problemática da implementação, que vai fornecer informações
relevantes em relação a esta nova realidade que vem se efetivando na maior parte das escolas
primárias do país.
Também com o estudo, pode se refletir em torno da relevância da formação contínua, pois
não basta a formação inicial do professor, é necessário que este desenvolva habilidades
específicas no terreno que lhe possam dar maior segurança para orientar o ensino bilíngue.
Há que se levar em consideração que, a educação é a arma mais poderosa que se pode usar
para mudar o mundo pós assume um papel absolutamente central no desenvolvimento de
uma nação, sendo que uma baixa qualidade desta, pode comprometer a evolução da
sociedade e o alcance do desenvolvimento sustentável.

2. Revisão bibliográfica

2.1. Base conceptual


 Educação - para Monteiro (2008), a educação é essencialmente um fenómeno de
comunicação, intergeracional e interpessoal, informal e formal, com seus fins,
conteúdos, formas e contextos.
 PEA - é o sistema de trocas de informações entre professores e alunos, que deve ser
pautado na objetividade daquilo que há necessidade que o aluno aprenda.
 Ensino bilingue - Hornberger & Cummins (2008) definem a educação bilingue como
sendo o uso de duas ou mais línguas num determinado período durante o decurso da
carreira escolar dos alunos.
 Língua - é um instrumento de transmissão de mensagens, isto é, um veículo de
transmissão de valores culturais, segundo Patel (2006).
 Língua materna (LM) - é definida, segundo Nhampoca, (2015) como língua com a qual
aprendemos a falar quando nascemos e, normalmente, dominamos melhor. Esta
língua pode ser da mãe, do pai ou do local onde nascemos.

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2.2. Educação em Moçambique
Moçambique foi uma colónia de Portugal. Durante séculos a presença portuguesa no país
limitava-se à região litoral, obrigando a população a comunicar-se em língua portuguesa e,
ainda no início do século XX, as últimas batalhas foram travadas entre o exército português e a
população que se opunha à sua subjugação. Após a independência de Moçambique em 1975, a
língua Portuguesa foi instituída língua oficial em Moçambique e é considerada a língua de
Unidade Nacional, CRM (2011).

A educação constitui uma das prioridades do Governo de Moçambique na luta contra o


analfabetismo e a pobreza. Patel & Cavalcanti (2013), declaram que desde a libertação de
moçambique do domínio colonial português, a educação se constituiu um pilar das políticas
governamentais que estabeleceram objetivos e metas ambiciosas visando a superação do
grande atraso herdado pelo setor. Nesse período, o Plano Estratégico de Educação (PEE)
(2012), se assistiu uma forte expensão da rede e dos efetivos escolares, como resultado da
nacionalização da educação no período pós-independência.
Segundo Mazula (1995) no período colonial, o ensino estava organizado em dois subsistemas de
ensino: ensino oficial e ensino rudimentar. “Enquanto o primeiro estava destinado aos filhos dos
colonos ou assimilados, permitindo assim ao aluno prosseguir os seus estudos até ao ensino
superior” o ensino indígena desenvolvia-se nas regiões rurais e escolas das missões, controladas
pela igreja.

Com a assinatura dos acordos gerais de paz em moçambique, em 1992, entre o Governo de
Moçambique e a Renamo, segundo Patel & Cavalcanti (2013) restabeleceu-se na educação o
processo de alfabetização, desta feita com muita escassez de recursos humanos, materiais e
financeiros e relegada a um plano secundário devido a políticas impostas pelo FMI e pelo
Banco Mundial que priorizavam somente o ensino básico formal de crianças e voltou-se a
priorizar a alfabetização e educação de adultos.
Conforme o SNE (2018) Lei nr 18/2018 de 28 de Dezembro, é constituído por seis subsistemas,
nomeadamente de: (a) Educação Pré-Escolar, (b) Educação Geral, (c) Educação de Adultos, (d)
Educação Profissional, (e) Educação e Formação de Professores e, (f) Ensino Superior, podendo
ser de forma presencial ou à distância.

2.3. Educação Bilingue em Moçambique


É importante referir que o facto de duas línguas estarem presentes no sistema educativo não
significa necessariamente que estamos diante de um programa de educação bilingue; se a
presença de uma das línguas estiver circunscrita apenas a uma dada disciplina estritamente
linguística, isto é, de aprendizagem da própria língua, não se deve considerar educação
bilingue. Por outras palavras, uma coisa é aprender uma língua e outra, muito diferente, é
aprender através de uma língua. Portanto, falar de educação bilingue ou multilingue pressupõe
logo à partida, que todas as línguas do programa sejam línguas de ensino e aprendizagem.
O ensino bilingue em Moçambique é introduzido em 2004 com dois principais objectivos: por
um lado, para facilitar a aprendizagem dos alunos por ser uma língua que eles conhecem, e por
outro lado, como forma de se preservar e valorizar as línguas maternas moçambicanas
enquanto um direito de todos os moçambicanos. Quanto às razões pela introdução das línguas
moçambicanas como meio de ensino, defende-se que a nível psicopedagógico e cognitivo, o
ensino inicial na língua materna (L1) é benéfico porque facilita a interacção na sala de aula,
uma vez que o aluno, por conhecer a língua, tem maior facilidade de comunicação; e neste

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ensino, o professor desempenha a função de mediador cultural, usando a língua para animar e
ajudar os alunos a aprender (MINED, 2003).
De acordo com Chambo, Chimbutane, Miguel, Ramallo, & Barcia (2009) o ensino bilingue
entende-se como o processo de ensino e aprendizagem feito com base em duas línguas, sendo
a primeira a língua materna e a outra a língua de ensino.
Moçambique é um país, que se assemelha a vários países africanos; possui zonas
linguisticamente homogéneas (que são a maioria) e heterogéneas (zonas urbanas e
periurbanas) enquanto nas cidades, zonas consideradas linguisticamente heterogéneas,
continuaria a aplicação do ensino monolingue (com recurso à língua portuguesa) com a
finalidade de reforçar a unidade nacional. Nestas, há uma convergência de várias culturas e
consequentemente de várias línguas e, é este cenário que caracteriza as escolas destas zonas
em que os alunos falam português como língua materna (L1) ou como segunda língua (L2).
Ora, em contextos linguísticos desta natureza não é possível aplicar o modelo bilingue
proposto, porque para a sua aplicação pressupõe-se que os alunos e o professor partilhem a
mesma língua (MINED, 2003).
Contudo, pressupõe-se, igualmente, que os alunos deverão ter oportunidade de ter acesso as
línguas locais como forma de estabelecerem ou manterem contacto com a cultura
moçambicana. Outra razão que justifica esta opção é que se aumenta a eficácia da
comunicação num contexto multilingue, contribuindo para o reforço da unidade nacional.
É, neste âmbito, que se introduz está segunda modalidade que é o uso destas línguas no
ensino, como disciplina curricular. Neste caso, a língua a adaptar será da escolha da própria
escola, podendo ser da língua local da (zona) ou não.

2.4. Modelo de Ensino Bilingue Em Moçambique


Em Moçambique, o ensino bilingue acontece na escola primária, e está estruturado por ciclos
de aprendizagem e, o desenvolvimento do modelo bilingue tem em conta este aspecto. Dos
vários modelos existentes, moçambique optou por um modelo transicional com algumas
características de manutenção, por forma a garantir um desenvolvimento bilinguismo aditivo
nos alunos.
Segundo MINED (2003) o programa bilingue, as primeiras classes são lecionadas na língua
moçambicana das crianças. A língua portuguesa é introduzida, desde o primeiro ciclo (1ª e 2ª
classes), onde a língua materna do aluno é o único meio de ensino-aprendizagem, e a língua
portuguesa como disciplina e não como meio de ensino. Entretanto a partir do 2º ciclo (3ª, 4ª
e 5ª classes), regista-se um fenómeno inverso, a transição do meio de ensino é feita de forma
gradual, de língua L1 (bantu) para a L2 (língua portuguesa), e na 3ª classe os alunos iniciam a
aprendizagem da leitura e escrita em Português, através de um processo de transferência de
habilidades adquiridas na sua L1, após 3 anos de escolaridade, na 4ª classe a língua de ensino
passa progressivamente a ser o português e a língua moçambicana uma disciplina para auxiliar
o processo de ensino e aprendizagem principalmente em disciplinas como Matemática,
Ciências Naturais, Ciências Sociais, para explicar e clarificar conceitos difíceis.
Na 5ª classe, os alunos do Programa Bilingue serão submetidos a um exame nacional, incluindo
os alunos que terão seguido um currículo (monolingue) em que o meio de ensino é a língua
portuguesa.

2.5. Situação atual da educação bilingue


Alguns anos após a independência do país, ate mais ou menos a década de 1990, era comum

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ouvir dos professores o seguinte: é proibido falar dialeto na escola; os alunos eram sujeitos a
castigos por falar o dialeto. E também nos deparamos que, um pouco depois da independência
o governo fazia esforço de colocar o professor em regiões do país das quais não fossem
provenientes, evitando, deste modo que se comunicasse com os alunos em língua bantu
moçambicana, sendo quase obrigatória a comunicação exclusivamente em português.

Sitoe (2014), não havendo nenhuma língua moçambicana amplamente falada ao nível de todo
o país e, consequentemente, não podendo uma delas funcionar ampla e plenamente como
uma única língua nacional, só o português poderia funcionar como uma língua do estado,
porque etnicamente neutra e por superar parte dos problemas colocados pelas línguas
moçambicanas, que incluíam: a) o seu estado deficitário por falta de estudos descritivos,
ortografias padronizadas, gramática, dicionários, etc. b) desconhecimento ou conhecimento
insuficiente destas línguas por partes das elites integradas nas instituições do estado, não as
podendo, portanto, usar como línguas de trabalho em actividades oficiais, c) falta de
precedentes no uso destas línguas em domínios altos.

2.6. Programa da Educação Bilingue do II ciclo


o programa de ensino bilingue comunga o mesmo com o ensino monolingue (MINED, 2003).

Orientações metodológicas da L1
De acordo com o MINED (2003), o ensino e aprendizagem da L1, na 3ª classe, visa aprofundar
o desenvolvimento de habilidades, capacidades e conhecimentos adquiridos em classes
anteriores, sobre tudo no que se refere a leitura e a escrita.
 A oralidade deve continuar a jogar um papel importante nesta classe, tanto para
melhorar a competência comunicativa oral do aluno, como para servir de base para o
desenvolvimento da leitura e escrita, do alargamento do vocabulário e da aquisição de
novas estruturas da L1. O desenvolvimento da oralidade deve ser uma preocupação
constante do professor da língua em qualquer nível, no caso vertente, deve
acompanhar e servir de base para o desenvolvimento da leitura e da escrita. E porque
o aluno aprende a falar, falando é importante que sejam criadas situações reais de
comunicação, onde o aluno tenha a oportunidade de se expressar livremente e o
professor aproveitará para leva-lo a praticar estruturas novas.
 Leitura e escrita, o desenvolvimento da leitura e da escrita deve ser feito em
simultâneo e basear-se em situação real de comunicação. O aluno aprende a ler lendo,
e a escrever, escrevendo pelo que é muito importante que o professor crie
oportunidades frequentes para o aluno praticar a leitura e a escrita.
 Funcionamento da língua o ensino e aprendizagem da gramática deve continuar a ser
feita de forma implícita, através da prática da língua, o aluno não deve nunca decorar
as regras gramaticais. O ensino e aprendizagem da gramática nesta fase deve ser feito
a partir de situações reais de comunicação, de textos ou frases conhecidas.
 Vocabulário o programa não apresenta um vocabulário novo, que deve ser ensinado
ou aprendido, cabendo ao professor identificar o mesmo, tendo em conta o que o
aluno sabe, bem como a sua faixa etária e o seu nível de desenvolvimento psicológico.

3. Fundamentos metodológicos
3.1. Tipo de pesquisa

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No que diz respeito ao tipo de pesquisa, o presente artigo contou com o apoio da pesquisa
qualitativa (quanto a abordagem), básica (quanto a natureza), explicativa (quanto aos
objectivos) e bibliográfica (quanto aos procedimentos técnicos). A escolha destes tipos de
pesquisa deve-se ao facto de estas proporcionarem maior familiaridade com o tema em
análise.

3.2. Técnicas de recolha de dados


Quanto a recolha de dados, o estudo recorreu à consulta bibliográfica que consistiu nas
leituras de artigos científicos, jornais académicos, entrevistas, relatórios e livros que abordam
questões sobre a implementação do ensino bilingue em moçambique, e procurou-se analisar
as contribuições de diferentes pensadores que pesquisam sobre essa área de conhecimento.

3.3. Técnicas de análise de dados


Este estudo recorreu às técnicas de análise de conteúdos que consistiu na leitura de diversas
obras bibliográficas e documental e sua profunda análise crítica e reflexiva sobre a
implementação do modelo de ensino Bilingue.

4. Análise e discussão dos dados


4.1. Funcionamento do ensino bilingue
O ensino bilingue está a ser implementado em 6 distritos na província de Zambézia,
nomeadamente Alto-Molócue, Gilé, Namarroi, Lugela, Namacurra e Mocuba.
Segundo CESC (2021), diz que apesar do progresso significativo de Moçambique na última
década na expansão do acesso à educação, apenas uma percentagem insignificante de
crianças alcança as competências de leitura e escrita exigidas. Em 2016 eram menos de 7%; a
Zambézia é uma das províncias que apresenta níveis mais baixos em termos de alcance de
competências de leitura e escrita exigidas.
No distrito de Mocuba, no ano 2022, das 249 escolas primárias existentes, foram planificadas
para entrar em funcionamento no ensino bilingue, 152 escolas, distribuídas nos três postos
administrativos, ensinando nas línguas locais, com destaque para Elomwe, Echuabo e
Emanhawa, por diversos professores nativos e não só, que têm tido algumas capacitações para
o processo.
O ensino se depara com sérios problemas na sua implementação pela falta de materiais
didácticos, salas adequadas, falta de professores experientes e alguns professores se
beneficiam de capacitação do bilingue enquanto não são nativos, dificultando desta forma a
implementação eficaz do modelo, e mais, o ensino bilingue foi desenhado tendo em conta o
objectivo principal é assegurar a rápida aprendizagem das crianças não falantes da língua
portuguesa e que vivem no meio rural, bem como, assegurar a valorização das línguas
maternas, que de certa forma poderá diminuir a ineficácia quanto a qualidade do ensino; e o
ensino monolíngue (em português) persiste nas cidades e vilas com o objectivo de fortalecer a
unidade nacional num contexto multilíngue.

4.2. Qualidade dos alunos formados no contexto do ensino bilingue

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O bilinguismo é uma possibilidade para garantir a qualidade, a escrita, a leitura e a numeracia
que que está a se reclamar que não existe; o bilinguismo é uma das soluções que o país deve
seguir UNESCO (2015).
Para Dias (2002), a língua Portuguesa advém do facto de ela ser, na altura da independência, a
língua com maiores possibilidades de veicular a ciência e a técnica, de unir os moçambicanos e
manter o pais coeso. Dias refuta ainda que, apesar da escolha da língua Portuguesa para língua
oficial, não significava que ela fosse melhor em detrimento das línguas Bantu e que era
necessário efetuar estudos com vista a sua padronização e modernização a fim de, no futuro,
estarem, de alguma forma, em pé de igualdade com a língua Portuguesa.

Tentamos atingir a população nativa em extensão e profundidade para os ensinar a ler,


escrever e contar, não para os tornar doutores (...)as escolas são necessárias, sim, mas
escolas onde ensinemos aos nativos o caminho da dignidade humana e a grandeza da
nação que os protege, Mondlane (1977).

O ensino bilingue tem resultados pedagógicos positivos em termos percentuais, o que


pressupõe que poderia ser uma possível solução para os problemas da qualidade de ensino
básico no país, mas a realidade sobre a implementação deste modelo de ensino é outra, pós
foram mencionadas dificuldades relevantes que condizem com uma péssima qualidade de
ensino para este modelo; com isto, existe necessidades de melhorar as políticas desenhadas
para que este ensino consiga nos trazer uma educação com qualidades excelentes. Quando
apreciado as pautas sobre o aproveitamento pedagógico da 3ª classe sala 3, com um número
total de vinte (20) alunos, no ano lectivo 2022, foi possível perceber que a percentagem (95%)
é motivadora ou por outra a percentagem nos faz perceber que este modelo de ensino é eficaz
para o ensino básico mas, a realidade nos traz outra perspectiva quanto a questão da
qualidade educacional; o sucesso ou fracasso no aproveitamento escolar desses alunos, é
influenciado não apenas pelo contexto social, mas como também pelas suas origens sociais.

Ainda no impacto do bilingue no processo de ensino e aprendizagem, foi possível manter


conversa com alguns alunos do bilingue e dizer que foi quase impossível a nossa comunicação,
o aluno conseguia perceber o teor do que era falado, mas não conseguia responder usando a
língua portuguesa, e para ultrapassar este cenário foi necessário recorrer a uma aluna do
ensino monolingue para ajudar a ultrapassar as dificuldades na comunicação traduzindo o teor
da conversa com a língua local; nesta senda, os alunos apresentam um vocabulário muito baixo
na língua portuguesa, e constitui uma preocupação para todos os atores ligados ao processo de
ensino e aprendizagem, visto que, em breve o mesmo aluno passará a receber as aulas na
língua portuguesa (inversão dos papeis) e a língua materna para auxiliar.

Fazendo uma pequena comparação dos os alunos do monolingue e bilingue da 3ª foi possível
perceber que, os alunos que apresentam melhor aproveitamento escolar são os do
monolingue, alunos esses que tem certo domino na leitura e escrita diferente dos alunos
bilingue, os alunos se deparam com vários intervenientes que contribuem para a negatividade
deste modelo, como por exemplo a idade das crianças, que ate certo momento contribuem
para o baixo aproveitamento pedagógico.

Chimbutane (2011) avalia positivamente a evolução da perspetiva nacional relativamente à


validação das línguas locais e à introdução do ensino bilingue em Moçambique. Apesar da

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resistência de algumas famílias, que atribuem ao português um caráter mais prestigiante, há
cada vez mais encarregados de educação que admitem o ensino em L1 por considerarem que
pode funcionar como um meio mais eficaz de acesso ao português.

Alguns estudiosos como é o exemplo de Ngunga, et al. (2010) afirmam que este modelo de
ensino bilingue está a provar ser muito eficaz nas escolas em termos de melhoria no
aproveitamento escolar, quando comparado com o modelo de ensino baseado apenas na
língua portuguesa. Contudo, discordar com a ideia e clarificar que o sucesso a 100% neste nível
de ensino simplesmente está no primeiro ciclo (1ª e 2ª), onde os alunos tem a língua materna
como meio de ensino, mas quanto ao segundo ciclo vivenciamos um cenário completamente
diferente, pós é o período de transição da língua materna para a língua portuguesa e nesta
senda o aproveitamento pedagógico dos alunos não tem sido muito bom.
Chimbutane (2011) afirma ainda que existe maior procura pelos encarregados para a
colocação dos seus educandos no ensino bilingue, afirmação esta que nos últimos anos não
tem feito muito sentido, pelo sentimento de desgosto que os encarregados de educação
apresentam, pós os mesmos não tinham muito domínio de como o ensino é ministrado, e pela
insatisfação dos encontramos números muito reduzidos de crianças no modelo bilingue e, que
por vezes esses encarregados tem sofrido imposição para que os seus educandos tenham um
ensino bilingue.

4.3. Principais desafios na implementação


Em conversa com os encarregados de educação, foi possível colher sensibilidades numa
perspectiva positiva e negativa quanto a implementação do bilingue, uns dizem que gostariam
que os seus educandos pudessem ter a oportunidade de estudar em português visto que nas
oportunidades de emprego sempre querem quem melhor fala a língua portuguesa e, dizem
mais que, falar português para eles traz um caracter mais prestigiante na sociedade em que
eles estão inseridos; e os outros consideram o L1 como forma de solucionar as dificuldades que
os seus educandos enfrentam no momento do processo de ensino e aprendizagem.

As dificuldades que os professores da escola primária Numbauane apresentam, geralmente


são para toda classe de professores que trabalham com o bilingue; existem professores que
não têm nenhuma formação bilingue e outros ate tiveram a formação com outra língua
materna, mas na luta pela sobrevivência de emprego eles se vem obrigados a se adaptar ao
novo cenário que é trabalhar com a língua materna patente na zona em que o mesmo está
trabalhar, a titulo de exemplo alguns professores que dizem que no primeiro ano enfrentaram
muitas dificuldades para poder se enquadrar no modelo de ensino e que hoje ganharam
habilidades que possibilitam a continua transmissão do conhecimento de forma viável.
Dentre tantos. Destacam-se como principais desafios do ensino bilingue, os seguintes:

 Falta de livros de apoio ao professor e ao aluno;


 Deficiências em termos de qualidade dos materiais de apoio disponibilizados ao
professor e ao aluno;
 Falta do uso das línguas moçambicanas na comunicação social.
 Fraco investimento na disseminação da filosofia do programa de ensino bilingue,
envolvendo todas as esferas da sociedade;

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 A inclusão das línguas moçambicanas na formação de profissionais, principalmente os
que trabalham de forma directa com as comunidades falantes dessas línguas, como
pessoal médico e jornalistas;
 Edição e publicação de obras em línguas moçambicanas, esse facto encorajaria os
autores moçambicanos a escreverem nas línguas moçambicanas;
 Que sejam incentivadas a criação e inclusão de programas infanto-juvenis em línguas
moçambicanas nos meios de comunicação como a rádio e televisão.

4.4. Estratégias para a melhoria na implementação do ensino bilingue


Ninguém deve ser privado do direito de receber a instrução seja na língua materna ou
qualquer outra, mas deve-se ter uma política ou uma forma de se adotar uma língua bantu
única e nacional de forma a acomodar uma comunicação eficaz entre o povo moçambicano, e
que dessa forma a mesma língua e o português sejam oficiais a ponto de permitir o ingressar
no mercado de trabalho e ter acesso a outras instituições da vida do pais, desempenhando,
por isso, um papel importante para a mobilidade social dos cidadãos moçambicanos.

4.5. Para uma melhoria do ensino bilingue e da qualidade educativa, propõe-se:


 Existência de uma língua bantu nacional;
 Capacitação constante aos professores de forma efetiva e sistemática em matéria de
ensino bilingue;
 Capacitar os técnicos distritais e provinciais em matéria de ensino bilingue;
 Criação de mais estratégias para os professores, buscarem mais aperfeiçoamento no
desenvolvimento desta modalidade de ensino, para que os mesmos possam alcançar a
visão e os objectivos na sua implementação em todos os níveis de ensino;
 Prover a aplicação de técnicas em matérias do ensino Bilingue para dinamizar o
processo da produção da literatura básica para o complemento no processo de ensino
e aprendizagem;
 Melhorar o acompanhamento das turmas bilingues por parte das direcções das escolas
e dos técnicos pedagógicos distritais e provinciais;
 Procurar alternativas breves através de oficinas pedagógicas na escola para a troca de
experiência juntos dos professores que tenham alguma noção na área;
 Actuar na produção de matérias didácticos para auxiliar os professores e os alunos no
processo de ensino e aprendizagem.

Para Gonçalves & Stroud (2000):


 É necessário um maior conhecimento da estrutura gramatical da língua-alvo para se
planificar e responder às exigências do ensino-aprendizagem; os professores precisam
falar sobre, e identificar corretamente fenômenos linguísticos para que possam
compreender e remediar as dificuldades com que os estudantes se defrontam. Eles
precisam ser suficientemente competentes na sua compreensão e domínio do
português, para que sejam capazes de refletir com exatidão e em detalhe, sobre os
problemas linguísticos das crianças ou sobre os perfis de desenvolvimento da língua e,
nessa base, sugerir estratégias específicas de aprendizagem para casos individuais de
crianças com diferentes tipos de problemas.
 É necessário que o professor seja um individuo dotado de habilidades e cautela para
poder conseguir motivar e incentivar o aluno a aprender com as duas línguas, usando

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estratégia para que o aluno consiga ouvir, falar e escrever na L2 e a L1 passa a ser
usado como auxiliar da aprendizagem.

5. Conclusão
O estudo buscou analisar o impacto da implementação do ensino bilingue em moçambique; o
ensino bilingue está em curso em todas as províncias do país e nos primeiros anos da sua
introdução verificou-se um crescimento acentuado de escolas e alunos que aderiam a este
ensino, mas com o andar dos tempos verifica-se uma desaceleração ao nível de aderência
deste modo; quantos aos objectivos da pesquisa conclui-se que:

Em relação ao primeiro objectivo, quanto ao funcionamento do ensino bilingue, verificou-se


várias dificuldades no seu funcionamento e, sobretudo constatou-se deficiências em termos de
qualidade dos materiais de apoio disponibilizados ao professor e ao aluno, a falta de
professores nativos para a zona em que está a ser implementado faz com que não exista
eficácia na transmissão dos conteúdos a ser ministrados, falta de manuais suficientes para
facilitar a aprendizagem dos alunos;

Sobre o segundo objectivo, quanto à qualidade educacional, as pautas demonstram maravilhas


percentagens, mas na realidade encontramos cenários completamente diferentes, alunos com
dificuldades graves em comunicar-se com a língua portuguesa apresentando excelente
comunicação na língua materna, logo não se esta a cumprir com o que foi planificado onde o
aluno deve ter a capacidade de articular as duas línguas com eficácia;

Para o terceiro, principais desafios na implementação, o estudo destaca a enorme diversidade


linguística no país, péssimas das condições de ensino, falta de formação/capacitação de
professores em domínio de ensino de línguas bantu, etc.

Para terminar, como estratégias de melhoramento da qualidade do ensino bilingue, este artigo
propõe a unificação de uma língua bantu/materna para que seja oficial a nível nacional e desta
forma acabar com as desigualdades na comunicação moçambicana, ademais, os outros países
africanos como é o exemplo de Malawi, Tanzânia, Africa do Sul, Zimbabwe, Quénia, etc.,
optaram em uma língua bantu que é oficial para o ensino, e moçambique também poderia
adoptar no mesmo cenário; são necessárias as formação e capacitações periódicas e
permanentes dos professores, assim como sua motivação, melhorias das condições de ensino;
avaliações periódicas dos resultados face aos objectivos do ensino bilingue e inclusão de
diversos actores sociais relevantes.

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